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TRIP PATAGÔNIA - ARGENTINA E CHILE - OUTUBRO 2016


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Temos relatos lindos, interessantes e extremamente úteis como dicas para viajantes. Porém, o objetivo deste relato é mostrar que pessoas comuns, sem histórico de aventuras, sem preparo físico, sem muito dinheiro e sem estar com o peso ideal, podem viver e se apaixonar por esse mundo fantástico de trips em contato pleno com a natureza.

 

Essa aventura foi realizada em outubro de 2016. Quando recebi o convite para essa viagem, nunca tinha feito nenhuma trilha, nunca tinha feito uma viagem internacional, minha atividade física era quase zero, estava acima do peso e não tinha ideia do que me esperava nessa viagem. Minha parceira de viagem e irmã de coração planejou tudo, li alguns relatos, mas de fato, a única coisa que eu sabia era que iríamos conhecer a Patagônia e que o nosso maior objetivo era fazer o Circuito W no Parque Nacional de Torres Del Paine.

 

Então, farei um breve relato dessa aventura para provar a todos que é possível para qualquer pessoa viver essa experiência fantástica e se apaixonar por essa conexão com a natureza.

 

1ª Etapa – Ushuaia

No início dessa trip, pegamos um voo Recife – São Paulo – Buenos Aires – Ushuaia.

 

Ao chegar em Ushuaia, estávamos extremamente cansadas da viagem, porém antes de descer do avião já podíamos contemplar a beleza que nos esperava. Fomos recebidas por um nascer do sol avermelhado e um mar de montanhas cobertas de neve. Era tão lindo que finalmente tivemos a sensação de que a nossa viagem havia de fato começado.

 

Chegamos ao Hostel Antarctica, porém ainda eram 9:00h da manhã e o check-in só era realizado as 13:00h. O hostel tem uma energia incrível. O recepcionista super simpático nos deixou guardar a bagagem no locker e nos convidou a tomar café da manhã. Durante o café da manhã conhecemos um casal de irmãos mexicanos que estavam indo fazer um passeio no Parque Nacional Tierra Del Fuego que fica a 20 km da cidade. Como ainda não podíamos fazer o check-in, resolvemos aproveitar a oportunidade e ir com eles.

 

O Parque Nacional Tierra Del Fuego é maravilhoso e pôde nos dar um gostinho do que nos esperava em Torres Del Paine (Pelo menos era o que eu pensava). Caminhamos por cerca de duas horas e meia no parque. Paisagens incríveis, muito frio, poeira e o registro das primeiras fotos.

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Ao retornar, nossos amigos mexicanos optaram por ficar e fazer uma outra trilha e nós decidimos retornar pois ainda precisávamos comprar as passagens para Porto Natales em busca do nosso principal objetivo – Torres Del Paine.

Eu apaguei na volta de ônibus e só acordei com o susto quando percebi que todos estavam descendo na cidade. Conseguimos depois de andar bastante, comprar nossa passagem de ônibus para Porto Natales e voltamos para o hostel, onde após quase 48 horas sem dormir e sem tomar banho, conseguimos finalmente descansar.

 

No dia seguinte, com as energias renovadas, fomos conhecer melhor Ushuaia com os nossos amigos mexicanos. Caminhamos cerca de três horas, conhecendo a cidade de ponta a ponta, tiramos muitas fotos e sentimos as primeiras rajadas de vento da Patagonia, mas ainda não era nem de longe as rajadas que iríamos ver. O tempo em Ushuaia fechou e existia previsão de chuva com possibilidade de nevar. E eu, como boa brasileira, estava louca para ver a neve caindo, mas ainda não foi naquele dia. Deitamos cedo nesse dia, pois no dia seguinte iríamos ao nosso destino em Porto Natales.

 

Acordamos cedo, descemos a pé até o ponto de ônibus e pegamos o chamado “ônibus semi cama” com destino a Punta Arenas / Porto Natales. Ao entrar no ônibus percebi que o semi-cama era mais apertado que os ônibus de linha urbanos do Brasil e fiquei preocupada, afinal, eram 13 horas de viagem pela frente.

 

Como costumo enjoar em viagens de ônibus, tomei um remédio e acabei dormindo a maior parte da viagem. Mesmo assim, tive a oportunidade de viver algumas experiências como: atravessar a fronteira entre dois países via terrestre, fazer a travessia de balsa pelo Estreito de Magalhães e observar o comportamento de pessoas de diversas partes do mundo que se encontravam naquele ônibus.

