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  1. A TRAVESSIA DA SERRA LINDA - E FINA. Relato sobre a travessia da Serra Fina – MG, realizada por Julio Celestino Pedron Romani e Cristiano Cavanha. Dizem por aí que o nome Serra Fina foi inspirado nas estreitas cristas das montanhas que a compõe. Resolvi confirmar in loco e descobri outro significado: Fina, no dicionário, refere-se ao que expressa delicadeza; delicada; cortês; de excelente qualidade. Também contam que é a travessia mais difícil do Brasil. Se é não sei, não fiz todas e particularmente acho impossível comparação como esta quando o assunto é natureza e montanha. Mas que é difícil, isto é. Após ler um dos livros sobre as conquistas dos Senhores Arlindo Zuchello e Édio Furlaneto (Treze Cumes do Brasil), houve um processo de iluminação e decidi descobrir as montanhas do Sudeste. Partimos então eu e meu parceiro de fé meu irmão camarada Cristiano, de Curitiba com destino a Minas Gerais para andar 32 Km de Passa Quatro até Itamonte. Ansiosos para os últimos preparativos, fomos recepcionados pela também Finíssima Passa Quatro em um final de sábado azulado de julho. Nos deparamos com uma exposição de carros antigos em que os fuscas predominavam; com a maria fumaça manobrando na velha estação e a torre da igreja centenária ao fundo. Extasiados com a acolhedora muvuca da pequena cidade (naquele dia era a abertura do festival gastronômico local), em menos de uma hora estávamos conversando com o Seu Cipriano e acertando o transporte, após providenciarmos queijo, salame e cachaça mineira. Sem isto, não teria travessia. (Foto:Recepção em Passa Quatro) Sete da noite estávamos em um fusca de estado duvidoso (o que significa exatamente nada para um fusca...) rumo ao ponto de início da pernada. Conversa vai e vem, descobrimos que o Seu Cipriano do Fusca era o Edinho da Toyota, recomendado por muitos montanhistas e cujo número estava anotado desde Curitiba. Na pressa para resolver as últimas pendências, ao invés de ligar para ele pedimos indicações para os comerciantes e funcionários da Estação e por coincidência chegamos a mesma pessoa. Sendo tanto eu como o Cristiano proprietários e apaixonados pela baratinha, já curtimos o início da bagunça. Após 15 KM de aclive esburacada, sob medida para o Volks, o mineiro gente boa e contador de causos nos deixou na Toca do Lobo em uma noite estreladíssima, não sem antes recomendar a trilha via Paiolinho em caso de desistência e sobre a escassez de água. No início de nossa conversa ele pareceu um pouco espantado com os dois malucos indo para aquela empreitada pela primeira vez sem guia. Contou quando nos reencontramos que ficou preocupado com nossa ausência na terça, pois assim tinha entendido ele que seria o dia em que voltaríamos, quando na verdade programamos o retorno para quarta-feira. A noite estava seca e com céu limpo, propícia para um bivaque, mas decidimos montar as barracas a fim de termos mais conforto e nos recuperarmos da viagem. Abortamos a janta pois almoçamos um elefante em Aparecida as três da tarde. Ouvi três assobios finos e cadenciados ao longe e como não pareciam em nada com o som de algum pássaro conclui ser o Saci avisando para respeitarmos Pachamama. Após ver alguns meteoros rasgarem o céu, noite bem dormida. Oito da manhã estávamos com o pé na trilha e em menos de 40 minutos já tínhamos maravilhoso visual; pegamos água no Quartzito e tocamos rumo ao Capim Amarelo. Como Montanhistas Amadores Profissionais Contemplativos Raiz que somos, era vinte passos e dedo na máquina, mais vinte e olho no horizonte, nas montanhas, na vegetação, nas pequenas cidades lá embaixo, na imensidão... E assim foi o restante da Travessia: contemplação e imersão na paz e energia infinita lá de cima. Uma marcante característica da Serra Fina é o visual constante e de extrema beleza. Em pouco tempo já se atinge os dois mil metros, altitude esta que só baixará ao final da caminhada. Cada trecho realizado é fantástico e peculiar, sendo desnecessário tentar descrever com palavras pois resultaria em um livro e seria enfadonho. (Foto: Rumo ao Capim Amarelo) Calculo que ali pelas três da tarde, pelo sol, chegamos ao Capim Amarelo. Pernada exaustiva, mais ou menos o esperado. Desde que comecei a estudar sobre esta travessia, imaginava comparações com as familiares montanhas Paranaenses. Creio que é equivalente no mínimo a um Pico Paraná por dia em esforço e distância (porém a altimetria varia muito mais, especialmente entre o Capim e a Mina). Andando sempre acima de 2000 metros, não há a raizeira e os vales úmidos característicos das montanhas mais baixas . Diferente do que é muito propagado por aí de que o primeiro dia é o mais difícil, todos os trechos são de igual dificuldade, cada um com suas características. As distâncias são realmente muito grandes, a alternância de aclives e declives é frequente; some a isto a cargueira, que mesmo muito bem planejada, sempre será pesada. Além do mais, em 2.600/2800 metros o organismo já sente o efeito da menor pressão atmosférica de oxigênio. Não é um sorochi, mas a exigência cardiorrespiratória é maior, certamente. Consideração digna de nota: sujeira só encontramos no Três Estados. Quem frequenta a Serra Fina, cuida. Talvez pela dificuldade, farofeiros de plantão (ps.: o termo farofeiro pode servir para muitos que se auto intitulam montanhistas) portando vinho em garrafa de plástico e dispostos a quebrar o silêncio da montanha não se aventuram para deixar suas indeléveis marcas. Muito diferente do depósito de lixo que viraram as montanhas da Serra do Mar Paranaense, mas isto é outra história. Aproveitando dias de férias, conseguimos programar de maneira a evitar aglomerações e assim, até o Capim pegamos algum movimento, depois encontramos somente dois pequenos grupos fazendo a travessia inversa e um jovem casal no mesmo trajeto que a gente. Todo montanhista é um pouquinho egoísta e fica mais feliz se tiver a Montanha só para si… fato inegável. (Foto: parte da trilha percorrida no primeiro dia - vista do Capim Amarelo) Após montar acampamento, analisamos o percurso para chegar até a Pedra da Mina e fiquei apreensivo com a distância a ser vencida no dia seguinte. Me assolou um profundo sentimento de impotência que se evaporou após uma farofa de