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Trilha Inca - Diário de viagem


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Por que escolhi fazer a Trilha Inca?

Meu pontapé para essa viagem era a certeza que queria conhecer Machu Picchu. Sabia que havia várias formas de chegar até lá desde Cusco: de trem, de van, van + trem, van + caminhando 3 horas e também algumas trilhas pelas montanhas de alguns dias até chegar ao local sagrado dos incas. Depois de pesquisar bastante, me empolguei em fazer a Trilha Inca, um dos trekkings mais famosos do mundo, e por isso, bem concorrido (aqui no Peru alguns parques e sítios arqueológicos têm controle de capacidade de carga bem respeitado. Se forem vendidos os 400 ingressos da trilha inca, por exemplo, não tem choro. Acabou e ninguém mais entra. Isso exige comprar com bastante antecipação também.) Decidido! Era pela Trilha Inca que eu iria até Machu Picchu. Até aumentei a intensidade dos treinos de corrida pra criar mais resistência. A aventura (a dificuldade eu nem quis pensar) me esperava e eu queria que a chegada em MP fosse um prêmio, depois de passar por vários locais povoados por eles. O sentimento seria outro, eu tinha certeza. Quase dois meses atrás, eu comprava minha garantia da trilha para o dia 30 de novembro de 2015. Detalhe: foi uma das 3 últimas vagas. Outra era da Ju, de Recife, que me acompanhou na trip. Compramos com a agência Cusco Viajes. Recomendo! Fomos somente em 4 pessoas. Parece não ser uma agência muito popular (outras levavam quase 20 pessoas).

 

Dia anterior à trilha – o briefing na agência

No domingo às 18h deveríamos estar na agência pra receber as orientações sobre o que iríamos percorrer no dia seguinte. Entre o roteiro, o que aconteceria em cada parada, distância e altitude que subiríamos cada dia, a impossibilidade de banho nos quatro dias, tudo que deveríamos levar na mochila: roupa, lanterna, saco de dormir, bastões, repelente, snacks, e por aí vai. O maior desafio era levar o minimo possível, afinal, era eu mesmo que carregaria tudo e todos sabem que qualquer 1 kg se multiplica em muitos outros quanto se passa carregando até 7 horas por dia. A previsão era de chuva pra semana toda. Droga! Preciso reforçar ainda mais a mochila. Bateu uma tensão e acabei comprando mais uma calça cargo e camisa térmica ”

pra garantir que se molhasse, teria uma peça reserva. Hora de fazer a mochila menor possível. Reduz aqui, ali e pronto (mas ainda tá grande e pesada essa mochila. Tô ferrado!). Amanhã seria o dia de começar a parte mais esperada das três semanas de viagem.

 

Dia 1

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Às 5h da manhã nosso guia Roberto passou nos buscar no hostel. Buscamos mais um casal de holandeses (Linda e Eduard), o cozinheiro e seguimos até Ollantaytambo pra tomar o café da manhã e seguir até o KM 82 (acho tão sem graça um lugar ter esse nome, rs) onde passaríamos no controle de acesso à trilha inca e começaríamos a jornada. Como disse o Guida em Uyuni, parece que ali estourou um cano de gringo, de tanto turista estrangeiro que tinha ali. Tive vontade de gritar “Tem algum brasileiro aqui?”, porque curto encontrar uns brazucas e matar a saudade de português. Todo mundo preparando suas mochilas e capas de chuva para não se enxarcar na trilha. Chovia, mas não forte. Nem me incomodou. Estava muito empolgado pra começar. Muitos porteadores, os carregadores, preparando suas bolsas gigantes que levariam nas costas nossas comidas, tendas e barracas (fiquei com dó deles, de verdade. Era muito peso!!) Passamos pelo controle, carimbamos o passaporte pra ter o selo de passagem pelo “Camino Inca”, tiramos a tradicional foto no portal de entrada e começamos a caminhada. Sobe, desce, reto, sobe, desce, reto, sobe. Paramos pra almoçar depois de 2 horas e meia de caminhada. Abacate com creme de legumes e queijo fresco de entrada, sopa de legumes de segunda e truta, arroz e batata de prato principal, tudo (incluindo a cozinha) embaixo de uma tenda pequena, enquanto chovia lá fora. Parecia um acampamento de guerra, mas tudo estava perfeito. Seguimos depois do almoço por mais uma hora e já chegamos no acampamento do dia. Barracas montadas, banho de gato com lenço umedecido feito, tomamos o café da tarde e escureceu.

