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livro para quem quer ir de mochila à Machu Picchu cruzando a Bolívia


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Resumo 09 - Machu Picchu -

 

"Apesar do enorme esforço do dia anterior, acordei pelas nove e meia da manhã bem melhor do que imaginava. No entanto, ainda sentia dores nas pernas e fiquei deitado na cama até perto do meio dia. Apenas levantei-me para colocar nossos tênis ao sol no piso superior, pois ainda estavam molhados.

Perto do meio-dia o Guilherme acordou. Arrumamo-nos e fomos ao quarto dos demais do grupo. Também estavam acordados, relaxando na cama. Esperamos se aprontarem para procurarmos algo para comer. Descemos as escadas. Assim que pusemos os pés na rua, olhamos para o lado e entramos no restaurante ali perto. Os pratos básicos estavam em dez soles. A comida era praticamente a de sempre: um prato de sopa e outro de ingredientes sólidos. A sopa fez bem, recompôs-nos um pouco e o outro prato nos deu boa sustância.

Era dia 25 de janeiro, quinta feira. A temperatura estava por volta dos vinte graus e o sol brilhava e estava quente. Assim que terminamos de almoçar, descemos a rua e saímos na praça de Águas Calientes. Sentamo-nos em um banco em frente a uma estátua de uns três metros de altura sobre uma fonte.

A região é totalmente acidentada, com ingrimes e altas montanhas e o rio ao seus pés, estando esse em violenta e constante descida, com fortes correntezas. Ainda assim, de qualquer forma, a parte superior das montanhas está geralmente encoberta na névoa, impedindo qualquer visão e a suposição de que há no local majestosa cidade.

Águas Calientes está limitada entre as montanhas e o rio Urubamba. Fizemos o acerto do primeiro dia com o Ray e descobrimos que havia a possibilidade de subirmos por uma trilha na montanha ao lado de Águas Calientes, e que lá de cima podia-se avistar Machu Picchu. Como não tínhamos o que fazer e pretendíamos ir somente no dia seguinte para a antiga cidade dos incas, resolvemos subir. Eu, o Leonel, o Ray, o Felipe, o João, o Guilherme e o Véio fomos matar nossa curiosidade e realizarmos outra aventura.

 

A montanha chama-se Putukusi. Levamos a máquina fotográfica e água. Começamos a subir entre a mata, por uma trilha bem utilizada, onde em alguns trechos havia até pedras alinhadas que serviam de escadaria. Depois de uns quinze minutos subindo sem maiores complicações, mas já suando, vejo a minha frente o Ray e o Felipe parados, olhando para frente com certo espanto. Pensei: “Mas o quê tem ali de tão impressionante que os fez estancar? E ainda com essas caras?”

Assim que os alcancei, foi a minha vez de ficar pasmo e estático. A subida da forma que estávamos realizando acabou ali. Agora seria subindo, mas literalmente. A nossa frente havia uma primeira sequência de escadas, mas escadas feitas de madeira. Recostada contra a parede montanhosa, nem se avistava o fim delas. Começamos a subir, um de cada vez. O ruim era carregarmos a água (muito necessária), pois em alguns pontos não havia degraus ou estavam deteriorados.

Creio que subimos mais de cinquenta metros, e logo adiante havia outra sequência com duas escadas, mas não tão altas como a primeira – via-se o fim dela. Andamos mais um pouco e avistamos uma terceira sequência de escadas com a mesma altura da anterior.

Depois continuamos pela trilha. Mais para a metade, por fim, saímos da mata e pudemos contemplar o panorama da região. Realmente estávamos no meio de uma gigantesca serra, totalmente rodeada por montanhas. Abaixo, podíamos avistar bem pequena Águas Calientes, entrincheirada no único espaço onde não havia grande acidente geológico.

Depois de subirmos por cerca de duas horas com apenas duas ou três paradas rápidas, chegamos ao cume da montanha. Creio que subimos quase que em noventa graus de inclinação por mais de 800 metros - a altura da montanha. Ali também encontravam-se outras pessoa, mas não muitas. Havia uma enorme bandeira com diversas listras coloridas na horizontal. Era a bandeira de Cusco. Meus joelhos estavam reclamando, pois judiei muito deles do dia anterior até então. Atiramo-nos em meio às pedras e esticamos as pernas. Havia mais alguns turistas remoendo-se de cãibras no local.

Entre o rio e a cidade via-se a estrada em ziguezague por onde se vai a ela com algum transporte terrestre. Do ponto em que nos encontrávamos, a víamos de perfil no topo de uma montanha mais baixa que as demais, numa altura mediana em relação à região. Um conjunto de pedras e escadarias (os terraços) apresentavam-se bem delineados mesmo a essa distância. Para a sua esquerda, um pouco acima, estava a entrada oficial da cidade, a “Puerta del Sol”, local aonde a trilha inca oficial chega em seu último dia de caminhada, fazendo a entrada por ela, o que faz parte do espetáculo da jornada.”

 

“[...] Ficamos ali uns quarenta minutos apreciando o visual, falando de histórias e curiosidades a parte. Resolvemos descer, pois ainda precisávamos comprar os bilhetes para a entrada de Machu Picchu.

A descida foi rápida, um pouco mais de meia hora. Só nas escadas de madeira demorou um pouco mais, por estarem precárias, perigosas. Chegando em sua base, fomos para o centro de Águas Calientes. Em uma das pontas da praça, um pouco abaixo do hostel em que estávamos alojados, havia o local sede da venda dos bilhetes. No entanto, como eu e o Leonel somos estudantes, o documento estudantil dá o desconto de 50% do valor da entrada. Custava no total US$ 40,00, mas com a “carteirinha” de estudante sairia por US$ 20,00.

O Guilherme e os curitibanos conseguiram, mas nós dois não tivemos a mesma sorte. O documento deveria conter a validade e a foto do estudante e não havia ambas nos nossos. Por mais que tentássemos convencer a vendedora, não conseguimos. Pedimos para conversar com o responsável, o qual não se encontrava. Disse para passarmos às nove da noite, horário que fechava, para vermos o caso com o gerente da casa. Tudo bem, ainda havia esperanças de pouparmos.

