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Bolívia, Peru e Chile: Preços, hoteis, transporte e dicas


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Olá grupo!

 

Abri este tópico para registrar meu diário de bordo da viajem que fizemos pela Bolívia, Peru e Chile em janeiro de 2008. Estão como destaque em nosso roteiro Machu Picchu e Salar de Uyuni. Todos os relatos e fotos estão registrados em nosso blog: http://viajandopelaamerica.blogspot.com

 

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Dia de chegada: La Paz 14/01

 

 

Depois de cansativas 8 horas de viajem, com direito a uma conexão em Lima, finalmente chegamos a La Paz. O Hostal Copacabana é bom e com banheiro privativo, e localiza-se num bairro cuja principal característica é o denso comércio nas ruas.

As Cholas praticamente dominam a paisagem, e nos pareceram um pouco avessas aos forasteiros. O trânsito é barulhento e confuso, e o Afonso e eu tivemos dificuldade para atravessarmos as ruas. Ao lado de nosso hotel há um Hard Rock Café, onde pudemos beber e comer muito bem por preços excelentes (cerca de 10 dólares uma boa refeição com Chopp – caro para os padrões bolivianos, mas nada muito diferente do que encontramos nas grandes cidades brasileiras). Há também uma loja excelente de marcas esportivas, chamada Fair Play, onde nós compramos jaquetas de frio que nos foram muito úteis até o final da viajem.

Na primeira noite quase não senti os efeitos da altitude, embora o Afonso tenha tido um pouco de falta de ar. Na segunda noite, porém, acordei na madrugada com fortes dores de cabeça e enjôo. Por um instante pensamos em pedir ajuda, pois a dor estava tão forte que mal conseguia escutar ou abrir os olhos. Depois de vomitar muito, finalmente consegui dormir um pouco.

Na manhã seguinte acordei um pouco melhor e fomos com uma excursão conhecer o Tiwanaku, um parque arqueológico nas redondezas de Laz Paz que guarda as ruínas de uma das primeiras civilizações da América Latina. Não achei o passeio grande coisa (já o Afonso gostou mais). Na verdade, o que mais vale o passeio é a viajem até o altiplano, com uma vista bem desolada e bucólica, com os picos nevados da Cordilheira dos Andes ao fundo.

Após conhecermos Tiwanaku fomos andar à noite na principal avenida da cidade, onde se concentram cafés, restaurantes, cinemas e sorveterias. Jantamos em um restaurante mediano, decorado com fotos de atores americanos de Hollywood, e depois fomos comer a sobremesa em um lugar chamado Dumbo (o elefantinho da Disney), com doces muito gostosos.

Depois de comermos bem voltamos ao hotel para dormir, pois sairíamos para Copacabana bem cedo no dia seguinte.

 

 O Hostal Copacabana é bom e barato (8 dólares por pessoa, com quarto com banheiro privativo, água quente e um bom café da manhã). Dentro dele há uma casa de câmbio confiável e uma agência turística que oferece serviços impecáveis, o que nos poupou o trabalho de ter que procurar por esses serviços. Além disso, é um ótimo local para se encontrar outros mochileiros.

Maiores informações: http://www.hostalcopacabana.com/

 

 O táxi é MUITO barato, por menos de 3 reais você pode chegar a qualquer ponto da cidade. Se sair a noite, vá de táxi sempre. É mais seguro.

 

 Não compre roupas de frio no Brasil para esta viajem! Em La Paz, perto do Hostal Copacabana, há uma excelente loja de roupas esportivas de marca (como Nike e Adidas – tudo original!)por preços ótimos! Um terço dos preços do Brasil. A loja chama-se Fair Play.

 

Também próximo ao Hostal fica a Calle de las Brujas: um quarteirão repleto de artesanato e artigos místicos, como fetos de lhama e animais empalhados. Vale muito a visita!

 

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Copacabana, Titicaca e Isla del Sol 18/01

 

 

 

Após tomarmos um café da manhã regado a chá de coca, pegamos um ônibus turístico para Copacabana. O dia estava frio e o céu encoberto, mas não nos impediu de apreciar a bela vista composta por picos nevados, muito verde e ovelhas pastando no horizonte.

Chegamos a Copacabana e fomos direto ao escritório local da agência turística do hostal Copacabana, onde ficamos em La Paz, que até então nos ofereceu serviços impecáveis. Compramos o ticket de embarque para o barco que vai até a Isla del Sol (10 bolivianos=1 dólar e 50 cents.), para o mesmo dia, e as passagens de ônibus para Cuzco (Peru), para o sábado (100 bol= 13 dólares).

A viajem de barco até a ilha é cansativa, porém bela (cerca de 2h). O Titicaca, apesar de não passar de um lago, é imenso e responsável pela subsistência dos nativos. Quase todos os peixes consumidos na Bolívia provêm de lá.

Ao chegarmos à ilha... Que coisa mais bela! O único sufoco (e bem grande) é subir as intermináveis escadarias incas que vão até o topo. Minha sorte (e do Afonso também) foi um menino local que apareceu e se ofereceu para nos levar a um hotel e carregar minha mochila. No inicio fiquei sem graça e recusei: olhava para aquele menino tão novinho e magrelo e achei um abuso dar minhas mochilas pra ele. Quando percebi que seria fisicamente impossível chegar ao topo com o peso – considerando que estávamos a quase 4.000 metros de altitude e que sou fumante – deixei o menino carregá-la por uma gorjeta muito generosa.

Escolhemos um hotel no topo da ilha, por 10 dólares a diária: bem aconchegante, com um quarto muito confortável e uma bela vista para o lago. Passamos a tarde toda olhando para o horizonte enquanto o Afonso tirava ótimas fotos. Quando anoiteceu, fomos a um restaurante rústico com pratos muito bons e tomamos um bom vinho.

