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Travessia do Canyon do Travessão, ponta-a-ponta, solo!


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[align=center]O Canyon do Travessão.

 

O canyon do Travessão está localizado no Parque Nacional da Serra do Cipó. Trata-se de uma enorme “fenda” que rasga a Serra do Espinhaço na direção leste-oeste. Na mediana do canyon existe uma porção mais alta, que é o divisor natural das bacias dos rios São Francisco e Doce. Como nesse ponto é possível atravessar o canyon na direção norte-sul, ficou conhecido como Travessão, explicando assim a origem do nome do canyon. O acesso ao Travessão é relativamente simples, através de uma trilha de cerca de 9km a partir do alto da serra. No entanto, cruzar toda a extensão do canyon é tarefa árdua e perigosa, como será relatado a seguir.

 

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Esboço grosseiro da travessia, (meramente ilustrativo)

 

Iniciei a aventura a noite, as 20:15h peguei o ônibus na rodoviária de BH com destino a Serra do Cipó. Cheguei as 23h, as ruelas estavam desertas e não havia ninguém a quem eu pudesse pedir qualquer informação. Meio intuitivamente fui a procura da portaria do parque, era lua cheia e dava pra ver a silhueta do canyon ao longe, então segui pelas ruas indo na direção do canyon. Naquela região tem casas e pousadas com grandes quintais cheios de cachorros que não hesitam em latir, e foi em frente uma dessas casas que encontrei uma pequena placa indicando a portaria. Seguindo essa estrada, passei por um loteamento que não tinha nenhuma casa ou cachorro, como já era quase meia noite, acampei por ali mesmo.

 

Dia 1: De Cardeal Mota até o Travessão.

 

Como queria cruzar a portaria o mais cedo possível, levantei as 6:00h, arrumei tudo e segui para o parque, deixando para tomar café mais tarde. As 7h cruzei a portaria, e um pouco mais a frente, parei pra tomar café.

 

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Início da trilha, após a portaria do parque.

 

Esse primeiro trecho é bem tranqüilo, a trilha é muito batida já que muitas pessoas passam por lá. A direita tem-se a cabeceira da serra das Bandeirinhas, e em seguida, a da Farofa. Pela trilha encontrei um besouro rinoceronte, que é famoso por ser considerado um dos animais mais fortes do mundo, podendo carregar até 850 vezes o seu peso.

 

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Besouro Rinoceronte.

 

As 8:50h cheguei na cachoeira do Gavião, que é última queda do rio Congonhas. Seguindo adiante, a trilha fica mais fechada, passando por uma moita de samambaias e capim gordura. No caminho tem uma pequena cachoeirinha na lateral esquerda, onde saí da trilha alguns metros para bater algumas fotos. Ao fim da trilha, chega-se a bela cachoeira do Tombador, que possui dois excelentes poços. A esquerda da cachoeira é um paredão totalmente vertical, já a direita é mais inclinado, e é por aí que eu seguiria.

 

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Cachoeira do Gavião.

 

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Cachoerinha.

 

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Cachoeira do Tombador, "ponto final" da trilha.

 

Atenção: a partir desse ponto o grau de dificuldade é altíssimo, e não é recomendado para iniciantes ou inexperientes em trilhas em mato fechado. Estou deixando explícito pois fui recomendado por alguém que tentou reproduzir uma travessia e se surpreendeu com a dificuldade.

 

Após um lanche, dei início a etapa mais difícil do dia, que é totalmente sem trilhas, no mais puro vara-mato. Depois de escalaminhar o paredão, pode-se observar o canyon até a garganta do travessão. Entre pedras e arbustos segui pela lateral até chegar ao topo da cachoeira, de onde tem se a visão dos dois belos poções da Tombador.

