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TRILHA DA CACHOEIRA DO FUNIL : DEZ HOMENS E UM SEGREDO


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                                    TRILHA DA CACHOEIRA DO FUNIL: DEZ HOMENS E UM SEGREDO.

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          Quando o Eduardo me falou da sua vontade de atravessar o Vale da Preguiça, nem pensei duas vezes em aceitar o convite. Ainda mais quando sugeriu que usássemos a trip para juntarmos uma galera trilheira, que há tempos combinávamos em reunir. Gente que conhecíamos só no virtual e agora havia chegado o momento de fortalecermos as novas amizades. O problema é que o citado Vale, não é e nunca foi coisa para principiantes por se tratar de um lugar isolado, onde muito provavelmente já recebeu menos gente que o solo lunar. Então pairava a dúvida no ar : como conciliar um perrrengue dos infernos com a integração dos novos amigos caminhantes ? Um mês de discussões não foi suficiente para mantermos um grupo mais ou menos homogêneo e por fim, resolvemos tocar o foda-se ,  levar todo mundo, sem se preocupar se todos tinham condições ou não de enfrentar as dificuldades  que achávamos que encontraríamos pela frente, enfim, resolvemos ir lá nos divertir. Entre idas e vindas, fechamos um grupo de dez aventureiros. Dez bravos homens, que se propuseram a se jogar em um lugar onde as informações eram praticamente nenhuma.

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          Partindo de Sumaré, interior de São Paulo, Eu e o Dema combinamos de nos encontrar com o Eduardo loures e o Lim Quintas na estação ferroviária de Osasco às 19h30min e de lá nós quatro partimos para o Grajaú, onde nos encontramos com Daniel Trovo, Luciano Lourenço, Kamal Koubes, Carlos Brocco e Marcellino Bradock. Do Grajaú pegamos um ônibus para Embu-Guaçu. Pensa num lugar longe. Pois é, em Embu as distâncias não se medem em km e sim em anos luz. Levou uma eternidade para chegarmos onde o Judas perdeu as cuecas e foi la, onde o mundo acaba, que encontramos o décimo integrante da caminhada, Décio Marques. De Embu logo embarcamos em outro ônibus para o bairro de Santa Rita e antes que o “cata doido” se perdesse pra fora da Via láctea, à meia noite, descemos no km 58 da rodovia, no bairro dos Penteados, bem numa enorme placa que indica a Cachoeira dos Manacás.  

        Atravessamos a avenida e nos pomos a caminhar e logo depois de um boteco viramos à esquerda e é nesta estradinha que seguiremos praticamente ate que ela acabe. A lua está quase cheia e nem é preciso ligar as lanternas. Em um determinado momento passamos a acompanhar pela nossa direita um riacho e logo passamos pela cachoeira da Macumba e não demora muito, antes mesmo de chegarmos ao sítio Okinawa , que é o último vestígio de civilização desta estradinha, nos deparamos com um casebre abandonado à nossa esquerda. É o famoso e macabro, Casebre do Champinha, um dos bandidos mais sanguinários, que ficou famoso em todo o país por seqüestrar e assassinar um casal de jovens que acampava por estas bandas. O caso teve tanta repercussão, que o pai da garota acabou por se eleger Deputado Federal.  Pois bem, já eram umas duas horas da manhã e mesmo contrariando a vontade de alguns, resolvemos acampar no casebre abandonado. A maioria preferiu amarrar suas redes nas paredes de alvenaria do barraco, mas outros, inclusive eu, resolveram dormir no chão mesmo.

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                   ANDANDO POR CAMINHOS ALTERNATIVOS E EM SEQUENCIAS ALEATÓRIAS.  

