Ir para conteúdo

Travessia da Serra Fina - 07 a 10 de Junho de 2012


Posts Recomendados

  • Membros

Olá galera!!

 

Espero que gostem do meu relato sobre a Travessia da Serra Fina! Pra quem duvida, ela é difícil sim. Não sei se é a mais difícil, mas ela é muito difícil!!

 

PRÉ-TRAVESSIA

A Travessia da Serra Fina é tachada por muitos, como sendo a mais difícil do Brasil. Ela fica localizada bem na divisa entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, fazendo parte da Serra da Mantiqueira. Apesar de estar localizada bem próxima ao Parque Nacional do Itatiaia, estas montanhas só foram exploradas em meados dos anos 50. Esta travessia também conta em seu roteiro com duas das dez maiores montanhas do Brasil, a Pedra da Mina (2.798m) e o Pico dos Três Estados (2.656m), pra não falar das dezenas de montanhas acima dos 2.000m que também estão incluídas.

A nossa aventura para a travessia iniciou-se muito antes de pegarmos a estrada, pois juntamente com um grupo começamos a planejar pelo menos um mês antes, a fim de evitarmos futuros imprevistos. Naquele instante, todo o esquema já estava formado: Eu e mais quatro amigos sairíamos de Teresópolis na quarta feira de carro, encontraríamos o restante do grupo - oito pessoas – em Passa Quatro e dali seguiríamos de van para a Toca do Lobo, onde iniciaríamos a empreitada. Entre o grupo que faria conosco, estavam uma pessoa que já havia feito a travessia e outra que levaria um GPS... Até então estava tudo pronto!

Porém, todo o nosso planejamento foi por “água abaixo” literalmente, quando há menos de três dias do início, todos os sites de previsão do tempo denunciavam uma forte chuva para aquela região durante praticamente todos os dias em que faríamos a travessia... De quinta a domingo! Um a um foi desistindo... De um grupo que continha treze pessoas, só sobraram quatro pessoas confiantes e otimistas de que os sites estavam errados: Os irmãos Felipe e Fabiano, Digão e eu, Maicon.

Basicamente, o planejamento de irmos de carro até Passa Quatro ainda continuava de pé, porém todo o restante do plano - a van que levaria até a Toca do Lobo, a pessoa que nos guiaria na trilha e o GPS – estava perdido, pois não dispúnhamos de tempo suficiente para preparar tudo. Foi aí que na véspera de nossa partida, nos reunimos e deixamos de pensar com a razão e passamos a pensar somente com a emoção... Iríamos assim mesmo e enfrentaríamos mais este desafio... E sabe-se lá Deus como!

Após a nossa decisão de ir, conseguimos descobrir o telefone do “Seu” Edson, um senhor muito bacana que costuma levar a galera até a Toca do Lobo. Ligamos para ele a fim de negociarmos o resgate e também para perguntar como estava o tempo na cidade, que segundo ele estava “dando pra ver até estrela”! Revelação esta que nos fez ficar bastante empolgados e fortificar a decisão de arriscar.

Com as mochilas prontas partimos às 23h, chegando em Passa Quatro lá pelas 5h. Encontramos-nos com o “Seu” Edson, subimos em uma caminhonete Toyota e partimos rumo à Toca do Lobo. Passamos por uma espécie de condomínio, onde o “Seu” Edson foi resgatar mais dois rapazes. A partir daí sentimos que a travessia não seria brincadeira, pois a viagem em cima da caminhonete foi muito emocionante, já que a rua era cheia de buracos que mais aparentavam crateras. Além disso, o mato tomava conta da tal estrada, e quem abria o caminho era a caminhonete. O carro também subiu em lugares que um carro comum não subiria, logo parecia que faríamos toda a travessia em cima dele... Até que, quando não mais tinha como andar pela rua, a caminhonete parou numa espécie de platô, onde havia já uma barraca montada. Aí sentíamos que finalmente íamos começar a “pegar” a trilha.

