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A travessia da Serra Fina que levou 6 dias


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Oi pessoal.

 

Esse é um relato da primeira travessia que eu fiz na Serra Fina planejando terminar em 4 dias, mas só fui completá-la em 6.

Tudo começou depois daquela propaganda em cima da Pedra da Mina, já que medições feitas em 2000 a colocavam como 4º maior ponto do país (recentemente pelo Projeto Pontos Culminantes foram encontradas algumas medidas que fizeram a Pedra da Mina cair para 7ª posição, porém essas medidas não foram ratificadas pelo IBGE e com isso se manteve a 4ª posição da Pedra da Mina).

Com o relato do Sérgio Beck em mãos iniciei pela Toca do Lobo e terminando no Sitio do Pierre (de oeste para leste).

 

O álbum de fotos com alguns croquis e imagens do google earth dessa travessia estão aqui:

 

 

1º dia

 

Alguns dias antes liguei para alguns contatos em Passa Quatro para agendar o transporte da cidade até a Toca do Lobo e já acertar os valores, mas desisti depois de ter ouvido o quanto queriam cobrar, inviabilizando qualquer tentativa.

Com isso não me restou outra opção senão o de seguir o mesmo roteiro do Sérgio Beck (vir da Rodovia até a Toca do Lobo na caminhada).

No dia 31 de Julho peguei o ônibus na Rodoviária do Tietê em direção a P4 (MG) saindo as 07:00 hrs.

Ele segue pela Via Dutra e depois sentido Cruzeiro para só então subir a Serra da Mantiqueira.

Logo depois que ele passa um monumento na divisa SP/MG e uns 7 Km depois pedi para descer em frente ao galpão da CIBRAZEM, no Bairro do Pinheirinho (cerca de 4 Km antes de chegar em P4), onde cheguei pouco antes das 12:00 hrs.

 

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Aqui sai uma estrada de terra do lado direito e segue em direção a Toca do Lobo (no dia em que passei aqui havia uma faixa convidando a todos para o Fórum da Serra Fina que estava sendo realizado na cidade, mas resultados práticos desses fóruns nunca vi nenhum resultado até hoje).

Da Rodovia até a Toca do Lobo são quase 3h30min, mas não é tão fácil encontrar água de boa qualidade. A estrada cruza alguns rios, mas de água não confiável, por isso pegue água nas primeiras casas ou traga na mochila para esse primeiro trecho.

 

A estrada vai seguindo por entre pastagens e com o Sol a todo momento castigando. Logo na primeira hora vão aparecendo algumas bifurcações a direita e a esquerda, mas a estrada principal é fácil de identificar e é só seguir por ela.

Passado 1 hora de estrada e pouco depois das 13:00 hrs sigo por um trecho no plano com um vale e um rio à esquerda. Do lado direito inúmeras árvores estão na beira da estrada e logo chego numa outra bifurcação.

 

Aqui é bem fácil e sigo para esquerda já visualizando uma enorme árvore a esquerda da estrada. Seus galhos e a área de sombra são enormes e depois de cruzar e deixar o rio para a direita, a estrada inicia uma subida bem forte, passando ao lado de uma pequena Capela do lado direito (aqui se chover não é qualquer carro que passa).

Mais uns 40 minutos e passo ao lado de um curral do lado esquerdo e depois de mais uma outra subida básica, desço em direção a uma porteira e cruzo com um riacho.

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Até aqui foram quase 3 horas de caminhada desde a Rodovia e a partir daqui estou entrando na Fazenda Toca do Lobo. Depois de cruzar a porteira, logo a direita já se avista a sede da Fazenda, mas o caminho é em frente pela estrada que segue ainda subindo.

Mais uns 20 minutos e a estrada se estabiliza com uma leve descida até chegar na Toca do Lobo (uma espécie de gruta bem pequena e cheia de lixo). Cheguei aqui por volta das 15:20 hrs e com quase 3 horas e 30 minutos de caminhada era o suficiente para o dia (engraçado que desde a Rodovia não passou um único carro por mim que pudesse oferecer carona).

Procurei uma parte plana para montar a barraca e fui dar uma explorada pelo rio acima.

A água aqui é de boa qualidade, mas se quiser evitar um peso desnecessário, pegue água uns 30 minutos à frente na subida da crista.

Quando começou a anoitecer fui para dentro da barraca fazer o jantar e logo fui dormir, pois os próximos dias seriam bem mais puxados.

