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Trekking EBC, via Gokyo, solo, independente e sem inglês: 175 km e 8.800 m de desnível, em 12 dias


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Há aproximadamente cinco ou seis anos que o Trekking EBC não sai da minha mente. Neste período conheci mais de 20 países, subi algumas montanhas na América do Sul e México, além de ter feito diversos trekking e travessias aqui no Brasil e pelo mundo, mas o EBC continuava ali, como um objetivo a ser alcançado, um projeto a ser concluído...

 

Tudo começou quando li um relato bem antigo aqui no Mochileiros, com uma riqueza de detalhes e experiências, que me impressionou muito, e que durante esses anos todos não deixou que esquecesse esse objetivo. Na verdade, a cada ano que passava lembrava do relato o que aumentava o meu desejo de realizar o trekking. Um dos motivos de ter adiando a empreitada é que, diferentemente do autor do relato, queria realizá-lo solo e de forma totalmente independente. Entretanto, havia um grande limitador: Sempre tive muita dificuldade com inglês (espanhol quase fluente, um italiano muito bom e um francês básico), que sempre foi meu grande calo, desde a época do colegial, o que me deixava com certa insegurança de fazê-lo sozinho e independente.

 

No final de 2015 decidi que não passaria o ano de 2016 sem realizar meu grande objetivo, independentemente de qualquer outra coisa ou limitação. Assim, consegui reservar as passagens aéreas, ainda naquele ano e, a partir daí, intensifiquei as pesquisas e preparativos. Tentei melhorar meu inglês, mas sem grande sucesso.

 

Como existem diversos relatos aqui no Mochileiros e na internet, meu principal objetivo aqui não será realizar uma descrição detalhada do dia-a-dia do trekking, mas tentar fornecer um conjunto de informações e dicas para ajudar aqueles que pretendem fazer o trekking nas mesmas condições que fiz.

 

Primeiro, vou apresentar um relato resumido do roteiro que realizei, fazer algumas considerações e depois ir postando as informações e dicas para tentar ajudar aqueles que pretendem fazer trekking independente. Vou procurar fazer de forma estruturada e conforme meu tempo disponível.

 

Relato resumido:

12 a 14/10/2016: Realização dos voos com stopover em Londres e Delhi

VIX – GRU – LRH - DEL: Bilhetes emitidos diretamente no site da TAM com 50.000 mil pontos Multiplus. Stopover de 12 horas em Londres e de 10 horas em Delhi. Minha idéia inicial era emitir com destino final KTM, mas não consegui pelo Multiplus, somente para DEL.

 

Cansativo? Claro que sim! Valeu a pena? Muito! Em Londres consegui renovar meus equipamentos de montanha, além de comprar os de minha filha com preços, em média, bem menos da metade do que gastaria aqui no Brasil. Vou apresentar algumas dicas para comprar equipamentos em Londres, informar o que comprei e o valor.

 

Em Delhi pude ter o gostinho do que é uma viagem para Índia, que pretendo fazer em breve, onde quero ficar pelo menos trinta dias e percorrer as principais cidades do país, de leste a oeste.

 

DEL – KTM: Como não consegui emitir o bilhete com destino final para Kathmandu pelo Multiplus, comprei esse trecho de forma separada.

Não é considerando um trecho caro ou de difícil emissão, pois as companhias aérea indianas o fazem em várias frequências diárias, com emissão online. Entretanto, não sei bem o porquê, não encontrei por menos de 200 USD na data que precisava (acho que deixei para reservar esse trecho meio em cima da hora, na alta temporada). Depois de pesquisar bastante, consegui emitir pela Nepal Airlines por aproximadamente 80 USD. Nas dicas vou dizer como, pois é uma companhia que geralmente não aparece nas pesquisas dos sites agregadores tradicionais, nem possui compra online. Pretendo dar dicas também de como agilizar, ainda no Brasil, o visto de entrada no Nepal, algo que não vi em nenhum site ou guia que consultei, somente no site do governo do Nepal.

 

15/10/2016: Preparativos do trekking em Kathmandu

Usei esse dia para providenciar a autorização do governo do Nepal para o trekking (TIMS), comprar o que faltava, preparar o equipamento e organizar a mochila.

