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Brasil continental - 13500km / Estrada Real / Jalapão / Serras do Sul-PR-SC-RS


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Como sempre, só consigo ter certeza de tempo livre no último momento. Dessa vez não foi diferente: apenas uma semana antes que fui avisado que teria férias. Por sorte, tenho uma gaveta cheia de planos e lugares que desejo conhecer. É só escolher um que encaixa com o clima e etc e botar o pé na estrada.

Em uma semana, revisei a moto, trocando algumas coisas que poderiam dar problema. Na sexta feira a noite arrumei a bagagem, errando pra mais e levando algum peso morto. Sem problemas! Essa primeira semana seria só um shakedown, uma prévia da viagem maior que se daria depois da virada do ano.

Eu tinha alguns dias antes do natal. Era o tempo perfeito pra matar um desafio que estava entalado na garganta a algum tempo: o caminho velho da estrada real, que na minha última tentativa, me custou a junta de cabeçote e o divócio com a minha Super Tenere 750.

Moto carregada e revisada, era hora de partir pra primeira parte da aventura. Espero que gostem do relato, serão 6 partes contando toda a aventura. Quem quiser ver o relato mais completo dia a dia, siga a página no facebook!

 

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Ida à Ouro Preto

 

Antes de seguir a Ouro Preto começar a descida da ER, dei uma passadinha em Poços de Caldas rever uns amigos, comer uma carne e tomar uma cerveja. A garganta já estava em frangalhos, e ali foi a gota d’agua, pelo menos não deu pra encher o saco do povo com o tanto que falo.

Eu adoro subir a serra sentido MG. São poucos quilômetros, mas me dá uma sensação de paz. Chegando a Pouso Alegre vou tomar um café e acabo encontrando um amigo. O bom é que ele sabia onde o churrasco seria (eu não!).

O dia começa com as despedidas da turma e destino a Ouro Preto, a 550km, tranquilo. Apesar da garganta destruída, o dia foi daqueles perfeitos para andar de moto: temperatura perfeita, nem frio nem calor, suficiente pra andar de jaqueta confortavelmente, céu azul com muitas árvores e sombras pelo caminho. Em vários momentos a consciência se esvazia e um sentimento de união com tudo que está em volta aparece... acho que é isso que chamam de perfeição – ou seria felicidade?

 

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Decidi evitar ao máximo as grandes rodovias (Fernão Dias) e seguir por estradas secundárias, apesar de que um trecho não consegui cortar (e foi o mais chato da viagem). A moto não rendia com muita bagagem e o para-brisa, e eu, sofria com os caminhões.

Aí fui chegando a uma cidadezinha onde provavelmente imperava a lei de Murphy: São Brás do Suaçuí. Primeiro, haviam modificado a estrada asfaltada pela cidade, que não tinha indicação nenhuma, nada de placas, e nem no gps. Perdidão. Segundo que a hora que me encontrei, começou um dos maiores dilúvios que já havia pego em cima de uma moto, até as lombadas da cidade desapareceram, e fui obrigado a colocar a coisa que mais odeio em todo universo motoqueirístico: Minha odiada alba.

E claro que, assim que rodei cinquenta quilômetros e saí da cidade, o céu azul apareceu de novo.

Ao passar por Ouro Branco, grata surpresa, a estrada que vai até Ouro preto é uma das mais belas que já pilotei. Curti cada metro daquela estrada saboreando suas curvas e seus mirantes. O pneu dianteiro gasto já não ia bem na lama formada pela chuva e a moto sambava pela estradinha do mirante. Vi alguns totens da ER e tive certeza de que voltaria por ali no outro dia (ledo engano).

 

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Cheguei em ouro preto e a quantidade de morros na cidade a princípio assusta, mesmo a quem mora no pé da serra. Uma rápida volta na cidade e fui procurar o camping. Fiquei no CCB, na saída da cidade, um dos mais caros que já paguei (R$35) com uma estrutura bem meia boca, e ainda ganharam minha toalha esportiva (esqueci lá). Só tinha eu no camping fora o dorminhoco na recepção. À noite um reconhecimento em Ouro Preto, um lanche e volta pra barraca que amanha tem mais!

Fui dormir com o Itacolomi visto pela porta da barraca, e acordei com ele entre nuvens de um dia frio e cinza.

 

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A descida do Caminho Velho da Estrada Real

 

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Revigorado de dormir na barraca, apesar de todos os possíveis desconfortos, acordei com o sol ali pelas seis da manhã.

Depois da experiência no barro ontem, me decidi a colocar pneus de trilha na moto. Arrumei tudo vagarosamente já que as lojas abrem depois das nove, aproveitando pra passar a moto ao modo trilha (tirada da bolha e da jaqueta – daqui pra frente é camisa e cotoveleira). Claro que a bagagem continuou mal arrumada, levei muita coisa que não usei, muito peso desnecessário.

Tomei um café a caminho de Mariana onde queria visitar o local do estouro da barragem. Não consegui ver a barragem, mas por sorte encontrei uma loja de motos muito boa e com excelente atendimento que colocou pra mim um par de pneus cravudos na Tenerezinha – Agora sim!

 

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Umas dez horas estava tudo pronto pra cair na estrada. Queria chegar ainda hoje a São João del Rey. No asfalto, a moto ficou ó, uma bosta! Com esses pneus de cravo, a moto flutua em piso firme. Demora a se acostumar. Não conseguia passar de 50km/h no começo.

- “Vai ser um longo dia”, pensei comigo mesmo. E pelo menos nisso, eu acertei.

Voltando a Ouro Preto, fui no Centro de Informações Turísticas (CIT) pra tentar pegar um passaporte da ER. Eu fiz a reserva em casa pela net... mas o celular estava sem bateria e eu não lembrava senha de e-mail pra abrir lá (fora que me mandaram in numa lan house pra isso). Infelizmente, desisti do passaporte. No fundo foi até bom, menos uma preocupação.

Adesivos da ER, também, sem chance. Pelo menos o tempo estava melhor agora... Um pouco aborrecido, que seja, taco-lhe pau, deixa eu voltar pro mato que ficar na cidade tá me dando urticária. Sigo para o primeiro marco do caminho velho, um pouco depois do camping. Entro na estrada de terra, me sinto aliviado, mas ao mesmo tempo batalhando com a moto – não esperava que a moto se comportasse assim, meio que um caos controlado. Chego a uma curva com o marco dizendo para seguir pela porteira.

 

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Abro a porteira e sigo por uns 300m, até a moto travar os alforges nas laterais da trilha.

Não tem como virar a moto. Vou dando ré... por uns bons metros até conseguir manobrar por cima de um barranco e sair da trilha. Por sorte, encontro um senhor na estrada, exímio conhecedor da região, que me diz o caminho para contornar a trilha. Gostaria de ter conversado mais com ele, mas estava tão puto, cansado e suado que só queria cair na estrada de novo.

Fui seguindo os marcos, passando pelo vilarejo de São Bartolomeu e uma grande e larga estrada de mineração e lá na frente saí no asfalto. Não que tenha sido ruim, mas me chateou perceber que já tinha passado Ouro Branco e que aquele trecho do mirante, com as belíssimas vistas, não fazia parte do caminho velho.

 

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Esse primeiro trecho não tem muita coisa bonita nem desafiante fora as trilhas e algumas vilas. Muitos trechos passam por asfalto e/ou calçamento, e eu já jugava ter feto besteira colocando os pneus.

