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Pessoal:

 

Segue um relato da caminhada à cachoeira Sertão Zen, em Alto Paraíso-GO. Para quem está em Brasília e tem o final de semana livre, é um bom programa. Foi sugestão do nosso trilheiro-mor, Jorge Soto.

 

Peguei o busão da empresa Santo Antônio das 15:30 na rodoviária do Plano Piloto, sexta 16/07. Ônibus ruim, que lotou no trajeto, com muita gente no corredor. Pessoal quer ganhar dinheiro servindo mal a população (poucos horários, assim vai lotado). Num determinado momento alguns passageiros em pé gritaram “pneu, pneu motorista!”. Ferrou, pensei, furou o pneu. Na verdade era um ponto de ônibus que se chamava “pneu”, que o motorista já ia passar sem parar. Três pneus velhos presos numa estaca marcam o ponto na beira da estrada. Ri sozinho quando percebi minha conclusão apressada.

 

Viagem chata, muita parada, só distraída pelo som do iPOD e pelo excelente “Matadouro 5”, livro de Kurt Vonnegut.

 

Cheguei as 19 e pouco em Alto Paraíso, com frio e uma fina garoa. O recepcionista do Hotel Átrios – muito simples, perto da rodoviária, R$30 - disse que a garoa é típica desta época do ano, não era sinal de que iria chover.

 

Comi uma pizza e fui dormir cedo.

 

Levantei sábado às 05:30, pois o café começava às seis. Saí e só no meio da principal avenida da cidade, a Ary Valadão, descendo ladeira, percebi que havia esquecido a chave do quarto no bolso. E tome voltar ladeira acima para deixá-la na pousada.

 

É fácil seguir para a trilha. Basta rumar em direção a Serra Paranã ao fundo, procurando por placas indicando “Loquinhas”.

 

Planejei o caminho olhando no Google Earth. Acabei por pegar um atalho que subia direto, exatamente a Este da cidade (90º) meio que formando uma linha reta continuação da Avenida Ary Valadão, visível do alto do morro. A rota que a maioria do pessoal usa vai para a esquerda, seguindo a estrada (não ruma em direção as Loquinhas), e é bem mais longa, porém menos acidentada e com trilha bem mais fácil, visível.

 

Chegando no topo da serra, avista-se um geralzão à frente, inclinado, descendo para o Norte, com uma cerca cruzando no meio do pasto (a cerca segue no sentido N-S). Não havia mais trilha. Andei até esta cerca, cruzei-a por baixo e segui para um morro solitário, um pouco à esquerda. Sabia que a cachoeira estaria mais adiante, a esquerda, atrás deste morro. Ao atingir o sopé do morro o terreno ficava pedregoso com mato baixo. Larguei a mochila e subi um pouco o morrete até umas pedras donde tirei o monóculo do bolso. Dava para avistar ao longe, Norte, um geralzão com mata ciliar e uma trilha clara. Era o caminho normal para a cachoeira. A mata ciliar que avistei protege um dos rios que vai cair na cachoeira. Tinha memorizado isto quando consultei o Google Earth.

 

Eu estava entrando no vale de um riozinho seco (nesta época) que se juntaria ao outro avistado, formando um Y logo antes da cachoeira. Terreno chato, empedrado, com muita canela de ema e árvores retorcidas e espinhosas, típicas do cerrado. Como o terreno estava difícil e sem trilha resolvi sair deste valezinho, sair do leito do rio que agora tinha alguma água empoçada, e subi uma pequena crista para alcançar do outro lado o geralzão (ô coisa deliciosa de andar, um geralzão!). O que parecia perto foi um demorado e cansativo vara-mato, na verdade um campo pedregoso bem sujo.

 

Quando cheguei na mata ciliar bebi avidamente água do córrego. Cruzei-o e subi o campo geral procurando a trilha, que achei 1 ou 2 minutos após. A trilha descia rumo Leste e cruzava mais abaixo o riozinho. Segui e mais adiante perdi a trilha. Tomei a direção que o relevo indicava ser a da cachoeira e fazendo zig-zag acabei achando novamente a trilha. Ela segue sem problemas até descer para o leito de um rio (o mesmo, seco, que havia encontrado antes, mas agora já com água corrente). Se eu tivesse continuado a descer naquele valezinho seco iria parar ali.

