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Pico do Paraná - 17 a 19/07/08 - à noite e de rede!


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- merda! - foi o que falei pra mim mesmo ao sentir a dor na perna esquerda. eram quase nove da noite, ventava pra kct, tava escuro pra kct, e eu estava subindo um paredão de pedra. minutos depois eu percebi que tinha distendido o músculo da coxa esquerda. mas para chegar ai, as coisas já tinham se complicado bem antes. vamos ao início.

 

foi na quarta à tarde, dia 16 de julho, que eu percebi que teria 3 dias pra ir pra alguma montanha. desde que eu saísse na mesma noite. descartei a travessia petrô-terê: ainda não tenho o mapa. descartei tabuleiro-lapinha: perderia muito tempo até chegar lá e tb pra voltar. e pq não o pico paraná? fácil orientação, conforme as informações que eu já tinha pego, seja pela revista do beck, seja pelo croqui que o augusto (grande augusto!) havia passado no seu relato.

 

cheguei em casa lá pelas 10 da noite de quarta, montei a minha mochila o mais rápido possivel, catei o que havia na despensa (por sorte dois dias antes eu tinha comprado umas coisas que achava que poderia usar caso fosse fazer uma trilhinha básica no final da semana).

 

tudo montado, pesando cerca de 11,5 kg, isso com comida pra 4 dias (3 pra perambular e um pra me perder - ou comida extra pra passar pra alguém ou pra comer em caso de excesso de fome mesmo....).

tava ansioso pra experimentar equipo novo:

 

mochila conquista alpina de 70 litros levíssima

saco de dormir da quéchua de 670 gramas

rede + toldo que eu mesmo fiz

espiriteira(s) feitas por mim, etc.

 

fui todo pimpão pra rodoviária, crente que tinha ônibus pra curitiba lá pela 1 da manhã. cheguei na rodoviária às 0:35 de quarta pra quinta, fazia 15 minutos que saíra o último bumba pra ctba, aliás, lotado. o próximo, às 6 da manhã. como tava com preguiça de voltar pra casa, cochilei na rodoviária mesmo. e entre um cochilo e outro eu rememorava a lista de equipos - e então me toquei que não tinha pego o cantil flexível. mas sem problemas: garrafas de água mineral existem pra isso.

 

o ônibus saiu pontualmente às seis da manhã, e me deixou no km 46 da br quase à uma da tarde. e o imbecil carregava então +3,5 litros de água, comprados na parada de ônibus. devia era ter comprado garrafas vazias!

 

andei até a sede da fazenda pico paraná. o km 46 da br fica logo após a ponte do rio tucum. pra quem vem de são paulo, o rio é logo após a represa, tanto que o beck na revista dele fala que é o último braço da represa. rente à ponte há uma estradinha, é só seguir, e andar, e andar, e andar, seguindo as placas, que indicam "fazenda rio das pedras" - as placas "bruno" que o beck e o augusto viram há algum tempo não existem mais. sigam as placas "fazenda rio das pedras" até o final e então vcs cairão na entrada da fazenda pico paraná! lógico, né? :lol:

 

eram duas da tarde quando cheguei à sede da fazenda. conversei durante um tempinho com o pessoal ali, e já fiquei sabendo que os rios lá pra cima estavam praticamente todos secos, sendo a última fonte de água segura a bica.

 

eram duas e 20 quando efetivamente comecei a trilha. fazia um sol de rachar. o início da trilha é logo após uma porteirinha, existente para que os bichos da fazenda não andem pela trilha. por bichos da fazenda entenda-se meia dúzia de cavalos xucros e mansos, que ficam o tempo todo soltos.

 

a trilha vai ascendendo, morro acima. olhar pra trás nessa ascensão, vale à pena: em pouco tempo se tem vistas lindas da fazenda e da represa tb. subi numa pedraria pra umas fotos, vi do outro lado uns grampos "p" novos colocados - ali o pessoal da conquista montanhismo tá abrindo uma via de escalada.

