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Nepal - Catmandu, arredores e Circuito do Campo Base do Everest


Danfs

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Foram 1 mês no país, 17 dias de travessia no circuito, 5.560m de altitude máxima. Cruzando vilarejos sherpa, vales, mata, desertos congelados e os picos mais altos no planeta. Caminhadas intermináveis, noites congelantes, ar sufocante, comida em estado duvidoso, e cercado pelas paisagens mais grandiosas e vertiginosas que alguém pode ver.

 

Catmandu, Patan, Bakhtapur, Bodhnath

 

O Nepal sai de qualquer padrão de viagem. No momento em que você pisa no lugar, é imediata a sensação de estar fora da sua realidade. Tudo afeta profundamente os seus sentidos. Passear por Catmandu é se perder entre casas de aparências ancestrais, pontilhadas por incontáveis referências hindus e budistas, com um ar denso de um cheiro de velas perfumadas e incenso e barulhos indefiníveis. Foto: Praça Durbar / Catmandu.

 

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Também logo você percebe se tratar de um país extremamente pobre, que parece movimentar a sua economia unicamente com turismo e comércio de quinquilharias. Todas as lojas da cidade parecem vender o mesmo conjunto de enfeites e peças de metal baratas. Não existe o conceito de energia elétrica em tempo integral, com a maioria das cidades sofrendo períodos diários de blackouts, obrigando os hotéis a terem geradores próprios. Pedintes vagando por virtualmente todos os lugares. Postes com emaranhados irracionais de fios, e trânsito incompreensível. Ainda assim, nada parece atrapalhar a beleza atemporal do país. Foto: Bhaktapur

 

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Catmandu é o ponto de entrada para o país, e o lugar ideal para organizar o trek que você está de olho. Não faltam agências, para quem opta por elas, ou lojas de equipamentos, de todo tipo de qualidade e preço e legitimidade. A quantidade de produtos piratas é sobrecarregante, mas até mesmo eles costumam ser de qualidade acima do padrão, frequentemente fabricados nos mesmos lugares e com o mesmo material que os originais. Enquanto você organiza tudo, não faltam na cidade opções de lugares. É, acima de tudo, uma cidade extremamente barata, seja transporte, alimentação ou hospedagem. Passei em torno de 5 dias na cidade, e gastei a quantidade ínfima de US 20,00 no total por uma cama em quarto coletivo em um hostel extremamente recomendado na cidade, o Alobar 1000. Após voltar do trek, querendo mais privacidade, fiquei no Elbrus House, em quarto privado, por U$ 22,00 a noite. Foto: Patan

 

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Opções de visitas e lazer na cidade não faltam. Restaurantes de comida local internacional no Thamel, principal bairro turístico. Os arredores da Praça Durbar, perto de lá, é um labirinto de ruas que merecem pelo menos dois dias para serem percorridas. Cidades nas imediações, como Bodhnath, com sua estopa massiva, e Bhaktapur e Patan, com seus labirintos de ruas, templos, pagodas, praças e casas medievais, também são imperdíveis. A primeira pode ser feita com uma day-trip. As duas últimas merecem pelo menos dois dias inteiros para serem realmente aproveitadas. Foto: Bodhnath

 

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Daí você acorda um dia, e todo mundo na rua está jogando água e melando com pó colorido quem passa. Festival do Holi, o festival hindu das cores, sendo celebrado por lá, com uma rave na praça Durbar.

 

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Tudo o que eu estava usando nesse dia foi pro lixo.

 

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O Circuito

 

Voltando ao trek, o Campo Base do Everest e o Circuito Annapurna são de longe os mais recomendados, ambos com em torno de 15 a 21 dias de trilha. Levei meses para decidir qual. Por mais que pudesse ser óbvia a escolha pelo Campo Base para alguns, ambos os circuitos têm atrativos titânicos. O Annapurna te leva por uma variação incrível de cenários, e com contato direto e contínuo com comunidades locais. O Everest coloca os picos gigantescos na sua cara, e o que perde um pouco em diversidade, ganha em massividade. É, também, o mais desgastante dos dois, com a constante e brusca variação de altitudes (e comida horrível durante o percurso).