1º DIA – TOCA DO LOBO X ALTO DO CAPIM AMARELO

Já a pé, continuamos a seguir a estrada que depois virou uma trilha, até passarmos pela famosa Toca do Lobo (onde também já havia algumas barracas montadas) e chegar a um riacho. Após atravessarmos o riacho, notamos que logo de cara a travessia já se mostrava imponente, pois contava com uma forte subida. Pouco mais de vinte minutos caminhando chegamos numa grande clareira onde já se podiam avistar várias montanhas, entre elas o Pico do Itaguaré! Também já se podia perceber o Alto do Capim Amarelo se mostrando. Ali demos conta de que já estávamos a uma altitude considerada. A trilha até este ponto é de orientação bem fácil e demarcada e não oferece maiores riscos de se perder, mesmo para quem não conheça como no nosso caso.

Com uns 40min desde o começo da trilha, parecia que tudo não ia ficar bem, pois o tempo ameaçou a ficar ruim e gotas grossas de chuva começaram a cair... Porém, tudo não passou de um susto, e a chuva parou instantaneamente... Foi um alívio para todos nós!

Por volta de 1h30min de caminhada, chegamos à mais um ponto de água onde paramos por um tempo para descansar. Percebemos que a travessia é difícil até neste quesito, já que para pegar água neste lugar, tem-se que descer um barranco muito escorregadio e inclinado. Um desafio para poucos.

Daí pra frente o visual começa a ficar cada vez mais fascinante, pois vamos caminhando pelas cristas das montanhas e lá em baixo, um mar de nuvens! Logo percebemos que a previsão dos sites poderia ter acertado a questão do clima para as cidades abaixo, mas para a Serra Fina não... Nessa, demos sorte.

Mas todo o visual “acaba” quando começamos a pegar uma subida muito forte. Em alguns trechos mais parecia com uma escalada do que uma caminhada, só que ao invés de rocha escalávamos em barrancos cheios de lama. Agradecemos muito por ter tantos bambus nesse ponto, pois graças a eles conseguíamos vencer cada metro. A mochila, pesada, parecia que puxava o nosso corpo para baixo, e foi muito difícil conseguir passar por vários trechos com ela. Até que eu e Felipe, conseguimos chegar numa espécie de acampamento onde havia quatro pessoas nele, para as quais perguntamos se ali era o Capim Amarelo. Após se entreolharem, um respondeu que não e meio que ironicamente disse que ainda tinha uma pequena subidinha e complementou que pararam ali somente para fazer uma refeição. Não acreditamos nesse termo “subidinha”, pois se pararam ali pra fazer uma refeição, era sinal de que a subida ainda era longa... A expectativa se cumpriu, e a subida que era forte, parecia que tinha ficado pior. Nesse momento, já não se podia ver o horizonte, pois estávamos cobertos por uma névoa muito densa. A cada passo que subíamos e chegávamos num suposto cume, percebíamos que mais acima existia mais um morro a ser conquistado. E foi assim por pelo menos umas cinco a dez vezes. Não estávamos acreditando naquilo tudo, a montanha parecia que lutava contra a gente... Nunca tínhamos passado por trilha pior do que aquela e nossas forças estavam se esgotando completamente. Até que... (uffa) Finalmente chegamos ao nosso destino final: A conquista do Alto do Capim Amarelo havia chegado 5h após o início. A alegria tomou conta de nós e mal sabíamos o que nos ia acontecer no dia seguinte.

Rapidamente, eu e Felipe, começamos a procurar um local para acamparmos, pois já tínhamos ouvido falar sobre a tal disputa por acampamentos que rola nesta travessia. Encontramos um lugar bem protegido e só nos restou esperar o Fabiano e o Digão chegarem. Enquanto isso, ficamos conversando com aqueles dois rapazes que vieram junto conosco no carro. Estes que já haviam chegado ali há bastante tempo, pois vieram num ritmo bem mais rápido.