 

imagem+1.jpg

 

subimos esse primeiro morro, continuamos andando e logo entramos na mata que antecede e circunda o caratuva. a vegetação vai ficando mais alta, e o caminho mais cheio de "degraus", pedras e etc. bom, eu não tinha dormido quase nada na noite anterior, portanto, cansado, subia lento. estava sem pressa. eram 5 da tarde quando cheguei à bica. enchi a garrafa de água que tinha bebido, mantive os outros dois litro de água que carregava e continuei com 3,5 litros de água nas costas. a partir da bica a trilha vai ladeando o caratuva.

 

essa parte é um tanto pesada. não tem grande ascensão, mas é muito irregular. desníveis de 2 ou 3 metros são comuns, que se sobe e desce apoiando-se em pedras, galhos e raízes. muitos eram leitos de riachos secos. então é uma parte que exige muito do físico. às 5:30 da tarde eu passei por uma miniclareirinha que seria ideal pra montar a rede, pensei uns 30 segundos em ficar ali, mas desisti. foi uma burrada.

 

logo depois eu já tava precisando usar a lanterna de cabeça pra continuar adiante. uma grande imensa lanterna de cabeça de 30 gramas e um só led! ou seja, não muita iluminação...

 

ali, em razão do cuidado, o andar se tornou mais lento. lembrando, eu estava só. quando faço essas coisas sozinho o nível de atenção dobra: uma coisa é quebrar o pé quando se está em grupo, pois os colegas podem ajudar nos primeiros socorros e carregar parte da sua tralha. mas sozinho?

 

então eu fui tateando a trilha. o que pode parecer muito difícil, mas não é, pois a trilha está bem marcada. é só prestar atenção. e claro, pra ajudar, tinha a imensa lua cheia....

 

após costear o caratuva, cheguei à crista (selado) que o liga ao morro do pico paraná. até então caminhava de bermuda e camiseta, suando pácas. mas o vento forte e frio me fez rapidamente colocar as pernas da calça-bermuda e vestir um fleece.

 

por sinal, parei pra fazer isso num local com uma clareirinha. no outro dia percebi que ali era o "abrigo 1" - de abrigo não vi nada, a não ser a posssibilidade de armar algumas barracas em clareiras relativamente planas, mas clareiras varridas pelo vento forte. marquei bobeira, poderia ter bivacado ali, atrás de alguma pedra, que estaria relativamente protegido do vento.

 

eu passei adiante do acampamento 1. continuei andando, andando, descendo a crista, até que chego efetivamente ao pico paraná.

 

era noite, como já falei, e ali a lua estava escondida atrás do PP, eu contava apenas com a iluminação da lanterninha. vejo o paredão, olho pra cima...

 

imagem+2.jpg

 

a uns 3 metros de altura, vejo os degraus de metal colocados na pedra. mas, até lá, uma parede relativamente lisa, quase 90 graus de inclinação, poucas rugosidades, portanto, poucas agarras. eu não sou escalador, mas sabia que teria que subir por ali.

 

tateando, fui achando agarras, me prendendo pela ponta dos dedos, pela ponta dos pés. quem escala, escala de sapatilha, e eu com uma grande bota de trilha.

 

foi o meu erro.

 

na base, atrás de um arbusto, na lateral direita dessa "via", havia uma série de degraus de pedra, com inclinação entre 45 e 60 graus. muito mais fácil. mas, no escuro, não vi.

 

imagem

(observem, na imagem acima, que a parte de baixo do paredão apresenda duas "vias". a da esquerda foi a que fiz, a da direita é mais suave)

 

e subi pelo paredão até achar os degraus de metal. no trecho sem os degraus, percebi que não dava pra me segurar nas poucas touceiras de mato da lateral, soltas. o vento batia na cargueira e me desequilibrava. um dado momento, achei apoio para a perna esquerda num degrauzinho de pedra muito alto. subi bastante a perna, consegui apoiar a ponta do pé esquerdo, fiz um esforço com a perna esquerda. com o impulso peguei o primeiro degrau de metal. mas o impulso com apenas uma perna resultou numa distensão muscular.

 

não deu 30 segundos pra eu começar a sentir a dor na perna esquerda.

