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Pico Paraná - Conheci e nunca vi


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  • Membros de Honra

Mochileiro viaja quando dá. E isso nem sempre significa que estará tudo perfeito na viagem.

No início de junho catei uma promoção numa aérea e marquei o Pico Paraná na agenda para o final de julho, final de semana dos dias 23 e 24. Era o que dava pra fazer com o dinheiro e o tempo disponível. Já tinha feito o PP em 2008, com o Ogum777 e o Gutante, mas sempre tive vontade de fazê-lo novamente, agora no inverno, pela maior probabilidade de tempo aberto (pois quando fomos, pegamos tempo fechado, vide Pico Paraná - Em solitário à três, pelo Ogum 777). Então, a repetição era válida.

Na semana que antecedeu a viagem entrou uma frente fria atravessando o País de oeste pra leste e deixou o tempo ruim na região do PP. O que fazer? Desistir ou ir assim mesmo? Na dúvida, arrisquei. Subi no dia 22, cheguei à meia noite em Curitiba e me mandei pra Fazenda Pico Paraná.

Bati lá já era 1 e tanto da manhã, e o Dilson saiu da cama pra me receber naquela friaca úmida. Como sempre, muito bem recebido, ficamos papeando um bom tempo. O Dilson se recolheu e eu espichei o saco de dormir numa das camas da casa de apoio já próximo das 3 da matina. Dormi como um lorde, por conta da semana pesada.

Acordei sábado por volta das 6:30 e dei de cara com um dia fechado. Não se via nada além de uns 40 metros. Fiz minha higiene na casa do Dilson e por volta das 08:00 da manhã parti, apostando numa melhora do tempo. Hora e tanto depois, ao emergir no campinho de transição Getúlio/Caratuva, um vento forte me fez acreditar numa melhora, pois a face do Itapiroca ora se revelava, ora se escondia em rápidas nuvens.

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10:30 da manhã cheguei à bica, tirei a mochila e peguei o celular para ver a hora. Como havia sinal, resolvi sacanear o Edver Carraro. Conversamos um pouco, ele me desejou sorte e lamentou não poder ter ido junto. Segui adiante e logo topei com a intersecção PP/Itapiroca.

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Para mim, começa ali o pior trecho da trilha do PP, que vai até A1. São subidas e descidas sem fim, um trecho íngreme, cheio de riachos, limo, barro, onde o rendimento cai. No final deste trecho, passei a não me sentir bem. A trilha, molhada, minara minha resistência. A roupa estava também molhada pelo contato com a vegetação. Mesmo usando u ma jaqueta com Gore-tex, a combinação umidade exterior/suor castigava. Também me dei conta que eu negligenciara o sono e a alimentação nos últimos dois dias. Comecei a sentir as pernas “moles”, o nariz começou a apresentar coriza. Cheguei aos trancos e barrancos num A1 tomado de neblina. Conversei com alguns montanhistas que chegavam e iam seguir, e decidi acampar ali e esperar o tempo abrir. Abrindo, atacaria o cume ainda durante a madrugada.

Montei a barraca e, duas horas da tarde, trocava a roupa, entrava no saco de dormir e me alimentava, água, frutas, chocolate. Cochilei algumas vezes, conversei de dentro da barraca com alguns passantes. 18:30 eu acordei muito bem. O sono, a roupa seca e a alimentação me deixaram “zero”, e eu abri a barraca. A visão foi de desanimar. Tudo branco. Fiquei na preguiça até umas 19:00 horas, quando sai pra fazer a janta. Ogum, juro que lembrei de ti: risoto de tomates secos com queijo parmesão. Arroz carnaroli, vinho branco, um bacon feito pelo meu pai, tudo como manda o figurino. Só faltaram ervilhas, mas levá-las seria complicado. Aliás, complicado deste prato é só o consumo de água e combustível. No mais, é fácil de fazer e o peso é exíguo (arroz e o naco de queijo, o resto não dá 100 gramas. Jantei curtindo a escuridão e o silêncio.

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Conversei com outro montanhista que foi resgatar uns companheiros retardatários. Tranqüilo, alimentado e quente, me recolhi ao “casulo”.