A ilha não é iluminada em suas trilhas, e tivemos que nos guiar com uma lanterna. É possível ver todas as estrelas nitidamente: acho que nunca tinha visto um céu como aquele no Brasil. O Afonso e eu ficamos conversando sobre as razões que levaram as comunidades indígenas antigas a serem tão fascinadas por astronomia – quando cai a noite, não há nada que se possa ver além das estrelas e da lua.

 

 Para Isla del Sol, nunca faça a besteira de comprar um pacote para conhece-la em meio dia, pois deixará de conhecer tudo que existe de mais bonito nela. Melhor dormir uma noite e no dia seguinte ter o dia todo para explorá-la: foi um dos melhores pontos de nossa viajem.

 Não há muito o que se conhecer em Copacabana: a praia é feia e poluída. Melhor mesmo é conhecer as ilhas que há nos arredores.

 

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2º Dia em Isla del Sol 18/01

 

 

 

Acordamos cedo e logo tivemos que fazer checkout no hotel. Felizmente nos deixaram guardar nossas mochilas em um depósito enquanto conhecíamos a ilha. A idéia era caminharmos ate às 3h da tarde, o que nos daria tempo suficiente para buscarmos as mochilas e pegarmos o barco até Copacabana, pois sábado de manhã partiríamos para Cuzco (Peru).

Pegamos uma trilha Inca e fomos seguindo contornando a ilha para o norte. As paisagens eram tão lindas e o dia estava tão claro que nem pensávamos em retornar: era tão bom estar longe do mundo que conhecíamos, que não queríamos ir embora. O vento estava gelado e o ar difícil de se respirar: tivemos que ir bem agasalhados e sempre caminhando depressa. Depois de mais ou menos 4 horas de caminhada difícil, finalmente chegamos até a ponta norte da ilha, e percebemos que não conseguiríamos voltar a tempo para pegar o barco coletivo até Copacabana. E já tínhamos as passagens para Cuzco!

Imediatamente mudamos de trilha e começamos a descer procurando algum vilarejo na beira da praia que tivesse um barco para nos levar até o sul da ilha, onde nossas bagagens estavam guardadas. O problema é que as imagens iam ficando cada vez mais bonitas e exóticas a cada passo. Tínhamos agora encontrado a zona rural da ilha, e a paisagem era uma mistura de plantações, animais, longos caminhos de pedra e pequenos casebres, com o mar azul ao fundo. Após mais uma hora de caminhada chegamos a pequeno vilarejo, onde dividimos um barquinho com mais duas argentinas até o sul. Chegando lá, o Afonso subiu correndo as escadarias atrás das mochilas e conseguimos que o mesmo barqueiro nos levasse até Copacabana. Por sorte uma família muito simpática de bolivianos dividiu o transporte com a gente, pois, não fosse isso, a viagem teria ficado muito cara só para nos dois.

O barco mal andava, e começou a escurecer. Após andar uns 12 km em uma altitude de 4.000 metros, a única coisa que pensávamos era em um prato de sopa quente, um chuveiro e uma cama.

Chegamos a Copacabana à noite, e entramos no primeiro hotel que vimos pela frente. Comemos bem e fomos direto para a cama, pois no dia seguinte a viajem seria muito cansativa.

 

 Para chegar e sair da Isla del Sol só existe um barco coletivo em dois horários distintos: um a 1h da tarde e o outro às 4h. Se perder o último barco e tiver que sair da ilha, você deverá contratar um privado, o triplo do preço.

 

 

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Copacabana para Cuzco: 19/01

 

 

Às 9h da amanhã embarcamos em um ônibus turístico para Cuzco. Depois de 2h de viajem chegamos à fronteira da Bolívia com Peru, onde descemos do ônibus para passar pela imigração. O Afonso teve dificuldades na alfândega por conta de seu formulário, e teve que preencher um novo e pegar fila novamente. Trocamos alguns dólares numa casa de câmbio segura e subimos para o ônibus novamente.

Chegando a Puno, já no Peru, tivemos uma hora de almoço. Depois trocamos de ônibus: dessa vez, um ônibus muito ruim, muito abafado e com muitas pessoas viajando no corredor. No meio do caminho o pneu do ônibus furou, e ficamos esperando por mais de uma hora de baixo de um sol escaldante. Quando anoiteceu, o Afonso começou a ficar com febre e teve um forte ataque de rinite, também por conta do frio que pegamos na Ilha do Sol.

Muita lentidão, mau humor e ônibus barulhento, o que fez com que não conseguíssemos pregar os olhos durante toda a viajem. Após 12h dentro do ônibus, e já tarde da noite, finalmente conseguimos chegar à rodoviária de Cuzco. Ainda não tínhamos a menor idéia de onde ficar, e não sabíamos para onde ir naquela cidade. Foi quando uma peruana muito simpática nos abordou com uma proposta de hotel. Como estávamos muito cansados, acabamos topando entrar no carro dela, pois nos parecia muito confiável, e um policial turístico que estava na rodoviária nos acompanhou enquanto falávamos com ela.

No fim nos demos muito bem, pois o hotel ficava no melhor bairro da cidade, e toda sua decoração era no estilo colonial inglês, imitando um pequeno castelinho. Por 12 dólares cada um, conseguimos um quarto muito confortável e charmoso, e nos demos ao luxo de dormir até ao meio-dia do dia seguinte.

 

 A rodoviária de Cuzco é confusa, escura e muito pequena. Cuidado com as mochilas!