Após a chegada dos nosso amigos, montamos as barracas, fizemos uma refeição e logo fomos dormir, pois estávamos todos acordados desde as 22h e nesse momento já eram 15h!

2º DIA – ALTO DO CAPIM AMARELO x BASE PEDRA DA MINA

O frio tinha tomado conta do acampamento e acordamos somente às 8h. Levantamos, saímos da barraca e reparamos que o tempo estava completamente nevoado. Um grande grupo de mais ou menos quinze pessoas estava acampado, além de vários outros grupos menores. A grande maioria sabia que dali pra frente, a orientação na trilha seria muito difícil e piorada com o clima desfavorável, por conta disto quase todos desistiram de continuar a travessia. Neste momento foi muito decisivo para o nosso grupo, pois ninguém conhecia sequer um pouco da trilha. Mesmo assim decidimos ir em frente após conversar com um grupo de três pessoas, um deles o Rameno que estava com GPS e aceitou nos dar ajuda. A partir dali tínhamos nos tornado um grupo de sete pessoas.

Logo após sairmos do acampamento fomos seguindo por uma trilha que começou a ficar muito íngreme e em seguida se fechou. Ao consultar o GPS, o Rameno descobriu que estávamos fora da trilha. Estava aí a prova de quanto a orientação seria difícil naquele dia. Voltamos subindo cerca de 5min até encontrar a bifurcação. A trilha correta seria a da esquerda de quem esta descendo e foi essa mesmo que pegamos. A partir deste ponto, a trilha ficou mais tranquila de ser guiada, e sempre quando aparecia alguma dúvida, consultávamos o GPS. Porém ainda estávamos em meio a nuvens e tínhamos no máximo 5m de visibilidade.

Andamos cerca de 2h até encontrar mais um grupo de três pessoas, entre eles um menino de 14 anos, que estavam meio confusos com a trilha e se juntaram a nós. Agora éramos 10 pessoas andando em meio à mata e se ajudando em todos os pontos. Parecia que já nos conhecíamos há muito tempo. Foi uma convivência muito agradável.

Durante essa caminhada até a base da Pedra da Mina quase tudo aconteceu! Pegamos uma chuva um pouco mais forte e com ventos muito gelados, nos perdemos da trilha umas duas vezes, porém conseguimos voltar a ela. Descobrimos que o Rameno já foi soldado da Legião Estrangeira. Também rimos muito quando o pai dele disse que caso ele continuasse parado ali, ia acabar virando um totem. E depois complementando que se estávamos rindo daquela forma era porque estávamos todos bem. Também encontramos mais um ponto de água que estava marcado no GPS. No mesmo local fizemos amizade com mais dois homens que estavam passando, Divanei e Valdemir. Eles nos acompanharam até chegarmos num local que serviria de acampamento e lá eles ficaram.

Com dificuldade por conta da chuva, do vento e do frio, fomos andando até chegar a um riacho. O GPS estava apontando para a esquerda, informando que teríamos um acampamento. Nesse instante já conseguíamos ver uma pedra muito alta, que estávamos imaginando que seria a Pedra da Mina. Eu e Rameno fomos procurar o tal acampamento, mas nada encontramos. O que existia era apenas um grande terreno pedregoso, e como já estava quase escurecendo, decidimos ficar por ali mesmo e acampar, pois no próximo dia a caminhada seria complicada.

O terreno onde acampamos não era dos melhores e a todo instante eu acordava. De vez em quando com dores pelo corpo e outras vezes porque escutava o Fabiano e o Digão discutindo na outra barraca por conta dela ter sido colocada num lugar horrível... Eu e Felipe só riamos da situação... Foi uma verdadeira comédia romântica!

3º DIA – BASE PEDRA DA MINA x PICO DOS TRÊS ESTADOS

Acordamos e levantamos logo cedo, às 5h30min. Sabíamos que o dia seria muito difícil, pois teríamos que subir a Pedra da Mina e no final o Pico dos Três Estados. Guardamos as nossas barracas e ficamos à espera do grupo do Rameno. No entanto quando já eram 9h, nós quatro decidimos ir adiantando e partimos em frente. Começamos a subir a Pedra da Mina e em pouco mais de 1h de caminhada já estávamos no seu cume. Lá encontramos o Divanei e o Valdemir, além de mais algumas pessoas. Entre elas o Marcelo e a Cissa.