carne seca e um cochilo revigorante. Visual maravilhoso para todos os lados, contemplamos exaustivamente as demais montanhas da Serra Fina, o Marins, o Itaguaré e as cidades de Cruzeiro e Passa Quatro, mais ao longe Aparecida e Queluz. (Foto:Vista do alto do Capim Amarelo - Pedra da Mina ao centro) Ao cair da noite, Cristiano, cozinheiro oficial de nossas empreitadas, preparou aquela rica sopa para repor as energias. De rotina, café da manhã foi “rapidez” ou pão sírio com queijo e salame; sementes, barras, e glicose na caminhada e uma densa (e deliciosa) sopa todas as noites, além de algumas maçãs e cenouras. Acostumados a levar a despensa para os morros e voltar com metade para casa, nos policiamos e de excedente, só a quota de emergência. Assim conseguimos gerenciar bem a água e passamos muito bem alimentados, mas o gasto energético enorme me fez perder pelo menos 2,0 kg. Coberto pelo manto estrelado, muito cedo já estávamos nos braços de Orfeu, até porquê o forte vento e a temperatura baixa impediam muito tempo fora da barraca. Antes, aquela obrigatória sapeada no espetacular contraste entre o breu de noite de lua minguante e as luzes das cidades, mais parecendo brasas esparsas. Acordando junto com a claridade do dia, 8:00 estávamos descendo o Capim para subir o Melano (e muitos outros) e seguir à Pedra da Mina. Após o Maracanã há um ponto de água (não perene) em que completamos nossa hidratação e assim bebemos tanto quanto precisávamos e muito mais durante o percurso do dia. Tinha lido sobre este ponto, mas foi um camarada gente boa que estava guiando dois rapazes no sentido inverso que deu a letra, caso contrário não sei se teríamos encontrado. Fica a dica: passando o Maracanã, entre 5 a 10 minutos de caminhada, lado esquerdo (sentido Mina). (Foto: Aurora do alto do Capim Amarelo) (Foto: metade da trilha entre Capim Amarelo e Pedra da Mina - Capim Amarelo ao fundo) (Foto: Faces da Montanha) Vales, escarpas, montanhas, horizontes, vegetação e chegamos a cachoeira vermelha. Cruzamos um vale que lembrou paisagens Andinas – aliás, alguns trechos lembram os Andes Bolivianos – e na base da Pedra da Mina bebemos e nos abastecemos de puríssima e gelada água. Após contemplar o que suponho ser o Vale das Cruzes, em torno de quatro da tarde estávamos no alto da quarta montanha mais alta do país, para nós a maior altitude alcançada em terras Brasileiras. Despojada de vegetação, ao contrário do Capim Amarelo que recebe este nome pelos altos tufos em todo seu topo, o vento nos açoitava violentamente e a temperatura estava baixa. Chegamos ao cume com o tempo nublado e me pareceu que a chuva esperada para terça estava adiantada em um dia. Estávamos somente nós e o jovem casal que também estava fazendo a travessia, assim conseguimos encontrar um acamps razoável, protegido por muretas de pedra. (Foto: Suposto Vale das Cruzes. Vista da base da Pedra da MIna) (Foto: Pedra da Mina) (Foto: Mochila proseando com Apacheta) Fiquei preocupado com a possibilidade de chuva devido as condições do solo (compacto, repelia a água) e o leve desnível onde apertadamente montamos as barracas. Se chovesse, estaríamos em uma poça. Além disto, o vento e o frio eram insuportáveis, tornando um xixi uma atividade complexa, obrigatoriamente muito bem planejada e até perigosa: o vento exigia extremo esforço para se manter em pé. Porém o tempo abriu, pudemos apreciar o pôr do sol e mais uma noite viajamos pela via láctea, observando meteoros e as constelações, bebericando um chá quente e a ração de cachaça do dia, além de um espetacular palheiro mineiro. Lembrei dos meus colegas Xanxerenses e das adolescentes vigílias estudando o céu, contando meteoros e satélites, identificando planetas e cometas. Escorpião, cruzeiro do sul, Centauro… Ah céu da Mantiqueira, vontade de não sair mais debaixo dele. (Foto: Acamps no cume da Pedra da Mina) A manhã chegou sem o sol e o vento continuava intenso, o que nos fez demorar um pouco para levantar acampamento. Iniciamos a rápida descida ao Vale do Ruah, e o vento ficou para trás. Vimos que havia acampamento e ao nos aproximarmos fomos muitíssimos bem recebidos por quatro paulistas que estavam curtindo o Vale por alguns dias. Ao som de Pink Floid, tomamos um café com vodka, comemos granola e recebemos dicas de como atravessar o vale com menos estrago, ou seja, se molhando menos na nascente do Rio Verde – a mais alta do Brasil. Cristiano decidiu seguir o conselho de tirar as botas e preservá-las secas, eu preferi arriscar, escolhendo milimetricamente os tufos de capim onde pisar. Pensamos em fazer um caminho mais distante do rio, a direita, mas optamos por margeá-lo. No fim das contas, nenhuma decisão foi melhor que a outra. Quase no final do maravilhoso Vale, repentinamente houve uma precipitação de granizo e imaginei no frio que vinha junto. Dez minutos depois, além do frio, veio chuva e vento intensos. (Foto: Fantástico Vale do Ruah) Sob a intempérie saímos do Vale do Ruah rumo ao Cupim de Boi preocupados em chegar ao Bambuzal, local de acampamento muito bem sugerido pelos novos amigos paulistas, que nos demoveram da idéia de chegar ao Três Estados neste dia - mesmo com tempo bom seria besteira, constatamos depois. Como os dois Amadores Profissionais orientavam-se visualmente e por um mapa simples, além de uma bússola que pouco nos revelava naquele momento, o perrengue estava instalado. Não víamos mais de 10 metros a nossa frente, o vento empurrava-nos em direção aos precipícios e a chuva intensa encharcou tudo o que não estava protegido e também parte do que estava. Demos alguns perdidos, retornando a trilha sem muita dificuldade. Com visual quase zero e com a escassez de sinalização, agradeci aos colegas montanhistas que marcam a trilha com pequenos pedaços de papel metalizado e segui na frente olhando para baixo, até porque olhar para frente não fazia sentido... Subimos o Cupim de Boi sem saber que era ele; cheguei a pensar que tínhamos passado pelo bambuzal e estávamos subindo o Três Estados. Mesmo tendo encontrado e ultrapassado o casal que se adiantou enquanto paramos no Ruah e que portava um GPS, não houve alívio da tensão. Em determinado momento decidimos andar mais dez minutos e se são chegássemos ao bambuzal retornaríamos, pois a situação estava no limite. Nos