 

Continua no 2º dia

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2º dia

 

No dia seguinte (01/08 - Quinta-feira) acordei pouco depois das 07:00 hrs.

Barraca desmontada e mochila nas costas só foi atravessar o rio uns 10 mts antes da Toca e seguir pela trilha.

 

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Vou subindo quase em zig zag para galgar a crista pelas próximas horas. Depois de sair da vegetação alta, a trilha emerge numa vegetação de gramíneas com trilha bem demarcada, sem maiores problemas.

Uns 30 minutos desde a Toca, ouço um pequeno riacho do lado direito (aqui é um bom lugar para pegar água para os próximos 2 dias e o ideal é levar uns 3 a 4 litros).

 

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Subindo de cocuruto em cocuruto, a trilha é bem demarcada e vai seguindo por entre o capim ralo. Ao sul e a oeste pode-se ver belos sítios no Vale do Paraíba, o Pico da Gomeira e o Pico do Itaguaré.

Umas duas horas desde a Toca e pouco antes das 10:00 hrs, num trecho plano da trilha, encontro vestígios de acampamento, mas com o problema do local ser exposto e em casos de ventos fortes, é complicado acampar aqui.

Daqui em diante a trilha segue por entre 2 vales, mas bem ao norte já visualizo o topo do Pico do Capim Amarelo, que é o meu objetivo naquele dia.

 

Depois do trecho pela crista que divide os Estados, entro definitivamente no capim elefante e a subida se torna mais íngreme ainda e com isso fui parando várias vezes.

O ideal aqui é usar uma luva para evitar os cortes nos dedos provocado pelo capim.

Pouco mais de 2 horas desde o selado lá embaixo, chego a mais um outro (é um pequeno ombro do Capim Amarelo). Do local já se consegue avistar a Pedra da Mina, bem imponente a leste, se destacando na serra.

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Descanso por um certo tempo aqui e pouco depois das 13:00 hrs volto à caminhada, passando por um trecho descampado no meio do bambuzal, que pode ser usado em caso de mal tempo no topo.

A partir daqui a trilha se torna mais íngreme e com alguns lances de escalaminhada por entre algumas pedras. A trilha segue pela mata fechada, mas que não apresenta bifurcações e de vez em quando começam a aparecer vistas a noroeste e ao norte. O topo parece estar tão próximo e pouco antes das 15:00 hrs chego nele.

 

Aqui no cume existem alguns lugares para montar barracas entre as clareiras e como não tinha ninguém pude escolher o melhor ponto para ir montando a barraca.

À leste já vejo a trilha que irei percorrer no dia seguinte e noto que não será assim tão fácil, pois existem algumas subidas bem fortes.

Depois de montada a barraca, exploro as laterais do topo para encontrar a saída da trilha em direção a Pedra da Mina. Encontro alguns totens apontando para o norte e deve ser por lá que a trilha segue já que a leste não encontro nenhum vestígio dela.

As clareiras do topo são todas protegidas pela vegetação alta, então não me preocupo com o vento, mas surge um pequeno problema.

Ao tirar as comidas e as frutas de dentro da mochila as deixo do lado de fora e não demora muito, um pequeno ratinho veio fazer sua refeição.

Pelo menos ele pegou só um pequeno pedaço de uma maçã e sou obrigado a jogá-la fora e agora tomo algumas precauções para não ter outras surpresas.

 

A noite foi tranquila e não tive visitas indesejadas e saí da barraca a noite para apreciar a vista e pude notar inúmeras cidades iluminadas, principalmente a oeste e ao norte.

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3º dia

 

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Acordo bem de manhãzinha para apreciar o nascer do Sol e pouco antes das 07:00 hrs (02/08 - Sexta-feira) já estava desmontando a barraca.

Ainda tinha pouco mais de 1 litro de água que era o suficiente para eu chegar na base da Pedra da Mina.

Fui sair do topo pouco depois das 07:30 hrs, seguindo por uma trilha na direção norte.

Me orientando por alguns totens, vou descendo no sentido nordeste até entrar no trecho de mata fechada, passando por bambuzais. Só me confundo quando chego numa bifurcação de 90° a esquerda. A trilha parece seguir em frente, mas logo percebo que ela se fecha.