 

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Logo cheguei perto da fatídica cidade do mega temporal do dia anterior, e adivinha, temporal a vista de novo. Dessa vez na estrada de terra. Pior que esse foi sacana: tudo virou lama e num dos trechos onde cruzava o asfalto resolvi não me arriscar... o dia já estava longo demais, eu estava cansado e estressado. Parei em um ponto de ônibus e fiquei esperando a chuva passar.

 

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Faltavam uns cinquenta quilômetros para São João Del Rey, destino do dia. Quando a chuva deu uma trégua, acreditei que tinha uma chance e pulei na moto, cortei esse trecho de terra e três quilômetros depois comecei a tomar pedradas de gelo no capacete. Achei um ponto de ônibus coberto mas sem laterais. Parei ali e fiquei tomando chuva (que era lateral) por mais um tempo. Quando desisti, depois de uns quarenta minutos, botei a capa toda mesmo já estando ensopado, sai de saco cheio e pra variar, dez minutos depois a chuva parou e o sol apareceu. Parei na primeira pousada que achei, a mais cara da viagem, mas também a melhor. Eu merecia.

Pousada Casarão, R$100 com estacionamento mas no outro quarteirão.

Pra terminar o dia, meu celular morreu, não carregava mais. O backup, radio da Nextel, também morreu. O celular velho que uso como player, morreu. Usei o telefone do hotel pra avisar a patroa que tudo estava (mais ou menos) bem.

Durante a noite fiquei com a cabeça a milhão apesar de tudo, e resolvi que não iria deixar esse dia estragar minha viagem. A ER não me venceria de novo.

 

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Acordei com sol batendo na janela. O céu azul lindo. E um puta café da manhã da pousada. O celular continuava morto.

Sem pressa, aproveitei cada item do café da manhã da pousada. Fui pegar a moto no estacionamento, deixei na rua à frente da pousada e arrumei toda a bagagem com calma. Acordei zen hoje.

Na saída parei na igreja símbolo de São João del Rey, registrei em foto e segui para Tiradentes por um trecho de calçamento muito bonito, com cachoeiras nas laterais e o marco de inauguração do caminho velho. Hoje eu já estava me entendendo melhor com os pneus e a velocidade subiu consideravelmente.

 

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Tiradentes é turística e limpa, muito bonita. Voltarei lá com mais tempo. Passei pela cidade e parei num bar para tomar um refrigerante e comer algo. Povo muito simpático, muita gente rodeando a moto e perguntando se era de rali. Um me contou que foi dali até São Paulo de moto, com uma Dafrinha. Não deixa de ser uma aventura.

Segui os marcos até quando reconheci a estrada. Era hora de ir pro asfalto e retornar. Na hora do almoço estava de volta a São João del Rey e atravessei pro próximo trecho de terra. Hoje não havia colocado objetivo, mas gostaria de chegar a Carrancas pois sabia que lá tinha vários campings.

 

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Aos poucos foi mudando o ambiente, as árvores foram ficando mais escassas e me sentia na serra da canastra. A viagem estava rendendo, eu me entendia com a moto e voava pelas estradas de minas. Também não faltavam totens de navegação. Esse foi, sem dúvidas, o trecho mais bonito até agora. Lá na frente, a balsa para a Capela do Saco aguardava do outro lado da represa.

Agora eu vejo que no fim, as chuvas me ajudaram. Elas encheram a represa e a balsa, que estava travada no fundo da mesma, agora conseguiu desatolar, e podia carregar apenas motos. A balsa, por sinal, era um caso a parte, engenharia mineira das mais finas: um trator (!) com pás no lugar das rodas é que dava vida a balsa.

 

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O trecho após a balsa até carrancas foi simplesmente sensacional. Lindo e com estradas de terra deliciosas, me sentia num rali, com velocidades que prefiro não escrever. Mesmo parando pra fotos, cheguei em Carrancas muito mais cedo do que achei que chegaria.

Dei uma olhada pelos campings da cidade e escolhi um, armei a barraca e deixei algumas coisas lá e fui conhecer alguma cachoeira. Encontrei um “cuecão de couro” numa Sportster que devia estar num dia ruim (ou com a cueca apertada).

 

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Fui no complexo do poço do coração, não tinha ninguém pra cobrar lá, entrei e tomei um banho de cueca mesmo que era o que tinha. A noite relaxando no camping, meu celular finalmente ressuscitou (menos de três dias não configura milagre né?).

O camping que fiquei é bem debaixo da placa de “Boa viagem” na estrada, de frente para um posto de gasolina. Excelente estrutura, com WIFI, churrasqueiras, cozinha e etc por R$25.

Carrancas é uma São Thomé menos o agito ( o que pra mim é perfeito). Adorei a cidade e voltarei. Recomendo.

Tive uma noite de sono perfeita dentro da barraca. Acordei, já com o sol, com barulho do lado de fora da barraca.

 

Assustado, peguei a faca e abri devagar a porta da barraca. Antes de terminar de abrir já pula pra dentro da barraca o cachorro mais feliz que eu já vi. Fiquei com dó pela decepção dele enquanto eu desmontava o acampamento.

Fui até uma (a?) padaria da cidade tomar um café e recebi até oferta pra comprar casa e terreno (no sentido literal). Povo simpático e conversador.

A ideia era chegar em São Lourenço hoje, concluindo o que faltava do caminho velho. Sai cedo e toquei seguindo os marcos. Passei pela entrada do complexo da Zilda em carrancas e pela equipe da prefeitura arrumando a estrada de terra, que pras motos fica bem pior com terra e pedras soltas. O trecho passa por dentro de algumas fazendas e aqui onde aparecem os malditos mata burros longitudinais.

Próximo de Baependi, começava a aparecer no gps as estradas como sendo “trilhas 4x4”. Agora a diversão começava!

A primeira foi assustadora, nunca havia visto nada assim. Andando pela estrada quando ela simplesmente desce, vira um cânyon com paredes de barro de vários metros de altura, arvores caídas no meio do caminho e caindo das laterais, e escuro como a noite – em pleno sol do meio do dia. Desci com cuidado, mais por não estar enxergando nada do que pela estrada em si, e ela termina exatamente na entrada de Baependi.

Atravessei a cidade rumo a Caxambú onde o caminho na verdade é como um anel viário de terra que contorna a mesma. Mas chegando em São Lourenço, nos últimos quilômetros do dia, foi o trecho mais difícil. Encontrei com um casal subindo a ER de bicicleta e duas motos, mas não pararam pra conversar. Logo após passar as motos, uma subida enorme cheia de barro, que a moto quase não teve força pra subir e se parasse não teria, e uma curva à frente a primeira negociação avançada de compra de terreno mas sem efetivação. Foi onde percebi que os pneus realmente estavam fazendo a diferença. Se estivesse com pneus mistos, seria chão.

 

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Cheguei em São Lourenço pouco depois do meio do dia. Parei em uma padaria pra comer algo e percebi que os marcos só me levariam a uma volta pelo centro da cidade antes de cair em um trecho de terra. Resolvi contornar a cidade, tirei uma foto no portal pra provar a conclusão do desafio e decidi não ficar. Como conheço bem a estrada, resolvi seguir a ER até começar a escurecer e depois cair no asfalto até em casa.