Não faça a besteira de chegar à noite numa cidade enorme como Cuzco e não ter hotel reservado (como eu e o Afonso fizemos). Melhor reservar um antes para saber para onde ir.

 Nunca tente ir para o Peru pegando um ônibus coletivo na Bolívia, a viagem deve demorar o dobro e ser mais perigosa (não há asfalto em mais da metade do trajeto). Melhor ir com um ônibus turístico (só 13 dólares), mais seguro e tranqüilo.

 

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Cuzco 20/01

 

Acordamos tarde e a primeira coisa que fizemos foi caminhar até a praça de armas, centro turístico de Cuzco. Almoçamos em um lugar excelente com pratos vegetarianos por um preço bem bacana. Uma verdade, aliás, é que em todo nosso trajeto encontramos lugares com opções vegetarianas.

Após o almoço fomos direto para um café, lugar que mais gostamos de freqüentar em Campinas (quando não estamos no bar). Para nossa surpresa, Cuzco é repleta de bons cafés, e o expresso de lá não perde muito para o nosso. Como estávamos ainda muito cansados da viagem do dia anterior, e o Afonso ainda precisava melhorar do resfriado, deixamos esse dia para conhecer a cidade e descansar.

A cidade é belíssima e muito bem policiada. Uma das características do Peru é que no país existe uma policia turística, que torna os passeios muito seguros. Em Cuzco existem muitas lojas de artesanato também, muito mais caras que na Bolívia. Arrependi-me muito de não ter comprado mais coisas enquanto estava em La Paz.

Depois do entardecer voltamos ao hotel e pegamos no sono. No dia seguinte começaríamos a conhecer as ruínas incas, e depois Machu Picchu.

 

 

 Não tem jeito, em Cuzco, o melhor lugar para ficar mesmo é pertinho da Praça das Armas. A região é encantadora, muito segura e bem cuidada, com tudo o que se precisa por perto.

 

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Conhecendo as redondezas de Cuzco 21,21 e 23 de 01

 

 

 

Fomos até a agência Pumas Track, onde compramos dois pacotes com os quais conheceríamos as ruínas e igrejas de Cuzco. No primeiro dia fizemos um City Tour, e conhecemos duas catedrais e algumas ruínas da região (como Sacsayhuamán e Tambomachay).

Sem dúvida, Cuzco é um patrimônio cultural em tanto. Todas as igrejas cristãs foram construídas sobre templos incas, com o objetivo de abençoar os lugares “profanos”. Numas das catedrais, por exemplo, nos chamou a atenção um quadro da Santa Ceia no qual Judas fora representado com a pele muito mais escura que os demais apóstolos. A guia nos explicou que Judas era representado daquela maneira porque representava um indígena...

Depois do city tour, à noite, eu e o Afonso fomos a uma Salsa. Não dançamos (imagine só, o Afonso dançando salsa!), mas acho que consigo convencê-lo ate o fim da viajem.

No dia seguinte nos distanciamos do centro da cidade para conhecer o Vale Sagrado dos Incas, com outros templos e ruínas antigas. Choveu muito durante o passeio, e preferi ficar no ônibus até esperar que a chuva passasse. Acho que o Vale Sagrado foi o lugar mais marcante para o Afonso.

No dia seguinte, muito tumulto e protestos na Praça das Armas, com direito a bombas e linchamento de um boneco que representava o Mister Bush. No início ficamos com receio de caminhar por lá, mas logo percebemos que era uma manifestação pacífica, formada por estudantes, sindicatos e até mesmo crianças. Só depois fomos descobrir que os protestos eram contra a privatização de Machu Picchu e das demais ruínas incas, o que eu e o Afonso achamos um verdadeiro absurdo. Imagine só, vender patrimônios culturais da humanidade e do povo local para empresas estrangeiras! Talvez no futuro seja ainda mais caro conhecer o Peru.

Após almoçarmos no meio da bagunça, fomos até a estação de trem para comprar as passagens até Águas Calientes, última cidade antes de Machu Picchu. Infelizmente não havia mais assentos na classe econômica, e eu e o Afonso teríamos de pagar cada um 140 dólares só para ir e voltar de lá! Desistimos e resolvemos comprar um pacote na Pumas Track para Machu Picchu. Por 170 dólares ele incluiu ônibus até Ollantaytambo, passagem de trem Ollantaytambo – Machu Picchu, hotel em Águas Calietes, a entrada no parque e a nossa guia. Muito melhor e econômico desta maneira.

Compramos o pacote para sexta-feira, o que nos deu mais um dia de estadia em Cuzco, que seria utilizado para fazer um Rafting no rio Urubamba, que corta o Vale Sagrado dos Incas.

Terminamos o dia assistindo a um filme num bar tomando bailey’s com chocolate, e depois fomos a um happy hour onde o Afonso experimentou todos os possíveis drinks de Pisco que existem no planeta.

 

 Sim, a viagem de trem a Machu Picchu é bela, mas não justifica o valor das passagens (70 dólares a classe econômica).

 

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Rafiting em Cuzco 24/01

 

De manhã a agência veio nos buscar para o Rafting. O clima no ônibus estava bem festivo e bacana, com um pessoal bem diferente dos velhinhos do city tour. Após 1h de micro-ônibus, finalmente chegamos ao acampamento, onde vestimos roupas ridículas de “aqualouco” e pegamos o resto dos equipamentos. Após uma breve explicação bilíngüe (inglês e espanhol) fomos separados em grupos para entrarmos em nosso bote. O Afonso e eu fomos em um barco com uns israelenses muito legais e empolgados, mas que falavam um inglês para lá de esquisito.