Voltamos para o alojamento, tomamos um banho e em seguida fomos eu, o Leonel e o Guilherme procurar um lugar para jantar. Já era quase noite quando saímos e, pela indicação dos curitibanos, havia no andar superior do mercado público pontos de lancherias que faziam pratos quentes muito baratos. E era. Nas refeições seguintes, comemos por três soles um prato com arroz, uma carne, legumes e até feijão, depois de tanto tempo. Só que o lugar fechava cedo, pelas dezoito e trinta, mas podia-se comer a qualquer hora do dia.”

 

“Chamamos a vendedora e essa deixou-nos passar - lembrava-se da gente. Expomos mais uma vez a situação com todas argumentações necessárias, mas não adiantou, tinham que seguir o protocolo. O gerente já havia saído, mas ela o havia informado de nosso caso. Será? Ao menos fez menção de tentar nos ajudar.

Saímos desanimados e encontramo-nos com os outros que nos aguardavam. Informamo-los da situação e combinamos o horário da saída para a visitação. Seis da manhã, em frente ao hostel. Ficamos mais algum tempo em frente à livraria, compramos água e fomos dormir. O dia seguinte seria o do ponto máximo da viagem.”

 

“Acordamos ainda escuro, um pouco antes das seis horas da manhã. Talvez devido à boa noite de sono ou pela ansiedade da visitação. Era sexta-feira, dia 26 de janeiro. Aprontamo-nos rapidamente, pegamos o que levaríamos, principalmente a água, a máquina fotográfica, dinheiro e saímos. Uma densa névoa encobria toda a paisagem e a escuridão custava a se dissipar. Por incrível que pareça, as seis horas estavam todos no local combinado, até o Véio.

Partimos. A pé, obviamente. A empresa detentora do monopólio do transporte de turistas para Machu Picchu cobra US$ 14,00 (ida e volta) e não estávamos dispostos a gastar esse valor só para percorrermos o trecho entre Águas Calientes e a cidade inca.

Saímos da cidade. Passamos sobre uma ponte que tem como teto (parcialmente) a mesma montanha na qual havíamos subido no dia anterior. Foi escavada para construírem o acesso de uma estrada. Mais adiante, cerca de um quilômetro, fica a ponte que atravessa o rio Urubamba. Quando passamos, sentimos a força das corredeiras do rio, que jogava em nossos rostos gotículas d’água desprendidas de suas ondas.

Do outro lado começava aquela estrada em ziguezague que havíamos avistado na tarde anterior. No entanto, nas suas curvas havia escadarias em pedra que serviam de trilha, atalhando o extenso percurso da estrada. Seria mais prático e rápido, e passamos a utilizar os atalhos. Alguns eram bem curtos, outros intermináveis em meio à mata, não mais que um metro de largura.

Pela metade do caminho, eu e o Leonel resolvemos ir pela estrada, pois nossos joelhos doíam devido ao contínuo subir de escadas. Na quinta-feira já havíamos forçado bastante no Putukusi. A estrada era bem plana, pouco acentuada, porém tem um percurso de dez quilômetros. Em diversos pontos da estrada havia homens trabalhando já naquela hora nos desbarrancamentos provocados pela descida das águas por suas encostas. Em alguns trechos, parecia haver riachos cruzando a estrada.

O cenário ao nosso redor ainda estava bastante denso, delineando uma visão sinistra das montanhas. Os outros, vimos uma ou duas vezes adiante, saindo da mata, cruzando a rua e entrando novamente nela.

Pouco depois das sete horas da manhã começaram a passar por nós os micros que levam os turistas a Machu Picchu. Vários. Já próximo do final da estrada, avistamos as primeiras ruínas, ao largo, em meio ao nevoeiro. Uma visão mística.

Por fim, depois de duas horas, chegamos e encontramos as outras pessoas do nosso grupo nos aguardando. Descansamos um pouco em frente ao Hotel Machu Picchu Sanctuary Lodge, com diária a “apenas” U$$ 600,00. Fomos procurar o gerente que poderia nos auxiliar com a redução do valor do ingresso. Ele só chegaria depois das dez horas. A situação não estava a nosso favor. Mais uma vez argumentamos, mas não adiantou. E, pior, não poderíamos comprar os ingressos com dólares na bilheteria, somente em soles.

Indicaram-nos uma casa de câmbio um pouco abaixo da bilheteria, ao lado de umas pequenas lancherias. O movimento era intenso naquela hora e a pequena casa de cambio faturava horrores dos mais desavisados. O Ray também deixou para comprar o ingresso na hora. Na verdade, pretendia entrar sem ter que gastar.

Por fim, nos custaram 120 soles para cada um. Bastante caro para um sítio que pertence à UNESCO e, portanto, é patrimônio da humanidade. Justificavam que essa renda abastecia todos os outros centros turísticos do país.

Entramos na cidade sagrada dos incas. Conseguimos alcançar nossa meta. Que felicidade estávamos.

A nevoa dissipava-se aos poucos, revelando um fantástico conjunto arquitetônico a nossa volta. O Ray dava algumas explicações enquanto subíamos e descíamos escadas. Calcula-se que existam cerca de 3.000 degraus no local. As casas estavam praticamente intactas, faltando apenas o telhado. Entretanto, dizem que apenas 30% é original, o restante foi remontado com o passar dos anos. Pode ser que sim, pois até quase a metade das estruturas as pedras estão magnificamente bem entalhadas, polidas e encaixadas, sendo que na outra parte estão posicionadas a grosso modo.

Essa fabulosa cidade foi construída sobre uma montanha entre dois picos: Machu Picchu, que significa montanha velha, e Wayna Picchu, montanha jovem, na língua Quéchua. Esse não é seu nome original, na verdade ele é desconhecido. A cidade está localizada a 2.400 metros acima do nível do mar, com o rio Urubamba serpenteando-a a 700 metros abaixo [...].”