Lá em cima tiramos muitas fotos e também comemoramos muito, já que estávamos num dos maiores picos do Brasil! Espantamos-nos quando um homem apareceu com dois bonitos cães por lá, um fato estranho para um ambiente de montanha como aquele. Também ficamos interessados quando este mesmo homem nos mostrou os destroços de um avião numa montanha logo à frente. Logo após isso, o grupo do Rameno também chegou ao cume.

No entanto não permanecemos muito tempo ali e nós quatro decidimos continuar nossa longa aventura, se guiando apenas mesmo por totens e vestígios de pisadas até que novamente encontramos o Marcelo e a Cissa, que tinham descido um pouco antes, mas estavam um pouco fora da trilha. Eles também nunca tiveram feito a travessia e estavam se guiando por um GPS, quando por sorte nossa, também nos ofereceram ajuda!

Após descermos a Pedra da Mina, ficamos de frente para o temido Vale do Ruah. Um vale alagado e cheio de Capim Elefante, que em muitos lugares alcançavam facilmente os dois metros de altura. Fora isso, também tínhamos que tomar cuidado porque qualquer vacilo, poderíamos ficar atolados até a cintura! E sem exageros! Mesmo assim fomos em frente, sempre seguindo as pistas do GPS até chegar ao um rio. A partir daí começamos a margear o rio até quando ele começou a virar para a esquerda. Traços do GPS indicavam que a trilha estava mais a direita. Foi isso que fizemos, começamos a subir o morro e olhando para trás nos agraciamos por ter passado por mais um difícil obstáculo.

A partir daí a trilha sempre foi bem demarcada com pontos muito fáceis de serem guiados, porém muito difícil quanto a capacidade física, pois a toda instante subíamos e descíamos grandes morros. Fomos nesse dilema até chegarmos à base do Cupim do Boi. Nesse momento surgiu uma dúvida, pois o GPS dizia que tínhamos que ir para o cume, mas antes tínhamos recebido a informação de que ele deveria ser contornado, a fim de evitar a sua subida. Como não encontramos nenhuma trilha, seguimos mesmo para o cume, que nos presenteou com uma belíssima visão do Pico dos Três Estados!

Depois disso começamos a descer o Cupim, sempre seguindo os totens que estavam pelo caminho até adentrarmos em meio a um bambuzal. Logo após pegamos a subida para o cume do Três Estados. Uma forte, mas tranquila subida e cerca de 1h depois, estávamos de frente para o famoso tripé de ferro que fica localizado no seu cume. O tripé tem as palavras Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais em cada um de seus “pés”!

Espantamos-nos ao perceber que havia muitas pessoas por lá, e quase não conseguimos arrumar um bom local para acamparmos. Na verdade, um bom local não veio e tivemos que acampar num terreno meio desnivelado mesmo. No entanto, mesmo com isso, não nos deixamos abater e ficamos muito felizes por estar completando mais uma etapa. Sabíamos que o fim desta empreitada estava próximo, só faltava um dia para cumprir a nossa meta! Nada como ficar curtindo um pôr do sol e desfrutar da belíssima visão que o cume do Três Estados nos proporciona em direção às Agulhas Negras e Prateleiras!

 

4º DIA (Parte 1) – PICO DOS TRÊS ESTADOS X BIFURCAÇÃO (depois explico)

Após três cansativos dias ao longo da travessia, esperávamos que o último dia fosse bem mais tranquilo, porém não foi isso que aconteceu. A descida do Pico dos Três Estados não é das mais fáceis, justamente porque os nossos corpos já estavam bastante cansados e debilitados. Problemas nos pés e nos joelhos e cansaço nas pernas começaram a aparecer. Parecia que tudo se unia para tentar nos derrubar, literamente. E como já não bastasse esse trecho não é feito somente de descidas, e em pelo menos quatro momentos tivemos que pegar subidas também.

