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TRAVESSIA EXPEDICIONÁRIA VALE DO CIPÓ-GUAÇÚ


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TRAVESSIA EXPEDICIONÁRIA VALE DO CIPÓ-GUAÇU

 

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Uma Grande Expedição Selvagem sempre surge da cabeça de gente doida e sonhadora. Numa madruga, enquanto estudávamos e esmiuçávamos as cartas e mapas de satélites para realizarmos a Travessia do Vale da Preguiça, Eu e o Daniel Trovo nos vimos voltando nossos olhares para um vale perdido, no qual em seu interior corria um grande rio que desaguaria no Rio Mambú, já no litoral Paulista. Era um cânion com um desnível assustador, com possibilidades de cachoeiras gigantes, onde por um erro qualquer, alguém acabou colocando uma foto da famosa cachoeira do Funil, no lugar errado. Mas como naquela época nosso objetivo mesmo era partir de cima do planalto e rasgar o vale da Preguiça, deixamos o tempo passar, mas sem tirarmos o referido vale da cabeça.

 

Fomos tocando outros projetos antigos, expedições que já havíamos feito a lição de casa e que apenas nos faltava colocarmos mesmo o pé na trilha e nos jogarmos desfiladeiros a baixo, varando mato e descendo grandes cânions. Mas paralelo a todas essas atividades nunca deixamos de sonhar em um dia descer aquele vale selvagem, onde não sabíamos nem mesmo como acessar o rio no Planalto Paulista. Começava então um estudo minucioso de cartas, mapas, mapas de satélites, pesquisas na net e tudo mais me pudessem jogar uma luz naquele destino pretendido. Localizamos o rio no planalto, de onde seria dado o start para nossa expedição, mas saber como iríamos acessá-lo era o grande problema. Do satélite avistávamos algo parecido com uma oca indígena, depois nos parecia ser um haras, uma fazenda, o certo é que sabíamos que a região pertencia ao Núcleo Curucutú e a possibilidade de não conseguirmos entrar na área era muito grande, então mandamos para o local nosso “enviado” especial na região, Bruno Conde.

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Encima das informações que me foi passada pelos bravos exploradores, comecei uma minuciosa pesquisa na internet para saber se descobria algo sobre esse tal vale e esse tal Rio Laranja Azeda. Passei uma semana tentando localizar algo que se referisse ao tal rio. Tentei sit. de universidades, tentei paginas de pesquisadores, tentei páginas de antigos grupos excursionistas, tentei páginas diversas de órgão ambientais, de núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar, mapas, mapas de satélites e NADA. Não havia referência nenhuma a esse rio, nem a esse vale, não havia nada, era como se o local nunca tivesse existido. Imaginava eu, que poderia encontrar algo que me levasse a crer que pelo menos algum pesquisador estivera lá antes, algum explorador, algum índio, algum caçador, algum extraterrestre, mas nada. Se alguém tivesse cruzado aquele vale antes, como sempre digo, já morreu ou vai levar as informações para o túmulo.

Mas eis que chega o dia em que é preciso parar de sonhar e se jogar logo na aventura. Para isso convocamos os amigos que haviam estado conosco em outras expedições e mesmo sabendo que alguns poderiam ter problemas por causa da grande dificuldade da empreitada, a lealdade e o companheirismo sempre acabam imperando. No total reunimos nove aventureiros, que sem meias palavras foram avisados do tamanho e da dificuldade da empreitada que os esperava. Tomaram ciência que cada um deveria já ir sabendo que se tratava de uma travessia de alto risco e que ninguém poderia garantir a segurança de ninguém por se tratar de uma área selvagem sem a menor chance de salvamento, se algo grave viesse a acontecer.

 

Eu e o Vinicius partimos de Campinas para nos encontramos com o resto do grupo às 19 horas na estação de Santo Amaro, mas por causa de uma tempestade que se abatera sobre a cidade de São Paulo durante todo o dia, o trajeto entre Campinas e São Paulo, levou quase quatro horas e acabamos nos atrasando muito. Em Santo Amaro nos esperava Eduardo, Trovo, Brocco, e o Prince e o Lindolfo. Seguimos para Capão Redondo e se juntou a nós o Luciano. De lá embarcamos no ônibus para Embu-Guaçu, que fica fora da Via Láctea, onde as distâncias, como eu já havia relatado antes, se mede em anos luz. Em Embu encontramos o Bruno e seu tio que seria o motorista da Van que nos levaria até o rio, haja vista que não haveria mais transporte lá para o fim do mundo.

