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Como se Lascar no Atacama


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Como se lascar no Atacama

 

Prelúdio: Quase lá

Eram cerca de 11:45, a uns 5.500 metros de altitude, em relação ao nível do mar. Logo acima, um tanto de terreno inclinado, com uma fumaça negra subindo, indicando que o Vulcão Lascar estava em atividade. Olhando para o lado, diversos vulcões visíveis (Chiliques, Aguas Calientes e Acamarachi), e lá no chão encontrávamos laguna Lejía, que estava congelado naquele 4 de Julho de 2010. Centenas de metros abaixo, meu amigo Tony descia a montanha. Ele não iria conseguir completar o trajeto restante, e teve de voltar até a pickup.

Minha cabeça doía muito, por conta do enxofre e da altitude. Estava sendo quase que empurrado por ventos na direção contrária, que davam uma horrível sensação térmica, apesar do sol fraco que fazia naquela hora. Constantemente, controlava cada passo dado, em um ritmo de tartaruga, inspirando e expirando com dificuldade. Parecia que eu havia corrido uma maratona, e sentia que a qualquer momento eu poderia desmaiar, tamanha era a sonolência. Por mais de uma vez, eu me perguntei: "Porque diabos eu decidi vir até aqui?"

 

Lascar_2.jpg

Como ainda não obtive as fotos, arranjei essa, da Wikipédia. Esse é o vulcão Lascar.

 

Antes do vulcão

Era o 16º dia de viagem, de um total de 22. Estávamos em San Pedro de Atacama, a cerca de 2.600 metros de altitude, já aclimatados em nosso terceiro dia. A noite anterior foi o mais tranquila possível, de modo a estar 100% preparado para o que viria a seguir.

Logo às 4:30, veio o guia Pedro, da Atacama Connection, e sua pickup. Eu não vi muita coisa do trajeto, pois tentei dormir no caminho. Mas sei que o trajeto demorou um bocado, tendo inclusive que passar por trechos altamente irregulares, com buracos, e subidas bem íngrimes. Estacionamos perto de uma lagoa congelada, por volta das 6:00, para tomar o Desayuno, que consistia de Pan com Queso e Té (de coca). Durante a refeição, ouvimos muitas histórias sobre os confrontos do Chile na Guerra do Pacífico. Por exemplo, descobrimos que, não muito longe de onde estávamos, podem haver algumas minas terrestres ativas, que poderiam pegar algum aventureiro desafortunado. Depois de comer, fomos para outro ponto mais adiante, na beirada do vulcão Lascar. Estávamos a cerca de 4.800 metros de altitude.

 

[googlemap]http://maps.google.com.br/maps?f=d&source=s_d&saddr=San+Pedro+de+Atacama,+Chile&daddr=Lascar+Volcano&hl=pt-BR&geocode=FTVFov4dGDPv-ylN5XSNU3SpljH-KP3g_efohQ%3BFfVzm_4dq3j2-ykJ0bH-LTaoljGnB5O1hQ7DDg&mra=ls&sll=-23.122366,-67.99431&sspn=0.656741,1.598511&ie=UTF8&ll=-23.120154,-67.780151&spn=0.656753,1.598511&t=h&z=9[/googlemap]

Fizemos esse trajeto(de A até B). De madrugada.

 

A escalada

Em pouco mais de vinte minutos, já havíamos feito três paradas, para retomar o fôlego. A cada punhado de passos, o ar parecia faltar, e o coração disparava. A inclinação do terreno não estava muito alta, somente contando com uma ou outra pedra no caminho. Foi aí que o guia nos mostrou como deveríamos ir subindo, e que, caso mantivéssemos aquela velocidade mínima, demoraríamos 2 horas para atingir o cume. Demorando mais do que isso, o pessoal do Atacama Connection ficaria alarmado.

Por volta da quinta parada, decidimos fazer um lanche, que consistia em uma barra de chocolate. A vista do lugar era realmente incrível. O único porém era o forte e irregular vento que vinha lá de cima. Se deixássemos a luva solta no chão, ela seria levada e estaria vagando por lá até agora, a esmo.