Voltei novamente para a bifurcação e sigo na da esquerda, orientado por algumas fitas amarradas nos galhos. Entro novamente em uma área de bambuzal e aqui a todo momento minha mochila vai se enroscando nos pequenos bambuzinhos.

Pouco mais de 40 minutos do topo saio do bambuzal e chego no trecho de capim elefante com tufos bem altos.

Aqui encontrei alguns descampados para a direita em meio aos tufos de capim elefante (é um bom local protegido para acampar em caso do topo do Capim Amarelo estiver lotado ou se você chegar muito cedo lá).

Tendo como referência um morro à esquerda e à leste, vou seguindo em frente e ao mesmo tempo contornando ele para a direita, evitando ganhar altitude. A trilha vai apresentando pequenas bifurcações, mas todas com o intuito de evitar passar por tufos de capim intransponíveis. Depois de uns 30 minutos desde os descampados na base do Capim Amarelo, chego aos primeiros campinhos do lado direito da trilha. A grama é bem rala, mas não são muito bons para acampar. Se não me engano, no segundo ou terceiro campinho é um bom local para acampar, já que existe lugares planos junto da trilha.

Quando vou passando pelos campinhos, já visualizo a encosta exposta à leste onde ainda terei de passar. É uma subida íngreme, mas é o caminho a seguir e assim que termino de passar pelo último campinho, do lado direito, entro em um pequeno trecho de mata fechada. Algumas bifurcações levam para a direita da encosta, mas o caminho certo é seguir um pouco para esquerda e logo chego na base e assim vou subindo pelas lajes de pedras expostas, tendendo para a direita.

 

A subida é árdua e o Sol castiga muito e fui parando em vários momentos para descansar e retomar o fôlego.

Tendendo um pouco para direita e seguindo os totens, vou ganhando altitude.

Depois de umas 3 horas desde o topo do Capim Amarelo termino a subida e volto a entrar na vegetação alta tomando rumo norte por trilha bem demarcada.

Aqui não tem como errar, pois a trilha é bem visível e depois de uns 20 minutos chego a um pequeno paredão, onde a única opção é seguir pela esquerda.

Com lances de escalaminhada vou subindo agarrando à vegetação e às rochas e mais uns 15 minutos chego no alto da crista para um merecido descanso.

Daqui para frente já estou no plano, mas não por muito tempo. Logo pego a crista com capim alto e inúmeras pedras no caminho e a Pedra da Mina já começa a aparecer logo à frente. Passando por mais um trecho de bambuzinhos e lajes de pedras chego no último trecho antes da descida até as nascentes da Pedra da Mina.

Aqui existe uma poça de água de uma pequena nascente à direita e em caso de emergência é uma opção.

O que chama a atenção aqui é a imponente Pedra da Mina logo a frente.

 

É um visual que impressiona, mas ainda resta a descida do vale até lá. A neblina já começa a surgir nas encostas da Pedra, mas ainda é cedo demais.

Descendo pelas lajes expostas e se orientando pelos totens e ao fim uns 30 minutos chego a um local plano onde encontrei vestígios de acampamento (provavelmente quem acampa aqui é porque chegou quase anoitecendo).

Conforme avanço pelo vale, vou passando por algumas áreas descampadas que servem de acampamento e logo avisto do lado direito uma pequena cachoeira, conhecida como Cachoeira Vermelha.

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Só tem um pequeno problema; a água tem um gosto estranho, pois é é rica em ferro.

Por causa disso tenho de pegar água em outro ponto já que a minha tinha acabado.

A trilha vai passando pelo capim ralo e lajes expostas, com pequenas subidas de morros e depois de uns 30 minutos cruzo com outro riacho, este sim com água de qualidade.

Ao lado há uma clareira bem grande entre os tufos de capim elefante que é um ótimo local para acampar, mas como ainda é muito cedo (pouco depois das 14:00 hrs) sigo em frente na direção do topo.

Mais algumas lajes de pedras e logo chego na base.

O caminho a seguir é para sudeste onde encontro alguns totens que me orientam na subida e daqui para cima a trilha segue por entre os arbustos e declividade razoável, quase sempre em zig zag.

Em vários momentos fui parando para retomar o fôlego, já que não tinha pressa.

Ainda passo por um pequeno ombro antes do cume e pouco depois das 15:00 hrs chego no topo da Pedra da Mina.

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O tempo ajuda e o visual daqui impressiona.

Encontro alguns acampamentos protegidos por pedras e escolho um deles para montar a barraca e depois disso exploro as laterais do cume.