 

Pretendo postar dicas aqui no Mochileiros de como emitir a TIMS e do que compensa comprar em Kathmandu, visto que lá é o paraíso das falsificações, além dos preços que paguei e da negociação com os vendedores, o que é muito importante para se conseguir bons negócios.

 

16/10/2016: Dia 1 - Voo de Kathmandu para Lukla (2.850 m) e primeiro dia de trekking, de Lukla para Namche Bazar (3.450 m), com duração de 8 horas

Não preciso fornecer detalhes do voo pois uma das primeiras coisas que quem pretende fazer essa viagem faz é pesquisar vídeos no Youtube, onde existem vários que dão uma ideia clara do que esperar do “aeroporto mais perigoso do mundo”. O que posso dizer é que o que acontece é exatamente como nos relatos e vídeos. Pretendo postar nas dicas algumas informações sobre preço, como comprar o bilhete sem agências, ainda no Brasil, horários de voos, como proceder no check-in e no embarque, entre outras.

 

O caminho a partir de Lukla segue por pontes suspensas e aldeias, margeando o rio Dudh Khola, ora cruzando com grupos de trekkers que retornam, com caravanas de yaks indo e vindo, com carregadores e suas enormes cargas. A ponte suspensa de Larja marca o acesso à escadaria para Namche Bazar. A subida é muito forte e dura aproximadamente de duas a três horas, com várias paradas para recuperar o fôlego.

 

Geralmente o trecho de Lukla para Namche é realizado em dois dias. Não achei na internet relato sobre fazer em um dia. Acho que a dificuldade de fazê-lo em um dia tem haver com a aclimatação. Nas dicas pretendo trazer informações do que fiz para potencializar a aclimatação, o que é interessante para aqueles que dispõem de um período curto para realizar o trekking.

 

17/10/2016: Dia 2 - Aclimatação com trekking de ida e volta entre Namche (3.450 m) e Thame (3.800 m), com duração de 8 horas

Importante reservar um dia em Namche para aclimatação, independentemente do tempo que dispõe, além de poder conhecer a cidade, as atrações e a região, que são muito interessantes. Essa aclimatação é importantíssima, e foi a única que realmente fiz. Os roteiros tradicionais geralmente trazem mais dois ou três dias de aclimatação em outros locais. No meu caso, por causa do tempo, não reservei mais nenhum outro dia específico para aclimatação.

 

18/10/2016: Dia 3 - Namche (3.450 m) para Dhole (4.020 m), com duração de 9 horas

Resolvi fazer um dia mais puxado, para poder ter uma folga maior no dia seguinte, pois estava me sentindo muito bem, com ótima aclimatação. Esse dia foi realmente muito cansativo e somente recomendo para aqueles que tenham um bom potencial de aclimatação e suficiente preparo físico, pois são duas subidas fortes. Caso contrário, é melhor fazer o pernoite em Phortse Thenga, pequena vila depois do passe de Mong, localizada logo após o acesso à Phortse.

 

19/10/2016: Dia 4 - Dhole (4.020 m) para Macherma (4.400 m), com duração de 3 horas

Foi um dia bem fácil, mais de descanso e aclimatação. Iniciei o trekking mais tarde, em torno das 10h. O caminho segue pelo chamado vale de Gokyo, cujas paisagens são realmente muito belas, com as vistas de montanhas, o verde da vegetação, que aos poucos vai dando lugar ao marron, conforme subimos, além das pequenas vilas e fazendas “penduradas” na montanha.

 

20/10/2016: Dia 5 - Macherma (4.400 m) para Gokyo (4.800 m), com duração de 4 horas

Dia de trekking relativamente fácil. O que marca esse caminho é a chegada aos lagos de Gokyo. O primeiro é bem pequeno, quase imperceptível. O segundo, para mim, o mais bonito por causa dos diversos totens que existem em suas margens, além das grande pedras onde é possível fazer uma escalaminhada até certa altura, com uma vista completa da paisagem. Depois de chegar em Gokyo, que fica no terceiro lago (também muito bonito), deixei a mochila no lodge, continuei até o Lago de Thonak, quarto lago, em mais ou menos 2,5 horas ida e volta.

