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A Cidade de Pedra - Petra, Jordânia


xaliba

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Aqui vai um relato sobre minha experiencia em Petra na Jordania em outubro de 2007. Pra quem ja me conhece sabe que precos, horarios e rotas nao serao encontrados aqui. Esta eh apenas uma descricao do que fiz e vi por la que escrevi para ser publicada juntamente com outro relato que postei aqui no mochileiros "O hóspede do deserto" http://www.mochileiros.com/o-hospede-do-deserto-wadi-rum-jordania-t39210.html na revista Aventura & Ação de dezembro de 2010.

 

espero que gostem

 

 

A Cidade de Pedra.

 

por Charlie Flesch (xaliba)

 

Desfiladeiros de arenito vermelho em tons rosados e desfiladeiros de 80 metros de altura nos conduzem para dentro desta cidade de pedra que foi esculpida na cadeia de montanhas no período anterior ao nascimento de Cristo. Petra, tombada em 1985 pela UNESCO como patrimônio histórico da humanidade e recentemente eleita uma das novas Sete Maravilhas do Mundo, é a principal atração turística da Jordânia e sem dúvida uma das localidades mais impressionantes do mundo.

 

Fundada há mais de 2.000 anos pelos Nabateus, que com seus sistemas de aquedutos e represas transformam Petra em um oásis, o local se transformou em um importante entreposto do comércio de especiarias entre as caravanas que se aventuravam por essas regiões desérticas do Oriente Médio. Em meio a lutas e conquistas, e na época dominada pelos Romanos, a cidade foi fortemente atingida por dois terremotos, o pior deles no século 4 d.C., que causaram o colapso do sistema de abastecimento de água, tiraram Petra da rota de especiarias e a deixaram escondida aos olhos do mundo. Ela só foi apresentada para o Ocidente em 1812 com a descoberta de suas ruínas pelo explorador suíço Johann Ludwig Burckhardt.

 

Ninguém pode se hospedar em Petra. Para chegar lá é necessário usar como base a cidade de Wadi Musa - Vale Moisés - por onde se diz que o famoso homem que recebeu os 10 mandamentos teria conduzido o povo judeu para a Terra Prometida. Poucos quilômetros, que podem ser percorridos a pé, a separam de Petra. Ao adentrar os portões, o visitante se depara imediatamente com o assédio dos donos de charretes, camelos e cavalos com a esperança de encontrar pessoas avessas a caminhadas e que estejam dispostas a fazer a visita em seus “taxis”.

 

A descida pelo vale começa em meio a turistas das mais diversas nacionalidades, e logo nos primeiros minutos já se começa a ver uma ou outra das construções nabateanas que desperta imediatamente o sentido de maravilhamento e “comprova” que realmente estamos visitando um dos destinos mais cobiçados do mundo. Subitamente o caminho se estreita e se torna uma espécie de desfiladeiro, chamado Siq, que começa com paredes de uns 10 metros de altura e se torna cada vez mais impressionante, cada vez mais alto e mais meandrante. Esse trecho tem aproximadamente um quilômetro de comprimento, ao longo dos quais se vê os condutos de água na base das paredes, acompanhando toda a descida, buracos na rocha que são na verdade o que sobrou das moradias destruídas pelos terremotos e até parte da estátua (entalhada na parede) de uma pessoa quase em tamanho natural. No final, em que a altura do topo chega a 80 metros e a luminosidade fica bastante diminuída, há subitamente uma enorme claridade vindo de frente, pois estamos chegando a uma espécie de clareira, e se pode avistar, por uma pequena fresta, o ponto mais esperado de todos: o templo Al-Khazneh. Para os fãs de Indiana Jones essa é uma visão muito familiar, pois no filme “A Última Cruzada” aqui é a entrada do templo onde se esconde o Cálice Sagrado.

 

Construído para guardar o túmulo de um importante rei Nabateano, com 43 metros de altura e 30 de largura, esta é sem dúvida a construção mais imponente e impressionante de Petra. Desculpe, uma correção. Nada nessa cidade foi construído, tudo foi esculpido, e Al-Khazneh, com suas colunas e fachada adornados tão belamente com tantos detalhes e tamanha perfeição, é uma visão que traz à boca palavras de admiração que se usa frente a imagens que normalmente só temos a oportunidade de ver em livros e em filmes, e que se anseia secretamente, quase que em devaneio, que tivéssemos a oportunidade de ver um dia com nossos próprios olhos. No meu caso, a emoção foi descarregada com palavrões voando soltos aos ouvidos de inúmeras nacionalidades. Examinei a fachada minuciosa e longamente, e não pude encontrar uma falha sequer, uma coluna torta, um adorno mal acabado, uma simetria que não fora perfeitamente desenhada.

