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Pelo Itupava cheguei a montanha azul.


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Trilha do Itupava

 

 

Poderia ser o século 17 ou 18. Poderia ser um caçador de antas. Poderia ser um bandeirante atrás de ouro, pedras preciosas ou a fim de aprisionar alguns índios. Poderia ser um tropeiro montado em sua mula garbosa a caminho do litoral. Mas não, o sujeito que desce o histórico caminho, é um cara magrelo de cabelo amarelo. Carrega em sua “cacunda” uns vinte quilos de equipamentos e comida. Desce a passos lentos, preservando a sua bunda das pedras lisas polida por séculos. Descendente de portugueses e espanhóis carrega em seu DNA, os genes dos exploradores da Península Ibérica. Talvez faça parte da tribo dos bandeirantes modernos. O que o move montanha abaixo é o amor incontrolável pela natureza. È uma curiosidade que não sabe de onde vem. Precisa ver, explorar, sentir o cheiro do mato, o frescor do vento, ouvir o barulho das águas, dos pássaros, subir a montanha misteriosa e ver o mundo lá de cima. Só para se sentir livre, procurar um sentido pra vida, apenas se sentir feliz........

 

Claro, eu já tinha ouvido falar do histórico Caminho Colonial do Itupava. Mas nunca me interessei em fazê-lo por achar curto de mais para valer uma viagem ao Paraná. Outro lugar que eu sempre quis conhecer foi o Parque Estadual do Marumbi, mas as informações que eu tinha era a que para acessá-lo seria preciso pegar o famoso trem Curitiba-Paranaguá. A dificuldade de conseguir comprar passagem para o trem, chegando de São Paulo em um feriado era muito grande, geralmente já estava lotado dias antes. Tinha uma outra opção, que era a de ir até Morretes, conseguir um transporte até um lugar chamado Porto de Cima e depois andar não sei quantas horas até a estação do Marumbi. Achei trabalhoso demais e então fui deixando de lado. Até que descobri, relendo um antigo guia do Marumbi, que o tal caminho vindo de Porto de Cima era a própria trilha do Itupava. Ai sim, ligar a trilha histórica com o espetacular Marumbi poderia ser um passeio imperdível.

 

Aproveitando o fiasco da nossa seleção e também o feriado paulista da Revolução de 32, embarquei de Campinas para São Paulo e de lá para Curitiba, aonde cheguei ás cinco da manhã. Enfrente da rodoviária, peguei a larga avenida para a esquerda, quando cheguei ao posto de gasolina,virei a direita na Av. João Negrão e em mais cinco minutos cheguei ao terminal de ônibus Guadalupe.Imediatamente já peguei o ônibus para Quatro Barras. Bem, quase imediatamente. O veículo não pegou e o motorista convidou todos os passageiros para empurrar. Senti-me na Bolívia. A aventura começou.

Meia hora depois o ônibus encostou na rodoviária de 4 Barras e no próprio terminal peguei o ônibus para o bairro de Borda do Campo e em outra meia hora já estava saltando no ponto final.

Do ponto final, segui em direção a montanha do Anhangava, parcialmente encoberta pela densa neblina da manhã. Cinco minutos pela estradinha de terra já avisto o posto de fiscalização do Instituto Ambiental do Paraná e a placa de concreto que demarca o início da Trilha do Itupava. No posto de fiscalização sou muito bem recebido, coisa rara em se tratando de órgão ambiental, preencho um breve cadastro e sem muito frescura sou liberado para iniciar a caminhada. Sem pagar taxas, sem encheção de saco ou outras aporrinhações.Quando penso que descerei a trilha sozinho, me aparece uns 40 soldados da polícia da Aeronáutica para me fazer companhia. Deixo os soldados para trás e sigo em frente por uma trilha bem aberta, quase uma estradinha e em pouco mais de cinco minutos estou em uma pedreira abandonada e faço logo uma parada para um breve café da manhã, afinal já são quase 8 horas e até agora não comi coisa alguma.