Esse trecho é bem tranquilo quanto à orientação, mas mesmo assim seguimos no encalço de quatro rapazes que estavam descendo na nossa frente, até chegarmos a um ponto que pudemos realizar uma ligação para o “Seu” Edson, a fim de combinarmos o resgate para os oito. Até ali estávamos conseguindo ir sempre bem próximo a eles, porém um problema afetou os pés de Fabiano e tivemos que descer bem devagar, para evitarmos maiores problemas. Outra coisa que estava afetando muito era a questão de água, que naquele momento já estávamos sem.

Foi aí que nos surgiu uma ideia: pedimos para o Digão, que estava aparentemente bem, seguir e tentar acompanhar os quatro que estavam na frente, a fim de pedir a eles para nos esperarem e assim pegarmos o resgate juntos. Com bastante receio de que ele pudesse se perder, eu o alertei de que caso chegasse à algum ponto duvidoso ou algum tipo de bifurcação, que ele parasse e nos esperasse, pois decidiríamos juntos o que fazer.

Após isto, eu Fabiano e Felipe, continuamos a nossa longa descida que parecia que nunca ia acabar. Já estávamos andando às 3h praticamente sem água. Só o que tínhamos eram alguns mililitros. O Fabiano já não tinha nada e decidiu tomar água das que ficavam armazenadas nas Bromélias. Foi muito hilário, mas salvador!

Depois de mais ou menos 5h andando pela trilha, esta se transformou em uma espécie de estrada que aparentemente há anos não passa carro. Continuamos a descer por esta estrada e com cerca de 15min finalmente encontramos um riacho! Foi tanta alegria, que quase pulamos dentro dele. Enchemos as nossas garrafas menores e deixamos as maiores vazias, pois aparentemente a travessia estava chegando ao seu fim.

Quando estávamos caminhando aproximadamente 30min nesta estrada, encontramos uma bifurcação em “T”. Naquele momento não tínhamos ideia de que direção pegar, até que encontramos uma seta feita com pedaço de pau apontando para o lado direito. E no outro lado existiam pedaços de pau espalhados, como se fossem barreiras. Nesse momento, como o Digão não estava ali da forma que eu o tinha orientado, nem pensamos duas vezes. Calculamos que ele tivesse acompanhado os outros quatro, e que estes decidiram nos sinalizar a direção correta. Assim sendo, pegamos a estrada para a direita.

4º DIA (Parte 2) – BIFURCAÇÃO X HOTEL SÃO GOTARDO (a grande burrada)

Depois de caminhar aproximadamente 1h30min a estrada começou a ficar mais larga e de repente nos deparamos com um enorme platô, uma espécie de mirante de frente para as Agulhas Negras... Uma visão espetacular! Lá também estava o nosso amigo Digão sentado, nos esperando. A primeira coisa que perguntamos foi onde estavam os rapazes, e ele nos disse que não conseguiu acompanhá-los. A partir daí já começamos a ficar desconfiados. E então perguntamos se ele tinha seguido a seta também, mas foi aí que ele nos disse que foi ele quem tinha colocado a seta no chão! Nesse momento ficamos boquiabertos e assustados com a situação, pois não tínhamos chegado à Fazenda do Pierre que há 1h30min atrás achávamos que estava perto e agora estávamos de frente para um mirante que nunca tínhamos ouvido falar que existia... Foi aí que ele nos disse que havia visto um casal no mirante, que estes disseram que estavam num hotel e depois desceram por uma trilha.