          O dia amanhece lindo, sem nenhuma nuvem no céu, mas foi uma noite de cão, passamos um frio dos diabos naquele chão gelado. Desmontamos tudo e partimos. Daqui para frente apenas um dos dez  homens desta expedição “sabia” o  caminho pois, segundo ele , já havia estado na Cachoeira do Funil umas duas ou três vezes. Esse bravo explorador das trilhas da Serra do Mar seria o nosso “guia” daqui para frente. Nós nem mesmo nos preocupamos em buscar outras  informações do caminho, nem nos preocupamos em adquirir mapas ou outras informações quaisquer, haja vista que depois da grande Cachoeira do Funil não havia notícias de que alguém havia descido sem o uso de equipamentos de rapel. Chegando ao Funil, íamos nos jogar nos abismos e despenhadeiros, lá estaríamos por conta e risco e todos sabiam disto, haviam concordado com as regras, ou melhor, com uma única regra: Sair Vivo, custe o que custar ! 

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         Portanto, do casebre do Champinha, ao invés de continuarmos pela estradinha até o seu fim , voltamos uns 100 metros e entramos na mata pela nossa esquerda, na trilha que subia e não na que descia. O nosso “guia” vai à frente tentando identificar o caminho e cinco minutos depois, ao encontrar uma trilha a esquerda pára por um momento para investigar e vendo que aquela não era a trilha procurada, continuamos seguindo pela principal, que na verdade é uma estradinha abandonada e que a floresta não tarda em tomar de volta. Fomos seguindo pela mata até que mais á frente a trilha se bifurca, mas então resolvemos continuar pela esquerda, já que a da direita começava a descer muito. A trilha continua bem batida, algumas saidinhas laterais foram ignoradas, até que meia hora depois, lá pelas 07h40min interceptamos um riacho e paramos imediatamente. O “guia” estava confuso, não estava certo de que aquela era realmente a trilha para a Cachoeira do Funil. Então resolvemos voltar e investigar a trilha que aviamos deixado para trás logo que deixamos a estrada e entramos na mata. Voltamos todo o caminho e entramos na dita cuja, agora à nossa direita. O “guia” foi logo dizendo que aquela era a trilha que ele procurava. Andamos por ela uns cinco minutos até que chegamos a um casebre abandonado e então o nosso “guia” foi categórico em dizer que aquela não era a trilha e teríamos que voltar de novo até o riacho da trilha larga. E lá vamos nós voltar  todo o caminho novamente. Voltamos, portanto até o riacho, pulamos e fomos seguindo a trilha larga que aos poucos foi se encaminhando para a esquerda, no  sentido oeste,   sempre desprezado alguma trilha sem vergonha que ia  surgindo pelo caminho, trilhas de palmiteiros e caçadores que não servia para o nosso propósito.  

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         A caminhada foi seguindo, mas nosso “guia” a cada passo, dava a entender  que não tinha certeza do caminho seguido. Até que depois de passarmos por um vestígio de um dos fornos que queimaram sem dó nem piedade quase toda essa floresta no passado, interceptamos uma trilha larga e consolidada à nossa esquerda. Aí o “guia ‘ parou de vez, nos olhou e não teve coragem de dizer a palavra que todos nós esperávamos que ele dissesse, pois estava estampado no seu rosto : -Agora fudeu !  A trilha larga e batida , que era o caminho que vínhamos acompanhando, seguia para sudoeste e a trilha à esquerda para leste. Estava claro, ele não sabia para onde seguir. Eu e ele deixamos a galera descansando um pouco e fomos investigar mais à frente para ver se ele se lembrava de alguma coisa. Nas outras vezes em que ele havia estado lá, demarcou o caminho com algumas fitas zebradas e desta vez não conseguiu localizar nenhuma delas. Como a trilha larga não ia para leste, que é a direção que ele procurava, voltamos e pegamos para a esquerda. Essa indecisão foi se estendendo e com ela também ia se acabando a moral de todo um grupo, cansado de  tanta indecisão.  A caminhada segue por essa nova trilha e nosso guia pede para que eu fique de olho na bússola e faz questão de me lembrar que nosso caminho não pode se desviar da direção leste. Mas à frente em uma nova bifurcação, pegamos para a esquerda e logo quando chegamos a um riacho , o nosso “guia” nos diz que temos que voltar e pegar para direita. Voltamos então e pegamos para a direita e um pouco mais à frente, o “ guia” resolveu que este caminho não iria dar em lugar nenhuma e a trilha certa era a outra mesmo. Voltamos, atravessamos o rio e fomos seguindo seu curso corredeira à baixo, até darmos de cara com outro grande forno, este totalmente preservado, com seu teto intacto. Ao ver agora que o rio era muito largo o “guia” deu um grito de alegria, dizendo que agora sim estávamos no caminho correto.  

