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Circuito V em TDP - novata, sozinha e gelada!


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Se você procurar informações sobre este circuito V é provável que só encontre este relato. Isso porque este circuito NÃO EXISTE! Na verdade, o Parque Torres del Paine tem uma configuração e uma logística singulares, que permitem montar vários circuitos pra acomodar várias intenções de viagem diferentes. Tem gente que faz um Y, outros o tradicional W ou ainda o O.. tudo depende de quanto tempo, dinheiro e disposição vc tem.

 

[picturethis=http://farm4.static.flickr.com/3628/3605510322_465d3fedf7_o.jpg 500 375 aeroporto]Em Puerto Montt peguei um táxi para o aeroporto, pois ônibus para lá somente mediante reserva antecipada e em horários específicos. Embarquei num vôo da Lan Chile pelo qual paguei 79000 pesos chilenos com destino a Puerto Natales no dia 12 de março, quinta feira, com escala em Punta Arenas. Já em Puerto Natales peguei um transfer do aeroporto, que me deixou no centro da cidade para procurar acomodação. A cidade é pequenininha, não tem nenhum prédio com elevador, dá pra andar pra todos os lados. Acabei ficando no Hostal Patagônia, em frente à praça da Igreja, com diária de 9000 pesos em dormitório. O hostal só tem 3 quartos, sendo 2 comunitários e 1 quarto de casal. As donas são muito simpáticas, e bem ao lado tem uma lojinha para aluguel de equipamentos, cujo funcionário, o Nicolas, acabou virando meu amigo e parceiro nas noitadas Natalinas (ugh, esse trocadilho ficou sinistro!).[/picturethis]

 

Como cheguei na cidade no meio da tarde, já estava cansada da viagem até aqui, o tempo estava feio e ainda por cima estava sozinha, acabei não fazendo nenhum preparativo para ir ao parque no dia seguinte. Fiz amizade com o pessoal do meu dormitório e fomos beber! Ficamos no boteco ate umas 4 da manhã, e dá-lhe pisco, cerveja, coqueteis, shots e sei la o que mais. Não botei fé e achei que o pessoal ia amarelar, mas acordaram as 6 da manhã pra se arrumar e seguir pro parque. Eu continuei dormindo....

 

Acordei na sexta feira e decidi ir a palestra sobre TDP que ocorre diariamente as 3 da tarde no hostal Erratic Rock, ver se eu arrumava companhia pra pernada. Foi uma ótima decisão, pois lá aprendi o que deveria colocar na mochila, como arrumá-la e o que esperar da natureza, embora nada realmente me preparasse para o que vinha pela frente. Acabei conhecendo a Nikki, uma inglesa que estava viajando a 8 meses pelo mundo e que seria minha parceira no percurso, ou por pelo menos parte dele, já que a intenção era fazer o W. Saimos da palestra e fomos comprar comida e alugar os equipamentos necessários. Montamos um cardápio para 5 dias e compramos a janta em comum, mas cada uma se encarregou dos lanches e petiscos particulares durante a trilha. Alugamos barraca, isolantes e garrafas de água pois já tínhamos o resto. Combinamos de nos encontrar na portaria do parque, pois cada hostal trabalha com uma empresa de transporte diferente que faz o trajeto até o parque (são três). Já de volta ao hostal comprei a passagem para o parque e fui arrumar a mochila. Fui dormir la pela meia noite, ansiosa pelo próximo dia.