 

2ª Etapa – Torres Del Paine

Acordamos cedo, tomamos café e nos encontramos com um Português que estava no mesmo Hostel que o nosso em Ushuaia, veio no mesmo ônibus e por coincidência ficou hospedado novamente no mesmo Hostel que o nosso em Porto Natales. Ele também estava indo sozinho para Torres Del Paine. Então combinamos de ir juntos buscar informações e alugar equipamentos. Fizemos um pequeno planejamento de como faríamos o Circuito W e andamos pela cidade cerca de 10 horas fazendo as reservas nos campings, alugando equipamento, comprando comida, cambiando moeda, e buscando todas as dicas e orientações necessárias para nossa próxima aventura.

 

A noite organizamos as mochilas para levar somente o necessário e deixamos o restante no locker do Hostel The Singing Lamb onde estávamos hospedados.

 

Acordamos bem cedo, encontramos com nosso amigo português e seguimos para a rodoviária. Enquanto esperávamos pelo ônibus, finalmente começou a nevar e eu fiquei maravilhada com aquele espetáculo da natureza.

 

Seguimos em direção ao Parque Nacional Torres Del Paine e nevou durante toda a viagem que durou cerca de 2 horas. Ao chegar no Parque fomos recebidos pela guarda-parque que nos orientou a começar pela entrada do Lago Grey, o que estava totalmente ao contrário do nosso planejamento. No entanto, seguimos a orientação dela, uma vez que devido as más condições do tempo a base das Torres estava fechada e não adiantaria iniciarmos por lá.

 

Então, após registrarmos nossa entrada no Parque, voltamos para o ônibus até o Pudeto, onde pegaríamos uma balsa para o Acampamento Paine Grande. Ao esperar pela Balsa, sentimos as primeiras rajadas de vento verdadeiras da Patagônia. A sensação era que o vento iria nos derrubar e todos tentaram se proteger encostados em uma parede até a chegada da balsa.

 

Após 30 minutos, chegamos ao Acampamento Paine Grande, foi tudo muito confuso e muito corrido. Deixamos nossas barracas e mochilas, colocamos nossos ponchos e mochila de ataque e seguimos em direção ao Lago Grey.

 

O início da trilha para o Lago Grey era aparentemente tranquilo, porém, aos poucos começou a chover um pouco e as rajadas de vento eram muito fortes, a ponto de rasgar os nossos ponchos e nos deixar desprotegidas quanto a chuva e a neve, mesmo estando com os casacos impermeáveis.

 

Lembrando que eu nunca tinha feito uma trilha na vida, e que não tinha praticamente nenhum preparo físico, comecei a ficar nervosa nas subidas pois o Português que estava conosco era muito rápido. Tinha muita chuva, muita neve, muito vento e confesso que pensei em desistir já nos primeiros 500 metros. Mas tomei fôlego, minha irmã do coração se mostrou tão parceira que resolvi tentar.

 

Chegamos ao primeiro mirador. Era difícil até conseguir tirar foto pois os dedos congelavam sem a luva. Mesmo assim, valeu a trilha por ter conseguido tirar da minha irmã a melhor foto da viagem. Continuamos a trilha até o segundo mirador. As subidas e a trilha em si não são tão difíceis, a dificuldade realmente era o vento, a chuva e a neve que estavam intensos. Ao chegar no segundo mirador, minha irmã foi iluminada quando tomou a decisão de deixar o Português seguir e nós voltarmos, uma vez que, provavelmente não iríamos conseguir ver muita coisa com o tempo fechado, além do risco de escurecer e ficarmos no meio da trilha.

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Voltamos desse ponto, estávamos mais tranquilas em voltar, comemos, tiramos algumas fotos e percebemos o quanto já havia nevado em relação a ida, pois o chão estava completamente branco de neve.

 

Já próximo ao Acampamento Paine Grande percebemos o quanto nossas roupas e botas estava encharcados e bateu um desespero de que pudéssemos perder nossos documentos, dinheiros, etc.

 

Finalmente, após um total de quase seis horas de caminhada, chegamos ao acampamento, trocamos nossas roupas e observamos o caos que estava no local. Segundo um dos funcionários do Refúgio, aquela situação de tempo não era normal naquele período. Todos estavam disputando os aquecedores, tentando além de se aquecer, também secar as roupas que estavam todas molhadas, mesmo de alguns estrangeiros que víamos que eram experts nesse tipo de aventura.