A vantagem de acampar no topo é o visual, mas com o problema do lugar ser exposto em caso de vento muito forte.

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Depois de apreciar o pôr do Sol, voltei para a barraca e conforme foi anoitecendo a neblina começou a aparecer em volta do topo e o visual ficou totalmente prejudicado e com isso a temperatura caiu rapidamente. Sou obrigado a me recolher para dentro do saco de dormir e depois do jantar, lá pelas 21:00 hrs, logo pego no sono.

No meio da madrugada acordo e olho para o lado de fora, mas não vejo boas notícias, já que estava tudo encoberto e era só um presságio do que ainda estava por vir.

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4º dia

 

Volto a me enfiar no saco e logo pego no sono novamente e pouco antes das 08:00 hrs (03/08 - Sábado) saio da barraca e tomo um susto.

O topo estava totalmente encoberto e ventava muito e não consigo ver nada além de uns 20 mts, mas mesmo assim desmonto a barraca e resolvo seguir em frente, na direção do Pico 3 Estados.

O problema é que eu não tinha direção nenhuma para onde seguir (só procurando os totens nesse momento) e para piorar não demorou muito e começa a chover forte.

Como já estava com as coisas dentro da mochila não me preocupei e segui para leste, na direção de alguns totens que conseguia visualizar.

Começo a descer por uma crista à direita e aqui a chuva aumenta e a neblina piora mais ainda. Conforme fui descendo deixo passar a bifurcação para a esquerda que me levaria às nascentes do Rio Verde, mais conhecido como Vale do Ruah e com a visão prejudicada pela neblina e a chuva, continuo a descer pela crista, mas não demoro muito a perceber que a trilha não é essa.

 

Retornar para o topo não estava nos planos, então tento voltar um pouco para a bifurcação que deixei passar, mas não encontro, então resolvo descer a encosta por entre a vegetação mesmo.

Já no vale vou abrindo trilha por entre os tufos de capim elefante e não demora muito e encontro um riacho que segue para a esquerda e assim vou margeando ele até encontrar uma trilha bem demarcada que segue para leste por entre os tufos de capim. Como eu não sabia o que me aguardava mais a frente, chego a conclusão que o melhor que devo a fazer é procurar um lugar plano para montar a barraca e aguardar o tempo melhorar.

 

Voltando um pouco pela trilha encontro um descampado entre os tufos de capim e aqui resolvo montar a barraca e não foi fácil montá-la por causas da chuva, mas era a única opção que eu tinha no momento.

Pelo menos o lugar era protegido pelo capim e já dentro da barraca tiro toda a roupa molhada e coloco uma seca para evitar a hipotermia. De roupa seca me enfio no saco de dormir e como a chuva não parava, tive de mudar os planos.

Minha pretensão era estar no topo do 3 Estados no final da tarde desse dia, mas tive que adiar para o dia seguinte. Olho no relógio e vejo que passou das 12:00 hrs e nada da chuva e a neblina diminuir e resolvo ficar o resto do dia acampado naquele lugar.

 

Sem nada para fazer, começo ler o relato do Beck e pelo resto da tarde a chuva continuou só diminuindo no início da noite. Dento da barraca estou bem protegido e nem me preocupo.

Por volta das 22:00 hrs percebo que o tempo deu uma melhorada e pude presenciar as estrelas brilhando, mas onde estou é um vale, então não tenho visual nenhum ao redor.

Só torcia para que no dia seguinte o tempo estivesse melhor.

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  • Membros de Honra

5º dia

 

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No dia seguinte (04/08 - Domingo), por volta das 06:30 hrs coloco a cabeça para fora da barraca e já vejo alguns raios de sol chegarem na encosta leste da Pedra da Mina e não demoro muito para desmontar a barraca e depois de um café da manhã sigo rumo leste, margeando o Rio Verde.

 

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Numa das piscinas do rio, resolvo tomar banho, já que estava a 3 dias sem um e por volta das 07:30 hrs volto para a trilha, seguindo para a direita e às vezes para esquerda. Os tufos de capim são muito altos e alguns chegam a atrapalhar a visão.

Uns 30 minutos desde o acampamento, o rio começa a ficar cada vez mais encachoeirado e toma rumo norte e aqui saio de suas margens e sigo para a direita, sentido sudeste para chegar na crista do morro que visualizo bem à direita, onde chego uns 10 minutos depois.