Tudo pode ser organizado a partir de Catmandu. Quando você escolhe o trek, resta uma outra escolha para fazer. Existem basicamente 3 níveis de dificuldade: trek completamente independente; trek com guia e/ou carregador (porter). Por mais que você esteja intimidado com o pensamento de passar três semanas andando sozinho por desolações geladas, a verdade é que o caminho não tem complicações. As trilhas são razoavelmente bem marcadas, fáceis de ser seguidas, e com um mapa básico você consegue fazer a coisa toda. Mais necessário que um guia, na minha opinião, seria o carregador. Por melhor que seja o seu preparo, quando a altitude começa a bater, tudo o que você não quer é estar com mais que 5kg nas costas.

 

Se você preferir algo mais independente, você pode optar apenas pela passagem aérea para Lukla, e pelas reservas nos alojamentos, seguindo o caminho por si só e, caso precise, contratando um porter na saída do aeroporto de Lukla, o ponto de partida do trek, onde há vários esperando. Eu estava afim de fazer a trilha sozinho, então preferi essa opção.

 

Você pode contratar tudo isso, ou partes disso, nas agências de Catmandu. Umas são mais confiáveis que outras, então é bom checar recomendações – A Trekkers’ Society, Eco Trek, Adventure Treks Nepal e a Holy Himalaya são ótimas opções. O preço por um “pacote completo”, com guia, carregador, hospedagem nas casas de chá, e 3 refeições por dia, e passagem aérea para Lukla, custa em torno de US 1.500,00 para uma pessoa, e US 1.000,00 se você se juntar a um grupo.

 

A foto mostra o esqueleto do trek. A dinâmica dele é basicamente acordar, comer, ir do ponto “A” ao ponto “B”, parar pela noite numa das casas de chá disponíveis, com quartos, comida e aquecimento, e prosseguir no dia seguinte. Quase todos os pontos contam com boas (mas bem básicas) opções de alojamento.

 

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Chegar em Lukla é uma atração à parte, e envolve um vôo em aviões bimotores minúsculos, frequentemente cancelados, cruzando rajadas violentas de ventos vindos das cordilheiras, que sacodem o avião em turbulências que você nunca sentiu na vida, para no final aterrissar no que é considerado o aeroporto mais perigoso do mundo, fincado na encosta de um pico e com apenas 500m de pista para pouso, que começa imediatamente após um precipício. Foto: aeroporto de Lukla.

 

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Foto: fila de porters na saída do aeroporto de Lukla, esperando serem contratados.

 

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De Lukla, a porta de entrada para o circuito, o objetivo é chegar em Namche Bazaar, que é a base para ele. É o último povoado de bom tamanho na trilha, onde ainda existem lojas diversas para suprimentos, equipamentos, farmácias e hospedagem mais robusta. É um ótimo ponto para começo de aclimatação, a 3.441m de altitude. É possível chegar lá com 7 horas de trilha, ou parar na metade disso, descansando em Phakding, e fazer o percurso em 2 dias. Foto: entrada do Parque Nacional Sagarmatha (nome nativo do Everest).

 

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Durante toda a trilha, aclimatação será decisivo. A regra é um passo constante, mas lento. É extremamente fácil se sentir exausto a partir dessa altitude. Sintomas do mal de altitude podem aparecer a qualquer momento, o que exige que a pessoa descanse e desça para locais menos elevados. É normal ver helicópteros de resgate pousando e buscando pessoas com casos mais graves.

 

Uma ótima saída para amenizar as reações do organismo é o Diamox, remédio vaso-dilatador que pode ser obtido em qualquer farmácia de lá. Realmente eficaz, apenas tendo um efeito um pouco indesejável de formigamento das extremidades.

 

Uma dica básica para aclimatação é: caminhar alto, e dormir baixo. Você sempre procura dormir em um local levemente menos alto do que o ponto mais alto até onde você andou, e aumenta progressivamente nos dias seguintes. Foto: Namche Bazaar

 

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Foto: Engarrafamento em Namche Bazaar.

