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BOLÍVIA E PERU (SETEMBRO/OUTUBRO 2014) - Meu primeiro mochilão: histórias, gastos, fotos e vídeos.


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E aí pessoal, beleza? Acabo de realizar meu primeiro mochilão, e escolhi Bolívia e Peru como primeiro destino, juntamente com meus amigos / casal Renan e Marina e vou contar pra vocês como foi minha primeira experiência de mochileiro.

Como era meu primeiro mochilão, não sabia nem por onde começar, então primeiramente veio a fase de decidir por onde passar e o que conhecer, e montar o roteiro não foi fácil, pois a única coisa que sabíamos era o dia que começaríamos e quando terminaríamos (leia-se começo e fim das férias do trampo), o difícil era saber quanto tempo em cada cidade, como se deslocar, onde dormir, quanto gastar com isso e aquilo, e um grande problema é que tanto a Bolívia quanto o Peru (mais até a Bolívia) são difíceis de conseguir alguma informação pela Internet sobre empresas de ônibus, horários e preços de atrações turísticas, locais para comer e até as informações de hospedagem são contraditórias, então comecei a pesquisar muito na Internet, e o Mochileiros foi a minha maior fonte de consulta para poder fazer essa trip. Li vários relatos, como o do Nogy, o dos mendigos machos, o da Tia Poly (uma parte perdi pois viajei dia 18/09), o do Ruy Ibarra, da Laís Barbalho, fora vários tópicos sobre assuntos específicos, fiz um milhão de perguntas (e todas sempre respondidas, obrigado a todos que colaboraram, não vou citar nomes para não cometer injustiças), anotei todas as dicas possíveis, e nada mais justo que dividir minhas experiências com as pessoas, dar dicas, informações, afinal tem muita gente que pretende fazer essa viagem e quem sabe eu possa ajudar alguém que tenha dúvidas assim como eu tive. ::otemo::

 

 

Resolvi fazer um pequeno vídeo com uma espécie de resumo do meu mochilão

 

 

 

A ideia surgiu antes da viagem e esse vídeo foi o que me inspirou, lógico que dá pra perceber que o meu é bem mais amador, mas o que vale é a intenção hehe

 

 

Nosso roteiro, após várias mudanças, cortes e acréscimos, inicialmente seria esse:

 

1º dia - São Paulo - Santa Cruz de La Sierra (vôo com escala em Assunção e chegando de madruga em SC)

2º dia - Santa Cruz - Cochabamba (conhecer a cidade e viajar de busão à noite chegando de manhã)

3º dia - Cochabamba - Sucre (conhecer a cidade e viajar de busão à noite chegando de manhã)

4º dia – Sucre (conhecer a cidade e dormir nela)

5º dia - Sucre - Potosí (viajar logo cedo, provavelmente de táxi ou busão de madrugada) e Potosí - Uyuni (conhecer a cidade, fazer Cerro Rico e viajar de busão à noite ou no final da tarde)

6º dia - Salar do Uyuni (chegar na noite anterior ou de madrugada e procurar passeio para 3 dias no Salar, contando com esse dia já)

7º dia - Salar do Uyuni

8º dia - Salar do Uyuni e depois La Paz (viajar para La Paz de noite)

9º dia - La Paz (conhecer a cidade e visitar Tiwanaki)

10º dia - La Paz (Chacaltaya e Vale de La Luna)

11º dia – La Paz – Copacabana (ir para a Ilha do Sol e dormir lá).

12º dia – Ilha do Sol - Copacabana - Puno - Arequipa (voltar para Copa, partir para Puno e já vazar direto para Arequipa)

13º dia – Arequipa (conhecer a cidade)

14º dia - Arequipa (Colca Canyon, tour de 1 dia)

15º dia - Arequipa - Cusco (conhece a cidade e viaja à noite para Cusco)

16º dia - Cusco

17º dia – Cusco – Águas Calientes

18º dia – Machu Picchu – Cusco

19º dia – Cusco

20º dia - Cusco - Lima (Vôo pela LAN)

21º dia - Lima (conhecer a cidade)

22º dia - Lima - Paracas (Islas Ballestas pela manhã) e depois Paracas – Lima

23º dia - Lima - São Paulo (Vôo pela LAN)

 

É claro que roteiro de mochileiros sempre sofre mudança e o nosso não é exceção.

 

PREPARAÇÃO E GASTOS PRÉ VIAGEM

 

Livro

 

Minhas pesquisas na Internet iam de vento em popa, mas faltava um livro ou algo do tipo para completar, até que um dia fui ao cinema num shopping em Santos, cidade onde trabalho, e na saída resolvi entrar numa Saraiva, pois queria fuçar se havia algo que me ajudasse com a viagem, e, jogado no meio de alguns guias e mapas, achei o livro que procurava (aliás, era filho único de mãe solteira), chamava “O Guia do Mochileiro: Um roteiro pela Bolívia e Peru”, da Alice Watson, o livro é muito bom, tem muitas dicas úteis, é bem escrito e a leitura é agradável, além disso o roteiro dela era bem parecido com o nosso (pelo menos, na parte da Bolívia), paguei 40 dilmas nele, ele é fácil de achar na Internet e quem tiver interesse pode comprar que é bom mesmo. Achei esse link aqui só pra vocês saberem qual é:

 

http://www.extra.com.br/livros/ViagensTurismo/ViagemAventura/O-Guia-do-Mochileiro-um-Roteiro-pela-Bolivia-e-Peru-Alice-Watson-1736563.html

 

Planilha de gastos

 

Para ajudar a calcular os gastos, peguei alguns modelos de planilhas aqui e fui adaptando, projetando valores, usando a técnica do “chuta pra mais” pra ter uma margem de manobra, afinal, pelo que li por aqui perrengue e imprevisto nunca falta. E vou dizer, ainda sim fizemos algumas cagadas financeiras que nos causaram um certo aperto durante a viagem, mas isso será contado mais adiante.

Não vou postar a planilha que fiz porque não a conclui com os valores finais, então com o passar dos dias, vou colocando os gastos que tive pra mais ou menos orientar vocês (digo mais ou menos que uma coisa ou outra posso ter esquecido de anotar).

 

Depois de um tempo, consegui finalizar a planilha e agora vou postar o link, pode não estar uma maravilha mas acho que dá pra ter uma ideia. Tem duas abas, na primeira uma planilha mais ampla e outra com os gastos mais detalhados, incluindo a média diária em cada moeda (a primeira ficou um pouco grande e tem que ficar rolando a barra, desculpem mas não deu pra fazer menor ::hãã2::). Tentei colocar o que lembrei de anotar, vocês podem estranhar alguns dias não ter gasto com alimentação, mas é que comprávamos muitas coisas nos mercados que duravam pra outros dia, e muitas vezes ou rachávamos a conta ou de nós pagava sozinho pra depois o outro pagar algo, então coloquei apenas o que eu gastei do meu dinheiro.

Se alguém tiver problema em visualizar, dá um toque que eu conserto a burrada. ::hahaha::

 

https://www.dropbox.com/s/arqhp7ax4wjsoz5/Roteiro_Bol%C3%ADvia_e_Peru_2.xls?dl=0

 

Hospedagens

 

A única hospedagem que garantimos com antecedência foi o Hostel Jodanga, em Santa Cruz, o resto fomos vendo na hora mesmo.

 

Machu Picchu

 

Outra coisa que garantimos com antecedência foram as entradas para Machu Picchu. Entramos no site do Governo Peruano e efetuamos a compra de MP e também de Waynapicchu, deu S/150,00 + uma taxa de S/6,50, que depois virou US$ 56,00 na fatura do cartão (mais US$ 3,60 de IOF :x )

O site é esse aqui:

 

http://www.machupicchu.gob.pe/

 

Equipamentos

 

Eu e meus amigos começamos a investir na compra de itens necessários para a viagem, comecei a ir muitas vezes na Decathlon que tem aqui na Praia Grande para pesquisar preços e avaliar os itens. O principal deles era a mochila. Após pesquisar muito na Internet sobre melhores marcas versus preços, inclusive aqui no Mochileiros, e acabei optando pela marca Quechua, que vende na Decathlon, e comprei uma mochila Forclaz 70l, igual essa do link:

 

http://www.decathlon.com.br/montanha---aventura/mochilas-38170/mochila-trecking/mochila-forclaz-70-quechua_164112?chosen=cinza

 

Posso dizer que ela foi jogada (sim, eu vi isso) :o em bagageiro de busão, de avião, foi pra cima e pra baixo, andou lotada de coisas e aguentou bem o tranco, eu recomendo. Fora que vem com 10 anos de garantia. Paguei R$299,00.

