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Exploratória - Rio Itatinga (acesso ao fundo do vale)


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Foram duas tentativas frustrada.

- na primeira, éramos um trio, que sabia apenas a direção em que se encontrava a parte das grandiosas cachoeiras que aquele vale possui. Essa investida resultou na descoberta de um caminho que possivelmente nos levaria ao objetivo, mas devido ao curto tempo que tínhamos para explorar, tivemos que retornar. E foi nesse retorno, num emaranhado de bambus, que perdemos os resquícios da trilha, e nos perdemos por quase 4 hrs, rodando aleatoriamente sem paradeiro nenhum. Foi um sufoco e tanto, sair dali por conta própria.

 

- na segunda tentativa éramos apenas uma dupla (Adilson Silva e Eu), mais precavidos, seguindo pelo mesmo trajeto das vez anterior. Íamos amarrando pedaços de fita zebrada nas árvores, no trecho mais fechado onde nos perdemos noutrora. Pois se tivéssemos que voltar pelo mesmo lugar, não faríamos confusão em meio ao bambuzal, por onde nos perdemos noutra vez. Pois uma chuva forte no final daquela tarde nos obrigou a abortar a missão e adiar os planos para uma possível terceira chance.

 

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Relato

 

 

Sou do tipo que não tem medo de muitas coisas, mas quando se trata de raios e trovões...

 

...sexta feira, 20h do dia 4/3/2016, e eu já me adiantava com a janta para não ter que sair de casa em meio a uma tempestade anunciada pelos barulhos aterrorizantes que vinham do céu (mas não teve jeito). Com lágrimas nos olhos, minha esposa perguntava se eu realmente iria sair debaixo do toro que estava por vir. E eu, lógico, como o teimoso que sou, respondi que sim! Mas, se fosse necessário, iríamos abandonar os planos antes de executá- los se o dilúvio viesse a oferecer perigo extremo.

 

Pisei os pés fora de casa, andei cerca de 200 mts, e os raios começaram a cair, cada vez mais próximo da região onde moro. Com pouco mais de 300 mts da caminhada e os raios pareciam explodir do meu lado, e a cada clarão que se abria no céu, em fração de segundos, transformava a noite em dia. Comecei a correr em direção ao ponto de ônibus, como um rato foge de um gato, com um medo danado, Ali fiquei sozinho por 15 min esperando o busão. Fiz posição preventiva contra raios (agachado, com as mãos na cabeça). Pouco me importava o vexame rsrs, eu queria é estar o mais seguro, e distante dali, se possível. E para o meu alívio, quando a chuva começou a desabar repentinamente e com força total, não deu nem 3 min, o tão desejado busão chegou. Só a partir daí que eu me senti mais avontê rs.

 

Embarquei no trem, sentido Estação Estudantes, encontrei o Rafa, e fui contando a ele como já começava minha sessão de adrenalina e medo, referente a jornada que iniciávamos. rs.

 

Chegamos na estação, Vinícius já estava lá. No trem seguinte chegou o Adilson, e para dar mais tempo de entrosamento do grupo, o Paulo chegou uns 6 ou 7 trens depois do nosso. rsrs

 

Pegamos o ônibus que segue até o bairro de Manoel Ferreira, onde desembarcamos uma hora depois, e na sequência, meia noite e dez, iniciamos a trilha que nos levaria em direção ao primeiro pernoite dessa aventura. Se tudo corresse nos conformes, estaríamos na área de acampamento, no máximo 1h30 depois. Mas como sempre há imprevistos, chegamos lá às 2h2O da madruga. A trilha segue em fácil navegação, apenas uma bifurcação a se atentar, mas houve um desmoronamento de terra que encobria a via no meio do caminho. Isso gerou uma certa confusão na cachola, cheguei a citar que estávamos no caminho errado, que não havia aquela curva em todo o trajeto, coisa e tal. Com isso, só perdemos tempo procurando pela continuação da mesma nos arredores. Mas de acordo com o risco que desenhei no mapa, olhando pelo GPS do Vinícius, era nítido que estávamos no rumo certo. E juntando a crença do Adilson, que jurava estarmos na trilha das caminhadas anteriores, seguimos até chegar na primeira "ponte," que na verdade é um tronco fino de árvore, estirado de uma margem à outra do riacho que cruza com a trilha. Como não há possibilidades de ir por cima, descemos até o fluxo de água, saltitando sobre as pedras, e atravessamos.

 

* o que não daria para imaginar, era que essa travessia seria um teste de sobrevivência na volta. Leia mais adiante.