 

 

Sabíamos que o bairro mais perto era o Bairro do Cipó, um distrito de Embu-Guaçu e, portanto começamos a chamar essa travessia de Cípó-Guaçu, haja vista que nem mesmo o nome do rio conhecíamos ainda. O Bruno rasgou com seu carro até chegar ao bairro Ponte Alta e depois foi se enfiando planalto à dentro até chegar ao local que havíamos avistado do satélite, descobriu que realmente havia como acessar o referido rio e colheu uma valiosa informação que dava conta de que um palmiteiro da região poderia nos levar até o rio e então sem muito o que fazer, voltou para casa para esperar quais seriam as próximas determinações que tomaríamos. Num domingo qualquer parte do grupo formado pelo próprio Bruno, pelo Trovo, pelo Eduardo e pelo Vinicius, combinaram de se encontrar em Campo Limpo para seguirem no carro do Bruno até os cafundós da serra para então tentarem encontrar o tal palmiteiro e o tal rio, mas um dos integrantes que, muito provavelmente deve ter enchido a cara de saquê na noite interior, foi parar lá em Campo Limpo Paulista (rsrsrsrssrr) e depois de ver o erro que acabará de cometer, deu meia volta e acabou chegando ao local combinado somente depois de umas quatro horas. Seguiram todos juntos e quando chegaram ao local, acharam a casa do palmiteiro Romildo, que lhes mostrou como poderiam acessar o rio. Segundo seu Romildo, descer todo o vale até o litoral era coisa totalmente impossível e ele não ouvira dizer que alguém tivesse conseguido, mas o palmiteiro ainda não nos conhecia, rsrsrsrsrssr. Quanto ao nome do rio, seu Romildo disse que se chamava Laranja Azeda, mas o próprio grupo de desbravados disse que outros moradores chamavam o rio por outros nomes, o que me leva a crer que esse rio, no planalto,acaba ganhando um nome diferente a cada curva. O grupo então seguiu para conhecer o referido rio e logo de cara foram apresentados para o que seria uma das maiores aventuras de suas vidas. O rio já começa largo e profundo e logo no começo já é preciso se jogar no rio e começar a nadar porque não há trilha em suas margens, que contém mata densa e de difícil transposição. Como a galera já estava muito atrasada por causa do incidente do integrante que se perdeu na cidade, resolveram voltar. Já haviam cumprido o objetivo, o rio estava descoberto e a primeira missão havia sido cumprida com sucesso.

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Já passava da meia noite quando nosso transporte parou no meio do nada, junto ao ponto final onde o transporte rodoviário pode chegar. De lá pegamos uma pseudo estradinha para a direita e fomos caminhando por ela até que a própria estrada se confundi com um rio, onde somente carro com tração nas 4 rodas ou com correntes conseguem passar. Pouco mais de uma hora nos levou até a casinha do tal palmiteiro Romildo, que não se encontrava em casa. Decidimos então que passaríamos a noite junto à última casa da estrada, uma casa até bonita se comparada aos casebres daquela região perdida no meio da mata. Vinte minutos de caminhada e já estávamos na varanda da casa do lago, onde também não havia ninguém e decidimos passar a noite na varanda, alguns com redes e outros dormindo no chão mesmo.

 

Logo bem cedo tomamos um café com pão italiano nos cedido “gentilmente” pelo Carlos Brocco e seguimos. Passamos enfrente ao laguinho da casa e quando chegamos à rua, não pegamos nem para a direita e nem para a esquerda, cruzamos a rua e nos enfiamos numa antiga estradinha que ia se enfiando mato à dentro até terminar junto a um pequeno riacho, pulamos o riacho e fomos o acompanhando pela sua margem até que ele se juntou ao pseudo rio Laranja Azeda. Havia chegado a hora da onça beber água, ali à nossa frente se apresentava sem véu nem maquiagens, o inicio da nossa aventura, aquilo que eu havia visto apenas pelo satélite, havia se materializado à minha frente, não tinha mais como fugir, agora era pra valer, se joga que a aventura vai começar.

Quase metade da galera portava uma bolsa estanque, ou seja, uma mochila de material plástico que pode ser jogada na água e mesmo assim nada molha, o resto resolveu colocar as mochilas dentro de um grande saco de lixo, amarrar a boca e colocar uma cordinha, pratica que logo se mostraria inútil. O certo é que todas as mochilas boiavam muito bem, mas como eu já imaginava que o negócio ia ser feio, tratei logo de me equipar com um colete salva vidas, alias só eu não, o Bruno e o Lindolfo também. Sem pensar muito nos jogamos naquele rio largo e profundo de águas geladas e um pouco barrento por causa da chuva do dia anterior, mas que pra nossa sorte havia cessado e o dia se apresentava com um sol lindo e sem nenhuma nuvem.

