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No caminho das cachoeiras: seguindo as águas da Serra Dourada


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  • Membros de Honra

Depois de ver os planos de ir pra Chapada dos Veadeiros com o Peter Tofte frustrados por ele já ter marcado uma trilha com o Edver no Pico Paraná e de não encontrar passagens num horário que me favorecesse para acompanhá-los nessa trip, resolvi aproveitar o fim de semana do feriado do dia 02/11 para fazer alguma trilha próxima.

Escolhi uma caminhada que passasse pelas principais cachoeiras da região, seguindo o córrego da Matinha até a Cachoeira da Onça, de lá atravessar a extremidade norte da Serra Dourada, acampar próximo ao córrego da Pedra, descer das nascentes do Córrego Riachão até a Cachoeira do Zé Mineiro, local do 2º acampamento. De lá, descer aproximadamente 5km pelo vale do Riachão, subir a encosta da Serra Dourada e descer até as nascentes do córrego Acaba-Vida, descendo o vale do Acaba-Vida até sua cachoeira homônima, num total de aproximadamente 30km.

A previsão era de chuva forte durante todo o feriado e devido às tempestades elétricas que vem assolando o município, e ao risco de inundações no vale do córrego da Matinha, resolvi abortar uma parte da travessia. O córrego da Matinha corta um vale profundo de encostas bastante íngremes, aumentando o risco de trombas d’água, além do trecho norte da Serra Dourada ser feito num longo trecho de crista, o que seria imprudente devido à ocorrência diária de tempestades elétricas desde o último dia 28.

Como o trecho seria menor, convidei meu sobrinho de 10 anos a me acompanhar nessa trilha e ele aceitou, mas exigiu algumas guloseimas para a travessia.

Definido o trajeto, tratei de arrumar as mochilas. Coloquei quase tudo na minha, deixando pra ele apenas 1 saco de dormir e uma bermuda. Para economizar uns 10km de pernada em estrada de terra, pedi que minha irmã me desse uma carona.

Na sexta, dia 02/11, saímos de Uruaçu por volta das 15:00 horas. No caminho já vamos tendo uma ideia do que nos aguardava pelos bonitos rios que cruzamos. A estrada parece um caminho de séculos atrás, estreita, com pontes de madeira e casinhas simples em suas margens.

 

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Deixei o carro na casa do Sr. Antônio, há pouco mais de 1km de distância do córrego Acaba-Vida. De lá fui com minha irmã até a Fazenda Córrego da Pedra, de onde caminhamos uns 2km até o córrego Riachão. Como o dia estava bem quente, aproveitamos o final da tarde para um bom banho de cachu e para armar o acampamento.

O Alexandre estava muito animado com sua primeira trilha. Arrumei nossa janta e ele comeu feito um leão. Mal entramos na barraca e começou a pingar. Pela quantidade de trovões e relâmpagos, achei que o mundo iria desabar, mas durante toda a noite a chuva foi bem fina. Acordei algumas vezes durante a noite e o Alexandre me chamou às 05:00 horas pra entrar na cachu. A chuva tinha parado, mas tava um friozinho bom pra dormir. Disse a ele que ainda não tinha amanhecido, que só levantaríamos com o raiar do sol e adormecemos novamente. Acordei com a claridade e por sorte, a chuva tinha sumido de vez. O sol raiava com algumas nuvens e pouco vento. Chamei o Alexandre para um banho gelado, afinal de contas precisava despertar. Depois do banho fui arrumar o desjejum para levantarmos acampamento e partir seguindo o Riachão.

 

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Mal terminamos de colocar as mochilas nas costas e o vento aumentou consideravelmente. Com ele vieram as nuvens e a chuva fina. Como estávamos seguindo o córrego e muitas vezes a água alcançava a cintura, achei desnecessário colocar o anorak e a capa na mochila. A chuva ia e vinha e a cada vez engrossava um pouco. Depois de umas duas horas caminhando pelo leito do riacho o sol apareceu forte e a chuva cessou de vez. A paisagem estava demais, inúmeras quedas d’água, corredeiras e a vegetação praticamente intocada. Fora alguns tombos, a caminhada corria tranquila. Logo após uma curva, havia um enorme desnível no terreno e o riacho desaparecia. Corri para ver se era uma cachoeira desconhecida, mas na verdade era uma enorme corredeira dividida em três quedas menores. Tinha certeza que éramos umas das primeiras pessoas a chegar naquele lugar, pois nunca tinha ouvido falar de tal corredeira.

Descemos pela margem direita por algumas pedras e, no meio do caminho, levei uma queda cinematográfica. O resultado só não foi pior porque a mochila impediu que eu escorregasse e rolasse pelas corredeiras. Após algumas horas, muito trepa-pedra e inúmeras corredeiras, chegamos ao local que deixaríamos o vale para atravessar a Serra Dourada e rumar para as nascentes do Acaba-Vida.

 

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O início foi de um vara-mato difícil, complicando bastante a navegação, pois não via nada além de uns 15m, mas a partir do alto do morro, a vegetação vai raleando até tornar-se um campo relativamente limpo.

