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SAJAMA-BOLÍVIA,UM BRASILEIRO NA "CACUNDA DO VULCÃO"5.800M


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SAJAMA-BOLÍVIA, UM BRASILEIRO NA “CACUNDA” DO VULCÃO - 5.800 m.

 

“Pataca – Pataca – Pataca- Patacamaya”! Aos berros, a chola boliviana anuncia o destino do velho micro-ônibus. Eu já estava há uns quatro dias em Lapaz, capital da Bolívia, tentado me aclimatar à altitude. Lapaz está a 3.680 metros de altitude, por isso eu passava o tempo todo me deslocando para El Alto, que se encontra a mais de 4.000 metros. Seguindo informações de velhos amigos, peguei esse transporte que sai do cemitério da cidade e em três horas te deixa a meio caminho entre Lapaz e Oruro, na bifurcação da estrada internacional que liga a Bolívia ao Chile. O caminho para Patacamaya é bonito, mas o vilarejo em si, não passa de ruas poeirentas e muito sujas. E foi neste fim de mundo que me vi meio perdido e abandonado, já que recebi a notícia que não havia mais nenhum transporte que pudesse me levar para o vilarejo de Sajama. Resolvo ir almoçar e tentar arrumar uma solução para o meu problema. Entro em uma pequena birosca, onde servem comida. Não há opções, come-se o que estiver servindo e no caso era arroz, tomate, e carne de cordeiro. A higiene era a pior possível, mas quanto a isto eu já tinha me desencanado. Servido o prato, notei dois pedaços de carne arredondados, pensei logo: isso são os bagos do carneiro. Na minha cabeça logo se instalou a celebre frase: Se está no inferno, abraça logo o capeta! Dei uma boa mordida e pro meu azar não era as bolas do carneiro e sim uma batata desidratada de um gosto horrível. Sabendo que daqui para frente eu não poderia desperdiçar a oportunidade de ingerir muito carboidrato, comi as batatas e também até os ossos do animal. Comer bem e beber muita água, essa era a receita para eu tentar conseguir meu objetivo.

 

Ao sair do restaurante, dei de cara com dois mochileiros com uma mochila repleta de equipamentos de escalada. Pergunto se estão voltando do Vulcão Sajama e eles me respondem que estão indo. Apresentam-se como sendo guias de escalada, funcionários de uma agência de turismo e que estavam indo se encontrar com seus clientes que já se encontravam no vilarejo aos pés do Vulcão. O guia experiente chamava-se Felix e o outro é o seu filho. Felix tem 30 anos de experiência como guia e já havia escalado entre outras montanhas o Ojos Del Salado e o Aconcágua. Digo a eles que pretendo ir ao Sajama e me ofereço para custear um transporte até o vilarejo. Alugamos um carro por 300 bolivianos, coisa de menos de 100 reais. A viagem até o vilarejo é simplesmente incrível. Realmente um dos caminhos mais bonitos do nosso continente. Não desgrudo os olhos da janela do carro. Logo surgem os famosos chullpas. Pergunto ao Felix do que se trata e ele me diz que são casas de antigos moradores que viveram naquela região bem antes do povo boliviano, estes tais moradores seriam os duendes. Olhando para os olhos do guia de montanha, fico esperando a sua gargalhada fatal. A gargalhada não veio, o cara estava falando sério. Claro que eu já havia lido que as tais casinhas, que pareciam mais um grande cupinzeiro espalhada pela paisagem, se tratavam de urnas funerárias, mas se aquele homem de quase 60 anos de idade, nativo daquele lugar até hoje acreditava em uma versão estapafúrdia, não seria eu que iria quebrar o encanto e a magia dos seus pensamentos. Quando os vulcões Sajama, Parinacota e Pomerope surgirão à minha frente, meu coração disparou. Eu estava cara a cara com as montanhas que há meses eu vinha estudando e que eram o principal motivo de eu ter abandonada minha casa em Sumaré-SP e ter viajado milhares de quilômetros sozinho. Eram três grandes sorvetões, três cones perfeitos cobertos de neve. A cada quilometro percorrido, meu deslumbramento aumentava e eu não desgrudava os olhos da janela do carro. No caminho, formações rochosas, lhamas, montanhas cobertas de neve e três horas depois o nosso carro abandona o asfalto e entra à direita em uma estrada de terra e 12 km depois estacionamos em frente à cancela que barra a nossa entrada ao Vilarejo de Sajama. Como eu era o único turista do carro, tive que descer e fazer o cadastro para entrar no Parque Nacional, onde tive que pagar a modesta quantia de 30 bolivianos, pouco mais de oito reais. Com certeza é o menor valor que se paga para poder escalar uma montanha acima de 6.000 metros. Por oito reais você pode ficar quantos dias você quiser, sem ser preciso contratar nenhum guia e sem precisar dar satisfação a mais ninguém. Resolvido os problemas burocráticos, seguimos para o alojamento onde estavam os clientes dos guias. O local era muito simpático, eram quartos construídos em formato de iglus e foi em um deles que eu fiquei pagando 30 bolivianos.

