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Butão - O Último Shangri-La - 16 a 22 de Novembro de 2012


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INTRODUÇÃO

 

O Butão não é tradicionalmente um destino "mochileiro" porque os altos preços cobrados pelo governo do país em relação aos turistas assustam (cerca de 250 dólares por dia, e para quem viaja sozinho, como foi o meu caso, este valor aumenta para 290 dólares por dia, mais o preço do visto, que custa 20 dólares); inclusive, o governo butanês assume abertamente que não deseja receber viajantes com perfil mochileiro, segundo eles para evitar uma invasão maciça de turistas e o país acabar se transformando em um novo Nepal. Portanto, todos os estrangeiros devem obrigatoriamente contratar um pacote de viagem, que dá direito a hospedagem, pensão completa (café da manhã, almoço e jantar; água e chá são servidos à vontade, para outras bebidas paga-se à parte), um guia, um motorista e uma van à sua disposição. Os únicos turistas estrangeiros que podem viajar de maneira independente pelo país são os indianos (o Butão é quase um protetorado da Índia). Entrei no Butão vindo da Tailândia (fiquei 2 dias inteiros em Bangkok e, depois que voltei para a Tailândia vindo do Butão, mais 3 dias em Ao Nang, Krabi), mas, como existem toneladas de relatos sobre a Tailândia (e também porque não simpatizei particularmente com Bangkok), vou restringir o relato apenas à parte butanesa da viagem. Resumindo, o Butão não é um país barato para viajar, mas posso garantir que vale a pena cada centavo gasto; em nenhum outro lugar do mundo é possível encontrar uma perfeita comunhão entre paisagens lindíssimas, cultura definitivamente original e tradições milenares.

 

DADOS RÁPIDOS SOBRE O BUTÃO

 

Com cerca de 38 mil quilômetros quadrados, o Butão fica espremido entre dois gigantes (a Índia e a China), em plena cordilheira do Himalaia. Isolado do resto do mundo até meados do século XX, o Butão foi gradualmente procurando romper este isolamento, pois poderia lhe custar uma invasão (até hoje os butaneses têm medo de a China invadir o Butão, assim como ocorreu com o Tibete; recentemente o governo chinês propôs a construção de uma estrada ligando os dois países e assumindo todos os custos (até o momento não há pontos de passagem entre o Butão e a China), mas o governo butanês recusou-se terminantemente. A bandeira do Butão está exposta abaixo, sendo que o dragão representa o próprio país e é branco por representar a pureza; o dragão segura em suas garras quatro joias, símbolo da prosperidade, e está voltado para a direita para reprimir possíveis invasores. Já o triângulo superior, amarelo, representa a monarquia (afinal, o país é um reino), e o laranja representa a religião budista, oficial no país:

 

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A monarquia no Butão foi instaurada em 1907 por Ugyen Wangchuck, e desde então cinco reis assumiram o trono: o atual rei do Butão, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, tem apenas 32 anos, e no ano passado casou-se com a belíssima rainha Jetsun Pema Wangchuck. Uma foto dos dois está exposta abaixo:

 

 

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Obrigado por acompanhar o relato, Heka, suas informações foram valiosas para esta viagem.

 

COMO TIRAR O VISTO PARA O BUTÃO

 

Não é tão difícil quanto parece. Uma agência de turismo credenciada pelo governo butanês pode fazer isso por você. Eu entrei em contato com a Jachung Travels (mas existem outras, basta procurar na internet) no dia 18 de setembro e no dia 4 de outubro meu visto já estava providenciado; e era para ter demorado bem menos, se não fosse a greve dos bancos. Após fazer contato com uma agência de turismo, eles te enviam o formulário de solicitação de visto, as instruções para se enviar dinheiro (wire transfer), o roteiro de viagem (de acordo com o tempo que se vai ficar e os lugares que se pretende visitar) e te pedem para se comprar a passagem aérea no site da Druk Air, empresa aérea butanesa (www.drukair.com.bt). Pela Druk Air, é possível chegar ao Butão vindo da Índia, do Nepal, da Tailândia, de Bangladesh e, recentemente, de Cingapura. Depois de todos os requisitos cumpridos, é enviado por e-mail o aceite do pedido do visto (em arquivo PDF), que deve ser impresso e apresentado no momento em que se chega ao país. Detalhe importante: é fundamental que se imprima a passagem aérea no site da Druk Air no momento da compra, pois eles não mandam uma cópia por e-mail (ao menos para mim, não mandaram), e também é preciso enviar cópia da referida passagem por e-mail; tive que escanear a que eu tinha impresso e mandar.