 

Pretendo dar dica de como potencializar uma vaga em Gokyo, pois não é fácil no mês de outubro. A vila fica lotada, pois é um ponto de confluência de vários percursos de trilhas e de grupos de trekkers. Vi gente ficando em barracas por falta de acomodação.

 

Gokyo é sem dúvida um dos destinos mais espetaculares do Sagarmatha National Park. Como meu tempo para fazer o trekking era muito curto, até próximo à viagem ainda estava na dúvida se seria possível incluí-la no roteiro, o que, no meu caso, só foi possível depois que inverti o sentido do trekking, ou seja, fazendo Gokyo antes do EBC. Inicialmente programei em fazer o sentido mais tradicional, mas não conseguia encaixar Gokyo no prazo que dispunha. Depois que mudei o sentido, ficou bem mais fácil. Recomendo fortemente incluir Gokyo no roteiro de trekking, pois as paisagens são de fato espetaculares.

 

21/10/2016: Dia 6 - Gokyo (4.800 m) para Gokyo Ri (5.400 m), com duração de 4,5 horas (subida/descida) e Gokyo (4.800 m) para Dragnag (4.700 m), com travessia do Glaciar Ngozumpa e duração de 3 horas

Um dos momentos mais esperados para mim, o cume de Gokyo Ri, pois permite uma visão ímpar da cadeia de montanhas do Himalaya. Talvez as melhores fotos que fiz no trekking.

 

Depois de retornar e almoçar em Gokyo, iniciei a travessia para Dragnag. O trajeto não é longo, mas exige muita atenção e cuidado, por se tratar de uma travessia em zona de geleira, com pedras soltas e onde a trilha não é bem definida. Importante observar os totens de pedra que marcam o melhor trajeto. Deixei para fazer bem mais tarde e praticamente fiz sozinho, e com o tempo já bastante fechado.

 

22/10/2016: Dia 7 - Dragnag (4.700 m) – Cho La Pass (5.420 m) – Dzonglha (4.850 m), com duração de 8h

Certamente o dia mais difícil do trekking. Para quem está só, importante não perder a partida dos grupos às 6h (agendei o café da manhã para 5:30h). Esse dia tem caminhada em terra, subida e descida em pedra e gelo, com uma pequena escalaminhada, momentos de calor e frio intenso. A trilha nas paredes de pedra não é bem marcada, por isso importante subir e descer com bastante atenção e cuidado, sempre escolhendo o melhor caminho, evitando-se as pedras soltas e utilizando com firmeza os bastões de caminhada como apoio. Importante também, pelo menos para mim foi muito, a utilização de crampons na caminhada sobre a geleira, que de certa forma é curta mas muito escorregadia. Os crampons que usei foram bem simples e comprados em Kathmandu por 5 USD, mas que forneceram um grande apoio.

 

23/10/2016: Dia 8 - Dzonglha (4.850m) para Lobuche (4.900 m), sendo que meu objetivo era chegar em Gorak Shep

Seria uma simples caminhada de aproximadamente 5h, mas que no meu caso ficou bastante complicado pois peguei uma trilha errada e quando me dei conta estava descendo em direcção a Periche. Tive que voltar subindo mais ou menos umas três horas. Meu objetivo inicial era chegar direto a Gorak Shep, pernoitando lá. Entretanto, com o erro da trilha, cheguei em Lobuche já a tarde e com o tempo muito fechado e temperatura em queda livre. Achei melhor, pelo cansaço, pernoitar em Lobuche. Posso dizer, por experiência própria, que errar a trilha abala muito o trekker, principalmente em relação à sua concentração. No meu caso foi uma falha amadora, pois bastava ter olhado melhor o mapa ou ter ligado o GPS.

 

24/10/2016: Dia 9 - Lobuche (4.900 m) – Gorak Shep (5.150 m) – EBC (5.350 m) – Periche (4.300 m), em 9 horas

Por conta do erro na trilha, esse dia foi bastante puxado. O trecho entre Lobuche e EBC não é fácil, muita subida e descida, que ficam acentuadas pela altitude acima dos 5.000 m. Vi um grupo inteiro desistindo antes de chegar ao EBC, pois integrantes passavam mal e outros, muito cansados.

