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Trekking dos 3 passes - Acampamento Base do Everest - Nepal


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De longe um dos meus países favoritos, Nepal surpreende pela exuberância de suas montanhas e pela harmonia com que seu povo se adaptou à vida nos Himalaias. Cheguei à capital Kathmandu e logo senti a diferença para a Índia: sem muita amolação, tudo fluindo de forma mais fácil e rápida e até pra conseguir informações estava mais fácil. Curti a capital por três dias e logo rumei às montanhas sagradas. Fui de Jipe: estava bem mais barato e não tinha o risco de enfrentar o aeroporto mais perigoso do mundo: Lukla. Diga-se de passagem, a aviação no Nepal é uma roleta russa, nenhuma das companhias aéreas locais tem autorização para operar na Europa e pegar um avião por lá é sempre um tiro no escuro. Mas a aventura por terra foi igualmente emocionante. Uma viagem de 20 horas por locais em que não havia sequer estrada e com diversas travessias de rios. Estávamos em 13 num carro que era pra apenas nove pessoas e ainda pegamos um protesto de 1 hora na estrada. Vale a pena. Chegamos já de noite e após a refeição descansei bastante para o início da trilha no próximo dia. A partir daqui irei descrever a trilha que eu fiz até o Acampamento Base do Everest (EBC) com detalhes do percurso incluindo locais e tempos estimados.

 

Com uma mochila pesando 25 kg, um mapa e bastante determinação comecei a trilha rumo ao EBC. A trilha começa em Faplu, onde termina a estrada para os carros e começa a trilha para os Yaks (boi tibetano) e para os Sherpas (povos que vivem nos Himalaias, atualmente trabalhando como carregadores e guias das trilhas). Para entender a trilha, veja o mapa abaixo com o roteiro aproximado que eu fiz. A trilha do mapa começa em Lukla, mas eu comecei em Faplu, há dois dias caminhando de lá. O circuito que eu fiz envolve três passes, Kongma la, Cho La e Renjo La, cada um tem uma atitude aproximada de 5400 metros, sendo que o acampamento base fica depois do primeiro passe caso o trilheiro opte pela direção leste-oeste.

 

Optei como sempre por ir sem guia e sem carregadores, não consigo ver o mérito de subir uma montanha com alguém carregando sua mochila e te guiando, isto corta toda a magia de percorrer uma trilha, mas é apenas a minha forma de ver e há casos e casos. Comecei às 8h saindo de 2600 metros aproximadamente rumo à Juving. No caminho encontrei apenas um grupo de romenos e um casal ucraniano. A trilha é bastante óbvia e não há como se perder. Muitos locais vivem por lá e podem te ajudar caso haja necessidade. Não é preciso levar muita comida, já que toda noite dorme-se em uma pensão já com o jantar incluso, tampouco é necessário barraca, apenas um saco de dormir que nem precisa ser para inverno, já que as casas são bem abrigadas do frio.

 

Era maio de 2013, quase início do verão por aqueles trópicos. De dia, bermuda e camiseta eram mais do que suficientes, à noite, uma jaqueta e uma calça davam conta do recado. No 2º dia encontrei como sempre um francês, Antona, e um sueco, Magnus, que também estavam indo rumo ao EBC e nós acabamos indo juntos. Com o nosso ritmo forte, a trilha rendeu bastante. No segundo dia caminhamos 11 horas até Choplung, bem abaixo do temido aeroporto Lukla. Outro fato interessante de Lukla é que como ele está localizada no seio dos Himalaias, não há serviços de táxis ou ônibus, de lá só se sai a pé ou de helicóptero. É um dos poucos aeroportos que eu conheço neste sentido.

 

O 3º dia foi mais tranquilo até Namche Bazaar, principal centro comercial da região, que fica a 3400 metros e é o último ponto onde se pode desfrutar de lojas, padarias, restaurantes, bares e até clubes. A partir dali, somente abrigos dos nativos montanha acima. Tudo que precisa ser comprado tem que ser ali: equipos, eletrônicos, suprimentos etc. Incrível que não há estradas até lá, tudo é carregado nas costas dos Sherpas ou no lombo dos Yaks. A estrada mais próxima fica a 3 dias dali, justamente onde eu comecei a trilha. Descansei um pouco da intensa caminhada e até tomei um conhaque com Gal de Israel que havia desistido da trilha.