 

Leito fácil de seguir com pouca água. Visual bonito. Em 20 minutos ou menos aparece uma “muralha” de pedra à direita do rio e observa-se uma trilha saindo do leito e passando a direita desta muralha. Sobe e, no que desce, cai já em cima do poção superior da Sertão Zen, de onde ela inicia sua queda. Poção bonito, ótimo para banho (sem tromba-dágua!). O visual é de uma piscina infinita, aquela que tem em alguns hotéis 5 estrelas e $$$$$. A diferença é que aqui é natural, mais bonita e não custa nada! Lindo local.

 

Tirei a roupa e, como estava sozinho, mergulhei nu. Fotos e mais fotos. Um vento forte, vindo do vale dos Macacos, fazia gotas da cachoeira subirem. Algumas vezes olhei para o céu pensando que iria chover até descobrir que era apenas a força do vento fazendo a água vencer a gravidade.

 

A arquitetura das rochas de ambos os lados e acima da cachoeira é muito interessante. Procurei a “sentinela” uma formação rochosa conhecida, mas não achei. Tome-lhe tirar fotos (depois em casa, olhando uma delas, acho que descobri a “sentinela”!).

 

Procurei a descida para o vale dos macacos, mas não avistei (Jorge Soto tb não achou).

 

Fiquei uma hora para duas horas curtindo aquele cenário e almocei. Lá havia apenas um pequeno espaço onde dava para montar a barraca, perto do poção. Mas como no dia seguinte teria que pegar o busão de volta para BSB às 15 horas, eu achei melhor voltar um pouco, pela rota normal, porque ainda era cedo e queria chegar rápido, domingo, em Alto Paraíso.

 

Também um monte de gravetos perto do único lugar bom indicava que a água subia quase até lá (tromba d’água?). Não chove nesta época, mas quem garante! Quando era um trekker novato já acampei em bancos de rio. Mas já gastei toda a sorte dos tolos e não arrisco mais.

 

Voltei e ao tomar o geralzão, após cruzar novamente o riacho, uma trilha fácil segue NO mantendo a mata ciliar a bombordo. Depois de 1 hora aproximadamente a trilha vira abruptamente à esquerda e segue Oeste. O caminho continua mantendo a mata ciliar à esquerda, se afastando a medida que avança pois o sendero sobe levemente enquanto a mata fica no vale pouco abaixo.

 

Mais uma hora e cheguei num ponto mais alto, com árvores retorcidas onde avistei Alto Paraíso. Pronto, agora conhecia a rota normal e sabia quanto tempo necessitaria no dia seguinte para chegar a “Paradise”.

 

Não é a toa que o pessoal prefere esta trilha para a Sertão Zen. Muito fácil e muito aprazível.

 

Voltei e desci para a mata procurando água. Não gosto de acampar longe da água, por motivos óbvios. Além disso, meu estoque tava baixo. No ponto mais próximo de mata ciliar, tudo seco. Continuei descendo, desta vez seguindo por uma trilha do outro lado da mata, paralela a esta. Por mais duas vezes entrei na mata atrás de água. Nada. Fiquei chateado, pois estava voltando em direção a Zen. Mas sabia que cedo ou tarde apareceria água.

 

Vi um ponto para onde a trilha seguia, sem mata, onde deveria estar o curso normal do córrego. Quando me aproximava um tucano levantou vôo de uma árvore próxima. Primeira vez que avisto este pássaro fora de um zôo! E logo abaixo o córrego, agora com água corrente.

 

Tratei de tirar a mochila e escolher um local para acampar mais afastado do riacho. Capinzão bom para armar a barraca. Tirei os artigos de cozinha e fui fazer a minha comida liofilizada junto ao córrego. Primeiro uma sopa, depois o prato principal.

 

Enquanto a água esquentava fui até o local da barraca, pisoteei o capim para procurar pedras e tocos e, satisfeito, armei a tenda.

 

Após a janta um banho de panela. Pego a água, me afasto das margens e jogo em cima do corpo. Tem que repetir esta operação várias vezes. Depois ensaboar e fazer a mesma coisa. Mais importante ainda se afastar para não poluir o rio com sabão.

 

Alimentado, limpo, assisti a um belo por do sol. Li e ouvi música um bocado antes de dormir. Noite com uma temperatura super agradável. Apenas um pouco de chuvisco. Estou gostando muito do colchão NeoAir da Therm-a-rest. Levíssimo e confortável.

 

Domingo acordei bem cedo, por volta de 4:30 para 5 horas. Queria sair logo. Mas como tardou para clarear o dia! Esqueci que estava bem mais a Oeste que Salvador/Bahia.