Nesse ponto que saio do rio, encho os cantis porque daqui para frente só vou encontrar água no meio do dia seguinte e novamente 3 litros é o suficiente.

 

Já na pequena crista encontro um descampado para umas 3 barracas e a partir daqui a trilha segue por entre os arbustos e o capim elefante, sempre seguindo rente a crista. Alguns bambuzinhos chegam a incomodar, mas não tem como errar.

Às vezes seguindo para a esquerda, o meu objetivo é chegar no final da crista, onde do lado direito aparece imponente e um pouco mais alto o Pico Cupim de Boi e do lado esquerdo o Pico do 3 Estados.

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Olhando em linha reta na direção do final da crista visualizo bem ao fundo o Pico do Agulhas Negras. Tendo a crista como referência, vou seguindo por alguns pequenos morros e umas 3 horas desde o acampamento no Vale do Ruah, chego ao final da crista, já por volta das 11:00 hrs, mas ainda tenho uma descida e longa subida até o topo do 3 Estados.

Alguns totens marcam a descida para a esquerda, como se agora estivesse seguindo rumo norte. Por entre algumas lajes de pedras desço por uns 20 minutos e entro na mata fechada.

A trilha é bem demarcada e entre o bambuzal encontro uma clareira perfeita para um acampamento, mas sem qualquer perspectiva de encontrar água próxima.

Passado esse trecho, saio novamente nos tufos de capim e agora é chegar no 3 Estados. Num primeiro momento vou subindo até um ombro do Pico pela trilha por entre o arvoredo e contornando pela direita vou me guiando por fitas presas nos galhos e não demora muito volto a emergir nos tufos de capim elefante.

Subindo por vários degraus de pedras, a trilha segue morro acima com alguns totens orientando e vou ganhando altitude. Não é fácil esse trecho e vou parando para descansar em vários momentos. O ataque final ao cume é de matar e os músculos da perna já estão esgotados, já que toda a força é dirigida a eles.

Nesse trecho de subida foram quase 2 horas e pouco antes das 14:00 hrs chego no topo do 3 Estados.

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Aqui não há problemas para acampar, pois existem várias clareiras abertas no meio do capim elefante. É bem parecido com o topo do Pico do Capim Amarelo, então escolho a melhor clareira e já monto minha barraca. Encontro antigos vestígios de um tripé de ferro e um enorme mastro (no tripé está escrito o nome dos 3 estados - SP, MG e RJ).

À leste visualizo a encosta do PNI, mostrando em primeiro plano o Pico do Agulhas Negras e um pouco mais a direita o Prateleiras.

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Nesse dia o tempo está maravilhoso e nenhum sinal de nuvens negras que anunciam chuvas.

A sudoeste se destaca a Pedra da Mina e toda a crista por onde passei neste dia. A noroeste consigo ver Passa Quatro e o bairro do Paiolinho, por onde se acessa direto para a Pedra da mina.

Nesse fim de tarde pude presenciar mais um crepúsculo no alto da serra com algumas nuvens, porém sem a neblina do dia anterior.

A temperatura não caiu tanto a noite e depois do jantar, logo pego no sono.

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  • Membros de Honra

6º e último dia

 

Por volta das 06:30 hrs (05/08 - Segunda-feira) presencio a última aurora cujos raios vão emergindo atrás da crista do Itatiaia e para o último café da manhã uso quase toda a água (entre 4 e 5 horas de caminhada vou encontrar o último ponto de água, então não me preocupo). As últimas frutas secas que ainda restam também são rapidamente digeridas só sobrando alguns tabletes de doces, macarrão, algumas sopas e um pouco de suco em pó.

E pouco depois das 08:00 hrs parto em direção à Rodovia.

A trilha de descida do 3 Estados sai ao norte do topo e vou seguindo de morro em morro pela crista. Tomado pelo capim elefante, alguns totens aparecem de vez em quando nas lajes de pedras.

Em vários trechos tive que ir agarrando na vegetação para não cair quando estava descendo a trilha. Inicialmente ela segue rumo norte/nordeste, mas não tem como errar pois a navegação dá para ser feita só no visual.

Pego um pequeno trecho plano onde encontro uma clareira (pouco mais de 1 hora desde o topo) boa para acampamento e paredões onde tenho de subir até o topo.