 

1o dia de trekking - Refúgio Pehoé até Refúgio Grey

 

[picturethis2=http://farm4.static.flickr.com/3651/3604693983_41bf968da8_m.jpg 260 200 placa]Todos acordam mais ou menos ao mesmo tempo no quarto comunitário, é difícil perder a hora! Depois do café o ônibus chegou e parti para o Parque. Dormi quase todo o caminho.. O dia não estava muito bom, e na portaria a placa avisava: ventos de 55 km/h e previsão de tempo ruim para os próximos dias! Voltei ao ônibus pois iniciaria a pernada do lado esquerdo do parque, contra o sentido horário. Chegamos na portaria perto do meio dia, quando a Nikki chegou decidimos ir ate o Salto Grande, uma pequena queda d'água ao lado da portaria Pudeto, enquanto esperávamos o horário do Catamarã. Dica: espere todo mundo colocar suas mochilas na área reservada, pois fica uma montanha de mochila enorme! E aproveite o chocolate quente servido na embarcação, é gratuito! Depois de servidas as bebidas quentes, pague a tarifa, o comprovante deverá ser entregue no desembarque.[/picturethis2]

[picturethis=http://farm4.static.flickr.com/3325/3605510738_c66b1a239d_o.jpg 375 500 trilha]Assim, partimos do Refúgio Pehoé com destino ao Refúgio Grey. A Nikki andava bem mais rápido que eu, mas eu estava carregando todo nosso equipamento: panelas, gás, fogareiro e barraca, que sozinha pesava mais de 3kg! Não tínhamos tido tempo de dividir os equipos, e eu sofri com isso: levei quase 6 horas pra chegar ao refúgio Grey, num trecho que pode normalmente ser feito em cerca de 4 horas. A trilha é bem aberta, com alguns desníveis mas não é difícil. No início seguimos por uma trilha aberta em meio a vegetação baixa, depois cruzamos alguns rios, florestas e campos de pedras. Em alguns pontos os desníveis são mais acentuados, mas ainda bastante tranquilos. Não há nenhuma escalaminhada. Claro que na hora achei impossível, principalmente porque o vento atrapalhava bastante. As rajadas eram fortes o suficientes pra me fazer parar pra nao desequilibrar e cair. Aqui vale um aviso.. é possível fazer um bate-e-volta até o Mirador Grey (7 horas ida e volta) ou seguir com a mochila até o Refúgio Grey (umas 4,5 horas pra chegar). O mirador fica longe do glaciar de mesmo nome, mas do refúgio também não dá pra ver nada. Há outro mirador há 10min do refúgio, mas eu não conseguia mais andar pra chegar lá. Armamos acampamento e jantamos, a Nikki fez quase tudo, pois eu estava tão dolorida que não conseguia me mexer! A noite foi fria e eu acordava o tempo todo..[/picturethis]

2o dia de trekking - Refúgio Grey até Refúgio Pehoé

 

[picturethis2=http://farm3.static.flickr.com/2463/3605511232_19afbd703e_o.jpg 500 375 trilha]Acordamos com uma chuva fina e persistente. Eu ainda estava dolorida, os músculos travados, mas não tanto quanto no dia anterior. E foi só botar o pé na estrada que o corpo esquentou e a dor foi embora.. mas depois de 1 hora caminhando sob a chuva, eu entendi o que era frio de verdade: já não sentia os dedos dos pés, as mão estavam duras, não conseguia parar 5 minutos pra descansar que o corpo esfriava e adormecia todas as extermidades. E o tempo ruim não me deixava apreciar a paisagem, então, acabei fazendo o mesmo caminho do dia anterior em míseras 4 horas! Claro que passar a barraca pra Nikki ajudou... Cheguei na "cozinha" da área de camping do refúgio Grey e ela estava lotada, todo mundo disputando um lugarzinho aquecido e abrigado da chuva, havia roupas penduradas por todo lado, nas mesas, nas cadeiras, em varais improvisados. Eu tremia de frio, estava mal humorada por estar molhada e gelada, corri pro chuveiro pra me aquecer. Fiquei uns 40min me aquecendo debaixo do chuveiro escaldante, saí de lá parecendo outra pessoa! Como a chuva não parava, resolvemos ficar ali mesmo e continuar a caminhada somente no dia seguinte. O plano inicial era seguir até o Acampamento Italiano neste dia. Arrumamos as coisas e ficamos de papo ate a hora que abriu o bar do refúgio. Ai fomos.... beber! Fizemos amizade com um casal de americanos e um brasileiro também se juntou a nós, e assim passamos o resto da noite,no aconchego do álcool e dando muita risada. A esperança era de que o tempo melhorasse no dia seguinte, embora a previsão não fosse animadora. Quase não dormi de novo, achando que o vento ia levar a barraca embora. O frio era tanto que abri um cobertor de emergência sobre meu saco de dormir. Com a condensação, acordei com ele mo.lha.do no dia seguinte.[/picturethis2]