 

O povoado SAJAMA está a 4.250 de altitude. São umas 50 casas perdidas no meio do deserto, não se vê ninguém nas ruas, é um lugar lindamente desolado, um vilarejo fantasma, com cara de fim de mundo. Mas para onde se olha, nossos olhos se deparam com um espetáculo indescritível, principalmente para nós brasileiros que não estamos acostumados com este tipo paisagem. Pego minha maquina fotográfica e vou conhecer o vilarejo. Chego a uma praça que ainda está em construção e logo depois à praça da igreja, que é feita de barro e pedras e coberta de um tipo de sapé. Logo atrás da igreja acaba o vilarejo e então chego ao riacho de águas cristalinas e salobra. Sajama está aos pés do vulcão de mesmo nome e a sua frente os vulcões gêmeos, o Parinacota e o Pomerope, que pertencem ao Chile. A esquerda dos gêmeos está o Acotango e a sua direita, já na divisa do Peru o Anallajchi e isso sem contar as outras diversas montanhas ao redor, todas com quase 6.000 metros.

 

Volto para o alojamento e dou de cara com os clientes que vão escalar o Vulcão Sajama e para minha surpresa descubro que um dois montanhistas é uma brasileira de São Paulo e o outro seu namorado francês. Carolina e Gerimy pagaram uma pequena fortuna para a agência de escaladas guiá-los ao cume do Acotango e do Sajama. Além do guia de alta montanha, no pacote ainda tinha 2 carregadores, 1 cozinheiro, 2 mulas e um jipe com tração nas quatro rodas. Nesta expedição franco-brasileira, os escaladores não iam se preocupar com nada, tudo seria feito pelos guias da agencia, desde a comida até a montagem das barracas, carregamento de todos os equipamentos etc... No começo fiquei muito feliz de ter encontrado uma compatriota, é sempre bom poder voltar a falar português. A Carolina me disse morar no mesmo prédio/condomínio que os montanhistas, Helena e Paulo Coelho, famosos por gostarem de escalar altas montanhas sem ajuda de nenhum guia. Eu contei a ela a minha intenção de ir até o acampamento alto do Sajama (5.700 m) e ela não mostrou nenhuma reação, nem de aprovação, nem de desaprovação. Deixei a brasileira de lado por um tempo e fui conversar com o guia Felix. Eu queria mostrar a ele todo o equipamento que eu levaria para o alto do vulcão. Tirei todo o meu equipamento da mochila e fui mostrando um a um. Mostrei as peças de roupas que eu estava levando: meias, calças, blusas, jaquetas, luvas, gorros. Mostrei meus equipamentos de cozinha: fogareiro, panelas, combustível, comidas e também me certifiquei que daria para subir com minha bota de caminhada. Todos os equipamentos foram aprovados pelo experiente guia menos minha bota, já que a montanhas estaria com muito gelo. Logo consegui resolver o problema da bota, já que o dono do alojamento tinha uma que era o meu número e me alugou por 100 bolivianos. Uma boa bota para gelo com grampões e tudo.

 

Na viagem que fiz como Felix desde Patacamaya até Sajama, eu havia lhe dito que pretendia subir ao Campo Alto do Sajama e ele acabou me convidando para ir junto e me disse que eu poderia ficar fazendo companhia para seu filho, que só iria também ao Campo Alto. Fiquei muito agradecido de poder ter com quem seguir, já que eu não saberia o que eu iria encontrar nesta caminhada de alta montanha, diga-se de passagem, minha primeira caminhada a um lugar tão alto. Eu já havia estado em anos anteriores em montanhas de mais de 5.000 metros, mas nenhuma caminhando, já que a subida ao Chalcantaya, perto de Lapaz é feito toda em transporte motorizado.

 

Tudo estava pronto e a expedição guiada iria sair no outro dia, depois do almoço. Eles poderiam sair tarde, já que iriam contar com um 4x4 para chegar bem perto dos pés do Sajama. Já eu teria que sair umas três horas antes, pois teria que seguir a pé mesmo. Então combinei com o Felix de sair às 09 horas da manhã, já que eu levaria umas 3 horas para chegar ao mesmo local onde o jeep seria estacionado. E de lá seguiríamos todos juntos, eu carregando minha mochila e as mulas carregando todo o equipamento da expedição. Despedi-me dos guias e dos dois clientes e fui tentar dormir um pouco, já que além da excitação eu ainda estava com um pouco de dor de cabeça, devido à altitude.