 

Agora eu estava mais tranquilo em relação a nossa localização. Tinha a certeza de que em 15 minutos estaríamos arrastando o "fiofó" em um grosso tronco de árvore, que serve como ponte de nível alto, entre as margens do rio que é mais fundo do que o anterior, e mais trabalhoso a ser atravessado a nado, andando e/ou com cargueiras.

 

Acabado o esfrega esfrega, 10 metros a direita já estava a boa área de acampamento (morada dos borrachudos), que nos aguardava para o tão merecido descanso. rsrs

 

No dia seguinte, depois do desjejum, entre a longa caminhada que margeia o ombro da Serra, resumidamente após cruzar com outras pontes (pinguelas), entrar numa bifurcação a esquerda, e uma picada a direita, a gente chegou no largo e íngreme afluente do Jacuaru, que abastece o Rio Itatinga, uma hora e meia depois do acampamento. Ali, sim, começaria a brincadeira pra queles que gostam de aventura regada a obstáculos.

 

Depois de uma pausa demorada, por conta da mochila do Rafa ter estourado as alças da mochila, e necessitar de costuras, começamos a descer pelo inclinado trepa pedras do primeiro afluente da encosta esquerda.

 

Por hora, o desnível não eram tão forte. Porém, quanto mais avançamos, mais e mais o fluxo de água se colocava na verticalidade nos obrigando a seguir a passos lentos e cautelosos, correndo o risco de sofrer uma queda fatal se a escolha fosse prosseguir pela água. Com 1h encosta abaixo, chegamos no primeiro ponto que nos obrigou a adentrar na mata, seguir por um vara mato relativamente fácil de transpor, mas com uma certa dificuldade de retorno ao leito. Onde se estimava ver o fluxo, só penhasco se via. Só foi possível sair da mata quando chegamos a uma canaleta seca que despenca rumo ao afluente. A decida teve de ser minuciosa. A cada metro uma pedra solta rolava morro abaixo, fazendo a lentidão ser questão de segurança. Descemos um de cada vez.

 

Como era dia de calor, nada melhor do que conseguir se manter num caminho refrescante. E após o tempo perdido para vencer aquela piramba, tocamos revezando entre o leito e a mata da margem esquerda. Logo chegamos ao ponto de parada da investida anterior, onde eu e o Adilson acampamos.

 

Eu julgava que a partir daquele ponto, no "olhômetro"mais 150 mts de avanço seriam o suficiente para dar com os pés nas águas do Itatinga. Mas, vendo o aparelho GPS do Mzk, os números eram bem maiores: 300 mts de forte desnível até lá.

 

Minha inocência me fez acreditar que seria uma descida relativamente tranquila como tinha sido até ali. Mas, na verdade, toda dificuldade do trajeto estaria por dar as caras nas próximas horas. Cachoeiras iam surgindo pelo caminho, e essas mesmas cachoeiras se fizeram nossos caminhos. Nelas, a habilidade de contorcionistas amadores foi indispensável, a aderência de Petter Parker presente em nas mãos cada um teve que vir a tona, e ser posta em prática. Até por que, era nas extremidades das mãos e na aderência das solas dos pisantes que dependiam a segurança de cada membro. Um queda, um acidente mais grave, naquelas bandas seria um caso sério a se resolver.

 

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Apesar da confiança coletiva do grupo, a situação não era tão positiva em relação a conclusão do circuito. Quando paramos para ver de que forma o nosso objetivo vinha despencando Serra abaixo, ao olhar no GPS, os paredões gigantescos que se mostravam nas curvas de nível. A empolgação murchou de imediato. O Miyazaki deixou claro sua vontade de dar meia volta se fosse algo absurdo que tivéssemos que subir até alcançar o planalto novamente. Estava disposto a deixar o aparelho de navegação conosco, para podermos prosseguir com o plano, e voltaria pelo mesmo caminho. Mas não era essa a intenção: desmembrar o bando e correr novos riscos estava fora de cogitação.

 

Depois de uma merecida pausa para descansar, comer e por as ideias em comunhão, continuamos a descida em maior parte pela mata esquerda, onde cada vez mais se notável o perigo que era andar por ali, beirando o penhasco que se estendia por dezenas de metros. Isso nos forçava a adentrar mais e mais na selva, subir cristas que não nos permitia descer em direção ao rio, só nos dava vias para subir outra crista, depois mais uma, e assim por diante, até que encontramos uma via (aparentemente) com menos obstáculos. E foi por ali que nos jogamos para ter algum sucesso.