 

terminei de subir aquele paredão e a trilha já se tornava "andável". andei sentindo pouca firmeza na perna esquerda, até que a trilha desceu um pouquinho pra passar numa leve baixada/cova (provavelmente um leito seco de algum riozinho), meio encoberta do vento por árvores.

 

sentei numa pedra pra massagear um pouco a perna esquerda e decidi ali mesmo armar minha rede.

 

ali passei a noite. no dia seguinte perceberia que estava a menos de 10 minutos de caminhada do abrigo 2. eram exatamente 9 horas da noite quando resolvi parar ali.

 

abri a mochila e peguei a caixinha de primeiros socorros pra tomar uma dose cavalar de anti-inflamatório. a dor passou logo. resolvi subir um pouquinho da trilha pra ver se avistava alguma árvore mais pra cima, mas subi um pouquinho, percebendo que a perna estava fraca. resolvi ficar naquela baixada.

 

tive apenas que quebar um galho seco entre duas árvores pra poder armar minha rede. devo ter levado cerca de 2 minutos pra montar a rede, mais uns 3 ou 4 pra montar o toldo.

 

o toldo quadrado foi montado na diagonal, sendo que um dos lados, atrás da rede, eu desci na vertical e coloquei a mochila com a tralha em cima da ponta, fazendo com que o toldo tivesse uma parede quase vertical contra o vento que se infiltrava pela vegetação.

 

rede.jpg

 

estava relativamente bem protegido da ventania.

 

daí, com calma, com a calma de quem passara a noite anterior numa rodoviária e a outra noite de dois dias antes num ônibus (sim, há mais de 48 horas eu não dormia numa cama), eu resolvi fazer o meu jantar....

 

foi a refeição noturna mais deliciosa que já comi.

 

um saquinho de suco em pó dissolvido numa garrafa de água.

 

o miojo foi feito na canequinha em cima da espiriteira. misturei uma latinha de atum com molho de tomate. comida prosaica, mas comida como um manjar divino, sentado numa pedra, tomando suco de manga.

 

miojo.jpg

(miojo feito na espiriteira)

 

ajeitei o isolante térmico dentro da rede, estiquei o saco de dormir, e dormi........

 

o vento às vezes balançava muito as pequenas árvores, o que acabava por balançar a rede, então às vezes eu acordava. mas não balançava demais, eu montei a rede bem próxima ao chão. o vento tb chacoalhava o toldo, e o plástico fazia barulho. mas mesmo assim, vencido pelo cansaço, eu dormi.....

 

dormi até quase oito horas da manhã, e só acordei pois o despertador do celular tocou. queria ter acordado mais cedo, pois eu acampara bem no meio da trilha, não queria atrapalhar o caminho de ninguém.

 

mas mesmo assim tomei o meu café da manhã, uma grande caneca de café com leite, bolachas, uma barrinha e um mini bolo de rolo que eu comprara no pão de açucar, em são paulo. depois olhando a embalagem eu vi que o mini bolo de rolo tinha apenas módicas 317 calorias!

 

devo ter ingerido quase 600 calorias só no café da manhã.

 

arrumei a mochila e arrisquei subir um pouco mais. acabei subindo a trilha apenas até o abrigo 2. a perna esquerda doía, e não tava muito firme, falhava um pouco na pisada.

 

no abrigo 2 havia uma barraca montada dentro do mesmo, entre as paredes. conversei com o pessoal que acampava ali.

 

imagem+5.jpg

 

descansei um pouco, tirei umas fotos, tomei um pouco de água. tinha ainda 2 litros, mas não havia água por ali.

 

fiquei olhando o cume do PP, pensando se valeria à pena subir. eu me cansaria muito subindo e descendo, e teria que voltar à sede da fazenda apenas no outro dia. não havia água por ali. e tinha que fazer todo o caminho de volta com a perna esquerda meio bamba, meio fraca.

 

ponderei bem, e resolvi voltar dali. o PP não fugiria de mim, poderia voltar outro dia, com calma.