Quando cai a noite no deserto, com ela despenca também a temperatura. Na minha cama havia uns quatro cobertores e foram necessários todos eles para me aquecer. Depois de um dia tão corrido, bastou não mais de meia hora para eu apagar de vez e acordar com o barulho do meu celular despertando às oito da manhã. Levantei-me, fiz um café, me alimentei bem e segui para o local, onde encontrei quase todos os guias, a brasileira e seu namorado francês. Estavam todos reunidos à mesa e quando me viram, me chamaram para uma conversa. A Carolina olhou para minha cara e me disse logo sem rodeios: “--Divanei, você não poderá ir conosco para o Sajama. Você está totalmente despreparado para esta escalada. Não possui equipamentos apropriados, não possui experiência em alta montanha, não está devidamente aclimatado para a altitude que iremos subir e muito provavelmente vai botar a perder toda a nossa expedição”. Olhei para a cara dos guias, que até então foram pessoas muito solícitas, me ajudando e me orientando em tudo que eu precisava. Alguns abaixaram a cabeça, outros confirmaram o que a Carolina estava dizendo. O Felix até me contou um caso de um montanhista que teve que ser resgatado e levado às pressas para baixo por causa da altitude e ele ainda disse que eu poderia morrer caso não tivesse com uma aclimatação correta. Eu estava completamente estupefato com o que estava ouvindo. Por um tempo fiquei sem ação, sem ter o que dizer. A “ficha” demorou um tempo para cair. Até então, no dia anterior eu estava apto para subir a montanha, agora não tinha condições de subir a colina ao lado do vilarejo. Ainda tive que ouvir os conselhos cretinos da Carolina me orientando a ir até o Acampamento Base (4800 m) passear, depois voltar e contratar um guia para ir comigo até o Campo Alto (5.700 m).

 

Não, eu não fiquei furioso. Eu estava era decepcionado com a minha compatriota brasileira. Eu, na minha ingenuidade, estava pensando que poderia seguir sem problemas com todo mundo. E eu sinceramente não tinha a menor intenção de me aproveitar de algo da expedição para ir até as costas do Vulcão. Achei apenas que seria legal seguir com eles, principalmente por haver uma brasileira no grupo. Eu estava com todos os equipamentos, comida, água, remédio e tudo mais para me manter sem a ajuda de ninguém, eu era um montanhista autossuficiente. Mas me enganei mesmo foi quando achei que a Carolina seria uma montanhista de verdade. De montanhista ela não tinha nada, era apenas mais uma “subidora de Montanha”, não conhece nada da filosofia de ser montanhista, desconhece todos os princípios de cordialidade que nos rege. Acho que qualquer outro montanhista brasileiro teria o maior prazer de auxiliar outro montanhista, ainda mais sabendo se tratar de um compatriota seu que queria realizar um sonho de subir uma montanha de grande altitude. Mas é claro, a brasileira e o francês havia pagado milhares de dólares para serem carregados até o cume da montanha e eu pobre brasileiro lascado, tinha gasto míseros oito reais para a “escalada”. Eu já estava era cheio daquela conversa fiada, ninguém ao menos me perguntou se eu tinha alguma experiência de subir montanhas no Brasil, ficaram me tratando como um turista qualquer, um ignorante aproveitador. ““ Mentalmente mandei todo mundo para” PUTA-QUE- O- PARIU “, coloquei minha mochila nas costas, apanhei minha bandeira e sai caminhando em direção ao meu sonho.

 

Atravessei o pequeno vilarejo e chegando até a rua principal virei à direita. Pus-me a caminhar pela estrada poeirenta e totalmente vazia. Meus pensamentos me levavam as alturas do Sajama. Olhar aquela montanha em forma de cone e coberta de neve me alegrava a alma, mesmo sem saber ao certo se eu poderia ao menos chegar perto daquelas paredes geladas. Pouco mais de uma hora depois me deparo com um desvio à direita identificado com uma placa do Parque Nacional. É um desvio que corta caminho e a placa nos indica que estamos a 4.250 metros de altitude. Poderia eu ter seguido pela estrada até chegar ao riacho e depois virar a direita, que é o caminho obrigatório para quem estiver seguindo com um jeep, mas prefiro seguir mesmo pela trilha. Abandono, portanto a estrada e sigo à direita me guiando pelo sulco nítido da trilha. Logo acima encontro uma casa e aproveito para colher mais informações com uma velha índia e uma hora depois me deparo novamente com a estrada, onde um casebre e um estacionamento (vazio) denuncia ser ali o fim da linha para quem está motorizado. Aproveito a sombra da velha habitação e faço um lanche. Volto para a trilha e 20 metros depois tropeço no riacho. Opssss,não é por aqui o caminho ! Volto novamente para o casebre e percebo que a trilha, bem larga por sinal, parte à direita da casa, subindo em direção tão obvia que não sei como não consegui enxerga-la.

 