 

Estar seco e logo de cara se jogar na água gelada pela manhã é um choque terrível. No começo vamos deixando nos levar ao sabor da correnteza mansa e suave e os que não estão de colete se agarram às suas mochilas, que acabam por virar suas tábuas de salvação, são como homens que caíram do Titanic a se apegarem a única coisa que podem deixá-los na superfície da água. Os que estão de colete salva-vidas descem o rio quase que relaxadamente, agarrados a cordinha que está ligada às mochilas, como se levasse seu cãozinho pra passear. Vamos vendo o passar das margens diante dos nossos olhos e a cada curva vamos entendendo porque aquele é um dos lugares mais selvagens da serra do Mar. Mas não podemos nos distrair muito pois logo começam a aparecer as correntezas e quando vemos, já fomos jogados num turbilhão de águas a nos bater feito uma banana no liquidificador. O Luciano quase sempre é o primeiro a se jogar à frente e logo atrás, sem pensar muito, pra não acabar desistindo vamos todos nós. Às vezes virávamos passageiros de nós mesmo, nos agarramos as nossas mochilas e vamos torcendo pra passarmos pelas quedas de água sem nenhum osso quebrado. Mas logo estamos lá de novo boiando ao sabor das águas calmas até que uma queda maior e intransponível pela água nos faz abandonarmos temporariamente o rio e jogarmos nossas mochilas às costas pra pularmos pedras e vararmos mato.

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Nadar, nos jogar nas corredeiras, descer cachoeiras, varar mato, vai sendo a tônica deste primeiro dia. Mas chega uma hora que estar tanto tempo dentro da água fria nos faz pagar um preço. Além de tudo molhado dentro da mochila, dos que não estão com equipamento impermeáveis, o corpo começa definhar aos poucos e a câimbra praticamente pega todo mundo de tal maneira, que às vezes uns tem que ajudar aos outros para que consigam chegar até as margens do rio para tentarem se alongar e se livrarem das terríveis dores. E para piorar, as mochilas molhadas, começam a pesar tanto, que alguns já precisam de ajuda para colocá-las nas costas. La pelas dez horas da manhã tropeçamos numa grande cachoeira e meia hora depois estávamos todos jogados numa grande praia de areia branca, tentando nos secarmos ao sol quentinho daquela manhã. Mas o aquecimento era inútil porque logo, na próxima curva já tínhamos que jogarmos nossas mochilas nas águas e pular atrás, tentando nos desviarmos das grandes pedras que iam aparecendo, onde tínhamos que remar para as margens para não despencarmos no vazio de incontáveis cachoeiras com poços deslumbrantes.

 

Havia horas que o rio se abria e ficava largo e profundo, com águas calmas, o que acabava por nos dar um sentimento de que estávamos indo muito de vagar e sem fazer muito progresso, mas foi só quando parte do grupo, liderado pelo Eduardo, tentando se livrar das câimbras e no afã de ganhar terreno resolveu tentar avançar pela margem, varando mato, que vimos que a gente pela água avançava muito mais que por terra e logo os desbravadores de mato foram obrigados novamente a voltarem para água fria e se desembestarem corredeira a baixo. E foi numa delas que nos vimos sem controle, onde a queda num poço, fez com que uns perdessem seus chapéus e suas toucas, que hoje repousam no fundo daquele rio, pra sempre.

 

Passávamos o tempo todo molhado e essa foi sem dúvida a única travessia que não vimos ninguém reclamando que queria dar um pausa para nadar nos poços enormes que havia nos pés das grandes cachoeiras. O difícil mesmo era sair da água e botar a mochila nas costas pesando uma tonelada e depois da hora do almoço quase de supetão, tropeçamos numa larga cachoeira onde o Trovo logo a chamou de Niágara Cipó, por parecer com a queda americana. Paramos todos ali na Niágara para uma foto e mordiscar alguma coisa. Todos já estavam um pouco cansados de tanto ter que atravessar o rio de um lado para o outro, de ter que se jogar no rio e nadar, de ter que varar mato, tendo que fazer alguns desvios com desníveis descomunais. E foi logo depois de uma seqüência de cachoeiras impressionantes, que eles chegaram..........