 

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O motivo de todo mundo evitar carne durante os dias da trilha.

 

Você tem 100% de chance de pegar pelo menos uma intoxicação alimentar durante o percurso. O estado de conservação de todo tipo de carne é duvidoso, tendo em vista que não há refrigeração contínua. Na dúvida, o frango é a saída. A maioria é abatida no local, enquanto a carne é transportada de outras cidades.

 

Se a conservação da comida é precária, a higiene, nem se fala. A mesma mão que pega no esterco de yak para colocar no aquecimento é a mão que vai fazer sua comida, sem nem considerar uma torneira no meio-termo.

 

Sua higiene pessoal também vai ser abandonada aos poucos. São quase inexistentes as oportunidades para banho de água quente, e você provavelmente não vai querer chegar perto das frias. Um bom estoque de lenços umedecidos vai salvar sua vida.

 

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É após Namche Bazaar que você sai da civilização. A partir de agora, vão ser caminhadas que parecem cada vez mais intermináveis com a altitude crescente, com paradas esporádicas em pequenas vilas sherpa.

 

O roteiro básico da trilha, desde Lukla:

 

Dia 01 -> Vôo para Lukla. Lukla para Phakding (2652m) – 3 horas.

Dia 02 -> De Phakding para Namche Bazaar (3446m) – 4 horas.

Dia 03 -> Descanso em Namche Bazaar para aclimatação.

Dia 04 -> Namche Bazaar para Tyangboche (3867m) – 4 horas

Dia 05 -> Tyangboche para Dingboche (4343m) – 5 horas

Dia 06 -> Dingboche para Lobuche (4930m) – 5 horas

Dia 07 -> Lobuche para Gorak Shep. Trilha para o Campo Base (5364m) e retorno. 7 horas

Dia 08 -> Trilha para o Kalapathar (5545m), retorno para Gorak Shep e trilha para Lobuche (4930m)

Dia 09 -> Lobuche para Dzongla (4843m) – 5 horas

Dia 10 -> Cruzar o Cho-La Pass (5420m) e trek para Thagnag Kharka – 8 horas

Dia 11 -> Trek para o Gokyo Lake (4750m) – 4 horas

Dia 12 -> Subir o Gokyo Ri e voltar ao Gokyo Lake.

Dia 13 -> Descer para Dole (4210m) – 6 horas

Dia 14 -> Descer para Namche Bazaar (3440m) – 5 horas

Dia 15 -> Descer para Lukla (2804m) – 7 horas

Dia 16 -> Vôo para Catmandu

 

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Você vai andar pra c***lho sobre terreno rochoso, com temperaturas frequentemente congelantes, e debaixo de um sol de um UV insano refletido na sua cara pela neve. Uma hora você está congelando, outra hora você se sente dentro de um micro-ondas. Roupas/equipamentos adequados são bem consideráveis. A lista básica:

 

1 Down Jacket (jaqueta de pluma)

1 Anorak respirável

1 ou 2 fleeces (um fino e um polartec)

1 conjunto de thermal underwear

1 gorro

1 óculos escuros polarizados (para dar conta da intensidade dos raios solares lá em cima, que são ampliados pela neve)

1 par de luvas isolantes

1 par de botas de trekking para frio

2 ou 3 pares de meia para frio e meias liner para usar por baixo

1 ou 2 bastões de caminhada

1 mochila cargueira e 1 mochila de ataque

1 balaclava ou protetor para pescoço e boca

1 pacote de lenços umedecidos

1 cartela de Diamox e outros remédios relevantes (especialmente pra infecção intestinal e dores de cabeça)

1 protetor solar fator 50

1 pomada labial

 

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Dependendo do mês que você for, você vai passar horas até encontrar outro ser humano, ou você vai esbarrar com eles durante boa parte da trilha. Dois períodos têm as melhores visões, pelas condições climáticas: de Setembro a Novembro, a altíssima estação; e de Abril a Maio. O primeiro período é o de maior movimentação, justificado pela visibilidade perfeita que você tem durante essa época. O período de Abril a Maio não perde consideravelmente em visibilidade, e ganha extraordinariamente pela baixa movimentação na trilha. Se você quer ter o cenário só para você, vá nesse período.