 

No dia seguinte saí mais tarde rumo à Tengboche, Antona e Magnus optaram por um caminho mais longo que eu decidi não ir. A 3800 metros fica um dos monastérios mais famosos do Nepal, onde Rimpoche, líder do budismo tibetano, costuma realizar suas cerimônias. Eu tive a honra de participar de uma delas e de andar lado a lado com ele no final dela. Uma sensação única ouvir os mantras emanando da boca de todos aqueles monges a quase 4 mil metros de altitude. Aquele momento foi sem dúvida o cume espiritual da trilha. Na Guest House, vi fotos e assinaturas de brasileiros que subiram até o topo do Everst, maior montanha do mundo. Até hoje, pouco mais de 10 brasileiros chegaram até o pico e em 2014 todas as expedições foram canceladas devido à morte de 16 sherpas no Khumbu Ice fall, umas das partes perigosas da ascensão.

 

No 5º dia segui até Chukung onde reencontrei o francês e o sueco. Ficamos em um abrigo a 4800 metros. Como tinha feito um trekking no Markha valley, norte da Índia, 10 dias atrás, não senti qualquer efeito da altitude. Cheguei quase de noite e como estava bem aquecido, tomei um banho gelado do lado de fora do abrigo pra espanto geral. Foi apenas um banho rápido hehe. Mais tarde joguei xadrez com um israelense, Avi, e logo fui dormir. O dia seguinte consistiu em um ataque ao Chukung Ri, a 5500 metros aproximadamente. Acabei se desencontrando dos dois e perdido por 2 horas pela montanha voltei ao abrigo. Peguei mais informações e novamente fiz o ataque, dessa vez, encontrei o caminho certo, só que já estava tarde e eu fui o último a subir. Os ventos fortes e a rápida mudança de tempo são características de lá, mas tudo foi tranquilo. De volta ao abrigo recarregamos as baterias e no 7º dia então partimos rumo ao acampamento base.

 

De fato há um abrigo chamado Gorak Shep, 200 metros abaixo do EBC onde os trilheiros passam a noite. A trilha até lá partindo de Chukung envolve o primeiro passe Kongma La a 5500 metros. Com mochila pesada, a subida parece interminável. Levamos 4 horas até a passagem e de lá mais duas horas por uma dura geleira até Lobuche. Almoçamos bem, descansamos e seguimos finalmente para Gorak Shep. Mais 2 horas de caminhada e finalmente chegamos ao último abrigo do circuito. O local conta com chuveiro elétrico, internet, aquecimento e quartos para os trilheiros. Tudo isso é pago à parte, eu optei por banho gelado e não fiz questão de internet. Lá conversei com um grupo de estadunidenses que tinham pago de 2 a 3 mil dólares pela trilha. Nós, se gastamos 200 dólares cada no total, foi muito. Esta é uma outra vantagem de ir sem guia e sem carregadores, os custos vão lá embaixo, mas isto é uma questão delicada e cada um deve decidir o que é melhor pra si.

 

O 8º dia foi o coroamento, acordamos antes do sol nascer e rumamos então para uma montanha chamada Kala Patar, de onde se tem uma vista privilegiado do Everest e do EBC. Chegamos ao topo em uma hora e após a celebração e dezenas e dezenas de fotos voltamos ao abrigo para o café da manhã. Após recarregar as baterias seguimos finalmente para o acampamento base onde milhares de barracas disputam espaço no gelo, bem próximo de onde começa a rota de ascensão até o cume. O interessante é conversar com quem está ali e com quem acabou de voltar do pico. De lá são “apenas” mais 3 mil metros até o topo do mundo. Quem quiser se aventurar, além de precisar de muita experiência também precisa de muito tempo e dinheiro: o preço gira em torno de 100 mil reais e leva-se no mínimo 2 meses para realizar o feito. Um dia, um dia!

 

Voltamos ao abrigo, arrumamos as coisas e partimos em direção a Dzonghla, via Lobuche. A trilha foi árdua já que o tempo virou e ventava muito forte. Ficamos perdidos por 30 minutos, mas acabamos por encontrar o caminho. A trilha principal vai de Namche Bazaar até Gorak Shep, já a trilha dos 3 passes conta com partes menos batidas e mais fáceis de se perder, por isso, mapa, GPS e um forte senso de orientação são fundamentais neste roteiro. Chegamos quase à noite e Antona pensou em passar o dia seguinte descansando, mas depois mudou de idéia. No 9º dia então seguimos para Gokyo pelo 2º passe Cho La a 5400 metros. Mais um dia de longa caminhada que rendeu no total 12 horas até o abrigo. Para celebrar comemos Yak Steak e tomamos muito, muito chai. Meu lugar favorito de todo o circuito, o lago Gokyo é impressionante. Os abrigos ficam de frente pra ele. Na verdade são sete lagos que são considerados sagrados tanto para o budismo quanto para o hinduísmo e no dia seguinte fizemos uma curta caminhada até o quarto lago chamado Thonak Tso. Então topei o desafio de Antona e mergulhei nele por 1 minuto. Gritando de alegria e de frio, foi um verdadeiro batismo nessas águas sagradas. De lá eu segui sozinho para o quinto lago onde fiz uma meditação. Voltei para o abrigo e descansei. A noite fizemos uma celebração de despedida já que no dia seguinte eu voltaria direto para Namche enquanto Magnus e Antona ficaria mais um dia por lá.