 

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No final das contas, consegui fazer o caminho velho até antes da descida da garganta do registro em Guaratinguetá, exatamente onde a Super Tenere havia quebrado. Na serra peguei o asfalto e pouco depois estava em casa, Feliz e cansado, e me sentindo pronto para o Jalapão.

 

Desafio concluído!

 

Logo posto a parte dois!

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Rumo ao Jalapão

 

Dessa vez, a moto já estava montada do dia anterior. Era um domingo, daqueles preguiçosos... mas acordei ali pelas cinco da manhã – Tinha um longo dia pela frente.

O primeiro objetivo antes de alcaçar o deserto seria a capital do nosso país, Brasília, distante 1150 quilômetros. Uma reta sem fim. A chuva vinha, voltava, ameaçava, molhava e a mão travada no guidão, o acelerador na mesma posição por horas a fio.

Interessante é a passagem entre o triângulo mineiro e o centro-oeste, onde a Anhanguera duplicada vira pista simples e sem acostamento, sem aviso e exatamente a partir da placa de divisa. Ali também uma mata exuberante substitui as plantações de São Paulo e Minas Gerais.

Tendo saído de Taubaté as seis da manhã, cheguei molhado, sujo e fedido em Brasília as nove da noite.

Durante todo o caminho, pensava nos pneus offroad que estavam amarrados na moto, e se realmente seriam úteis. A vontade era jogar eles no mato, principalmente quando cheguei em Brasília e só consegui pousada num hotelzinho que parecia de filme policial, aqueles onde ficam os bandidos escondidos, sem garagem, e tive que levar os pneus pra dentro do quarto comigo. Paguei caro (R$100) e com o pior café da manhã que já tomei em uma pousada. Amanhã quero chegar ao Tocantins.

 

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Acordei melhor que imaginava, conseguia me mexer e não sentia (tanta) dor nos fundilhos. Dei uma volta pra conhecer Brasólha, um salve pra presidanta, e toca pra BR!

Brasília realmente é retrato do país e do povo: A ideia até que era boa, mas descambou pela falta de planejamento na expansão e falta de manutenção. A mim, bicho do mato, não agradou. Pelo menos os motoristas me pareceram educados – alguns até dão seta!

Na estrada passei por várias placas indicando a Chapada dos Veadeiros. A intenção inicial era ir ao jalapão e parar lá na volta. Mas eu não sou de me ater a planos escritos... então, sob insistente chuva, passei por Alto Paraíso e segui, como se mostrou tendência nessa viagem, com a proa apontando à chuva, até a divisa GO/TO. Estava no norte do nosso continental país! Sensacional! E o céu, aqui, azul e limpo!

 

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Tocantins surpreende desde a divisa. O asfalto já muda, como a saída do sudeste para o centro-oeste no dia anterior. O asfalto liso dá lugar a muitos e perigosos buracos, locais ainda sem calçamento, (poucos) caminhões ziguezagueando desviando. Excelente, era o que procurava! O Tocantins, meus amigos, é bruto!

 

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As imagens ainda estão na mente, as belíssimas serras, o verde da mata rasteira, o calor infernal. Decidi parar em Dianópolis, a 850 quilômetros da nossa capital, entrada sul do jalapão, pelo horário e devido a uma ameaçadora e enorme tempestade que se aproximava. Os ventos jogavam a moto pela estrada como um barco à vela.

Peguei uma pousadinha no mesmo nível de Brasília, mas com garagem e preço justo: R$40. E o segundo pior café da manhã que já tomei em pousada. Amanha encaro um pedaço do deserto! Vou tentar dormir à noite!

 

A parte três já já chega!

 

Roteiro do trecho

 

https://goo.gl/maps/bCGccMeN7sF2

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O Jalapão

A tempestade monstruosa, que chegou com ventania de destelhar casas, trovões que tremiam as paredes, só latiu. Uma garoa fina caiu a noite toda. Se eu acreditasse, diria ser um sinal.

Saí do hotel e passei em uma borracharia, mas ai me informaram que devido a uma ponte quebrada, não era possível entrar no Jalapão pela estrada que eu queria e que eu deveria ir mais alguns quilômetros no asfalto antes de subir sentido Ponte Alta.

Existe outro fato sobre o Tocantins que me marcou bastante. Não existem placas de transito lá... nem limite de velocidade, nem proibido ultrapassar, nem indicações de cidade... nada! Eu vinha viajando “offline”, evitando uso de GPS e celular. E isso me custou uns bons quilômetros pois quando percebi já havia passado a entrada há tempos.

Parei em uma charmosinha cidade, Chapada da Natividade, onde consegui trocar os pneus e iniciar, finalmente, nas estradas de terra. E o borracheiro era natural de onde moro em São Paulo! Mundo pequeno esse.

Bastaram alguns quilometros na terra para me convencer de que foi uma excelente ideia ter levado os pneus de trilha. A estrada era lisa e larga, dá uma falsa sensação de segurança, e quando a mão tá no fundo, aparece alguma surpresa, que sem aderencia na frente ou tração na traseira, seriam vários tombos.

Passei pela cidade de Pindorama e, logo na saída avisto uma das coisas mais fantásticas que já vi a olho nú.

Um vulto no barranco, indo em direção a estrada. “Cachorro burro”, pensei. “Vou acabar te atropelando”. Fui freando, freando e quando estava quase parado, consegui ver com mais detalhes, os pelos dourados com manchas pretas. Era pequeno. Um filhote. De Onça! Lindo! Cheguei a tentar sacar a câmera, mas o subconsciente me lembrou que a mãe deveria estar por perto e eu desisti e fui logo embora dali. Durante todo o passeio no jalapão, era constante o avistamento de sinais de onças na área. Foi isso, inclusive, que me fez não acampar selvagem lá.

 

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Alguns quilômetros à frente, à direita, estava a estrada que eu deveria ter vindo de Dianápolis. Entrei e rodei alguns quilômetros, sem ver nada muito interessante, e voltei.

 

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Em Ponte Alta cheguei cedo, pouco depois do meio dia, fui comer pela primeira vez “comida de verdade” num restaurante e já dei entrada na pousada, confortável e com uma staff muito gente boa, Pousada Beira Rio, breço de brima R$50.

A staff me animou, explicando as atrações da estrada que perdi e me convenceu a voltar lá pra ver nesse mesmo dia. Com a moto descarregada, me sentia “O” piloto de rali. Mas nem deu tempo de chegar na terra... do asfalto, tive outra imagem que ficou na minha mente. Ali é tudo muito plano, e a visibilidade é enorme. A gente se sente pequeno. Se sente insignificante perto do monstro de tempestade que engolia o deserto, a estrada e o solitário carro lá na frente. As primeiras gotas me atingiram. Foi o tempo de virar a moto e voltar, até a cidade, com a tempestade me perseguindo e me alcançando assim que entrei no quarto.

 

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Botei a leitura em dia (Paratii – entre dois polos, do Amyr Klink). Descansei. Amanhã vou brincar na terra.

Bagagem no quarto, pneus cravudos, almoço no alforge e ferramentas no outro. Hoje o dia vai ser bom! Voltei para conhecer a estrada que deixei de passar ontem.