 

Retomo a caminhada e em mais cinco minutos chego a uma grande clareira, onde uma placa indica o caminho a seguir. A trilha passa por um riachinho e começa a subir e em mais uns 10 minutos a trilha quebra a esquerda, desce por uma escada de troncos, passa por uma pinguela sobre um brejo e 15 minutos depois chega a uma bifurcação, na qual pego para a esquerda e então por mais uns 15 minutos sobe um pouco e depois volta a nivelar. Mais 10 minutos de caminhada chego à placa que demarca o início dão Parque Estadual da Serra da Baitaca e finalmente aparece o calçamento original da trilha histórica. Surpreendentemente com um nível de preservação incrível, deixa o calçamento da trilha do Ouro na Serra da Bocâina no chinelo.Um minuto depois é preciso tomar cuida para não errar na bifurcação e então pego para a direita e nessa hora sou ultrapassado pelos soldados. Vou seguindo esses pobres coitados, como se eu mesmo fosse o fiofó de tropa. Sigo atrás me cagando de tanto rir de ver os tombos dos caras. Tinha um tal de soldado 01 que os oficiais pegaram para Cristo. O “coió” não parava de pé. Os oficiais diziam que ele era incapaz de cantar e andar ao mesmo tempo. Os próprios oficiais me pareciam meio tontos, totalmente despreparados para a empreitada que se dispuseram a fazer. Todos armados até os dentes, carregando trambolhudas caixas de primeiros socorros e outras coisas que me pareceu inúteis para uma simples caminhada de apenas um dia. Por falar em trambolho, testei nesta trilha um dispositivo protetor anti cobras “tabajara”.Depois do acidente com a peçonhenta jararaca na Ilha Grande, caminhada feita no último carnaval, resolvi testar a perneira de couro, que eu havia ganhado a mais de 10 anos , mas nunca tinha usado por achar pra lá de inútil.

 

Uma hora e meia de trilha e chegamos a uma grande ponte de madeira e depois de uns 15 minutos a trilha passa por alguns riachos e sai em campo aberto e finalmente vejo a cara do sol. 10 minutos depois passa por uma pinguela de três troncos e não demora muito atravesso a grande ponte pêncil sobre o Rio Ipiranga e chego à própria ruína da Casa do Ipiranga.

A casa do Ipiranga foi construída para ser morada do engenheiro chefe da ferrovia e depois serviu como clube de laser, até ser totalmente abandonada quando a ferrovia foi privatizada. Hoje só restam as paredes do que foi quase uma grande mansão, que contava até com uma enorme piscina feita de pedras. Aproveitei que os milicos pararam para lanchar, atravessei a linha de trem e interceptei a trilha do outro lado, escondida sob vegetação rasteira. A trilha sobe um pouco e depois nivela e então começa a descer de vez.

Agora sozinho, vou andando em silêncio e pensando nos coitados que perderam suas vidas construindo este histórico calçamento. Quantos escravos e muitos outros sofreram para trazer estas pedras até a trilha e depois montar este enorme quebra-cabeça. Estar trilhando este caminho é estar pisando em séculos de história do Brasil e também......sleeept, sleeeept , ....poooofttt !!! E lá fui eu com a cara no chão. É isso aí, o caminho do Itupava não é lugar pra devaneios e divagações. Se você perder a concentração vai acabar conhecendo a dureza da história com a bunda .

 

A trilha desce por dentro da mata até chegar a uma bela cachoeira, onde aproveito para fazer um lanche e logo sou ultrapassado pelos soldados. Retomo a caminhada, agora na traseira dos soldados. O caminho volta a subir e depois começa uma grande descida, íngreme e escorregadia. Que o diga o soldado 01, levantou as duas pernas pra cima e foi parar uns dez metros trilha abaixo, quase levando toda a tropa junto com ele.

Não demora muito chegamos à passagem do cadeado. Até 1770 só homens passavam pelo caminho, mas a partir desta data abriram uma passagem na montanha utilizando explosivos e assim deu se passagem para os animais de carga. Depois da fenda instalaram escadas de ferro para amenizar a grande descida até a linha de trem, onde foi instalado a capela de Ns do Cadeado. Antes de atravessar a linha do trem um dos socorristas enfiou a perna em uma fenda e ficou gritando de dor, por sorte não quebrou. Os soldados o carregaram até a capela para ver o que dava pra fazer com ele. Todos os soldados pararam para um novo lanche e eu segui enfrente pela trilha calçada e bem sinalizada. Logo encontro um bando de macacos fazendo a maior algazarra nas árvores. Chego de supetão a ponte sobre o Rio São João,enorme ponte pencil. Atravesso o rio e viro a esquerda me valendo de outras pinguelas de madeira até tropeçar na ponte pêncil do Rio taquaral. A trilha nivela e em pouco tempo chego ao seu final, que fica junto a uma escada de madeira que acaba direto na extreitíssima estradinha de terra.