A trilha é realmente bem nítida e não há como se perder, está encravada no meio de um vale entre duas montanhas e vai seguir o tempo todo margeando o riacho, ora à direita, ora à esquerda. É uma trilha pedregosa e de vez enquando damos de cara com as Quenuas, as únicas árvores do mundo que crescem acima de 5.000 metros. A cada passo, a cada metro percorrido, o Sajama vai nos assombrando com sua magnitude. É difícil tirar os olhos do gigante, a não ser quando as lhamas e as vicunhas nos chama a atenção, correndo de um lado para o outro do vale. Umas duas horas depois chego a um charco, onde é preciso ir desviando para não encharcar as botas. Atravessado o terreno alagado, chego ao grande campo aberto, bem aos pés do imponente vulcão. Um amontoado de pedras dispostas em circulo marca o local exato do acampamento base do Vulcão Sajama. Estou a 4.800 metros de altitude. Largo minha mochila e subo em uma colina para apreciar a montanha gelada. Não é a primeira vez que me deparo com uma montanha nevada, mas esta seria realmente a minha oportunidade de poder caminhar sobre gelo e com uma mochila nas costas. O acampamento base é um lugar lindo e me parece ser bem abrigado do vento, mas eu não estava nem um pouco a fim de acampar ao lado da expedição franco-brasileira. O problema era que eu não sabia se encontraria outro lugar para poder montar minha barraquinha. Mesmo assim peguei 3 litros de água junto ao Campo Base e segui enfrente, me guiando pela trilha batida que poderia me conduzir para um platô bem mais acima. Caminhei uma meia hora pelo descampado até me deparar com o imenso paredão de pedras soltas. Uma trilha muito íngreme subia por este paredão, mas também havia outra que parecia ziguezaguear. Foi por esta que eu segui, caminhando de vagar e me atentando aos deslizamentos que insistia em querer me jogar montanha a baixo. Uma hora e meia depois do Campo Base e às 16 horas cheguei ao topo, onde encontrei uma linda área de camping, protegida por uma coluna circular de rochas. Joguei minha mochila ao chão e desabei de cansado, estou a 5.000 metros de altitude.

 

Montei minha nova barraquinha, finalmente depois de mais de uma década eu tinha me animado a comprar outra moradia de montanha. Não era nenhuma barraca específica para alta montanha, mas comparando com a antiga, era uma barraca de luxo. A Bivac, da Trilhas e Rumos é para apenas uma pessoa, mas pesa muito pouco e é bem compacta. Fiz o almoço e tentei engoli-lo com suco de jabuticaba. Eu me sentia bem, mas perderá o apetite por causa da altitude e eu sabia que precisa comer muito para recuperar todas as calorias perdidas e assim prosseguir com o meu processo de aclimatação. Com a barriga cheia, fui dar uma visitada em uma formação rochosa muito bonita e tirar algumas fotos da paisagem ao meu redor.

Quando voltei, avistei no vale abaixo, todas as barracas da expedição montadas no acampamento base. Do acampamento base era possível ver a minha barraca e a brasileira e o francês já havia notado que o seu papo furado não havia me tirado do meu rumo. Aproveitei o tempo ainda claro no acampamento para reforçar a barreira de pedras ao redor da barraca, pois o vento começou a aumentar e eu já tinha informações que no Sajama o vento costuma ser impiedoso nesta época do ano. Logo a noite caiu e o céu ficou coalhado de estrelas e quase dava para tocar a Via Láctea com as mãos, espetáculo puro. Recolhi-me às oito da noite e aproveitei para testar o saco de dormir Xing-ling que eu havia comprado em Lapaz. Na etiqueta dizia que era para menos cinco graus para conforto e de menos doze graus para extremo. Não sei quantos graus fez abaixo de zero, mas a água que eu havia deixado do lado de fora se transformou em gelo. Foi uma noite muito bem dormida e o tempo amanheceu espetacularmente sem nenhuma nuvem no céu.

 

Às 6 horas eu já estava de pé, me preparando para seguir enfrente na minha caminhada, só não tinha a mínima ideia de até onde eu conseguiria chegar. Uma coisa eu tinha em mente: atingir pelo menos a parede de gelo do vulcão, pisar na neve e disso eu não estava disposto a abrir mão. Eu não sabia onde começaria a pegar gelo, nem quanto tempo eu teria de caminhar até chegar lá. Então tomei uma decisão que talvez tenha sido um grande erro: resolvi deixar minha barraca montada e seguir apenas com meu saco de dormir e isolante térmico. Fiquei imaginando que se eu tivesse que caminhar muitas horas para chegar à parede de gelo, poderia ter que acabar voltando à noite e seria importante já ter um abrigo montado, caso eu precisa-se me aquecer com extrema urgência. Claro que eu poderia ter levado a barraquinha comigo, mas não me parecia provável que eu encontrasse algum lugar plano para montá-la e eu estaria carregando um peso morto na mochila, o que poderia aumentar os riscos e comprometer ainda mais a minha segurança. Além do mais eu poderia deixar o excesso de bagagem e de comida dentro da barraca. Tomada à decisão, joguei minha mochila às costas e partir sozinho rumo ao desconhecido.

 

Retomei a caminhada pela trilha pedregosa, mas agora muito plana. Caminhei por uma meia hora, até que o caminho começou a subir a rampa um pouco inclinada. Pensando na volta, que poderia ser a noite, fui demarcando a trilha a cada 50 metros, fazendo pequenos totens de 3 pedras, coisa muito comum nas montanhas rochosas brasileiras. Claro que conforme eu ia atingindo maiores alturas ia me cansando mais, mas em nenhum momento senti aquela falta de ar tão alardeada por outros montanhistas. Usei a grande frase dos caminhantes de alta montanha: “Caminhe como um velho e chegue como um menino”. A passos lentos, mas constantes, fui ganhado altitude e logo alcancei o topo do primeiro ombro rochoso, eu já estava nos calcanhares da neve. Fiz uma parada para desacelerar o coração. Um misto de medo e ansiedade já havia tomado conta de mim.

