Bombinhas – Santa Catarina

Conhecida dos mergulhadores, a península de Bombinhas, litoral norte catarinense (a 79Km de Florianópolis) guarda além das riquezas no fundo de suas águas claras, a mais forte expressão caiçara no trabalho dos pescadores. Se tiver a fim de conhecer um pouco dela, programe-se para ir à cidade entre maio e junho, quando toda a vida praiana se move em torno da pesca da Tainha.
Este período é considerado de baixa temporada no local e você certamente pode encontrar muito menos agito do que esperava e até alguns comércios (restaurantes, lojas, pousadas…) fechados.  Confesso que ao chegar à cidade fiquei um tanto impressionada com a quietude: “Por favor senhor, onde fica o centro?”, perguntam os mochileiros meio ETs aportando por ali. Resposta: “Tá nele”!

Vista na chegada à Praia da Tainha - Foto: Silnei L Andrade / Mochila Brasil
Vista na chegada à Praia da Tainha – Foto: Silnei L Andrade / Mochila Brasil

Em alguns lugares e momentos, quietude é tudo que se espera e, quietude mais 22 belíssimas praias e 4 ilhas seria um verdadeiro presente. A mais bela, a praia da Tainha, pequena, de tombo, cercada por rochas parece ter sido feita à mão (dê um tempo e escute a música do mar e do vento) e ali estavam os pescadores, esperando seu pão. Noite e dia, em revezamento, os homens ficam como soldados de prontidão para ao primeiro cintilar no mar buscar seus peixes. Suas companheiras e o resto da família também estão na expectativa. Quando um barco vai ao mar toda a areia espera em silêncio: estamos assistindo a um espetáculo cujo regente é a… Tainha. “Mancha à vista”, avisa o olheiro de cima das pedras.
Embora haja alguns alarmes falsos, os pescadores persistem e, cada grupo no seu território, se não “é briga na certa”. Se um grupo está puxando uma quantidade muito grande de peixes e não está com força para tanto, um membro de outro grupo nem ousa ajudar, parece brincadeira, mas não é.
Ao menos nesta época do ano, Bombinhas é um local para contemplar a exuberante natureza da península e conhecer um pouquinho da cultura local. De dezembro a março a população pode chegar a aumentar em mais de 100.000 pessoas (pasme) e, como são 36,6Km de extensão você pode calcular como a cidade fica.

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Pescadores à espera das Tainhas – Foto: Silnei L Andrade / Mochila Brasil

Atrativos

Praticamente todas as praias de Bombinhas podem ser percorridas à pé, inclusive há trilhas como a costeira da Praia de Zimbros até a Praia Vermelha, passando pelas belas praias do Cardoso, da Lagoa e Triste, num trecho com cerca de 9Km (ida e volta). Uma caminhada linear, bastante tranquila que qualquer pessoa, mesmo sem preparo pode fazer.
A trilha começa no final da praia cuja enseada tem areia fina, água clara e fria! (As águas no sul são bastante frias sobretudo, por motivos óbvios, no inverno).
A pedida na Praia do Ribeiro é aproveitar as belezas das águas claras com um snorkel. Se você não tiver um pode alugá-lo ou comprá-lo na cidade. Essa praia fica do lado do Parque Municipal da Galheta, uma reserva de Mata Atlântica no costão esquerdo da Enseada de Bombas, praia com 2Km de extensão.
Se você gosta de Surf, a Enseada do Mariscal com seus 4Km de extensão e mar agitado e a Praia de Quatro Ilhas com ondas arrebentando longe da praia são opções.
Já as piscinas naturais da Praia do Canto Grande são para quem quer só relaxar.
As praias do Retiro dos Padres, da Galheta, Caeté, da Sepultura, da Conceição e de Morrinhos são as menos visitadas.
A Praia da Tainha, uma das mais bonitas de Bombinhas só tem acesso à pé ou de carro (moto ou bicicleta) e nela não há comércio. As águas são propícias para o banho, mas no outono e inverno são bastante frias e no período de pesca da Tainha (maio a julho) ali e em quase todo litoral de Santa Catarina é proibida a entrada no mar para qualquer prática.
Há até missa em alguns municípios do Estado para celebrar a abertura da temporada de pesca.

Outras tradições

A cidade mantém algumas tradições ligadas à figura do boi. Algumas belas, outras nem tanto, como a “Boi de Campo” ou como ficou conhecida, a “Farra do boi” que acontece perto da Páscoa. Nela o boi é confinado sem alimento por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num local onde ele possa ver, mas não alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos “farristas” que carregam paus, facas, lanças de bambu, cordas e chicotes. Ainda mais desesperado o boi corre em direção ao mar e acaba morrendo afogado.
Alguns dizem que este é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando-o as pessoas estariam se livrando dos pecados. Atualmente a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa.
A Farra do boi está proibida por lei desde 97 e prevê um ano de prisão para quem pratica ou colabora com o “evento”; porém continua ocorrendo no litoral catarinense.
Outras representações não violentas como o Boi de mamão ou Bumba-meu-boi, que nas encenações trata da “morte e ressurreição” do boi também ocorrem na cidade, bem como a bela dança, Pau de Fita, cujos participantes realizam coreografias trançando fitas junto com uma pessoa no centro da roda e entre 25/12 a 06/01 o Terno de Reis quando três cantores seguem pela cidade anunciando o nascimento de Jesus.