Todos prontos, começamos a descer o rio remando. Eu, que já tinha feito Rafting no Brasil, morri de medo do percurso, que ia do nível 3 até 4,5! Muitas rochas para bater e instabilidade no barco, fazendo o rio de Brotas parecer uma verdadeira piscina. Tive muita dificuldade em remar, sobretudo por causa do frio. No caminho, muita cantoria e bagunça, e no fim fiquei feliz em voltar para o acampamento para comer e vestir roupas quentes.

Novamente no hotel, senti dores no corpo pelo esforço físico do dia, enquanto o Afonso parecia ter tido um dia como qualquer outro. Dormimos cedo para levantarmos às 3h da manhã para partirmos para Águas Calientes.

 

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Finalmente... Águas Calientes e Machu Picchu! 25/01

 

As 30h 30min da manhã acordamos para pegar o táxi que nos levaria até Ollantaytambo, cidade onde pegaríamos o trem rumo a Águas Calientes. Despedimo-nos do hotel com aperto no coração: fomos muito bem atendidos e por uma semana aquele tinha sido o nosso lugar.

Duas senhoras locais dividiram o táxi conosco: seus sacos de cebolas e tomates foram ao lado de nossas mochilas. Embarcamos no trem às 5h da manhã, quando o dia ainda estava amanhecendo. Esta viagem de trem só vale os 40 dólares pela paisagem, pois o serviço e o atendimento é extremamente precário: me serviram um chá de coca com uma cucaracha morta no copo, e, quando finalmente chagamos ao nosso destino, um guarda entrou gritando em plenos pulmões, de forma extremamente grosseira, para que todos saíssem depressa do trem. Resultado: tivemos que pular do trem quando ele já estava em movimento, e acabei caindo nos braços de um peruano que correu para me pegar. E pensar que a passagem para o mesmo trem valia quase nada antes da privatização da companhia ferroviária (por sinal, comprada por uma companhia inglesa!)...

Já em Águas Calientes, deixamos nossas mochilas no hotel que a agência tinha reservado para nós e corremos para pegar o ônibus turístico que sobe até o parque de Machu Picchu. Sem dúvida, a estrada até o parque foi uma das mais belas pelas quais passamos, cercada por montanhas férteis da floresta cortadas pelo rio. Sentíamos algo de mágico à medida que íamos nos aproximando das ruínas...

Entrando em Machu Picchu, a emoção de por os pés naquele lugar: é incrível! A guia nos explicou que aquela fora uma cidade construída em homenagem aos deuses incas, sendo ao mesmo tempo um centro de observação astronômica, e que seus habitantes eram compostos por sacerdotes, astrônomos e membros da elite. Depois de mais ou menos 3h andando pelo parque, eu e o Afonso saímos para almoçar. Surpreendemo-nos com os preços da comida, o bufê de um dos restaurantes custava 30 dólares por pessoa! Um verdadeiro absurdo, mais ainda se pensarmos na realidade econômica do povo peruano (tudo bem que o turismo ali é todo voltado para os gringos...)... Mas não pára por aí. Sem dúvida Machu Picchu é uma referência turística internacional. Tudo é caro e a infra-estrutura é muito sofisticada, bem no estilo gringo da coisa. Circular pelo parque é uma tarefa difícil, muitas filas de japoneses, americanos vestidos à Indiana Jones e velhinhos europeus muito ricos. Tudo menos os próprio latino-americanos, o que é uma verdadeira pena...

Depois de engolirmos um lanche horroroso e caríssimo, voltamos a entrar no parque para uma segunda volta e para o Afonso poder tirar fotos preto e branco. Pela primeira vez conseguimos ficar sozinhos pelo parque, sem turistas para estragar a vista.

No fim da tarde voltamos a tomar o ônibus para descer até Águas Calientes. Por um momento pensamos em voltar pela trilha, mas eu ainda estava moída pelo Rafting do dia anterior e pelo tempo sem dormir. Comemos bem, aproveitamos um Happy Hour e voltamos ao hotel para finalmente descansarmos.

De todos os hotéis pelos quais passamos, sem duvida aquele era o pior. Muito frio e banheiro sujo, sem contar que levaram a bolsa que uma americana tinha deixado em seu quarto.

Dormimos muito cansados, e o dia seguinte seria um dos mais duros da viajem.

 

 

 Como os mais avisados já fazem, leve lanche para o parque arqueológico, pois tudo ali é ridiculamente caro. O alvo dos 3 ou 4 restaurantes e lanchonetes são os turistas americanos, europeus e japoneses.

 Se quiser subir o Wayna Picchu, chegue cedo, pois há um limite de pessoas que podem subir, e no final da manhã já há o risco de ficar de fora.

 

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Águas Calientes – Cuzco – Arequipa 26/01

 

 

As 4h 30 min da manhã acordamos e jogamos tudo na mochila para pegar o trem. Tomamos o café da manhã meia boca do hotel e descemos as ladeiras correndo até a estação. O dia ainda estava escuro e chuvoso, sem ninguém andando pelas ruas. Enfiamo-nos na primeira fila que vimos pela frente na esperança que dali entraríamos no trem. Quando demos por nós, estávamos na fila errada, e muito longe da estação (motivo: a estação de desembarque fica em um lugar; a de embarque em outro. Se você não imaginar que isso possa acontecer, pode passar pelo mesmo apuro). Tomamos um baita susto e saímos correndo perguntando para onde teríamos que ir. Após muitas explicações confusas, percebemos que faltavam apenas 5 minutos para o trem partir. Joguei minha mochila nas mãos do Afonso e subi correndo pelas ladeiras na tentativa de encontrar mais rápido o trem e fazê-lo esperar.

