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Serra da Comunidade... a pé!


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ATRAVESSANDO A SERRA DA COMUNIDADE

A Comunidade é decididamente a Machu Picchu de Paranapiacaba. As inúmeras trilhas da vila inglesa td levam a um dos seus maiores mistérios, no caso, um punhado de gdes pedras amontoadas no alto da serra das quais há muita controvérsia c/ relação à sua origem. Antiga seita religiosa? Remoto abrigo riponga? Refúgio pra perseguidos pela ditadura ou mero acampamento dos colonos da região? Não se sabe, o fato é q as ruínas estão situadas no alto de um serrote cuja estreita crista se espicha sentido sudoeste, possibilitando uma caminhada por td sua extensão ate alcançar as gdes torres em sua outra extremidade. Pernada curta e algo perrengosa, onde à semelhança da Travessia da Serra dos Poncianos (SFco Xavier) o bom senso e uma bússola são mais q suficientes pra unir dois dos maiores atrativos da pitoresca vila inglesa.

 

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Uma inconveniente dor-de-cabeça devido à ressaca da noite anterior me segurava às cobertas e a tentação de “dar cano” à trip falava alto. Tb pudera, o sábado havia sido bastante movimentado e regado a bebedeiras entre encontro com sobrinhos e uma longa noitada com amigos. O dilema do bom trekkeiro sempre diz q ou se curte o dia ou a noite, e comigo nunca foi diferente. No entanto há exceções, claro. E elas vem no formato da promessa de um domingo escancaradamente maravilhoso e de bom tempo. Dane-se a ressaca, “Engov” nela. Como me conheço bem, prefiro me arrepender do q fiz ao q deixei de fazer.

Sendo assim e meio cambaleante de tão sonolento q tava, eu e o Clayton saltamos em Paranapiacaba as 9hrs. A manhã fria era gentilmente agraciada por um sol lindo começando a espiar atrás do enorme serrote q guarda e é o sentinela q guarda a vila a seus pés. Por falta de informações chamei esta sucessão de morros de “Serra da Comunidade”, uma pequena cadeia q se estende sentido sudoeste, onde destoam torres de telefonia (ou televisão ou radio, sei lá) apontando prum céu azul despido de qq nuvem. Poderia chamá-la de “Serra das Torres”, mas optei pela primeira alcunha em função q numa de suas extremidades se encontra uma das maiores atrações e mistérios da vila inglesa. E é pra la q nos dirigimos agora.

 

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Após conversar rapidamente com a simpática Dna Francisca e subir até o cpo de futebol, dobramos à esquerda tomando uma rua q nos leva à Estrada do Taquarussu. Antes, porem, uma pausa num "mirante" de onde se tem uma bela paisagem da vila, do outro lado da serra. Na estrada e após passar pelo portal q oficializa nossa entrada ao Pq Natural Nascentes de Paranapaicaba, palmilhamos s/ pressa em meio à farta e exuberante vegetação q orna aquele bucólico caminho, principalmente belos exemplares de lírios-do-brejo, ipês, quaresmeiras e lírios. O clima de descontração geral é tamanho q nem percebemos passar pela guarita local, logo depois, onde o único guarda responde cordialmente nosso aceno de "bom dia!".

A caminhada é agradável e não demora pra deixarmos a estrada em favor de uma picada pela esquerda, onde o Clayton me leva a uma tal “Cachu dos Namorados”, onde se chega em menos de um minuto. De cachu não tem nada uma vez q é uma captação de água onde um cano despeja o precioso liquido q vem do alto da serra. Pode não ser uma grandiosa queda dágua como anuncia o nome, mas é uma boa alternativa perto da vila pra se refrescar ou molhar a goela num dia de sol quente.

Voltando pra estrada damos continuidade à pernada e num piscar de olhos nos vemos já na região do Circuito da Água Fria, as 9:30. Abandonamos a estrada e, através de uma picada bem batida, acompanhando o plácido córrego da Água Fria, ora de uma margem ora de outra, saltando de pedra em pedra ou beirando a mata ciliar do entorno, subindo imperceptivelmente. No caminho, o Clayton me mostra onde numa ocasião ele e uns amigos encontraram um cadáver jogado no bucólico córrego. Credo.