 

“Saciados com a visitação, eu, o Leonel e o Guilherme, enquanto íamos na direção da saída, fomos cruzando por diversos grupos de turistas, sendo eles franceses, alemães, italianos, japoneses, canadenses, estadunidenses, israelenses, chineses e outros. Chegamos bem a tempo, pois em fevereiro, período das chuvas torrenciais, o parque fecha. Demos sorte de chegarmos em um dia ensolarado e de apreciarmos a visitação. Tiramos muitas fotos.

Atualmente, Machu Picchu recebe mais ou menos mil visitantes por dia, o seu limite, o que pode acelerar em muito o processo destrutivo desse patrimônio histórico em um curto período de tempo, se não houver políticas apropriadas para tal. Algumas áreas já estão proibidas para circulação, o que, ao nosso ver, é ótimo e necessário.

Depois de localizarmos a saída (não conseguíamos encontrar o caminho que seguia para lá, mesmo visualizando a entrada do parque), começamos a descer pela estrada. Passava das três horas da tarde e o calor nos obrigou a carregarmos nossos casacos. Até alcançarmos as trilhas pela mata, os micros com turistas passavam um atrás do outro por nós, obrigando-nos a ir para a lateral e a engolirmos muita poeira.

Era um alívio para nossas pernas só descermos. Porém, volta e meia, descia um garoto da região vestido com uma única peça de roupa branca, um tipo de túnica, com uma corda envlota da cintura, representando a vestuária inca, em desabalada carreira. E assim foram muitos. Mas do que se tratava afinal? Poderiam se machucar naquelas escadarias. Quando escutávamos o seu trote ainda longe, já nos posicionávamos ao lado, deixando-lhes passagem.

Quando alcançávamos o final da trilha que desembocava na estrada, lá estava um deles abanando com o braço direito erguido e pronunciando um adeus na língua Quéchua. Assim que a condução passava por ele, ingressava na outra trilha e continuava a correr morro abaixo. Descobrimos que o mesmo indiozito interceptava o mesmo micro em todas as curvas até lá embaixo, na ponte sobre o rio Urubamba, na intenção de receber algumas moedas.

Numa dessas situações, um deles chocou-se meio de lado com o Leonel no final de uma trilha, quase o atirando na frente de um micro. Volta e meia também abanávamos para os turistas, que nos encaravam com suas caras sisudas.

Em quarenta minutos havíamos descido. Na ponte, encontramos um desses garotos com a mão estendida, ofegante, esperando alguma gorjeta. Um que outro dava-lhes algo. Alguns deles fazem isso até três vezes por dia, ficando ainda com diversas cicatrizes das quedas em meio à mata.

Chegamos ao mercado público pelas quatro da tarde, com muita fome. As barras de cereal não haviam sido o suficiente naquele dia. Até então havíamos passado o dia com um ou dois litros d’água e apenas três barras de cereal cada um. Comemos no mesmo ponto da noite anterior e depois fomos para o alojamento.

Na entrada, fizemos o acerto do que devíamos pelas diárias com o dono do lugar e subimos ao quarto para nos trocarmos e pegar nossas toalhas. Iríamos para as termas de Águas Calientes relaxarmos.

Seguimos a mesma rua de onde estávamos hospedados em sentido contrário à praça, e a uns trezentos metros adiante chegamos. Pagamos os dez soles e entramos. Havia algumas piscinas e a água estava realmente bastante quente, tanto que demorei para me acostumar. No fundo delas havia um areião com pedrinhas, ótimo para massagear e relaxar os pés. Um forte cheiro de enxofre pairava no ar.

Creio que ficamos ali por umas três horas. Ainda havia nas paredes do pátio chuveiros com águas vindas direto do desgelo das montanhas. Propiciava um choque térmico, causando um pouco de dor de cabeça.

Quando voltamos, estávamos novos, de uma forma que não me sentia há muito tempo. Trocamo-nos e descemos para tomar umas Cuzqueñas. Um pouco depois chegaram os outros juntos com o Ray, como nós: cansados, sujos, com fome e com sede.

Foram tomar banho e descansarem enquanto nós permanecemos por ali, olhando o movimento, conversando e bebendo. Tínhamos que combinar a volta para Cusco.

Definimos a saída para as seis da manhã, no local onde havíamos saído dos trilhos quando chegamos em Águas Calientes. Voltaríamos a pé, seguindo os trilhos. Seria outra grande aventura." - resumo 10

 

vista de Águas Calientes

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Machu Picchu vista do Putukusi

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vista diferente de Machu Picchu

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Márcio (D), Leonel (E) - de Lajeado-RS à Machu Picchu

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RESUMO 10 – O RETORNO A CUSCO -

 

Chovia forte na manhã de sábado, dia 27 de janeiro. Ainda estava escuro na rua e as trovoadas insistiam em fazer estardalhaços. Tivemos que acordar o dono do hostel para fazer os acertos. Logo o pessoal do outro quarto desceu. Assim que todos estavam prontos, dirigimo-nos ao local combinado. Os outros já estavam por lá, embaixo da marquise de um restaurante ao lado dos trilhos.

Estávamos novamente todos os doze reunidos. O plano do Ray para voltarmos para Cusco era o seguinte: seguirmos a pé pelos trilhos até chegarmos em uma estrada adiante, pegar uma condução para Santa Tereza e de lá à Santa Maria, onde tomaríamos um ônibus para Cusco. Só que o ônibus para Cusco sairia às duas da tarde e teríamos que nos apressar.

Começamos a andar na estrada no mesmo sentido que nos levara até a ponte de acesso a Machu Picchu. Passamos em frente a ela e seguimos pelos trilhos, no mesmo leve declínio de quando havíamos chegado. Contornamos a montanha de Putukusi e mais adiante contornamos toda a montanha de Wayna Picchu e Machu Picchu, sendo a parede da montanha desse outro lado muito acentuada.