Compramos também meias de trekking, de frio, 2 blusas de frio (uma acabei nem usando), uma doleira e uma capa de chuva estilo poncho, que aliás foi muito útil em Machu Picchu.

Ia comprar uma blusa corta vento, mas acabei “herdando” do meu pai (que faleceu no final de agosto agora) uma jaqueta, que caiu como uma luva e realmente ela fez a diferença na viagem.

Outra coisa que ia comprar, mas acabei não comprando, por pura questão de economia (já havia gasto uma certa grana e preferi segurar um pouco), era uma bota boa. Eu me interessei, depois de muito pesquisar, na Forclaz 500 da Quechua, ela tava (e ainda está) custando R$ 299,00 na Decathlon. Acabei indo de tênis mesmo, mas confesso que teve situações nas quais me arrependi de não ter comprado a bota, principalmente em Machu Picchu, pois choveu muito e passei um puta perrengue pra descer Waynapicchu, mas isso relatarei mais adiante.

Além disso, comprei também foi uma câmera nova, pois a minha tinha ido pro saco. Mesma coisa, pesquisei vários modelos, e pelo custo benefício acabei comprando a Samsung WB350F, ela em média cuta uns 500 mangos, mas achei uma promoção na Ricardo Eletro por 360 reais em 3 vezes :D

 

http://www.samsung.com/br/consumer/cameras-camcorder/cameras/smart-compactas/EC-WB350FVMWBR

 

A câmera é excelente, não tenho do que reclamar, tem bastante recurso. Ah, e comprei também um bastão de selfie, achei no Mercado Livre por 40 pilas.

 

Passagens

 

Durante meses, ficamos monitorando os sites das empresas aéreas, da Decolar e do Melhores Destinos a fim de tentar obter um preço bom por elas, pois seriam três trechos de aéreo. Os preços eram bem salgados, fazíamos cálculos e analisávamos combinar voos de empresas diferentes, mas o mais em conta que achávamos girava em torno de 1500, 1600 reais. Mas resolvemos esperar mais, inclusive deixamos passar a Copa para ver se caia e funcionou. Um dia, entrei no site da TAM e pesquisei os três trechos e PARA A NOOOOOOOOSSAAAA ALEGRIIIIAAAA naquele dia estava saindo tudo, já com taxas e impostos, por míseros R$ 888,77. Compramos na hora e ainda deu pra dividir no cartão. Fuck Yeah!!!!!! :D:D:D

 

Seguro

 

Uma boa dica é sempre fazer um seguro de viagem, afinal a gente nunca sabe o que pode acontecer. Eu pesquisei bastante e no final acabei fazendo o da empresa Intermac, pois minha ex sogra trabalha em agência de turismo e quando fui para o Chile ela fez esse seguro pra mim, e como o preço estava bom, fiz ele mesmo. O do Renan e o da Marina foi o mais básico, de 140, eu fiz o intermediário, gastei 230 pilas, os valores de cobertura eram bem maiores, preferi não economizar nesse quesito.

 

Vacina

 

Outra providência foi tomar o raio da vacina de febre amarela, em Santos tinha um posto que emitia a carteirinha da ANVISA, foi só tomar a vacina e pegar a dita cuja.

Importante: é recomendável fazer o cadastro antecipado no site da ANVISA, isso agiliza e facilita o atendimento, pois caso não tenha o cadastro, seus dados pessoais terão que ser colhidos na hora para fazer o cadastro. E sim, conforme muitos disseram, também não fui cobrado pela carteirinha em parte alguma, nem nos aeroportos, mas é melhor tomar, vai que...

O link é esse aqui (precisa criar um cadastro no site)

 

http://www.anvisa.gov.br/viajante/

 

Dinheiro

 

O nosso maior problema era a grana. Conforme todos relatavam, era mais vantajoso levar dólar que real, e então resolvemos ir atrás das verdinhas, só que deixamos pra ver isso muito em cima da hora, e devido a corrida eleitoral, pegamos o pior momento pra comprar dólar. Na primeira vez que fui no meu banco me informar, estava 2.36, mais a caralhada de taxas que rolam. Isso foi numa sexta, na segunda já tava 2.41, e daí só subiu. No dia do embarque, ele chegou a 2.58 (sem contar as taxas) ::grr:: , e então decidimos levar real mesmo e seja o que Deus quiser. E, segundo minhas contas, no final até que valeu a pena, pois pelo preço que pagaríamos no dólar acabaria saindo mais caro ou pelo menos pau a pau.

Levei ao todo R$ 2600,00 (que virou R$ 2500,00, depois explico) e precisei fazer dois saques, um de 200 soles e outro de 100 soles (esse último, desnecessário).

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18 DE SETEMBRO - 1º Dia

São Paulo - Assunção

 

 

Chegou o esperado dia ::hahaha:: , seguimos eu e Renan até o Shopping Tatuapé, onde encontramos a Marina e de lá fomos de ônibus até Guarulhos, onde, às 21h35, embarcaríamos primeiro para Assunção, e depois para Santa Cruz de La Sierra. Ainda no shopping, eles resolveram fazer um lanche, mas eu estava sem fome, havia almoçado tarde, e imaginava que seria servido um lanche no avião, mal sabia eu que cairia do cavalo, pois como era um vôo curto, eles davam apenas um besteirinha pra comer. Era só a segunda vez que eu voava, e na primeira, como o vôo era longo, serviram lanche na ida e na volta, por isso, a ilusão.

Após fazermos o check in e despachar as mochilas, fomos a duas casas de câmbio no aeroporto tentar trocar alguns reais por bolivianos, só pra poder pelo menos pegar um táxi por lá, mas nenhuma das delas trabalhava com a moeda, então só nos restava tentar a sorte na Bolívia e rezar pra não se foder tanto na conversão.

Eu, a essa altura, já começava a sentir fome, mas como no aeroporto tudo é bem caro, preferi esperar pelo lanche do avião (hahahaha, otário!).

Às 20h30, conforme estava no bilhete, fomos para o salão de embarque, a fila estava enorme e levamos quase uma hora até passar pela PF. Às 21h45 o avião decolou e estava iniciada a nossa jornada rumo às terras andinas.

O avião era meio velho, sei lá, acho que era porque o percurso era curto. Durante a viagem, a TAM colocou um raio de um programa de pegadinhas gringo feito só com crianças e adolescentes, chato pra caralho, e repetitivo, passava a mesma pegadinha várias vezes, e com aquela risada de fundo tipica de programa americano. Tentei me entreter com a rádio, mas a programação era chata e repetitiva também, tocava a mesma música umas 50 vezes e o gênio aqui despachou o fone de ouvido junto com a mochila, senão ia ouvindo música pelo celular.

O vôo foi tranquilo até chegarmos ao Paraguai, onde estava chovendo muito e pegamos uma turbulência pesada.

Às 22h40 (hora local) chegamos a Assunção e aguardaríamos até às 1h30 para seguir para Santa Cruz.

Aproveitamos e colamos na única opção que tinha na minúscula sala de embarque do aeroporto, um café da rede Havana. Pelo menos aceitavam reais, a uma taxa de 1500 guaranis por 1 real. Pedi um café que custou 10 reais (um roubo) e comi uma bolacha daquelas Club Social que a Marina tinha, o que ajudou a enganar a fome.

 

 

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Sala de embarque do aeroporto

 

 

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Tem que tomar cuidado para não se perder nele...