Naquele momento nós três já tínhamos quase a certeza de que estávamos no lugar errado. Fui olhar pelo mirante e reparei que passava uma rodovia lá em baixo, no mesmo momento calculei que se tratava da mesma rodovia que deveríamos ter saído. Começamos a nossa descida pela trilha, e logo avistamos uma pequena placa indicando que faltava 1 km para o fim da mesma. Depois disso tudo, ainda tínhamos que andar por uma trilha de 1 km de descida íngreme e ter que ler chatas plaquinhas informativas. Nada bom para os pés e joelhos que já vínhamos sentindo há um tempo. Mesmo sem ter a certeza acusávamos o Digão de ter feito uma bela de uma lambança. Foi quando me lembrei de que tinha imprimido alguns relatos da travessia.

Foi uma sensação horrível quando li que depois do riacho (aquele que quase pulamos dentro) haveria uma bifurcação, e que o lado correto deveria ser o esquerdo! Também dizia no relato que a trilha seguiria por mais apenas 20min e chegaria à Fazenda do Pierre. Neste momento, a vontade de prender, torturar, enforcar, estrangular e matar o Digão foi grande. Os irmãos Fabiano e Felipe também sentiram a mesma coisa, eu acredito. Ninguém conseguia acreditar nisto tudo, pois realizamos a travessia quase toda e não havíamos nos perdido em nenhum instante... E agora, no lugar mais tranquilo de todos, acabamos pegando o caminho errado. Não conseguíamos entender o porquê do Rodrigo de ter feito isso e o porquê dele ter optado justamente pelo lado errado. Se ao menos ele tivesse seguido nossa recomendação e tivesse nos esperado. E se ao menos ele não tivesse colocado a maldita seta no chão... Àquela hora estaríamos pegando o carro para casa! Parece hilário, mas no momento, só o que sentíamos foi revolta...

Após termos esta certeza acima, continuamos a nossa dura descida, até chegarmos numa espécie de fazenda, por onde andamos cerca de 30min até chegarmos à portaria. Aí foi que percebemos que estávamos na famosa Garganta do Registro, “apenas” 5 km de onde deveríamos ter chegado!!! Ficamos conversando com o porteiro, a fim de saber como poderíamos entrar em contato com o “Seu” Edson, mas não conseguimos, pois não existia sinal de celular e nem ao menos um telefone fixo. Ficamos muito impressionados quando o porteiro disse que trabalhava ali há seis anos e que nunca tinha visto alguém sair da travessia por esse ponto... Percebemos que tínhamos feito algo inédito! Era realmente inacreditável! Só nos restava sorrir da situação, já que uma opção mais trágica (matar o Rodrigo) nada mais adiantaria... E também sorrimos muito, pois o porteiro, com um sotaque bem puxado de minas, não parava de exclamar a todo o momento: “Uunooouusssaa Sinhooouura!”.

Ficamos lá buscando uma resolução para o problema, até que nos bateu a ideia de irmos mesmo caminhando até a entrada da Fazenda do Pierre... Depois de andar por uns 15min e ficar decidido que eu e o Digão iríamos à frente pra tentar chegar mais rápido Felizmente conseguimos uma carona até o local e lá encontramos um motorista de Taxi-Kombi, o qual eu convenci a voltarmos e buscar o Felipe e Fabiano. Após buscarmos os dois e retornarmos a entrada da fazenda, conseguimos ligar para o “Seu” Edson, o qual informou que estava chegando a Passa Quatro e que retornaria para buscar-nos.

Esperamos pelo menos umas 2h no local e nada do “Seu” Edson aparecer para nos resgatar, até que começaram a surgir várias pessoas que haviam saído lá do Pico dos Três Estados bem depois da gente... Pessoas que tinham feito amizade com a gente pelo caminho... Entre eles o Rameno com todo o seu grupo, o Divanei e o Valdemir, o grupo de três pessoas que continha o menino de 14 anos... Enfim, quase todos! Percebemos que pelo menos para uma coisa a “burrada” tinha nos adiantado: Reencontrar as amizades que tínhamos feito durante a travessia e aproveitar para pegar todos os contatos, para que essas amizades pudessem perdurar por um bom tempo.