Continuamos a andar por mais alguns quilômetros debaixo da chuva gelada até que chegamos à ponte da ferrovia. Toda de metal, porém antiga, foi fácil de atravessar, pois nesse horário não havia trens e os mais frequentes vão apenas até Águas Calientes. De qualquer forma, há uma estreita passagem para pedestres na sua lateral.

Assim que saímos do outro lado da ponte, entramos na mata peruana por onde os trilhos seguiam. Sentia-me como se estivesse na Amazonia, apesar de ainda não a conhecer pessoalmente. Grandes árvores encobriam o céu com suas dispersas copas, revoadas de papagaios, algumas araras, bananeiras carregadas e barulho de bichos, apesar da chuva.

 

Com o Ray sempre na frente, andamos mais alguns quilômetros e chegamos a uma pequena hidrelétrica. Nesse ponto, nosso amigo peruano mandou-nos descer uma ribanceira à direita e o seguir. Pegamos um pequeno trilho e a uns 150 metros dali alcançamos novamente as margens do rio Urubamba. De Águas Calientes até onde saímos dos trilhos foram dez quilômetros.

Havia ali uma ponte concretada para veículos terrestres e mais uma vez atravessamos o rio, passando a caminhar por uma estrada de chão batido. É impressionante a altura das montanhas que estavam a nossa volta, verdadeiros espigões acossando-nos em suas bases, majestojos, como sempre.

O aguaceiro cessou, e, enquanto tirávamos as capas de chuva, um tímido sol insistia em querer aparecer. Andamos e andamos. Volta e meia passava um caminhão carregando funcionários de alguma mineiradora ou da hidrelétrica.

Encontramos na beira da estrada uma tenda que vendia água e frutas. Sentamos em bancos improvisados que ali estavam e descansamos um pouco. O pessoal comprou algumas frutas. Retirei-me um pouco dali, tirei minhas calças plástica para chuva (somente neste dia a usara), coloquei a convencional e negociei-a com o peruano dono da tenda em troca de bananas. Mesmo rasgada, a aceitou. Rendeu-me uma pequena quantidade de bananas, que dividi com o grupo.

O caminho era muito longo. Estava ficando quente e nossa caminhada não estava rendendo. Ainda na tenda, em dado momento cruzou pela estrada um caminhão cheio de pessoas. O peruano disse que ele fazia esse trajeto pela estrada algumas vezes por dia. Nossa salvação. Continuamos a caminhar aguardando a volta dele e não tardou para aparecer em alta velocidade, apesar da precaridade da estrada.

Acenamos para parar, e o Ray falou com o motorista. Disse-nos que custava três soles cada. Juntamos nossas moedas e embarcamos pela traseira do caminhão, por uma escadinha de madeira especialmente feita para isso. Tratava-se de um caminhão “pau-de-arara”, típico dos sertões nordestinos e confins do Brasil. Em umas barras de cano metálico sobre nossas cabeças, tínhamos que nos segurarmos.

O rio Urubamba estava ficando cada vez mais abaixo. A estrada subia e não havia acostamentos. Uma manobra em falso e despencaríamos no rio, mas não sem antes batermos nas suas pedregosas encostas. A chuva ainda ajudou a desbarrancar um pouco mais a estrada, mas não assustava muito, até aquele momento.

Em um ponto do rio, avistamos algumas pessoas atravessando-o em uma tiroleza, uma espécie de carrinho onde cabia somente uma pessoa e deslizava com umas roldanas por um cabo de aço até a outra margem.

 

Andamos alguns quilômetros com o “pau-de-arara”. Ainda bem que conseguimos esse transporte, do contrário andaríamos por ali todo o dia. No momento em que o caminhão parou para desembarcarem alguns passageiros que tomariam uma autolotação do outro lado do rio, fizemos o mesmo, pois ela passaria por Santa Tereza e depois iria direto para Santa Maria.

Atravessamos mais uma vez sobre o turbulento Urubamba por uma estreita ponte para pedestres e tomamos a autolotação. Para irmos até Santa Maria, o motorista mandou seu auxiliar nos cobrar seis soles. Em seguida, colocamos nossas mochilas em cima do veículo. Tudo bem, se não fosse a super lotação do transporte - só nós éramos em doze e estávamos em um total de vinte pessoas no veículo, todas muito esprimidas.

Com muito custo conseguiu arrancar. Seguimos até Santa Tereza e uma mulher, provavelmente a sócia do motorista, pediu se era possível levar mais três pessoas. Para nossa surpresa, disse que sim. Ficamos pasmos e nos negamos a deixá-las entrar, nem tinha como. A mulher, não querendo perder mais alguns soles, disse para o motorista seguir até depois da cidade, que mais parecia uma vila e esperar os três, que iriam em cima, sobre as mochilas. No centro urbano havia polícia e por isso deveriam embarcar depois dela.

Nossas reclamações ficaram pairando no vazio. Estávamos indignados com eles. Nunca vimos coisa igual. Vinte e três pessoas em uma viatura que suportava apenas doze. Não só por causa dos lugares, mas pela sustentação da máquina.

Saímos daquele lugar e começamos a subir, subir e subir. Creio que estávamos a uns seiscentos metros de altura, passando por uma estreita estrada de terra recortada na encosta das montanhas. O rio Urubamba parecia agora apenas um estreito riacho. O motorista passava às vezes muito próximo da ribanceira, motivo pelo qual estava começando a nos assustar, ainda mais enlatados daquela forma.

E assim recortamos diversas montanhas em um constante ziguezague entre elas. Paramos de subir e passamos a andar em sentido horizontal. Consegui fotografar o penhasco a apenas um metro do veículo.