encontrávamos em uma crista exposta sem nenhuma possibilidade de proteção e eu estava extenuado, sentindo o efeito do frio intenso. Jogava duas balas na boca por vez para ter alguma energia e mentalizava que não podia parar. Cheguei a pensar no pior quando sem esperar saímos do cume e penetramos em encosta protegida onde logo encontramos o Bambuzal, um local muito bem abrigado, excelente acamps. Lembro vagamente de montar a barraca e me livrar das roupas molhadas. Recobrei a consciência normal quando me enrolei no cobertor de emergência e, batendo o queixo, me vesti com roupa seca. As condições do tempo, a extenuação física mais a falta de um relógio (prometi a mim mesmo que será meu próximo investimento em tecnologia, um relógio de pulso de deizão do camelô), fizeram com que perdesse a noção de tempo. Pensei ser mais que 17:00, mas era em torno de 14:30. Com chuva e o saco de dormir parcialmente úmido, dormimos umas três horas após rapidamente comermos algo. A chuva lentamente parou e consegui ver algumas estrelas por meio dos bambus, prenúncio de frio e tempo bom no outro dia. Ao despertar as 6:00, percebi a vegetação totalmente seca. Estendi minhas roupas para esgotar um pouco a água e uma hora depois elas estavam congeladas, sob o frio de -2 graus como nos informou o gps do casal que também acampou no bambuzal. Então passei o segundo maior frio da minha vida (o primeiro foi a quase hipotermia do dia anterior), ao ter que calçar a bota e meias congeladas. Até botar o pé na trilha e esquentar, foi insuportável. Mas o sol estava lá e aos poucos foi secando – o que estava no corpo, porque o que estava na mochila chegou em Curitiba encharcado. Aliás, todo o peso que tínhamos aliviado com os mantimentos consumidos e gerenciamento de água foi substituído pelas roupas molhadas, e no último dia andamos provavelmente com o mesmo ou mais peso que no primeiro. Chegar ao Três Estados foi tranquilo, ao Alto dos Ivos também, mas a alternância de aclives/declives continuava. Após o alto dos Ivos, longo caminho em declive acompanhado da constante e maravilhosa paisagem, agora com destaque ao maciço de Itatiaia. Pudemos reconhecer o Agulhas Negras, Prateleiras, Pico da Antena, do Sino, etc., além do Picu, uma apacheta gigante que nos mostrava a rota a seguir. Se a Serra Fina não nos satisfizesse plenamente, meu plano desde o início era convencer meu parceiro a fazer o Agulhas na quinta-feira, mas resolvemos deixar para a próxima. (Foto: Vista do cume do Três Estados: Pedra da Mina a direita. O triângulo mais claro ao centro da foto é o Vale do Ruah - Dá para ter idéia das enormes distâncias!) (Foto: Cume do Alto do Pico Três Estados, tríplice fronteira - RJ/MG/SP) O final da travessia também é um Show. O Sítio do Pierre na verdade é uma fazenda maravilhosa e foi um prazer largar as mochilas sob as Araucárias e imaginar o que era aquele local, agora deserto. Seu Cipriano nos contou depois que ali já funcionou um Hotel; falando em nosso amigo, quando fizemos contato com ele recebemos a notícia de que deveríamos andar mais uns três quilômetros até a rodovia. Caminho maravilhoso também, mas inesperado; achávamos que o fuqueta subiria até a sede da fazenda. (Foto: Maciço de Itatiaia. Agulhas Negras a esquerda, Prateleiras a direita) (Foto: Picu e Araucárias: travessia concluída com sucesso!!) Reunimos forças e ao anoitecer fomos resgatados, com seu Cipriano encurtando caminho por uma estrada rural. Espremidos no Volks, esfomeados e felizes voltamos até Passa Quatro pelo poeirento caminho, onde pernoitamos em um hotel em frente à estação, suficiente para o que precisávamos. Creio que demos prejuízo, porque as toalhas brancas fornecidas passaram a coloração marrom mesmo após longo banho. Fomos prestigiar o festival gastronômico e devoramos um prato de leitoa à pururuca com tutu de feijão e aquele chopp para comemorar, além de degustarmos cachaças excelentes. Ainda curtimos os ares noturnos da pitoresca e maravilhosa cidadezinha antes de despencar na cama. Sinceramente, me senti desconfortável e não tive uma plena noite de descanso, pois senti falta da barraca, do isolante no solo duro e do amigo vento. Na manhã seguinte nos abastecemos de produtos mineiros no comércio da estação e arredores e, um pouco reticentes e já saudosos, partimos para o Paraná. Rasgo elogios a hospitalidade, educação e prestatividade do povo mineiro. Quem puder esticar um pouco após a montanha e curtir Passa Quatro e redondezas não se arrependerá. A travessia da Serra Fina é exigente, de modo algum recomendada para quem não tem alguma (e não mínima) experiência. Sem guia então, avalie as pernadas que fez na vida antes de assumir o risco e planeje muito, mas muito bem. Passei dez anos da minha vida imaginando se um dia iria usar o cobertor de emergência, e ele me salvou. A trilha é óbvia do início ao fim e muito bem marcada até a a Pedra da Mina, tanto pelo solo batido como pelas apachetas abundantes no caminho. Do vale do Ruah em diante os totens e outros sinais são escassos, mas se perder é difícil, só mesmo em caso de condições climáticas muito ruins ou inexperiência extrema. Sinal de celular é artigo de luxo e resgate também deve ser. Ter algum problema importante nesta travessia é preocupante. Creio ser pouco proveitoso fazer em menos de quatro dias, a menos que sua vibe seja chegar ao cume, sem priorizar o caminho. Fizemos a clássica Travessia de quatro dias e três noites, e achamos pouco! Assim, a volta ainda não tem data, mas já está certa, e o programa também: já decidimos subir a Pedra da Mina via Paiolinho e acampar alguns dias no Vale do Ruah, fazendo incursões a partir desta base; se repetirmos a travessia, e tenho certeza que sim, uns seis dias serão dedicados a esta porção da Mantiqueira. Como paixão te leva a algumas insanidades, dez dias depois estava com a família na Maria Fumaça de Passa Quatro e, sorrateiramente, fazendo juras para a Mina de abraçá-la novamente em breve.