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Preparávamos-nos para cruzar novamente o rio quando de um afluente do dado esquerdo vimos despencar uma linda cachoeira de águas cristalinas. Ficamos de longe observando a grande queda quando de repente na frente dos nossos olhos começaram a saltar um bando de macacos gigantes. Em fila indiana, um a um pulavam de uma árvore á outra. Mas não eram quaisquer macacos, eram simplesmente os maiores macacos das Américas. Nossa expedição parou, estacionou, congelou ali mesmo, ninguém piscava, ninguém tirava os olhos daquele espetáculo magnífico. Ver os MONOS CARVOEIROS (Muriqui) já não é fácil em lugares onde eles costumam ficar e ali naquela região então, foi uma grande sorte nossa. Mas sorte mesmo teve o último dos Monos. Todo o bando já ia longe , quando ele apareceu do outro lado da cachoeira lateral. Ficou ali parado nos olhando e como disse o Luciano, como a zombar das nossas caras. Arreganhou os dentes, deu uma balançada, se preparou e se lançou no vazio de um lado para outro. Nessa hora a gente pensou : “putzzzz esse aí se fudeu “! Qual nada, o primata quase que pairou no ar e ao despencar da queda, num impulso sensacional, se agarrou no último galho que era possível, nos olhou “zombeteramente” mais uma vez e se foi. Se foi, aclamado pela galera que assistia a cena boquiabertos com tanta destrezas.

Abandonamos a Cachoeira dos Monos e continuamos nosso caminho, pulando pedras, nos jogando na correnteza, boiando ao sabor das águas e quando mais uma grande queda aparecia , lá estávamos nós, com as mochilas nas costas a varar mato novamente para descer ao pé das quedas e nos maravilharmos com os grandes poços.

 

Já passava das seis da tarde quando descemos ao pé de uma enorme cachoeira, onde avistamos muitas jararacas nas margens do rio. Era um lugar lindo, aberto e exposto ao sol e então resolvemos que seria ali mesmo nosso lar noturno, acamparíamos naquele vale e tentaríamos secar nossas coisas para podermos ter uma noite menos miserável. O local realmente era bom, mas faltava nele árvores suficientes para acomodar nove redes. Então eu e o Eduardo saímos à procura de algo melhor. Andamos por uns 100 metros e localizamos uma área que pudesse alojar a todos. Então todos resolveram pegar suas coisas e se dirigiram para o novo lugar. Eu fiquei sozinho, já havia tirado tudo de dentro da mochila e resolvi por tudo para secar ali mesmo.

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Aquele local, junto àquela cachoeira era mesmo fenomenal. Na minha solidão, olhava a minha volta e me perguntava o quão isolado estávamos naquele lugar. Estávamos a mais de um dia longe de qualquer contato humano, sem sinal de celular ou outra comunicação qualquer, num lugar infestado de macacos gigantes e cobras errantes. Num lugar que em caso de um acidente não haveria como pedir socorro algum. Fico pensando porque certos seres humanos se lançam a fazer estas coisas, a se isolarem de tal maneira que mesmo o mundo externo nem imagina onde se encontram. Mas não posso negar que aquilo é um mundo de sonhos, de encantamento, um belo mundo selvagem, onde tudo se mantém como sempre foi. Ponho tudo para secar, estico meu saco de dormir sobre uma grande rocha e volto para junto dos outros, é hora de parar de sonhar e ir cuidar do jantar.

 

Cada um se vira como pode. Alguns escolhem as melhores árvores, enquanto outros nem mesmo árvores se dão ao luxo de escolher, se ajeitam no chão mesmo. Eu e o Lindolfo encontramos umas duas árvores na margem do rio e montamos nossas redes. Meu saco de dormir está úmido, mas nem posso reclamar muito, meu companheiro de árvore, nem saco de dormir trouxe e vai tiritar de frio a noite toda. Jantamos e fomos dormir cedo, estão todos exaustos, foi um dia longo e cansativo e no próximo dia já sabíamos que a grande aventura iria começar, seria o dia que teríamos que nos lançar nas grandes gargantas e cânions da nossa expedição.

 

O dia mal clareou e já tinha um filho da puta enchendo o saco pra gente levantar. Não havia sido uma noite muito boa, afinal de contas dormir molhado é um teste para os nervos, sorte minha ter instalado um mosquiteiro na minha rede, se não as coisas teriam sido muito piores. Aos poucos a galera vai saindo dos seus abrigos e enquanto uns tratam de fazer um café, outros vão cuidar de embalar tudo dentro das mochilas. Um em especial fica enrolando pra se decidir. O sujeito trouxe uma mochila estanque que cabe a metade das coisas que os outros trouxeram e assim mesmo não consegue se organizar rapidamente, mas nós já estamos acostumados com esse aventureiro gente boa e só pra sacaneá-lo a galera fica dizendo que ele parece uma noiva e em sua homenagem resolvemos batizar o acampamento e a grande queda de água de Cachoeira da Noiva Atrasada.