Percebo à frente o último morro (é o topo da Serra dos Ivos) ainda a quase 2 horas de caminhada. O capim e o bambuzal dificultam muito esse trecho de subida até o topo e vou parando em vários momentos. E pouco mais de 3 horas desde o 3 Estados chego no topo da Serra dos Ivos.

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Aqui paro para descansar por um certo tempo, já que no topo existem alguns descampados, mas todos eles desprotegidos, por isso é desaconselhável acampar por aqui.

Olhando na direção norte vejo uma antena, mas o caminho a seguir é descer na direção nordeste e leste, por entre as lajes de pedra e onde vou seguindo por uma crista e perco altitude rapidamente. Vejo que há 2 cristas que saem à esquerda da trilha que vai descendo e o caminho certo é só seguir na segunda crista.

Quando passo pela primeira crista subo um pequeno morro e continuo a descer logo em seguida, agora já entre o bambuzal e os arbustos. A vegetação logo muda e o que encontro são árvores típicas de mata atlântica, com muitas folhagens caídas no chão.

Não demora muito e já encontro uma cerca de arame que de vez em quando aparece à esquerda e à direita da trilha. Depois de uns 40 minutos desde a cerca de arame sou obrigado a seguir para a esquerda, agora no sentido norte.

A trilha vai seguindo por uma encosta do lado direito; na verdade essa trilha parece ter sido uma antiga estrada que foi tomada pelo mato a muitos anos e pouco antes de completar uns 30 minutos por essa trilha, passo ao lado de uma bica de água do lado direito e com tempo de pouco mais de 4 horas desde o topo do 3 Estados.

 

Só pego pouco mais de 1 litro pois sei que o final da travessia está terminando.

Alguns minutos à frente e chego em uma estradinha onde sigo para a esquerda e mais uns 20 minutos nas primeiras casas que aparentemente estavam vazias. Ao longo da descida outras bicas de água vão aparecendo e em uns 15 minutos chego próximo à entrada da fazenda, marcada por uma descida bem íngreme e quase em zig zag.

Mais alguns metros e chego na última casa à direita bem ao lado do portão de acesso à Fazenda e aqui só encontro uma criança, mas nada dos pais.

Dou tchau para a criança e fecho a porteira, dando graças a Deus por não ter acontecido nada de grave na travessia. Mais alguns minutos e pouco depois das 13:00 hrs chego na Rodovia.

Aqui tenho 3 opções: tentar carona para a esquerda, sentido Itamonte ou seguir para a direita, serra acima até a Garganta do Registro, onde conseguir carona é bem mais fácil.

 

Uma outra opção é ligar para um dos contatos de Itamonte que estão no final desse relato e combinar com ele para vir me buscar.

Atravesso a Rodovia e do outro lado fico tentando carona para Itamonte, mas tá difícil.

Decido então que o melhor é seguir para a Garganta do Registro e lá vou eu, para mais uma subida (essa era pior, pois é toda no asfalto).

Chego na Garganta em pouco menos de 1 hora e aqui tento carona com caminhoneiros que param para tomar água ou comprar alguma coisa nas barraquinhas. Engraçado que alguns carros particulares sempre tem uma desculpa: alguns dizem que não vão até Itamonte, outros que vão até um sítio logo abaixo. Uma desculpa esfarrapada atrás da outra e até o pessoal do IBAMA que estava em uma Toyota comprando algumas frutas e iam descer para Itatiaia se recusaram a dar carona também.

 

Demora um pouquinho, mas consigo com um caminhoneiro que nem faz muitas perguntas.

A carona é em um caminhão baú que está fazendo entregas nas cidades da região e o motorista até me dá algumas dicas e diz que o melhor jeito de voltar para SP é pegar um ônibus na avenida principal de Itamonte e seguir para Itanhandú e lá teria facilidades para encontrar ônibus e é o que eu faço.

Chego na Rodoviária de Itanhandú pouco depois das 15:00 hrs e compro uma passagem para o horário das 16:30 hrs direto para SP onde chego por volta das 20:00 hrs.

 

Cerca de 1 ano depois voltei a fazer a Serra Fina, numa sequência de 3 travessias de uma vez só (Marins-Itaguaré, Serra Fina e Serra Negra).