O guia disse que andamos rápido. A previsão era de andar tudo isso em 5 horas, mas fizemos em 3,5. Tô me sentindo um atleta que já pode subir o Everest. Veremos amanhã, a partir das 5h da manhã, o que as 9 horas de caminhada e muita subida, no dia mais difícil da trilha, nos esperam. Boa noite! (Wayllabamba, Peru – 30/11/2015, 19h45)

 

Segundo dia – 9h de muita subida (e chuva)

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Fomos acordados pontualmente às 5h da manhã pelo cozinheiro com um chá de folha coca na porta na barraca: “Despierten!! Té de cocaa!!”. Tomamos o chá (o gosto é péssimo, mas ajuda muito com o mal estar da altitude), arrumamos a mochila novamente, tomamos café e as 6h já estávamos com o pé na estrada, ou melhor, nas montanhas. A chuva fraca continuava e havia muita neblina e nuvens (acreditem, é muito alto) na trilha, o que nos impedia de ver o que pareciam ser paisagens incríveis no caminho.

Lá no briefing na agência nos disseram que o segundo dia seria o mais difícil, pois a subiríamos mais de 1.200 metros em mais de 7 horas de caminhada. Sairíamos dos 3.000 metros de altitude para 4.200. Além do trajeto ser bem puxado, a altitude faz com que muita gente passe mal e desista de continuar.

Voltando ao dia de hoje: ficamos das 6h às 11h subindo, subindo, subindo os 1.200 metros. Pra vocês terem uma ideia, é maior que um prédio de 400 andares. Só que com chuva, piso de terra e pedra, uma mochila de uns 8 kg nas costas e cada vez com menos ar.

Paramos pra almoçar às 12h30 e às 14h voltamos a subir (era mais íngreme que a subida da manhã, com degraus curtos e altos mas essa durou só 1h30). Depois de mais desce, sobe, desce, às 17h chegamos ao acampamento da noite.

Minhas pernas estão bem cansadas. Só não dormi ainda porque tô esperando a janta que sai às 18h40.

Fiquei um pouco chateado que choveu durante o dia todo. Umas duas vezes o sol apareceu. Ele vinha por um minuto e a chuva voltava. Acho que era tempo suficiente da água evaporar e precipitar de novo. As paisagens devem ser incríveis, mas só vimos branco, branco, branco e branco.

Tomara que amanhã saia sol. E se em Machu Picchu estiver assim? Ahh, ojalá que não!

Apesar de ser bem puxada a subida e da chuva, tô curtindo bastante. Tô muito feliz. A Ju, Linda, Eduard e nosso guia Roberto são baita parceiros!

Amanhã acordaremos às 5h30 com previsão de mais 7 horas de trekking. Tomara que saia sol. Sol! Sol! Sol! Queremos muito você!

Boa noite, com três lhamas enormes fazendo guarda (e outras cacas) na porta da nossa barraca! (Chaquiqocha, Peru. 01/12/15, 19h45)

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As visitas no acampamento

 

3° dia – saiu o sol e chegamos a Machu Picchu!

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Os parceiros da trilha: Julyana (Recife), Roberto (guia), Linda e Eduard (Holanda)

 

Dormi um tanto mal. Rolava a noite toda no saco de dormir. Era frio e a barraca estava úmida. Acordei as 4 e tantos e fiquei esperando dar 5h30 pra nos acordarem com o chá de folha de coca (gente, não é droga! É bem comum aqui e na Bolívia) na porta da barraca. Abri uma fresta da barraca e o céu estava nublado, mas sem chuva. As lhamas tinham se mandado, mas deixaram mais umas lembranças perto da nossa porta (acho que vocês entendem, né? rs). Bem no canto vi o céu azul querendo aparecer e pensei mais uma vez: tomara que saia sol!

Começamos a caminhar e a paisagem era linda!! Tudo claro, sem nuvens baixas, ainda que nublado. Montanhas e mais montanhas gigantescas e algumas com o pico nevado. Estava muito feliz e desejei que o sol aparecesse e o céu ficasse mais azul. Não deu outra: sol o dia todo! Até agradecemos pachamama pelo dia lindo. A caminhada foi menos puxada, mas não mais fácil. O cansaço acumulado vai pegando. Foi um dia cheio de ruínas incríveis, descidas e subidas (eu já não sabia qual dos dois era pior, porque descer forçava muito as pernas e o joelho pra freiar o corpo), de pensar muito em tudo na vida enquanto caminhava, de me encher de perguntas sem respostas. Foi incrível. A Trilha Inca é uma p&@% experiência!

Bebi muita água na trilha e nesse dia minha água mineral acabou. Não tem onde comprar e o jeito foi pegar do rio e ferver. Tinha um gosto horrível, mas o importante era me hidratar. Bacana que até isso é um aprendizado na trilha. Dei valor pra muita coisa que no dia-a-dia não damos bola. Não que eu reclamei de algo, mas valorizei até a água do rio que estava ali e o fogo que ferveu ela. Banheiro, privada (só tem patente na trilha) higiene, cama quentinha, tanta coisa que parece supérflua perto da experiência que estava tendo.