 

Após o café desarmei a barraca e tratei de recompor o capim amassado pela tenda. Este foi um dos lugares mais tranqüilos e bonitos que acampei aqui no Brasil.

 

Voltei pelo caminho normal do dia anterior e depois de boa descida cheguei ao início da estrada de terra. Caminhando, um fusca 72 parou ao meu lado e um goiano muito gentil ofereceu carona. Agradecido subi no carro e o motorista além de me levar para a cidade saiu do caminho dele e me deixou em frente à pousada. Gentileza assim só no interior do Brasil!

 

Cheguei bem cedo. Tive tempo de tomar um banho, almoçar e passear pela cidade. Visitei o Centro de Informações Turísticas. Descobri que a Sertão Zen praticamente é a única aberta a visitação sem exigir pagamento. As demais estão dentro de áreas particulares e cobram taxas. Parece um “pay-per-view”.

 

Pior ainda é o P.N. da Chapada dos Veadeiros, proibindo acampar dentro do Parque. No P.N. da Chapada Diamantina isto não ocorre, por isso tem tanto fluxo turístico para lá!

 

Parques muito melhores e muito mais conservados da Argentina e Chile não proíbem camping. Eles apenas indicam a área onde podemos acampar. Mesma coisa nos Estados Unidos. Na Europa quando limita é porque tem abrigos nas montanhas (refúgios) dentro do parque.

 

Recomendo este passeio, muito fácil e tranqüilo, para um final de semana, se estiverem em Brasília. Dá para fazer bate e volta (Alto Paraíso-Sertão Zen) no mesmo dia, se não quiserem acampar.

 

As fotos, postarei em seguida.

 

Boa viagem e pé na estrada!

 

Peter

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Usuários Mais Ativos no Tópico

  • Membros de Honra

Peter

 

Valeu por postar o relato e enriquecer mais o fórum com a sua experiência.

Inveja boa deste pequeno trekking. E ao que me parece, o NeoAir vai ser meu próximo investimento, sem sombra de dúvidas!

 

Colocou um isolante mais fino para proteger o inflável?

 

Junto com o fogareiro, vai vir um kit de reparos para as Lightwaves. Assim que chegar, te encaminho!

Aguardamos as fotos!

 

Tirei a roupa e, como estava sozinho, mergulhei nu. Fotos e mais fotos.

Agora conta, essas fotos foram para um book nu, para divulgação de um calendário de trekking??? ::lol4::

 

Abraço

Edy

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  • Membros de Honra

Edver

 

Levei o isolante sim, como garantia contra furos.

 

Book de nus é coisa dos criadores da Warmlite, que gostam de praticar nudismo nos seus campings! Só não gosto de carregar o calção de banho molhado, onde possível.

 

No mínimo lá deve ter pedras boas para praticar bouldering.

 

abs, peter

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  • Membros de Honra

Fotos:

 

Subida pelo atalho da Serra Paranã. Vista de Alto Paraíso. Av. Ary Valadão é a principal apontando para a Serra.

 

20100824090405.JPG

 

Muro de pedra a direita do leito do rio. A cachoeira esta logo atrás. A trilha passa a direita do muro.

 

20100824090645.JPG

 

Sentinela de pedra: será aquela pedra parecendo uma cabeça com capacete, logo acima da data, na foto.

 

20100824090915.JPG

 

Polo superior da Sertão Zen:

 

20100824091205.JPG

 

Piscina infinita:

 

20100824092741.JPG

 

Geralzão bom de andar!!!

 

20100824092916.JPG

 

Peter

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  • 1 mês depois...
  • Colaboradores

Peter,

 

Tu saberia informar quanto que custou as passagens ??

 

Moro em Brasília, e lendo teu relato, me animei, e mostrei para 2 colegas hoje que também se animaram a ir.

Muito provavelmente vamos em janeiro, pois em novembro e dezembro o pessoal não vai estar por aqui.

 

Valeu. Abraço.

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  • 2 semanas depois...
  • Membros de Honra

Estava viajando, por isso demorei para responder.

 

Grande Cacius!

 

Não quero afugentar todo o público do Mochileiros colocando auto-retrato nu! E minha auto-estima é elevada! :oops:

 

Rodegheri: acho que foi R$ 34,00 na viação Sto Antonio, saindo da rodoviária do Plano Piloto. Mas é pinga pinga. O da Real Expresso e mais confortável e sai mais tarde da rodoviária de Brasilia.

 

Entra no Santo google que vc checa os preços atualizados.

 

Abs, peter

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