 

A certa altura, um forte cheiro de plástico queimado invadiu a autolotação. Começamos a comentar que algo estava errado, mas o motorista não deu importância. Não demorou muito e uma fumaceira começou a surgir na lateral esquerda do transporte. Agora, aos gritos, conseguimos fazê-lo parar, mas antes disso tivera que ele mesmo constatar que algo estava errado. Descemos todos. O motorista despejou uma garrafinha d’água na roda, provocando imediata evaporação do líquido. As balacas dos freios haviam queimado e o motorista apenas jogara um pouco d’água para “consertá-las”. Em seguida, nos mandou entrar.

Começamos a descer e o motorista logo percebeu que as balacas estavam fazendo falta. A autolotação ficou sem freios, e nós descendo as montanhas já aos trancos e barrancos, quicando dentro dela. Diante dessa situação desesperadora, tentando evitar o precipício, o motorista jogou o veículo contra o barranco do lado esquerdo, mas a parede rebateu-o com força de volta para a estrada e na direção à ribanceira. Naquele momento, os que estavam em cima pularam para fora de qualquer jeito, tentando se salvar, e o motorista segurou a direção na estrada, mas ganhou velocidade. Para nossa sorte, vinha em sentido contrário outra autolotação e o motorista mirou-a, para que parássemos com o choque ou despencássemos as duas.

 

Sentimos um forte impacto e em seguida a inércia. Deu certo, paramos, mas o susto foi grande. Certamente essa outra autolotação salvou nossas vidas. Se ela não aparecesse, era bem provável que cairíamos a uma altura superior a 500 metros dentro do rio Urubamba. Realmente não era para morrer ninguém naquele dia, pois a autolotação que veio em sentido contrário foi apenas o terceiro ou quarto veículo que cruzou por nós em mais de três horas de trajeto.

 

O estrago foi grande e a confusão generalizada. O motorista do outro veículo xingou o do nosso e os passageiros da nossa cobraram seus seis soles de volta, indignados, ameaçando bater nele e o entregar para a polícia. Os passageiros que estavam em cima dela nada sofreram, felizmente. A Tatiana quase teve uma crise nervosa e as argentinas só choravam. Já o pessoal da outra autolotação nada sofreu, mas também ficou bastante nervoso e assustado.

Pegamos as mochilas e, ainda revoltados pela negligência do condutor, seguimos a pé. Já passava da uma da tarde e faltavam uns sete quilômetros até a cidade. Eu, o Leonel, o Ray, o Guilherme e a Tatiana começamos a caminhar rápido, pelo menos para chegar a tempo de fazer o ônibus esperar até que todos chegassem.

O sol estava fortíssimo naquele horário. Não tínhamos mais comida nem água. Diante de nossa indignação pela situação ocorrida, por diversas vezes o Ray nos pediu desculpas, mesmo falando-lhe que não tinha sido sua culpa. Mesmo assim, ficou cabisbaixo, tomando toda a culpa para si, pois sentia-se responsável por nós.

Paramos de descer e seguimos em linha reta, ou melhor, no plano. Passamos por algumas casas, as quais estavam abandonadas. Encontramos um homem de bicicleta que nos informou que Santa Maria ficava a apenas dois quilômetros. Mais adiante, atravessamos outra ponte sobre o rio Urubamba, andamos mais uns 900 metros e chegamos na cidade. Era tarde demais. Meu relógio marcava duas e vinte. Havíamos perdido a condução para Cusco.

Entramos em uma mercearia e imediatamente adquirimos água. O local era aquele tipo de estabelecimento no qual funcionam vários estabelecimentos juntos, como mercado, bar e rodoviária. O peruano, dono do lugar, informou-nos que a próxima condução para Cusco seria às 20 horas. Teríamos que esperar a tarde toda.

Santa Maria mais é um vilarejo do que uma cidade. Uma localidade com poucos habitantes, provavelmente com algumas dezenas de pessoas. O lugar em si tem apenas uma rua central de chão batido com uma largura de uns trinta metros, lembrando uma cidade do velho-oeste. Suas casas são antigas, parecendo o cenário do filme brasileiro “Gabriela, Cravo e Canela”, de Bruno Barreto.

Saímos da mercearia e logo os outros foram chegando. Atravessamos a rua e sentamo-nos na sombra de uma calçada em frente a um antigo armazém.

Logo a calçada ficou cheia de turistas e de suas mochilas coloridas - a galera da lotação. O João trouxe nossa parte do dinheiro que conseguira de volta com aquele motorista irresponsável. Fomos comprar as passagens, para nos garantirmos. Na mercearia, as compramos por 45 soles pela empresa de transportes Kamisea. Só sabíamos que estávamos ainda bem longe de Cusco.

O dia, que começou chuvoso e frio, ficou ensolarado e quente. Creio que uns trinta graus, a maior temperatura desde que estivemos no pantanal boliviano.

 

Almoçamos uma comida qualquer em uma velha lancheria ali perto e voltamos para a calçada. Ficamos ali sentados a tarde toda, sem fazermos nada. Volta e meia passava uma camionete em alta velocidade pelo local levantando densa poeira. Também cruzaram pelo lugarejo alguns turistas com montain bike, as quais se podia alugar e andar pelos Andes.

 

Vinte horas. Nada. Esperamos, ansiosos e tensos, e nada do transporte. Por fim, chegou somente às vinte e uma horas. Assim que parou, debandamos para o veículo apressados. Entre o vai e vem de gente e a poeira que este levantou, acondicionamos as mochilas nos bagageiros e embarcamos no ônibus. Apesar de ter demorado quase meia hora entre descarregar e carregar mercadorias na mercearia, estávamos felizes.

Depois que arrancou, sentimos um pouco de ar fresco, pois não houvera uma única brisa durante a tarde toda e estávamos empapados de suor no interior do veículo. As crianças deram-nos adeus e correram atrás da condução. O ônibus era um possante “montanhês” ao estilo do El Carreton.

Em quinze minutos de estrada, eu já estava dormindo, exausto.

