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Amigo É Coisa Pra Se Reencontrar

 

Edmilson Vieira

 

Buenos Aires. Indiscutivelmente as pessoas que eu conheci na primeira vez que estive aqui, sumiram. Faz sentido telefonar depois de 16 anos? Peste! Telefonar na Argentina é neurose de passar meia hora colocando números e ouvindo gravações. Mas preciso fazer as pazes com a telefônica. Desta vez os números obedecem e consigo falar com o primeiro amigo que conheci na região do Rio da Prata, Fabian Mulis. Cinco dias depois vamos nos reencontrar. Ele marcou na esquina da 9 de Julho com Avenida de Mayo, no centro da cidade, às 6 da tarde. Dizem que até as pedras se reencontram e constroem catedrais. Vamos a um jantar, verdadeira confraternização. Ele convidou dois amigos, Gabriel e Fernando, talvez para ajudá-lo a me explicar a decadência da economia argentina.

 

Fomos a um restaurante chinês no subúrbio, para fugir da agitação do centro de Buenos Aires e degustar as marcas do nosso passado. Fabian, como se fosse um diplomata assumiu o papel de miscigenar em um só continente (mesa), três civilizações: Brasil, Argentina e China. Ele se casou com a cultura erudito-chinesa há dois anos. Estuda num curso de mandarim e agora espera o certificado.

 

Depois da meia-noite, acaba jantar, fecha restaurante... Vamos à rua para resumir o encontro com um abraço de despedida e selar a paz entre as três potências, quer dizer, nações.

 

Sigo com Gabriel até o centro de Buenos Aires num táxi, carro preto com uma parte amarela e aparência de abutre. O clima nunca é propício para abrir a porta e sentar ao lado do motorista. Nada de intimidade. No dia-a-dia as pessoas reservam um quilômetro entre elas.

 

A noite em Buenos Aires é consumida pela badalação e mesmo com a crise, difere de qualquer lugar. Como o mundo já sabe disso, não é necessário dar esse recado.

 

Enfim, saímos do bairro de Belgrano e dentro do táxi interpretamos a estética da cidade e do povo. Parecemos o prefeito e o governador. Avenida e vida são os trajetos percorridos. Conhecemo-nos no jantar e pintamos um quadro mais parecido com o reencontro de dois amigos de infância. Só faltaram os ressentimentos de família.

 

Chegamos à 9 de Julho e pela primeira vez passo de carro por essa avenida. O néon das multinacionais dança no topo dos prédios apagando e acendendo e quem não tem dinheiro pra consumir, evite caminhar por essa artéria. O mundo é mau, e as propagandas luminosas são um liquidificador aéreo que trituram a sociedade capitalista.

 

O carro pára em seguida. A mão abre o trinco da porta, palavras de despedida. A rota de Gabriel segue confortavelmente até em casa. Desde então, chego virtualmente na porta deles oferecendo e-mails. Gabriel respondeu uma vez, e quanto a Fabian, já virou tradição analisar tudo o que escrevo.

 

Os três amigos são um tesouro. Pressupõe-se que o tempo deve permitir pelo menos a comunicação, pra não ser necessário passar mais 16 anos até surgir outra história dessas.

Edmilson Vieira é artista plástico e escreve crônicas. dnv01@uol.com.br

 

 

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