 

Quando a gentileza da floresta se fez favorável, novamente, com a gente, voltamos ao caminho das águas. E assim o Vale se abriu aos nossos olhos, com um buraco enorme, rodeado de paredões rochosos e de vegetação rasteira dependurada sendo pulverizada por um grande spray d'água que vinha por trás de uma rocha. Foi ali que tivemos a certeza que a nossa trupe alcançaria o tão desejado Vale do Rio Itatinga.

 

Como eu ia sempre na frente, escolhendo os caminhos que pareciam mais fáceis para passar, quando olhava para trás, via meus companheiros, pequeninos, se retorcendo entre os vãos encachoeirados de cada aglomerado rochoso que era deixado para trás. O último deles era um buracão enorme, que quando acabei de descer, vi os meninos seguindo em um distância segura, e não me contive. A euforia de querer ver a enorme cachoeira que estava por trás daquele paredão verde, que nos permitia ver apenas o spray se lançar no cenário, foi a força motriz que me impulsionou com maior rapidez ao fundo do vale, que talvez, não recebia uma visita humana há décadas. E lá estava eu, surpreso com a beleza e imponência da Cachoeiras dos Meteoros descendo levemente sinuosa, imensamente furiosa, e causando temor com sua força.

 

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Quase 16 horas do dia estavam completas, e já que a decisão conjunta era de não prosseguir rio adentro, travando uma fatídica luta a elevação do vale, procuramos nos atentar a voltar pelo mesmo afluente, atingir o nível do topo da Cach dos Meteoros, e armar acampamento seguro, perto da água, para passarmos a noite.

 

Na manhã seguinte, com o desjejum feito, acampamento recolhido e energia de sobra, ficou a meta de que iríamos varar mato até o Rio principal e explorar até onde o nosso tempo restante permitisse.

 

Foram cerca de oitenta metros em meio a mata fechada, até encontrarmos a cabeceira que queríamos. Ali, no topo de da cachoeira que serve como um mirante esplêndido ao rio cortando o o enorme vale, deixamos nossas mochilas e partimos de encontro à próxima, e não distante, gigantesca cachoeira. Não tinha muito rio a ser vencido, só obstáculos impossibilitando o nosso avanço.

 

Haviam apenas dois pontos de passagem, e esses dois pontos exigiam confronto a contra fluxo da água. Em um deles, onde fiz a primeira tentativa, o refluxo borbulhante não deixava ter uma visão prévia da profundidade. Mesmo assim, me arrisquei, sem sucesso. Não dava pé em alguns pontos, e com o peso dos tênis molhado, não consegui nadar. Quase afundei. Na sequência, não sei se por determinação, teimosia, ou seja lá o que for, analisei o outro ponto de passagem e cruzei o rio com menor dificuldade enquanto meus companheiros assistiam a tudo. Já na outra margem, percebendo que eles não teriam dificuldade para atravessar, fui me adiante trepando em grandes rochas, rastejando entre pequenos vãos, onde só cabia meu corpo, até dar de frente com outra cachoeira ES-PE-TA-CU-LAR (Cachoeira da Pedra Branca). Tão única, que a minha ingenuidade jamais me deixaria imaginar tal formação, com um piscinão enorme, naquela altitude da Serra do mar. SEN-SA-CIO-NAL. ::hahaha::

 

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Enquanto meus amigos não chegavam, estudando o labirinto rochoso, aproveitei para tomar um banho nas pequenas quedas, refletir e agradecer, em particular, por tudo que eu estava vivendo naquele dia lindo e ensolarado. Claro que rolou um 'nudes' . Quando estávamos todos juntos, compartilhando da mesma alegria, tiramos fotos, contemplamos a majestosa queda, e pouco tempo depois já estávamos palmilhando em direção aos nossos pertences, e em seguida adentrar a mata e chegar novamente no Afluente do Jacuaru. Nosso caminho de volta. Mas, antes desse retorno acontecer, toda a dificuldade que tivemos para subir e alcançar o grande poço da cachoeira, veio com maior complicação na descida. Me lembro de tentar observar alguma forma de descer em segurança, mas abusei da sorte. Os meninos me avisaram de que nada dava para seguir por onde eu mirava nossa passagem. E eu disse: Não, sou vou dar uma olhadinha.

 

Foi nessa hora que eu me agarrei numa rocha, completamente na vertical, apenas com as pontas dos dedos dos pés e das mãos como sustentação do meu corpo. Eu fui, mas não conseguia voltar. As fissuras na rocha estavam em outro ângulo, no sentido contrário e eu não conseguia alcançá-las. Travei! Fiquei paralisado, com medo, só me mexia para respirar e piscar os olhos, grudado feito uma lagartixa naquela parede de uns 4 metros de altura. Altura o suficiente para me arrebentar todo, caso eu caísse. E para piorar o meu estado medroso, o Paulo começa com suas previsões catastróficas.