 

 

Enquanto aguardávamos, conhecemos a primeira de muitas figuras pitorescas dessa viagem: a vovó do pó! Tratava-se de uma senhora que a princípio veio nos perguntar onde podia fumar, pois ela estava revoltada por não poder dentro do aeroporto e estava disposta até a sair do aeroporto só pra poder fumar, isso é que é vício. Depois essa mulher só pentelhou a gente o tempo todo perguntando quanto tempo faltava pra embarcar e sempre que respondíamos que era só à 1h30 ela dizia: “Meu Deus, tudo isso, que horror!”. Isso se repetiu várias vezes, ela sempre vinha e fazia a mesma pergunta.

Vocês devem estar se perguntando “Por que vovó do pó?”. Meu, aquela mulher tava loucona, devia ter tomado algum remédio controlado, mas parecia que tava cheirada: ela fazia umas caretas bizarras, ficava puxando (quase arrancando) os próprios cabelos, andava pra lá e pra cá, largava a mala no meio do caminho e sumia, enchia o saco do povo, ela sobe, ela desce, ela dá uma rodada, ah, que é isso, ela está descontrolada! ::ahhhh:: Fora que toda hora vinha na nossa direção, e principalmente pro meu lado, fato que gerou piadinhas infames do Renan, insinuando que a doida queria algo comigo. :( O lazarento olhava pra mim e dizia: “Ela viu seu passaporte e quer ganhar em euro!”. Explicando: meu pai era português, e eu adquiri cidadania portuguesa (tanto que sou chamado de Portuga pelos meus amigos), e o meu passaporte é português.

 

Gastos do dia

 

Café: G$ 15.000 ou R$ 10,00

 

 

19 DE SETEMBRO - 2º Dia

Assunção - Santa Cruz de la Sierra - Sucre

 

 

Por volta de 1h30, debaixo de um puta temporal, o avião decolou rumo a Santa Cruz. O vôo foi tenso, o avião parecia um touro mecânico de tanto que sacudia, dava até medo, a situação só melhorou quando entrou na Bolívia, lá não estava chovendo.

Chegamos às 3h30 e fomos direto pra imigração, e advinha quem estava lá causando? Sim, ela, a vovó do pó. Primeiro, esqueceu de preencher o papel que deram no avião pra entregar na imigração e ficou perguntando pra todo mundo o que tinha que fazer (estavamos um pouco longe, não sobrou pra nós), daí simplesmente largou a mala-trambolho no meio da fila (que era estreita) e foi preencher num balcão, fazendo com que um homem levasse sua mala consigo para não ficar jogada. Depois, na hora de pegar a bagagem, ela me surge com uma TV de umas 200 polegadas, era um negócio gigante. O que faz uma pessoa (e ela era brasileira) sair do seu país levando um troço gigante daquele pra Bolívia? Era pra causar, só pode.

Esse aeroporto tava repleto de figuras estranhas, tinha um cara que eu e o Renan apelidamos de Sérgio Reis boliviano (pela altura, era um mini-craque dele né), o cara me mete um puta chapéu de vaqueiro e tava achando bonito, tava era bizarro, isso sim. E o outro doido que tentou pegar a fila de diplomatas (que estava vazia) pra passar na frente e, óbvio, foi barrado e voltou com cara de bunda (explicando, tinha duas filas: a dos pobres mortais e uma escrito “Diplomatas”, provavelmente pra pessoas que não eram pobres mortais).

Conforme o Nogy falou no relato dele, há um sistema totalmente surreal na hora de passar pelo detector de metais do aeroporto, aquele onde você passa e se acender a luz vermelha e apitar, você tem que tirar tudo de metal que tem. Pois é, só que lá funciona assim: você chega no detector, aperta um botão e espera, se acender luz verde, pode passar, você, sua calibre 12, seu machado e tudo mais que tiver carregando; se acender vermelha, passa e abre a mochila pro inspetor da alfândega te revistar. Realmente incompreensível. É tipo teste de gravidez, você reza pra não ficar da cor indesejada hahahaha. E não é que a Marina foi “contemplada” pelo aparelho, aliás, de todos que vi passando, só ela rodou. E conforme alguns relatos que li sobre a tal da propina na Bolívia, passamos uma situação que comprovou isso. Na hora da revista, ela disse que o policial que a atendeu perguntou se ela falava espanhol, ela disse que mais ou menos, ele então falou algo que ela não entendeu, mas ela conseguiu perceber a palavra propina. Como ela não sabia o que queria dizer, ele acabou deixando quieto, daí expliquei o significado e disse que o cara tentou pedir algo a ela. Então, já sabem, fiquem espertos com os bolivianos. Apesar que, esse foi a única vez que vimos isso na viagem. Quer dizer, no meu caso teve mais uma vez, que relatarei mais a frente.

Antes de sair do aeroporto, ainda passamos em uma casa de câmbio para tentar trocar alguns reais por bolivianos para pelo menos pegar um táxi (até porque o câmbio tava 2,60), mas para nossa surpresa a casa não tinha a moeda local. Como assim uma casa de câmbio boliviana não tem pesos bolivianos? Pensamos, fodeu! Daí sai do aeroporto e perguntei ao primeiro taxista que me abordou se ele aceitava real, e a resposta foi sim. A corrida sairia 40 ou 50 bolivianos, ele fez por 25 reais (arredondou para mais, claro).

O aeroporto é um pouco longe da cidade, então ele pegou uma estrada e foi embora, levou quase meia hora pra chegar até o Jodanga, o hostel que a Marina reservou pela internet. No caminho, um susto: do nada o táxi (aliás, no padrão Bolívia, um carro asiático no estilo “pau-velho”) começou a fazer um barulho estranho e POU, deu um estouro e parou. Na hora pensei: “Pronto, começamos bem!” O motorista saiu do táxi, abriu o capô, mexeu em algo e tcharan, o danado voltou a funcionar, mas ainda fazendo uns barulhos estranhos. Tanto que quando chegou no hostel, ele ainda abriu o capô de novo pra conferir o problema e foi embora.

Chegamos ao hostel por volta de uma 4h45 mais ou menos, fizemos o check in e fomos para nossos quartos.

O Jodanga é bem legal, correspondendo ao que eu havia lido a respeito. Renan e Marina pegaram um quarto privado pra eles dois, e isso custou 105 bolivianos para cada um deles, e o meu era aqueles coletivos de 10 pessoas, custou 80 bolivianos. O hostel é bom, bem estruturado, tem piscina, WIFI bom, o meu quarto era bem grande e o banheiro era dentro dele, parecia um vestiário. Os de casal, que os meu amigos pegaram, ficava do outro lado da rua, então não sei era bom também. O café da manhã do outro dia foi talvez um dos melhores, se não o melhor que pegamos na viagem: tinha café, suco de laranja, chá, pão, queijo, frutas e até um ovinho frito na hora pela tia que ficava lá.

No roteiro original pegaríamos um ônibus para Cochabamba de noite e no dia seguinte iríamos a Sucre, mas dias antes da viagem decidimos pular Cochabamba, pois não haveria nada a fazer lá, e ir direto a Sucre. O problema é que não há ônibus direto de Santa Cruz para Sucre, precisa passar por Cochabamba, o que consumiria, na melhor das hipóteses, 19 horas de viagem pelas piores estradas da Bolívia, então pensamos na possibilidade de voar para Sucre, pois o vôo duraria apenas meia hora. Aí começou nosso primeiro erro de cálculo financeiro entre alguns que cometemos durante a viagem, porque se sabíamos que existia uma grande possibilidade de voar para Sucre, deveríamos ter visto isso aqui ainda, comprar passagens e tal, mas preferimos deixar para ver isso lá.