Uma verdadeira Transmantiqueira. O relato é esse aqui:

http://www.mochileiros.com/travessias-marins-itaguare-serra-fina-e-serra-negra-juntas-em-uma-so-caminhada-t1100.html

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  • Membros

Se vc que está acostumado a fazer travessias pesadas teve que descansar várias vezes para subir alguns morros, fico aqui imaginando o grau de dificuldade da Serra Fina, com certeza não é para mim.

 

Te parabenizo por mais esta travessia, me lembro de ter lido seu relato em IlhaBela, foi o melhor que já li até hoje.

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  • Membros de Honra

Fala Marcio, blz?

 

A travessia da Serra Fina não é uma caminhada qqer.

A maioria do pessoal faz em 4 dias e por aí já dá p/ imaginar a quantidade de comida que vc tem de levar.

Outro ponto importante é a falta de agua. Vc chega a ficar quase 1 dia e meio sem encontrar agua.

Por isso 3 a 4 litros é quase obrigatório entre um ponto e outro.

Isso se vc não tiver nenhum problema com chuvas e foi o que aconteceu comigo.

Qdo chove, a neblina toma conta e vc não consegue enxergar p/ onde vc tá indo. Muitas vezes a navegação é só no visual e sem visibilidade o risco de se perder é muito grande, por isso que essa travessia é só recomendada no inverno.

 

Então com muita agua, comida e sempre uma reserva de alimentos, a mochila fica muito pesada mesmo.

Não tem como escapar disso.

E p/ piorar eu tava sozinho, então o cuidado era redobrado p/ não ter problemas.

Não queria chegar no final exausto, por isso ia parando em varios momentos.

O cansaço sempre deixa vc mais propício para algum acidente e era isso que eu queria evitar.

 

 

Valeu.

 

 

 

 

Se vc que está acostumado a fazer travessias pesadas teve que descansar várias vezes para subir alguns morros, fico aqui imaginando o grau de dificuldade da Serra Fina, com certeza não é para mim.

 

Te parabenizo por mais esta travessia, me lembro de ter lido seu relato em IlhaBela, foi o melhor que já li até hoje.

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Segue algumas informaçoes atualizadas:

 

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# O ideal é levar uns 3 a 4 litros de um ponto de água a outro. Procure levar aquelas garrafas PET.

 

# Uso de óculos e luvas é quase obrigatório. Se você não tomar cuidado o capim elefante e os bambuzinhos vão provocar um estrago grande. Esse tipo de capim corta com facilidade.

 

# Muito cuidado com o isolante. Procure não deixá-lo fora da mochila ou pelo menos deixe-o bem protegido, porque os bambuzinhos vão acabar com ele.

 

# A navegação por essa travessia é muito complicada, já que na época do verão a vegetação vai se repondo e fechando a trilha.

 

# Sinal de telefone celular pega sem problemas no alto dos picos e na crista.

 

# Protetor solar é item também obrigatório.

 

# Bivacar na Serra Fina acho muito perigoso. É preferível levar uma barraca para se proteger dos ventos e da baixa temperatura durante a noite. É um peso extra, mas é o ideal.

 

# Na primavera e verão é uma época de chuvas e é extremamente perigoso caminhar, já que as tempestades são comuns nessa região. Inverno, mesmo com temperaturas muito baixas, é a melhor época para se fazer essa travessia.

 

# Próximo da Toca do Lobo agora funciona um refúgio, que é um ótimo local para pernoite: http://www.refugioserrafina.com.br

 

# Na cidade de P4 uma das melhores opções de hospedagem é o Hotel Serra Azul:

https://www.facebook.com/pages/Hotel-Serra-Azul-Passa-Quatro-MG/561280500569208?ref=stream

 

# Abaixo seguem alguns contatos que fornecem transporte para a Toca do Lobo ou para pegar no final da travessia, no Sitio do Pierre:

- Taxista Marquinhos: (35) 9113-1214 (Itamonte) - Um dos + baratos;

- Celso: (35) 3371-1291 - Recados no Hotel Serra Azul (Passa Quatro);

- Edson da Toyota: (35) 9963-4108 ou (35) 3371-1660 (Passa Quatro);

- Sr. Caetano: (35) 3771-1510 (Passa Quatro);

- Sr.Samuel: (35) 9113-1700 (Itamonte);

- Eliana da 4P4 Ecoturismo: (35) 3371-4263, 3371-3937, 3371-2268 (Passa Quatro);

- Taxistas Schmidt e Boni: (35) 3371-2013 e (35) 9962-4025 (Passa Quatro).

 

 

Abcs

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