 

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Chegada em Tyangboche

 

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Os nepaleses são profundamente religiosos, com boa parte do país seguindo o hinduísmo, a outra parte, o budismo. Isso não muda lá em cima. As referências budistas estão espalhadas por toda trilha. Foto: Monastério em Tyangboche

 

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Foto: A trilha.

 

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Foto: A trilha.

 

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Dingboche, de cara com o Ama Dablam, e a ponta do Everest ao fundo (lado esquerdo). São as primeiras visões do pico, identificável imediatamente pelas rajadas de vento que varrem a neve do seu cume.

 

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As casas de chá são as poucas chances de socialização que a trilha vai te oferecer, se você optar por fazer tudo só. Três semanas circulando sozinho por algumas das paisagens naturais isoladas mais épicas do mundo pode ser o paraíso para alguns, mas eventualmente pode bater uma necessidade de trocar um papo eventual. As casas de chá oferecem um meio de balancear isso. É onde todo mundo acaba, inevitavelmente reunidos ao redor dos fornos de esterco de yak para escapar um pouco do frio insano que começa a pegar quando você se afasta só uns 2 metros.

 

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Prayer flags firmadas no vale, que acreditam espalhar bênçãos pelo vento, cada vez que as agita.

 

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Vale do Khumbu, que corta o caminho até as encostas do Everest.

 

O grande atrativo da trilha é a massividade da coisa. Os maiores picos do planeta estão bem em frente à sua cara. Tudo está em escalas que raramente você tem acesso na sua vida. Todo o cenário é titânico, e chega a ser difícil para você processar tudo o que os seus olhos estão captando, chegando a causar vertigens seja se você olhe para baixo ou para frente. Tudo é grandioso.

 

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A vila de Periche. Não necessária na trilha, mas localização espetacular.

 

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Foto: A trilha.

 

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Pra quem já leu o No Ar Rarefeito, do Jon Krakauer, um memorial para as vítimas do desastre de 1996, incluindo o Scott Fischer.

 

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As paisagens alienígenas do Glaciar do Khumbu.

 

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Chegada no campo base.

 

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O campo base.

 

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Visão do Everest do topo do Kalapathar, o ponto mais alto da trilha (5445m). Foi a partir daí que comecei a ter os maiores problemas com a altitude. Um dos efeitos é a diminuição vertiginosa do apetite. Seu corpo parece não conseguir processar tão bem o que você ingere. A qualidade da comida só acentua o problema. Todos lá parecem ter os mesmos problemas. Por melhor que você comece a trilha, depois de uma semana se alimentando mal e andando por horas àquela altitude, você enfraquece.

Acordei com uma dor de cabeça incapacitante, que para a minha sorte foi resolvida por alguns comprimidos e um pouco de descanso, sem precisar descer.

 

O maior problema, contudo, foi outro. Por algum motivo, nada parecia aquecer meus pés, por mais meias de frio e liners que eu usasse. No topo do Kalapathar, eu já não sentia mais nenhum deles. Passei horas depois tentando aquecê-los na casa de chá, encostado ao forno, até recuperarem a sensibilidade e a cor normal. Depois disso, comecei a usar sacos plásticos por cima das meias para aumentar o isolamento, o que ajudou enormemente.

 

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Foto: A trilha.

 

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A caminho de Gokyo. Gokyo foi outro desafio na trilha. Em todos os alojamentos da trilha estavam circulando relatos de que o trecho ao redor do Cho La Pass, que é o acesso padrão para lá, estava completamente congelado. Como tem áreas bastante íngremes e relativamente perigosas, estava levando muita gente a desistir ou não ser capaz de cruzar. Relatos de pessoas escorregando e sofrendo acidentes também começaram a chegar. Só era relativamente seguro para quem estava carregando grampos, que não era o meu caso, e nem do porter que estava comigo.