 

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Hostel Jodanga

 

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Hostel Jodanga

 

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Hostel Jodanga

 

Após o café, saímos e fomos em direção ao aeroporto El Trompillo, um aeroporto regional bem pequeno localizado no meio da cidade, ficava a uns 15 minutos a pé do hostel. Tinha vôos disponíveis pela TAM (que não é a nossa, essa é a Transporte Aéreo Militar), que sairía às 11h e às 16h e custava 350 bolivianos, e pela BOL, só que saindo de Viru Viru e custava 260 ou 280 bolivianos (não lembro exatamente) também às 11h, o problema é que não daria tempo de chegar lá, pois já eram mais de 10h e ainda precisavamos cambiar dinheiro. Saímos do aeroporto e fomos pegar um táxi, foi aí que surgiu o Luiz Alvarez, um taxista que fazia ponto por lá. Ele disse que aceitava reais, caso não conseguíssimos trocar o dinheiro, mas ele conhecia um lugar bom para cambiar reais e nos levaria lá. Combinamos que a corrida ficaria 40 bolivianos e seguimos rumo ao centro da cidade. Ele era bem gente boa, conversou bastante, perguntou do Brasil, disse que adorava futebol, nos deu algumas dicas do país, e ele nos levou até uma rua onde um homem, vestindo um colete, estava cambiando dinheiro, ele disse que o conhecia e era de confiança, a rua era bem movimentada, então não vi problema. Eu desci do carro e fui negociar com ele, estava trocando a 2.75, como eu havia entrado na internet logo cedo e visto que a moeda estava valendo 2.84, achei que até que não tava tão mal, então voltei ao carro, peguei o meu dinheiro na doleira e o do Renan e troquei com ele. Eu havia levado R$ 2600, separei R$ 1100 para a Bolívia e R$ 1500 pro Peru, mas só troquei 1000 dilmas, deixando 100 a mais para o Peru. Fiz tudo dentro do carro, por questão de segurança, e quando recebi as notas, lembrei do que o pessoal falava sobre notas rasgadas ou amassadas, e conferi nota por nota, e sempre que achava alguma rasgada eu trocava com o cara. Sinceramente, no final das contas, durante a viagem, peguei muitas notas rasgadas (claro, nada muito gritante) e sempre consegui passar adiante.

Após isso, ele nos deixou no hostel e lá separamos o dinheiro que cada uma tinha direito e guardamos nas nossa doleiras.

Fizemos o check out e voltamos ao aeroporto para comprar as passagens e voar para Sucre, crentes que na Bolívia não tem essa de mudar preço de passagem se comprar na hora. Erro crasso! Ao chegarmos lá, descobrimos que o preço da passagem havia subido para 400 bolivianos e, como era sexta, só havia vaga no vôo das 11h, pois o das 16h estava lotado (muita gente que trabalha em SC volta para as suas cidades para passar o final de semana). Como não teríamos tempo de chegar em Viru Viru para pegar o da BOL e o próximo vôo seria só domingo, ou seja, ficaríamos presos no final de semana em SC, e isso era tudo o que não queríamos, então só nos restou aceitar aquele preço. Ah, e ainda tem mais, fora a passagem, ainda tem a taxa de embarque do aeroporto, que era de 11 bolivianos. Taquipariu viu!! Primeira lição, se for precisar voar, compre a merda da passagem antes ou se programe, deixamos para ver isso na hora e nos fodemos de verde e amarelo.

 

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El Trompillo

 

 

Bom, não adiantava chorar, era pagar e pronto, então compramos as passagens e embarcamos na própria pista do aeroporto, num avião bem pequeno da TAM. O tempo estava muito bom e achamos que seria um vôo tranquilo. No caminho, serviram uma caixinha com um salgado e um doce, estavam meio secos, mas quebrou o galho. O problema veio na hora do pouso. O aeroporto de Sucre fica bem no meio das montanhas e para acessar ele o avião deu algumas voltas, o que gerou uma turbulência filha da puta, igual ao do vôo de Assunção a SC. Escutei o trem de pouso ser acionado e desacionado umas três vezes. Nunca percebi tanto a necessidade do cinto de segurança num avião, porque sacudia a ponto de quase pular no lugar.

Descemos na própria pista do pequeno aeroporto, pegamos nossas mochilas e, como tinha sinal de WiFi no aeroporto (aliás, fiquei surpreso na quantidade de lugares públicos com WiFi na Bolívia, o meu celular nunca conseguia conectar, mas tinha), a Marina foi pesquisar no celular algum hostel na Internet, enquanto um taxista mala (aliás, coisa que viraria rotina durante o mochilão) nos seguia enchendo o saco para pegarmos uma corrida com ele. O mala ficava a meia distância só esperando nossa decisão, mas aí tive a ideia de perguntar a um funcionário do aeroporto se tinha ônibus para ir ao centro da cidade, e sim, havia, era só atravessar a rua, custava cerca de 1 a 2 bolivianos. Chupa taxista!

 

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Lanchinho do avião

 

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Pista do aeroporto de Sucre

 

Achado o hostel, seguimos ao ponto de ônibus, que na verdade não existia, deduzimos onde ele parava e esperamos. Perguntei a uma chola que estava lá parada e ela confirmou o lugar. Sabíamos que era um ônibus identificado pela letra S, e ele chegou, um micro-ônibus naquele padrão Bolívia. Estava bem cheio e tivemos que ficar em pé, o que me causou um transtorno. Não sou um cara alto, tenho 1.74, mas o ônibus era tão baixo que precisei ficar encurvado, o Renan que é baixinho se sentiu o máximo podendo encostar a cabeça no teto. O primeiro lugar que vagou em sentei, era perto da porta, e aí veio outro perengue: o banco não foi feito pra quem tem as pernas um pouquinho mais compridas, então tive que sentar meio de lado, um pouco espremido, com a minha “mochilinha” de 70l no colo e precisei me segurar numa barra de ferrugem que tava cheia de ferro, pois a porta veio aberta o percurso todo, tava o puro creme do milho verde a minha situação. Além disso, a porra da barra de ferrugem tava solta de uma lado e do outro presa por apenas um parafuso de dois possíveis e ameaçava sair na minha mão a qualquer momento. Que fase!

O aeroporto fica na parte alta de Sucre, então ele foi descendo por uma estrada até a cidade, e notei durante o percurso que tinha muitos santuários na beira da estrada, todos com uma cruz, data, nome e uma espécie de capelinha pequena. Na boa, se tudo aquilo é de gente que morreu naquela estrada, aquilo tá pior que a Dutra e a Régis Bittencourt juntas, porque tinha muitas, mas muitas mesmo. Apesar que, convenhamos, a estrada era sinistra mesmo, era uma descida (ou subida, depende do ponto de vista né) cheia de curva e mão dupla.

O ônibus nos deixou próximos do Mercado Municipal da cidade, e aí saímos para procurar o tal hostel que a Marina tinha visto na Internet, o problema é que pra todos que perguntávamos onde era a rua, ninguém conhecia, e então a Marina procurou outro hostel na Internet (ainda não consigo entender como ela conseguia ter sinal, se pá a Internet dela era da NASA), e achou um tal de Forasteiro, o preço tava bom, e então bora achar a rua. Depois de sermos mandados para dois lugares diferentes, finalmente achamos a rua, na verdade ela começava com um nome e umas 5 quadras depois mudava de nome. E põe 5 quadras nisso, andamos bastante, subimos umas ladeiras (que seriam grandes companheiras de viagem), descemos outras e depois de andar que nem condenados (na verdade até nem era tão longe, mas já haviamos caminhado bastante seguindo as “precisas” informações que nos davam, mais o sol forte com o plus das mochilas pesadas dava impressão que atravessamos a cidade) ::mmm: e finalmente chegamos ao tal de Forasteiro. Essa viagem me fez acreditar em uma coisa chamada sinais, ou seja, quando uma coisa começa a dar errado, é como se tivesse te avisando: “Cara, vai dar merda, sai dessa!” E foi isso que aconteceu. Ao chegarmos no hostel, o portão estava trancado. Tocamos o raio da campainha e o interfone muitas vezes e nada, ninguém atendia. Como estávamos cansados de andar com aquela mochila pesada, aliado ao forte calor que fazia, resolvemos sentar no meio fio um pouco pra dar uma descansada e depois seguir para outro hostel, até que alguém abriu o portão por dentro. Era um rapaz e ele perguntou se queríamos ir ao hostel, falamos que sim e ele nos mandou entrar. Aí percebemos que na verdade o local era uma espécie de vilinha, onde ficavam várias casas e o hostel, que também era uma agência de turismo, ficava logo no começo. Constatamos que o hostel estava fechado, e estávamos quase desistindo quando chegou da rua uma senhora que abriu para a porta nós. Ela trabalhava lá e nos explicou que eles haviam fechado pra almoço, o que nos causou estranheza, pois nunca vi hostel fechar pra almoço, mas ao entrarmos na casa percebemos que na verdade era só uma agência de turismo e que eles alugavam os quartos que tinha na casa, que por sinal era muito bonita, os quartos ficavam no andar de cima, eram bem espaçosos e tinham três camas, na medida para nós. A mulher, que se chamava Cari, disse que o outro quarto do andar estava com um casal, mas não vimos ninguém. A estadia custava 50 ou 60 bolivianos (ela não tinha certeza do preço, vai vendo a roubada) e decidimos ficar, mal sabíamos que essa decisão nos causaria uma tremenda dor de cabeça mais tarde.