  2. Até os 60 anos fiz muitos trekkings de um dia . As chapadas, itaimbézinho e outras. Decidi que após os 6a nos, eu faria uma travessia ou um trekking mais encorpado. Completando 7 trekkings até os 66 anos. Aos 60 anos (2015), passei meu aniversario na tríplice fronteira - Monte Roraima. Até os 62 (2016/2017) fiz a trilha do ouro a partir de sjbarreiro e também o Vale do Pati. Sempre estive de olho na Serra fina - mas muito intimidado - a idade já é um limitante, claro, para quem não é atleta. Agora em Abril (2018), completando 63 , enfrentei este desafio. Contratei um guia - Pedro Pereira - (recomendo) preparei a tralha e receoso, (Não gosto de arredar pé) fui. Me instalei no hostel sitio da coruja do Thiago - também guia e montanhista, e no dia seguinte partimos - dia 17/04/2018. Bem de manhã. Eu o Pedro e o Vinicius que embarcou para cumprir a travessia aproveitando para ajudar o Pedro na logística de guia. Chegamos ao capim amarelo às 13 hs (eu já mortinho). Almoçamos e o Pedro decidiu que acamparíamos no maracanã. Eu fiquei maravilhado com o trajeto. As dificuldades que para mim foram muitas, a superação e o pagamento - conhecimento dos limites, das fortalezas e a paisagem - um bonus indescritível. Até o maracanã comecei a sofrer com as descidas. Os dedos dos pés, os joelhos e tornozelos começaram a me incomodar - bastante. Após uma mata em uma descida muito inclinada e longa chegamos ao destino. 16 hs. Montei a barraca - buscaram agua - fizemos o jantar e desmontei. Acordei com um frio miserável e quando abri a porta da barraca, um punhado de gelo caiu sobre mim. Comecei a questionar - que diabos estou fazendo aqui? Quando iniciamos a jornada para a pedra da mina, já estabeleci ( na minha mente) que abortaria de lá. Chegando ao rio vermelho, após peripécias que todos vocês jovens que ja fizeram conhecem. O caminho tinha sido maravilhoso, mas eu bestava esgotado física e mentalmente. Comuniquei minha decisão ao Pedro e ao Vinicius - argumentei que o caminho seria mais do mesmo, com mais sofrimento. O Pedro disse que respeitava minha decisão, mas que tinha que argumentar. A lógica do Pedro: - Se descermos pelo Paiolinho será um sofrimento igual à descida dos 3 estados. Então estamos quites, neste item. - O que separa A pedra da mina do Pico 3 estados são algumas horas. Se cumprirmos vc terminou a travessia - Vc não criará um débito na sua vida. Quem faz meio não fez. - Não é mais do mesmo. Vc não tem idéia das mudanças quando vc visualiza os picos pelos quais vc passou. E também meu amigo, o vale do Ruah. Isso é imperdível por si só. Propôs então aumentar o desafio em vez de aborta-lo. Fazer em 3 dias. Saímos da pedra da mina às 4 manhã e vamos direto até embaixo. Levo 3 kgs do seu peso. Balancei, e fiquei sem argumentos. Topei e enquanto eles guardavam as tralhas do almoço e se abasteciam de agua, parti em direção à pedra da mina. Pareceu que algo me empurrava. Rapidamente passei pelos 2 totens na entrada do topo, e me sentei no chão. De cansaço, emoção e estonteado pela vista. Fiquei muito ansioso e de manhã , às 6 hs partimos para o terceiro dia. Atravessar o vale do ruah, com geada no capinzal foi maravilhoso. Nunca esaquecerei a sensação e o ruído das aguas do riacho. Enfim. O caminho para o pico dos 3 estados foi muito, mas muito desgastante. Para mim, aquelas escalaminhadas eventuais são um caso sério. Passamos pelo Pico e às 22 horas estávamos no sitio don pierre. Não foi permitido a entrado transfer, então caminhei quase 4 kms naquela estradinha. Estava tão moído que levei 2 horas. Terminamos a travessia em 3 dias. Lições aprendidas (quando olho as fotos com aquele cenário incrível - e eu parte dele): 1- A mente. Ela sempre cria argumentos para nos derrotar em momentos onde exige superação. 2- Nada é mais do mesmo. A luz muda, nossa percepção muda, o ângulo de visão do que está na frente e depois de ultrapassado é outro cenário, e o caminho somos nós. 3- Não podemos esquecer o espirito que nos animava quando jovem. Um jovem me lembrou disso. 4- Pati, Roraima e trilha do ouro são Barbie trekking comparando com a Travessia da Serra fina. Agora estou pensando na próxima - aos 64 anos. Chapada das mesas ? Roncador? Não sei qual, mas sei que posso.
  3. A Travessia Serra Fina é uma das travessias de montanha mais famosas e belas do Brasil, a travessia oferece um visual (se o tempo colaborar) maravilhoso sobre o tal famoso mar de nuvens e ela passa por mais de 20 cumes com mais de 2.000 m de altitude acima do nível do mar. Elaboramos um tutorial completo com todas as informações para você que deseja fazer essa linda travessia, veja abaixo todas informações, verdades, dicas e logística para fazer a Travessia Serra Fina em 4, 3, 2 ou em apenas 1 dia com a família do Cocô no Mato. Curta nossa página no https://www.facebook.com/coconomatooficial?ref=ts&fref=ts e veja a matéria na integra http://www.coconomato.com.br/serra-fina Três Verdades que você precisa saber antes de encarar a Travessia Serra Fina Veja três verdades que você precisa saber antes de encarar a Serra Fina: 1º Quem da as cartas é a montanha, você só acaba a travessia se ela permitir; 2º O psicológico e o amor pelas montanhas contam muito mais do que o seu preparo físico, porém não deixe seu físico de lado; 3º Apesar de toda fama que muitos relatam na internet a Travessia da Serra Fina só é intensamente difícil para quem não esta preparado fisicamente e psicologicamente, não vá com o pensamento que será a travessia mais difícil, vá com o pensamento que será uma das travessias mais lindas e fantásticas da sua vida. Por que muitas pessoas consideram a Travessia Serra Fina como a mais difícil do Brasil? São vários fatores que colocaram a fama de travessia mais difícil do Brasil na bela Serra Fina, veja os principais fatores: - São quatro dias de montanha com um sobe e desce intenso, são aproximadamente 33 kilometros de montanha (2º o GPS!); - O clima de montanha é instável e em casos de frio intenso, chuva, tempestades e raios muitos abortam a travessia em seus dois pontos de desistência; - Apesar da gigantesca quantidade de adesivos refletores, fitas vermelhas e toténs durante toda a travessia em casos de neblina intensa você pode ter dificuldades na navegação lá em cima; - Além de todo equipamento de frio, que torna sua cargueira mais pesada, a Serra Fina só possui 4 pontos de água, fazendo com que todos carreguem em muito mais água do que em outra travessia normal; Isso são os fatores naturais que podem dificultar a travessia, fora os fatores físicos e psicológicos que sem dúvidas são os primordiais. Informações