 

Agora era seguir alternando entre margem e pula-pedra. Eu estava usando uma bota com solado novo, e não estava familiarizado com “grip”. Na primeira pedra molhada que pisei já escorreguei, e enquanto a perna entrava rio a dentro, a canela foi com tudo numa quina de pedra. Doeu demais, vi até estrelas, e olha que eu pisei com cuidado, mas não esperava tão pouco atrito assim. Fiquei algum tempo sentado, esperando estabilizar a dor, depois segui em frente (ps: minha canela ficou mais de um mês dolorida, hahahaha). Depois do ocorrido fiquei esperto com a bota, que apesar de estar comportando bem em terreno seco, se mostrou nada confiável em pedra molhada.

 

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Destino.

 

Ataque a cachoeira Fantasminha.

 

Continuei subindo o rio até avistar a cachoeira Fantasminha. A princípio, minha intenção era atacar a apenas a Fantasma, mas resolvi ir a procura dessa também. Deixei a cargueira no leito do rio e adentrei a mata na margem do rio. Após atravessá-la, cheguei a um matagal da minha altura. Enquanto dobrava o mato no braço, pude ver uma cobra verde bem a minha frente, ela estava com a cabeça escondida entre algumas folhas e tinha cerca de 70 cm. Bati o pé no chão e ela imediatamente subiu na vegetação, ficando praticamente na minha altura, porém “apontada” para direção contrária de onde eu estava. Mexi mais um pouco, e então ela se virou e ficou me encarando, por ela estar um pouco longe, não consegui tirar uma boa foto. Como ela já tava de olho em mim, a deixei em paz e segui adiante.

 

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Cobra verde.

 

Ao meio dia, cheguei na base da Fantasminha, e ao mesmo tempo em que apreciava a bela queda, também já procurava uma forma de subir para o “andar” de cima. Com uma certa dificuldade escalei a lateral, chegando então a cachoeira seguinte, chamada “Cachoeira de Deus”. Essas cachoeiras podem ser consideradas cachoeiras “selvagens”, já que não existem trilhas até elas e seu acesso é feito via vara-mato. Além disso, não vi rastros ou sinais de que alguém tenha as visitado recentemente.

 

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Cachoeira Fantasminha.

 

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Cachoeira "De Deus"

 

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Belo poço da cachoeira de Deus.

 

Não fiquei muito tempo por lá, já que ainda tinha muita coisa pela frente. Voltei ao rio e segui subindo, até chegar a um descampado bem próximo à “garganta do travessão”. Novamente deixei a mochila à sombra e proferi um ataque a cachoeira Fantasma. Achei que seria fácil, e andaria a maior parte do tempo sobre vegetação rasteira, no entanto a vegetação era alta e fechada, o que me fez seguir lentamente e sem visibilidade. O tempo todo eu fiquei com a impressão que existia um caminho mais fácil, mas por estar imerso naquele mar verde, não tinha noção pra qual lado era melhor desviar. Nessa situação, o ideal era subir em algum lugar alto. As árvores somos nozes eram baixas e frágeis, apesar disso, juntei umas 3 e fui subindo. Enquanto eu subia, elas envergavam, mas ainda assim consegui ver que realmente não tinha nenhum caminho melhor, tava tudo igual e o jeito era seguir em frente dobrando o mato no braço.

 

O tempo era limitado, já que eu ainda deveria voltar até a cargueira e continuar até o Travessão. Mas no ritmo que estava não conseguiria chegar a cachoeira e voltar a tempo. Não tinha levado água, e estava com muita sede, no meio daquele matagal comecei a ouvir o barulho de água, parecia pouco, mas já daria pra matar a sede. Continuei mais um pouco e logo encontrei uma vala profunda com um pequeno filete de água dentro. Descer dentro da vala foi complicado, já que suas laterais eram quase verticais e mediam cerca de dois metros. Após me abastecer com água fresca, segui o caminho de volta, chegando na mochila as 15:30h, que era o horário limite que havia estabelecido. Acredito que se não tivesse ido a Fantasminha, teria tempo suficiente para chegar até a Fantasma, mas ainda assim não achei que foi uma má troca, a Fantasma que me aguarde.