Resolvi parar primeiro na famosa pedra furada, uma das primeiras atrações e das mais famosas do Jalapão. Sai da estrada principal, de terra batida, e entrei no areião que leva a pedra. A visão é linda, guardada as devidas proporções, parece uma Champs Elisées selvagem, uma reta de seis quilômetros e o arco no fundo.

 

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Por algum motivo que ainda não consegui entender, algum lapso de razão, achei que seria mais fácil se eu fosse por uma outra estradinha à esquerda da principal. Fui seguindo, num areial enorme e fofo, onde a moto em qualquer reduzida de velocidade entrava na areia até o eixo. Haja braço, embreagem e pneu pra tirar dali a cada tantos metros. Me entreti tanto que quando vi já havia rodado vários quilômetros e só aí percebi que teria que voltar tudo pois não sairia no mesmo lugar.

Algum sofrimento depois retorno a principal, lá no começo. A areia da principal é bem mais batida. Chego rapidamente ao arco, sem inventar moda dessa vez. Era eu e as araras que vivem nas suas paredes. O barulho chega a ser ensurdecedor.

Ando pela área, tiro algumas fotos, e quando volto, perto da moto, gotas de sangue no chão e patas de onça. Não sei (e não quero saber) se já estavam lá ou se apareceram depois, mas meti o pé dali rapido! De volta na principal, várias pegadas de onça nas laterais.

Botei Matanza no fone de ouvido e acelerei, mais cem quilômetros, até a cachoeira da Fumaça, bem ao lado da tal ponte quebrada que disseram que eu não passaria. Tudo bem, dava pra passar, mas assim foi mais seguro. Deixei a moto, atravessei a ponte e segui pra parte baixa da cachoeira, até encontrar com Javalis no meio da trilha. Como sei que são territoriais e perigosos, voltei e fui para a parte alta, num mirante.

 

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Cachoeira linda, exuberante. Uma das mais belas que já vi. Um ar selvagem envolve ela, parece intocada há muito tempo. Admirei a queda por algum tempo, voltei até a moto e perto dela um lugar propício a banho nas águas quentes e transparentes que cairiam alguns metros pra depois.

Na hora do almoço, comecei o retorno. Parei no rio Soninho, onde havia um lugar já pronto e propício para fazer o primeiro almoço no mato da viagem. Fervi água numa fogueirinha para fazer o CupNoodles e fiquei lá curtindo por um bom tempo a paz de se estar no deserto. Fiquei imaginando montar a barraca ali. Na minha mente vinha tudo que vivi nesses ultimos dias. Tinha muita coisa pra descer ainda.

 

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Segui meu rumo, retornando para a cidade. Cheguei cedo e resolvi adiantar a atração mais próxima para o dia seguinte render mais. Então segui até o sensacional Canyon/Cachoeira do Sussuapara, um dos lugares mais belos, uma das melhores sensações que eu já tive, é muito difícil descrever, uma paz enorme que reina ali, uma pureza no ar. Sentei em uma pedra e fiquei ali meditando e absorvendo o ambiente. Meus olhos merejavam. É a emoção de realizar um sonho, eu acho.

 

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Quando vi estava começando a escurecer já, e era hora de voltar. Por um descuido uma das minha cotoveleiras se perdeu na volta, tentei achar, mas acho que ela resolveu ficar por lá mesmo. Jantei comida de verdade na pousada, e amanhã sigo para Mateiros.

Até o despertador foi natural – o papagaio da pousada. Seriam duzentos e poucos quilômetros até Mateiros, com uma paradinha na Cachoeira da Velha no meio do caminho.

Mas o dia começou complicado. Eu tinha certeza de que tinha uns R$70 no bolso, então resolvi sacar mais um pouco pra me garantir em Mateiros. Só que só existe um caixa do Bradesco em Ponte Alta, e, perceba a data, era quinto dia útil e não tinha nenhuma nota nele. Bom, pensei, R$70 paga pelo menos uma diária de pousada ou acampo no meio do mato mesmo e uso o dinheiro pra garantir a gasolina.

 

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Saí de Ponte Alta, levando dois litros extras de gasolina numa garrafa pet, e segui a estrada, até a entrada do Canyon Sussuapara procurava pela cotoveleira fugitiva do dia anterior, mas nem sinal. Acelerei. Havia chovido bem durante a noite e o solo estava compactado. Céu nublado e temperatura no ponto, um dia perfeito pra pilotagem. Quando mais adentrava o deserto, maior a sensação de paz. A moto como sempre impecável e a estrada permitindo um ritmo excelente.

Os primeiros areiões assutaram mas passei os mesmos sem problemas. Já tinha pego o jeito.

 

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Peguei a entrada pra cachoeira da velha, e ao chegar à entrada da fazenda onde ela fica, o primeiro susto: O caseiro me pediu uma ajuda financeira, “voluntária”. Abri a carteira. Nada.

Roda os bolsos, bolsa, bagagem. Nada.

A cabeça foi a milhão. O caseiro me deixou entrar e fui ver a cachoeira. Não consegui curtir... não sei se a cachoeira não era como eu imaginava, ou se era a luz, ou se era eu mesmo preocupado, mas não consegui curtir. Tirei algumas fotos e voltei.

 

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De volta à sede da fazenda, vejo um Uno (!) e um cara perto. Mais um pra lista de nomes estranhos: Gunar, dono de um hostel em Alto Paraíso, onde eu ainda pretendia voltar nessa viagem. Ele estava faznedo o jalapão no sentido contrário ao meu. Conversando ele me tranquilizou, havia como sacar dinheiro em Mateiros! E havia gasolina! Até o céu abriu e ficou azul depois dessa. Ele me perguntou como era a estrada pra Ponte Alta. “Tem alguns areioes” Eu disse, “Não deve ser fácil de uno”.

Rá! Se soubesse como era o trecho até mateiros, tinha ficado quieto.

Volto à Bifurcação para seguir em direção a Mateiros, e pego o primeiro areial de verdade. Alguns quilômetros. Mas saio ileso. No próximo, só deu tempo de ver algo voando por cima do capacete. Era o farol de milha, o suporte desistiu da viagem. Guardei no alforge e segui.

 

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Eu agradecia aos pneus a cada areiao. Não fosse eles, muitas negociações teriam se concretizado em compras de terreno no deserto.

Chego ao Rio Novo e à entrada oficial ao Parna Jalapão. Aqui aparece um novo integrante na brincadeira: lama. Eu estava com sangue nos olhos, me sentia o André Azevedo.

Pode vir jalapão, é só isso? Tacalepau!

 

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Cheguei na entrada das dunas, já na parte da tarde. Contribuição “voluntária”, que não fiz novamente por não ter um puto no bolso, o guarda abre a corrente e tã-dã, atolado até o eixo. Nem se mexia a moto.

Olha, eu nunca paguei tanto pau em uma estrada na minha vida. Já tive situações piores por outros fatores, mas em termos de estrada, essa foi a pior. Pra aprender a ser mais humilde, ela me derrubou umas tantas vezes, e tentou outras várias. Parecia que até a moto estava contra mim.

Qualquer velocidade abaixo de 30km/h, a moto atolava. Acima dessa velocidade, qualquer encostada no ombro do facão onde rodava fazia a moto virar de uma vez e se lançar atropelando o que estivesse no caminho – arvores, arbustos, bichos, sem preconceito. Foram dois tombos na ida e dois na volta, todos devagar e sem consequências, e alguns arbustos arrancados pela raiz.