Uma noite antes de partir para lá, comecei a pesquisar com os sherpas rotas alternativas. Acabei encontrando uma que quase ninguém usava, perguntei ao porter o que ele achava, e ele concordou.

 

A rota não era usada por algum motivo. A trilha, que saía cortando as encostas dos picos, frequentemente não era grossa o suficiente nem para uma pessoa, com um lado de paredões de rocha, e o outro um precipício vertiginoso de algumas centenas de metros de profundidade, e vários pontos de deslizamento no caminho.

 

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Chegada em Gokyo, o último vilarejo da trilha.

 

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Visão de Gokyo Ri, a última subida. Já estava completando duas semanas na trilha. É a hora em que você já está pronto para voltar. A altitude passa a incomodar permanentemente. Frequentemente você levanta no meio da noite com falta de ar. Você quase não come mais. Você quer um banho quente, uma refeição que não seja um prato de arroz com batata ou macarrão ruim.

 

Ainda assim, a sensação de subir pela última vez, e ter essa vista, é indescritível. Você está no topo do mundo.

 

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O caminho de volta.

 

Ainda cinco dias de descida pela frente, e mais alguns esperando lugar no vôo de volta a Catmandu, continuamente cancelado pelas condições do vento. Mas agora era só seguir.

 

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Pokhara, a o lugar perfeito pra recuperar as energias depois da chegada, e deixar a ficha do que você passou e viu cair.

 

No final, o circuito do Campo Base do Everest foi uma das experiências mais desgastantes e gratificantes que eu já fiz na minha vida. Se você gosta ou aguenta a falta de companhia constante por 3 semanas, vá só. Não pense duas vezes. Ficar só no meio daquele lugar é uma experiência única, de humildade, quase espiritual, e algo que você vai lembrar com orgulho e carinho pelo resto da vida. Acredite em mim.

 

Eu sei que o Nepal ficou permanentemente comigo. Circuito Annapurna em breve.

 

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  • Membros de Honra

Danfs, parabéns pelo relato.

Curti muito e muito me servirá para minha próxima trip.

Devo visitar o CB Everest em abril.

 

Sei que a escalada ao Everest é (para mim) humanamente impossível.

Não só por conta das condições técnicas e físicas, mas também financeiras, pois alcançar o topo do mundo é uma fortuna.

Existe alguma possibilidade de um aventureiro (acostumado com altiplanos bolivianos com 5 mil metros), devidamente acompanhado por guia, progredir um ou dois pontos além do CB? Abração Brother... valeu mesmo pelo relato!!

::otemo::::otemo::

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  • Colaboradores

Oi Luka!

 

Cara... *acredito* que não, mas não tenho certeza. Até porque a própria circulação no território do campo base pareceu ser restrita às trilhas demarcadas, até para a segurança dos próprios alpinistas e dos equipamentos deles, e eu não lembro de ter visto nada além. Depois dele, mais especificamente entre ele e o Everest, só pareceu haver um glaciar, o que exigiria grampos e bastante cuidado pra fazer a travessia. Quando a controle oficial de acesso... não vi nenhum.

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  • Colaboradores

Daí Triathleta,

 

Acho que tem como diminuir a duração do trek. Fica mais puxado, você pode perder alguns trechos legais, mas já vi algumas pessoas fazendo o Annapurna em 10 dias, por exemplo. Ele é bem mais leve que o CBE, tem menos oscilações bruscas de altitude, comida melhor, hospedagem melhor. O que mais me broxou no Annapurna, pra ser sincero, é que o governo está construindo uma estrada em partes do principal trajeto do trek. Daí pode tirar um pouco o feeling da natureza.

 

Quanto ao CBE, se você tirar Gokyo do roteiro, vai ganhar pelo menos 4 dias. Mas eu não realmente aconselho isso, porque a paisagem de lá é animal. Inclusive, mais impactante que o próprio campo base.

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