 

Durante a noite, acordei por um momento acossado por um frio intenso e repentino. Sequei a umidade da janela e olhei para fora do ônibus na esperança de ver onde estávamos. Vi apenas uma paisagem esbranquiçada. Estávamos passando em cima de morros nevados, e o frio gelou-me. O Leonel também foi vítima dessa surpresa. Nem imaginávamos que poderia ficar tão frio, afinal, quando partimos, ainda estava muito quente. Arrumei-me como dava, apreciei um pouco o visual da neve e dormi novamente.

A viagem para Cusco demorou a noite toda. Quando acordei, o sol já despontava no horizonte e estávamos nas imediações da cidade. O Leonel me contou que, em dado momento, quando acordou na madrugada, a pessoa, a moça sentada ao seu lado estava rezando de mãos unidas. Provavelmente esse era o lado dos despenhadeiros...

Chegamos na rodoviária às seis e meia da manhã do sábado, dia 27 de janeiro. Havíamos demorado cerca de vinte e quatro horas para retornarmos à Cusco. Fizemos uma enorme volta por uma vasta região montanhosa dos interiores do Peru e quase que também deixamos nossas vidas por lá.

Faz parte!

 

os terraços de MACHU PICCHU

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viajando de "pau-de-arara"

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com a van, a centímetros dos desfiladeiros (antes de ficar sem freios)

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enfim, sãos e salvos de volta a CUSCO

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Segue o 11º relato:

 

RESUMO 11 – AS ILHAS FLUTUANTES DOS URUS -

 

Conseguimos dormir razoavelmente bem no ônibus. Nosso destino era Puno e chegamos lá ainda de madrugada. Pairava uma fria neblina no ar. Logo que desembarcamos na rodoviária, nos informamos e fomos a pé até o porto para visitação das ilhas flutuantes. Era primeiro de fevereiro de 2007, quinta-feira. Nosso vigésimo dia de viagem.

Nossa visitação a Puno restringiu-se apenas às ilhas do Titicaca, pois logo pretendíamos seguir viagem. Chegamos ao trapiche pelas seis horas da manhã. Há na sua entrada várias casinhas que vendem bilhetes para a visitação, as quais abriam as sete horas.

Nessa uma hora que esperamos apareceram outros turistas. Eram muitos barcos. A economia do lugar depende muito do turismo. A cidade de Puno foi inicialmente habitada pela cultura Pukara por volta do século III a. C., sendo posteriormente suplantada pela cultura Tiahuanaco, e mais tarde pela inca.

A cidade em si foi fundada pelos espanhóis em 1668. Chamavam-na de Puão Pampa, que significa paragem de dormir, por ter esse propósito na época. Também há referências de que Puno fora chamada pelos espanhóis de San Bautista de Puno. Na atualidade, Puno é a capital do folclore peruano e sede da festa da Virgem de Candelária. Sua população estima-se em 120 mil pessoas e localiza-se a 3.827 metros de altitude, na margem noroeste do lago Titicaca, estando cercada por uma pequena serra.

 

Assim que os guichês abriram, compramos os bilhetes por 15 soles e entramos em um barco. Largamos as mochilas e sentamo-nos perto do motor por causa do calor, pois lá faz bem mais frio que em Cusco. Por cima da água, havia um limo verde que se estendia por toda a baía. No entanto, o barco só partira depois que havia passageiros suficientes. Ficamos esperando por mais de meia hora.

Por fim partimos. Assim que saímos da baía, começamos a cruzar pela matéria-prima dos Urus, a hidrófila planta de junco chamada Totora, semelhante ao papiro egípcio. Passamos por alguns barcos feitos com essa planta, com as tradicionais carancas que representam seu animal sagrado e venerado, o puma.

Mais adiante, alcançamos as primeiras ilhotas e desembarcamos. Assim que pisamos nela afrouxamos as pernas, pois era como caminhar em cima de uma pilha de feno. Todos desengonçados, fomos em direção das casas também feitas dessa planta. Um peruano residente na ilha contou-nos que atualmente vivem ali cerca de 3.000 pessoas espalhadas em mais de quarenta ilhas flutuantes, passando algumas pessoas dos oitenta anos sobre elas. Os mais tradicionais comem principalmente a truta, a raiz do junco, o pato selvagem e ovos dessa ave. De quando em quando vão até a cidade comprar outros alimentos, mas estão tão acostumados em pisarem no macio que, ao andarem na cidade, doem-lhes as juntas dos joelhos.

 

Esse sujeito ainda nos mostrou como funcionavam as ilhas. Destampou um buraco já pronto e mostrou a espessura dela, uns dois metros. Em seguida, largou uma pedra presa a um barbante e disse ter ali sessenta metros de profundidade. Despedimo-nos e retornamos ao barco que estava de partida para outra ilhota.

Cita-se que esse povo surgiu entre 8.000 e 5.000 anos a. C., sendo subdivididos em três grupos principais: Chipayas, Muratos e Iruitos. O propósito de viverem em ilhas no Titicaca foi de manterem-se afastados de feras e principalmente de tribos rivais, sendo, portanto, um refúgio que garantiria sua sobrevivência.

Enquanto sobressaíam-se como valentes guerreiros sobre a água, em terra já não despendiam da mesma galhardia e acabaram por serem submetidos primeiramente à cultura aymará e depois ao império inca.

A maioria das ilhas tem seus barcos de junco, os quais demoram cerca de dois meses para ficarem prontos e duram no máximo sete meses. Nas ilhas têm de repor junco diariamente já que a parte inferior apodrece conforme a água penetra na palha. Há junco em grande quantidade em toda a parte noroeste do Titicaca, próxima às suas margens – nas imediações de Puno. A planta em si parece existir exatamente para esse propósito. Com diâmetro que chega à espessura de um dedo (um pouco mais), por dentro é cheia de compartimentos, tipo gomos, o que propicia sua eficácia em boiar.