 

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Fui curtir as dunas e quando voltei até a moto havia desmaiado de cansaço, deitada debaixo de uma árvore curtindo a sombra.

E as dunas, ah, as dunas! Que lugar mágico! Pena uma equipe de farofeiros atrapalhando por lá. Povo de agência... não respeita o ambiente, mais preocupado com a janta do que o lugar FODA em que estavam.

Só de pensar na volta tive arrepios, mas consegui chegar. Tomei o rumo de Mateiros. Poucos quilometros à frente tinha a entrada da trilha para a Serra do Espírito Santo. Olhei, um arrepio correu a espinha, e o subconciente dizia baixinho “Deixa pra próxima”.

 

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Pouco depois chega Mateiros, que é a cidade mais feia do Jalapão, e a mais cara. Paguei feliz R$5,20 no litro de gasolina, só de imaginar o caminhão tanque passando onde passei, e que eu não ficaria sem combustível. Consegui uma pousada simples e aconchegante, a mais barata de Mateiros (R$60), mas não me lembro o nome. Do posto de gasolina da pra ver ela do outro lado da praça. Consegui sacar dinheiro no supermercado, um esquema parecido com máquina de cartão de crédito. Até fui dar uma olhada em artesanato, mas tudo muito caro, mais caro que fora do jalapão, e atendimento muito ruim. Terminei de ler o livro do Amyr... E amanhã pretendo seguir pra São Felix.

Pela segunda vez na viagem, acordei antes do despertador, e o mais rápido possível estava na moto. O tempo, nublado e firme, prometia não judiar de quem vos escreve.

Depois do sufoco no areial ontem, decidi evitar riscos desnecessários e visitar os pontos principais do deserto. Sempre temos que deixar um motivo pra voltar, certo?

Logo na saída de Mateiros tem uma estradinha que vai pra vários fervedouros, de seis a dez quilômetros de areial pra chegar (são três se me lembro bem). Passei direto. Mais pra frente tinha a entrada pro frevedouro da Sissa.

Era cedo ainda... ninguém por perto. Fui entrando e seguindo o caminho até chegar no fervedouro. Que coisa diferente! É bonito, parece uma piscina, água perfeita... e areia entrando na cueca. Curti bem lá, mas tinha uma sensação estranha, não sei, não conseguia ficar em paz. Voltei e ainda ninguém nem na entrada.

Na moto novamente, segui pra famosa, linda e maravilhosa cachoeira do Formiga. Acreditem quando digo que não existem palavras pra descrever essa cachoeira. Não tem nada a ver com a realidade. Foi o melhor banho de cachoeira da minha vida, eu garanto! Ali fiquei horas. Se não fosse tão cedo, acamparia por ali mesmo. Mas a cachoeira me deu uma injeção de energia e resolvi tocar.

 

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Parei depois em São Felix, mais bonito e organizado que Mateiros. A estrada entre as duas cidades é muito, muito ruim! Sofrência! Na verdade, me pareceu haver uma certa rixa entre as duas cidades (e na minha opnião, Mateiros sai perdendo). Era hora do almoço. Passei no fervedouro do Alecrim, lindo e deserto. Muito interessante, mas não queria encher a bunda de areia de novo. A cachoeira do formiga me satisfez.

 

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Voltei a moto, e pelo mais puro fogo no rabo, resolvi tocar. No final da tarde cheguei a Novo Acordo, por uma estrada deliciosa onde era possível andar a 100km/h tranquilamente na terra. Foram cento e quarenta quilômetros. Parei numa Padaria, verde de fome, fiz amizade com um caubói que me pagou um lanche, e, novamente, por puro fogo no rabo, resolvi tocar para Palmas.

 

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Da saída de Novo Acordo, até Palmas, tudo em baixo de chuva torrencial. Eu estava cansado, muito cansado. Rodei e encontrei uma pousada estilo americano, Milani. Um lixo de pousada, a pior da viagem, extremamente fedida. Mas o cansaço não me deixava procurar outra. Apaguei, e sonhei com os Andes. Será?

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Coisas da saudade

Acordei com o fedor do banheiro dominando a minha mente. O tempo estava chuvoso... um café na padaria, o calor se fez presente. Pé na estrada, ainda com os pneus de trilha.

O GPS e o celular, desligados. Capa de chuva, só a parte de cima. As gotas batiam no capacete, como um mantra.

Talvez fosse essa a ideia. Se perder, desconectar, desligar. Meditar sobre o asfalto com o mantra da chuva. Me encontrar quando me perder. Acho que é o sentido de uma viagem, afinal. Turistar já é outra coisa.

Lá pela metade do dia parei em um posto qualquer pra trocar os pneus pelos de rua e segui, com destino a Chapada das Mesas no Maranhão e a charmosa cidade de Carolina.

Numa parada qualquer, enquanto tomo uma coca gelada e um salgado, forma-se uma roda em volta da moto. Um senhor, do alto dos seus sessenta e tantos anos, veio animado me contar da realização do seu sonho: estava tirando a carteira de moto, apesar dos protestos da família.

Resmunguei baixinho: “Perigoso é passar a vida com medo de realizar seus sonhos”.

Atravessar para o Maranhão é uma epopéia a parte, a balsa no tocantins é uma bagunça só, e na fila conheci dois conterrâneos paulistas em um jipe frankenstein. Ainda chovia. Saindo da balsa paro na primeira pousada, logo à direita, um casarão a R$35 a diária. Cansado e molhado, descarrego a moto, e ao entrar no banheiro para tomar um banho quente relaxar, quem disse que tinha chuveiro?

Aqui é o ponto chave da viagem. Devo decidir: Meia volta, mais uma passada no jalapão, chapada dos veadeiros e casa, ou pegar sentido sol nascente, para Recife, visitar a família em Pernambuco e de lá voltar pra casa?

A chuva não me larga. Dane-se a chapada: vou rodar pra matar saudades! Aponto a moto ao leste e acelero.

Uma passadinha numa das principais cachoeiras da região (as quedas do “Itaborany”), mas o ambiente não era animador. Um cheiro horrível de urina e muito lixo nos arredores.

 

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Saí dali, perdi a entrada pra atração principal da chapada e segui. Quando decidi colocar a capa, já estava completamente ensopado.

Numa parada pra lanche encontrei as primeiras motos viajantes de toda viagem “Os Caburés do Cerrado”. Povo gente boa!

Equivalente a fronteira do arroz com o feijão, a fronteira entre Maranhão e Piauí era a divisão de dois mundos completamente diferentes.

O Maranhão, verde e chuvoso, e Piauí, ensolarado e seco (e ressecado, diga-se de passagem).

 

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Cheguei à cidade de Campina Grande, quase na divisa Piauí/Pernambuco, depois de alguns quilômetros assustadores rodados depois do pôr-do-sol, avistei uma pousada de cantinho, e ótima surpresa, era a primeira noite de funcionamento e eu era o primeiro hóspede! Quaarto excelente e barato: Ar-condicionado, garagem, cama box, televisão LED... e nada de chuveiro.

Banho gelado e cama.

Sem novidade, asfalto e estrada. Saí as cinco da manhã ,as sete parei já em Pernambuco e comi a melhor esfirra de frango da minha vida, e as três da tarde depois de novecentos quilômetros cheguei a costa de Recife. Entrei na casa dos meus pais e a chuva chegou no mesmo momento.