Nos ajeitamos nos quartos, e o Renan e a Marina foram tomar banho, eu decidi tomar mais tarde pois estava cedo, decisão da qual me arrependeria depois. Enquanto esperava, fiquei um pouco na Internet, o WiFi era bom, e seguindo os conselhos do Renan,comprei créditos pro Skype pra tentar conversar com minha mãe (eu nunca tinha usado antes). Eles disseram que o banho estava ótimo e após eles se arrumarem, partimos para conhecer a cidade. Como estava calor, paguei de caiçara e saí de chinelão e bermuda (também iria me foder por causa disso). Pegamos um mapa da cidade e algumas dicas de lugares pra visitar e lá vamos nós.

 

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Hostel Forastero

 

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A vilinha

 

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Nosso quarto

 

 

A cidade é realmente muito bonita, a mais bonita que visitamos na Bolívia e uma das mais da viagem. O centro é repleto de construções brancas, daí o apelido de “Cidade Branca”, todas em estilo colonial, muitas praças bonitas e bem cuidadas.

 

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Uma das construções brancas da cidade, é quase tudo assim no centro da cidade.

 

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Andamos bastante, conhecemos o Mercadão de Sucre, com suas frutas que pareciam sair de um quadro, eram, em geral, grandes e bem coradas, dava vontade de comer tudo; o “sensacionante” açougue com suas “vistosas” peças de carne que faz qualquer ser humano virar vegetariano ::ahhhh:: . Passamos por todo o centro da cidade, que não é tão grande assim, até que a fome bateu, mas já eram quase 16h e dificilmente alguém teria almoço aquela hora, foi aí que, passando pela Plaza de Armas, resolvemos comer em um restaurante. Imaginamos que pudesse ser mais caro, devido à sua localização, mas sem muitas opções fomos lá mesmo. O lugar ficava no andar de cima, com vista de frente para a Plaza de Armas. Pedimos nossas comidas e uma jarra de limonada, até que não saiu caro, mas depois descobrimos que dava pra comer bem mais barato.

 

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Mercadão

 

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Filial da Friboi na Bolívia hahahaha

 

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Um selfizinho antes do almoço

 

 

Terminado o rango, decidimos ir até o mirador da cidade, a rua era próxima, só não sabíamos que era uma ladeira filha da puta de longa, mas fomos lá. Apesar da cidade ficar a 2800 metros, nenhum de nós sentiu os efeitos da altitude, mas subir aquela ladeira foi pesado, a Marina teve um pouco de dificuldade, pois ela já teve problema cardíaco e qualquer esforço pesa mais nela, mas ela conseguiu chegar (apesar de bem cansada).

Lá em cima tem uma igreja e uma espécie de pátio, é bem bonito, e a vista da cidade é bem legal, ainda mais com o por do sol. Ainda encontramos dois brasileiros e ficamos conversando um pouco. Ainda lá em cima, tinha um feirinha do lado e fomos dar uma olhada, tinha gorros, luvas, roupas típicas. Nós três compramos gorros, o da marina era mais barato, o meu e o do Renan saiu 30 pesos.

 

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Ladeirinha pequena

 

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Sucre

 

Já estava anoitecendo e resolvermos passar em algum mercado antes de voltar ao hostel. Achamos um no caminho e compramos 7 pães (dois tipos diferentes), 1 pacote de Club Social (aqueles com 6), 220g de mortadela, 1 suco de laranja, 1 garrafinha de água e duas cervejas locais, a tal da Sureña, gastamos 62,42 pesos rachando em 3 (uma das poucas notas que guardei da Bolívia pra poder anotar os valores) 8) , e então voltamos para o hostel, sem sequer imaginar o que nos aguardava.

Antes de sair, a dona de lá deu ao Renan a chave do quarto e do portão, e quando chegamos, o portão estava trancado e ele abriu para podermos entrar. Ao chegar na porta do hostel, percebemos que estava trancada e essa chave não tínhamos, então tocamos a campainha. Ninguém apareceu, então insistimos algumas vezes e nada. Fomos lá fora, tocamos o interfone e nada. Daí olhamos pela janela lateral e vimos que a luz estava acessa, mas não tinha ninguém. “E agora?”, pensamos, pois estavamos na rua da amargura. No mínimo deu o horário da agência fechar e eles simplesmente fecharam e foram embora, esqueceram da gente.Não tínhamos nem como entrar em contato, estávamos totalmente desamparados, cheios de sacolas de compra, e o pior, lembram quando falei que sair de chinelo e bermuda ia me foder? Pois é, anoiteceu e estava frio pra caralho, eu tava congelando ::Cold:: . Naquele momento, não sabia se tava mais com frio ou com raiva. Minha vontade era socar a mulher. Ameacei arrombar a porta, mas o Renan me pediu calma. Nisso, apareceu uma mulher com o filho, era moradora de uma das casas, o Renan perguntou se ela conhecia a mulher do hostel e explicou nossa situação, ela disse que sim, que a mulher morava lá e deve ter dado uma saída, inclusive tinha o celular dela, pedimos então se ela poderia ligar e foi o que ela fez, mas o celular só dava caixa postal. Nessa hora pensamos: “Fodeu, aconteceu algo com a velha e ficaremos presos na rua”. Pior que nossa coisas estavam no quarto, nem tinha como nos mandar para outro hostel.

Foi aí que tivemos a ideia de procurar a polícia. A Marina viu o endereço pela internet (por sorte o sinal do WiFi tava a alcance) e como ficava a algumas quadras de lá, resolvemos partir, afinal já fazia mais de uma hora que estávamos “à deriva”. ::sos::

Chegando ao batalhão, fomos falar com o guarda que estava na guarita, explicamos o caso e ele chamou um guarda que estava lá dentro, um rapaz novo, provavelmente tava de serviço interno, pois ele veio colocando a parte de cima da farda. O policial pediu para que ele nos acompanhasse até o hostel para tentar resolver o problema.

E lá fomos nós, no caminho fomos explicando direito a história pra ele e aconteceu uma coisa engraçada: numa esquina, encontramos uma caminhonete da polícia e os guardas que estavam na caçamba mexeram com o policial, brincando com o fato do cara (que era bem baixinho até para o padrão boliviano) ter achado alguém do tamanho dele (leia-se Renan) hahahaha todos riram.

Chegando no local, ele verificou que realmente estava trancado. Perguntou se eu tinha algum cartão, eu tinha o do seguro, ele pediu emprestado e tentou abrir a porta, mas não conseguiu. Ele falou ao rádio com alguém, mas não consegui entender muito bem, pois ele falava muito rápido.

Havia um portãozinho lateral, no qual eu já havia entrado, ele levado aos fundos da casa, mas não cheguei a ir até a porta que havia lá, pois havia um outro portãozinho de ferro e estava muito escuro. Ele resolveu tentar dar a volta, afinal, pelo menos ele tinha uma lanterna. Foi a que descobrimos que a porta estava destrancada e eu e o policial entramos na casa, procuramos se havia alguma chave na parte do escritório, mas nada. O Renan também deu a volta e entrou, enquanto a Marina ficou aguardando do lado de fora mesmo, lá na frente.