Depois disso, todos eles começaram a ser resgatados e nós quatro continuamos lá por mais pelo menos 2h e nada do “Seu” Edson. O que estávamos pretendo fazer quando saímos do cume do Pico dos Três Estados, que era chegar cedo em Passa Quatro e logo voltarmos para Teresópolis, tinha ido por “rio a baixo”. Agora nos perguntávamos se iríamos conseguir sair dali e que hora, até que finalmente: com uma Toyota antiga (a mesma que nos levou até a Toca do Lobo) surge o “Seu” Edson para nos resgatar e nos levar sãos e salvos para a pequenina Passa Quatro.

A viajem na Toyota até que foi prazerosa, pois ficamos na carroceria e fomos presenteados com uma noite bela e estrelada, onde não havia sequer uma nuvem. Mesmo com aquilo tudo que nos tinha ocorrido, naquele momento estávamos em silencio a apreciar toda aquela magnitude. Pude pensar em tudo que vivi durante aquela travessia: a incerteza da conclusão da mesma quando saímos de Teresópolis; a chuva repentina no começo da travessia e que nos fez repensar a ideia de continuarmos ou não; a forte neblina que encontramos quando acordamos no Alto do Capim Amarelo, esta que fez muita gente desistir. Pensei também nas “caronas” de GPS que por sorte conseguimos descolar (sem elas dificilmente conseguiríamos). Pude pensar na chuva e vento forte que pegamos até chegar à base da Pedra da Mina; nas lutas para conseguir bons locais para acampar; no frio e na dor que senti ao tentar calcar as botas logo pela manhã por conta dos dedos quase congelados; na dificuldade de ter que sair da barraca de madrugada para “tirar água do joelho”. Naquele momento tive a certeza de que tudo que eu havia feito e passado, tinha valido a pena e que mais um objetivo tinha sido concluído em minha. Já começava a pensar em novos planos e novos desafios no futuro... Até que finalmente chegamos em Passa Quatro. Despedimos-nos de “Seu” Edson, entramos no carro e deixamos para trás a pequena cidadezinha, com a incerteza de que um dia voltaremos para aquela que apesar de ter sido a mais difícil, também se tornou a mais emocionante!!! Até mais Serra Fina, foi um prazer!!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros

Obrigado pelo comentário Francisco!! Acho que quando alguém quer tanto uma coisa e realmente confia que aquilo é possível, coisas extraordinárias acontecem e acabam ajudando o seu objetivo se tornar realidade! Foi uma experiência fantástica e como vc disse, inesquecível! Também fomos felizes por encontrar pessoas legais pelo caminho e que nos ajudaram a concluir a travessia, realmente isto é raridade!! Grande abraço e felicidades!!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros

Caramba maicon, que aventura cara. Esperamos vcs por quase 3 horas e depois de algumas discussoes, entre elas ate tentar ir resgata-los, resolvemos seguir viagem pq estavamos bem cansados. Nesse periodo de espera, grupo a grupo descia e perguntavamos de vcs e nada. Como vcs estavam com a gente ate o ivos, me senti mais tranquilo e tb tinha quase certeza q vcs tinham virado a direita la na bifurcacao. Me informei com o silvinho, um guia local, q la no fim da trilha daria numa cachoeira e q nao dava pra continuar. Pensei comigo mesmo e resolvi seguir na esperanca de vcs voltarem a trilha ate a bifurcacao e tomarem o rumo certo. Durante a volta aquela sensacao de ter deixado vcs pra tras estava incomodando a todos( eu, brunao, lucas e o samuel) mas estavamos menos incomodados por saber que depois do ultimo ponto q os vimos a trilha oferecia poucos perigos. Aquela sensacao ruim passou depois que vcs ligaram pro seu edson, pensamos: ufa eles estao bem!! A partir dai demos uma relaxada. Desculpem alguma coisa e ate a proxima aventura!! A serra fina é sempre desafiadora! Abracos