 

De volta a margem do rio, fiz um lanche enquanto descansava e logo continuei adiante, pulando pedras. Tive que me deslocar com muito cuidado, pois tudo ali era úmido e cheio de lodo. Além disso, tinha o problema da bota, que estava escorregando demais. No caminho existem algumas pedras grandes, que exige algum esforço para vencê-las. Já bem adiante, o rio desaparece, sendo necessário se embrenhar pelo mato. Depois de algum tempo, chega-se ao Lago da Garganta, que fica onde os paredões se afunilam, deixando a passagem mais estreita. A partir desse ponto é uma questão de gosto, se você prefere um lugar mais plano e com muito mato, vá pela esquerda, se prefere um lugar mais pedregoso e íngreme, vá pela direita. Em ambos os casos, a caminhada fica mais difícil, embora eu tenha preferido ir pela direita.

 

Cheguei ao Travessão as 17:15h, ainda era cedo e deu para montar acampamento tranquilamente. Posicionei a barraca o mais próximo possível do canyon, para que eu pudesse ter um belo visual. Depois desci até a cachoeira do Paiolinho, para pegar água e tomar banho em seu belo poço. Já a noite, fiz um miojo e adicionei sardinha ao molho vermelho e batata palha, além do tradicional suco em pó, logo em seguida fui dormir.

 

Dia 2: Descendo rumo ao inexplorado.

 

O dia seguinte amanheceu com algumas nuvens no canyon. Levantei por volta das 7:30h, tomei café e bati algumas fotos. Não sei o motivo, mas estava com muita preguiça e desânimo, por isso fui fazendo tudo lentamente. Por volta das 9h, finalmente terminei de arrumar a mochila.

 

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Travessão pela manhã.

 

Comecei a andar em direção ao poço do Furô, no rio do Peixe. Minha intenção era descer seguindo seu curso, pra ver o que tinha de interessante por ali. Um dos grandes problemas dessa parte era a inclinação da descida, era muito íngreme e parecia um tobogã, o outro era a minha bota, que escorrega igual quiabo. Além disso, estava tão desanimado que pensei até em finalizar a travessia pelo caminho tradicional do Travessão. Mas eu me conheço e sabia que era só preguiça, bastava continuar que animaria novamente.

 

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A missão era chegar ao fim do canyon.

 

Fui descendo por aqueles paredões cuidadosamente. Esse trecho foi perigoso, e escorregar significaria descer chiando lajeado a baixo. Não havia necessidade de passar por ali, fui por curiosidade, para explorar cada canto daquele rio. No caminho, passei no pequeno poço, com uma formação rochosa que lembrava um dente de serra, e após ele rio se encaixa numa fenda a esquerda, fazendo até uma pequena cachoeira inclinada. Um pouco mais a frente, o rio se encontra ao enorme paredão e desce até o colo do travessão. Mais uma vez, exige-se muito cuidado para descer, devido aos lajeados inclinados. Nessa parte, passa-se em um belo poço de águas calmas e pedras claras no fundo, o qual reflete a paisagem como um espelho.

 

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Poço dente de serra.

 

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"Cachoeira" inclinada.

 

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Cachoeira espelhada.

 

Depois de descer no meio de um monte de pedras soltas e mato, cheguei na mata bem no fundo do canyon. Varei mato e segui descendo pelas pedras.

 

Desse ponto não havia mais volta, agora era seguir a diante e torcer pra não chover. Acreditava que em no máximo dois dias eu chegaria até a outra ponta, e dessa forma, dormiria uma noite dentro do canyon, restava saber como, já que ali não tinha lugar nem pra pisar direito. Já estava super animado, e principalmente, determinado. Fui seguindo rio abaixo, do jeito que dava.