 

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Após percorrer algo de 1200m, as 9:45 alcançamos a tal Cachu Água Fria, q nada mais é uma pequena queda onde um córrego despeja sua agua por uma laje vertical de uma altura um pouco maior q 2m, reluzindo os poucos raios q penetravam atraves da copa do denso arvoredo. Uma pedra na base ostenta “inscrições burrestres” q algum fenício irresponsável tentou passar pra posteridade, infelizmente. Verdade seja dita: esta é uma queda bem modesta se comparada às gdes cachus do entorno da vila, principalmente as q integram seus vales mais afastados. Mas q se tenha em mente q esta “cachu” aqui é um atrativo à mão de qq mortal, q não demanda maior esforço. E a mata q a emoldura abriga inúmeras nascentes onde se pode observar gde variedade de espécies da Mata Atlantica.

Pois bem, do final da picada da cachu observamos uma outra subindo o barranco q logo dá noutra trilha, logo acima. Logicamente q tomamos o sentido da direita uma vez q o da esquerda retorna à estrada. A picada, escorregadia e úmida em virtude das chuvas recentes, mergulha cada vez mais no frescor da mata fechada por terreno nivelado, passa do lado de uma pequena clareira e prossegue serra adentro. O sol é filtrado pela densa vegetação e o ambiente se enche de trinados, q fazem destes a trilha sonora permanente de nossa pernada. Alguma mata caída se alterna com trechos de charco, mas nada q um jogo de cintura não resolva.

 

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Prosseguimos então serra acima, desta vez acompanhando o leito de um rio seco, ate dar quase no sopé do Morro da Comunidade. Ate então os cortes na encosta denunciava q ali fora uma antiga estrada, agora td erodida e tomada pelo mato. Mas é aqui q a subida aperta p/ valer, onde ganhamos altura rapidamente em largos ziguezagues através de uma encosta de desnível acentuado e declividade acima de 30 graus, td forrada de mata. Eventuais brechas entre o arvoredo revelam os contornos arquitetônicos de Paranapiacaba nos espiando, realçados pela iluminação matinal.

Mas as 10:30, após quase 1569m de extensão percorridos e um desnível de quase 300m, a picada arrefece e nivela de vez ate darmos no amplo topo da serra, emergindo numa enorme e vasta clareira, rodeada de muita mata alta, bromélias e orquideas, inclusive um pé-de-limão. O lugar é marcado pelo q chamam de "Comunidade", q são ruínas (amontoados geométricos de pedras) de alguma coisa. Uns dizem q foram desde pto estratégico ferroviário até local de "pouso" de Ets, mas q foram abrigos outrora utilizados por dissidentes na ditadura como por outra mais alternativa na década de 70, posteriormente. Dizem q a comunidade não vingou pq o solo daqui é acido demais e não permite agricultura alguma. Independente de sua origem ou finalidade, o local realmente é pitoresco e desperta certa curiosidade. Quem e como teria caregado tds aquelas enormes pedras ate ali? C/ o sol brilhando forte no alto, foi aqui q tivemos um breve pit-stop p/ descanso e lanche, num local onde passa a divisa dos municípios de Sto André, Santos e Mogi. Mas uma coisa é certa do alto dos 1100m do morro: o local é pouso p/ trilheiro cansado!

 

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Pois bem, revigorados e descansados, meia hora depois retomamos a pernada agora sentido sudoeste. Há uma trilha partindo daqui pela esquerda (sudeste) mas q vai dar na Cachu do Tobogã e, consequentemente, no Vale do Quilombo. Como nosso destino é outro, tomamos uma discreta picada q continua pelo alto da serra, embora a mata não permita nenhum vislumbre ao redor. Sempre checando a bússola pra não fugir da rota, percebemos q a trilha vai na direção desejada, acompanhando a crista serrana porém perdendo altitude aos poucos. Mas eis q a vereda nos levou, as 11:30, noutro vestígio arqueológico dos tempos remotos da vila do qual já ouvira comentar. Tomado pelo mato e cercado de uma baixa muretinha de pedras com piso pedregoso bem trabalhado, td indicava ser um tal de tanque ou piscina onde (abastecido antigamente por uma mina dágua) dizem q eram realizados os “banhos de purificação” da antiga seita q se alojou na comunidade. De fato, as proporções de 10m por 10m do local corroboram q hipótese de q aquilo ai fora uma enorme “banheira” quase no alto da serra! Pena q haja descaso da prefeitura em deixar isto aqui ao relento, tomado pelo mato, sendo q poderia ser revitalizado de modo a se tornar mais um chamariz e atrativo de gde interesse pra vila. Já pensou isto aqui, uma jacuzzi num dia de sol e calor?