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros

Éeee Felipe, foi uma aventura mesmo!! Foi mais inesquecível que a própria Serra Fina... hehehehe... O seu Edson falou mesmo que vcs ficaram nos esperando. Se não tivesse acontecido aquilo com a gente, acho que estaríamos na fazenda, no máximo em 1h depois de vcs... Mas, fazer o que né?! rsrs... Deixa quieto! Serviu pra termos histórias a contar! Vlw cara! Grande abraço!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros de Honra

Muito bom o relato Maicon. Que gostoso podermos ler três versões de uma mesma história (acho que isto foi inédito aqui), contando com os relatos da Cissa e do Divanei. Tudo vai se encaixando e dando uma visão maior e mais rica do que foi a aventura de todos vocês nesse feriado.

Pra mim o verdadeiro montanhista não é aquele que percorre a montanha apenas pela sua glória pessoal, "o individualista".

O montanhista de verdade é moldado pela montanha, ele é forjado na dor, no suor, no frio, nas lágrimas, na sede, na exaustão física, mental e ela ensina que todos são nivelados por ela. O verdadeiro montanhista aprende a respeitar não só a montanha, mas todos os demais que assim como ele buscam a mesma felicidade e que se é necessário ser generoso.

Como já disse Christopher McCandless: “A felicidade só é verdadeira se for compartilhada”.

 

Nesse feriado vocês foram verdadeiros montanhistas. Parabéns. ::otemo::

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros de Honra
Muito bom o relato Maicon. Que gostoso podermos ler três versões de uma mesma história (acho que isto foi inédito aqui), contando com os relatos da Cissa e do Divanei. Tudo vai se encaixando e dando uma visão maior e mais rica do que foi a aventura de todos vocês nesse feriado.

Pra mim o verdadeiro montanhista não é aquele que percorre a montanha apenas pela sua glória pessoal, "o individualista".

O montanhista de verdade é moldado pela montanha, ele é forjado na dor, no suor, no frio, nas lágrimas, na sede, na exaustão física, mental e ela ensina que todos são nivelados por ela. O verdadeiro montanhista aprende a respeitar não só a montanha, mas todos os demais que assim como ele buscam a mesma felicidade e que se é necessário ser generoso.

Como já disse Christopher McCandless: “A felicidade só é verdadeira se for compartilhada”.

 

Nesse feriado vocês foram verdadeiros montanhistas. Parabéns. ::otemo::

::otemo::::otemo::::otemo::::otemo::

Em tempo: Maicon, muito legal o relato, parabéns!!!

Como eu já disse pro divanei e Cissa, Serra Fina com chuva é para poucos.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros de Honra

Olá Maicon!

 

 

Muito bacana o relato e a aventura em si. Parabéns!

 

Realmente me assombrei em ver 3 relatos de uma "mesma" travessia nos mesmos dias, com um tempo péssimo na região. Todos guerreiros da Serra Fina!

Não pude me furtar em comentar e parabenizá-lo pelo feito.

 

Grande conquista!

 

Saudações,

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Membros

otimo relato, parabens,aproveitei para pegar algumas orientações que serao mto uteis para min essa semana

estou indo para serra fina hoje,espero que tudo de certo(se Deus quiser)

pelo menos sei que nao vou sair na garganta do registro(rsrsrs Essa foi ilaria msm)(só vcs msm)

valeu e até mais

e outra vez parabens pra vcs,nesta data estava programado para eu e os meus parceiros para irmos mais agente afinou por causa do tempo,então vcs venceram duas vezes ,a de fazer a travessia e a de encarar o mal tempo

valew galera da montanha!!!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Participe da conversa

Você pode postar agora e se cadastrar mais tarde. Se você tem uma conta, faça o login para postar com sua conta.

Visitante
Responder

×   Você colou conteúdo com formatação.   Remover formatação

  Apenas 75 emojis são permitidos.

×   Seu link foi automaticamente incorporado.   Mostrar como link

×   Seu conteúdo anterior foi restaurado.   Limpar o editor

×   Não é possível colar imagens diretamente. Carregar ou inserir imagens do URL.

×
×
  • Criar Novo...