 

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Fiquei por lá três curtíssimos dias.

Com olhos marejados, parto de Recife, agora apontando ao sul. Uma chata nuvem escura me perseguia, cheguei a colocar a capa, sem necessidade.

Aqui sem novidades, BR sempre, caminhões e mais caminhões. Eu queria parar em alguns lugares curtir, mas a saudade apertou e resolvi tocar. Alguns momentos e passei as divisas Pernambuco/Alagoas, Alagoas/Sergipe e depois Sergipe/Bahia.

 

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Nunca havia pego a BR 101 na Bahia e o transito é assustador. Muitos, mas muitos caminhões, praticamente uma linha contínua. A moto carregada sofria pra ultrapassar.

Quando cheguei a Santo Antônio de Jesus, parei em um hotelzinho de beira de estrada qualquer e fiquei por lá.

Saio cedo de Sto Antonio de Jesus, e o sul da Bahia parece não ter fim. A pista simples, cheia de vendedores e lombadas, não deixava a viagem render. Pensei em fazer esse trecho pelo litoral, mas não sabia se era possível sem muitas balsas pelo caminho. Fica pra próxima.

Fiquei decepcionado com a chegada ao Espírito Santo. Placas iam indicando apenas um pedágio, nada de divisa. E o pedágio era a divisa, e nada de placa! E nada de pista duplicada. Pedágio sem pista duplicada é PIADA! E não ter uma placa de divisa de estado no mínimo é falta de respeito.

Da Bahia para o Espírito Santo, em termos de limpeza e orqanização, é muito visível a diferença. A Bahia é uma bagunça, mesmo comparada aos outros estados do nordeste. O Espírito Santo é bem organizado e lindo. Sinceramente não me lembrava de ser bonito assim na minha infância.

Essa impressão durou até procurar um hotel. Parei num grande posto que tinha um hotel pros caminhoneiros, mas estava lotado. Pouco adianta havia outro. Sem ninguém. No melhor estilo filme de terror.

O recepcionista me atendeu. Era cedo ainda, mas no outro dia queria ter tempo pra visitar o local onde cresci então não adiantava andar mais hoje. A moto foi pra garagem, e eu entrei no quarto. Logo após o recepcionista foi embora e não voltou mais. Acho que é por isso que ele deixou todas as chaves do hotel comigo. Fiquei realmente tenso, imaginei trocentas coisas acontecendo. Empurrei uma mesinha pra parte de trás da porta, tomei um banho e tentei relaxar e olhar o movimento (inexistente). Deu tudo certo e no outro dia meti o pé o mais rápido possível de Linhares.

Saí de Linhares ainda escuro e com os cachorros do hotel correndo atrás da moto. Esse agora é hours concours, pior acomodação da minha história até o momento. Passei por Aracruz, onde estudei quando criança e pude ver o quanto realmente a região cresceu. Fui pelo litoral até Jacaraípe absorvendo tudo o que fose possível. Deveria ter parado em algum camping por aqui...

Tomei um café em Jacaraípe, passei na frente da minha antiga casa e tentei localizar locais onde ia de bicicleta quando moleque. Onde antes só havia mato hoje são casas e prédios. Apanhei pra conseguir sair de Serra. Contornei Vitória e segui. Perto de Guarapari alguns pingos anunciam que a chuva veio me acompanhar.

Já chegando na divisa decidi que não iria passar pela cidade do Rio de Janeiro de moto. Não tenho coragem. Então bem próximo da divisa ES/RJ, parei em um posto e dei a última regulagem possível na corrente. Subi até Bom Jesus do Itabapoana e ali atravessei pro RJ, na pior estrada asfaltada em que já andei, tal de RJ 155. Parecia um imenso sonorizador, a moto cabritava feito louca e a cabeça já doía. A chuva já acompanhava há algum tempo.

 

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Abasteci em três rios e o inferno começou. A chuva veio, com violência agora. Na absurda estrada do ferro, que por mais ridículo que seja é pedagiada, as água do Paraíba do Sul invadiam a pista em vários pontos. A chuva forte não deixava eu passar de 70km/h. O frio da serra fluminense chegava e acabava comigo. Pela primeira vez em toda a viagem, parei num restaurante de beira de estrada para almoçar e esquentar um pouco. Eu estava destruído já. Quebrado, moído e com frio. A moto vinha perfeita. Volta Redonda não chegava nunca! E o tempo tão ruim, que minha vontade era ficar por lá mesmo.

Quando começou o trânsito e Volta Redonda se aproximava, a chuva foi diminuindo. Atravessei a cidade, e quando cheguei na Dutra, me senti em casa. Cansado, fodido... Mas em casa. Cento e quarenta , cento e trinta, cento e vinte. Ia contando quilômetro a quilômetro a distância Por volta das nove da noite eu cheguei no portão de casa, botei a moto pra dentro, tomei um banho e desmaiei na cama. Até o momento, o dia mais longo e mais difícil em cima de uma moto: desesseis horas de pilotagem em baixo de chuva. Até o capacete estava ensopado por dentro.

 

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Domingo curti com a patroa.

Segunda meu irmão veio em casa e botamos os assuntos em dia.

Terça, fui dar uma volta para fechar as férias com chave de ouro. Quando chego em casa, pronto para voltar ao trabalho no dia seguinte, recebo um recado da empresa. Mais dez dias. E em casa eu não vou ficar! Nem deu tempo de arrumar a moto!

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Plano de emergência

Seis horas, um café, uma despedida. Ela, trabalho, eu, folga inesperada, direto pra estrada.

Mil destinos vieram à minha mente, mas a previsão do tempo removeu novecento e noventa e nove. É, pra baixo mesmo.

O clima tentava me dissuadir, mas confiei na previsão. Subi a Tamoios, peguei a marginal como sempre com o cu na mão, e segui sentido Sorocaba conhecer a famosa Rastro da Serpente e suas mil de duzentas curvas. A única coisa que tem mais que curva lá, é buraco e caminhão. O lado paulista não tem nem vista bonita.

 

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No bar do rastro da serpente, lá em campo belo ou algo assim, um brother muito gente boa restaurando uma cb450 puxou assunto e conversamos um bocado.

Dei uma paradinha em Apiaí tirar a foto obrigatória e segui para o lado paranaense, com uma vista sensacional, mas com mais buracos ainda. Mas esse trecho vale todo perrenge, é lindo demais!

 

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Chego perto de Curitiba e me desvio para Morretes, contornando por estradas de terra até a entrada da sensacional Estrada da Graciosa. Desço a serra babando no visual e deixo pra tirar fotos no outro dia. Paro num camping logo ali, “Recanto das Cachoeiras”, a R$20, de frente pra uma queda d'agua e com uma trupe de cachorros contentes.

 

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Fui conhecer a cidade de Morretes, muito bonita, a famosa organização e limpeza dos paranaenses se faz presente, cidade muito agradável. Enquanto admirava a orla da cidade à beira do rio, uma picada no pescoço muito dolorida... Voltei pro camping onde depois de um banho gelado e um de chuva até chegar na barraca preparei um cupnoodles e apaguei. Essa noite caiu o mundo, choveu demais.

Acordei atrasado, ainda cansado de ontem. Desmontei o acampamento e saí, sem me lembrar de fazer a olhadinha básica na moto antes.