A estação estava escura e confusa, todo o seu comércio e barracas estavam fechados e cobertos com lonas pretas, formando um enorme labirinto. Me perdi do Afonso e comecei a ficar com medo, correndo de um lado para o outro em busca do maldito trem. Quando finalmente cheguei na plataforma, o guarda já estava fechando o portão e comecei a gritar pelo Afonso em plenos pulmões, enquanto implorava para que o guarda me deixasse entrar. Quando o Afonso finalmente apareceu, corremos até o trem, jogamos as mochilas dentro do vagão e pulamos dentro dele segundos antes de começar a andar. Um sufoco! Já nos nossos lugares, ofegantes e desnorteados, percebemos que alguns turistas riam de nossa situação – turistas brasileiros, claro!

Chegando em Ollantaytambo, pegamos um táxi para nos levar até Cuzco e passamos o dia todo sem teto, perambulando pela cidade com as mochilas nas costas, só esperando o horário do ônibus para Arequipa, às 8h da noite. Um dia longo e cansativo: não víamos a hora de dormir e tomar um bom banho. Mas só fizemos isso no dia seguinte, quando por fim colocamos os pés em Arequipa, após 12h de viajem de ônibus na madrugada.

 

 

Dica: para viajar de ônibus, escolha a Companhia Cruz del Sur. Os ônibus são modernos, confortáveis (leito no andar de cima e sofá – grandes poltronas de couro, no de baixo), com serviço de bordo, internet sem fio, tv, etc.

 

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Arequipa! 27/01

 

Muito bonito e agradável o hotel que conseguimos em Arequipa. Por 12 dólares a diária ficamos em um casarão desses bem antigos, de teto alto e portas compridas, com um frescor e cheiro de lugares antigos. Na sala comum, uma TV, um velho piano e uma gata muito amistosa com os hóspedes.

Após o dia duro que tivemos voltando de Machu Picchu e viajando até Arequipa, resolvemos deixar este dia para descansar e conhecer a cidade a pé.

Tomamos um bom café na parte de cima da casa (o Afonso chamou de terraço, mas para mim era um telhado mesmo) de onde podíamos observar o vulcão Misti e as montanhas cobertas de neve.

Depois de dormirmos muito, fomos jantar no centro turístico da cidade, que, assim como Cuzco, concentra-se em torno da praça das armas. Tomamos um bom vinho peruano e voltamos para o hotel para dormir.

 

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2º dia em Arequipa 28/01

 

Após o Afonso ter levado nossas roupas para a lavanderia (nesse momento estávamos sem quase nada para vestir!) fomos até o Mosteiro Santa Catalina, que ficava a duas quadras do hotel.

Não esperava muito deste passeio, mas acabamos nos apaixonando pelo lugar! É enorme, numa construção que mistura diversos estilos, do gótico ao grego-romano. Hoje em dia, boa parte dele está desativado, e apenas 30 freiras moram por lá isoladas dos visitantes. Ele é todo dividido em pequenas quadras, praças e ruazinhas para se passear a pé. Lado a lado ficam as casas onde no passado viviam as freiras, e, na sala de cada uma delas, uma foto da falecida. Apesar da vida delas ter sido aparentemente simples (cada casa tinha uma cama, um travesseiro, um pinico, um fogão a lenha com panelas em barro e uma pequena pia de louça com uma jarra ao lado) tudo que as rodeava era extremamente ostensivo, com objetos banhados a ouro, porcelanas, etc. Nossa caminhada lá dentro levou cerca de três horas.

Quando finalmente fomos embora, sentamos num bar para beber e deixar em dia nossos diários. Logo depois fomos comprar as passagens para Tacna e para o Chile. Terminamos o dia num bar muito bacana, com a temática de rock. Arequipa nos pareceu uma cidade muito boêmia, e nos servimos de excelentes drinks por lá.

 

 Os bares que ficam próximos à Plaza de Armas são muito agradáveis e receptivos. Após um dia de passeio, nada como sentar em um deles para saborear um pisco sauer!

 

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Conexão Arequipa – Tacna – Arica – Atacama 29/01

 

Dia cansativo, com 24 horas viajando do Peru para o norte do Chile. As 10h da manhã saímos de Arequipa para Tacna, última cidade antes do Chile. Quando chegamos à rodoviária de lá, arrumamos, com mais quatro pessoas, um táxi para nos levar da fronteira até Arica. O táxi foi um bom negócio, pois percebemos que se tivéssemos atravessado a fronteira em um ônibus coletivo tudo teria sido mais trabalhoso. A fronteira é muito mais organizada que a da Bolívia/Peru, mas a revista dos chilenos é mais chata.

Uma vez em Arica, já anoitecendo, o taxista nos deixou na rodoviária onde comemos dois lanches horrorosos vegetarianos e chá de água de torneira. As 10h da noite embarcamos para São Pedro do Atacama, numa viajem de ônibus de mais de 14 horas.

 

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São Pedro do Atacama 30/01

 

As 11h da manhã desembarcamos em Atacama. Após 24 horas viajando sem parar, pela primeira vez ouvi o Afonso reclamar do cansaço. Estávamos no deserto agora, e imediatamente sentimos a diferença do ar e da temperatura. O bom é que finalmente pudemos colocar as roupas de frio na mochila e vestir as de calor.

Depois de percorrermos quase toda a pequena cidade a pé e com as mochilas nas costas, finalmente conseguimos um hotel razoável por 35.000 pesos chilenos. Caro para o padrão do hotel, mas impossível arrumar preços razoáveis por lá. Deixamos nossas mochilas e saímos famintos em busca de um restaurante. De fato, tudo no Chile é mais caro, o dobro do Peru e o triplo da Bolívia! E não é possível fazer uma boa refeição em São Pedro do Atacama por menos de 30 reais por pessoa.