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3o dia de trekking - Refúgio Pehoé até Acampamento Italiano

 

[picturethis=http://farm4.static.flickr.com/3353/3604695361_01750ac623_o.jpg 375 500 foto]Acordamos e a chuva tinha finalmente parado, mas eu ainda me sentia cansada, não estava acostumada a dormir tão desconfortavelmente e passando tanto frio! A Nikki acordou antes que eu e cheia de energia. Ela era a trekker da dupla, mas eu era a expert em acampamento. Enquanto arrumava as coisas do café, ela quis acelerar e arrumar a barraca, e com isso quase perdemos a dita cuja. Bateu uma rajada de vento que espalhou as coisas soltas: tinha meia voando pra um lado, calcinha pra outro, o mapa da trilha sumiu e a tampa da panela desapareceu. Ela percebeu a mancada e se desculpou, mas o estrago havia sido feito. Ahh o mau humor havia voltado! Bom, terminamos de arrumar as coisas e depachei a Nikki na frente. Fui pagar minha conta e botei o pé na estrada uma meia hora depois dela. Este fo o trecho mais fácil, a trilha é quase plana, bem larga, e são só duas horas até o Italiano. Quando cheguei lá a Nikki queria subir o Vale do Françês, mas o tempo estava encoberto e eu não quis arriscar. Ela foi mesmo assim, mas não fez todo o vale. Choveu um pouco mas não o suficiente pra molhar. Armei a barraca num ótimo local e fiquei de papo com 3 ingleses que estavam por lá, fazendo o circuito completo. A noite chegou, jantamos um macarrão com molho branco e funghi secchi que fez o maior sucesso! Ligamos meu ipod numa caixa de som e ficamos ate meia noite "na balada", eu, a Nikki, 2 dos ingleses e um outro louco que apareceu por lá, que estava bivacando pelo W. Quando 1 dos ingleses sumiu e o outro já tinha arrumado seu saco de dormir pra bivacar sobre o balcão de madeira daquele rústico abrigo, achei que tava rolando um clima entre a Nikki e o inglês e tratei de encontrar o rumo da barraca. Essa foi a melhor noite de sono que eu tive.. o vento soprava na copa das árvores, criando uma trilha sonora digna de sonhos, e o frio cedeu um pouco (ou eu que me adaptei?).[/picturethis]

 

4o dia de trekking - Vale do Francês

 

[picturethis2=http://farm4.static.flickr.com/3595/3605512216_ed7ab03a9b_o.jpg 375 500 trilha]Perdi minha parceira de trekking. A Nikki queria seguir caminho pois estava satisfeita com o que tinha visto do Vale do Francês, e eu ainda queria subir. Assim, nos despedimos logo após o café da manhã. Eu fiquei com a barraca, ela se hospedaria no Refúgio na próxima parada. Me juntei aos ingleses que estavam subindo o Vale, mas logo meu despreparo me fez ficar pra trás. A subida não é íngreme, mas é constante. Primeiro subimos por pedras, depois pela mata, e ai vai alternando entre mata, campos rupestres e encostas arenosas. Pelo caminho podemos ouvir e ver avalanches do glaciar que cobre as montanhas, é lindo! Depois de 3,5h cheguei ao mirador, uma formação rochosa alta rodeada por picos de granito, com um belo vale cortado por um rio de degelo que desemboca no lago Pehoé. Realmente o visual é de tirar o fôlego! Fiquei lá cerca de meia hora curtindo, tomei chá com os ingleses, tirei a bota pra descansar os pés e resolvi descer, já que provavelmente iria devagar mas queria chegar antes de anoitecer. Um pouco depois os ingleses me alcançaram, e aí desci batendo papo com o Scott, que confessou ter rolado mesmo um clima entre ele e a Nikki... Subir é difícil, mas descer é quase impossível! Cheguei no acampamento com fortes dores nos tornozelos e no calcanhar direito, que apresentava uma inflamação, diagnosticada por um médico brasileiro que tb andava por aquelas bandas. Agora sozinha, fiquei de papo com os meninos até a hora de dormir. O médico brasileiro se juntou a nós, e eu decidi que não dava mais pra continuar jornada naquelas condições, e combinamos de voltar ao Refúgio Pehoé no dia seguinte.[/picturethis2]