 

voltei com toda a calma do mundo, até pra não sobrecarregar a perna boa, a perna direita, dali em diante mais exigida. no plano eu andava quase que normalmente, mas a cada degrauzinho.... a esquerda falhava, não dava muita firmeza.

 

fui descendo a trilha. cheguei ao paredão da noite anterior, desci os degraus de metal, e no trecho sem degraus, não tive dúvida: joguei a mochila pro chão, e desci cuidadosamente.

 

embaixo me aguardava um grupo de 4 rapazes que subiam naquele dia. perguntaram se só havia aquela via, e um deles achou a outra via bem mais fácil ali do lado, atrás da moita..... me senti um idiota, mas o estrago estava feito.

 

fiz todo o caminho inverso, com traquilidade. tinha o dia inteiro pra voltar. fui dosando os passos, atentamente, tranquilamente. afinal, minha mochila tava com pouco mais de 10 kgs apenas (e poderia estar mais leve, se eu não tivesse levado comida pra 3 dias e meio). parei diversas vezes pra dar uma sentadinha e passar um gelol na perna, e tomar um golinho de água. fui curtindo a trilha, numa tranquilidade quase zen.

 

imagem+3.jpg

(vista do caratuva a partir do PP)

 

eu.jpg

(eu, com dor, afastando ao máximo a cara da máquina fotográfica, com o caratuva ao fundo)

 

eram cerca de 12:30 quando eu cheguei à bica. parei ali, pra pegar água e fazer um almoço.

 

outro miojão, com molhinho de camarão (o pozinho). furukaki (um tempero japonês) e uma lata de atum ao molho de alho e óleo. melhor miojo da minha vida. um momento zen....

 

desci o resto da trilha. cruzei com diversas pessoas que subiam naquela sexta à tarde - provavelmente curitibanos começando o final de semana mais cedo.

 

um pai levava os dois filhos (o mais velho com uns 10 anos, o mais novo com uns 7) trilha acima, com uma calma de monge budista, ele carregando uma imensa mochila de uns 90 litros, e os dois piás com mochilinhas.

 

alguns casais.

 

já quase chegando à fazenda um pai com o filho adolescente me pergunta sobre água lá no PP. a mochila era uma mont blanc de uns 15 ou 20 anos atrás.

 

o PP me parecia um local de reunião de antigos trilheiros naquela sexta feira ensolarada, que me proporcionou vistas excepcionais.

 

pouco depois das 3 da tarde cheguei à sede da fazenda. conversando com a esposa do seu dilson descobri que tinha um bumba passando na estrada às 15:30 (impossível de pegar, portanto), e outro às seis e meia da tarde. resolvi pegar este.

 

assim tomei um banho quente gostoso, tomei uns refrigerantes geladíssimos que eles vendem ali, brinquei um pouco com um dos cavalos que ficam soltos, uma égua que insistia em cheirar minha mochila. depois descobri que ela gosta de receber comida dos visitantes, e quando se mexe num pacote e não se dá nada a ela a mesma retalia com um coice..... uma égua sem raça linda.

 

às 15 para as cinco saí da fazenda, pegando a estradinha no retorno. em pouco tempo peguei uma carona num trator, que me permitiu não andar por cerca de 1/3 do caminho do retorno. andei o restante e cheguei á estrada às 18:15. os leves aclives me faziam doer a perna....

 

eram cerca de 18:30 quando o ônibus passou e... não parou! estava cheio, provavelmente.

 

fiquei uma meia hora pensando no que fazer. esperar ali por outro ônibus, voltar à fazenda, caminhar até o posto tio doca, distante uns 2 kms. voltar à fazenda e pernoitar significava andar aquela estrada de terra de novo. e novamente no outro dia - ou seja, acrescentar uns 4 kms de andada com a perna doendo. esperar outro ônibus ali no escuro me pareceu não muito inteligente.

 

andei os dois kms até o posto tio doca pedindo carona e pensando na possibilidade de ao menos conseguir informações sobre outro ônibus que me levasse a curitiba, ou uma carona até lá. chegando ao posto descobri que o ônibus que não parara era o último do dia.... carona não consegui, optei por pernoitar num dos quartos do "hotel" do posto.