Eu e o Renan só queríamos pegar nossas mochilas e vazar dali, mas o policial, muito calmamente, nos aconselhou a esperar um pouco, pois a mulher poderia chegar, ver que nossas coisas sumiram e de repente até procurar a polícia. Ele perguntou se não era melhor descansarmos um pouco até que ela chegasse, aí sim falaríamos com ela e se fosse o caso iamos embora, ele inclusive iria fazer uma espécie de termo constatando que a polícia esteve lá com o fato relatado.

Quando fomos descer para chamar a Marina, escutamos vozes do lado de fora, e de repente, a porta se abre, eram a Cari e a dona do lugar, que, ao nos ver do lado de dentro, fizeram uma cara de susto que juro que se tivesse tirado uma foto, ela viraria meme fácil na Internet, não esquecerei nunca.

Elas pareciam não estar entendendo nada, e o policial falando com elas, até que elas perceberam o que tava acontecendo. Simplesmente, PASMEM, elas esqueceram que nos estávamos hospedados lá, fecharam a agência e foram sair pra jantar fora, totalmente despreocupadas. :shock: Meu, COMO ALGUÉM ESQUECE QUE HOSPEDOU ALGUÉM NO SEU HOSTEL? Parece até mentira isso. Para terem uma ideia, a Marina disse que, a hora que elas entraram pelo portãoe a viram sentada na porta perguntaram: “O que você está fazendo aqui?”

Ela respondeu: - Tô hospedada aqui e esperando vocês aparecerem.

- Hospedada? Aqui? Desde quando?

É mole, as filhas da puta ESQUECERAM DA GENTE, VTNC!

Nem precisa dizer que pegamos nossas coisas e saímos vazados de lá. Elas ficaram na escada com cara de bunda repetindo sem parar: “Desculpa, desculpa mesmo”. Pensamos em xingar, mas a cara delas chegou a dar dó, deu pra perceber que foi sem querer e elas demontravam estar arrependidas, mas sem chance. Vazamos.

Eram umas 10h da noite já e toca procurar outro hostel, daí a Marina lembrou do que havíamos procurado primeiro e no mapa que tínhamos achamos a rua, não era muito longe dali. Como saímos na pressa, pegamos as mochilas e as coisas que estavam fora levamos na mão mesmo, minha situação era a seguinte: estava de bermuda, chinelo, uma mochila imensa nas costas, com um par de tênis em uma mão e uma calça pendurada no outro braço, além das sacolas de comprar que fizemos, e claro, puto da vida, xingando a velha até umas horas.

Chegamos ao tal hostel, se chama Travelers, quem nos atendeu foi um cara que com certeza era europeu, mas falava espanhol, devia ser o dono ou gerente do lugar. Fizemos o check in, custava 45 pesos, mais barato que o outro, e fomos pro quarto, eu estava louco pra tomar um banho. O nosso quarto era de 4 camas (na verdade, 2 beliches), e além de nós estava hospedada também uma suíça chamada Carolina, ou Caroline, sei lá, que encontramos do lado de fora, sentada numas cadeiras que ficam por lá e ficamos conversando com ela e uma finlandesa que falava bem o português, não lembro o nome dela, era estranho. Ela contou que morou em Piracicaba e fazia umas pesquisas pra UNICAMP, mas como venceu o prazo de permanência de 3 meses, ela teve que sair do país e por isso estava na Bolívia, dando um tempo até poder voltar pro Brasil.

Lembram quando disse que me arrependeria de não tomar banho no hostel anterior? Pois bem, enquanto o Renan e a Marina conversavam com as meninas, lá fui tomar meu “belo banho”, pois estava gelado de tanta friagem que tomei. O chuveiro, como em todos os lugares em que ficamos, era naquele esquema de “temperar” a água, regula o quente e o frio. O problema é: quem disse que aquela merda esquentava? Tentei todas as combinações possíveis: abrir só o da esquerda (que seria o quente), esperar alguns instantes (até minutos) e nada; abrir só o da direita e esperar, nada; abri os dois juntos, nada; direcional pra cima, X, bolinha, quadrado e L1, nada; rezar pra Nossa Senhora da Resistência Elétrica, nada. E o pior é que o box era do tamanho de um anão deitado, e a cada tentativa, vinha um jato servido de água gelada na minha cara. Resultado: tive que tomar banho gelado mesmo, mas gelado que eu digo era do tipo “nadar nu na Antártida”.

E era apenas o segundo dia, aliás, primeiro, porque o anterior foi só a viagem. Bom, this is mochilão né!

Bom, após meu “delicioso” banho, fui onde estava o povo, e acredito que minha cara não era das melhores (na verdade, ela já não é das melhores normalmente mesmo hahahaha), porque o Renan, ao me ver, perguntou o que tinha acontecido. Contei e a suiça (o Renan traduziu para ela) disse que tomou banho quente normal, tava até bem quente. Normalmente costumo dizer que tem coisas que só acontecem comigo, já nem estranho mais.

Mas aí começamos a conversar, eu e o Renan aproveitamos pra comer umas maçãs que havíamos comprado no mercadão, enormes e suculentas, e depois fomos tomar a desgrama das Sureñas que compramos. Galera, na boa, compramos dois tipos de Sureña: uma era comemorativa a um bicentenário sei lá do que, a outra era uma versão Premium. Era difícil saber qual a pior, e ainda estavam quentes pra ajudar, eram ruins, mas muito ruins mesmo, desciam que nem gato vivo. Senti até saudades da Glacial e da Guits, vai vendo!

Aproveitei também pra ligar em casa pelo Skype, a ligação tava meio ruim, mas deu pra conversar (minha mãe não ouvia bem, então tive que falar num volume que o hostel inteiro ouvia hahaha)

 

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Nunca comprem esa desgrama do inferno!

 

Escutamos um som de repente, era uma banda tocando, e logo percebemos que tinha um bar dentro do hotel, com som ao vivo.

Antes de ir pro bar, resolvemos discutir os planos do dia seguinte, quando, a princípio iríamos para Potosí logo cedo, faríamos Cerro Rico e à tarde ou à noite seguiríamos para Uyuni, onde no domingo começaríamos o tour do Salar. Fomos conversar com o cara do hostel, pegar dicas, ele disse que sai ônibus pra Potosí 4 vezes por dia, o primeiro às 7h e o próximo era só às 11h ou 11h30, então se quiséssemos fazer as minas teria que ser o de 7h. Daí pensamos: estávamos um pouco cansados da viagem de ontem e de tudo o que ocorreu nesse dia, queríamos ir para o bar e tomar umas pra relaxar, precisaríamos acordar umas 5h e pouco pra pegar um táxi, chegar na rodoviária com calma e comprar a passagem, e depois do ocorrido no El Trompillo, ficamos ressabiados de comprar algo na hora tendo pressa de embarcar, então decidimos, por unanimidade, que foda-se a porra das minas (na verdade, nem estavamos muito empolgados em ir pra lá mesmo), dormiríamos um pouco mais e pegaríamos um ônibus direto pra Uyuni, ele disse que para lá sairia por volta do meio-dia. E lá fomos nós para o bar. Não tinha muita gente, o lugar era agradável, com pouca iluminação e rolava uns rocks bons, pedimos um jarra de Paceña, que aliás, confirmou as expectativas, era boa mesmo, já a Marina pediu uma cuba libre. Acabando a bebida, ela foi pro quarto e eu e o Renan ficamos por lá, fomos pro balcão e pedimos uma outra cerveja, uma tal de Huari, e também era muito boa, eu recomendo, bem leve e saborosa.

Após um tempo, a banda voltou a tocar, uma mina era a vocalista, e ficamos lá bebendo um pouco mais, tinha uns caras do nosso lado, não sei de onde eram, mas estavam ali pra passar mal. Lembro que pediram uma jarra de alguma coisa que parecia bruta, o barman colocou de tudo naquela jarra, acho que tinha até a mãe ali dentro, e viravam como se fosse danone, aliás, não ficaram só na primeira. Eu e o Renan concluímos que curva de rio tem em todo lugar do mundo. Ficamos mais um pouco e logo o cansaço bateu então fomos dormir.