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Neste local, onde fizemos nossa morada por uma noite, onde imperam os macacos gigantes e as cobras, resolvemos deixar nossa “cápsula do tempo”, que é um pequeno tudo de PVC com um caderno dentro onde os aventureiros que nos suceder poderão deixar suas mensagens para outros que virão. E assim vamos dando continuidade no nosso projeto de instalação destas cápsulas em travessias selvagens na Serra do Mar Paulista. Com esta do Cipó-Guaçú e as do Vale da Preguiça e Cubatão de Cima, já somam três instaladas por aí a espera de novos desbravadores.

 

Deixamos tudo para trás e partimos. O Eduardo e o Trovo já dizem logo que não querem mais boiar e evitarão que suas mochilas molhem a qualquer custo, mas logo na primeira curva já somos obrigados a nos enfiar no rio até o pescoço, ou seja, temos que nadar. Cruzar o rio de um lado para o outro vai virando rotina. Sempre que podem alguns escolhem por tentar passar com as mochilas sem terem que se jogar no rio, o que os expõe a serem carregados pela correnteza rio abaixo. Eu também evito molhar minha mochila, mas não demora muito, já estou jogando a neguinha na água e pulando atrás dela e nadando o mais rápido possível pra não ser arremessado nas gargantas. Conforme o tempo vai passando, vai aumentando as dificuldades, começam a surgir cada vez mais gargantas perigosas e cachoeiras enormes e às vezes quando o rio se acalma é preciso voltar a cruzá-lo novamente. Vamos sempre tentando nos manter junto ao rio e só varamos mato, subindo as encostas íngremes, quando a situação realmente exige.

 

É impressionante mesmo o grande número de poços gigantes aos pés das cachoeiras, em nenhum outro lugar se podem ver tantas cachoeiras com tantas piscinas, quanto nessa travessia. O dia vai passando, os obstáculos vão sendo vencidos um a um, seja se jogando no rio, seja subindo as encostas escorregadias e perigosas. Passamos por algumas cachoeiras laterais de águas cristalinas e em uma delas que antecedia uma garganta monstruosa, paramos para um descanso e para os mais ousados, um banho na cachoeira Quadrada.

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A pausa que demos tinha um grande propósito : juntar todo o grupo e botar em discussão quais seriam os passos seguintes para transpormos a grande garganta que se apresentava a nossa frente. Uma investigada pelo Eduardo pelo Brocco e pelo Prince dava conta de que até seria possível cruzá-la por dentro, mas logo o Bruno e o Vinicius decidiram que o melhor mesmo seria varar mato e se pendurar no paredão à beira do cânion, mas logo, vendo que o negócio era mais perigoso ainda, decidiram voltar e enfrentar a desescalada da garganta. O Prince desceu dentro do cânion e foi dando apoio aos outros que vinham atrás em uma operação complicada e lenta. Um a um fomos passando pelo obstáculo e cada um que passava fazia segurança para o companheiro que vinha atrás. Assim que descíamos a grande rocha, era preciso se enfiar numa canaleta rochosa e se jogar dentro da água, se virar e pegar a mochila do outro companheiro. Quando todos estavam a salvos mais à frente foi aí que notamos que estávamos emparedados. Á nossa frente uma garganta intransponível de onde despencava uma cachoeira gigante do lado esquerdo, que caia no vazio, vinda de um afluente.

Subimos num vara mato a esquerda, mas logo vimos que essa ação não iria mesmo dar em nada, era preciso parar, pensar no que iríamos fazer e voltar a navegar para tentar nos tirar na encrenca em que havíamos nos metido. Eu, o Eduardo e Trovo que estávamos à frente, ficamos tentando encontrar uma solução. Cada qual acabava por ter uma solução diferente, cada um queria tomar um rumo diferente, estava estabelecido ali um grande impasse. O Trovo achava que deveríamos voltar a subir a garganta e tentar uma diagonal direta para dentro do vale, varando mato e cruzando por cima da Serra. Eu preferia tentar atravessar para o outro lado e tentar um vara mato menos íngreme, já o Eduardo queria varar mato pela esquerda, subindo um barranco perigoso e escorregadio, passar por cima da cachoeira lateral e de lá tentar ganhar o vale novamente. Pensando bem friamente, qualquer uma das ações tomadas teria dado certo, mas como o cara com o facão era o Eduardo, acabou ganhando o braço de ferro e então tocou o pau na frente e foi rasgando mato montanha acima, beirando abismos e se esgueirando por terrenos escorregadios até finalmente interceptar bem mais acima o rio que dava vida a grande cachoeira lateral. Estava vencido mais um obstáculo que parecia intransponível. Fizemos uma pausa par um lanche e para estudar a próxima ação que tomaríamos.