Fui tentando seguir o ritmo mínimo. Um passo, inspira. Outro passo, expira, um passo, inspira. Outro passo, expira, um passo, inspira. Outro passo, expira. E por aí vai, ad eternum. Até que chegamos na metade do percurso (em pouco mais de uma hora desde o começo da escalada), e fizemos outro lanche rápido. Daí em diante, o guia mostrou a sua preocupação com Tony, pois ele estava em um ritmo mais lento. Mais alguns metros adiante, ele teria de decidir se poderia continuar ou não.

Tony aguentou até cerca de 5.400 metros. Ele estava a alguns metros abaixo, e Pedro foi até lá para falar com ele, e provavelmente convencê-lo a desistir. Alguns minutos depois, o guia retorna, junto com a câmera fotográfica. Tony começou o seu retorno ao veículo, encerrando a escalada naquele momento.

Quanto a mim, ainda me restaram longos vinte e cinco minutos, até terminar. Sempre no mesmo ritmo, embora agora com ventos mais fortes e o obstáculo do cheiro de enxofre. Dez minutos depois, o trecho ficou mais inclinado, e com pedras vulcânicas ainda menores. Quando você dava um passo, o seu pé afundava um pouco, e até chegava a ir para trás, até se fixar. Com mais dez minutos passados, o guia Pedro me animava a continuar, falando que só restavam 5 minutos. Ainda assim, o topo quase que não mudava de aparência. Só tinha ficado um pouco maior.

Quando eu menos esperava, de repente o topo foi atingido, e a cratera tornou-se visível. A altitude era de 5.592 metros, e aproximadamente meio dia. Fique extremamente contente, e até com energias renovadas. Como eu sabia que teria poucos minutos lá em cima (novamente devido ao enxofre), tratei de sacar algumas fotos, vídeos, e de olhar bem como era por lá.

A visibilidade era completamente diferente. Além dos vulcões vizinhos e do lago congelado, também era possível ver o salar, que havíamos passado perto na ida. Do outro lado, também podia-se ver diversas outras montanhas, sendo que uma parte daquilo poderia até pertencer à Bolívia. E quanto a cratera, era muito funda, embora não se pudesse ver lava, somente a fumaça saindo lá de baixo. Ah, e lá o vento soprava em velocidade máxima.

 

Lascar_summit.jpg

Uma panorâmica de como é lá em cima. Novamente, essa foto não é minha

 

A descida

Bom, essa foi apenas a metade do esforço. Agora, teria mais um bom tempo até descer todo o vulcão. O primeiro trecho, que era mais inclinado, foi o mais fácil de descer. A única dificuldade era controlar a velocidade, e evitar de se esborrachar no chão. A minha bota sofreu bastante nessa etapa, ficando repleta de poeira e arranhada pelas pedras. Porém, não foi muito complicado. Eu até consegui gravar uns vídeos durante a descida.

Após o primeiro trecho, era possível avistar um pequeno ponto lá embaixo. Era o Tony, que estava na etapa final da descida. Como ele estava tentando contornar um trecho de gelo, em pouco tempo ele tomaria um caminho errado, e não chegaria até o veículo. Por conta disso, o guia disparou na descida, para alcançá-lo. No começo, até que consegui seguir o ritmo radical, mas as minhas pernas pediram arrego. Os músculos são muito mais exigidos na descida que na subida. principalmente os braços e panturrilha.

Demorou mais de uma hora, mas consegui descer, bem devagarinho. O meu ponto de referência eram Tony e Pedro, dois pontos distantes lá embaixo. Só consegui avistá-los quando cheguei perto do trecho de gelo, e avistei a pickup 4x4 de cor vermelha, que sinalizava a minha saída para aquele lugar.

Durante a volta, eu só pensava em dormir, pois a minha dor de cabeça estava fortíssima, e estava totalmente exausto. Tanto é que retornamos no hostel às 17 horas, e às 18 e meia, já estava dormindo. eu só acordaria 14 horas depois, já bem recuperado dessa empreitada.

 

Considerações finais

Lá no início, quando pesquisamos sobre o vulcão, tanto na internet quanto nas agências lá de San Pedro, tivemos uma ideia de percurso que era realizável. Todos diziam que bastaria se aclimatar à altitude, dormir bem antes, não consumir bebidas alcoólicas, e coisas do tipo.