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         Fomos seguindo por um vestígio de trilha que acompanhava esse riacho de águas cristalinas, que vez ou outra tinha que ser cruzado para outra margem. Mas logo esse riacho começou a se encaminhar para oeste e então nosso “guia” mais uma vez decidiu que aquele não era o caminho a seguir. Foi aí que houve um princípio de rebelião no grupo. Paramos ! Alguns queriam voltar, outros queriam seguir, mas ninguém se entendia e então decidimos fazer uma votação : O pleito era o seguinte : Voltar tudo para trás ou tocar o foda-se e descer aquele riacho até o mar, porque a princípio, qualquer daqueles córregos iam parar em córregos maiores até dar no litoral, algum dia  (rsrsrsrsrsrsr). Depois de muita discussão e avaliações, venceu o Foda-se por unanimidade, mais uma vez, ( rsrsrsrsrsr) . Portanto, andamos pelo rio mais uns 15 minutos, até que não teve jeito, nosso guia bateu o pé, fez biquinho e deu “ordens” de fazer meia volta e retornamos até o forno, junto a uma clareira de onde partia algumas trilhas para várias direções.

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          Todos reunidos na clareira, meio desolados por termos andado muitas horas e não termos a mínima idéia de onde estávamos, começamos a discutir qual seria o destino do grupo. Uma parte queria ir embora para casa a outra parte queria continuar a procurar o caminho de qualquer jeito. Ali o grupo rachou de vez. Eu era uns dos que queria seguir seja la de que forma fosse, mas diante do impasse que se seguiu resolvemos tomar uma última decisão ; seguir uma das trilhas que se dirigia para leste a  partir da clareira onde estávamos e se ela não desse em nada , desistiríamos e pronto.  Pegamos então aquela trilha larga e fomos subindo, margeando um pequeno riacho quase seco a nossa direita. Comecei a notar que a trilha já era quase uma estradinha e quando avistei o primeiro eucalipto, já falei para o nosso “guia” que estávamos próximo da civilização e não demorou nem 15 minutos, ao passarmos por um laguinho à nossa direita, desembocamos em uma estrada, junto a mais um casebre abandonado e em mais alguns minutos deparamos com a porteira do Sitio Okinawa , a uns 500  metros de onde havíamos partido naquela manhã. Tornávamos-nos assim os primeiros homens na face da Terra a realizarmos a grandiosa Travessia Circular : Casebre do Champinha  X  Sitio Okinawa, ou seja, andamos em circulo. “GUIA’ DOS INFERNOS, ele leva você para onde você não quer ir, (kkkkkkkkkk).   

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        Estávamos todos destruídos, ralados, cortados, machucados, com fome, sujos e desolados. Sentamos enfrente a porteira do referido sitio e cada qual tentando decidir que destino tomaria. Uns iriam voltar, tinham que dar comida para os frangos, outros inventaram desculpas descabidas, que só eles mesmos poderiam acreditar. Outra parte não queria ir embora de jeito nenhum, mas não sabia o que fazer naquele fim de mundo, até que um grito vindo do sítio iria mudar a história desta caminhada: - “CEIS’ TÃO PERDIDOS SEUS FILHOS DA PUTA, SÃO UNS MATEIRO DE MERDA, NÃO SABE NEM ONDE FICA O RABO DE VOCEIS “.Foi a deixa para a galera, ainda macambúzia, soltar uma gargalhada coletiva.Era o seu Roselito, dono do sítio e “totalmente sóbrio”, que veio esculachar com todo mundo, pois viu logo que a gente tava mais perdido que cachorro que  caiu da mudança. Mas isso não foi nada, quem levou o maior esculacho de todos os tempos foi o cara que apontamos como sendo o nosso “guia”. Seu  Roselito caiu na alma dele e se tornaria o seu algoz até o fim daquela aventura, bem feito, aquele ‘guia’ mereceu, (rsrsrsrsrsrs).  