 

- mano, se você cair daí, vai cair de cabeça nas rochas. Vai se arrebentar todo. Você pode morrer...

 

- tá, Paulo, eu sei disso! Mas você falando essas coisas não está me ajudando em nada. Só me deixando mais tenso.

 

Depois desse momento “encorajador” do Paulo, os meninos conseguiram uma maneira de me estenderem as mãos, e me tirar daquela furada em que me meti. Foi osso! ::toma::

 

A partir dali a descida pelo rio decorreu de forma lenta, cautelosa, visando a segurança de todos. Já a ascensão, pelo Afluente do Jacuaru, oferta agarras por todo lugar que se passa, agiliza, e muito, o retorno ao Planalto Paulista. Na maioria das vezes estávamos ascendendo pelo leito, escalando rochas e cachoeiras. Mesmo nas vezes em que algum dos nossos quisesse varar mato, eu, que ia na dianteira do grupo, conseguia visualizar alguma via em meio as cachoeiras, que chegavam em seus 10, 15 e até 30 metros, nos mantendo no caminho mais rápido. Isso nos rendeu um ganho de tempo valiosíssimo, e foi uma das partes mais prazerosas dessa aventura. Claro que teve momentos em que a ajuda, de um para o outro, se fazia indispensável. Quando as mãos não alcançavam, para subir algum patamar, um círculo de fita de tecido, cerca de 1 metro, era enrolado nos punhos, servindo como alça de apoio, tanto para quem fosse subir, ou para quem fosse suspender a amigo. Assim, em poucas horas, chegamos no vão de saída do afluente. Onde escolhemos alguns minutinhos para descansar e beliscar alguma coisa e repor as energias. Repentinamente começou uma chuva inesperada, que nos fez sair dali o quanto antes, pois a subida até o bambuzal se tem através de uma piramba dos diabos, sem muitos lugares onde se segurar, com muito barro, que molhado, escorrega feito baba de quiabo, ou óleo sobre azulejo. Pegar aquele trecho já não é a sétima maravilha do mundo, com chuva então... aff.

 

Conseguimos alcançar a trilha na melhor hora. Se ainda estivéssemos no afluente a gente tinha se lascado de cabo à rabo. Iria dar trabalho sair de lá. Foi uma chuva tão forte, mas tão forte, que mais parecia um dilúvio enviado para acabar com a raça humana. Num piscar de olhos a trilha estava coberta de água corrente cobrindo nossos tornozelos, formando mini cachoeiras onde houvesse degraus. Lógico, os tombos eram inevitáveis, o medo contido em cada um se mostrava algumas vezes no silêncio coletivo, ou num raio que caia perto da gente, fazendo um estardalhaço a ecoar pela selva. Nessas horas, creio que quem mais sentia medo era eu. Os pedidos de proteção divina foram inundando minha mente, pois a chuva não cessava, só ganhava força, e tinha resistência para durar mais de uma hora. Quando chegamos na área de acampamento, ela já estava fraca, quase parando, onde fizemos uma pausa para descansar e registrar um depoimento audiovisual. O rio que circunda o acampamento estava cheio, e em questão de minutos o nível aumentou consideravelmente. Tratamos de bater em retirada rapidinho, pois teríamos que cruzá-lo passando por cima de um tronco de árvore, como no dia anterior. Fora esse, há 10 min dali teríamos que atravessar um riacho que não nos permitia ir por cima do fino tronco. A travessia teria de ser feita à pé. E esse era o problema: não saber o quanto ele se elevou.

 

Passados dez minutos de caminhada em ritmo forte, ao longe já dava para ouvir o escândalo que as águas faziam enquanto percorriam seu caminho. Se exagero nenhum, creio que há cinquenta metros já se ouvia o monstro rugir feito leão, estourando como trovão, e provocando medo em qualquer ser vivo que por ali estivesse. Se fosse um grupo menos preparado, com certeza, o pânico seria menor! rs ::ahhhh::

 

Tínhamos pressa, vencer aquele desafio exigia, ao mesmo tempo, rapidez e coerência, pois já estávamos com os últimos raios de luz do dia, diante de um problema que poderia nos custar a vida de um dos nossos ao tentar resolvê-lo, ou então, a opção menos interessante seria passar mais uma noite na mata. Como não estávamos com essa intenção, passamos a tentar meios que nos tirasse dali o quanto antes, mas a cada minuto corrido a fúria do rio aumentava, e o nervosismo também.