Praticamente todas as praias de Bombinhas podem ser percorridas a pé - Foto: Silnei L Andrade / Mochila Brasil
Praticamente todas as praias de Bombinhas podem ser percorridas a pé – Foto: Silnei L Andrade / Mochila Brasil

Um pouquinho de história

Bombinhas foi emancipada em 1992, é uma jovem cidade.
Muitas são as evidências de que os índios carijós pertencentes à nação tupi-guarani foram os primeiros a povoarem este litoral. Os sambaquis (sítios arqueológicos) descobertos em algumas praias e terrenos de igrejas de Bombinhas, como a de Zimbros e de Canto Grande não deixam dúvidas. Algumas destas áreas infelizmente foram destruídas pela especulação imobiliária, pelos próprios moradores que não tinham consciência da importância de preservar tais locais.
Os primeiros a chegar foram os espanhóis, em 1527. Atracaram na enseada de Zimbros. Para provar ao rei da Espanha o feito, levaram quatro homens brasileiros para a Europa. Os portugueses, para garantirem seu território rumaram para estas terras.
Numa versão mais “lúdica”, a abundância de peixes na região fez com que os colonizadores açorianos, por volta de 1817 formassem um estabelecimento para pescaria ao modo dos Algarves. Eles formaram isso na Enseada das Garoupas (hoje região de Porto Belo) e em Zimbros. As crises econômicas e terremotos nas ilhas dos Açores e da Madeira também contribuíram para que os portugueses fossem para o litoral catarinense.
Já com relação ao turismo, este começou na década de 60. O primeiro veranista, Leopoldo Zarling (hoje nome de rua) construiu sua casa na Praia da Sepultura em 66; também foi o primeiro a fazer um loteamento na Praia Grande, atual Bombas. Em 67 os padres salesianos construíram a Casa dos Retiros.

Onde ficar

A cidade tem muita oferta de pousadas, porém na baixa temporada você pode encontrar muitas fechadas, portanto é bom se informar antecipadamente se tiver interesse por alguma que, por exemplo, gostou pela internet.
Dica: muitas hospedagens no sul do país, sobretudo em Santa Catarina oferecem chalés com mini cozinha equipada. Utilizar o espaço para preparar a comida é uma maneira de economizar.
Você pode encontrar algumas opções de hospedagem aqui e um bom hostel aqui.

Onde comer

Na avenida Leopoldo Zarling há várias opções de restaurantes e lanchonetes, porém na baixa temporada assim como ocorre com as hospedagens, alguns não estão funcionando.
Uma boa opção (aberta o ano inteiro) é o “Come bem”, um restaurante e pizzaria na Avenida Geral de Bombinhas (Av. Vereador Manoel José dos Santos), 165. Telefone: (47) 3369-0015.

Saiba +

Praias de Bombinhas (praias)
Atrativos de Bombinhas (outros atrativos)
http://www.patadacobra.com/ e http://www.hybrazil.com.br   (para os interessados em Mergulho – passeios, snorkel, batismo e cursos)

Como chegar

Carro/moto – Pela BR-101, na altura do Km 243 (a 66Km ao norte de Florianópolis e a 52Km ao sul de Itajaí) siga pelo trevo de acesso a Porto Belo e Bombinhas. São aproximadamente 15Km de estrada pavimentada, pela SC-412.
Ônibus – uma opção é chegar até Itapema (12Km de distância) e de lá pegar o itinerário Itajaí – Canto Grande, pois não há saídas da capital (Florianópolis) ou de outras capitais do Sul e Sudeste, por exemplo, direto para Bombinhas.  Informe-se sobre com a Viação Catarinense (http://www.catarinense.net/pt/)
Outra opção é ir até Balneário Camboriú , uma das cidade mais visitadas de Santa Catarina e de lá pegar um ônibus para Itapema pela viação Praiana ( http://www.praiana.com.br ). Tem várias saídas diárias.

Fotos:

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Foto do autor

Claudia Severo de Almeida

Jornalista, há 20 anos escreve sobre Turismo Backpacker/Mochileiro e viagens independentes. Participou do corpo de júri especializado do Prêmio 'O Melhor de Viagem e Turismo' (categoria Hospedagem - Hostel). Cocriadora do site Mochileiros.com.

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