 

Sentado naquele afloramento rochoso a uns 5.300 metros de altitude e prestes a bater o meu recorde, fico ali parado, abastecendo a minha mente com aquela paisagem desconcertante. Atrás de mim notei que a neve se estendia muito mais abaixo, ou seja, eu estava bem acima da neve, só que estava seguindo por uma espécie de língua de terra e pedras sem gelo. Voltei para caminhada e decidi só parar quando chegasse o gelo e as paradas eram somente para sacar alguma foto. Foi às 11 horas da manhã que finalmente tropecei na neve. Larguei minha mochila e corri. Joguei-me igual criança naquele gelo branquinho. Era um gelo granulado, bem fixo na encosta da montanha. Fiquei lá por meia hora, chupando gelo.

 

Pronto, eu havia chegado à parede de gelo. Havia batido meu próprio recorde em altitudes. Quando saí do Brasil, havia traçado um objetivo e ele acabará de ser alcançado. Mas eu queria mais, eu almejava ir ao Campo Alto do Sajama, mas com toda aquela discussão com a expedição e os seus guias, que haviam depois me dito que eu não poderia subir a rampa de gelo porque seria necessário subir encordado, eu havia devolvido as botas de gelo que eu já havia alugado. Valeria a pena me ariscar tentando subir a parede com minhas toscas botas de caminhada? Valeria a pena me ariscar a despencar montanha abaixo em um país muito longe de casa e eu ainda estando sozinho? Valeria a pena ariscar a minha vida apenas para provar para mim mesmo que eu poderia ir muito mais além do havia sonhado? Sim, Valeria!

 

Decidi seguir em frente. Desafiando meus próprios medos, tentando espantar meus próprios fantasmas, passando por cima da minha própria ignorância como montanhista de alta montanha, coisa que eu nunca fui. Olhando para o gelo observei um rastro que seguia montanha acima fazendo ziguezague. Bom, eu poderia seguir os rastros no gelo, mas primeiro teria que aprender a andar no gelo. Coloquei o pé direto sobre a rampa de gelo e testei a aderência, estava liso. Então enfiei o bastão de caminhada no gelo e dei o primeiro passo, eu parecia um bebê aprendendo a caminhar. Depois dei mais um passo e depois outro. Quando vi eu já havia caminhado uns 100 metros e tinha atingido um grande precipício e aí eu comecei a ver a enrascada em que eu havia me metido.Travei no meio, ainda mais quando o peso da mochila quase me jogou montanha abaixo. Cavei um buraco no gelo e me sentei, tomei um pouco de água e comi uma barra de chocolate. Mais calmo me levantei e segui devagar, enfiando a bota dentro do gelo e me apoiando no bastão enfincado bem fundo. Peguei o jeito e então comecei a desenvolver uma velocidade maior. Fui ganhando altitude devagar e curtindo cada momento da caminhada, até que cheguei a grande cascata de gelo. É um lugar onde o gelo começa a despencar em grandes blocos parecendo estalagtites. Um deles caiu e rolou bem perto de mim. Não interessa o quão perigoso estava caminhar naquela parede de gelo, quando vi o gelo despencando, troquei de “marcha” e disparei sem nem olhar para trás. Somente quando me vi em segurança foi que parei para tirar uma foto daquele espetáculo fabuloso. O tempo se mantinha totalmente aberto e com muito sol, o que me animou a seguir enfrente. Mas ficava sempre a dúvida: até onde eu poderia ir? Será que já não estava na hora de voltar? Todo montanhista uma vez ou outra sempre se pegará neste dilema e sempre acaba dizendo: “vou só mais um pouquinho para ver o que tem depois daquela colina, depois daquela pedra, depois daquela curva”. E assim fiz eu, mesmo com um pouco de medo segui enfrente. Um pé na frente do outro, para ver o que tinha no fim de mais uma rampa.

Eram pouco mais de 13; 30 quando fiz a última curva e dei de cara com uma área de neve mexida. Olhei bem para aquele lugar e puxei pela memória: Não podia ser, aquele era o lugar que eu havia visto nas fotos pela internet. Eu não tinha dúvidas, aquele era o lugar onde os escaladores montavam suas barracas antes do ataque final ao cume do Vulcão Sajama (6.542 m). Eu acabará de chegar ao CAMPO ALTO, estava a 5.700 metros de altitude. Joguei no chão: mochila, bastão de caminhada, luva, gorro e comecei a pular feito louco. Não havia mais ninguém no local, eu estava só, sentei na neve e chorei.