gerais da Travessia da Serra Fina - A Travessia da Serra Fina fica passa por três estados, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, possuindo seu inicio em Passa Quatro – MG e seu final próximo as cidades de Queluz – SP e Itatiaia – RJ. - São mais de 20 pontos acima de 2000 metros de altitude, tendo em destaque a Pedra da Mina, 5º maior montanha do Brasil com aproximadamente 2798,30 metros; - A travessia é realizada normalmente em 4 dias, porém corredores de montanha e outros montanhistas mais experientes costumam faze-la entre um período de 11 horas e dois dias; Como chegar até a Travessia da Serra Fina Você tem três hipóteses saindo de SP: - A forma mais barata: Pegue o ônibus da Viação Cometa saindo de SP (Tietê) x Passa Quatro – MG e peça para o motorista descer no 2º trevo sentido Passa Quatro ou no Trevo do Restaurante Pé de Pano e siga a estrada reto durante aproximadamente 13 km até o ínicio a Toca do Lobo, nessa opção você irá combinar com o Eddinho quanto fica só o resgate de volta, que fica aproximadamente R$200,00. - A forma tradicional: Combine com o resgate de ida e volta para Serra Fina, que vai da Rodoviária de Passa Quatro até próximo a Toca do Lobo e da estrada depois do Sítio do Pierre até Passa Quatro. O valor do resgate completo é de R$350,00, este valor é fechado e pode ser dividido em até 10 pessoas (ficando R$35,00 pra cada). - De última hora: Se você decidiu ir para Serra Fina de última hora e não tem mais passagens de ônibus para Passa Quatro veja na Viação Pássaro Marron e compre suas passagens para cidade de Cruzeiro – SP e veja se o Eddinho pode te buscar lá. Se ele não puder por alguma razão aguarde o ônibus que sai do terminal rodoviário de Cruzeiro x São Lourenço da Serra e passa por Passa Quatro, ele custa em torno de R$16,50 e combine o resgate pela manhã em Passa Quatro. * Resumo, se você conseguir chegar próximo a Passa Quatro, converse com o Eddinho ele pode dar um jeito. Contato Resgate – Edinho: (35) 9963-4108 – Vivo (35) 9109-2022 -TIM (35) 3371-1660- Residencial Pontos de água na Travessia Serra Fina Existem somente 5 pontos de água fixos, em qualquer época do ano estarão cheios para você saciar sua sede, uma é no ínicio da travessia na Toca do Lobo, outra uns 30 minutos acima na altitude aproximada de 1750 m acima , em um platô que você verá uma trilha para direita onde você poderá pegar água também, o terceiro ponto de água é na base da Pedra da Mina , quarto ponto é no final do Vale do Ruah e o quinto e último ponto é na reta final sentido Sítio do Pierre que tem uma bica da água a sua direita. * Além desses pontos existem outros pontos da água que ficam fora do trajeto e existe um alto risco de estarem secos. O que comer na Travessia Serra Fina? Fizemos a travessia da Serra Fina quatro vezes e em todas elas optamos por alimentos que não utilizam água e os alimentos com água fiz nos pontos de água para evitar carregar o peso. Por exemplo: - Serra Fina em 4 dias: levei queijo, tapioca, rap 10, legumes, requeijão, barra de cereal, frutas secas e chocolate (café da manhã, janta e petiscos) e para cozinhar com água levei macarrão, cenoura, pimentão, pvt (proteina de soja texturizada) no caso sou vegetariano mas você pode trocar por salame, linguiça defumada entre outras fontes de proteínas (lembrando que quanto mais sal ou sódio mais sede você terá), molho de tomate, creme de leite e arroz. - Serra Fina em 3 dias: mesma coisa de 4 dias; - Serra Fina em 2 dias: Pão Sírio, queijo polenguinho, barra de cereal, bala de goma, amendôas, castanha de caju entre outros grãos, Rap 10, queijo, requeijão entre outros alimentos; - Serra Fina em 1 dia: Pão Sírio, queijo polenguinho, barra de cereal, bala de goma, amendôas, frutas secas, castanha de caju entre outros grãos e outros alimentos de sua preferência; Evitem alimentos com muito sódio e em caso de miojo utilize somente metade do tempero, pois quanto mais sódio você ingerir mais sede terá, eu particularmente acho que até o LIOS FOOD que é muito utilizado nessa travessia acaba sendo um tiro no pé, pois o que você economiza de peso de comida você levará de água pois terá mais sede. (lembrando que essa é uma opinião minha, não tenho nada contra o Lios Food). Quanto de água preciso carregar? Eu já vi inúmeros relatos de pessoas que carregaram de 6 a 8 litros de água na mochila, faça os cálculos, você bebe mais de 2 litros de água no seu dia-a-dia? Quanto de água utilizará para cozinhar? Tudo isso dependerá do que você irá cozinhar e o quanto de água irá beber. Litragem que utilizamos na Serra Fina em 4, 2 e 1 dia e estamos “chutando” em 3 dias que nunca fizemos: - Em 1 dia: a maior vantagem é que você pode andar apenas com uma garrafa de 1,5 litros ou 2 litros, porque você terá todos pontos de água em apenas um dia; - Em 2 dias: Levamos duas garrafas de 2 litros, da Toca do Lobo até a Base da Pedra da Mina levei apenas 3 litros e almocei na base da Pedra da Mina e subi com apenas 2,5 litros, pois no dia seguinte você terá água logo no ínicio da caminhada no final do Vale do Ruah; - Em 3 dias: Levaria três garrafas de 2 litros, com a intenção de dormir na base da Pedra da Mina ou no cume , carregaria 3 litros de água até base da Mina e subiria para o cume com mais 2 litros para pernoitar lá em cima, no Vale do Ruah encheria todas as garrafas já que teria praticamente dois dias de travessia pela frente; - Em 4 dias: Levamos 3 garrafas de 2 litros, da água após a Toca do Lobo até a Base da Mina com 5 litros, na base da mina levei apenas 3 litros, do Vale do Ruah até o final mais 6 litros; * Se você é um beberrão de água leve mais uma garrafa de 1.5 litros para garantir. O que levar para Travessia da Serra Fina? Costumamos dizer que para prática do trekking em outras locais não precisam de nada, além de vontade, pois se quiser você consegue se virar com as coisas de casa ou improvisando, porém para montanhismo, devido ao clima frio, é essencial alguns equipamentos para fazer a Travessia da Serra Fina ou qualquer outra travessia de montanha, vou fazer duas listas, o essencial e seguro: Lista Essencial - Saco de dormir com um extremo de no mínimo – 0 ºC e olha que se você pegar uma noite gelada você passará muito frio; - Mochila Cargueira com o tamanho proporcional para caber