 

Em um lampejo de raciocínio falei: vamos derrubar uma árvore. A gente joga ela até a outra margem e passar por cima.

 

A ideia parecia boa, o Rafa dispunha de um facão, já a execução não seria tão boa assim. Começamos o corte da primeira árvore, não muito grossa, que julgamos ser fácil lançá-la até o outro lado, mas a espessura, fina, não nos ajudaria com a travessia sobre a correnteza. Abandonamos o primeiro tronco e demos mais atenção a um tronco, bem mais grosso, que já estava no chão, cortado por caçadores ou palmiteiros, talvez. Começamos a ergue-lo com muito esforço, mas antes de elevar sua metade, já era notável que não conseguiríamos colocá-lo ereto e soltá-lo na margem oposta. E feito frangotes, que mal suportam o peso de suas calças, largamos o danado no chão. O peso era insuportável, mesmo estando em um grupo de cinco membros (frangotes rs).

 

Enquanto isso, o rio esbravejava, o tempo passava, e a noite se aproximava cada vez mais. Nós, ainda nos encontrávamos na mesma situação: ilhados, sem ter caminhos para prosseguir e correndo o risco de passar a noite na mata. Não que fosse problema, mas não estava na "programação," e não seria vantajoso pra ninguém. A persistência seria a chave que abriria a porta certa. Começamos o corte de outra árvore, mesmo que não fosse tão grossa, suportando nosso peso já era o bastante. Em seguida, já com a pressa trabalhando a todo vapor, após alguns minutos de revezamento... MADEIRAAAAA. rsrs. Conseguimos erguer e lançar aquilo que seria nosso portal para voltarmos a civilização.

 

Ainda estava muito perigoso atravessar sobre dois finos troncos que estavam a 30 cm separados um do outro. Mas teria que ser isso, ou estagnar o retorno.

 

Às pressas, tivemos que analisar os meios e tomar nova iniciativa contra o tempo. Fui o "peão" na linha de frente, respirei fundo, soltei as cordas e disse: eu vou primeiro. O Vinicius, na tentativa de fazer nós que mantivessem preso à corda, estava sendo bombardeado por um ataque de vorazes "Mutucas," e não conseguia se concentrar. Passou o posto ao Potenza, que mesmo sendo vesgo, com baixa luminosidade, e o mais frangote de todos, passou confiança ao se mostrar um exímio fazedor de nós.

 

Tranquei meu fiofó com muito medo, tive que começar a rastejar minhas pregas naquela ponte (se é que pode ser chamada assim), enquanto aquele Tsunami corria debaixo dos meus pés. Isso fazia parte do processo para encorajar o coletivo, que logo na sequência repetia o mesmo processo de esfregar o rabo no tronco (rs). Foi cerca de 1h no olho do furacão.

 

Já com os pés em terra firma, novamente, o nosso ritmo forte foi retomado instintivamente. A ansiedade pelo fim da jornada era tanta, que a cansativa elevação do percurso na volta foi encarada como se estivéssemos numa reta plana interminável. O trecho final, que geralmente demora 1h30 para ser vencido, nos tomou apenas 1h de caminhada ininterrupta. E quando colocamos nossas caras para fora da mata, às 20h30, num engarrafamento a perder de vista, as pessoas olhavam perplexas com o que acabavam de ver: cinco marmanjos, com mochilas enormes e lanternas na cabeça, saindo da mata, às escuras, como se nada estivesse acontecido. Na verdade, muita coisa aconteceu! Mas essas pessoas que se surpreenderam com a aparição de um quinteto maltrapilho, em um lugar e horário inimaginável, jamais sabem o que realmente aconteceu!!! rsrs

 

Ao chegar ponto de ônibus, onde há um boteco de beira de estrada, onde sempre trocamos nossas roupas esfarrapadas "pós trilha," comemoramos e bebemoramos as andanças pela região, conversando com um morador local, tivemos a informação de aquela foi a maior chuva dentre 20 anos. "Ele" afirmou nunca ter vista tanta chuva por aquelas bandas. Até o Rio Biritiba transbordou e invadiu a pista , causando todo aquele engarrafamento na rodovia.

 

Confesso que foi uma surpresa! Pois entre as várias caminhadas e conversas com moradores da região, nunca ouvi falar de rio transbordar por ali. No ombro da Serra.

 

Depois de tudo isso, só nos restou sentar e esperar os busão que nos colocaria no rumo de nossas casas. Onde começamos a chegar a partir das 00h30. Exceto o Vinicius, morador de Campinas, interior de SP, que teve que pernoitar, brevemente, na minha humilde residência e bater em retirada só na manhã seguinte.

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