 

este "hotel" nada mais é do que alguns quartos que são alugados. duas ou 3 suítes (com uma cama de casal e uma de solteiro) e quartos com duas camas de solteiro e banheiro coletivo. estas vagas estavam lotadas, acabei pagando os 40 reais que me cobraram por aquele quarto com banheiro. ao menos era limpo, e a televisão funcionava com alguns canais.

 

deu para tomar um outro banho quente, passar um emplastro na perna, tomar um relaxante muscular e um anti-inflamatório. desci pora comer alguma coisa na lanchonete do posto, bati papo com uma garçonete que mora na vilinha do outro lado da estrada... dizia ela que seu sonho é subir o pico paraná, mas tem medo e nenhuma companhia pra fazer isso. queria saber se não dava pra fazer isso em apenas um dia, sem ter que acampar.... uma outra garçonete contou que há alguns meses passou por ali um pessoal que ia pular de asa delta de não sei onde, e tinham prometido levá-la da próxima vez.... perguntei quando seria, e ela me disse, com os olhos esperançosos, que não deixaram telefone, mas que ela sempre esperava ver aquele pessoal entrando ali na lanchonete....

 

fiquei com um pouco de pena das duas. repetem a história de tantas moças simples mas sonhadoras desse brasilsão. gente às vezes presa a um trabalho ingrato e mal-remunerado, a um cotidiano fatigante e repetitivo, simultaneamente tedioso e esgotante... gente que dificilmente poderá, por exemplo, freqüentar um fórum como o http://www.mochileiros.com" onclick="window.open(this.href);return false; - se não lhes falta a internet (que, na verdade falta sim), falta-lhes muitas vezes aquele grau de formação que permite processar a informação disponível. são essas pessoas que, se e quando ascendem um pouco monetariamente, viram os clientes das CVCs da vida. das viagens a porto seguro em 10 parcelas de 98 reais....

 

fiquei bem uma meia hora explicando à moça que tinha sonhos com o pico paraná que era fácil chegar ali na fazenda pico paraná, que ela poderia ir com algum colega que já tivesse ido ou com alguém da fazenda mesmo e fazer um passeio de um dia, pra sentir um gostinho... recomendações do tipo "vai com alguns amigos, um agasalho, um bom tênis, um lanche e uma garrafa de água na mochila, vcs podem ir subindo a trilha, andar até o meio dia.... daí pára, faz o piquenique, descansa um pouco, e volta..."

 

bom, subi ao meu quarto e tentei ver um pouco de tv mas capotei de sono. dormi pesado, até o momento em que o celular despertou-me. com o estômago recheado por muito café e muito pão com manteiga na chapa, antes das 7 estava no ponto de ônibus na frente do posto esperando o bumba que deveria passar às 7 horas. passou às 7:25. fiquei conversando com moradores locais que me explicaram que tentar pegar o último bumba do dia é loucura que ele já costuma passar cheio ali, e tb que seu horário oscila, às vezes tb passando mais cedo do que o habitual. conversávamos fustigados por um vento frio, cortante. a temperatura estava bem baixa, com certeza.

 

8:10 eu estava na rodoferroviária de curitiba, e às 9:00 hs do sábado eu embarcava de volta para são paulo. no ônibus ao meu lado veio uma moça bonita e muito alta, que ao saber o que eu tinha feito naqueles dois últimos dias não se conformava com apenas dois detalhes: a) pq eu não fui com uma turma de amigos; b) pq eu não levei um MP3, pq andar dois dias sem amigos e MP3 é algo assim... inviável!!!!!!!!

 

como explicar que é gostoso dormir sentindo o vento uivar? ou olhar as estrelas? ou "conversar" com a mata? que é gostoso ver o nascer ou pôr do sol em silêncio? que há algo de zen em andar em trilhas acidentadas, que a nossa percepção de mundo muda nesses locais?

 

o mundo trilheiro é um mundo zen, longe daquela pressão cotidiana, seus valores são outros. um miojo pode ser um manjar divino, uma meia seca é o supremo conforto e a bebida mais deliciosa do mundo é a água gelada que mina no meio das pedras na encosta de uma montanha.

