Viajar sozinha não significa solidão

Por Ana Manuela Borges*

Eu me lembro a primeira vez que viajei sozinha. Foi em 2014. Antes dessa data, eu nunca tinha me permitido gozar da minha própria companhia, sem roteiro pré-definido. Apenas em 2014 fui “iniciada” no que hoje se tornou um dos meus hobbies prediletos: viajar “sola”.

Viajei ao Rio de Janeiro, por apenas um dia em meio, para a Copa do Mundo. Fiz um roteiro adequado ao tempo que tinha (Pão de Açúcar, Lapa e Copacabana). E acreditem: tudo sem planejar, de sopetão, me baseando apenas no velho brocardo “quem tem boca vai a Roma” .

O fato é que ter me permitido viver o desconhecido me abriu portas para um caminho que até então era excêntrico: o de ser feliz viajando, ainda que sozinha. Sempre que viajo, alguém me pergunta com espanto e tom de preocupação: “Ué, mas você está só?”.Essa pergunta sempre me incomodou um pouco.

Afinal, o que é estar só?

Me lembro de ter ido à Lençóis, interior da Bahia, situada na Chapada Diamantina. Lençóis é mágico. Não há como não gostar daquela cidade. Entretanto, viajei para lá com alguns amigos e a viagem, para mim, foi trágica.

Além de mil motivos que renderiam um texto (que poderia ser intitulado “Não é viagem, é cilada”), havia algo que jamais faria com que aquela “trip” fosse bacana. Eu não estava feliz comigo mesma. Embora eu estivesse rodeada por pessoas que amo, a solidão estava dentro de mim. E isso, meninas, é estar só.

Quantas vezes você já abdicou de uma saída apenas por não ter companhia? Quantas vezes você já pesquisou aquele lugar maravilhoso em uma cidade pitoresca que ninguém topa ir contigo? Por fim, quantas vezes você já se tornou refém do “sim” de alguém tão somente para não se sentir só, mas aquele momento não te preencheu?

Eu posso responder para vocês que já passei por isso algumas vezes, até entender que o “ sim” que damos ao outro para afastar o substantivo “solidão”, em detrimento das nossas vontades, é um não que damos para quem realmente somos.

Viajar pode ser transpor limites territoriais. Entretanto, viajar sozinha é se permitir transpor os seus próprios limites, em busca de conhecer o novo e a si mesma. E isso não tem qualquer relação com solidão, mas sim com se sentir em paz com a única pessoa que estará contigo “full time” em sua vida: você mesma.

O viajar sozinha me permitiu esse entendimento. O viajar sozinha me fez entender que nunca estaremos só, não apenas por termos um lugar de origem, mas porque temos a nós mesmas. O viajar sozinha me fez ser mais cautelosa com as minhas escolhas, ser observadora das situações da vida, ouvir o outro, respeitar as diferenças e, o mais importante, e confiar em mim mesma.

É isso que desejo para cada uma de vocês.

Alguns vão te chamar de louca. Alguns vão te chamar de corajosa. Alguns vão te chamar de solitária. Mas, como você vai se enxergar é o que realmente importa.

* Ana Manuela Borges é colunista do M pelo Mundo, portal de informações e dicas de viagem para mulheres.

** Texto publicado originalmente no site M pelo Mundo.

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