 

Aqui é o ponto onde os turistas se aglomeram e se demoram, registrando e procurando o melhor ângulo para documentar e guardar na memória o que se vê. Aqui a realidade realmente se faz presente. Uau, todos os cavalos são do tipo Árabe! Claro, oras, que tipo seriam no meio do mundo Árabe? As pessoas locais têm a mesma feição dos guerreiros do deserto que lutam com aquelas espadas enormes e curvas que vemos nos filmes de califa! Os camelos são o meio de transporte mais comum! A língua Árabe é ouvida por todos os lados e mesmo sem entender nada, dá vontade de deleitar os ouvidos com esse som por horas a fio. Camelos e cavalos ficam estacionados em frente ao templo e aqui mais do que nunca é que a ficha cai, e se você ainda não está completamente perplexo e zonzo com o que viu até agora e tem alguma dúvida, não há escapatória, você percebe que realmente está na Jordânia, que realmente está no meio do deserto e que realmente está no Oriente Médio.

 

Seguindo adiante, percebemos como é labiríntico esse lugar e podemos ver nas encostas das montanhas íngremes e muito próximas inúmeros buracos – restos de moradias - e assim temos uma ideia melhor do tamanho dessa cidade e da quantidade de seus habitantes. Caminha-se mais e chega-se a um teatro estilo romano onde cabem 3.000 pessoas. Mais uma fachada preservada aqui, outra ali, adornos, escadas, mulheres vestidas de negro dos pés à cabeça, mais maravilhamento e depois de umas duas horas de caminhada chega-se bem no fundo do vale. A cidade é enorme e seus múltiplos caminhos tornam sua exploração total bastante difícil e cansativa. Mas a felicidade que se sente ao ver tamanha imponência e astúcia aumenta na mesma proporção do cansaço.

 

Por ter feito essa primeira visita no início da tarde, só pude fazer um reconhecimento um tanto corrido antes do entardecer. Logicamente eu estava em êxtase, afinal de contas este lugar é uma “nova” Maravilha do Mundo, mas eu tinha a sensação que faltava algo, sentia que minha aventura estava um pouco pasteurizada, mas não sabia explicar porque. Jantei no albergue uma comida bastante simples, com pão sírio, pasta de berinjela, tabuli, homos, enfim, coisas árabes – mais uma lembrança que tudo aquilo era real – e fui me deitar cedo para ter mais tempo em minha segunda visita no dia seguinte.

 

Quando estava prestes a sair, conheci um espanhol que havia acabado de chegar e fomos juntos explorar as ruínas. Pegamos algumas romãs direto do pé e fomos comendo a caminho dos portões. Com a luz da manhã parece que o lugar ficou mais bonito e mais interessante, especialmente a descida pelo Siq, e foi aqui que o passeio mudou de estilo e tomou um sabor de aventura de verdade.

 

Angel, meu novo amigo espanhol, me disse “Eu li no guia que existe um caminho alternativo à esquerda do templo que leva para o topo das formações rochosas”. Amante do turismo lado B que sou, acatei imediatamente sua sugestão e lá fomos nós procurar o tal caminho de subida. Esquerda volver! O caminho na verdade não é um caminho marcado, pois nem caminho havia, nós então começamos a subir por onde conseguíamos. Aos poucos fomos ganhando altura e as pessoas lá em baixo ficavam cada vez menores e distantes. Conseguíamos ver o templo, ou parte dele, de uma altura cada vez maior. A sensação de exploração do desconhecido foi fenomenal pois por vezes tínhamos que fazer várias tentativas para progredir em nossa subida por um caminho árido e completamente pedregoso. Chuvas são raras e a vegetação extremamente escassa. A surpresa de encontrar uma única flor perdida no meio daquele deserto tira completamente qualquer sensação de cansaço. Lá do alto, do topo da formação, após aproximadamente uma hora e meia de subida, é possível ver Wadi Musa para trás, e caminhando mais alguns minutos para frente se pode ver a imensidão da cadeia de montanhas até onde a vista alcança. Os turistas haviam ficado todos lá em baixo e admirar Petra sem a presença de outros tantos turistas à nossa volta foi sem dúvida um dos momentos mais inesquecíveis dessa visita inesquecível.

 

Quando estávamos prestes a voltar pelo mesmo caminho, vimos que outros turistas lá em cima vinham de outra direção. Trocamos olhares e sem uma palavra decidimos seguir adiante procurar um caminho diferente para descer. Tivemos a oportunidade de ver formas das mais diferentes nas rochas, e seções delas com diferentes texturas e padrões de cores que formavam verdadeiros mosaicos. “Buracos” e pequenas “construções” mais elaboradas estavam espalhadas em toda nossa rota. Até taxi de subida de escadas e montanha existe lá. Vimos pessoas sendo carregadas por burrinhos, pequeninos, pois animais maiores não conseguiriam manobrar em degraus tão pequenos e passagem por vezes bastante estreitas - os turistas que montavam quase arrastavam seus pés no chão. Quanto mais o tempo passava, menos pessoas víamos e mais tínhamos Petra só para nós. Pedra, muita pedra – de diversas sub-cores e sub-tons de marrom, vermelho, rosa, laranja e branco – “buracos”, muitos “buracos”, turistas (bem poucos deles!), mulheres locais vestidas todas de preto, uma única arvore, poeira, muita poeira, muito calor, muito sol e descida, muita descida. É difícil descrever Petra com palavras, fora a parte histórica, o local tem que ser visto. Tem que ver para crer.