 

O frio era incontrolável, pois mesmo trocando de roupa ainda tinha algumas partes molhadas. A princípio tínhamos nos programado de montar nossa barraca, mas devido as más condições de tempo decidimos alugar uma barraca já montada do refúgio, pois assim iríamos nos sentir mais seguras. O alojamento do refúgio era muito caro, e estava fora da nossa programação financeira. Ficamos um pouco mais no refúgio e minha irmã decidiu nesse momento desistir de fazer o circuito W, voltaríamos no dia seguinte para Porto Natales, pois as previsões do tempo eram instáveis e não estávamos preparadas para seguir o circuito. Naquele ponto era possível retornar pela balsa, se arriscássemos seguir, teríamos que ir até o final, não tinha como retornar sem ser pela trilha a pé.

 

Ficamos o máximo de tempo que podíamos no refúgio tentando nos aquecer, conhecemos alguns brasileiros e vimos várias pessoas tomando a mesma decisão que a nossa de não seguir adiante, com exceção do nosso amigo Português que optou por seguir. Finalmente fomos para nossa barraca, o frio continuava insuportável, mesmo no saco de dormir, com colcha, casacos, meias, etc... Passamos a noite praticamente em claro, com frio e com medo, pois o barulho do vento era assustador.

 

Ao amanhecer o dia estava claro, sem chuva, sem vento, sem neve. Mesmo assim, continuamos com a decisão de retornar. Tomamos café, organizamos as mochilas, tiramos algumas fotos ao redor e pegamos a balsa/ônibus de volta a Porto Natales.

 

Meu sentimento nesse momento era de frustração e profunda tristeza, principalmente pela minha irmã que tinha o sonho de ver as Torres. Estava me sentido culpada, pois pensei que ela só tinha tomado a decisão de retornar por estar preocupada comigo. Depois entendi, que ela ouviu o coração e teve a certeza de que ainda não era do nosso merecimento conhecer Torres Del Paine. Mesmo assim, o sentimento de frustração ainda persistia, pois aquele era o principal objetivo de nossa viagem.

 

Retornamos a Porto Natales e nos organizamos para antecipar nossa ida para El Calafate.

 

3ª Etapa – Perito Moreno

Chegamos pela manhã em El Calafate. A cidade é um charme, muito romântica, aconchegante e simpática. Deixamos nossas mochilas no Hostel e partimos para explorar a cidade. Compramos nossas passagens para Perito Moreno e fomos para o mirante ver o pôr do sol. A vista do mirante era linda, mas o pôr do sol ficou aquém das nossas expectativas, mas entendemos que cada lugar tem as suas belezas.

 

No dia seguinte, seguimos para conhecer o Glaciar Perito Moreno. Um dos mais famosos do mundo. Ao chegar lá não consigo descrever para vocês tamanha beleza. O glaciar é cercado por passarelas gigantes, com muitas escadas e muitos turistas. Não existe nenhum lugar para onde se olhe que não seja incrivelmente lindo. As paisagens são fantásticas, o lugar é de uma energia incrível. Finalmente eu estava me sentindo confortável e maravilhada! O glacial é imenso, mas infelizmente podemos ver com nossos próprios olhos a ação do aquecimento global e a urgência de nós, seres humanos, nos preocuparmos com a preservação do meio ambiente.

 

Tiramos muitas fotos, fizemos alguns vídeos, contemplamos imensamente aquele lugar com toda a sua magia e energia. O Glaciar é esplêndido, o barulho do gelo quebrando, o azul que avistamos nas frechas do gelo, tudo é incrivelmente magnífico!!

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Votamos para o hostel maravilhadas e dormimos com aquelas imagens lindas. Ao acordar, fomos comprar nossas passagens para El Chalten e explorar um pouco mais a cidade. Encontramos um parque das aves e resolvemos fazer o percurso de uma hora nele, onde era possível contemplar diversas aves da região, em um contato com a natureza de extrema contemplação.

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Voltamos para o Hostel e dividimos quarto com uma Alemã que tinha acabado de chegar de El Chalten e nos deu várias dicas de como eram as trilhas. Ela estava encantada e falou que nós iríamos amar. Tudo isso em uma tentativa de falar inglês já que ela não falava espanhol. Ah... nós também não falávamos espanhol, apenas Português e eu o básico de inglês. Mesmo assim, isso não nos impediu de curtir a nossa trip e de fazer novas amizades.

 

4 ª Etapa – El Chalten

De El Calafate até El Chalten foram 03 horas de viagem. Ônibus super confortável, dois andares, leito e uma vista privilegiada. Mesmo antes de chegar na cidade, já conseguimos avistar o Fitz Roy, imponente e majestoso. As primeiras fotos começaram dentro do ônibus mesmo, e minha irmã estava emocionada por estar naquele lugar.