 

Olhando os mapas de satélite, concluímos que estávamos bem na entrada da garganta que vínhamos chamando de Trour de Fer, em homenagem ao grande cânion Frances, um lugar quase que impassável pelo desnível assombroso. Decidimos que seguiríamos pela crista da serra por um tempo e só depois quando víssemos que seria viável, desceríamos de novo ao rio. Andamos por uma meia hora dentro da mata, tendo ao nosso lado dois vales gigantescos, um de cada lado, mas logo a crista acabou a nossa frente e então nos vimos em um bico de serra, como se estivéssemos na proa de um navio, fim de linha pra nós. Paramos imediatamente, porque não havia outra coisa pra fazer mesmo, e agora José? Eu estava louco para voltar ao rio, mas do lado direito era mesmo impossível descer, ir enfrente também estava fora de cogitação, então optamos pelo caminho menos íngreme, que era pela esquerda, mesmo assim era um despenhadeiro escorregadio, com terreno instável e perigoso. Fomos perdendo altura aos poucos, nos enfiando no mato e tentando não perder a direção. Fomos abrindo o mato no facão, nos segurando como dava e nos desviando das grandes pedras soltas até que chegamos à beira de um grande vale, junto a uma cachoeira e ali foi fim de linha pra gente também.

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A saída pela direita não era só o mais sensato a fazer, era também nossa chance de começar a se encaminhar de volta ao rio. O Eduardo seguiu a frente e nós ainda ficamos lá na cachoeira batendo papo e comendo algo. Depois nos levantamos e um a um fomos descendo para o vale em direção ao rio. Quando nossos pés tocaram de novo as águas, de frente para nós se descortinou uma fabulosa e impressionante queda de uma cachoeira deslumbrante, justamente a grande cachoeira onde colocaram por engano uma foto de outro lugar no mapa de satélite. Estávamos cara a cara com um salto majestoso que despencava em queda livre e de tão forte, a água fazia uma nevoa que cobria tudo ao seu redor. Eu e o Prince subimos escalando até uma rocha em sua base, mas logo descemos porque era preciso se adiantar e tentar fazer a travessia para o outro lado, enfrentando a correnteza rápida que vinha do seu grande poço. O Brocco passou nadando e levou a corda para nos auxiliar na travessia. O Luciano não se fez de rogado e já se atirou nas águas profundas e também nadou para outra margem. O Lindolfo e o Vinicius se agarraram à corda e foram tentando escapar da correnteza que insistia em querer jogá-los garganta abaixo. O Eduardo deu um jeito de passar pulando uma grande pedra e se esgueirou por dentro da água, passou, mas por pouco não se lascou todo. Ficamos para trás eu e o Bruno. Meu medo era que a corrente levasse nossa mochila e nos arrastasse junto, já que as mochilas estavam amarradas na gente. Então de baixo daquela grande cachoeira, nos jogamos na água e nadamos o mais depressa possível, com o fiofó na mão, rezando para que as mochilas se mantivessem sempre junto a nós. Passamos e quando alguém me esticou a mão, não fiz outra coisa a não ser ficar olhando para aquela cachoeira arrebatadora, que agora se apresentava em toda a sua magnitude. Reunimos-nos todos à frente da grande cachoeira para uma foto de todo o grupo junto e batizamos esse fenômeno da natureza de CACHOERA DO CIPÓ, em homenagem a essa fabulosa travessia.