 

Agora, o relato propriamente dito:

 

Sexta-feira, 16 de novembro: chegada ao Butão e pernoite em Paro.

 

Peguei o voo Bangkok-Paro saindo às 6 da manhã (horário tailandês), e cheguei pouco depois das 8 da manhã em Paro (horário butanês; como o Butão está uma hora atrasado em relação à Tailândia, a viagem durou pouco mais de três horas). A imigração e a alfândega foi tranquilíssima. Duas informações na internet estão erradas: no site do Wikitravel está escrito o seguinte: "Segundo o site do Departamento de Polícia Federal do Brasil ([4]), o país não mantém relações diplomáticas com o Butão e, para visitá-lo, o turista deve pegar um visto no "laisser-passer" brasileiro. Para desfazer o imbróglio, o melhor mesmo é consultar uma agência de turismo". Mentira. Basta o passaporte brasileiro, o aceite do pedido de visto e a cópia da passagem aérea da Druk Air. Outra informação que eu vi no site do UOL Viagens que está desatualizada (é de 2008): "Os oficiais analisam os documentos por pelo menos 15 minutos". Nada disso, não leva nem um minuto.Ainda no avião, as aeromoças distribuem um cartão tríplice destacável: uma parte é o cartão de entrada do Butão, outra a declaração de bagagem e a última é o cartão de saída. Os oficiais da imigração destacam e ficam com os dois primeiros quando se entra no país e o último deve ser entregue no momento em que se deixa o Butão. Em relação à alfândega, deve-se lembrar que não é permitido a entrada de cigarros: até o momento, o Butão é o único país do mundo a banir o cigarro. Assim que passei pela alfândega, encontrei Chimi, que seria meu guia durante toda a minha estada no Butão, me esperando. Eu tinha saído de Bangkok, quente demais, e quando cheguei em Paro a temperatura era de 1 grau. Um choque térmico, sem dúvida. Mas, durante o decorrer do dia, a temperatura se elevou e, lá pelas 3 da tarde, já estava na faixa dos 20 graus. De noite, novamente a temperatura despencava, pois novembro é outono por lá; porém, eu recomendo o mês de novembro para se visitar o Butão, pois a possibilidade de chuva é quase nula; aliás, em todos os 6 dias em que estive no Butão, não vi sequer uma nuvem no céu. Como ainda era muito cedo, Chimi e o motorista Ugyen me levaram ao hotel para uma relaxada antes do tour (que teria início às 10 e meia da manhã). Em Paro, fiquei hospedado no Tenzinling Resort, muito bom, e impecavelmente limpo; o porém é que fica a uns 5km do centro de Paro, bem isolado mesmo. Depois de pouco mais de uma hora de descanso, o tour teve início. O primeiro lugar visitado foram as ruínas de uma antiga fortaleza que foi destruída em um incêndio, durante uma tentativa de invasão tibetana. E dali tem-se uma visão maravilhosa de um pico nevado (não me lembro o nome dele agora), que se destaca em meio ao verde da vegetação. Depois, visitamos templos budistas (infelizmente, é proibido tirar fotos no interior destes, pois são muito bonitos) e visitei o dzong (fortaleza) de Paro; toda cidade no Butão possui um dzong, que serve como unidade administrativa. O dzong de Paro tem pinturas murais belíssimas, com motivos religiosos. Bom, melhor mostrar as fotos, que valem por mil palavras: das ruínas da fortaleza, do pico nevado, do exterior do dzong de Paro e das pinturas murais, nesta ordem:

 

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Por volta das 17:00h, já estava de volta ao hotel. Nesse dia sofri um pouco com o almoço e o jantar, pois mesmo avisando que não podia comer comida muito apimentada (devido a problemas intestinais), não teve jeito: tive que comer uma carne moída com pimenta e curry, ainda por cima. Pelo menos o arroz vermelho, consumido largamente no Butão, eu achei bem mais gostoso que o tradicional arroz branco. No outro dia, teria uma viagem relativamente longa (72km, mas que demorariam 3 horas!) pela frente: de Paro até Wangduephodrang (ou simplesmente Wangdue, como é chamada pelos butaneses).