 

Passado o momento emotivo voltei a ter ideias estúpidas. Decidi que não iria descer de volta ao meu acampamento. Depois de brigar com o meu “EU” interno, que é o sujeito que sempre tenta me orientar na direção da sensatez, resolvi que iria passar a noite ali mesmo, sem barraca, a 5.700 metros de altitude. Eu iria dormir enterrado na neve. Comecei a cavar o meu tumulo usando minha panela. Nesta parte da montanha o gelo já estava mais com consistência de neve, mas depois de uns 80 centímetros de profundidade voltou a ficar duro e então parei para descansar um pouco. Foi neste momento que ouvi algumas vozes se aproximando do Campo alto. Já passava das 3 da tarde quando eu vi um dos carregadores da expedição lutando para vencer o trecho final da rampa de gelo. Eu subi no afloramento rochoso que protegia o acampamento das rajadas de vento e lá de cima fiquei na espreita, como um caçador que vigia sua preza, esperando só o momento para dar o tiro certeiro. Nas minhas mão ao invés de uma arma, eu tinha minha câmera fotográfica e quando a brasileira e o francês passaram por mim puxei o” gatilho” e ao mesmo tempo gritei bem alto : MIRA EL PAJARITO !( olha o passarinho). Esta foi a minha vingança. Eu poderia ter chamados os dois e dito um monte de besteiras, mas eu estava feliz de mais para me estressar com esse tipo de gente. Haviam mentido para mim descaradamente, fizeram de tudo para eu não subir. Ver a cara de “tacho” deles quando me viram não há dinheiro que pague. Mal conversaram comigo e eu pouco me importei. Voltei a cavar minha casa na neve e só parei quando vi que já estava com uma profundidade suficiente para me livrar do vento.

 

Terminado de cavar minha cama, fui derreter água para beber e cozinhar. Usei um fogareiro a gás simples, destes que encontramos em qualquer loja de para camping e funcionou muito bem. Acabei de derrubar outro mito de que só se pode cozinhar acima de 5.000 metros com fogareiro especial. Sem vento forte eu usaria este equipamento acima de 6.000 tranquilamente. Eu ainda estava sem fome, por isso resolvi cozinhar somente um pacote de macarrão instantâneo e a ele juntei um pouco de salame e um pouco de atum em lata, fiz um suco de cajá e completei a refeição com uma barra de chocolate.

No horizonte, nuvens negras se avizinhavam sobre o cume do Sajama. Ouvi os guias dizendo que possivelmente teríamos neve à noite. Imediatamente comecei a cobrir meu “buraco casa” com um plástico que eu havia levado para forrar por baixo da barraca, eu não queria acordar a noite soterrado na neve. Quando efetuava meu trabalho a Carolina veio me dizer o que havia dito seu namorado francês. O Geremy até falava um pouco de espanhol, mas sua arrogância europeia não o deixava se esforçar para conversar com um brasileiro de terceiro mundo. A Carolina traduziu o que o francês havia dito sobre eu acampar naquele buraco na neve: -“Você só tem dois caminho dormindo neste buraco: amanhecer morto ou levantar quase morto de madrugada e ir pedir arrego na barraca dos guias”. A Carolina ainda me disse que o Geremy sabia o que estava dizendo por que, apesar de ser francês, morava há vários anos no Alasca. Pensei comigo: Alasca né? Tó é lascado! Quase entrei em pânico, comecei a me tremer todo e não era de frio. Não havia mais tempo hábil para voltar ao meu acampamento. Minha saúde estava ótima, mas eu sabia que teria que passar a noite a 5.700 metros de altitude e se o mau da montanha me pegasse eu poderia nem acordar vivo. Mas eu poderia nem acordar vivo se a temperatura despencasse muito e a tempestade de neve nos atingisse. Eu precisava pensar em uma saída. Fui até aminha mochila e peguei toda a roupa que eu havia trazido e fui vestindo uma a uma. Duas cuecas, um short de banho, uma meia calça, uma calça de lã, duas calças de caminhada e uma calça corta vento. Três pares de meia, dois gorros, duas luvas. Três camisas de manga comprida, duas blusas de lã, uma jaqueta fina e uma jaqueta mais grossa e para finalizar uma capa corta vento. Ainda coloquei nos pés as capas dos saco de dormir. Fiquei parecendo uma múmia e mal conseguia andar. Arrastei-me para a minha cova, forrei meu isolante térmico, entrei no meu saco de dormir, fechei a boca do dito cujo com a cordinha e fiquei lá dentro “fazendo careta para morte”.

 

Jamais esquecerei a noite que passei enterrado naquele buraco a 5.700 metros de altitude. Foi uma sensação estranha. Eu tentava a todo custo prepara a minha mente para o perrengue que se aproximava conforme a noite ia passando. O chão do buraco era horrível, eu não encontrava uma posição que pudesse me trazer conforto e o simples fato de eu imaginar que a coisa iria ficar cada vez mais feia conforme a noite fosse passando, me deixava cada vez mais assustado. Quando o frio começou a entrar, comecei a puxar pela memória as noites desgraçadas que eu já havia passado na vida: “Teve aquela noite que a barraca inundou no caminho da Pedra do Frade. Teve aquela noite que o meu saco de dormir encharcou na Travessia Trindade x Camburí. Também teve aquela noite que quase morremos de frio na Petrópolis x Teresópolis, na Serra fina, na Joatinga. E a pior de todas, foi àquela noite que tivemos que passar abraçados depois de escapar da morte na Travessia da Casa de Pedra no Petar, etc...” Dizem que pessoas que conseguem sobreviver ou ter passado por vários acontecimentos deste tipo, estão aptas a conseguir atravessar por momentos terríveis e escaparem vivas para contar história. E foi a isso que eu me apeguei a noite toda. Eu acordava praticamente de hora em hora, procurando sempre uma posição confortável e para mexer os pés e as mãos, que eu temia que congelassem. Estava realmente muito frio. O plástico que eu havia colocado para fechar o buraco foi se enchendo de gelo conforme ia condensando com a minha respiração. Tirei as luvas para ver como estava a temperatura dentro do saco de dormir e vi que a temperatura estava iguala de um freezer. Quando coloquei as mãos do lado de fora do saco de dormir, senti que ele havia congelado. Parecia que apenas minhas roupas é que estavam conseguindo segurar o calor e me mantendo vivo.