 

Levantei cedo no 11º dia preparado para o terceiro e último passe chamado Renjo La a 5400 metros. Já devidamente aclimatizado, não tive maiores problemas e caminhando por mais 10 horas cheguei então a Namche Bazaar a 3400 metros, onde pude celebrar com um casal estadunidense o sucesso do circuito. De madrugada fomos a um bar onde conversei com Paul que tinha acabado de voltar do pico e me contou um pouco da sua missão. No penúltimo dia segui então de namche até Bupsa em mais 11 horas de caminhada por uma trilha alternativa. Ironicamente, foi o dia que mais exigiu de mim fisicamente. Mesmo estando em altitudes médias de 2 a 3 mil metros, essa trilha alternativa sobe e desce verdadeiros penhascos e mesmo com a mochila mais leve, o esforço físico necessário foi tremendo. Além disso, por ser pouco usada, ela conta com 2 pontes velhas de madeira, quase caindo aos pedaços, e a passagem por elas é uma roleta russa. Esse caminho alternativo é pra quem gosta de emoção. No último dia então segui de Bupsa até Faplu em mais 12 horas de trilha. De lá peguei o velho Jipe que dessa vez foi em 2 dias com uma parada à noite pro motorista descansar. Se antes não havia estrada, o que tinha ficou completamente destruído pelas chuvas. Ficamos horas parados esperando pelos tratores limparem a via, pelo menos havia tratores hehe e não tivemos que cavar a estrada como na Índia. Cheguei em Kathmandu ao meio-dia com uma mulher ainda dentro do jipe vomitando nas minhas costas hehe, por que não?

 

O Circuito dos três passes do acampamento base do Everest durou 13 dias em um ritmo bastante forte. Foi sem dúvida a trilha mais prazeirosa que eu já fiz (a mais difícil foi o Kilimanjaro até então) e pra quem gosta de trekking, aquele lugar é a Meca. Os gastos foram mínimos: contando o Jeep, os abrigos e a alimentação gastei menos de 200 dólares. Quem quiser fazer os três passes em um tuor com guia e carregador não pagará menos de 4 mil dólares. Minha dica é: se você está decidido a ir em um tuor, reserve tudo em Kathmandu e não daqui do Brasil ou de outro país. Nepal tem outros circuitos interessantes como o Annapurna, mas conversando com quem fez os dois, a preferência vai sempre para o EBC. Se puder fazer os dois, melhor. Há também centenas e centenas de monastérios onde se pode ficar meses em meditação vivendo com os monges. Enfim, é um país para sempre se voltar na minha opinião.

 

De Kathmandu peguei um voo até Bangkok ou Banguecoque no brasileirês. Após esses vários trekkings realizados, era tempo de descansar um pouco, mas só um pouquinho. Conto na próxima.

 

Lucas Ramalho

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Editado por Visitante
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  • 4 semanas depois...
  • 1 ano depois...
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Muitaspessoasfazemestapergunta: qual é a sensação de escalar o Monte Everest? Porque as pessoaspagamtantodinheiro e encaramestedesafio para passarapenasalgunsmomentos no topo do mundo? Sinceramente, estapergunta é algomuitopessoal e dependemuito de cadapessoa. Porémquasetodomundo que teve a experiência de escalar a montanhaadmite que estasensaçãonãopodesercomparada com nada mais no mundo.

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  • 1 mês depois...
  • 2 semanas depois...
  • 3 semanas depois...
  • Membros

Estou de passagem comprada para a Índia, dia 4 de outubro e irei até o Nepal fazer essa trilha também.

da mesma forma que você, solitário.

Você sim é mochileiro, quem viaja com agencia guia e essas frescuras é turista, quem critica não sabe do que esta falando.

 

Tem alguma dica útil???poderia passar algum contato? abraço

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