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Peru via Acre – Ano Novo


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Após cinco meses do fim de minha viagem pelo Peru, resolvo postar aqui minhas impressões sobre o país. Já antecipo a todos que a visão que tive do país não foi a das melhores, o que explicarei mais adiante. Não tenho dúvidas de que essa má impressão já teve início com a escolha do destino. O Peru nunca foi um lugar que me atraiu; fui motivado por um impulso de conhecer Machu Picchu antes dos 30 trinta anos. Ao contrário de meu primeiro mochilão pela Patagônia, cujos planos foram gestados por longuíssimos anos (segue o link de meu relato no Mochileiros um-sonho-um-rio-e-um-vinho-parte-1-5-patagonia-t109108.html).

Bem, vamos ao relato propriamente dito, visto a possibilidade aventada por muitos de chegar ao Peru pelo Acre.

Comprei as passagens pela Azul com bastante antecedência, saindo de Sinop no dia 26 de dezembro de 2015 e retornando em 19 de janeiro de 2016. Por mudanças da malha aérea, tive que comprar outra passagem entre Sinop e Cuiabá, na madrugada do dia 25 de dezembro, para dormir no aeroporto de Cuiabá. Tal como na outra viagem, tive infecção de garganta na iminência do embarque.

Cheguei à Rio Branco por volta das 13h, e no próprio aeroporto consegui uma carona com uma Senhora que estava voltando de minha cidade natal e por uma incrível coincidência conhecia metade dos meus parentes do interior de São Paulo.

Saindo do aeroporto há ponto de ônibus em frente. Não sei o preço e não faço ideia de por onde passa. Táxi custa cerca de R$ 100,00. É longe pra caramba do centro da capital acreana (que aliás, eu gostei bastante). No mais, você deve ir para a Rodoviária ou seguir para um local chamado Gameleira (todo mundo em Rio Branco sabe onde é isso).

Na rodoviária, deverá comprar uma passagem para Assis Brasil. Na gameleira você irá pegar um táxi compartilhado (só sai quando lota) que irá até Brasileia – cerca de R$ 70,00 (a cidade mais feia que eu já conheci – ressalva que deve ser feita: foi completamente destruída pela enchente que assolou o Acre no ano de 2014/2015).

Em Brasiléia rapidamente você pega um táxi até Assis Brasil (R$ 40,00). Lá você faz os trâmites alfandegários, que encerra às 19h, ao menos no lado brasileiro.

Em Iñapari, já no lado peruano, peça para o taxista te deixar junto às vans. Essas vans vão te levar até Puerto Maldonado – PM ($ 30,00), capital do Departamento Madre Dios.

Em PM eu tomei um vôo até Lima pela Star Peru, mas tem a opção de ir de ônibus direto para Cusco – fiz o caminho inverso porque eu quis ir subindo aos poucos. Lima-Arequipa-Colca-Cusco, no intuito de evitar o mal de altitude. Acho que deu certo, porque não passei mal nenhum dia.

Em Lima fiquei hospedado no Pariwana – disparado o melhor hostel que eu já fiquei na minha vida. Café da manhã simples, mas bom. Camas de solteiro que parecem de casal, com bons lençóis, cobertas, dois travesseiros, beliche firme e banheiro impecável. Comida excelente e barata. Recomendadíssimo.

Para chegar à Miraflores, tomei um táxi. Cerca de $60,00. Aqui começa uma das encrencas. Os taxistas são de uma desonestidade incomparável.

Lima é caótica, mas Miraflores, Barranco e Chorillos valem a visita. Como fiquei apenas dois dias na cidade, meu trajeto se restringiu a estes locais e ao centro histórico, em que fui acompanhado pelo grupo do hostel (oferecem guias gratuitos).

Eu e o grupo de brasileiros nos separamos do resto da turma e fizemos um caminho próprio, além da praça de Armas, das Flores e das Catacumbas (estas, imperdíveis). Almoçamos no Bairro Chinês. Muita comida, baratíssima, gostosa, mas de higiene que é melhor não comentar. Raciocínio lógico: se a galera de Lima come e não morre, não vai ser eu que vou morrer por isso.

Repeti os restaurantes chineses por outras vezes.

A catedral de Lima é deslumbrante, os palácios, as praças, todas impecavelmente bem cuidadas. Os parques de Miraflores, idem.