 

A trilha calçada ficou pra trás. Foram mais de sete horas de caminhada por cima de grandes pedras lisas que aos poucos vai minando as energias da gente.A trilha é catalogada como semi-pesada, mas pra mim qualquer trilha de mais de 3 hora que se faça com uma mochila de quase 20 quilos é sempre hiper , super,mega, pesada. Meus pés estão destruídos, o tempo voltou a fechar e não demora muito vai desabar um temporal, por isso me apresso. Na estradinha subo para a direita e em meia hora dou de cara com a estação Engenheiro Lange. O “guardião da estação” me indica o caminho para chegar a estação do Marumbi.A trilha sai ao lado de uma pequena caixa d’água, sobe por um minuto e novamente encontro o trilho do trem,Viro a direita e ando por uns 50 metros .Atravesso o trilho e subo pela escadinha do outro lado e em 10 minutos passo por um riacho e logo chego na estação Marumbí. Enfrente dela encontro a sede do Parque Estadual do Marumbí.Sou muito bem recebido. Preencho um simples cadastros e sou logo encaminhado para o camping do parque.

Fique totalmente surpreso com o que encontrei. Na minha imaginação o Marumbi seria um lugar cheio de casas, com pequenos bares e área de camping. Mas não, o lugar é totalmente simples, pacato, bucólico. O único camping pertence ao parque e, pasmem gratuito. Com chuveiro de água quente e tudo. Um ótimo gramado, tudo bem organizado. Nem parece Parque Estadual.

 

Monto a minha barraca e enquanto minha janta cozinha, vou tomar um banho quentinho. O local está vazio,existe somente mais duas barraquinhas montadas por aqui e só na boca da noite uma galera vindo de São Paulo veio se juntar a nós .O Marumbi está totalmente encoberto pelas nuvens e ficamos torcendo para que o tempo melhore no outro dia para podermos escala-lo.Janto muito bem e as sete da noite me recolho para dentro do meu saco de dormir, afinal de contas foi um dia cansativo.

O dia amanhece encoberto, mas aos poucos as nuvens começam a se dissipar, empurradas pelo vento. O Marumbi aparece. Meu deus, como é gigante!!! Conheço uma centena de montanhas no Brasil e com certeza o Marumbi foi o que mais me impressionou. A visão da Torre dos Sinos por entre as nuvens é de assombrar. Eu sempre achei a visão do Dedo de Deus, na Serra dos Orgão-RJ,a mais incrível do Brasil, mas o Marumbí é espetacular.Olhando de baixo parece ser impossível chegar ao topo apenas caminhando. Não há foto que descreva a monstruosidade desta montanha hipnotizante.

 

Aproveito a companhia da galera gente boa de Sampa e sigo até a sede do parque para fazer o cadastro da subida. A nossa intenção é subir pela trilha frontal(fitas brancas) e descer pela noroeste(fitas vermelhas). A trilha frontal nos levará direto para o topo do Marumbí, conhecido como Olimpo. Saindo ao lado da sede ,fomos seguindo as fitas brancas. No começo a trilha tem pouca subidas e vai se enfiando mata a dentro até chegar a cachoeira dos marumbinistas , onde paramos para um gole de água fresca. Atravessamos o riacho e começamos a subir sem dó.

O nosso grupo é formado além de mim, por mais 8 pessoas, sendo dois meninos de pouco mais de dez anos, dois nativos parentes dos outros quatro paulistanos.

Narrar a subida até o topo do Monte Olimpo é ser repetitivo o tempo todo. Praticamente não há trilha é só escalada. È um tal de segura em árvore, segura em raiz, trepa em pedra, agarra em barranco, até que umas duas horas depois finalmente chegamos a uma grande parede vertical, onde descendo a esquerda se pode conseguir um pouco de água. Os garotos iam a frente firmes e fortes, sempre seguidos de perto por mim e pelos nativos, que sempre lhe davam segurança. Os meninos fizeram bonito, escalavam feito gente grande e se divertiam muito. Mas esta montanha não é brincadeira de criança não, muito provavelmente seja a montanha de maior inclinação de todo o Brasil. Em nenhum outro lugar encontraremos tantas proteções artificiais colocada em uma só montanha. São grampos , cordas , correntes, pinos, etc... O pessoal fez um trabalho realmente fantástico por aqui. Sem o trabalho destes bravos montanhistas ninguém chegaria ao topo sem o uso equipamentos de escalada.