 

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Após descanso e fotos damos continuidade á nossa jornada pelo alto da serra, sempre sentido sudoeste. Contudo, a trilha q ate o momento nos servira terminava de fato naquelas ruínas. Buscamos nos arredores e nada. Ou seja, vara-mato a partir dali! Sendo assim mergulhamos na mata e continuamos na crista, desviando de maiores voçorocas de xaxim, taquearinhas e samambaias. Foi ai q encontramos vestígios de uma picada, q naturalmente acompanhamos. E assim transcorreu por meia hora, avançando pela crista por uma trilha q sumia mas logo adiante ressurgia.

Mas após meia hora de caminhada naquele ritmo a picada sumiu definitivamente, nos obrigando a simplesmente continuar na base do vara-mato. Aqui a crista serrana era maior, larga e confusa, portanto qq escapada da rota traçada poderia nos levar nalgum cafundó, motivo pelo qual verificava a bússola a cada 5min, se modo a não cair demasiado nem pra esquerda nem pra direita. A navegação aqui foi fundamental, uma vez q não havia visual nem tampouco referencia visual algum, a não ser a mais verde e espessa mata à nota frente! Eu e o Clayton nos reverzávamos na dianteira, buscando a melhor forma de avançar com menos dificuldade, desviando da mata mais agreste, espinhenta e espessa.

 

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E assim fomos ganhando terreno, devagar e sempre. Ate q chegamos numa baixada q gerou duvidas, onde sempre a bússola era consultada. Minha bussola, alias, uma vez q a do Clayton tava zoada e não era confiável. Com mato caindo de ambos lados podíamos ouvir perfeitamente o rugido do rio no Vale do Quilombo, à nossa esquerda, e os sons da vila e apitos de trens, à direita. Descendo então num colo serrano a pernada se manteve em nível por um tempo, ate q começamos a bordejar uma suave encosta pela esquerda. Pequenos córregos e filetes dágua dominam este trecho montanhoso, tranqüilizando-nos de nossa eventual preocupação de obtenção do precioso liquido no alto da serra.

No caminho, algumas frestas na vegetação permitiam apenas vislumbres das laterais e nunca da frente, o q nos preocupou. Apesar dos fantásticos visus dos contrafortes serranos de ambos lados, um visu das torres na dianteira nos tranqüilizaria ao menos em saber do qto ainda restava da pernada. E nada. E tome bússola sentido sudoeste! Mas ao constatar q a declividade tornara-se mais acentuada pela rota q palmilhávamos, me ocorreu ganhar o morro coberto de mata à nossa direita pra tentar subir alguma arvore e ver o qto ainda faltava. Mas qual nossa surpresa q ao ganhar o morro terminamos dando na primeira tão almejada antena, as 13:30, na cota dos 1172m!!! Alegria geral, claro! De fato, as antenas so são visiveis pelas suas laterais; na crista elas são invisíveis devido à mata.

 

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Após um tempo de descanso e lanche ao sopé das torres, nos limpamos de modo a remover o mato q trazíamos a tiracolo dando continuidade ao resto da pernada. A partir dali bastou acompanhar o caminho calçado de paralelepipedos q percorre o restante da crista. Após passar a segunda e terceira torres e agora percorrendo o Caminho da Boa Vista, num piscar de olhos desembocamos em Paranapiacaba, as 14:30, onde imediatamente fomos comemorar no Lgo dos Padeiros.

 

O frio e nebulosidade novamente tomaram conta da vila a partir das 16hrs. O dia ensolarado dava adeus à serra e o q nos salvou foi, alem das vestes e agasalhos nas mochilas, um bem-vindo vinho q o Clayton carregava junto. Tin-tin. Não era chá-de-coca peruano mas servia mto bem à ocasião pra celebrar o rolê pela Serra da Comunidade. É verdade q as ruínas no alto da montanha nem sequer se comparam às localizadas em Cuzco, mas nem por isso deixam de evocar certo interesse e mistério. Mas ate hj td q se sabe nao passa de especulacao. Pois somente as pedras da Comunidade guardam pra si td e qq explicacao, encoberta tanto pela mata como pela neblina ao longo de tds estes anos. E independente de suas origens ou finalidade, a serra q as acolhe igualmente permite boas pernadas com algum desafio a andarilho q se preze. E sem mistério nenhum.

 

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