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Durante a noite o vento rodou sem firmar em qualquer quadrante, tendo aliviado depois das duas da manhã. As quatro meu despertador tocou. Sentindo-me bem, ouvi o silêncio e esperei encontrar tempo bom. Nada. O mesmo branco. Ressentido, desisti do cume. Tornei a dormir até as 6 da manhã. Daí fiquei rolando e tomei café na cama, bem preguiçoso. Sete horas calcei as botas e fui botar ordem na casa. A umidade dominava o ambiente, tudo estava molhado e branco. Por volta das 8 horas botei a mochila nas costas e fui descendo com toda a tranqüilidade do mundo. Desci direto, dando apenas pequenas paradas para arrumar a mochila e estudar melhores rotas nas subidas e descidas do trecho entre A1 e a bifurcação do Itapiroca, ou para trocar uma idéia com alguém que subia.

Meio dia e vinte eu cheguei ao camping. O cheiro que saía da casa de apoio era algo! Provocação pura! De lá saiu o Dilson, oferecendo pizza e cachorro quente. Pedi uma pizza e fui tomar um banho quente na casa dele. Roupa limpa, voltei pra casa de apoio, comi uma pizza deliciosa e cheirosa, e ficamos papeando até duas e tanto da tarde. Neste tempo, outros montanhistas desceram e confirmaram que o vento rodou tanto no A2 quanto no cume, e a despeito do Getúlio estar limpo, lá em cima, nada feito: branco total. Voltei pra Curitiba, peguei um vôo para Porto Alegre – o único que atrasou naquele dia e de lá me mandei pra casa.

Não me arrependo de não ter feito o cume. Poderia tê-lo feito, estava bem fisicamente e tinha tempo. Mas não vi motivo para ir até lá. Fica para uma próxima, com melhor visual. Voltarei ao PP outra vez. E outras tantas quantas forem necessárias até ele se mostrar pra mim. PP, a montanha que conheço, e nunca vi.

Agradeço aos amigos Edver, Ogum (o homem da Ana Maria Braga) e Gutante, o primeiro por ter dado apoio e sofrido por não ir, os outros dois por terem partilhado comigo esta bela montanha que é o Pico Paraná, em 2008. Apesar de gostar de caminhar sozinho, amigos como vocês (e outros tantos daqui) são um brilho diferente nos dias que passamos no mato, na montanha. Gracias, compañeros!

 

Tech Info (como de costume).

Sobre o PP, aqui.

O Dilson não está mais abrindo entre 22:00 e 7:00, só das 7:00 às 22:00. Me disse que é muito incômodo ficar saindo da cama de madrugada pra ganhar um pouco mais e ouvir reclamação. Não tiro a razão dele. No meu caso, eu entrei de madrugada, mas conversei antes com ele. Evitem o horário noturno. Se não tiver escapatória, converse com ele.

Além das tradicionais bebidas, nos finais de semana a mulher do Dilson (que grosseiramente esqueci o nome) faz deliciosas pizzas e cachorros quentes. Muito bons. Confirmem a disponibilidade e saboreiem!

Equipos: sem problemas com os de sempre, bastão Quechua 500 Light, com as ponteiras ganhas de um grande amigo, experiente nas corridas de aventura, barraca Trilhas e Rumos Bivak 1, saco de dormir Trilhas e Rumos Micro Pluma, mochila Conquista Cerro Torre 60+10 (60 litros é tranqüilo para esta trip).

Jaqueta Mamut Genesis. Ótima compra para climas frios, pois o forro é um polar removível, e a capa externa tem gore-tex. Mas não existe milagre: em tempo úmido, vc vai ficar molhado, é inevitável.

Calça Outside: liberdade de movimentos, seca rápido. A velha Big Wall (da Centauro) também não faz feio. Uma coisa que faz a diferença é o uso de um cinto ou suspensório. Em tempo molhado, a roupa cola e tende a descer, atrapalhando o movimento. Como eu sempre trago alguma tralha junto, improvisei um suspensório com cordeletes de escalada (Abraço, Ogum777!).

Polar mais fino da Montagne: bom e barato. Na caminhada usei só a jaqueta externa. Nas paradas o polar Montagne. O Mamut só pra dormir.

Capa de transporte da mochila, da Doite. Ótima para transportar. Fecha tudo, pode despachar no aeroporto sem medo. Depois vira capa de chuva, não sendo peso inútil. Ótima pedida.

Falhas: meias Northland e liner VND, comprados ano passado na Argentina e usados com galhardia na subida do Açú, no PARNASO (devo este relato ainda). No tempo seco, ótimas, mas na trilha úmida do PP, onde a roupa molha e transfere a umidade para as meias, elas em vez de expulsar, absorveram. E na mesma trilha eu usei, no dia anterior, meias e liners Lorpen de lã Merino. Pés sempre secos. Sou defensor de testar equipos novos e mais baratos, mas estas meias ai foram reprovadas. Fico com as Lorpen, e até as Selene (abraço, LeoRJ, que tanto as “adora”) com liners da Adventure Gears se saíram melhor.