Pescados. Caso queira comer um ceviche fresquíssimo e barato, pegue ou táxi ou caminhe pela orla até o final de Chorillos. No mercado de peixe você vai pagar cerca de $7,00 o ceviche. Em Miraflores, cerca de $30,00.

Depois de dois dias, segui para Arequipa, onde iria passar o Ano Novo. Fiquei a meia quadra da Praça de Armas, no hostel MB Backpackers. Apesar da respeitável avaliação no hostelword, achei meia boca. Quartos e área de lazer que me deixou a desejar. Mas vá lá. Quem quiser conforto, que fique em um hotel.

Fiquei plenamente encantado com as construções de Arequipa. Brancas. Lindíssimas. Quase abrindo uma empresa de importação pra trazer pro Brasil as pedras usadas na construção de lá.

Passei o ano novo no hostel com o restante do pessoal. Principalmente argentinos; havia uns europeus de diversas nacionalidades, uma turca (que só ficava no quarto) e dois mexicanos muito boa onda.

Na noite do dia 1º de janeiro jantei numa pizzaria chamada Los Lenos. Senhores Mochileiros. Caso vocês estejam em Arequipa, não deixem de comer nessa pizzaria. É fantástica e o lugar é lindo. Descobri por acidente e foi um acidente perfeito.

Na "madrugada" do dia 02, sigo para a rodoviária para ir para o Vale do Colca, em Cabanaconde, onde tinha a intenção de fazer trekking.

Não encontro passagem para a meia noite e sou obrigado a esperar o ônibus das 3 da manhã. Nas rodoviárias peruanas os vendedores ficam gritando a cada segundo os itinerários dos ônibus, mesmo que a rodoviária esteja vazia. É estressante.

Até Chivay são basicamente turistas. Quando chegamos em Chivay, o ônibus lota, inclusive os corredores.

Sobe toda uma indiarada com aquelas mantas presas nas costas que eles não soltam por nada nessa vida. Sentam na poltrona com a manta e colocam mais coisas no banco. Foda-se você se estiver apertado ou não puder reclinar a poltrona do ônibus. Reclama pra ver o que acontece.

Um detalhe francamente perceptível é que aqueles locais indígenas não possuem o hábito de banho. E quando eu falo que não tomam banho, é não tomar banho por meses. Vi na mão de uma menina de uns 7 anos crostas de sujeira a ponto de poder limpar com uma espátula!!!

Fiquei fedendo a galinheiro por uns dois dias. O cheiro é terrível. Por diversas vezes fui obrigado a tapar o nariz com o lenço que estava pendurado no meu pescoço. A mesma impressão tiveram dois espanhóis com quem fiz a trilha e os dois russos que estavam no ônibus.

É terrível.

Quando a gente chega a Cabanaconde, tem que pagar uma taxa para transitar pelo Colca. Mais à frente eu posto o email que mandei para a embaixada do Peru relatando o que aconteceu (lendo hoje o email, parece coisa de criança mimada, mas tudo aquilo me deixou muito puto da vida).

Paguei o ingresso e segui com os dois espanhóis pela trilha. O vale tem paisagens magníficas. E não, não fui até o Mirador dos Condores e a nascente do Rio Amazonas. Teria apenas dois dias de trilha.

Na primeira noite dorminos na Casa de Roy. Sua esposa foi a pessoa mais simpática, prestativa e carinhosa que eu encontrei na viagem. Desdobrou-se para nos agradar. A simplicidade do lugar (sem energia elétrica ou água quente nos banheiros, e uma cama de palha, definitivamente não importam). A comida que ela faz é de primeira, e sua prestatividade é encantadora. O Colca valeu pela Casa de Roy

Seguimos para o Oásis. Entramos na piscina de um dos hotéis ($10,00) e almoçamos. Lá, os dois espanhóis se desentenderam com o dono da pousado por causa do almoço, que nos foi vendido com opção de carne, mas era totalmente vegetariano. Pagamos mais caro pela comida que não recebemos.

Esse fato fez com que os dois se sentissem passados para trás e por conta disso decidimos ascender à Cabanaconde às 17h. No Peru anoitece por volta das 18h. Do Oasis até Cabanaconde são cerca de 1.200m de altitude em uma ascensão de 4.000m por trilhas estreitas e inclinação terrível (só calcular - como advogado, isso para mim é grego). Iríamos fazer pelo menos 800m de subida pela noite.