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O dia já estava pra lá da metade e logo começamos a perceber que se não nos adiantássemos não conseguiríamos terminar a travessia até a noite cair. Eu já dava certo que teríamos que montar mais um acampamento antes do final, mas parte da galera estava convicta que ainda iríamos findar aquela travessia naquele dia. Então sem perder tempo nos pomos a caminhar, a atravessar rio, a escalar paredes, a pular pedras, escorregar em grandes matacões e nos lançarmos para baixo rumo ao rio. Ziguezagueávamos de uma margem a outra e a toda hora, lá estávamos nós nos pinchando com mochila e tudo dentro do rio e nadando de um lado para o outro. Sempre fazíamos de tudo para tentar nos livrarmos do banho de rio, mas quase sempre eram tentativas inúteis e na maioria das vezes, essas tentativas quase se transformavam em algum perigo por causa da força das correntezas. Subimos mais um grande paredão e caminhamos à beira de abismos avassaladores e foi numa destas descidas perigosas que uma pedra, deslocada por alguém mais acima, fez com que ela rolasse e atingisse de cheio a perna do Lindolfo, abrindo um rombo na canela. Já fazia tempo que o Vinicius vinha se queixando que não estava bem e para azar nosso, agora havia mais um que teria que se arrastar até o final.

 

Juntamos os cacos e os moribundos e seguimos enfrente, passamos por alguns afluentes menores e uma ilha, onde do lado direito, um afluente despencava majestosamente em forma de uma linda cachoeira Nem chegamos a tocá-la porque estávamos do outro lado do rio e acabamos passando ao largo. A cada hora, a cada passo, a cada espaço percorrido, as piscinas naturais iam se sucedendo, num espetáculo sem tamanho e quando alguém gritou :” Vale da Preguiça !”, todos saíram correndo e até os moribundos, que então se arrastavam, largaram suas “muletas” e correram de encontro ao final da nossa aventura. Havíamos chegado ao encontro dos rios e tudo que havíamos planejado durante meses, se materializou naquele instante.

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Quando chegamos ao encontro do Vale do Cipó-Guaçú com o Vale da Preguiça não havia mais nada o que fazer, nos abraçamos e nos cumprimentamos e alguns comemoraram com um pulo no encontro dos dois rios. A noite já havia chegado e o sol tombado à oeste, mas ainda faltava cruzar mais uma vez o rio e nos livrarmos de vez de toda aquela molhaceira que havíamos enfrentado durante dois dias. Uns cruzaram logo na foz e outros desceram por mais uns 100 metros para tentar passar pulando sobre as pedras, o que nada adiantou, porque ali o rio era fundo e tiveram mesmo que se enfiar de novo nas águas, pela última vez nessa extraordinária travessia. Atravessamos todos para o lado direito do rio e tentamos encontrar uma trilha que havíamos usado na travessia do Preguiça, mas desta vez nada encontramos e tivemos mesmo que varar mato no escuro. Fomos caminhando pelo rumo até que novamente tropeçamos na tal trilha que procurávamos e logo passamos pela placa do Núcleo Curucutú, que indica ser proibido entrar naquela região, mas como estávamos era saindo, não tínhamos com que nos preocupar e logo à frente demos de cara com a estação de captação de água da SABESP, onde já existe uma estradinha.

 

Fomos nos mantendo pela esquerda nesta estradinha, cruzamos algumas pontes e quando chegamos ao bananal, nos entupimos da fruta e em mais meia hora chegamos à sede da Fazenda Mambú. Antes mesmo de cruzarmos a portaria que nos devolveria a estrada principal, o Vinícius já deu sinal que não poderia dar mais nem um passo e quando a travessia terminou de vez, ele foi ao chão e de lá não se levantou mais. Estava com febre alta, tremia e gritava de dor. Não havia sinal de celular, então resolvemos pedir ajuda para o pessoal da sede da fazenda, que ligaram para o SAMU. Esperamos o socorro por muito tempo até que, cansados de tanto esperar pela ajuda, o Eduardo e metade do grupo resolveram caminhar por uns 5 km até um lugar onde poderiam conseguir uma ajuda. Chegaram ao bar do Zé Pretinho, único estabelecimento que há naquelas bandas. Já passava da meia noite quando eles conseguiram que o próprio Zé Pretinho fosse resgatar o Vinicius na Fazenda Mambù, com uma picape velha. Foi mesmo um grande gesto de generosidade desse nativo. Na velha picape nos enfiamos os nove e rumamos para o litoral de Itanhaém, onde morava a mãe do nosso amigo Carlos Brocco. E foi assim, numa madrugada linda que nove homens esfarrapados foram desovados na casa da dona Neusa, uma professora de português, que nos abrigou como se seus filhos fossem. Tomamos banho, comemos e dormimos. Alguns partiram de madrugada, outros ficaram até o outro dia. O Vinicius recebeu um remédio paliativo e quando chegou à sua casa no interior paulista, descobriu que havia sido derrotado e aniquilado por um mosquito, o da dengue.