 

As 12:30h cheguei ao Poço do Andorinhão, com a cachoeira homônima. O poço é enorme, mas diferentemente do que imaginava, não é tão profundo, já que está preenchido com muitas pedras. Continuando, tive que passar em vários trechos com água até cintura, alguns pontos o rio é fundo, e tive que varar mato nas margens. Em um dado ponto, o rio se estreitou, devido a uma pedra vertical a esquerda, e como era muito fundo, tive que passar agarrado em arbustos pela direita.

 

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Cachoeira do Andorinhão.

 

Após esse trecho, os paredões das laterais foram diminuindo, e o horizonte se expandindo. O sol ainda reluzia, e enquanto caminha a todo vapor, me deparei com uma cobra, quase pisei nela. Ela estava sobre as pedras, se aquecendo ao sol. Mesmo eu bem próximo, ela não se intimidou, tirei algumas fotos e segui adiante.

 

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Na lateral direita, notei um pequeno afluente, ao explorar, encontrei uma modesta cachoeira com um pequeno poço. Sua queda formava um filete esbranquiçado, parecendo o rabo de um “Rabo de Prata” (uma ave de porte médio).

 

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Cachoeira Rabo de Prata.

 

O salão das gêmeas.

 

Alguns minutos a frente, uma fenda no paredão a direita me chamou a atenção, não era muito larga, mas saía um bom volume de água. Tentei entrar, mas era muito fundo e não dava pra ir andando. A curiosidade era grande, e eu tinha que saber o que havia no fim, então tirei a cargueira e as botas e segui nadando por entre as paredes estreitas e sinuosas. Por ser muito estreito, entrava pouca luz e era bem escuro, isso dava um certo “frio na barriga”, principalmente por estar nadando, sem ter como reagir. Mas isso era bobagem, afinal, o que poderia acontecer? Segui por uns 100m, e no fim tive uma grande surpresa, um grande salão com um belo poço, e duas cachoeiras lado a lado, pareciam gêmeas. Foi muito legal, como se tivesse encontrado um tesouro, fiquei realmente impressionado com o lugar. Voltei para buscar a câmera, então improvisei um saco de estanque com sacolas e coloquei debaixo do chapéu. Então fui lá uma vez mais, para tirar as fotos.

 

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"Corredor".

 

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Cachoeiras Gêmeas.

 

Já passava das 17h, e já era hora de começar a procurar um local para acampar. Já tinha saído do canyon, ou seja, o que tinha planejado para dois dias, já tinha terminado em apenas um. Continuei um pouco mais, e então saí do rio pela esquerda, foi aí que encontrei uma trilha, até bem larga. Como cabia a barraca e era plano, montei acampamento ali mesmo. Aproveitei os últimos minutos de luz para dar uma nadada em um dos poções do rio, depois esquentei uma feijoada e comi com batata palha.

 

Dia 3: Até Cabeça de Boi pelo emaranhado de bifurcações .

 

Depois de uma noite tranqüila as margens do Rio do Peixe, e com a parte mais incerta da travessia completa, bastava apenas chegar a Cabeça de Boi. Tarefa aparentemente simples, no entanto, eu não tinha levado carta topográfica ou qualquer outro tipo de mapa, apenas a bússola. Era tudo que eu precisava para ter um pouco mais de emoção nesse dia.

 

Após o tradicional café da manhã com sanduiches e café solúvel, desmontei a barraca e organizei tudo na mochila. Antes de seguir a diante, voltei um pouco pela trilha para ver onde dava, a trilha estava muito fechada e parece que faz muito tempo que ninguém passa por ali.

 

Por volta das 9h dei inicio a pernada final. Em poucos minutos de caminhada já tive que cruzar o rio. Do outro lado encontrei uma bifurcação, uma trilha seguia direto, no plano, e a outra subia a serra. Era óbvio que deveria seguir reto, mas... e seu eu subisse, onde será que eu chegaria? Será que tinha algo de interessante por ali? Bem, tenho um problema sério com esse tipo de coisa, não consigo ver uma bifurcação sem me coçar de vontade de segui-la, e muitas vezes eu vou, pelo menos um pouco, pra tentar entender o destino da trilha.