 

5o dia de trekking - Acampamento Italiano até refúgio Pehoé

 

[picturethis=http://farm4.static.flickr.com/3332/3604694915_566f3cafdd_o.jpg 375 500 cachoeira]Acordei preguiçosa no dia seguinte, depois de mais uma noite bem dormida. Não podia perder tempo, pois queria chegar no Pehoé a tempo de pegar o catamarã de volta as 12:30. Arrumamos as coisas rapidamente, ajudei o brasileiro a arrumar sua mochila, que estava toda desregulada e ele sentia dores nos ombros. Fiz o caminho de volta mais devagar, pois sentia bastante dor nos pés e tornozelos. Aliás, eu estava toda inchada, não só os tornozelos, meu olhos ficaram pequenininhos! Chegando no refúgio fui tomar um banho.. mas não encontrava minha toalha! Me deu um estalo e lembrei que tinha pendurado pra secar num prego na cozinha do camping, há dois dias atrás! Pra minha surpresa, ela ainda estava lá! Tomei um banho rápido em tempo de pegar o catamarã de volta. A logística de transporte do parque é super acertada, da catamarã pulei no ônibus e dormi todo o caminho de volta.

 

De volta a Puerto Natales, peguei um quarto privativo no Hostal Cecília, pela qual paguei 13000 pesos. Cuidei dos meus pés, tomei banho e logo saí pra encontrar os amigos que fiz no parque. Fomos ao restaurante O Barco (ou algo assim, tem uma canoa em frente) que tem uma comida muito gostosa e a preço justo. Nossa mesa tinha 7 pessoas! E adivinha o que fizemos depois de jantar?! Fomos... BEBER! Saí de jeans, camisa dryfit manga longa, fleece e soft shell, meias e papete :) tava bunita que só! Lá todo mundo é trekker também, então ninguém estranha essas combinações loucas. E quando descobriram que eu era brasileira, tocaram axé e me fizeram colocar um chapéu daqueles de passista de samba! Cada coisa que me aparece... E quem é que lembrava do tornozelo inchado a essas horas? Eu é que não era! A festa foi até as 3 da manhã, quando os carabineiros chegaram pra gentilmente escoltar os bêbados pra casa...[/picturethis]

 

[align=center]Vista do Mirador Grey

3605510940_68593e192d_o.jpg

 

Subindo ao Vale do Francês

3605511590_8b3e29b5a8_o.jpg

 

Vista do Mirador do Vale, olhando pra baixo

3605512532_3e52a6e671_o.jpg

 

Vista do Mirador do Vale, olhando pra cima

3604695851_fd9d867beb_o.jpg[/align]

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katita... parabens pelo relato e belas pics, mto bom! O titulo nao poderia ser mais inspirado..novata, sozinha e molhada ! Impossivel nao enveredar pelo duplo sentido no ultimo adjetivo... :D

 

Jorge! vc anda passando tempo demais sozinho no mato! Tua próxima travessia tem que ser ali pros lados da Av Indianópolis heim! ::toma::

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