Mais alguns minutos de pernada e já avistei as veredas onde nasce o córrego. O Alexandre começou a reclamar dizendo que queria ter continuado no riacho. Pouco tempo depois alcançamos outro córrego que aumenta consideravelmente o volume do Acaba- Vidas. Paramos para comer e nos refrescarmos um pouco. Não demorou muito e o sol foi coberto pelas nuvens, a chuva veio forte e pensei na possibilidade de deixar o leito do córrego. Passei a observar mais os sinais de enchente, pois a chuva não dava trégua. Numa pequena cachoeira tivemos que descer por uma pedra na margem de uns 2m de altura. Servi de escada, e ao descer o Alexandre se apoiou numa casa de marimbondos que não tínhamos visto. Coitado acabou levando algumas ferroadas que devem ter doído bastante, pois em alguns locai chegou a sangrar. Após nos livrarmos dos marimbondos, paramos por alguns minutos para tratar das ferroadas e pro Alexandre tomar um analgésico, pois ele estava reclamando muito. A chuva castigava. Continuamos a caminhada pelo Acaba-Vida até um afluente na margem direita, onde saímos da água para seguir pelas trilas do gado. Nesse ponto a encosta do lado direito se eleva e forma um dos pontos mais altos da Serra Dourada.

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Seguimos na trilha do gado alternando entre as margens direita e esquerda até um muro de pedras, onde a trilha seguia à esquerda e voltamos pra dentro do córrego. Com pouco mais de 30 minutos de caminhada debaixo de muita chuva chegamos no alto da cachoeira do Acaba-Vida. A descida pela margem esquerda foi meio tensa, pois o solo estava meio escorregadio e a chuva não cessava. Alcançamos o córrego uns 60m abaixo da cachoeira e por um enorme presente da natureza, ao terminarmos a descida, o sol raiou forte e as nuvens se afastaram. Foi muita sorte termos a cachoeira só pra nós em pleno sábado à tarde. Por ficar a apenas 16 km da cidade, ser aberta ao público e ter apenas uns 500m de trilha, essa é a cachu mais frequentada de Uruaçu. Então tratamos de aproveitar e nos esbaldamos em suas águas por mais de uma hora. As nuvens voltaram e com elas a gélida chuva. A Cachoeira do Acaba-Vida tem dois poços maiores e várias piscinas naturais menores, é um ótimo local pra descansar e pra tomar um banho numa cachu cristalina, o que atrai diversos visitantes durante feriados e finais de semana, que infelizmente ainda deixam bastante lixo pra trás.

Era hora de cair na trilha novamente, pois a chuva acabou com nossa festa. Mas antes de partir, recolhemos todo o lixo deixado por alguns idiotas no dia anterior, sacolas plásticas, garrafas de cerveja e cachaça, latas de alumínio, embalagens de biscoito, garrafas pet, restos de carvão e bitucas de cigarro. Como eu tinha apenas um desses sacos que vem com 50kg de milho, tive que dar duas viagens e amontoar o lixo na beira da estrada. É nessas horas que chego a aceitar a ideia de cobrança por parte dos proprietários para visitação das cachoeiras.

De lá até a fazenda do Sr. Antônio foi um pulo. Entramos no carro totalmente encharcados e voamos pra casa em busca de um longo banho quente e de um bom prato de comida. A travessia foi demais, apesar de ser curta, cerca de 13km, foram quase 9 horas de pernada, o Alexandre se portou muito bem e mesmo com os inúmeros tombos, foi uma ótima experiência “caminhar pelas águas” e ainda por cima descobrir alguns locais praticamente intocados tão próximos de minha cidade.

 

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  • Membros de Honra

Mais uma trilhazinha show de bola. Cada vez que vejo seus relatos fico com mais vontade de conhecer o cerrado, que vegetação linda!!! Eu só conheço as trilhas do sul, então mato pra mim é floresta atlântica, bem diferente.

O piazinho gostou é? Vai ter que levá-lo na próxima... :mrgreen:

Editado por Visitante
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  • Membros de Honra

Otávio, como vc não conhece as trilhas daqui e eu não conheço as trilhas do Sul, vamos fazer um intercâmbio. ::otemo::::otemo::::otemo::

Eu particulamente gosto bastante do cerrado, a vegetação varia muito, vai desde de matas de caleria, cerradão, cerrado denso, cerrado sujo, veredas, campos sujos campos limpos e cerrado de altitude.

Pra vc ter uma idéia do qto a vegetação varia, que nessa pernada peguei uns cinco tipos de vegetação num percurso relativamente curto.

Venha fazer umas trilhas pra vc conhecer um pouco do nosso Centro-Oeste.

O moleque gostou tanto que até já me perguntou quando iremos novamente.

Abraço!

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  • 3 meses depois...
  • 2 semanas depois...
  • Membros de Honra
Fala Renato,blz?vc anda fazendo algumas trilhas em uruaçu no momento?qualquer ideia me avise para organizar-mos algum trekking por ai.

Valeu

 

E aí, Adriano, beleza? Tem uns dias que não faço trilha aqui em Uruaçu, mas assim que surgir qualquer coisa eu te aviso. Vc tá vindo sempre em Uruaçu? A gente pode combinar uma pernadinha num final de semana que vc vier visitar sua mãe.

Acho que esse mês vou da uma pernada na Chapada dos Veadeiros, se vc tiver afim, a gente combina.

Abraço!

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  • 2 anos depois...

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Visitante
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