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Sábado, 17 de novembro: saímos de Paro logo depois do café da mannhã, com destino a Wangdue. No trecho de Paro até a capital Thimphu, encontra-se a estrada mais bem conservada do Butão (para nós equivaleria a uma estrada vicinal razoável, mas para eles é praticamente uma autopista); são cerca de 54km de distância entre Paro e Thimphu, e o tempo gasto em geral para ir de uma cidade a outra é de uma hora e meia. O caminho possui paisagens belíssimas, como as das fotos abaixo:

 

 

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Chegando em Thimphu, como tínhamos tempo sobrando, Chimi me levou a um local fora do roteiro programado: o Mercado Municipal. Considero os mercados municipais umas das melhores maneiras de se observar o modo de vida dos cidadãos locais, mesmo porque não vi nenhum turista lá no mercado. O que havia eram pessoas muito simples, mas muito educadas e simpáticas, que vendiam e compravam os mais diversos produtos: pimentas, peixes secos, frutas, verduras, queijos, artesanato, etc. Comprei algumas maçãs (butanesas, e não importadas, para ajudar os produtores locais) e depois assistimos a um treinamento do esporte nacional do Butão: arco e flecha. Os arqueiros atiram a uma distância de 150 metros em um pequeno alvo situado no chão. Achei que as flechas fossem enormes, mas são de tamanho reduzido. Até gravei um pequeno video desse evento, mas como não sei incluir videos aqui no tópico, vou ficar devendo. Almoçamos em Thimphu, e logo depois encaramos os 72km que separam Thimphu de Wangdue; além da distância na horizontal, deve-se levar também em conta a distância vertical. Paro fica a 2200m de altitude, e Thimphu a 2400m, de modo que não há grandes variações altimétricas; porém, Wangdue fica a 1800m de altitude, portanto, bem mais baixa em relação a Thimphu. E o fator altitude não acaba aí: para se ir de Thimphu até Wangdue deve-se passar pelo Dochula Pass, a 3150m; portanto, iríamos subir de 2400m até 3150m e depois, uma vertiginosa descida até 1800m! Já na saída de Thimphu, começa-se a subir tanto que chega uma hora em que vc pensa que vai decolar, de tão inclinada que fica a van. 30km depois (e 750m acima), chega-se ao ponto culminante da viagem: o Dochula Pass, um lugar considerado místico e espiritual pelos butaneses, com uma visão simplesmente espetacular do Himalaia. Ali também foi construído um templo e um memorial com 108 stupas, em homenagem ao quarto rei, Jigme Singye Wangchuck, que casou-se com quatro irmãs, governou o país por 34 anos e abdicou em favor do seu filho mais velho e atual rei. O quarto rei ainda continua vivo e muito respeitado pela população, por ser considerado o homem que definitivamente trouxe o progresso ao país sem abrir mão das tradições, e também por ter idealizado o conceito de Felicidade Nacional Bruta, em contraposição ao Produto Interno Bruto. Abaixo, fotos do Dochula Pass: uma comigo, com o Himalaia ao fundo, outra com o guia, Chimi, uma do memorial e a última da entrada do templo.

 

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Fiquei com medo de passar mal por causa da altitude, mas não senti absolutamente nada de anormal. Chimi me disse que a altitude escolhe as pessoas aleatoriamente: um atleta pode passar muito mal logo depois dos 2500m e uma pessoa sedentária (como no meu caso, rs) pode resistir bem a mais de 3 mil metros. Saímos do Dochula Pass e nos preparamos para pegar mais 42km de uma estrada tenebrosa, estreita, praticamente sem trechos de reta e com um movimento intenso de caminhões. Está sendo construída uma hidrelétrica logo depois de Wangdue, por isso o movimento de caminhões. O motorista tem que ser muito bom, pois se errar uma curva ou for tentar desviar e exagerar no desvio, cai num precipício de algumas centenas de metros, e não bastasse o trânsito intenso, ainda há vacas paradas no meio da pista! Enfim, eu não via a hora de chegar em Wangdue. Por fim, 2 horas e meia depois, chegamos ao hotel onde eu ficaria hospedado por duas noites, o Kingaling Resort, um pouco antes da entrada para Wangdue. Na verdade, Wangdue é uma cidade sem interesse turístico, o verdadeiro interesse meu era na antiga capital, Punakha, que fica a 18km de Wangdue, mas não dispõe de hotéis compatíveis com os costumes do turista ocidental. Portanto, nem posso dizer que conheci Wangdue, apenas vi a cidade da sacada do meu quarto. O Kingaling Resort é um hotel bem modesto, com quarto pequeno, porém tudo muito limpo. Ao contrário dos outros hotéis em que fiquei no Butão, não vi nenhum ocidental hospedado lá além de mim, mas muitos indianos (ou aparentavam ser). O hotel serve apenas pratos vegetarianos no jantar (definitivamente, o Butão serviu como um spa para mim, rs; nada de pizza, chocolates ou hambúrguer: só comida mesmo, e para acompanhar, chá), mas no café da manhã serviram ovo cozido, o que eu estranhei: vegetarianos comem ovo cozido? Mas, o que eu gostei mesmo foi a geleia de frutas butanesa, excelente, e o pão típico indiano naan, delicioso. No dia seguinte, tour pela antiga capital, Punakha. Na foto abaixo, a visão de Wangdue que eu tinha da sacada do meu quarto de hotel.