 

Gastos do dia

 

Táxi aeroporto/hostel – R$ 25,00

Hostel Jodanga: b$ 80,00

Táxi El Trompillo/centro: b$ 40,00

Câmbio: R$1,00 – b$ 2,75

Passagem p/ Sucre: b$ 400,00

Taxa de embarque El Trompillo: b$ 11,00

Ônibus aeroporto/Sucre: b$ 1,50

Créditos p/ Skype: R$ 25,00

Gorro: b$ 30,00

Restaurante: b$ 25,00 da comida + b$ 8,00 da limonada

Mercado: b$ 62,42 (dividido por 3)

Hostel Forastero: b$ 0,00 hahahaha

Hostel Travelers: b$ 45,00

Bar do hostel: b$ 40,00

 

 

Continua...

Editado por Visitante
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Acho que vc está escrevendo e eu lendo... kkkk adorei!

Como vc fez com real, foi trocando em casas de câmbio?

 

 

Sim, na Bolívia fiz dois câmbios: um em Santa Cruz a 2,75 (relatei logo depois que você postou isso) e outro em La Paz porque faltou grana, mas lá peguei a 2,72 (foi a melhor que consegui lá)

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20 DE SETEMBRO - 3º Dia

Sucre - Potosí - Uyuni

 

 

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Hostel Travelers

 

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Nosso quarto

 

 

Depois de tomar aquela friagem e ainda uma bela ducha gelada, advinha quem acordei resfriado? :( E com um pouco de dor de cabeça, mas essa já credito um pouco as brejas que tomamos ontem (a Paceña é muito boa, mas um pouco forte).

Bom, levantamos não muito cedo mas também não muito tarde, tomamos um café da manhã com as coisas que compramos no mercado no dia anterior, arrumamos nossas coisas e pedimos para chamar um táxi. Não demourou muito e ele chegou, era um tremendo pau velho (padrão FIFA), a motorista era mulher e elas estava com as duas filhas no carro. Aliás, um adendo sobre os carros, tanto na Bolívia quanto no Peru, em todos os que vi, e fiz questão de reparar nisso, eles tem o hábito de colocar sobre todo o painel do carro uma espécie de tapete, é uma coisa muito estranha, mas é moda por aqueles lados.

Enfim, entramos no táxi e seguimos para a rodoviária, que era bem longe dali. De repente ela para o carro e diz que chegamos. Na boa, aquilo parecia tudo, menos uma rodoviária, tinha cara de um centro comercial com várias lojinhas fuleiras, que na verdade eram as agências das empresas de ônibus.

 

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Rodoviária de Sucre

 

Conforme relatei, nossa intenção era ir direto pra Uyuni, mas a única linha que tinha viagem pra lá era a 6 de Octubre, se não me falha a memória, e as saídas eram meio-dia, conforme disse o cara do hostel, mas justamente naquele dia não tinha ônibus pra lá, se não me engano era só de segunda. Tinha uma opção à noite, mas não iríamos esperar, então tivemos que comprar passagem para Potosí. Compramos o da empresa Alonso de Ibañez que saia 11h30, custou 20 evos, além da taxa de uso do terminal, uma taxa que em todas as rodoviárias tanto da Bolívia quanto do Peru tem que pagar a parte, é mixaria, na de Sucre custou 2,50 evos. Aguardamos na plataforma e quando o busão chegou, ele tinha uma aparência de velho, mas quando entramos vimos que era bom, nem parecia os ônibus que li em alguns relatos, aliás, nesse quesito até demos sorte na Bolívia.

 

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O busão rumo a Potosí

 

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Estrada para Potosí

 

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Rodoviária / inferno de Potosí

 

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Parece ou não um circo?

 

Conforme muitos relataram, a estrada de Sucre para Potosí era boa mesmo, bem asfaltada, você vai subindo as montanhas e o visual é espetacular. A viagem levou mais ou menos umas 3h30, chegamos em Potosí umas 15h15 mais ou menos, descemos na rodoviária nova, por fora ela parece uma mistura de circo com ginásio, mas por dentro é uma sucursal do inferno. Ao entrar, de cara já nos deparamos com a gritaria do povo:

 

La Paaaaaaaaaaaaz, La Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaz

Cochabaaaaambaaaa Cochaaaabaaaaambaaaaaaaaaaaaaaa

Saaantaaaa Cruuuuuuuuuuuuuz

Sucreeeeeeeeeeee, Sucreeeeeeeeeeeeeee (eleito por unanimidade a mais irritante de todas)

 

Imaginem o povo gritando isso em voz alta e ao mesmo tempo, ficamos por lá uns 15 ou 20 minutos e eu estava endoidando já, só queria uma metralhadora nessa hora. Aliás, uma metralhadora e um chá de coca. Durante o percurso, fiquei pensando sobre a tal da altitude, pois sabia que Potosí ficava a 4000 metros de altura e estava cabreiro, mas, inocentemente, eu puxava o ar e pensava: “Tô respirando normal!”. Descemos em Potosí e nada, tudo bem, perguntei aos meus amigos e eles também não sentiam nada. Entramos na rodoviária do inferno e tinha uma espécie de mezanino, e como no andar de baixo não achamos passagem pra Uyuni, subimos a escada e fomos lá para ver se tinha. Quando chegamos em cima eu simplesmente comecei a ver tudo balançando e minha cabeça rodou, fui rápido e me segurei na parede, por pouco não cai. Meus amigos me olharam e perguntaram se estava tudo bem, eu disse que estava tonto. O folego já era, parece que eu tinha acabado de disputar uma meia maratona, a sensação era ruim. Bem vindo a minha vida soroche! Meus amigos estavam bem aparentemente, só se cansaram um pouco da escada, mas nada demais.

Uns 2 minutos depois (ou menos) eu melhorei, continuamos a procurar e descobrimos que para ir pra Uyuni tínhamos que ir para o tal ex terminal, a antiga rodoviária da cidade.

Pedi informação para um funcionário e descobri que dava pra ir de busão ao invés de táxi, era só atravessar a rua, de cara já vimos um micro-ônibus com uma placa escrito “Ex Terminal”, pegamos ele, custou 1,50, bem mais barato que táxi, e seguimos por uns 10 ou 15 minutos até o lugar. O micro-ônibus parou e o motorista nos avisou que era ali, era um prédio bem feio por fora, e ao entrar, notamos que o esquema da gritaria era igual, só mudavam os destinos:

 

Cotagaitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

Tupizaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

Vilaroooooooooooooooooooooooooon...

Uyuniiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii seis e mediaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

Uyuniiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii ocho e mediaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

 

Aaaaaaahhhhhh diabo, vai gritar assim na cadeia! ::grr:: Eu mereço, e minha cabeça já sentindo o drama da altitude ::essa:: . O horário mais próximo que tinha era às 17h30 da empresa 11 de Octubre (eles tem uma paixão por colocar datas no nome das empresas) e como eram umas quinze pras cinco, sentamos e aguardamos. Precisei tomar uma aspirina, pois parecia que alguém tinha colocado a mão por trás dos meus olhos e tava massetando eles, e só eu estava mal, curiosamente o único que faz atividades físicas regulares em relação aos meus sedentários amigos. Mas como já me disseram, não há uma lógica pra altitude, cada pessoa reage de um jeito, e eu fui o contemplado.

Enquanto esperávamos, o Renan viu em uma barraquinha, que vendia muitas coisas, uns sacos com vários pães, pareciam bons, custava 5 pesos cada pacote, e vinha muitos pães, compensou muito. E sim, eram gostosos, como todos os pães que consumimos na Bolívia e no Peru.

Aquela rodoviária era realmente algo inimaginável, difícil elencar o que era mais estranho naquele lugar, o povo ou a rodoviária em si. O banheiro (que custava 1 boliviano para usar, mas na hora que fui o cara não me viu entrar hahahaha) certamente tá no TOP 5 de piores que vi na minha vida, o Renan, que é quase um viking, quase não conseguiu entrar (na verdade, ele queria fazer um “número dois”, mas nem o cocô dele merecia aquele banheiro).