Como os dois disseram que faziam trilhas a torto e a direito pelas Baleares, fiquei sussa. Os dois espanhóis decidiram apostar “corrida” para ver quem chegaria mais rápido no topo.

Um deles disparou e eu fui acompanhando o outro. O espanhol que estava comigo começou a sentir os efeitos da altitude – diarréia, ânsia de vomito, fraqueza terrível e enxaqueca (estávamos a cerca de 3.600m).

O cara decidiu ficar no meio da montanha e pediu para eu subir sozinho e pedir ajuda durante a noite com um frio abaixo de 0!!!

O pior de saber que a sua vida depende só de você, é saber que a vida de outro também depende.

Tento subir o mais rápido possível, o que é terrível. Nossa sorte, é que um local encontrou o cara semi desmaiado na montanha, pegou a mochila dele e ajudou a subir. Depois que ele comeu algo, melhorou. Nós encontramos no topo.

Eu Estava anestesiado de cansaço, pânico, fome e frio. Procurei um hotel e a hora que eu vou tomar banho não tinha água nem sequer morna. Fria. Gelada. Naquele ponto em que o gelo da caixa térmica está no fim. Hora que termino o banho estava completamente roxo. Fiquei tremendo debaixo das cobertas por umas duas horas. Tenho certeza que estava com hipotermia.

Na volta para Arequipa, novamente a indiarada que não toma banho, e mais dois dias fedendo a galinha (não tem água e sabonete que tira aquele perfurme).

Pego o onibus para Cusco. Só gringo.

Em Cusco, novamente os taxistas desonestos.

Fico no Pariwana. Qualidade idem ao de Lima, mas o staff, bem menos simpático.

O objetivo era conhecer a cidade e fazer Salkantay sozinho. Até tentei convencer um amigo de Sampa a encarar comigo, mas um amigo trilheiro dele não topou a parada. A propósito, ele fez o caminho Bolívia-Peru. Odiou tanto a Bolívia que resolveu voltar ao Brasil pelo Acre. Disse que o país é imundo e perigoso.

Aliás, quando você sai da zona turística peruana, é o caos social. Existe muito lixo, entulho e degradação social no país. Algo que está além do que nós, brasileiros, estamos acostumados.

Fato é que o país se vende muito bem.

A Praça de Armas em Cusco é algo surreal. Deslumbrante. Caminhei bastante pelo centro histórico da cidade. Tinha cerca de duas semanas, já contado o período da trilha.

Vou procurar o rafting para fazer. A multiplicidade de agência te deixa confuso e extremamente desconfiado. O risco de pagar e não levar é grande. Conselho. Não contrate pacotes de agências que estão misturadas com lojas de roupas.

Comprei o rafting para o Rio Urubamba. “Me” venderam como III-IV, mas era no máximo II. Novamente a sensação de ser passado pra trás.

Na hora de decidir ir para Salkantay sem guia, diversas agências e pessoas disseram que não era possível. Pesquisei e fui até o centro de informações turísticas. Era possível fazer sozinho. Todavia, estava saturado da viagem e o cansaço da altitude me fizeram reavaliar o caminho de Salkantay. O risco real de morte no Colca me fez desistir.

Meu pouco dinheiro (R$ 120,00 por dia para tudo) não me permitiu adquirir o pacote. Procurei por trilhas por Ausangate. Muitos guias disseram que eu iria morrer na trilha (-20°C, pelo menos, entre chuva e neve e altitude média de 5.000m). Já algumas agências estavam saindo. Valor de cerca de R$ 900,00 (iria me endividar no cartão). A insegurança quanto às agências e a típica “garantia soy yo” (juro que eu escutei isso de uma agência), fez eu pular fora.

Decido, por fim, fazer o turismo básico. Compro o pacote para Machu Picchu pela Agência do Hostel. Cerca de US$ 180,00 com o ingresso, ônibus, hotel, trem e guia. A rodovia pra chegar até lá é magnífica. O ônibus passa a uns 30 cm do precipício. Uma curva em cima da outra.