Quando terminamos de almoçar, voltamos para o hotel e passamos a tarde toda dormindo e descansando. Só saímos quando já caía a noite e fomos direto para um bar beber e aproveitar a noite quente. Voltamos bêbados para o hotel, e ficamos impressionados com o céu do deserto, quase mais estrelado e claro que o de Ilha do Sol. Terminamos a noite sentados na varanda do quarto, observando as constelações em silêncio.

 

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2º dia em Atacama: visitando o deserto. 31/01

 

 

Após quase 12h de sono, saímos do hotel em busca de uma agência que nos levasse para o Vale da Lua. Aproveitamos para também fechar com a agência o pacote dos passeios de jipe pelos desertos da Bolívia, coisa que faríamos no dia seguinte. Para este dia, conheceríamos o Vale da Morte e o Vale da Lua, um dos cenários mais marcantes de toda nossa viajem.

Antes de irmos, almoçamos num bar bem legal e caro como todos os outros da cidade. Não conseguimos sacar dinheiro, pois os únicos caixas eletrônicos da cidade não funcionavam. Imediatamente deixamos de gastar dinheiro à toa: tínhamos que começar apertar os gastos. Pelo menos estávamos saindo do Chile: na Bolívia tudo era mais barato.

Às 4h da tarde subimos na van rumo aos vales do Atacama. Nossa primeira visita foi em um mirador, de onde podíamos ver boa parte do deserto e tirar belas fotos. Depois o motorista nos deixou no Vale da Morte onde teríamos que fazer uma longa caminhada para atravessá-lo, e tomamos banhos de areia por causa do vento. As dunas são lindas, e por todos os lados muita molecada praticando snowboard. Depois de mais ou menos 40 minutos de caminhada, fomos levados até o Vale da Lua, ponto máximo da viajem. E o lugar é realmente incrível! O sal se mistura com a areia e nos dá a impressão de andarmos na própria superfície lunar.

Quando já anoitecia, subimos as montanhas a pé na esperança termos uma visão panorâmica do pôr do sol. Já tínhamos ouvido sobre o sunset no deserto, e tínhamos grandes expectativas. Foi quando o clima do lugar mudou completamente. Eu e o Afonso estávamos usando roupas curtas e o vento do vale quase nos arrastava para trás. Tivemos que sentar lado a lado com os braços sobre os nossos joelhos, com o rosto sempre abaixado, por causa da força com que a areia batia em nossa pele. Após um bom tempo passando frio, sem contar com o fato de o meu boné ter saído voando pelo vale, finalmente o Sol se pôs. E com isso, nossa decepção: não vimos nenhuma das belas imagens que tínhamos visto na internet, apenas um sunset rápido e sem muitas cores. Um por do Sol em uma praia brasileira com certeza teria sido bem mais marcante.

Depois de voltar para a cidade, comemos bem e preparamos nossas mochilas: no dia seguinte partiríamos cedo rumo aos desertos bolivianos.

 

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De volta à Bolívia! Desertos no Sudeste 01/02

 

As 8h da manhã subimos na van da agência que nos levou até a fronteira do Chile com a Bolívia. Surpreendentemente, a viajem até esta fronteira foi uma das mais bonitas até então. O cenário foi se transformando de terras secas e áridas para a mais pura neve. Eu o Afonso, que éramos os únicos brasileiros do veiculo, ficamos fascinados e comemoramos quando o motorista parou para que descêssemos para brincar e tirar fotos.

Passar a fronteira foi fácil, na verdade a mais tranqüila de todas. Era uma casinha feita de barro entre as paisagens de gelo no meio de quilômetros de deserto, sem nada mais por perto. Mais uma vez em solo boliviano, tomamos um café da manhã improvisado ao lado da fronteira e finalmente fomos divididos em dois grupos para subirmos nos jipes, com os quais viajaríamos nos próximos 3 dias. Tivemos muita sorte em nosso grupo: eu, o Afonso, um casal de universitários chilenos e outro casal da Nova Zelândia, no total de 7 pessoas, contando com nosso motorista. No outro carro, um grupo de europeus, composto por suíços, poloneses e britânicos.

Na primeira parte da viagem aproveitamos para conversar sobre nossos países. Conhecemos belíssimas lagoas, de todas as cores possíveis e imagináveis, verde, azul e vermelho, misturadas com o tom pastel do deserto. Conhecemos também os pássaros locais, os Flamingos, muito parecidos com as nossas Garças. Paramos em um lugar com águas termais para nadar, onde todos animados se jogaram de cabeça. Só eu e o Afonso permanecemos vestidos por causa do frio, pois ficamos com receio do choque térmico e da possibilidade de pegarmos uma gripe.

No meio da tarde o motorista nos deixou no alojamento onde passaríamos a primeira noite. O lugar era horroroso, com camas duras feitas de pedra e roupa de cama suja. Muitos do grupo passaram muito mal devido à altitude: estávamos a 4.700 metros do nível do mar! Por sorte, eu e o Afonso já tínhamos estado em La Paz, e já estávamos acostumados com a baixa pressão. Aproveitamos o dia para andar até a lagoa vermelha, mas voltamos correndo por causa do vento forte.

No almoço, salsichas fritas, purê de batata e pepinos cortados. O jantar foi um pouquinho melhor: sopa de legumes e macarrão sem carne, com muito chá de coca para a cabeça. Jogamos um pouco de cartas com nosso grupo e fomos dormir logo em seguida, pois quase todos estavam tontos por conta da altitude. Na hora de dormir, fomos os mais sortudos: tiramos nossos sacos de dormir na mochila e dormimos aquecidos. O alojamento não tinha chuveiros, mas no frio de 5º, não nos importamos em não tomar banho.