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         O animo voltou, ainda mais quando seu Roselito nos ofereceu seu sítio para passarmos a noite se quiséssemos e ainda disse que seu filho Davi , poderia nos acompanhar até a Cachoeira do Funil. Bom, o nosso objetivo de fazer uma travessia quase que inédita até o litoral, varando gargantas e canyons infernais, tinha ido por água abaixo. Mas quando montamos aquela equipe grande para essa aventura, tínhamos o propósito de fazermos uma mega integração com os amigos virtuais da internet e aquela era a chance de juntar os novos amigos em torno de um fogão à lenha, em um lugar sem energia elétrica, telefone ou outra modernidades. Então decidimos aceitar o convite do seu LARAIO, o apelido que demos para o seu Roselito, e passarmos o resto da tarde e a noite no sítio. Pra falar a verdade, já fazia muito tempo que não me divertia tanto. Seu Roselito é uma figura, não perdoou ninguém, cada qual acabou ganhando um apelido. Ficamos lá no sítio, comendo bem, assando umas botas(rsrsrsrsrsrsr) e descansando. Comendo bem e  falando besteira , sem se preocupar com nada, éramos dez “adolescentes “ a ligar pra coisa alguma, apenas desfrutando do melhor que a vida poderia nos dar, o ócio, que é a ciência de não fazer coisa alguma. Nesse intervalo conhecemos o seu Osvaldo, que tem um casebre nos fundos do sitio. Seu Osvaldo é um grande conhecedor dos caminhos da região, pois de vez enquando , gosta de  pegar sua” maquina fotográfica à pólvora” e ir “clicar” uns animaizinhos da floresta . Ele nos convidou para seguir com ele para a Cachoeira do Funil, pois , pelo que parece, iria tirar umas “fotografias” no dia seguinte. Convite aceito, marcamos de sair às 06: 00 da manhã, mas não sem antes que  eu protestasse veementemente pelo horário , já que na noite anterior não havia dormido nada e pretendia dormir até um pouco mais tarde no outro dia.

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          Pois é, desgraça pouca é bobagem. Seu Roselito, que por causa de problemas familiares, se entregou à marvada pinga há muitos e muitos anos, resolveu acordar às 2 horas da manhã para dar um bico na garrafa e como não conseguiu dormir mais, resolveu acordar todo mundo. E eu que “tava” reclamando de acordar às 06 horas, puta que o pariu, (kkkkkkkk). Não teve jeito, todo mundo de pé ainda no escuro e com um bom humor, já que ta no inferno abraça logo o capeta.  Fomos fazer um café e contar histórias de memoráveis caminhadas passadas até que o sol viesse nos iluminar e o seu Osvaldo chegasse para nos acompanhar até a Cachoeira do Funil. Seu Osvaldo não se atrasou e saímos na hora combinada. Se juntou á nós o Davi, filho do seu Roselito e a sua namorava, que havia chegado à noite.