 

assim que eu puder eu volto ao pico paraná.

 

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vamos à parte técnica.

 

fazenda pico paraná: chega-se a partir de uma estradinha que sai imediatamente após (pra quem vem de sp) ou antes (pra quem vem de curitiba) a ponte do rio tucum. km 46 da BR.

 

valor de entrada: 5 reais. há um abrigo simples: um real. com espaço pra esticar seu saco de dormir e um banheiro com chuveiro quente.

 

pode-se tb dormir em camas, na casa do seu dilson, por cerca de 5 reais. apenas avise e reserve antes.

 

há como estacionar carros lá. valor: 5 reais. e há tb uma área de camping na entrada, e outra pequena área depois de uma hora de subida na trilha.

 

não alimente os cavalos que andam soltos. a égua castanha, linda, e tão "amistosa", na verdade não quer apenas os seus cafunés, mas tb comida. e dá coices se vc mexer em pacotes e não der nada a ela. então, apenas faça um cafunézinho e mande-a embora. detalhe, ela adora coca-cola.

 

--------------------------------

 

vamos à parte técnica do equipamento - obrigação de editor de equipos, né?

 

mochila utilizada: uma conquista alpina de 70 litros. comportou-se muito bem, é leve, será de agora em diante, para esse tipo de mochilada, a minha mochila preferencial.

 

isolante: curtlo. foi dentro da mochila, semi enrolado, com a tralha dentro dele.

 

fogareiro: espiriteira feita por mim. mais detalhes colocarei, com fotos, no sub-fórum das espiriteiras.

 

barraca: não usei. substituída por rede com mosquiteiro integrado. peso: 550 gramas, somando-se rede, mosquiteiro e cintas de amarração nas árvores. mais detalhes colocarei no sub-fórum das redes

 

toldo: 2,70 por 2,70, formato catenário, em lona plástica preta, com cordeletes de amarração mamut, de 2 mms de espessura e 2,5 m de comrpimento. peso total: 375 gs. mais detalhes no sub-fórum dos toldos, em breve.

 

cantil: esqueci, foram garrafas pet de água mesmo.

 

no mais, equipo normal: botas, calça-bermuda, fleece, camisetas, gorro, e etc.

 

mochila com peso médio de 11 kg, durante a trilha. isso com comida pra 3/4 dias.

 

fotos em breve.

 

:mrgreen::mrgreen::mrgreen::mrgreen:

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Parabéns Ogum! Pelo relato e pela aventura.

 

Todo trekking tem que ter perrengue, mas não precisava exagerar.

 

Duas coisas que me chamaram a atenção: 11,5 Kg para 4 dias, solo, é muito pouco peso. Vc inflou um balão de Hélio dentro da mochila?? Por que vc subiu tanto o PP no 1º dia se tinha apenas uma rede (em toda a subida tem árvore para armar a rede?).

 

O relato é valioso para quem quiser fazer a trilha pela 1ª vez, como é o meu caso. As fotos são bem ilustrativas.

 

Sobre a Peterê, saiu o livro “Trilhas de Petrópolis” do Waldyr Neto, com ótimo diagrama da trilha. Do Bonfim até o Açu é tranqüilo.

 

Boa sorte na próxima tentativa. A sua decisão foi acertada. O Paraná continua lhe esperando.

 

Peter

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hehehe peter!

 

na verdade, em todo o percurso costeando o caratuva dá pra armar rede. no PP porpriamente dito, acho que só no local onde armei precariamente.

 

quanto ao peso, eu dessa vez me esmerei na contagem de gramas. escolhi tudo pelo mais leve meeeeeesmo!

 

inté!