 

As ilhas são de vários tamanhos, com mais ou menos umas sessenta pessoas cada. Existe a possibilidade de se pernoitar nelas, mediante pagamento. O comércio de artesanato é o ponto forte da economia dos Urus, no qual dependem para necessidades como roupas, medicamentos e ferramentas.

E assim seguia-se. Em frente das cabanas estavam várias bancadas dos moradores com essas peças, a maioria, senão todas, feitas do abundante junco do lago. Comprei um pequeno pássaro, uma representação do Colibri, que sustentava uma imitação de seus barcos, por três soles.

Depois de visitarmos várias ilhotas dos Urus, voltamos ao cais perto das dez horas. Retornamos a pé para a rodoviária, apesar de haver por ali muitas moto-táxis em forma de triciclo, com teto e porta, como existem abundantemente na Ásia.

 

Na rodoviária, soubemos haver ônibus para Desaguadero às dez e meia, mas do lado de fora da rodoviária, numa espécie de terminal secundário. Em meio a muitas pessoas, fomos rapidamente para lá, compramos os bilhetes num guichê em um estabelecimento comercial por apenas seis soles e fomos ao ônibus. Colocaram nossas mochilas em cima e sentamo-nos em nossos assentos. Partira em menos de dez minutos lotado de passageiros. Fazia forte calor naquela hora. A partir de então, estávamos em marcha de regresso. Chegamos em Desaguadero ao meio-dia e meia, depois de duas horas de viagem. Descemos em um local com tamanha confusão que demoramos para nos orientarmos sobre a localização da aduana. Por fim, avistamos uma placa que dizia: Gracias por su visita, retorne pronto, e cruzamos pela ponte sobre o rio Desaguadero, o sangradouro do lago Titicaca.

 

Chegando do outro lado, entramos no estabelecimento da imigração boliviana. Por não haver turistas no local, fomos logo atendidos. Carimbamos os passaportes e saímos procurando um ponto de ônibus ou algo parecido para seguirmos à La Paz. Havíamos perdido uma hora devido ao horário local. Era vinte para as duas da tarde e estávamos com pressa: queríamos chegar ainda dia na capital para termos tempo de procurar um hostel bem econômico.

A poeira, o calor, o tumulto dos carros, autolotações e bicicletas dificultavam nossa progressão, ainda mais que nos informaram estarmos a umas sete ou oito quadras de onde haviam os transportes, dobrando para cá e para lá várias vezes. Para chegarmos rápido, tomamos um táxi, ou melhor, dois táxis, pois não caberíamos num só com nossas mochilas. Tratava-se de bicicletas com uma roda atrás e duas na frente, sobre as quais havia um banco e um toldinho de cobertura. Eram as bici-táxis e, por dois soles o “frete”, nos deixaram num pequeno terminal de fundo de quintal.

Tivemos sorte, pois havia uma condução que iria à La Paz pelas duas horas da tarde. Pagamos os cinco soles ao motorista, colocamos as mochilas sobre o veículo e entramos na autolotação, podendo escolher os assentos por haver poucos passageiros naquele momento. Sentamo-nos atrás do banco do motorista, por ali ser mais espaçoso.

 

Duas horas passada e nada de sairmos. Duas e quinze. Nada ainda. Já estávamos impacientes, com fome e suando. Como sempre, só partiria assim que tivesse passageiros suficientes para valer a pena a viagem. “Bem-vindos à Bolívia.”

Duas e meia. Finalmente partimos. A viagem para La Paz transcorreu sem incidentes, parando apenas uma vez em um posto da polícia rodoviária para averiguações nos documentos. Como éramos os dois únicos estrangeiros na lotação, tiveram que demorar mais conosco enquanto todos esperavam no veículo não sendo feita verificação alguma com eles. Mesmo assim, logo que partimos, alguém correu atrás da autolotação e constatamos que era um passageiro que foi comprar algo para comer e não percebeu a sua partida.

Chegamos em La Paz às quatro horas da tarde. Mas o fim da linha foi em El Alto. Estávamos no mínimo a uns vinte quilômetros do centro da capital.

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  • 1 mês depois...
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Olá amigos, seguimos com a história:

 

RESUMO 12 - Retorno a La Paz

 

OBS.: lamento por não estar conseguindo mais anexar imagens, assim que der postarei como nos relatos 01 a 10.

 

Começamos a andar na lateral da extensa e movimentada avenida que serve de artéria para o escoamento da entrada e saída de veículos da cidade. Abordamos um táxi e pedimos quanto custaria até o centro. – “Trinta bolivianos!” Dispensamo-lo e abordamos outro. – “Vinte e cinco!”

Continuamos a andar. Depois de uns dois ou três quilômetros, sinalizamos para uma lotação, a qual parou. Não iria até o centro, mas chegaria na entrada da zona central por três bolivianos. Amontoamo-nos com nossas mochilas em meio aos paceños e rodamos uns dez quilômetros pela avenida. Desembarcamos ainda na mesma avenida e andamos a pé em direção a uma rodovia transversal que seguia para o centro, mas não sabíamos ainda a que distância estávamos dela.

Estava difícil de chegarmos ao nosso destino. Para piorar, um carro que deu ré sobre a calçada para entrar em uma oficina usou como rampa no cordão um pedaço de pau e, ao passar sobre ele, provocou seu deslocamento com a roda e a madeira acertou a perna do Leonel no exato momento em que passava pelo veículo. Eu havia passado um instante antes por trás e quando me virei, chamado pelo seu grito de dor, estava ele mancando e segurando a região atingida com a mão.

Fui em sua direção informar-me do sucedido. Leonel esbravejava de raiva, xingava o motorista, o qual nem deu atenção. Examinamos a perna e constatamos que não havia quebrado, mas a dor era forte e não conseguia apoiar-se sobre ela. Quis chamar um táxi para irmos ao hospital, mas dissera que não, que a dor já estava diminuindo.

 

Ficamos ali uns 15 minutos até o Leonel poder levantar-se e caminhar. Mancando e em ritmo muito lento, procuramos uma farmácia e uma condução para o centro da cidade. O Leonel ainda praguejava contra o imprudente motorista quando um taxista disse-me que nos levaria até a rodoviária por dez bolivianos.