Chovia, aquela chuva chata que só faz sujeira. Cheguei a cogitar voltar. Mas já estava ali, e missão dada é missão cumprida.

Não demorou a me lembrar: numa das primeiras curvas subindo a Graciosa, a corrente escapa e dou um cavalo de pau involuntário no meio da estrada, por sorte sem cair. Arrasto a moto com a roda travada até o canto da estrada onde fico um bom tempo até conseguir consertar a cagada e esticar direito a corrente.

O paraná deve ter ficado triste com a minha partida, pois parece que chorou da hora que acordei, até exatamente a hora em que entrei em Santa Catarina. Na divisa, céu azul e asfalto seco!

Santa Catarina foi uma surpresa agradável. Minas ainda é o estado do meu coração, mas Sta Catarina está bem perto! Segui pela 101 até pouco antes de floripa, entrei pra uma estrada secundária onde havia até um trechinho offroad, e um visual sensacional dos picos a caminho de Urubici, onde estou em um dos campings mais sensacionais que já fiquei, o Nossa Senhora, a R$35 com café da manhã e chuveiro bem quente.

 

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São três serras mais conhecidas no sul brasileiro, todas na divisa SC/RS. Meu objetivo era fazer todas.

Depois do sensacional café do camping Nossa Senhora e de um bom papo com o dono, fui conhecer o Corvo Branco, escavada na pedra para não precisar de construir um túnel, e, segundo algumas pessoas da área, é deixada destruída deliberadamente pelos governantes devido à conflitos por terras em reservas.

 

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No caminho, parada para subir o Morro da Igreja (agendado previamente, no fim do dia anterior), perfeito pra ficar contemplando a vista lá de cima, mas tinha muita gente mesmo tendo ido bem cedo. Tirei as fotos clássicas e desci, parando na cachoeira logo no final chamada véu da noiva, totalmente sem graça e com o nome mais não-criativo da história.

 

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Pensei em descer o corvo branco e subir pelo rio do rastro, mas fui desencorajado. “Não há nada bonito lá em baixo”, disseram, e assim fui enganado. Desci, virei, subi e fui descer pela SRR. O corvo branco é a estrada da morte brasileira. Desfiladeiros desprotegidos, muitas pedras e buracos. Mas um visual que compensa qualquer desafio. E na calma, não oferece (tantos) riscos.

Retornei a Urubici e toquei pra Bom Jardim da Serra, passando na saída da cidade pela linda cachoeira do Avencal, com uma excelente área de camping. Na próxima fico uma noite por lá.

 

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Já com relação a SRR, não vou me alongar: é tudo que dizem e muito mais, e não há foto que faça jus a essa maravilha. Uma palavra: vá!

Pensei em subir novamente a serra no final e tentar ficar em São José dos Ausentes, mas me deixei levar e fui procurar algum lugar no litoral (troféu anta de ouro), em pleno sábado.

 

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Parei na primeira cidade que o mapa de campings dizia ter um. Ao chegar, desativado. Com a maior falta de vontade do mundo um cara apareceu e disse que o camping não funcionava mais. Procurei e não havia outro na região de Araranguá. Parei num posto para pensar o que fazer, e a atendente disse pra seguir até a próxima cidade, Sombrio (que nome hein!), que lá com certeza haveria.

Tranquilidade total, só que não. Consegui um camping de frente pra praia, na avenida principal. A cidade estava relativamente vazia. Estava.

Era próximo das 21:00h quando a noite chegou. Fiquei um bom tempo conversando com o vizinho de barraca, mecânico de barcos de porto alegre bom de papo. Fui dormir.

 

o ÚNICO problema de toda a viagem: Parafuso do pedal do câmbio soltou e o pedal caiu. Parafuso do banco serve perfeitamente.

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A noite é uma história a parte, já que logo que entrei na barraca pra dormir, um filho da p%$* vi@*$ co#@$ parou uma po@#$ duma L200 com som até no rabo do lado de fora do muro exatamente ao lado da barraca e deixou tocando até o talo, até o dia amanhecer, com eventuais brincadeiras de pega pega com a polícia. Malditos farofeiros hermanos!!! É pura e destilada falta de respeito.

Mas amanhã é outro dia, e longe daqui.

Queria relaxar e dormir até tarde, para chegar em Porto alegre no final da tarde, mas fiquei tão puto que resolvi acordar cedo e conhecer as serras que faltavam.

Desmontei acampamento o mais rápido possível e vazei daquele lugar traumatizante. Inicialmente a ideia era curtir a praia e ir à tarde para Porto alegre, mas resolvi subir (e descer) de novo a serra, afinal, por quê não?

 

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Subi sentido a serra da Rocinha, terceira mais famosa da região, na bela cidade de Timbé do Sul, onde ainda voltarei pra conhecer melhor. No pouco tempo que fiquei na cidade, achei várias cachoeiras, locais ótimos e usados para camping selvagem, estradas desafiadoras e tudo que a gente procura numa aventura. Como não queria me demorar, subi a serra, nada demais pra quem já pegou as estradas de terra da mantiqueira, mas um visual sensacional! Havia um mirante logo acima da serra completamente deserto (quer dizer, fora as milhares de libélulas) que deve ser ótimo pra acampar à noite. Se tivesse chegado depois do almoço com certeza teria ficado ali.

Subo mais um pouco e no verdadeiro final da serra, na divisa SC/RS, um mirante mais alto, mas quando cheguei estava habitado pela Polícia Federal com direito a helicóptero e tudo.

No final da estrada encontra-se São José dos Ausentes e a diferença entre SC e RS torna-se muito visível. SC é muito mais estruturado e muito mais arrumado que o RS. Saí de São José e segui para Cambrá do Sul, terra dos cânions, mas não ficaria muito por lá hoje: volto logo! Passei a cidade e decidi descer pela quarta e ultima serra do sul brasileiro, a qual não me lembro o nome, em direção à Praia Grande/Torres, que estava em manutenção em todo o seu percurso, E ao nível do mar, aponto pro sul e com direção à Porto Alegre.

No pedágio da Freeway, sinto a moto pesada, mas não me preocupo. Pelo GPS, consigo chegar em POA no lugar certo, conhecer parte da família que nunca havia conhecido. Prazer em conhecê-los! Amanha segue a viagem!

O celular não desperta, e acordo na hora em que deveria partir, um café demorado com gosto de despedida da recém-adquirida amizade familiar, moto preparada e... pneu dianteiro furado.

Corrida rápida ao borracheiro e R$15 mais pobre parto em direção à Cambará, três horas atrasado. Então, sem pressa!

Dessa vez o caminho é todo asfalto, E rapidamente chego. Logo procuro um camping e encontrei a Fazendo Pindorama (R$20). Deixei a barraca montada e as tranqueiras tudo lá, e toquei pro Cânyon Fortaleza, o que não é pago. Fazer a trilha toda, 1700m, em botas de trilha (de moto, claro) não foi fácil. Descer também não. Mas lá de cima, tudo é compensado. Simplesmente sensacional, uma das vistas mais belas que já vi.

 

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Era visível o acúmulo de nuvens se formando e rapidamente saí dali, não sem antes hidratar um arbusto lá, pois não tem estrutura nenhuma o lugar.

Parecia planejado, subi na moto, a chuva chegou, forte. “Uma pena” que tive que desistir da

trilha da pedra do Segredo.