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                                        TRILHA DA CACHOERA DO FUNIL  

          O nosso caminho sai da porteira do sítio Okynawa e vai seguir pela estradinha de terra, até que ela se acabe no rancho abandonado junto ao laguinho, justamente por onde passamos na tarde anterior. Do laguinho, pegamos o caminho da direita, na verdade enfrente, deixando o laguinho a nossa esquerda, subindo pela continuação da estrada. Vamos andar por uns 15 minutos até chegarmos à clareira que havíamos parado no dia anterior. Na clareira existem praticamente três caminhos: o da direita, que vai para o norte, o da esquerda, que vai para leste, que é o caminho descendo o riacho e outro, também para a direita, mas vai se dirigir meio que para oeste, beirando o riacho contra a correnteza. E foi este caminho que pegamos. É um caminho largo e as vezes vai cruzar outros riachos e por incrível que pareça , foi o caminho que havíamos chegado até o forno intacto no dia anterior. Caminhamos por vinte minutos de trilha, sempre ignorando quaisquer bifurcações até que desembocamos na trilha principal em um “T”. Veja só, a mesma trilha que pegamos no dia anterior e que ao invés de seguirmos reto , viramos à esquerda. Agora não tinha erro, nosso caminho segui pela esquerda no “T”, pela trilha larga, consolidada, sem nenhum problema de navegação, até logo à frente pararmos na árvore da onça, aonde o felino deixou suas marcas de garra.   

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         Vinte ou trinta minutos depois de pegarmos para esquerda no “T” e passarmos na árvore da onça, chegamos ao riacho e o seu Osvaldo nos disse que é o mesmo riacho que irá despencar na Cachoeira do Funil, bom saber porque no caso de algum perdido em um trilha futura , basta rasgar o córrego até ele se jogar no Vale da Preguiça. Atravessamos o riacho e fomos nos metendo cada vez mais mato à dentro. Não deu nem quinze minutos e já adentramos em outro rio, agora um pouco maior e com pedras arredondadas e cheio de musgo. Andamos por dentro do próprio rio, pulando de pedra em pedra  por uns 100 metros até reencontrarmos a trilha à nossa esquerda. Cinco minutos depois cruzamos novamente o rio para o outro lado e subimos o barranco para novamente interceptar a trilha mais acima. Aos poucos vão surgindo as referidas  fitas zebradas que foram colocadas pelo nosso “guia”, mas não vejo dificuldades para fazer essa trilha, basta ter um olho treinado de trilheiro e um pouco de experiência e com certeza ninguém perderá o caminho.Quinze minuto após termos subido e atravessado o rio e subido o barranco, chegamos ao PORTAL DA PREGUIÇA.Demos este nome porque ali existe uma grande árvore caída, que se apoiou em outras duas , parecendo uma grande trave de futebol. Do portal a trilha vai subir um pouco e menos de quinze minutos depois vai chegar ao Chuveirinho, uma pequena cachoeira, onde paramos para abastecer os cantis e descansar um pouco.

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         Foi no Chuveirinho que o Luciano anunciou sua desistência e aí começamos a pensar de como seria se tivéssemos  conseguido prosseguir com a travessia completa, se ele havia quebrado ali , praticamente no plano e sem mochila , imagina ter que subir penhascos gigantescos. Bom, paciência, ele ficaria ali esperando a gente voltar da cachoeira ou retornaria para o sítio. Foi ali também que o seu Osvaldo se despediu da gente para se perder mato adentro na tentativa de fazer umas boas “fotos”, já que havíamos visto muitas pegadas de antas pelo caminho. Da cachoeira do Chuveirinho, a trilha vira à esquerda, sobe alguns metros e depois vai despencar vertiginosamente montanha abaixo e aí cada um que se vira para se segurar como puder. Mas é coisa rápida, menos de quinze minutos já avistamos a monstruosa Cachoeira do Funil despencando de uma altura de 60 metros ou mais em 03 quedas fabulosas, que vai se jogar em um poção de águas cristalinas. Eu havia visto uma foto dessa cachoeira e não tinha achado grande coisa. Mas foto engana muito, essa é realmente uma cachoeira para entrar no Hal das mais belas da serra do mar e o melhor, totalmente escondida da farofada. Para se chegar até ela vai ter que suar muito a camisa. Vai ter que atravessar toda a cidade de São Paulo em viagens intermináveis, depois vai ter que caminhar por uns 12 km por uma estradinha de terra até chegar onde o mundo acaba e aí vai ter que se embrenhar no mato e localizar a trilha verdadeira entre dezenas de trilhas de palmiteiros e caçadores e depois vai ter que andar por umas duas horas até encontrar esse paraíso perdido. Juntamos toda a galera para tirar a foto oficial e quem  vejo La ? O bravo Luciano, que tirou forças sei la de onde , mas consegui se juntar ao grupo.