Paramos na hidrelétrica e fomos caminhando até Aguas Calientes. De longe, a cidade tem ar de abandono e de favelão. Mas é um verdadeiro brinco. Adorei. Preços? Na altitude do Himalaia.

Machu Picchu. Ah, aquela escadaria. Quando eu subi o primeiro lance, pensei: “-pow, esse povo do mochileiros é muito mole, não agüenta 50 degraus de escada????”. Trouxa. Era o primeiro lance de vários. Pelos menos duas horas pesadas de escadaria. Extenuante. Mas vale a pena. O caminho é bacana e você vai se divertindo. Cheguei encharcado de suor. Parecia que tinha saído da piscina. Estávamos literalmente no meio das nuvens.

Quando entro em Machu Picchu, tive que me segurar pelo menos três vezes pra não começar a chorar. Foi um dos lugares mais lindos, fantásticos e incríveis que eu vi na vida. Amo a Patagônia, mas ela não chegou a me tirar lágrimas. Machu Picchu, sim.

Esqueça qualquer fotografia que você tenha visto. Não é absolutamente nada do que você vai encontrar. Aquelas montanhas valem o passeio por si mesmo. A cidade e o modo como os guias contam a história te deixa impactados. O conjunto da obra é uma pintura de Deus.

Fiquei uma 7 horas no parque. Tomei um pito do guarda porque estava tomando Sol sem camiseta. Aliás, fui durante o verão. Sei que é época de muita chuva. Tive muita, mas muita sorte e não choveu nenhum dia da minha viagem. Só um chuvisco muito leve, quase imperceptível, em Lima!!!!!!!

Em Machu Picchu peguei tempo fechado e aberto. A paisagem com as nuvens deixou tudo muito surreal.

Não fiz nem montanha, nem Hayana Picchu. Tenho verdadeiro pânico de altura, a ponto de travar as pernas e não conseguir me mexer. Mas fui até a ponte inca.

À noite, retorno para Cusco e no meu quarto do hostel estava o mesmo grupo de portenhas da primeira rodada em Cusco. Essas portenhas me fizeram ter vontade de degola-las por causa da zona no quarto, do barulho e do entra e saia (sou da opinião que em hostel você não deve ser exigente com privacidade, acender e apagarde luz e barulho; afinal, você está com outras pessoas. Mas isso não lhe dá o direito de se comportar como se você estivesse em um quarto privado. Bom senso deve falar mais alto).

Antecipo minha volta em 7 dias. Estava saturado da viagem e o Peru não havia me encantado. Faço o trecho Cusco-Puerto Maldonado de ônibus durante o dia. Pego a poltrona da janela frontal. Decisão acertadíssima. A Serra do Rio do Rastro é brincadeira de criança perto da rodovia andina. Diversas vezes o ônibus tem que entrar na contramão pra poder fazer a curva e dificilmente a gente passa de 30km/h. A rodovia é excelente, mas acho arriscado fazer com o próprio carro. Não é algo que nós, brasileiros, estejamos acostumados. Se você for, saia bem cedo de Puerto Maldonado e se prepare para 12h de rodovia. Calma, freios e revisão do carro, acima de tudo.

Durmo em Puerto Maldonado. Vou sacar dinheiro e não consigo. Nem do cartão de crédito, nem do cartão da minha conta.

O jeito foi no dia seguinte botar o dedão na rodovia. Tivemos uma sorte sem tamanho e conseguimos carona. Na fronteira com o Brasil foi mais difícil, por causa dos taxistas que fazem o trajeto, mas eu e um francês que estava na mesma, fomos abençoados por Deus.

Chegamos à Rio Branco umas 9 da noite.

Eu tenho que chegar até o aeroporto e ele arrumar um lugar quase de graça pra ficar. Consigo o telefone de uma ex-aluna minha. O namorado da guria me leva até o aeroporto e hospeda o francês gratuitamente no hotel da tia dele. E ainda nos levou dois subway, porque estávamos o dia todo sem comer.

Graças a Deus que existem boas pessoas no mundo.

Pego o avião e finalmente chego na minha cidade.

No mais, as más impressões do Peru estão relatadas no email abaixo que eu mandei para a Embaixada do país aqui no Brasil. Mais para frente prometo que posto umas fotos.

 

Abraços e espero que de alguma forma tenha contribuído para este grupo que muito me ajudou.

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