alimentos, água e equipamentos que for utilizar durante a travessia (depende dos dias que for fazer); - Barraca simples, a 1º vez que fui na Serra Fina acampamos na Pedra da Mina com um clima péssimo com uma barraquinha de R$50 comprada no Carrefour porém com uma lona grande; - E o básico do básico como bota, meia, calça, camiseta de manga cumprida, anorak, luva e toca; - Manta aluminizada ou saco de dormir de alumínio de emergência; - Saco de lixo resistente ou saco de ração de cachorro para colocar os equipamentos dentro para não molhar em caso de chuva; Lembrando que este é o mínimo do mínimo de equipamentos para levar para essa travessia, se você estiver muito afim e não tiver grana, esse é o mínimo para não morrer de hipotermia lá em cima, veja a lista segura logo abaixo e veja a diferença de equipamentos. Lista Segura (Preferêncial) Tudo da lista essencial mais: - Isolante térmico, o chão da montanha é gelado demais, um isolante térmico grosso ajuda e muito para se proteger do frio; - Segunda pele para parte inferior e superior; - Luvas de segunda pele; - Cachecol; - Balaclava (Toca Ninja); - Toca; - Duas meias; - Anorak (Corta Vento) e Fleece (Blusa quente e leve) ou Jaqueta impermeável; - Capa de chuva da mochila (mesmo assim coloque tudo dentro de sacolas plásticas); PS: Lista somente de equipamentos para combater o clima, fora todos apetrechos de higiene, cozinha, lanternas e etc…! Equipamentos em geral Para cozinha: Fogareiro e kit gás ou espiriteira e álcool, panela, frigideira, talheres, cumbuca para comer Para higiene: Sabão de Coco, escova de dente, pasta de dente, papel higiênico, toalha e se quiser um lençinho úmedecidos; Para emergência: Kit primeiros socorros, com remédios para dores em geral, inflamação, resfriado entre outros remédios, bandagem, curativos, cordins, anti-sepctico, apito, relato, mapa, bússola e manteiga de cacau para os lábios; Outros: Lanterna de cabeça, pilhas reserva, gps (se tiver), câmeras digitais, relato, água e comida. Áreas de camping Seguem as áreas de camping mais utilizadas com a quantidade aproximada de barracas de 2 lugares: - Toca do Lobo (8 barracas) , 1º ponto de agua (6 barracas) , Capim Amarelo (8 barracas), Maracanãzinho (15 barracas), Avançado (6 barracas) , Base da mina (10 barracas), Cume da Mina (20 barracas), Vale do ruah (Muitas, muitas barracas!), Cupim do Boi (10 barracas), Base dos Três Estados (10 barracas) e Cume dos Três Estados (12 barracas). Esses são os pontos mais famosos que as pessoas acampam, porém em caso de emergência entre eles sempre tem uma clareira que pode servir como área de acampamento, para poucas barracas. Dicas importantes para fazer a Travessia Serra Fina - Se você for fazer a travessia tradicional em quatro dias ou em feriados prolongados se prepare para encontrar as áreas de camping lotadas, pois além de vários montanhistas, muitas agências enviam alguem antes para montar as barracas para garantir a vaga dos montanhistas pagantes, por isso tente chegar o quanto antes e caminhe procurando áreas de camping “substitutas” das oficiais, para em caso de lotação voltar e dormir em um lugar alternativo; - A travessia é repleta de marcações e toténs que ajudam e facilitam muito na navegação; - O trajeto todo é bem demarcado, se você se manter na trilha principal é muito, mas muito difícil se perder; - Da Toca do Lobo até a Pedra da Mina existem adesivos refletores da cor branca que ajudam na navegação; (Até final do inverno de 2014) - Após a Pedra da Mina existe algumas fitas vermelhas e amarelas que ajudam na navegação; - Os únicos dois pontos que você pode se confundir é na saída do Capim Amarelo e no final do Vale do Ruah, isso se estiver sem GPS e com um tempo muito fechado; Serra Fina - Se o céu estiver aberto durma fora da barraca Serra Fina – Se o céu estiver aberto durma fora da barraca - Independente de quando for, caminhe com 99% do corpo coberto, botas, meias, calças, camisa de manga cumprida, luvas são essenciais, pois os capins e bambus cortam e castigam muito durante o trajeto, principalmente se você esta indo no ínicio da temporada de inverno. Se achar melhor leve até um óculos de sol e um chapéu. - A melhor época do ano para visitar a travessia é Abril a Outubro, fora dessas épocas fique bem atento ao clima tempo e vá ciente que a chance de pegar uma tempestade é muito maior que na época indicada. - Se o tempo estiver aberto durante a noite, bivake (durma fora da barraca), não perca nem um segundo do espetáculo do céu estrelado, com cadentes e a lua estalando no céu . Dia-a-dia na Travessia Serra Fina Agora vamos falar sobre cada dia da Travessia Serra Fina do primeiro ao quarto dia da forma tradicional: Primeiro dia da Travessia Serra Fina Vamos supor que você não pegou nenhum resgate e esta indo para Serra Fina no ônibus a noite com a intenção de iniciar a travessia pela manhã, eu sei que a ansiedade é imensa, mas tente relaxar no ônibus e avise o motorista da sua parada. Desca no Trevo e siga a via principal durante aproximadamente 13 km, após alguns kilometros você verá placas apontando o “Refúgio Serra Fina!” siga as mesmas. Passando pelo Refúgio siga o único caminho e após alguns minutos você chegará a Toca do Lobo. Aproveite esse momento para tirar fotos e fazer o seu café da manhã, se for utilizar água, ótimo, abuse da mesma. O segredo desse dia é não ter pressa, você vai chegar no Capim Amarelo, você pode chegar em 3 horas ou em 10 horas, não importa o tempo, o importante é você chegar lá em cima curtindo o visual, então se cansar, pare e descanse! Antes de iniciar a subida não pegue água na Toca do Lobo, suba com no máximo 1 litro por pessoa, com certeza será o suficiente para você chegar até o próximo ponto que fica acima da Toca do Lobo, fique atento nesse ponto que é bem claro, mas se você perde-lô ferrou-se, mas qualquer trilheiro com um básico de experiência consegue identificar esse ponto de água. A trilha começa atravessando o rio da Toca do Lobo, a entrada do outro lado é bem nítida, os primeiros 100 metros da subida é ingríme, esta é a parte mais íngrime de toda travessia, quando passei por aí pela primeira vez pensei: “Se for tudo assim eu não vou conseguir!”, mas após alguns minutos a subida fica mais tranquila e você já terá um visual maravilhoso (se o