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Fizemos uma parada na entrada da cidade, na Administração do Parque Los Glaciares, para receber as devidas orientações sobre as trilhas e cuidados que devíamos tomar. O guarda-parque falou da dificuldade da trilha do Fitz Roy e eu fiquei mais uma vez bastante preocupada e angustiada. Mas nem de longe imaginava que o nosso merecimento estava ali naquele lugar.

 

Descemos a pé da rodoviária até o hostel. A cidade é bem pequena e tudo é muito próximo. Almoçamos, fomos ao mercado, exploramos um pouco a cidade e fomos descansar pois no dia seguinte a primeira trilha seria exatamente a mais difícil: A Trilha da Laguna Los Três que fica na base do Fitz Roy.

 

Eu estava muito angustiada, com medo de não conseguir, pensando nas dificuldades que podia encontrar na trilha. Entrei na internet, li vários relatos, e pedi para minha irmã prometer que se eu não conseguisse ela iria sozinha, pois não queria atrapalhar esse sonho dela. Ela me tranquilizou e disse que estávamos juntas e que tudo iria dar certo. Fomos dormir, mas eu continuava com receio da trilha. Afinal, eram 10 horas de caminhada, isso para quem era acostumado em fazer trekking, o que não era o meu caso.

 

Iniciamos a trilha as 7:00h da manhã. O dia estava apenas amanhecendo. Na entrada da trilha rezamos, pedimos permissão a espiritualidade e proteção para nossa travessia.

 

A primeira hora é de subida e se a pessoa não estiver na sintonia desiste ali mesmo. É uma subida cansativa, mas relativamente fácil, pois foram colocados troncos que formam uma escada e dão apoio. Fomos recepcionadas por dois Pica-Pau que faziam barulho bicando a madeira e eram lindos.

A trilha é toda sinalizada, com indicativos de direção e quilometragem. Nos primeiros quilômetros encontramos meia dúzia de pessoas no sentido contrário. A partir daí até o acampamento Poicenot não encontramos mais ninguém.

Nos 700 metros avistamos o 1º mirante que dá para o rio Los Curves. A trilha começou a ficar plana, andamos na mata fechada, ouvindo apenas o som do vento e dos pássaros. A trilha é linda e de uma energia indescritível. Passamos por vários portais, pontes feitas com tronco, caminhos estreitos dentro do bosque e chegamos no Mirador do Fitz Roy.

A trilha vai ficando mais aberta, uma clareira, várias fontes de água até chegar em um bosque onde fica o Acampamento Paicenot. Esse camping não tem nenhuma estrutura, apenas um banheiro seco. Vimos algumas pessoas se alimentando e seguimos.

A partir desse ponto a trilha passa a ficar mais pesada, mas no meu coração estava um sentimento de que mesmo assim eu conseguiria. Seguimos em frente, passamos por um rio que ficava no meio de uma pedreira. Senti uma energia tão forte que fiquei toda arrepiada.

Chegamos na placa indicativa do último quilômetro. A placa era bem objetiva e dizia que era uma subida de alta complexidade apenas para pessoas com bom preparo físico. Mesmo sem preparo, o nosso desejo de chegar lá era tão grande que decidimos subir.

No início parece apenas uma ladeira comum, depois vai ficando cada vez mais íngreme. A subida é muito difícil, mas eu me sentia segura, mesmo parando a cada cinco passos para respirar e retomar a força nas pernas que já estavam se esgotando. Estava todo tempo em oração, pedindo forças a espiritualidade para que me ajudassem a chegar até o pico.

Nessa subida, de repente e do nada rsrsrs começou a aparecer um monte de gente subindo também, mas todos respeitando o tempo de cada um. Deixamos todo mundo passar na nossa frente e fomos subindo no nosso ritmo.

Foi muito difícil e cansativo, mas finalmente chegamos ao cume. Lá vimos várias pessoas lanchando e tirando fotos. A paisagem era simplesmente espetacular. A Laguna Los Três estava completamente congelada e ao fundo, bem pertinho, víamos as torres imponentes do Fitz Roy. Tiramos várias fotos, encontramos por acaso com nosso amigo Português de Torres Del Paine, vimos uma raposa e após contemplar tanta beleza decidimos iniciar a descida que eu não fazia ideia de que seria milhões de vezes mais difícil do que a subida.

O início da descida foi muito ruim, pois era uma descida com cascalho solto e ao tentar descer de lado acabei dando um jeito no joelho. Começamos a descer a parte das pedras, mas a dor no meu joelho já era insuportável. Minha expressão era de dor, angustia e desespero, mas não tinha o que fazer, tinha que suportar a dor e prosseguir, pois não tinha outra forma de retornar. Faltavam mais 5 ou 6 horas de caminhada. Na metade da descida paramos embaixo de uma árvore para beber água e nesse momento as lágrimas desceram de tanta dor. Continuamos a descida e conseguimos chegar ao final desse quilômetro que era o mais difícil. Lavei o joelho com água gelada do rio, comi um chocolate e continuamos. A dor tinha melhorado 50% e o caminho agora era mais fácil.