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          Ficamos ali, todos boquiabertos curtindo a grande cachoeira. A água ainda estava fria e ninguém queria se arriscar a ser o primeiro a pular no poço. Teve uma hora que o nosso “guia”, querendo se redimir perante a galera, ficou ameaçando pular de cima de uma das quedas, mas não deu, enfiou o rabinho entre as pernas e voltou prometendo que da próxima não escapa, esse guia viu  (rsrsrsrsrssrsr). Descemos por quase 1 km em direção ao vale, só para lembrar que nossa missão naquele lugar não estava acabada.

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          Ficamos curtindo a Cachoeira até a uma da tarde, depois partimos porque a subida é mesmo de lascar. Mas a volta foi rápida e gastamos pouco mais de duas horas até o sitio Okynawa. Lá nos lavamos e trocamos de roupa, jogamos ás mochilas às costas, tiramos uma última foto de todo o grupo reunido e partimos mais uma vez por aquela estradinha enfadonha.  Passamos pela casa do seu Osvaldo e nos despedimos dele, já que a casa onde mora é à beira da estrada. Pegamos o ônibus para Embu-Guaçu e de lá cada qual segui seu caminho.

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          Quando largamos nossas famílias para nos jogarmos em uma aventura, que ninguém sabia onde iria dar, concordamos também com a possibilidade de enfrentarmos todo tipo de situações que em hipótese alguma nenhum de nós poderia prever. Perder-se no mato, não encontrar o caminho, vagar desorientado por rio e montanhas intransponíveis, faz parte do pacote. A única regra que impomos, era a de cuidarmos uns dos outros e voltarmos vivos para contar a história. A certeza é coisa que nunca haverá na aventura, pois na aventura sempre haverá espaço para o imprevisto, para o surpreendente. Fomos lá na esperança de rasgarmos um vale quase que inédito e voltamos com uma espetacular cachoeira no currículo de exploradores. Mas muito mais importante que uma grande paisagem, foi o de podermos incorporar as nossas vidas mais de meia dúzia de novos amigos e isto por si só já afasta qualquer possibilidade de fracasso em uma jornada. Entramos nessa aventura como desconhecidos e saímos como amigos e esse é o poder que uma grande caminhada pode nos dar.

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          Em especial quero tecer minhas considerações ao nosso “GUIA”, que na verdade era mais um amigo, que eu insisti em chamar de”guia” nesse relato , só para sacanear mesmo(kkkkkkkkk), porque senti que esse bravo explorador é um cara com um coração do tamanho do mundo e do qual eu me sinto honrado em ter-lo conhecido e de ter feito parte dessa expedição com todos esse amigos. Por isso mesmo fizemos um pacto de nem sob tortura, revelar o nome desse “guia”, é um segredo que vai conosco para o túmulo, (rsrsrsrsrsrssr). E quanto ao Vale da Preguiça, ele não perde por esperar, porque já estamos com a faca nos dentes e da próxima vez que voltarmos lá, retornaremos com mais essa conquista no bolso. EU JURO!

 

                                          Divanei Goes de Paula / setembro - 2014

Nota importante : Infelizmente no ano seguinte seu Roselito veio a falecer por consequência do alcoolismo e vai nos deixar saudades daqueles divertidos dias passados em sua companhia e da sua família.

Um mês depois, no mesmo ano de 2014 , voltamos até o VALE DA PREGUIÇA e o conquistamos em definitivo, descendo até o litoral e o colocamos de vez no mapa das grandes travessias selvagens do Estdo de São Paulo.

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