tempo colaborar). Continue pela trilha única e principal, sempre subindo, você chegará na parte da tradicional foto da Travessia da Serra Fina, aproveite e bata muitas fotos, pois o visual é lindo. Aproximadamente na altitude de 1750 (se tiver com o GPS) ou no máximo 30 minutos após a parte da foto tradicional fique atento quando chegar em um plato descoberto de árvores onde cabe umas 6 barracas, você verá uma trilha subindo e outra descendo a sua direita (água), vá com cuidado para pegar essa água, você caminhará uns 30 metros e verá o seu último ponto da água deste dia, abasteça os cantis com o necessário, creio que 5 litros (no máximo) por pessoa é mais que o suficiente. PS: Se você veio antes e chegou na Travessia Serra Fina a noite com a intenção de dormir na Toca do Lobo para iniciar a subida na manhã seguinte, adiante a subida até o ponto de água, fiz isso uma vez e ajudou e muito no dia seguinte, pois adiantamos 1 horinha de caminhada. A subida continua praticamente com a mesma intensidade durante todo o tempo, o terreno é formado de pedras ou barro no meio de imensos capins cortantes. Você terá um visual de vários cumes o Capim Amarelo é o mais alto deles, em um trecho, bem próximo ao cume você terá um lance simples de escalaminhada e um pouco exposto que acaba assustando um pouco algumas pessoas, mas vá tranquilo é um lance com muitas agarras e bem fácil de seguir adiante. Se você chegou em uma rocha com vários de capins gigantes atrás, parabéns, você esta no Capim Amarelo. Se o tempo colaborar você terá um belo visual daí e já terá visão completa do seu destino do dia seguinte, que é nada mais nada menos que a Pedra da Mina a 5º maior montanha do Brasil. Lembre-se esse é o dia mais difícil da travessia, você terá muitos sobes e desces pela frente, mas hoje você ganhou muita altitude, daqui pra frente será mais fácil. Se você chegou tarde no Capim Amarelo e o espaço esta lotado, você terá que caminhar até o acampamento Avançado que cabe umas 6 barracas espalhadas, você terá que caminhar aproximadamente 45 minutos até o camping, mas vá tranquilo pois 80% do trajeto é descida. Independente onde dormir coloque todos celulares para despertar para você assistir o nascer do sol. * Evite deixar apetrechos de cozinha e comida fora da barraca pois existem alguns ratinhos que devoram sua comida; * Se informe com todo mundo que encontrar no caminho se muitos grupos passaram e pergunte onde cada um deles irão acampar, para você ter noção se haverá espaço para você e seus amigos; Segundo dia da Travessia Serra Fina Pernas doendo né? Normal! Prepare um café reforçado, arrume as cargueiras e vai pra CIMA dela, pra cima da 5º maior montanha do Brasil a majestosa Pedra da Mina. Se você esta derrotado e exausto e tem certeza que não irá conseguir, agora é hora de voltar! Fique atento nessa parte pois existem algumas trilhas que levam você para outro lugar, saindo da área de acampamento fique atento na trilha a sua esquerda. Encontrando a trilha siga a mesma, descendo e muito, essa parte é repleta de bambus e se o clima estiver úmido se prepare para escorregar, utilize os bambus para ajudar na descida e vá com cuidado, essa é uma das partes mais fáceis para se machucar e acabar com o seu passeio. No fim da descida você entrará em uma mata mais fechada e úmida, você iniciará uma leve subida, fique atento aos toténs, você chegará a um local plano com capins tão altos quanto o do Capim Amarelo, você esta no acampamento Avançado. Atravesse todo o capinzal e siga a única trilha que sai a esquerda por trás de todo capim (dentro do capim você terá inúmeras bifurcações que levarão a pequenas clareiras onde cabem as barracas, mas mesmo assim não tem como se perder alí, rodando 2 minutos você encontrará a trilha). Pegue a mesma, você passará por uma parte plana com descida, você sairá da mata e chegará a uma área de camping bem grande a sua direita esse é o acampamento do Maracãnazinho, onde cabe várias barracas, chutando aqui umas 25 se bem organizadas. Seguindo em frente você terá uma bifurcação, você terá a opção de ir reto ou pegar a esquerda, pegue a esquerda. A subida continua por dentro da mata e você sairá em uma clareira gigantesca formada por rochas e lama, nesta lama existem vários sapinhos pretos e vermelhos iguais do Itatiaia. Siga em frente e você terá só mais uma descida até chegar no ponto da água do dia que fica na base da Pedra da Mina, se neste ponto você ainda estiver carregando mais de 1 litro de água, pode se livrar do resto ou dar para seus companheiros, pois a água esta próxima. Desca seguindo os tótens por trilha batida até chegar na água. Enfim água, aproveite esse momento para esticar as pernas, saciar sua sede e de fazer o seu almoço caprichado e até para se banhar. Se você tiver a certeza absoluta que o cume esta lotado, você pode acampar na água ou em alguns descampados acima dela, porém recomendo arriscar e encontrar algum espacinho no cume e se o mesmo tiver 100% lotado, adiante a caminhada e acampe no Vale do Ruah que fica a 20 minutos (de descida) do Cume da Pedra da Mina. Você esta na reta final do segundo dia. Abasteça sua água, creio que no máximo do máximo 3 litros por pessoa é o suficiente para beber e cozinhar lá em cima, pois no dia seguinte você terá água rapidamente. A subida segue da mesma forma com uma única trilha, porém desta vez com mais rochas no seu caminho, siga os toténs e os adesivos refletivos que estão por toda parte, não tem muito segredo a subida é constante e entre 30 minutos e duas horas você estará no cume da 5º maior montanha do Brasil. Se tiver sorte pegue as áreas de camping próximas ao livro que estão rodeadas de murinhos feitos por pedras ou desca para sua esquerda que tem uma outra boa área de acampamento (a mesma pega menos vento). Assine o livro, leia suas histórias que são bem engraçadas ou inspiradoras e curta a sua noite na 5º maior montanha do Brasil (se o tempo colaborar). * Esse dia é o 2º dia mais difícil em relação a desnível, os próximos dias serão mais tranquilos, porém seu desgaste físico pode pesar bastante; * Deixe uma garrafa de água com pouca água fora da barraca e pela manhã veja se a mesma congelo; * Amarre as lonas das barracas nas pedras espalhadas por alí, escolhas pedras grandes e pesadas pois em