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  • Membros de Honra

Sem dúvida, Leo!

Conversei isso com o Dilson também. Montanha é jogo. Um dia ela te vence. Noutra ela até te deixa ir, mas não se mostra. Mas o que realmente vale, como tu espertamente já sacou, é jogar, e não o resultado final.

Abraço!

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  • Membros de Honra

Grande Alemão!

 

O PP vai estar sempre lá! Ainda trilharemos juntos por aqueles caminhos tortuosos!

Subir sem visual, creio que não valha o esforço. Talvez até compense, mas aquela sensação de magnitude que se tem de lá de cima, com certeza não seria a mesma!

 

10:30 da manhã cheguei à bica, tirei a mochila e peguei o celular para ver a hora. Como havia sinal, resolvi sacanear o Edver Carraro. Conversamos um pouco, ele me desejou sorte e lamentou não poder ter ido junto. Segui adiante e logo topei com a intersecção PP/Itapiroca.

Sofri mesmo por não ter te acompanhado, mas como você me deve uma e eu outra, logo mais quitaremos os débitos :mrgreen:

Porque não trouxe uma garrafa de água da bica? Poderia ser uma lembrança da tua empreitada ::tchann::

 

Agradeço eu, pela sua sincera amizade e vai agendando o feriado de 20 de setembro.

 

Abraço

Edy

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  • Membros de Honra

Pô Cacius, que zica hein?!? Mas o a serra do mar paranaense é assim mesmo, complicado até pra nós que estamos aqui próximo. Das vezes que fui pro PP fiz o cume em apenas duas delas (com pernoite lá em cima!), nas outras tantas ou fiquei no A1 ou fui pro Itapiroca tentar armar a barraca antes da chuva.

Desejo toda a sorte do mundo na próxima, e que seja em breve!!!

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  • Membros de Honra

Gringo, tô na dívida. Sobre a água, eu perguntei se tu queria, e tu não foi nada educado na resposta ::lol4::

Não subi pq é um pico que já conhecia, e não valia a pena passar uma trilha enlameda, cheia de gente, só pra ser mais um lá em cima e não ver nada. Não tive motivação pra ir. Mas faremos algumas ainda ::otemo::

Otávio, não sei se é exatamente zica. Diria que montanhas são temperamentais :D

Obrigao pelos votos de sorte, e também espero que o retorno seja em breve ::cool:::'>

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  • Membros de Honra

Grande Cacius!

 

Realmente uma pena o grande deslocamento para pegar um tempo ruim desses... Confesso que também ficaria frustrado numa situação como essa.

 

Tudo bem que o que vale é a caminhada, o desafio, mas concordo que cume de montanha (qualquer uma) sem visual nenhum é como tomar sorvete com gripe: não tem o mesmo gosto ::lol4::

 

Quando for voltar, se quiser companhia, avisa antes para montarmos uma logística de ataque ao PP. Minha casa geralmente tem um quarto de hóspedes vago e, mesmo se estiver ocupado, tem uma área de camping boa no quintal! :mrgreen:

 

 

Olá Otávio!

 

Nossa região é famosa por esta loteria climática mesmo. Ademais já notei que nas montanhas temos microclimas diferentes de outras regiões próximas.

 

Puxa vida, sem querer me gabar, mas então eu sou sortudo. :mrgreen:

Pelo que me lembro, das várias vezes que subi o PP (creio que foram 10 até hoje) só não fiz o cume em uma única ocasião porque baixou uma tremenda tempestade quando chegava no A2 e, apenas em duas ocasiões peguei o cume com tempo fechado, sem visual nenhum. 70% de aproveitamento!!! ::otemo::

 

Abraços!

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  • Membros de Honra
Getúlio, pois é.. não deu cume porque não queria tomar sorvete gripado, bem por aí.

Sobre fazer a trip usando tua lojística, não oferece que eu aceito, viu?

Abraços!

 

Grande Cacius!

 

A ideia é essa mesmo e o convite está feito! É bom receber os companheiros e estreitar os laços de amizade que nos unem! Ademais, quem sabe comigo tu tens mais sorte e consegue ver o PP :mrgreen:

 

Abraço,

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