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  • Membros de Honra

peter, completando a resposta:

 

quanto ao equipo, eu virei contador de gramas. mochila de 1,2 kg apenas. saco de 670g, toldo+rede de menos de 1 kg, sisteminha de cozinha pesando menos de 200 gramas (apenas uma caneca de 800 ml, que serve pra tomar café e pra fazer miojo). mas há outros detalhes pequenos. por exemplo, de gel dental levei apenas cerca de 25 ml num potinho de 30 ml (aqueles de remedinho de pingar - o de colírio costuma ter 60 ml). escova de dente infantil pq é menor e mais leve. desodorante pela metade pq assim era mais leve. apenas um toco de sabão de coco pra banho/shampoo, outro toco pra lavar a panela. essa era toda a minha nécessaire....

calça: uma no corpo e outra bem leve na mochila. camisetas escolhidas pelo peso. dois fleeces (poderia ser um só). calçado só a bota no pé.

só comida leve: miojo (4), duas latas de atum, dois pacotes de bolacha recheada. dois mini-bolos de rolo (não muito pesados e uuuuuuultra-calórico). dois pacotinhos de sopa de uma porção cada. 4 pacotinhos de furukaki (uns 10g cada). 3 barrihas pequenas de chocolate. 4 mini-torrones. 4 barrinhas diversas. uma lata de café com leite em pó já adoçado (um troço que eu consumo muito). 3 pacotes de suco. 1 pacote pequeno de castanha de caju e um pequeno de amendoim. lanterna de cabeça de 30 gramas apenas (acho que o peso é proporcional à iluminação, pelo relato vc viu que faltou luz...). 3 isqueiros mini-bic. um canivete victorinox handyman. um facão corneta de 10 polegadas. e mais outras miscelâneas (cuecas, meias, luvas, gorro, óculos de sol, protetor solar, etc).

 

de equipo fixo (saco, mochila, rede, isolante, kit cozinha/fogareiro) eu mal passei de 4 kg apenas. esses costumam ser os equipos mais pesados.

 

detalhe: metade da comida voltou intacta, pq fiquei menos tempo.

 

 

quanto ao roteiro, o croqui que o augusto colocou no relato dele tá ótimo. é aquilo mesmo. só tem que se começar o caminho bem cedo que não tem erro, é tranquilo, é só não fazer a besteira que fiz de começar tarde ou não querer parar no meio do caminho.

 

eu vou procurar esse livro aí. valeu pela dica! :mrgreen:

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  • Membros de Honra

Beleza!

 

Parece que você está ficando adepto do superultralightweight backpacking. Daqui a pouco vai comprar uma escova de dente ultraleve com um dedal, assim o dedo substituiu o cabo!

 

Por sinal, acho que devia ter um tópico “lightweight backpacking”(não sei como ficaria um título equivalente em português) em Equipamentos, para trocar idéias.

 

Geralmente, com o tempo, a experiência substitui o peso.

 

Que mochila é esta da Conquista, de70 litros, que pesa só 1.200 gr?!?

 

Não sentiu frio na montanha com a rede? Dizem que o maior desafio de dormir em rede é o frio. Perde-se muito calor por convecção. Parece pouco o saco de dormir com apenas 670 gramas.

 

A rede é uma boa solução para o peso. Mas a minha primeira experiência com rede foi um fracasso. Escolhi mal e uma das árvores quebrou durante a noite. A rede Kampa rasgou contra uma rocha na queda. Assim não deu para armar a rede em outro lugar. Tive de dividir a barraca de um só lugar com um colega. Além do sentimento de ter causado um ato antiecológico. Isto foi na cachoeira da Capivara, na Fumaça por baixo, aqui na Chapada.

 

Abraço, Peter

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  • Membros de Honra

E aí Ogum.

 

Que azar vc deu hein.

O problema da perna e perder o onibus. Tudo de uma vez só.

 

Mas é como vc disse: o PP vai estar sempre lá.

O ideal p/ vc fazer essa trilha sem problemas, é tentar acampar no Abrigo 1 (que na verdade é só um descampado) ou qdo vc começa a contornar o Caratuva. Ali tem alguns bons pontos de camping e bem protegidos. E no dia seguinte vc faz o ataque ao PP e ainda dá p/ retornar e passar no Caratuva. Isso se vc não quiser acampar no topo do PP.

 

Mas boa sorte na próxima e o relato tá bem legal.

 

 

Abcs

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