 

Depois de várias horas, já no começo do entardecer, nos vimos perdidos sem saber o caminho de volta para a saída. Sombras longas e caras de cansaço. Mas a felicidade de tal experiência nos mantinha caminhando com a mesma motivação da manhã, embora nossas pernas não obedecessem mais com a mesma alegria. Depois de algumas tentativas acreditamos ter encontrado o caminho que nos levaria de volta, e com o tempo entendemos porque a descida havia sido tão longa. Em nossa caminhada, conseguimos descer até um dos pontos mais profundos dentro da cadeia de montanhas que está aberta à visitação. Na verdade descobrimos que fomos além. Já no caminho de volta, subindo, vimos uma placa virada para quem descia, com os dizeres: “Attention, venturing from the regular route on your own in not advisable. It is highly recommended that should you wish to do so beyond this point, we strongly advise either a local guide or at least one companion”. Que se traduz como: Atenção, se aventurar sozinho além da rota principal não é aconselhável. É altamente recomendável e nós veementemente aconselhamos, se você quiser fazê-lo além deste ponto, a presença de um guia local ou ao menos um acompanhante.

 

Pronto, a sensação de passeio pasteurizado e de que havia algo errado estava totalmente desfeita. No final o que sobrou foi a sensação de dever cumprido, de sair do obvio, do pronto, do pré-fabricado, de sair do lado A e entrar no lado B, de orgulho por termos arriscado e de satisfação por termos ousado em um caminho sem rumo e sem pretensão e chegado em lugares que nem sequer havíamos sonhado.

 

Dormimos exaustos e no dia seguinte bem cedo partimos, eu rumo ao deserto de Wadi Rum ainda na Jordânia e Angel rumo às Pirâmides do Cairo. Nossas rotas se cruzariam novamente dali a 3 dias em Jerusalém, mas essa já é outra história.

  • Gostei! 2
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  • Membros de Honra

Porra, Xaliba, voce é um puta dum sacana!!!!

Fica colocando essas histórias aqui pra gente ficar verde, amarelo, azul, roxo de inveja!!!!! ::bruuu::

 

Brincadeiras à parte, imagino a emoção que você tenha sentido ao passar por um dos lugares mais bonitos, fascinantes, curiosos e misteriosos do mundo!!!!

 

Parabéns, meu amigo!!!!!

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  • Membros de Honra

Fala guilherme e joao,

 

realmente la eh um lugar fora de serie. Um lugar que impressiona. Pra dar uma ideia, eu gostei muito de Machu Picchu mas nao fiquei impressionado com o lugar, mas petra acho q realmente eh mais impressionante, nao sei pq, mas senti assim.

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  • Colaboradores

Idem! Machu Picchu eu achei incrível, mas muito devido à paisagem ao redor, as montanhas, Wayna Picchu, o rio, etc.

Agora se formos falar das contruções propriamente ditas, Petra dá um banho. Muito, muuuuito mais impressionante. Aquele castelo é fora de série, não dá pra acreditar como aquilo foi contruído.

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  • Membros de Honra

Cada lugar dá sensações e emoções diferentes nas pessoas...e a forma como as pessoas transmitem essas sensações torna seus relatos mais interessantes...ainda não conheço Macchu Picchu nem Petra, mas desde que vi as imagens da cidade de Petra no filme do Indiana Jones (tá vendo como eles prestam pra alguma coisa????), achei impressionante demais, quem vê pensa que é cenário montado pra filmes, mas, muito pelo contrário...

 

Muito bom, parabéns, Xalibão, pela sinceridade que passa no teu relato!!!!

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  • 1 mês depois...
  • Colaboradores

Eu adorei Petra. Realmente uma das maravilhas do mundo!!!!

 

Amei o camelinho:

20110411160353.JPG

 

O gua sempre nos falava que estava perto o tesouro, e de fato estava, no final da trilha (que estava escura, por causa das petras acima de nós), a gente via uma claridão, na verdade era o sol iluminando um dos cenários de filme. Meio surreal pra mim:

20110411160750.JPG

 

Num dos pontos mais altos de lá podemos ter essa visão:

20110411161216.JPG

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  • 6 anos depois...
  • Membros de Honra

Relendo no Mochileiros tudo sobre Petra... acredito que semana que vem me encantarei muito com tal arquitetura.

O Xaliba tem ótimos relatos. Sempre esperamos fugir do passeio pasteurizado, plástico, e às vezes nos faz bem sairmos das rotas turisticas.

Logo postarei uma nova foto aqui para melhorar o tópico!

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