O busão chegou, e na hora de embarcar, quase não acreditamos no que vimos: enquanto o povo ia despachando as suas malas e mochilas, duas cholas se aproximaram carregando um “pequeno e singelo” fogão industrial. WTF? Como assim? Imagina, você, lá de buenas, pondo sua mochila no bagageiro e chega duas doidas carregando, cada uma de um lado, um fogão industrial, que pelo tamanho, devia pesar toneladas. E durante toda a nossa viagem ainda teria a oportunidade de ver mais coisas que jamais serão “desvistas”.Sobre o ônibus, também era bem estranho por fora, como o de Sucre, mas igualmente confortável por dentro. A passagem custou 30 bolivianos e 1da taxa de embarque, que foi cobrada dentro do ônibus por uma funcionária do terminal. Aliás, não foi só do lado de fora que aconteceu algo estranho, afinal, uma coisa ruim sempre pode piorar. Já dentro do ônibus, ao meu lado (sim, atraio zica) sentou uma mulher com duas crianças: uma no colo, uma no corredor ao lado do marido dela. Ao cobrar a taxa de embarque, ela tinha a lista de passageiros e fez uma chamada, mas nem o marido e nem a segunda criança estavam na lista. A mulher simplesmente comprou a dela e de uma das filhas e enfiou a outra filha e o marido no busão, tipo promoção, pague um e leve dois hahahahaha. Discute dali, discute daqui, sei que no final acabaram ficando todos e o raio da mulher enfiou as duas crianças no banco, tornando minha viagem “muito confortável”, já que uma veio com a cabeça deitada no meu colo ( o que fez em determinado momento minha perna “dormir”) e a outra sentada ao lado da mãe, ou seja, sentamos quase que em três. Show tia, show! Ah, o marido veio sentado no corredor mesmo. Só faltava ele sentar também no mesmo banco!

 

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Busão para Uyuni

 

 

A viagem seguiu já com a noite caindo e, segundo o que havia me informado, duraria umas 6h, imaginamos chegar em Uyuni depois das 23h30. A estrada até era boa, mas era muito escura, sem iluminação nenhuma e era impossível ver algo pela janela, tava com um pouco de neblina, parecia que estavmos cruzando Silent Hill. Mesmo assim, o motorista fez várias paradas pelo caminho, e do meio do nada PUFFF...surgia alguém da escuridão e entrava no busão, parecia ônibus circular municipal, o pessoal foi se alojando no corredor, em pé ou até sentado. Às vezes alguém descia também, no mesmo esquema, o busão parava e PUFFF... a pessoa sumia come se fosse engulida por um buraco negro. De repente, em uma das paradas, o motorista simplesmente desceu e PUFFF..., sumiu no meio do breu. Cadê ele? Onde esse louco foi? Estavamos no meio do nada! Passaram uns 5 minutos e o povo foi ficando impaciente, um cara que tava atrás de mim começou a gritar:

 

Baaaaaaaamoooooo, baaaaaaaamoooooo, baaaamooooooooooooooooooooooooooo

 

Meu Deus, é hoje, o dia da gritaria! Ele fez isso umas 3 ou 4 vezes, até que do nada, PUFFF... o cara surgiu das trevas, entrou no busão com algo na mão e foi embora, mas ainda parou mais algumas vezes, e o tiozão sempre berrando: Baaaaaaamooooooooo, baaaaaamoooooo. Chegava a ser engraçado e acabamos adotando por toda a viagem o hábito de falar “Baaaaamooooooo” quando tínhamos que sair ou fazer algo, virou bordão.

Quando estavamos já na entrada de Uyuni, percebi que os vidros ficaram embaçados e quando fui passar a mão para desembaçar quase a congelei. Aquilo era sinal de que devia estar muito frio lá fora. Chegamos ao destino e, mesmo com tantas paradas, a viagem durou pouco mais de 4h, eram umas 21h40. Ao descermos do ônibus, notei o quanto estava frio, mesmo com blusa, calça e gorro, eu tremia de frio, só queria achar um lugar pra ficar, mas antes tivemos que enfrentar o apocalipse zumbi do povo oferecendo passeio para o Salar. A única coisa que eu dizia era “ Ahora no, ahora no”, dando uns dribles de futsal no povo. O pior é que o arrombado do motorista demorou para abrir o bagageiro do busão e nossas mochilas eram as últimas, nisso a maioria do pessoal já tinha vazado e ficamos só nós lá. Fezes! Assim que as pegamos, fomos atrás de um hostel que a Marina tinha pego, mas, pra variar, não achamos o endereço, e nem tinha viva alma pra dar informação àquela hora e naquele frio, então a primeira placa de hotel que vimos fomos atrás, e logo vimos a do Hotel Vieli, era uma placa bem grande e iluminada, bora pra lá mesmo. No caminho, vimos um relógio de rua que indicava que eram 20h30 e que estava 0ºC. Eita preula! ::Cold:: Tirei até foto.

Chegamos ao hotel gelados de frio, perguntamos se tinha quarto e o atendente disse sim, e custava 50 evos com três camas. Demorou, vai esse mesmo. Comentamos da temperatura e ele disse que aquele relógio estava errado (aliás, na Bolívia é normal os relógios de rua estarem sempre errados) e nos apontou para o dele, que marcava 21h55 e 12ºC. Menos mal, mas aí veio a surpresa: eram 12ºC negativos. ::Cold::::Cold::::Cold:: Taquipariu, deu até mais frio de saber aquilo.

Antes de ir ao quarto, pedi a senha do WiFi e, ao contrário de todos os lugares em que ficamos, ele não forneceu a senha, ele pediu o celular e colocou a senha. É mole! E pior, pedi se podia colocar na minha câmera também (ela tem WiFi), pois queira postar uma foto dela no Facebook. Ele pegou a câmera, colocou a senha (ou fingiu) e como não concetou ele disse: “A rede aqui é limitada, se tiver muita conexão, o sinal cai”. Porra, o cara tava miguelando o WiFi? É cada uma viu!

Agradeci e fui para o quarto, era espaçoso e confortável, tinha até TV. Fui tomar um banho (quente dessa vez, aliás, quase um “pela-porco”), comemos alguma coisa que tinhamos comprado (não lembro o que, mas devia ser lanche) e fomos dormir, pois pretendiamos acordar cedo pra procurar uma agência e fechar os três dias do Salar.

 

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Friiiiiooooooo

 

 

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Hotel Vieli

 

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Nosso quarto

 

Gastos do dia

 

Táxi hostel/rodoviária: b$ 4,00 por pessoa

Ônibus p/ Potosí: b$ 20,00

Taxa de embarque: b$ 2,50

Micro-ônibus p/ ex-terminal: b$ 1,50

Ônibus p/ Uyuni: b$ 30,00

Taxa de Embarque: b$ 1,00

Hotel Vieli: b$ 50,00

Pães na rodoviária: b$ 5,00

 

 

Continua...

Editado por Visitante
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Acompanhando o relato, que promete ser muito bom. Quanto ao aeroporto viru viru e a revista, sempre caio nela, sempre da luz vermelha. Já nem ligo mais. Será realmente que o cara pediu propina pra sua amiga ou alertou ela sobre algo? Pq ali é tudo meio rápido e tem um monte de câmera e gente naquele locar. Mas sei lá. Nos 4 anos que vou pra bolivia, nunca tive problemas com isso.

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  • Membros
Alexandre,

 

Que bom q o meu relato te ajudou de alguma maneira. Estou acompanhando o seu agora, recordando os momentos. Cara, vc com esse chuveiro tá igual eu! Sofri a viagem inteira kkkkkkkkkkkkkkk Pacena é boa, mas forte mesmo.. fiquei meio grogue com ela.. ::dãã2::ãã2::'>

 

 

Sim, o seu e tantos outros ajudaram bastante, pelo menos não somos pegos desprevenidos (e ainda assim sempre dá alguma merda hahaha).

Pois é, esse outros problemas que passei com chuveiro que foram só comigo, com o resto do povo é de boa. Eu posso dizer literalmente que sou zica hahahaha ::hahaha::

 

E sim, a Paceña é ótima, mas acho que o que me deixou zoreta foi o excesso, misturado com o resfriado, e acho que as duas Sureñas fizeram o serviço de estragar.

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