 

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2º dia no deserto 03/02

 

As 7h da manhã acordamos na correria para arrumar nossas mochilas. Tomamos um café da manhã cujo pão era tão duro quanto nossas camas e subimos no jipe para continuar nossa viajem.

Nossa primeira parada foi para conhecer esculturas naturais de pedra belíssimas. Conhecemos outras lagoas coloridas e a fauna do deserto, composta por lhamas, lagartos, pássaros e raposas. Num dado momento, o motorista parou o jipe e uma raposa aproximou-se e sentou-se ao lado do carro. Jogamos um pão e ela foi embora muito agradecida pelo presente.

Após viajarmos durante mais 3h observando as paisagens, finalmente estacionamos no meio das pedras para almoçar e descansar ao ar livre com o outro grupo. No menu, arroz com pepinos e atum. Tudo muito sofrível para vegetarianos. Comíamos sentados nas pedras quando percebemos que alguns ratinhos e coelhos gordos vinham aos poucos sentar ao nosso lado, sempre de olho em nossa mesa improvisada. Animei-me com a bicharada e me levantei para colocar nas pedras alguns pepinos. Foi quando uma européia, cuja nacionalidade não me lembro, deu um berro em inglês advertindo para que eu não desse nada aos animais, como se nas minhas mãos houvesse batatas fritas ou chocolate. Muito sem graça ao perceber que aquilo tinha chamado a atenção de todo o grupo, enfiei os pepinos na boca e fui me sentar fazendo bico pela bronca. Foi quando o motorista, que havia nascido e crescido naquelas terras, apareceu e deu os pepinos ao coelho. Num tom de desaprovação, a mesma garota reclamou dizendo que o governo deveria educar os motoristas que não se deve dar comida aos animais. Não estávamos em nenhum parque ecológico privado dos EUA, muito menos da Europa, e achei muito prepotente dizer como um local deve comportar-se em seu próprio habitat.

Continuamos nossa viajem por mais 1h, até chegarmos num pequeno povoado onde estava nosso segundo alojamento. Ao entrar, comemoramos: tinha um chuveiro para 20 viajantes, um verdadeiro luxo! Não tivemos problemas de congestionamento para usar os chuveiros, pois o grupo europeu não se preocupou em tomar banho (disseram que, para quem já ficou quatro dias sem banho, um a mais não faria diferença).

Depois de colocar roupas limpas e tirar toda a areia do cabelo, eu e o Afonso saímos com o casal de chilenos para tomar cerveja na praça. Grande erro! Estávamos em época de carnaval, e logo descobrimos que o costume na Bolívia é festejar jogando água nas pessoas que passam nas ruas. Não demorou muito para sermos atacados por dezenas de crianças armadas com pistolas e bexigas cheias de água. Saímos correndo e entramos no alojamento para nos esconder. Mas não nos intimidamos... Nesse momento, o outro grupo apareceu com vários sacos de bexiga, que nos ofereceram, e o resultado foi uma verdadeira guerra com as crianças.

Atacávamos os moleques e depois corríamos para dentro do alojamento para nos esconder. Até a senhora dona do lugar animou-se e ofereceu a mangueira para que tivéssemos vantagem sobre a molecada, mas mesmo assim, terminei o dia com meu único jeans limpo completamente encharcado.

Depois dessa brincadeira toda jogamos um pouco de baralho com os dois grupos enquanto esperávamos o jantar ficar pronto. Tomamos um pouco de vinho e aproveitamos um pouco da noite para conversar sobre cada país de cada um da mesa. Depois de comer, eu e o Afonso capotamos em cheio na cama, enquanto os demais saíram animados para curtir a festa de carnaval da cidade.

Nesse momento percebi nossa desvantagem: após 20 dias viajando, já sentíamos o cansaço acumulado e forte dores nas costas, enquanto os demais turistas, que apenas estavam começando a viajem, ainda estavam no maior pique.

 

***

 

3º dia no deserto: Salar de Uyuni 04/02

 

 

Depois de uma boa noite de sono, finalmente subimos no jipe para nosso último dia no deserto.

Nossa primeira parada foi em um cemitério de trens muito velho e melancólico, um excelente cenário para fotógrafos. Alguns minutos depois, subimos no carro novamente e percorremos mais uma hora em direção ao deserto de sal. No meio do caminho percebemos que a cor da areia ia ficando para trás, e em seu lugar ia surgido o chão branco de sal. Tivemos que dar uma parada para que os motoristas dos dois grupos pudessem arrumar os veículos para poder atravessar pela água, pois com estávamos no verão, todo o Salar encontrava-se alagado em função das chuvas da época.

Tudo pronto, subimos no jipe para prosseguir. E não há palavras para descrever o que vimos em seguida! De todo o roteiro, o lugar que eu criara maiores expectativas era o deserto de sal, cheguei até a sonhar com ele algumas vezes, mas nem no sonho eu cheguei perto de imagens tão oníricas.

Não há nada no horizonte, é um universo de nuvens sem fim ou começo, era como andar num mundo diferente do nosso... e tudo isso misturada à sensação extraordinária em estar percorrendo terras tão isoladas e perigosas. No carro, todos permaneceram em silêncio, enquanto o motorista, entediado, ouvia sua música.