 

 

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Domingo, 18 de novembro: Dia dedicado às imediações de Punakha, que foi capital do Butão até o início da década de 60, mas hoje possui apenas cerca de 19 mil habitantes (só para comparar, Thimphu, a atual capital, tem quase 100 mil). Mesmo pequena, Punakha é uma cidade de destaque no país: em novembro de 2008, a cerimônia oficial de coroação do quinto rei se deu aqui, e só depois se iniciaram as festividades em Thimphu; o mesmo ocorreu com o casamento real, em outubro de 2011. A primeira parada foi para tirar fotos da fachada do dzong de Punakha, considerado o mais belo do país. Ele foi construído na confluência de dois rios (o rio macho e o rio fêmea), e esporadicamente sofre com inundações, sem contar que já teve problemas com incêndio há não muito tempo. Na foto abaixo, o dzong, sendo que o rio macho está à direita e o rio fêmea à esquerda:

 

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Depois seguimos margeando o rio fêmea até chegarmos a uma pequena ponte construída em cima deste rio. A van ficou estacionada próximo dali e eu e Chimi iniciamos uma caminhada até um templo no alto de uma colina. Assim que eu vi o quanto teria que subir, percebi que não seria fácil para mim (para registro: peso mais de 100kg, e sou bem sedentário). Logo no começo, tive que dar uma parada de uns 5 minutos para tomar água e fôlego, pois já estava a ponto de desmaiar. Depois, fui embalando aos poucos e, 47 minutos depois, consegui chegar ao templo, que é maravilhoso por fora e (principalmente) por dentro e de lá tem-se uma visão privilegiada do vale. Das três fotos a seguir, a primeira foi tirada antes de iniciar a subida, com a parte superior do templo visível no alto da colina; a segunda é do próprio templo, e a última é a visão geral do vale de Punakha, tirada no último andar do templo.

 

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Após descermos, voltamos ao dzong de Punakha, desta vez para visitá-lo por dentro. Realmente, de todos os dzongs que eu visitei, o de Punakha sem dúvida é o mais bonito, em especial o templo interior, que é inacreditavelmente bonito; uma pena não serem permitidas fotos no interior dos templos. A seguir, fotos da fachada do dzong, da escadaria que leva ao templo e de uma peça que se encontra em vários templos budistas e da qual não me lembro o nome agora; sempre deve-se virar essas peças no sentido horário, assim como deve-se sempre andar em volta dos templos nesse sentido.

 

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Após visitarmos o dzong, fomos almoçar e, após um breve descanso, iniciamos outra caminhada, rumo ao chamado templo da fertilidade, que também fica numa colina, porém muito mais baixa e fácil de subir. Uma das razões pelas quais eu não visitei os templos budistas em Bangkok (apenas o Wat Po) se deve ao fato de que no Butão eu veria uma infinidade de templos, e mais autênticos. O budismo no Butão segue a corrente mahayana, e aqui foram incorporadas as tradições anímicas pré-budistas (divindades locais da era pré-budista são veneradas até hoje, em um perfeito sincretismo com o budismo tradicional). Uma foto da colina onde se localiza o templo da fertilidade segue abaixo:

 

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Após esta visita, voltamos para o hotel, e no outro dia pegaríamos novamente a tenebrosa estrada da ida (só que dessa vez subindo), passaríamos mais uma vez por Dochula Pass, e chegaríamos até o destino final, em Thimphu.