 

Hoje já podemos dizer que o desconhecido Vale do Cipó-Guaçú deixou de ser um lugar intransponível e inexpugnável. Quantos homens já pisaram naquele lugar fora nós, nunca sabermos dizer, por certo não foram palmiteiros, caçadores e nem índios, porque essa gente não se meteria a besta naquelas gargantas. Por certo algum pesquisador maluco poderá ter passado por lá num passado muito distante, vai saber, mas por hora, até que se prove o contrário, esse é o único grupo a se enfiar naquele inferno de cânions e gargantas sem o auxilio de cordas ou outros equipamentos de técnicas verticais, porque um dia uns doidos sonharam com uma Expedição por um vale desconhecido. Juntaram mais meia dúzia de doidos e se enfiaram neste vale de Macacos gigantes e cobras errantes. Entraram de um lado e saíram do outro e quando saíram eram homens esfarrapados, verdadeiros zumbis a vagar pelo terreno obscuro e incerto. Hoje descansam em paz, mas seus olhares já se voltam para outro vale, esses caras já não conseguem mais viver sem o perigo, estão aprisionados pelo submundo da aventura selvagem.

 

Divanei Goes de Paula – fevereiro/2015

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  • 4 semanas depois...
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Olá Divanei!

 

Cara, estou aqui vibrando com o teu relato, com as fotos e com o vídeo!

Isso sim é uma aventura, parabéns pela coragem!

O texto está excelente, lendo e vendo as fotos, me senti novamente no meio do mato, atravessando as cachoeiras, boiando no meio do rio... vc escreve muito bem!

Disse que me senti novamente, porque EU ESTIVE LÁ! A 1ª vez foi em novembro de 91 e a mais recente, no carnaval de 2014, ao todo foram 5 travessias, em grupos de 4 a 6 pessoas. A diferença é que eu sempre achei que estava descendo o rio Mambú, mas pelas fotos creio que fizemos a mesma travessia, com a chegada na fazenda Mambú, em Itanháem.

Vcs foram muito rápido! Nas nossas expedições, normalmente levamos 3 dias (acampando 2 noites), mas chegamos a levar 4 dias. No ano passado, não conseguimos chegar à fazenda, um dos nossos passou mal, vomitando sangue, aí tivemos que chamar o resgate e fomos socorridos pelo helicóptero águia, naquela cestinha... muita adrenalina!

Sempre que entro no site mochileiros, dou uma pesquisada p/ ver se algum maluco se aventurou por aquelas bandas, e dessa vez encontrei a travessia de vcs!

Seguem meus contatos, quem sabe planejamos uma próxima aventura, ou pelo menos trocamos figurinhas sobre as anteriores... rs

um abraço!

 

Ricardo Henn S. Castro

(11) 4148-1500 (res)

(11) 4612-3491 (com)

(11) 97322-7701 (vivo)

ricardohenn@uol.com.br

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  • 2 semanas depois...
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Ricardho,

Acho que é mais provável que você tenha descido pelo Vale da Preguiça, que realmente é a descida pelo Rio Mambu. Essa que fizemos parte de um lugar muito distante e desce um grande afluente, mas vou entrar em contato com vc pra gente trocar experiências. Abraços.

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  • 1 ano depois...
  • 6 anos depois...
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Olá Divanei, assim como o Ricardo Henn acima, relembrei cada situação que detalhou em seu texto, me senti no meio do mato, entrando nos rios e pulando as pedras. Carnaval de 2002 ou 2003 não me lembro ao certo, a convite de um amigo do colégio, topei fazer essa trilha com outros caras que eu não tinha contato, alguns deles eram de Cotia, inclusive um senhor com pelo menos seus 65 anos era o mais experiente, dizia que tinha um leão em casa, eu duvidei até que vi as fotos. 

Saímos de Embu Guaçu e chegamos também na fazenda Mambú em Itanhaém. O senhor que era como nosso guia disse que seriam 2 dias de trilha, mas nos perdemos e levamos 4 dias. Infelizmente não tenho nenhuma foto, pois a maquina que levei era de filme e molhou no primeiro rio que entramos, não tive contato mais com os caras que fomos, inclusive eu bem desconfio que esse Ricardo Henn fazia parte desse grupo, o senhor do leão tinha loja de informática em Cotia, queria poder reencontrar esses caras.

Muito dahora relembrar tudo isso, hoje tenho 3 filhos e as vezes conto para eles essa aventura, que tenho muita vontade de refazer e levar meu filho mais velho pra ser um homem raiz kkk, essa trilha me transformou, pois eu tinha apenas 18 anos.

Abraços a todos.

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