Colocamos as mochilas no bagageiro e entramos no carro. Sentei-me na frente e, em cada curva e estreita e tumultuada rua que entrava, estranhava mais. Por fim, deixou-nos na rodoviária, mas constatamos ser uma outra qualquer daquela grande cidade. Insistimos para nos levar até a “principal”, o que custaria mais 20 bolivianos.

Discutimos e pagamos só cinco devido ao engano. Pegamos as mochilas e desembarcamos. O motorista partiu nos xingando qualquer coisa e sumiu entre os outros carros. Estávamos completamente perdidos e a dor na perna do Leonel começou a latejar, dificultando seu andar.

No mapa que possuía não constava onde estávamos. Um policial nos informou que para chegar à rodovia que levava ao centro da cidade deveríamos andar umas três quadras e tomarmos uma autolotação que fazia o trajeto.

Seguimos sua indicação e mais uma vez ficamos amontoados dentro de uma autolotação. Uma senhora insistia que pagássemos logo os três bolivianos, mas nem conseguíamos nos mexer. De tanto insistir, já estava nos irritando. Colocando a mão no bolso, puxei cinco bolivianos e um sol, o que consegui pegar, e lhe entreguei. Ela não aceitou a moeda peruana. Então Leonel lhe alcançou uma nota de dez bolivianos para compensar esse um boliviano, no lugar da minha moeda peruana. Em silêncio, trocou a nota para meu companheiro, dando-lhe o troco certo – nove bolivianos. A cobradora percebeu o papelão que fez diante dos outros passageiros que acompanharam o ocorrido em silêncio.

Passamos o pedágio e começamos a descer para dentro da cratera como da primeira vez que chegamos à La Paz. Desembarcamos na avenida em frente à rodoviária.

 

Descansamos um pouco. Avistamos uma farmácia, no qual o Leonel comprou uma pomada para batida. Seguimos a mesma rua, a Calle Armentia. Sondamos um, dois, três hostéis e todos cobravam mais do que 20 bolivianos. Encontramos uma pensão por 15 bolivianos. Assim que pegamos a chave com um recepcionista muito mal encarado, fomos ao quarto. Do lado de dentro do prédio havia um pátio interno e na sua volta, diversos pequenos quartos.

Abrimos a porta do nosso, localizado no final de um estreito corredor, a uns dois metros do solo, e encontramos um verdadeiro ninho de ratos. O quarto tinha dois e meio por três metros e apenas duas camas com um cabideiro. As camas estavam uns lixos de velhas e sujas. A porta de madeira, cheia de frestas, e, na pequena janela tinha papel aonde faltava vidro. O Leonel ficou brabo e quis ir para outro lugar, mas já havíamos pago pela diária e o recepcionista não tinha aspecto de quem devolveria o dinheiro.

Tratei de acalmá-lo e, enquanto cuidou de sua perna, saí para cambiar uns dólares na rodoviária. Consegui cambiar as notas usadas que as casas de câmbio de Cusco negaram-se a fazer. Foi a minha sorte! Quando voltei, já era quase noite e encontrei o Leonel mateando. Abrimos os sacos de dormir sobre as camas. Parecia um curral aquele quarto.

 

Acordamos pelas oito horas e fomos comprar os souvenires, conforme havíamos decidido fazer na volta. O Leonel não sentia mais tanta dor, mas o hematoma estava evidente. Era dia dois de fevereiro, sexta-feira, e um forte sol brilhava sobre a cidade.

Seguimos a rua Armentia no sentido contrário de onde chegamos e dobramos à direita na rua Pisagua, que nada mais é do que uma rua transformada em calçadão com várias sequências de escadarias, árvores e bancos que desemboca na avenida Montes, a avenida principal de La Paz.

Cruzamos a avenida e seguimos o mesmo caminho que fizemos quando fomos ao Milton. Nessas ruelas, como Sagarnaga, Limares e Gimenez, reencontramos as diversas lojas de “tudo”. Começamos a sondar preços e a pechinchar o máximo possível. Compramos blusões de lã de lhama, tapete em forma de mural da mesma lã com figuras típicas de culturas passadas, bolsas e, no Mercado das Bruxas, algumas estatuetas de argila para nossos amigos e parentes. Comprei um pequeno blusão e um chullo para o Gabriel. Não foi fácil encontrar roupinha para uma criança com menos de um ano de idade e com preço acessível.

Ainda encontramos em vários bazares artefatos históricos e pré-históricos à venda, como espadas, moedas, medalhões, pontas de flecha, entre outros. Mas o mais absurdo foi de um senhor nos abordar na rua e nos oferecer um pequeno fóssil, o qual faz parte da formação deste país, como um todo. Não aceitamos e ainda informamo-lhe que em nosso país isso dava cadeia. Rapidamente se afastou da gente.

Depois de pegarmos tudo o que queríamos, retornamos à pensão. Arrumamos nossas bagagens, botamos as mochilas nas costas e fomos embora por volta de meio-dia e quinze. Falhei em não consultar a saída dos ônibus para Cochabamba quando fui cambiar o dinheiro, mas no estado físico e mental que me encontrava no dia anterior, nem lembrei disso.

 

Chegamos no terminal. Primeiro iríamos verificar os horários, comprar as passagens e ir almoçar. Era exatamente meia hora quando descobrimos que naquele momento estava partindo uma condução para Cochabamba. Enquanto comprávamos as passagens, a funcionária mandou segurar sua partida. Corremos, colocamos as mochilas no bagageiro e embarcamos.

Não precisamos esperar e ainda havia apenas dois lugares vagos na condução. O próximo só sairia pelas sete da noite. Pagamos 50 bolivianos e viajamos pela empresa de transporte El Dorado. Por sorte, tínhamos um pouco d’água e ainda barras de cereais, as quais já estavam acabando.

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