 

Entre duas ou três da manha, ouvia a movimentação da expedição saindo para tentar escalar o cume do Sajama. A neve ainda não havia chegado e eu me mantinha ali, vivo, no meu “buraco minha vida”. O certo mesmo é que o dia amanheceu. Um lindo dia, um dia ensolarado e eu emergi daquele buraco gelado vivo, muito vivo. Arrastei-me para fora e disse para mim mesmo: Cara desta vez você se superou!

Coloquei neve para derreter para fazer um chá bem quente. Logo vi quando o francês sai da barraca. Fiquei surpreso ao vê-lo no acampamento, pensei que ele havia ido para o cume de madrugada. Foi neste momento que saquei logo que a brasileira era quem tinha tentado barrar a minha subida. O bosta do francês nem ia até o cume. Tomei um belo de um café e assisti o sol despontar por trás do grande vulcão. Peguei minha bandeirinha e a bandeira da Bolívia e subi mais uns 100 metros acima. Cheguei a 5.800 metros de altitude. Na verdade eu estava tão bem de saúde e tão bem aclimatado que se eu tivesse equipamentos e experiência em alta montanha, teria ido ao cume com os pés nas costas. Pude notar nesta subida que meu organismo se adapta muito bem a altitude e aquele velho sonho de um dia subir o Aconcágua pode sim ser possível.

 

Pouco depois das oito da manhã, a Carolina e os dois guias voltaram do cume do Sajama. Fui ao encontro dela e a parabenizei. Sem graça ela apertou a minha mão e depois de um tempo ainda tentou se justificar, mas eu estava pouco me importando com suas desculpas. Apanhei minha mochila e comecei a fazer o caminho de volta. Devagar, muito devagar, fui descendo a parede de gelo e só parei junto à cascata de gelo para mais uma foto. Em menos de 3 horas eu já estava junto da minha barraquinha, fazendo juramento de nunca mais abandona-la. Desmontei-a e segui a passos largos, descendo quase que escorregando pela grande rampa de pedras soltas que eu havia subido com muito cuidado e logo estava de volta ao acampamento base (4.800 m).

 

Acelerei muito o passo, pois eu tinha intenção de ir tomar um banho nas águas caliente. Em mais 3 horas de caminhada eu já estava caminhando na estrada que me levaria as águas termais. Quando cheguei à estrada principal, virei à direita e fui seguindo em direção a casinha amarela , conforme havia me indicado uma índia . Como não consegui localizar a placa que indicava a hora que eu deveria sair da estrada, resolvi cortar caminho por dentro da vegetação. Atravessei por dentro da área alagada e fui pulando, pulando, até que cheguei ao riacho. Atravesse e subi o barranco e dez minutos depois eu já estava só de cueca boiando naquela lagoa de águas ferventes. Já fazia quase uma semana que eu não tomava banho. Fiquei umas duas horas dentro da água quente e só sai quando a pele enrugou. Mas minha jornada não havia terminado, ainda faltava conhecer os gêiseres do Sajama. Os gêiseres são jatos de água fervendo que jorram alguns metros acima da superfície, como se fossem pequenos vulcões explodindo.

 

Perguntei para chola que tomava conta das águas termais qual era o caminho até os gêiseres e ele me disse para pegar uma trilha há uns 500 metros dali. Tentei descolar um pouco de água, mas ela me disse que naquela região não existia água doce, somente água salobra. Resolvi tentar pegar água mais à frente. Segui então para a direção que a índia me indicou e acabei não encontrando trilha alguma. Resolvi seguir por uma estradinha estreita, que me parecia ser a estrada que também poderia me levar aos gêiseres. Esqueci-me de pegar água e eu já estava urrando de sede. Avistei uma pequena vila à frente, mais ou menos umas 10 casas. Quando cheguei lá vi que tudo estava abandonado. O motivo eu saquei logo, não havia água em lugar nenhum. Desisti de continuar seguindo pela estrada. Peguei o mapa que eu havia ganhado na entrada do Parque Nacional e tentei seguir direto para os gêiseres, cortando caminho pelo deserto. Foi a minha desgraça.