 

Chegando, portanto a parede vertical, começa a subida das correntes e grampos. Quem tem medo de altura terá que voltar. O bicho pega de vez e todo cuidado é pouco, um descuido pode ser fatal. A garotada dispara na frente, doidas para atingir o Olimpo. Mas o tempo está fechado e eu não me animo muito e vou subindo aos poucos. Minhas pernas já estão em frangalhos devido à caminhada do dia anterior.

Pouco tempo depois ouço o grito frenético da garotada. Finalmente chegaram ao topo!! A chuva começa a cair quando chego na bifurcação e encontro da trilha frontal com a trilha noroeste. Pego para a direita , passo por uma grande fenda e ao meio dia e meia, atinjo o topo dos 1.539 do Monte Olimpo.

Faz um frio desgraçado, chove pra valer e infelizmente não consegui enxergar um palmo a frente do nariz. Eu poderia estar super decepcionado, mas quase duas décadas de montanhismo fez com que eu me acostumasse com isso. È um estímulo para voltar outra vez. No topo há um livro de cume e para não fazer concorrência a inúmeras mensagens religiosas, escrevo um palavrão blasfemando contra a montanha que não me deixou ver coisa alguma. Tiro algumas fotos do nada e começo a descida. Volto à bifurcação e envez de voltar pela frontal, prefiro descer pela noroeste, seguindo agora as fitas vermelhas. Aperto o passo e encontro novamente a galera e os garotos. Seguimos em nível por um tempo, mas logo começa desgraçadamente a descer. A garotada murchou com a chuva e o frio, parecem agora criançinhas de colo, precisam de ajuda para tudo. Na verdade nós todos estamos fragilizados com o mau tempo que nos açoita sem dó nem piedade. Há lugares tão íngremes pra descer que às vezes somos obrigados a abrir mão da corda que levamos. Tudo parece liso e perigoso com a chuvarada. Os músculos não respondem como antes. Vamos cruzando por penhascos e paredões arrepiantes, até chegarmos a uma espécie de caverna. Um monte de blocos empilhados parecendo formar uma grande passagem para outro mundo.

 

Segurando nas perigosas correntes, atravessamos o grande portal para descobrir que o mundo do outro lado era o mesmo mundo frio, gelado, molhado e perigoso de antes. Pelo que ouvi falar, havíamos chegado ao tal desfiladeiro das lágrimas. A minha vontade era mesmo de chorar. Fiquei parado no meio de umas correntes gigantescas, com um abismo liso embaixo dos meus pés. Naquele momento achei que já estava velho pra aquilo. Eu estava realmente sofrendo com tanto frio, mas quando olho pra trás e vejo os outros companheiros, alguns com a metade da minha idade, com um sofrimento ainda maior que o meu. Sigo enfrente decidido a não me entregar, pensando somente no banho quente e na comida, idem.

Vou pulando de pedra em pedra, de galho em galho,de corrente em corrente, de grampo em grampo, escorregando montanha abaixo, caindo, levantando, tropeçando, xingando, amaldiçoando, até que as cinco da tarde chego cambaleando no acampamento. Jogo a mochila no chão, tiro a minha roupa e me jogo pra debaixo do chuveiro de águas super quentes.

Meia hora depois começa a chegar o resto do pessoal. São uns fiapos de gente. Como eu, também foram trucidados pelo mau tempo da montanha. Arrastaram-se até o acampamento e chegaram em segurança, inclusive os garotinhos.

Banho tomado, fui preparar a janta. Grão de bico, macarrão instantâneo com pedaços de queijo defumado e suco de graviola. E de sobremesa, geléia de mocotó. Comi até não agüentar mais andar. Estendi o saco de dormir, entrei dentro e apaguei.

 

Lá pelas duas da madrugada acordo com o barulho ensurdecedor do trem de carga que vem descendo a serra. O estrondo é tão forte e tão alto que parece que o mundo está acabando. Só percebo que o apocalipse não chegou porque sinto um frio de doer e que eu saiba o inferno é bem quentinho. Lá fora a chuva não dá trégua. Dentro da minha barraca tem um palmo de água. Estou molhado dos pés a cabeça. Surpreendentemente desta vez a culpa não é da barraca, mas toda minha. Montei minha casa em um buraco e agora eu estava pagando pela minha burrice. Mesmo assim não me animei em enfrentar o temporal para mudá-la de lugar. Logo o sol nasceria e com ele viria um novo dia, um dia quentinho para alegrar a alma, porque as coisas ruins não durão pra sempre.