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Segunda-feira, 19 de novembro: viagem Wangduephodrang-Thimphu. Logo após o café da manhã, encaramos mais uma vez a estrada em direção a Thimphu, só que agora subindo. Mais uma vez, caminhões em todo o trecho, algumas vacas paradas no meio da pista e até um grupo de macacos em determinado trecho. Mais uma vez paramos no Dochula Pass, desta vez por mais tempo, para tomarmos uma xícara de chá e uns biscoitinhos. Assim que chegamos a Thimphu, já fomos almoçar. Não consegui comer muita coisa por causa das inúmeras curvas da estrada, estava um pouco enjoado. Depois, demos uma passada no dzong mais antigo de Thimphu (são dois: o mais antigo, usado mais para cerimônias, e o mais novo, usado para fins administrativos). Alguns monges budistas estavam por lá, no entanto, Chimi me disse que logo após o festival de Thimphu (que este ano caiu no final de setembro), os monges começam a ir para Punakha, por ter um clima mais ameno, de modo que relativamente poucos monges estavam ali no dzong. Após a visita ao dzong antigo, fomos ver a estátua do Buda gigante que está sendo construída numa colina acima de Thimphu. A estátua em si já está pronta, mas falta arrematar o entorno. De lá tem-se uma vista panorâmica da capital, muito bonita. Em seguida, visitamos o chorten (memorial) dedicado ao terceiro rei, Jigme Dorji Wangchuck, morto prematuramente aos 43 anos, vítima de um infarto. Aqui pessoas vêm orar, pagar promessas, e todos caminham em volta do memorial três vezes, sempre no sentido horário, para trazer boa sorte. Após esta visita, encerramos o dia com uma visita à escola de tecelagem, onde é possível ver meninas e moças aprendendo a arte da tecelagem. O vestuário típico masculino dos homens é o gho, uma túnica amarrada por um cinto, no qual os homens usam meias pretas até o joelho e sapatos; para as mulheres, o traje típico é a kira, uma saia de corpo inteiro, sobre o qual as mulheres usam um casaco, geralmente em cores vivas. Abaixo, fotos do dzong de Thimphu com alguns monges, a estátua do Buda gigante, vista panorâmica de Thimphu e o chorten, nesta ordem:

 

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Encerrado o dia, fomos ao hotel onde eu ficaria hospedado em Thimphu, o Migmar Hotel. Simplesmente excelente, de longe o melhor de todos os lugares onde fiquei no Butão. A comida também era muito boa aqui, diferente do hotel em Paro, que era muito bom e limpo, porém a comida deixava a desejar. O dia seguinte seria passado todo em Thimphu.