 

Como ainda era cedo, resolvi explorar a tal trilha. O início foi promissor, estava bem visível e fácil de seguir. Mas depois de algum tempo subindo, passei por uma pequena floresta de árvores retorcidas, onde a trilha se confundiu com o próprio solo. Fiz algumas investigações e a achei novamente, no entanto, logo à frente a trilha se reduziu a um rastro. Ainda segui até chegar a uma área mais plana, como se fosse um platô, onde desapareceu completamente. Deixei a mochila no chão e dei uma sondada ao redor, mas a trilha não estava tão obvia. Nesse ponto já deu para perceber que a trilha no máximo cruzaria a serra. Dei-me por satisfeito e desci de volta a trilha principal.

 

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Diversidade.

 

Não andei muito tempo na trilha e já comecei a ouvir barulho de cachoeira. É claro que não ia ignorar o “chamado”, joguei a mochila na beira da trilha e me embrenhei no mato a procura da fonte sonora. Depois de um vara-mato com arranha-gato, ribanceira e uns formigueiros, cheguei a cachoeira. Tinha uma bela queda, mas fiquei encantado mesmo foi com o poço, com uma grande parte rasa com pedras claras que refletia a luz do sol e dava um efeito visual incrível.

 

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Cachoeira Encantada.

 

Depois de aproveitar a cachoeira, voltei pelo mato até a trilha, peguei a mochila e segui adiante. Nó relógio, 11:20h, já havia gasto um bom tempo e tinha me deslocado pouco, não podia fica enrolando já que não conhecia o caminho e não possuía nenhum mapa para me orientar.

 

Cruzei o rio do Peixe mais duas vezes, e na segunda, fiz uma parada para lanche. Nesse ponto existe um poção, e um dos mais belos visuais do Travessão. Esse é um fato interessante por se estar a leste do Travessão, mesmo de muito longe se pode vê-lo nitidamente entre os paredões do canyon.

 

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Travessão no centro.

 

Ao fim do lanche, passei por um trecho de mata ciliar e cruzei o rio mais uma vez, chegando a uma pequena casa abandonada. A partir da casa, segui uma estradinha precária, que por sua vez deu em uma estrada mais batida, aparentemente a principal. Depois de uns 20mim nessa estrada, surgiu uma encruzilhada com um pequeno trevo, segui a direita pela estrada menos usada, que logo se bifurcou, surgindo uma estrada ainda mais abandonada, a qual tomei. Essa estradinha foi afunilando e acabou se tornando um trilha, finalizando num descampado.

 

Passei direto pelo descampado, seguindo ao sul, cheguei mais uma vez ao rio, não vi sinal de trilha do outro lado, então voltei e tentei a leste, enquanto isso, uma manada de bois começou a me seguir, novamente cheguei no rio, já que ele fazia uma curva. A margem do outra lado era pedregosa, e se caso o caminho fosse por aí, só indo lá pra descobrir. Antes de atravessar o rio, queria ter certeza se não existia um caminho evidente, por isso, fui olhar a oeste também, os bois voltaram me seguindo. A oeste, encontrei uma trilha, entrei em um pequeno trecho de mata até chegar no rio (o rio é onipresente, tipo isso), do outro lado, algo que parecia muito uma trilha. Concluí que minhas chances eram maiores se atravesse nesse ponto.

 

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Sendo perseguido por fãs.

 

Do outro lado, a trilha realmente continuava, bem fraca, mas logo cruzava outra, mais batida, segui essa mais batida a esquerda. De repente, comecei a descer e cheguei no... rio? Não, era um outro córrego (mas na hora eu assustei), atravessei o córrego e cheguei em um local com lenha empilhada, e algumas árvores cortadas. Segui a trilha que havia por ali, comecei a subir a serra numa direção duvidosa, e deixei a trilha na primeira bifurcação na direção que eu queria ir. Atravessei um córrego, que ficava numa piramba, e em seguida uma moita de samambaias, chegando num local “místico” que a trilha simplesmente desaparecia. Depois de perder 30mim vasculhando a área a procura da continuação da trilha, decidi voltar.