PORÉM, a escalada supõe alguns outros fatores, principalmente para quem nunca subiu em nada maior que um degrau de escadas E que também não pratica exercícios físicos regulares. Se você pretende fazer essa loucura, vai ser bem mais fácil se você praticar academia e/ou exercícios aeróbicos regularmente. Caso contrário, as chances de você cancelar a escalada são bem mais altas.

Fora esses poréns, foi algo extremamente cansativo, embora valeu a pena, em cada segundo. O Tony jurou que ainda irá regressar ao Lascar, para concluir a empreitada. E, num futuro próximo, pretendo também repetir a dose, só que provavelmente com o vulcão Toco, que é inativo (sem enxofre!) e de trajeto mais curto.

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  • Membros

Ae AMIGOS TNT´s , huahauahua, que perrengue vcs se meteram hein....kkk

Desculpa ae, mas tô aqui cascando o bico....kkkk

Tá vendo, tá vendo, se tivessem aceitado os convites da Vivi e dos Sem Limites para subir, descer, andar, correr, nadar, pedalar, etc...certamente teriam sofrido menos. kkk

Mas espero que vcs se animem a prestigiar as trips com atividades fisicas né meo, pois muitos picos só são acessados através de perrengue e muuuito esforço fisico...rs...

 

Lucas, o relato está muuuito doido. Parabéns !!!

Adorei ler suas impressões, e estou aguardando o relato completo da trip hein.

 

Ae Japa Tony, parabens pela trip !!

Eu costumo dizer que "Sucesso é uma questão de não desistir...e fracasso é uma questão de desistir cedo demais" (Walter Burke). Tenho certeza que você desistiu no momento correto, e foi até o limite de suas forças. Parabens pela coragem de abortar. Certamente foi a decisão mais correta. As vezes é necessário obedecer os sinais ..rs. Oportunidades não faltarão.

 

Ae todo mundo, é nois.

E ai, quando vai rolar o próximo churras de "boas vindas"...hahahau

 

Bjãooo

Vivi SL 02

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  • Colaboradores

Ae, vivi. Quem bom que vc gostou do mini-relato.

Os perrengues dessa trip foram inúmeros. Principalmente Valparaiso, Antofagasta, e claro, Santiago. ::sos::

Mas é isso que acontece quando os TNTs se metem a SLs, hehehe.

Imagine só se tivéssemos tentado fazer a tal travessia da Ilha Grande? Affe, não íamos passar do quarto dia. Tem que ter um passeio light, para principiantes. E que de preferência não tenha muita altitude NEM muito vento, kkkk

Como tiveram muitos dias de viagem, vou tentar fazer por etapas, ou até por dia. Daí vai ter tanta coisa que dará para fazer um livro, hehehehe.

 

Ae AMIGOS TNT´s , huahauahua, que perrengue vcs se meteram hein....kkk

Desculpa ae, mas tô aqui cascando o bico....kkkk

Tá vendo, tá vendo, se tivessem aceitado os convites da Vivi e dos Sem Limites para subir, descer, andar, correr, nadar, pedalar, etc...certamente teriam sofrido menos. kkk

Mas espero que vcs se animem a prestigiar as trips com atividades fisicas né meo, pois muitos picos só são acessados através de perrengue e muuuito esforço fisico...rs...

 

Lucas, o relato está muuuito doido. Parabéns !!!

Adorei ler suas impressões, e estou aguardando o relato completo da trip hein.

 

Ae Japa Tony, parabens pela trip !!

Eu costumo dizer que "Sucesso é uma questão de não desistir...e fracasso é uma questão de desistir cedo demais" (Walter Burke). Tenho certeza que você desistiu no momento correto, e foi até o limite de suas forças. Parabens pela coragem de abortar. Certamente foi a decisão mais correta. As vezes é necessário obedecer os sinais ..rs. Oportunidades não faltarão.

 

Ae todo mundo, é nois.

E ai, quando vai rolar o próximo churras de "boas vindas"...hahahau

 

Bjãooo

Vivi SL 02

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  • Membros de Honra

(Aí bonito! Galera TNT sempre me surpreendendo kkkk Não basta se lascar, tem que ser em grande estilo kkk)

Lucas,

bem vindo ao perrengue kkkk

 

Tá show o relato, e espero que voces dois nao tenham se traumatizado, porque ao voltarem será questão de honra ir numa trip SL conosco kkkk

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  • 4 semanas depois...
  • 3 anos depois...

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