Finalmente avistamos no horizonte o tão famoso hotel de sal, a única ilha naquele lugar. Toda sua construção foi feita com tijolos de sal, dando-lhe um aspecto rústico e exótico. Por 10 bolivianos (caro!) compramos cada um uma cerveja e pudemos conhecer o pequeno museu de artesanatos e esculturas de sal. Após meia hora de fotos e contemplação, partimos de lá com o coração apertado. Um único dia é muito pouco para aproveitar o lugar. A única vantagem é que, após três dias viajando em condições precárias e completamente cheios de areia, por fim pudemos fazer uma refeição decente.

Após comermos, o motorista nos deixou na cidade de Uyuni, onde terminamos a viajem. Eu e o Afonso conseguimos um bom hotel junto de todo o nosso grupo, com cama limpa e chuveiro quente. Depois de instalados e banhados, saímos com o casal de chilenos para procurarmos passagem de ônibus para La Paz. Foi quando eu e o Afonso percebemos o quanto estávamos ferrados: como era época de carnaval, tudo na cidade estava fechado! Casa de câmbio, Lan House, e não havia ônibus direto para La Paz! E precisávamos chegar à capital para pegarmos nosso avião em dois dias!

Por sorte uma agência nos vendeu dois boletos separadamente: um para Potosí, cidade próxima a La Paz, e outro de Pososí para La Paz. Pareceu razoável na hora, mas só percebemos a bobagem que fizemos no dia seguinte.

Terminamos o dia numa pizzaria com o casal de chilenos (Pauline e Juan) conversando muito e bebendo cervejas. Depois de mais uma hora jogando cartas com eles no hotel, finalmente capotamos. No dia seguinte viajaríamos para La Paz.

 

***

 

Uyuni – La Paz: O dia do medo. 05/02

 

Ao meio dia fizemos check out no hotel, e por sorte nos permitiram deixar nossa mochilas na recepção até o horário de partida de nosso ônibus, às 8h da noite.

Tivemos o dia todo para andar pela cidade de Uyuni, lugar chato, seco e sem absolutamente nada para se fazer. Para passar o tempo, compramos um baralho e passamos a tarde toda sentados num bar, jogando e bebendo cervejas.

Quando deu nosso horário, pegamos nossas mochilas no hotel e fomos ate a rodoviária pegar o ônibus até Potosí. Quando embarcamos, percebemos o quanto horrível seria aquela viajem... ônibus extremamente apertado, até para mim! Nossas cadeiras estavam quebradas e eu e o Afonso fomos a viagem toda com as pernas prensadas nos bancos da frente. Muitas moscas, pessoas deitadas no corredor e uma estrada sem asfalto extremamente escura. O ônibus fazia tanto barulho e chacoalhava tanto que não conseguimos pregar os olhos durante as 10h de viajem. A todo o momento o ônibus parava e alguém descia para urinar na rua, enquanto mais 10 pessoas subiam para procurar um milímetro de chão para se acomodar, e faziam a maior confusão com o motorista, meio bêbado do carnaval. Olhava pela janela e só conseguia ver a escuridão sem fim do deserto, e só conseguia pensar em como estávamos tão longe de tudo e o que faríamos se o ônibus quebrasse no meio da madrugada (coisa comum na Bolívia).

Quando colocamos os pés em Potossí, o dia já amanhecia. Daí uma boa noticia: não havia ônibus para La Paz! Muita confusão e gritaria por parte dos turistas, que assim como nós, já haviam comprado a passagem e precisavam estar em La Paz naquele mesmo dia. Recebemos uma parte de nosso dinheiro (muito inferior ao que pagamos) e saímos na correria em busca de um bendito ônibus ou táxi para La Paz. Na sorte, todos nós conseguimos, e ao meio dia descemos em La Paz para nosso último dia de viajem.

Eu e o Afonso fomos direto ao hotel Copacabana, onde nós havíamos nos hospedado na primeira vez. Tomamos um bom banho, arrumamos a mochila e saímos em seguida sem dormir para almoçarmos e fazermos compras. As festas de carnaval do dia anterior tinha deixado a cidade muito suja e vazia, e acabamos encontrando quase todos os comércios fechados. Conseguimos comprar algumas coisas para os parentes, voltamos para o quarto e dormimos das 5h da tarde até as 6h do dia seguinte, quando finalmente pegamos o avião para SP.

 

 Claro que não caímos na besteira de acreditarmos na “recepcionista” da agência onde compramos as passagens de ônibus, que, ao perguntarmos como era o ônibus, nos disse: “bus semi-cama” (ônibus semi-leito). Mas nem o mais pessimista poderia imaginar o que encontraria: um verdadeiro “cata jegue” caindo aos pedaços, mal-cheiroso, com animais e gente dormindo no corredor. Pesadelo!

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  • 4 semanas depois...
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Marília!

Ótimo seu relato! Detalhado e preciso... Parabéns!

Pretendo em breve fazer La Paz - Isla del Sol - Cusco - Machu Pichu e seu relato irá me ajudar muito...

Só não vou passar pelo Chile, pois já fiz Deserto de Atacama e Salar de Uyuni.

Quero ver se fico uns 15 dias nesse roteiro.

Obrigada pelas dicas e até mais...

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  • 1 ano depois...
  • 4 semanas depois...
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Olá Pessoal,

 

Alguém pode me da uma ajuda, estamos planejando nosso mochilão para setembro do ano que vem, queria saber se alguém já fez a volta passando por Uyuni - Vilazzon (BL) - La Quiaca (BL) - Salta (AR) - Posadas (AR) - Ciudade de Leste (PA) - Foz do Iguaçú (BR).

 

Agradeço a ajuda.

 

Abaixo coloco o roteiro completo, caso alguém queria participar, é só mandar uma mensagem.

 

Grande abraço.

 

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