 

Eu caminhava por uma área seca, com uma vegetação rasteira e espinhuda. Não via nada além destas plantas que pudesse me alegrar a alma. Encontrei um carreador e segui por ele por um bom tempo, até que este caminho também acabou em lugar nenhum. Eu já estava quase me rastejando naquela área seca e poeirenta, quando consegui observar a muito longe uma coisa quadrada, que eu jurei ser uma casa, Não tive dúvidas, rumei naquela direção e só pensava em uma coisa: água. Quanto mais eu andava, mais longe parecia ficar o meu objetivo, mas como não ha distâncias que durem para sempre, logo cheguei ao local pretendido , apenas para descobrir que se tratava de um arbusto quadrado. Caí de joelhos e fiquei uns 15 minutos lastimando a minha má sorte. Claro que eu não iria morrer de sede se passasse a noite toda sem água e no outro dia eu poderia simplesmente seguir na direção do vilarejo, que não estava a mais de 15 km de distancia de onde eu estava, mas a teimosia é coisa que não consigo abandonar e eu ainda esperava acampar junto aos gêiseres, eu merecia uma noite de gala. Continuei no rumo em que eu achava que poderia estar os gêiseres e logo consegui localizar outra coisa quadrada no horizonte e desta vez eu tinha certeza não se tratar de uma árvore. Segui naquela direção, para mais uma vez descobrir que a minha tão sonhada casa apenas se tratava de uma grande pedra quadrada. Resolvi não segui mais nada que se parecesse com uma habitação, toquei direto para os gêiseres e jurei não me desviar mais da rota. Logo dei de cara com um grande e profundo vale. Desci correndo na esperança de conseguir um pouco de água, mas o vale era tão seco quanto à área que havia passado. Atravessei o vale quase já no escuro, só para descobrir que depois de um vale, vem outro mais seco ainda. ô desgraça !

 

Pronto agora eu me encontrava perdido em um lugar qualquer no meio do deserto mais seco do mundo e sem um palmo de lugar plano para montar minha barraca. Foi aí que eu havia me esquecido de pesquisar sobre os animais que habitam esta região, será que havia algum tipo de serpente venenosa? Saí dali correndo, escalaminhando as pedras que iam surgindo pelo caminho, até que surgiu outro vale e no fundo do vale, um pequeno riacho sorria pra mim. Desci cambaleando, escorregando, rolando, esquiando. “Ao chegar ao riacho enfiei as mãos na água e logo constatei:” Que merda de água quente e salgada é essa! Quente e salobra foi essa água que tive que tomar para amenizar a minha sede. Logo que a minha boca deixou de ficar seca, percebi que eu havia chegado aos gêiseres, coisa que constatei depois de uns 10 minutos de caminhada riacho acima. Logo na entrada dos gêiseres, fui apresentado a uma pequena cachoeira de águas quentes. Acima da cachoeira, um mundo de pequenas lagoas fumegantes me fez sorrir novamente. O lugar é totalmente deserto, sem nenhuma casa, ou qualquer coisa que lembre civilização. Ao lado de riacho de águas quentes, junto ao pequeno gramado montei minha barraquinha. Tirei minha roupa e como vim ao mundo me atirei na água quente e por lá fiquei um bom tempo observando aquele céu mais espetacular do mundo. Eu estava há mais de 4.300 metros de altitude, sem vento e ao lado de um rio de águas quente. Na noite anterior eu estava deitado numa tumba de gelo a 5.700 metros e lutando para me manter vivo. O mundo dá muitas voltas. Depois de preparar um jantar digno de um rei e de preparar um cantil de suco com a água que já havia quase congelado, comi e fui dormir. Dormi até ás nove horas da manhã e quando acordei eu era um novo homem. Renovado, parti para o vilarejo de Sajama, mas ao invés de seguir pela estrada, decidi voltar pela trilha que seguia junto ao riacho de águas quentes. Foi uma caminhada linda e em menos de 4 horas de caminhada, adentrei no vilarejo e reencontrei meu alojamento. Passei o resto da tarde de bobeira e deixei tudo preparado para abandonar o vilarejo no dia seguinte. AcordeI no outro dia às 4 da manhã e ás 05h30min deixei Sajama e fui conhecer o OCEANO PACÍFICO, já em terras chilenas.

 

Divanei Goes de Paula / Abril de 2013

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Tsc tsc, como você, um réles montanhistazinho de meia pataca, sem mochila ultra power blaster, sem "sleep bed" de pena do ganso das europa, sem bota que custe mais que meu Niva quer subir uma montanha dessa!?!?!? Como é que vou contar lá em casa que um "véio" gastou míseros R$8,00 pra fazer o que gastamos milhares de reais?!?!?!?

Desce já daí moleque!!! ::lol4::::lol4::::lol4::

Tirou foto da cara dela a hora que viu você vivo?!? :mrgreen:

Tu é doido mesmo...

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  • 2 semanas depois...
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Ôhh lôco Divanei!

 

 

Que epopeia camarada! Com um pouquinho mais de preparo e se tu não tivesse devolvido as botas de gelo podia ter feito um belo cume no Sajama, e de forma independente. Mas a aventura valeu muito, especialmente por demonstrar que a determinação e o fator psicológico contam muito em ambientes hostis.

 

Abraço!

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