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Terça-feira, 20 de novembro: dia totalmente passado em Thimphu. Diferente dos outros dias, nesse dia quase não vi atrações naturais ou templos budistas. O tour iniciou-se com uma visita a uma reserva natural para ver (de longe, infelizmente) aquele que é considerado o animal nacional do Butão: o takin, que tem cabeça semelhante ao bode, porém corpo de bezerro. Outro animal símbolo do Butão é o yak, parecido com um boi almiscarado; esse infelizmente não vi, pois nessa época, eles só são encontrados em altitudes acima de 4 mil metros. Depois, demos uma passada rápida pela torre da rádio estatal, de onde também se tem uma bela vista da cidade. Logo após, várias visitas rápidas à Escola de Artesanato (um dos poucos lugares onde se pode torrar dinheiro no Butão; o artesanato butanês é magnífico, porém caríssimo; nesta escola, jovens de todas as partes do Butão são admitidos para se tornarem artesãos, podendo escolher entre pintura, carpintaria, escultura e tecelagem), a um templo exclusivo para monjas, ao Museu Postal do Butão, ao Museu do Vestuário e a uma fábrica de papel tradicional (como as visitas foram muito rápidas aqui, não tirei foto de nenhum desses lugares). Depois, almoçamos e voltamos para o hotel, para sairmos novamente às 16h para visitarmos o novo dzong de Thimphu (a entrada antes desse horário não é permitida, pois vários órgãos governamentais usam o dzong para fins administrativos até este horário); é um dzong bonito, mas sem o mesmo charme do dzong antigo. No geral, minha impressão sobre Thimphu é que a cidade, apesar de contar com várias comodidades nem sempre encontradas nas cidades menores, já está começando a ficar um pouco descaracterizada, um pouco ocidentalizada demais, talvez. Ainda assim, vale muito a pena visitar, em especial o Mercado Central. Quando chegamos ao hotel, Chimi me pediu para chegar para jantar um pouco antes (18:45h, ao invés das 19:00h), pois o chefe dele viria jantar comigo! Estranhei, o que o funcionário de uma agência oficial de turismo iria querer saber sobre mim? Apesar do estranhamento, concordei e cheguei mais cedo para jantar, onde já estavam esperando Chimi e o tal funcionário, de nome Dorji Dhap. Muito educado, ele me disse que se interessou em me conhecer por eu ser brasileiro (para eles, o Brasil é um país tão exótico quanto o Butão é para nós) e para saber se estava tudo do meu agrado (hospedagem, comida, guias, motorista, atrações escolhidas, etc). Ainda complementou dizendo que, como eles cobram caro do turista que resolve visitar o Butão, eles têm a obrigação de oferecer o melhor que eles podem (bem diferente de outros países, que pouco estão se lixando para o bem-estar dos turistas). Nesse ponto, não tenho absolutamente do que reclamar: tudo correu perfeitamente dentro do esperado, o povo é muito gentil e fui extremamente bem tratado. Ainda comentei com ele da minha apreensão em relação ao dia seguinte, quando eu subiria o famigerado caminho até o Ninho do Tigre, em Paro, e ele me tranquilizou, dizendo que não é tão difícil quanto parece. Nessa noite, fui dormir mais cedo, pois sairíamos bem de manhã para começarmos a subida no máximo às 9 horas. Abaixo, fotos do takin (se é que dá para enxergar alguma coisa), das onipresentes bandeiras de oração (em cinco cores, representando os cinco elementos: azul para água, verde para madeira, vermelho para fogo, amarelo para terra e branco para metal) próximo à torre de rádio, e da fachada do novo dzong de Thimphu.

 

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Obrigado, João Alexandre. Isso mesmo, há pouco mais de um ano o Butão foi destaque no Globo Repórter, e o conceito de Felicidade Interna Bruta (em inglês, Gross National Happiness, abreviado para GNH) foi idealizado pelo quarto rei, Jigme Singye Wangchuck, e estabelece que, mais importante que o crescimento econômico do país, é a felicidade dos seus habitantes. Segundo ele, tal conceito pode inclusive ser mensurado e baseia-se nos seguintes pilares: promoção de um desenvolvimento sócio-econômico sustentável e igualitário; preservação e promoção das tradições e da cultura do país; respeito ao meio ambiente; e estabelecimento de um governo que atenda integralmente às necessidades básicas da população (pelo menos foi isso que o guia me disse).

 

Quarta-feira, 21 de novembro: Acordei mais cedo que o habitual, tomei café e logo em seguida partimos em direção a Paro, mais especificamente ao ponto turístico mais visitado do Butão: o Ninho do Tigre, um mosteiro construído num penhasco a 900 metros acima da cidade de Paro. Estava bastante preocupado, pois a subida não é das mais fáceis, e é bastante longa. Para se chegar ao mosteiro existem duas etapas: a primeira, da base (a mais ou menos 2300m de altitude) até uma cafeteria, a 2800m, que serve como ponto de repouso, para se tomar um chá ou café com biscoitos, e também para conversar com outras pessoas que estão subindo. A segunda parte começa a partir da cafeteria até chegar ao templo: é a parte mais íngreme, mais difícil e, para se chegar até o final (a mais ou menos 3100m), passa-se por uma estreita ponte (no melhor estilo Indiana Jones e o Templo da Perdição) que liga o caminho ao mosteiro. Isso eu fiquei sabendo através de Chimi, o guia, pois, infelizmente, não me senti apto a efetuar a segunda etapa; parei na cafeteria mesmo. Da base até a cafeteria, uma pessoa com condicionamento físico normal leva em torno de 50 minutos; no meu caso, levei 1 hora e 20 minutos, tendo que parar frequentemente para tomar fôlego e água. Para os mais folgados (rs), dá para ir até a cafeteria de cavalo (na verdade são pôneis, que podem ser alugados), porém a descida obrigatoriamente deve ser feita a pé. No caminho, pessoas de várias partes do mundo, desde os montanhistas mais experientes até os sem experiência nenhuma (eu me incluo neste último grupo). Na maior parte do percurso, fui acompanhando uma americana de Missouri e uma mexicana que atualmente mora na Malásia; as duas estavam iniciando a viagem, e estavam se preparando para um trekking de duas semanas nos picos ao norte do país. Apesar de ter ficado desapontado por não ter tido coragem de fazer o caminho completo, Chimi me disse que mais ou menos metade dos que tentam desistem ao chegar na cafeteria (não sei se ele me disse isso apenas para me consolar, mas enfim...). Segundo a lenda, o lugar onde se encontra o mosteiro foi escolhido pelo guru Rimpoche, o Mestre Precioso (venerado como uma reencarnação do próprio Buda), no século VIII, como sendo ideal para a prática da meditação; ele teria conseguido chegar até lá montado em um tigre voador (daí o nome Ninho do Tigre) e teria meditado ali por três meses; no entanto, a construção só se iniciaria no final do século XVII, sendo concluída em 1692. Fiquei impressionado em como foi possível construir um templo imponente como aquele em um precipício; perguntei a Chimi como conseguiram construir e a resposta foi simplesmente: "Construindo!". Abaixo, fotos do Ninho do Tigre tiradas da cafeteria e uma foto (a última) que eu retirei da Internet, mostrando o mosteiro mais de perto:

 

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Após descer novamente todo o caminho, almoçamos e logo em seguida Chimi me levou para conhecer uma típica fazenda butanesa, de uma família considerada rica para os padrões locais. Pela tradição do Butão, quando a filha se casa, o marido passa a morar com a família da esposa, de modo que muitas pessoas moram na mesma casa; morar sozinho é algo muito esquisito para os butaneses, sendo até motivo de vergonha. Essa tradição só é quebrada se o marido não tiver irmãs ou irmãos solteiros, aí ele não deixa os pais ficarem sozinhos e a esposa passa a morar com a família do marido. A fazenda que eu visitei é gerida por uma senhora muito simpática, que nos ofereceu chá de manteiga (que é horrível, diga-se!) e arroz frito (como se fosse uma pipoca feita de arroz). Depois da visita à fazenda, Chimi me deixou um tempo livre para perambular em Paro, uma cidade menor que Thimphu (em torno de 36 mil habitantes), mas muito mais pitoresca e com uma atmosfera mais "autêntica" que Thimphu. Uma curiosidade que quem já esteve no Butão pôde conferir (e quem assistiu à reportagem do Globo Repórter também) é o fato de os butaneses pintarem pênis na fachada das casas, algo que seria considerado de mau gosto aqui, mas lá é natural para eles: nada mais é do que um símbolo de fertilidade e prosperidade. Também é extremamente comum deixarem pimentas malaguetas ao sol para secarem; lá a pimenta é considerada um legume, e não um condimento, e o prato nacional butanês é o chamado ema datsi, que vem a ser pimenta com molho de queijo. Abaixo, fotos da dona da fazenda (com o bule de chá de manteiga em destaque), da fachada de uma casa em Paro com a famigerada pintura, da rua principal de Paro e das pimentas secando ao sol:

 

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De noite, arrumando as malas para partir na manhã seguinte.

 

Quinta-feira, 22 de novembro: Depois de tomar café, Chimi e Ugyen (o motorista) me levaram até o aeroporto internacional de Paro, a fim de pegar o voo de volta para Bangkok. Despedimo-nos, e entrei para fazer o check-in, passar pela imigração, devolver o cartão de saída. O voo estava marcado para as 11:45h, mas saiu onze minutos antes. Ao contrário do voo de ida, que foi direto, o de volta fez escala em Dhaka (capital de Bangladesh), antes de chegar em Bangkok. De lá, ainda pegaria outro voo até Krabi, no litoral sul da Tailândia.

Agradeço a todos que acompanharam o relato, e especialmente à Heka, que me ajudou muito com as informações que ela postou aqui sobre o Butão. E tenho certeza que ela, ao contrário de mim, conseguiu chegar até o mosteiro do Ninho do Tigre. Obrigado a todos!

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Sem dúvida um destino para os grandes, pois os fracos jamais iriam conhecer um país onde o turista "não é bem vindo". Gostei muito do relato, principalmente da foto da casa na montanha.

 

Você ficou mais rico, pois a viajar é a única coisa que se perde dinheiro material mais ganha o dinheiro emocional e não tem preço olhar as fotos.

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