De manhã caminhamos 5 horas. Paramos pro almoço e seguimos por mais 2 horas até chegar a uma escada que nosso guia disse que se chama Gringo’s Killer, de tão íngrime que é. Na boa, aquilo era mais uma escalada que uma escada. Essa escada era quase o ponto final para um lugar mágico: o portal do sol, na Montanha Machu Picchu (é diferente das ruínas – fica ao redor de Machu Picchu), que daria pra ter uma visão de um dos lugares mais famosos do mundo. Cheguei no portal com o coração saindo pela boca, mas ao ver Machu Picchu, soltei um: “Cheguei!!!!” Pouca gente estava lá, mas percebi que duas pessoas riram de mim. Acho que viram minha cara de sensação de vitória. Que lugar mágico!! É lindo demais! Acho que foi uma das, senão a, paisagem mais linda que já vi na vida. Uma infinidade de montanhas verdes e gigantescas (que naquela altura toda eu tinha subido e descido nos últimos dias), um rio lá embaixo, pessoas que pareciam menores que formigas, um céu azul lindo e lá no meio, o local sagrado dos incas, com sua grama verde brilhante e beleza imensurável. Fiquei muito emocionado e feliz de estar ali. Descemos e fomos para nosso alojamento (Oba! Aqui tem cama e chuveiro quentinho).

Amanhã vamos visitar Machu Picchu oficialmente. Tô bem ansioso, feliz e satisfeito por ter feito a trilha inca. (Águas Calientes, Peru. 02/12/2015, 20h)

 

4° dia – Machu Picchu!!

Às 5h acordamos com muitas dores nas pernas (especialmente panturrilhas e joelhos) e havíamos decidido que subiríamos a Machu Picchu de onibus, porque mais uma hora de subida a pé, nas escadas, ferraria com os cambitos. Eu ainda iria subir Waynapicchu, uma montanha alta que precisa comprar ingresso separado. 6h já estávamos em Machu Picchu e havia muita neblina. O sol foi chegando com força e mostrando aos poucos a dimensão e beleza da cidade sagrada. Fiquei sapateando por lá e descobrindo tudo que existia por lá antes do século XV, quando foi abandonada. Incrível como quando a gente conhece toda a história, esses lugares têm outro significado, com um valor imensurável. Encanta! MP realmente tem uma energia muito forte. Me senti muito bem admirando tudo aquilo e esqueci que minhas pernas doíam.

Perto das 10h foi pra entrada de Waynapicchu pra começar a subida. É uma das montanhas mais altas em volta e só 400 pessoas podem subir por dia. Há divisão dessas pessoas em dois horários de entrada.

Acho que estar ali me deu tanta vontade de ver MP de cima que subi no pique, como se fosse a primeira atividade esportiva da semana. Em uns 30 minutos eu estava lá em cima pirando na paisagem. Subi sozinho, mas haviam mais turistas lá no topo já. Fui para um canto, me sentei na beira de um penhasco e fiquei admirando tudo aquilo que via. Indescritível. Passou um filme na minha cabeça fazendo a retrospectiva dessa viagem que já está chegando ao fim. Senti muita gratidão por ter a oportunidade de conhecer tantos lugares maravilhosos e por estar ali, num lugar tão forte. Desejei meus amigos e família ali ao meu lado abraçados, pra compartilhar tudo que eu sentia. Andar os 4 dias pela trilha inca e chegar ali era mais que recompensador: era chegar em Machu Picchu com chave de ouro!

 

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No alto da montanha Waynapicchu. Lá embaixo, a cidade sagrada de Machu Picchu

 

Estou muito feliz! Muito!! ::hahaha::::hahaha::::hahaha::

 

Nota mental: fazer mais e mais trekkings na vida.

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  • 4 semanas depois...
  • 3 meses depois...
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Olá! Que lindo seu relato! Por favor, você poderia me ajudar com algumas informações? Farei a trilha em setembro com meu marido e queria uma ajuda com algumas dúvidas...

- tem ideia de quanto gastou em dinheiro por lá? quanto aconselha levar em dólar (ou levou real mesmo)?

- há algum trecho em que você tenha ficado com medo de passar/subir/descer e efetivamente morrer? kkkakakkakakakakak (me explico: tenho medo de altura e estou trabalhando para não ter mais, e não quero travar em um local em que não consiga me segurar para passar/subir/descer...)

- pode indicar o hostel que ficou em Cusco?

- a barraca em que vamos dormir nós levamos ou são os guias? o que você levou na mala (em termos gerais, não precisa ser tãooo específico)?

 

Muito obrigada! Grande abraço!

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  • 5 meses depois...

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