Enfim o dia amanhece não tão quente, mas não chove mais. Ponho tudo pra secar e enquanto a água do café ferve, vou desmontando a barraca. A intenção é pegar o trem das 10h30min para Morretes . Eu estava afim de ir conhecer umas das maiores atrações da região. Eu poderia caminhar umas duas horas até a vila de Porto de Cima e de lá pegar o ônibus, mas meus pés estão em carne viva. A descida do dia anterior me deixou no bagaço e a melhor solução seria mesmo o trem histórico. Seria também a oportunidade de conhecer um pedaço de um dos símbolos da engenharia ferroviária mundial, a Ferrovia Curitiba-Paranaguá, construída ainda no tempo do império.

Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem.

Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon.

Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem .......

Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais.

Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar..................

 

Um dos amigos da capital ficava cantarolando esta música do Raul Seixas, toda vez que um dos trens passava. Eu me sentei no chão da estação e fiquei acompanhando o espetáculo das montanhas do Marumbi (montanha azul, em tupi) que conforme o vento soprava aparecia e desaparecia. A grandiosidade da imagem realmente não é possível descrever. Aquela foto de propaganda com a estação e as montanhas acima é ridícula. Pessoalmente tudo é gigantesco, encantador, surpreendente e pensando bem, o próprio maluco beleza poderia ter escrito a musica sentado na estação.

O trem chega à estação às 10h30min em ponto e quando pára, somos alvo de dezenas de fleches das fotos tirada pelos passageiros. Viramos atração turística. Parece que todo mundo queria guardar uma recordação dos maloqueiros de mochilas enormes nas costas. Mas quando subimos a bordo e o “povo branquinho” de olhos azuis, que acendem suas lareiras com notas de cem, nos viram, fizeram uma cara de nojo e de reprovação. Afinal eles pagaram passagem de primeira classe e não esperavam passar por isso. Sem nos importarmos muito, nos acomodamos em nossos bancos e fomos curtindo a viagem, até que o trem chegou à minúscula Morretes.

 

Despedi-me dos novos amigos de São Paulo e segui para pequena rodoviária a fim de comprar logo minha passagem para Curitiba. Escolhi um horário na parte da tarde, pois queria conhecer a cidadezinha e sua maior atração. Voltei para estação de trem e entrei no pequeno restaurante e pedi logo o tal de barreado, talvez a maior atração gastronômica do sul do Brasil. Eu estava faminto, mas nem se tivesse passado um mês sem comer, teria conseguido ingerir tudo aquilo. Bolinho de peixe, maionese, torrada, vinagrete com frutos do mar, patê sei lá do que, laranjas, bananas, farinha, arroz e claro, o barreado, que era várias carnes e muitos temperos cozido por 12 horas até se desmanchar e a tudo isso se juntava três colheres de farinha de mandioca, formando uma mistura de aspecto horroroso e gosto delicioso. A comida dos escravos que virou coqueluche internacional, um símbolo da Serra do Mar paranaense. Comi tanto que sai transando as pernas e então me arrastei até a rodoviária onde embarquei às 16 horas, via Estrada da Graciosa, outra grande atração da região, chegando à noite na capital do Paraná e de lá embarquei para São Paulo.

 

E foi assim que transcorreu mais uma viagem pelas incríveis paisagens da Serra do Mar paranaense. Provando mais uma vez que ainda é possível se surpreender com a nossa Mata Atlântica, mesmo depois de dezenas de trilhas e travessias por esta que é sem dúvida um dos grandes ecossistemas do mundo. E ainda ficou aquele gostinho de quero mais e a promessa de voltar com um tempo um pouco mais favorável para poder sentar no topo daquela fantástica montanha. E avistando lá de cima o mundo medíocre, consumista e egoísta em que vivemos, poder ter a certeza de que estamos trilhando um caminho diferente, um caminho de volta ao passado, de volta a história, de volta as nossas origens, de volta a um tempo em que éramos livres para sermos nós mesmos, um tempo em que ainda podíamos ousar, sem medo de ser feliz.

 

Divanei Góes de Paula – Julho/2010

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Obrigado, Vivi !!!

Infelizmente peguei o Marumbí meio fechado e não pude tirar aqueles fotos de cume que todos nós esperamos tirar.

O restante das fotos estão postadas na minha paguina do orkut : É so procurar Divanei Goes de Paula. Um abraço.

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