Seguimos no nosso ritmo e na nossa contemplação, afinal de contas, fazer essa trilha correndo sem sentir e contemplar a natureza, para mim não fazia nenhum sentido. De vez em quando olhava para trás e via as torres nevadas e lindas.

Sempre que tinha uma descida ou pisava de mau jeito meu joelho doía muito, eu fazia careta, gritava e me espremia para tentar suportar. Mesmo assim, estava o tempo todo em oração e agradecimento por ter conseguido chegar até lá. A energia do bosque na volta era ainda mais forte, senti a proteção de Deus e de toda espiritualidade de luz, e aquilo me deu forças para seguir adiante.

A subida da primeira hora da ida, seria a descida da última hora da volta, e eu já estava usando os bastões praticamente como muletas, aliás, sem eles, provavelmente eu não teria conseguido.

Minha amiga-irmã foi super carinhosa e paciente, conversava para me distrair e escondia que o joelho dela também estava doendo bastante.

Fiz o último quilômetro praticamente arrastada pelos bastões e após quase doze horas de caminhada no total, chegamos a placa de início da trilha.

Nesse momento, a emoção tomou conta de mim, as lágrimas desceram compulsivamente em gratidão por tamanha beleza, por tamanha superação. Me senti uma guerreira vitoriosa! Agora, já conseguia sorrir e achar engraçado o meu desespero anterior. Foram quase 12 horas de caminhada!

A maior lição que tirei dessa trilha foi que o poder da mente e a força da natureza são inexplicáveis. Que o nosso merecimento não tinha sido em Torres Del Paine, e sim no Fitz Roy. E que, qualquer pessoa que tenha fé e disposição consegue fazer essa trilha, assim como eu fiz!!!!

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Ao chegar no Hostel não sentia meu corpo, só a dor no joelho. Mas a sensação era de vitória, superação e missão cumprida. Afinal de contas, eu que nunca tinha feito uma trilha na vida, consegui concluir uma trilha internacional com nível de alta complexidade.

 

No dia seguinte, após muito analgésico, massagem e uma tala de proteção para o joelho, fizemos uma trilha bem leve. Apenas uma hora de caminhada para a Cachoeira Chorrilo Del Salto. Apesar de ser uma trilha leve, a recompensa e a beleza são igualmente incríveis. Contato com a natureza, sensação de paz e agradecimento por momentos tão incríveis.

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Voltamos e descansamos o resto do dia para recuperar as nossas forças, pois no dia seguinte faríamos a última trilha dessa viagem incrível.

 

Novamente acordamos cedo e seguimos dessa vez para a Trilha do Cerro Torres. Uma trilha de média complexidade, com duração de mais ou menos seis horas. A trilha tinha umas subidas difíceis, mas depois do que passei no Fitz Roy, tudo era mais fácil. Cada trilha com sua beleza, durante o trajeto vimos paisagens incríveis, rios, cachoeiras, pássaros, tudo em perfeita harmonia. Ao chegar na Laguna Torres o encantamento foi imediato! A Laguna estava em degelo, com várias pedras de gelo boiando em sua superfície. O espelho d’água refletia as montanhas nevadas. Um verdadeiro espetáculo da natureza para fechar com chave de ouro essa viagem que marcou e transformou para sempre a minha vida.

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Com certeza não voltei para o Brasil a mesma pessoa que fui. Aprendi novos valores, mudei conceitos, aprendi a amar, aprendi a ter humildade, aprendi a ter respeito pela natureza, aprendi a contemplar, aprendi que o poder da mente é capaz de transformar o mundo. Aprendi que viajar renova todas as energias e nos transforma em pessoas melhores.

 

Por isso, escrevi esse relato para encorajar as pessoas que como eu não são aventureiras de carteirinha, mas merecem a oportunidade de contemplar a natureza em sua mais sublime abundância!!! Se eu consegui, qualquer um consegue!!!!

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  • 1 ano depois...
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Que relato incrível! Fiquei animada por também estou acima do peso, sou sedentária e irei passar 20 dias na Patagônia com meu filho, em dez/jan. Será uma aventura e tanto para nós dois mas, tenho certeza que será um passeio inesquecível. Bacana ver que com fé e força a gente consegue realizar nossos sonhos. Bj

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