 

Minha principal missão no trekking era chegar o mais próximo da temida “Cascata de Gelo” da face sul, no EBC, local onde os “Doutores do Gelo” instalam aquelas escadas de alumínio e cordas de segurança que servem de apoio para as expedições atravessarem as grandes fendas. Antes da zona da morte (acima dos 8.000m), o trecho mais traiçoeiro da escalada ao cume do Everest pelo lado do Nepal.

 

Vendo aquela imensidão fiquei pensando nos primeiros escaladores, sem tecnologia, sem “doutores do gelo”, com equipamentos rudimentares, de fato o desafio era imenso….

 

Cumpri minha missão, consegui filmes e boas fotos, além de ter alcançado o marco simbólico do EBC, que é um grande totem de pedras rodeado por bandeiras de oração.

 

Embora longo, o trecho até Periche foi relativamente simples, pois é praticamente todo em descida depois de Lobuche.

 

25/10/2016: Dia 10 - Periche – Namche Bazar, em 8h

Trecho é relativamente longo, mas com baixa dificuldade. Algumas descidas e subidas, mas nada acentuado. Para mim, o destaque do percurso é a vila de Tengboche, onde existe um mosteiro que merece a visita, além de permitir uma bela vista da cadeia de montanhas do Himalaya, inclusive do Everest, o que permite belas fotos.

 

26/10/2016: Dia 11 - Namche Bazar – Lukla, em 8h

Trecho relativamente simples, porém com descidas e subidas mais acentuadas, principalmente a subida de acesso ao Portal de Lukla, que marca a chegada à cidade. Importante tentar chegar antes das 16h para confirmar, na oficina da companhia aérea, o voo para Kathmandu, e para poder conseguir um lodge mais próximo do aeroporto, principalmente se o voo está marcado para as primeiras horas da manhã.

 

27/10/2016: Dia 12 - Lukla – Kathmandu

Peguei o voo para Kathmandu às 7h da manhã, um dos primeiros voos disponíveis no dia. Não houve atraso. Chegada em Kathmandu tranquila, com táxi tabelado para Thamel, o bairro dos turistas.

 

Então, em relação ao roteiro foi isso que eu fiz. Agora vou organizar as dicas e informações para continuar postando conforme disse aí no texto. Vou postar também algumas fotos. Se alguém tiver dúvida, pode perguntar que vou tentar responder junto com as dicas.

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  • 4 semanas depois...
  • 1 mês depois...
  • 3 semanas depois...
  • Membros

Ótimo Relato amigo!!!

Ajudará demais, mas assim como os outros leitores, estou curioso pelo restante do relato.

Informações dos equipos, peso aproximado da mochila, e se não for inconveniente, gastos rsrs

Muito Obrigado por compartilhar conosco essa experiência que acredito ser surreal.

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  • 6 meses depois...
  • Membros

Adorei o relato, parabens!!!!

Vou para a índia em fevereiro e estava com desejo de fazer esse trekking em janeiro (uns 20 dias antes do meu roteiro pra india), porém não tenho um condicionamento físico excelente. Já fiz várias trilhas por aqui pelo Rio, mas acho que nenhuma tão puxada quanto. Acho que a mais puxada que já fiz foi a travessia petro-tere.

Será que seria tipo impossível fazer? rsrs

Outra: eu acho que fazer por conta própria, no meu caso, não seria muito indicado, mas não tenho vontade de ter carregadores pra carregar minhas coisas, porém gostaria de um guia. Você sabe quanto mais ou menos seria?

Li que o guia+carregadores são uns 2 ou 3 mil reais, porém se fosse só o guia poderia sair mais barato, né? A questão não é nem exatamente me perder por que li alguns relatos de pessoas que fizeram como vc e foram por conta própria e disseram que é bem sinalizado, mas é mais o medo de dar algo errado e não ter uma ajuda "oficial".

O que vc acha sobre isso?

 

por favoor, termine o relato!!!!!!!

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  • 2 meses depois...

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