 

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Aproveitei pra comprar erva-mate no centro antes da chuva me alcançar de novo, fui pro camping onde a barraca já estava encharcada. A chuva chegou logo, e fiquei fazendo hora na cozinha. Se ficar essa chuva a noite, vou dormir aqui mesmo.

Tentando dormir, a chuva parando, gemidos me acordam. “Alguém tá com sorte hoje”, pensei.

Tentei dormir novamente, mas os gemidos ficaram altos, até uns gritinhos saíram. Resovi ir pra cozinha comer alguma coisa até o povo sossegar.

Enquanto preparava algo, o casal de uma outra barraca aparece na cozinha. Mas os gemidos continuavam, e altos! Catzo, agora não entendo mais nada.

Ficamos conversando na cozinha, quando da terceira e ultima barraca do camping saem dois adolescentes (dois caras), que quando perceberam que todo mundo tinha escutado e acordado com a bagunça toda, ficaram vermelhos. E pelo jeito, quando os gemidos ficaram altos, tinha sido “a troca”, se é que você me entende.

Quando acordei eles já não estavam mais lá, vazaram de madrugada.

Agora apontando norte, voltando pra casa, era a hora. Demsontei acampamento, dando risada dos acontecimentos da noite anterior, o tempo ameaçava chuva, e assim saí.

 

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Passada no Itaimbézinho pra conhecer, mais estrutura, e pago. De novo, trilha de bota offroad não é nada legal. Mas fiz mesmo assim tudo que podia por lá. O Itaimbezinho é lindo, apesar de que a vista do fortaleza é melhor. No conjunto o itaibezinho leva pelas cachoeiras e muitas trilhas da região. Por ali fiquei quase até a hora do almoço, e decidi que dormiria novamente em Urubici na volta.

Agora algo que nem todo mundo sabe. Nessa região do RS/SC, quase nenhuma estrada é asfaltada. Quase tudo é terra, e algumas são bem ruins.

 

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Dito isso, segui rumo São José dos Ausentes, onde uma garoa fina começou. Dali fui seguindo as placas para Bom Jardim da Serra, no topo da SRR, pois tinha a intenção de descer e subir novamente a serra.

 

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É, não deu. A chuva apertou, e a estrada foi afinando, ficando cada vez mais difícil, até que me toquei que tinha errado o caminho. Eu já não enchergava mais nada cheio de lama na viseira do capacete, e em mim todo já que a porr* da capa de chuva não serve pra nada. A chuva chegou de vez. Estava frio pra caramba. Na chegada a Divisa RS/SC, nem vi uma cancela que tinha no meio da estrada, passei pelo cantinho e continuei, chovia torrencialmente. No meio de uma curva bem fechada, dei de cara com um boi e quase nos trombamos. Cada um correu pra um lado. Eu estava realmente com MEDO, pois em alguns lugares eu pilotei na altura das nuvens e raios muito próximos de mim. Mas eu não tinha onde parar! Tive que continuar.Já próximo de Bom Jardim, a chuva dá uma trégua e no lugar vem neblina. Mas cheguei em Bom Jardim tão na merda que não quis passar na SRR e só queria continuar sentido o céu limpo que avistava na direção de Urubici.

Resolvi que pararia no mesmo camping da ida. Lá tinha cobertura pras barracas, excelente! Então até lá toquei. Cheguei até cedo, claro ainda. Montei a barraca, tomei um banho e apaguei. Estava extremamente exausto. Pela previsão, resolvi não perder tempo. Era hora de ir pra casa.

Despertou o celular às cinco. Frio do caramba, voltei a dormir. Às sete levantei e tomei o rumo de casa. Desci de urubici até a BR101, neurótico torcendo pra não ter nenhum trecho sem aslfalto no caminho (e não tem mesmo).

Na 101, sem surpresas passado o trânsito caótico de floripa, toquei o barco. Algumas horas depois passava a divisa SC/PR, Curitiba, e a divisa PR/SP, tudo em baixo de chuva. “Estou em casa!” pensei.

Na Régis Bittencour, a chuva foi piorando, piorando até que era impossível pilotar. Sentia a moto aquaplanar contantemente e os carros na pista não passavam de 60km/h. Foi a pior chuva que já peguei em cima de uma moto. Parei em um posto, já era depois da hora do almoço, comer alguma coisa e aguardar a chuva passar.

Passam um par de horas e nada. Chuva torrencial. Decido subir na moto. Pneu dianteiro furado! Porra!!! O borracheiro já tinha ido embora. Calibrei o pneu com 50 libras e toquei o barco. Eu tinha as ferramentas e uma câmara, mas vontade nula. Hoje eu chego em casa nem que seja empurrando a moto!

Consigo chegar até o rodoanel em sampa, aí o pneu zera. Vou até a marginal tietê com o pneu zerado, calibro de novo com 50 libras e sigo.

Chego na Airton Senna com o pneu zerado. Paro no posto de sempre, o B&G logo antes do primeiro pedágio, calibro de novo com 50 libras e toco.

Perto do pedágio de guararema o pneu zera de novo. Sigo com ele zerado até o Frango Assado em São josé dos campos. Já estou aqui caralho, não vou ficar na estrada!!! Boto 50lb de novo. Na saída do posto, já percebo o pneu murcho. Dura até a saída da Tamoios. fod*-se essa merd*, vou assim mesmo!

Chego no recém-fundado posto Olá, a poucos quilômetros de casa. Calibro com 50lb de novo, mas agora o pneu já não enche mais. Vai assim mesmo.

Em Taubaté, Paro em todos os postos possíveis na cidade até chegar em casa, as 22:30h, com a moto mal parando em pé por causa do pneu.

Feliz e realizado, deixei a moto carregada no quintal, entrei e dormi como há tempos não dormia. Quando passar a dor na bunda eu vou lá mexer nela.

 

E assim, termina a minha viagem mais longa até o momento, 13500km, em 30 dias rodando, dezessete estados e as cinco regiões do país. Obrigado pela companhia na garupa.

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Segue os caminhos:

 

Etapa Estrada Real, aproximada pois é por terra não tem no Gmaps

 

https://goo.gl/maps/YwMQoVFe6DT2

 

Subida até a porta do Jalapão

 

https://goo.gl/maps/xu7VxUi2CxN2

 

No Jalapão, aproximado novamente por causa das estradas de terra

 

https://goo.gl/maps/A8d71G29J1y

 

Quarta e mais longa parte, ida à Recife e volta pra casa

 

https://goo.gl/maps/Q1bLGHY4EPs

 

Ida ao Sul

 

https://goo.gl/maps/S2pLkyzjMyu

 

Mapas aproximados!

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Esse parabrisa não tinha que estar mais inclinado formando tipo um corta-vento? Do jeito que está parece segurar muito. Outra coisa, onde você colocou ele nas fotos onde está sem?

 

Depende da sua intenção Lico.

 

Por causa da minha altura, se deixo ele inclinado ele manda o vento no topo do capacete e faz uma barulheira no ouvido fora que fica balançando o capacete.

 

O parabrisa sai e cabe dentro da bolsa cinza amarrada no garupa. Tiro ele nas partes offroad (quando eu sei que é né... no RS eu não sabia então ele ficou lá)

 

E segurar por segurar, o arrasto dele com certeza é menor que o meu rs.

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