 

Ao lado do córrego, na moita de samambaias, havia uma pequena picada descendo piramba abaixo. No fim da picada, cheguei à base de uma cachoeira, com duas quedas em série, e claro, existia uma trilha até a cachoeira. Tomando essa trilha, acabei em outra cachoeira, agora com duas quedas em paralelo. A trilha continuava, e por volta das 15h cheguei numa outra trilha, mais ampla e que subia a serra a sudeste, na direção que eu queria.

 

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Cachoeira em série.

 

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Cachoeira em paralelo.

 

Finalmente o dia estava salvo, bastava seguir aquela trilha e estava tudo certo, só que não... Ao fim da subida, cheguei a um pequeno platô. A trilha sumiu completamente, pois o solo estava completamente recoberto por gramíneas vistosas. Segui em linha reta e achei uma trilha descendo o morro, que desapareceu 10m depois, %&@*%$!*! . Voltei ao platô e fui bordeando até encontrar a continuação da trilha.

 

A partir desse ponto foi tranqüilo, desci a serra e cheguei no Lajeado por volta das 16:30h, exatamente onde eu planejei. Esse local é muito visitado por turistas, e havia dezenas de carros estacionados ao lado. Para chegar em cabeça de boi, bastava andar cerca de 6km por estrada de chão. Mas como já era final da tarde, esses carros estavam voltando para Cabeça de Boi, achei melhor pedir uma carona do que andar 6km de estrada comendo poeira.

 

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Atravessando o Lajeado.

 

Em Cabeça de Boi, tomei a coca da vitória e fui até a saída da cidade tentar uma carona para Itambé do Mato dentro. O ônibus para BH saía de lá no dia seguinte, as 9h. Eram mais 10km de estrada, como já era tarde, comecei a seguir a pé mesmo. Depois de andar cerca de 50mim, consegui uma carona, chegando em Itambé as 19h.

 

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Cabeça de Boi e serra do Lobo ao fundo.[/align]

Antonio Junior

Editado por Visitante
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  • Membros de Honra

aeee, Toninho! enfim saiu esse relato dessa trip duca! parabens! ::otemo::

ano passado tentamos essa pernada no verao mas nao deu..terminamos na metade pq as corredeiras nos canions afunilados nao permitiam passagem segura..paciencia..

quem sabe ano q vem meta as caras por ai, mas com companhia, claro! ate pq minha cota de "sete vidas" findaram faz tempo..

abracao

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  • 2 semanas depois...
  • Membros
aeee, Toninho! enfim saiu esse relato dessa trip duca! parabens! ::otemo::

ano passado tentamos essa pernada no verao mas nao deu..terminamos na metade pq as corredeiras nos canions afunilados nao permitiam passagem segura..paciencia..

quem sabe ano q vem meta as caras por ai, mas com companhia, claro! ate pq minha cota de "sete vidas" findaram faz tempo..

abracao

 

vlw jorge!

pois é, com chuva não dá, tem vários lugares bem estreitos. O tempo tem que ta firme pra evitar surpresas lá dentro.

 

abraços

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  • Membros de Honra

Tchê, uma das mais belas trips que já vi. Fantástico!

Parabéns!

Embora isso não seja um dado objetivo, porque caminar em canion é uma coisa única, onde o rendimento é muito relativo, tem idéia da distância envolvida?

Show de bola!

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Obrigado Cacius!

 

realmente, distância não tem uma relação direta com o tempo, já que tem uma distorção devido a dificuldade do terreno.

Não saber o que exatamente vai encontrar pela frente dificulta um pouco o planejamento, as vezes dura mais do que o planejado, e as vezes acaba antes. Até Cabeça de Boi são ~36km, mais 10km até Itambé do Mato dentro.

 

abraços

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  • 1 ano depois...

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