caso de tempestade elas irão ajudar e muito. Terceiro dia da Travessia Serra Fina Coloque todos celulares para despertar antes do nascer do sol, não perca esse espetáculo por nada nesse mundo! Ah você dormiu na base da Mina ou no Vale do Ruah? Faz um esforçinho e sobe no cume de novo, poxa você esta na Serra Fina! Se o tempo estiver um CAOS e pessoas extremamente cansadas, recomendo que aborte pela trilha do Paiólinho (no final explicaremos a trilha do Paiólinho). Todos felizes e firmes, ótimo! Siga o sentido que você chegou na pedra, sempre reto e você verá os tótens sentido o Vale do Ruah, se o tempo estiver muito fechado, pode até parecer um abismo eterno, porém pode seguir tranquilo que o caminho irá aparecendo dentro de toda a neblina. Siga os toténs e vá indo pelo seu lado direito tranquilamente. Em poucos minutos você estará de frente para o Vale do Ruah, se o tempo estiver aberto você verá um “V” formado pelos morros no final do Vale olhando praticamente em linha reta quando chega nele, siga nessa direção, no “Vale do Ruah” existem várias trilhas, mas é só seguir sempre a direção indicada. O Vale do Ruah é um lugar único no mundo, o lugarzinho fantástico, adoramos andar no meio de todo aquele matagal e se você der sorte ainda pegará muitos dos capins congelados pela manhã. Próximo ao “V” a trilha segue beirando o rio (último ponto de água), quando não existir mais trilha beirando o rio, pare e abasteça os seus cantis, neste ponto aconselho levar no aproximadamente 6 litros de água pois você só terá água no final do próximo dia. A trilha segue a direita subindo, tem uma árvore com uma fita vermelha que é fácil de se localizar, logo você encontra a trilha oficial, você subirá um pouco e seguirá por uma crista que oferece um visual TOP, mas também é uma das partes que mais judia se você estiver com as pernas de fora, pois os bambus estão prontos alí para bater na sua canela, se você esta indo no começo do inverno ou fora de temporada prepare-se eles estarão lindinhos para te machucar, se forem em alta temporada eles já estarão arregaçados para trás de tanta gente que já passou por alí, lembrando que uma calça e uma meia já é o suficiente para você passar por alí tranquilamente. Essa parte é bem plana e possui várias áreas de acampamento, você terá uma subida tranquila até o Cume do Cupim do Boi. No cume você terá um belo visual do Parque Nacional do Itatiaia onde você consegue ver nitidamente aquela coroa do imponente Pico das Agulhas Negras. A descida para do Cupim do Boi é bem nítida também por conta dos toténs que estão por todos os lados, se você tiver a informação que o Pico dos Três Estados esta lotado, você terá uma área de camping bem protegida entre o final da descida do Cupim do Boi e o inicio da subida do Pico dos Três Estados. A subida dos Três Estados é meio escorregadia, mas nada fora do comum. Chegando ao cume dos Três Estados você verá as áreas de camping e o monumento em um formato triangular que marca a divisa dos três estados, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, lá de cima você também tem o visual do Parque Nacional do Itatiaia. Coloque todos celulares para despertar para não perder o nascer do sol. Aproveite para esticar as pernas e relaxar! * Se o cume estiver lotado você pode continuar a descida que no máximo em 30 minutos de caminhada você encontrará outra área de camping; * O Pico dos Três Estados tem sinal de celular; Quarto e último dia da Travessia Serra Fina O quarto e último dia é o mais tranquilo de todos é descida quase o tempo todo. Tome um café reforçado e siga a trilha descendo do Pico dos Três Estados. Esse dia não tem muito erro, siga a trilha descendo e os tótens para se localizar, você terá uma única subida forte que é para o Alto dos Ivos. Você perderá altitude muito rápido e logo menos chegará a uma mata mais úmida e fechada, neste ponto você já esta perto do final da travessia. Dentro desse mato você pode seguir as fitas vermelhas ou simplesmente se guiar pela única trilha. Quase no final da travessia você terá um ponto de água a sua direita, pegue a água se quiser, mas afrente após o sítio do Pierre na estrada entre o sítio e a rodovia tem mais um ponto de água. Você chegará em uma velha estrada bem aberta, pegue a sua esquerda, siga adiante, pegue um pouco de água (se quiser) e logo chegará ao Sítio do Pierre. Você pensou que acabou a travessia da Serra Fina né? Na na ni na não! Até o portão onde as vans chegam ainda tem um chãozinho e se o seu resgate estiver lá na rodovia pode colocar mais uma hora de caminhada. Na descida corte pelo mato, não siga pela estrada se não você perderá muito tempo dando voltas, atravesse o portão e não se intimide com os cachorros. Abortando a Serra Fina pelo Paiólinho - A descida do Paiólinho saindo do Livro do Cume da Mina fica a esquerda e é repleta de toténs, não tem muito erro, só o local do resgate que irá mudar, então fique atento com o sinal de celular para comunicar o seu resgate. - Não pense que a desistência é fácil, são aproximadamente 6 a 8 horas até o local do resgate e você terá dois pontos de água no percurso; Informação Bônus (Para reflexão!) Por que você quer conhecer a Serra Fina? Por que as pessoas querem fazer a Serra Fina? Por que julgam a travessia mais linda como a mais difícil? Quem pode julgar se ela é ou não é a mais difícil do Brasil? A TRAVESSIA SERRA FINA É A MAIS DIFÍCIL DO BRASIL! Não acredite em tudo que você encontra na Internet! Infelizmente muitas pessoas exageram nos perrengues e dificuldades porque querem se vangloriar e de coração espero que você não seja mais uma pessoa assim. Espero que realmente faça tudo isso por amor. Quanto mais você ama, MAIS você prática e naturalmente, você ganha mais resistência física, psicológica e o melhor, faz tudo isso com o MAIOR PRAZER. NÃO SOU MONTANHISTA, NÃO SOU TRILHEIRO, NÃO SOU TREKKER, sou apenas um cara APAIXONADO pela natureza em geral, pelas sensações que ela me oferece, pelos momentos de reflexões, pelos momentos de superação física, psicológica e dos perrengues que me tornam uma pessoa melhor, pelos grandes amigos que tive o prazer de conhecer por causa desse amor, pelos visuais maravilhosos que já presenciei é por isso que eu subo uma montanha. Desejo a vocês muita montanha com muito AMOR, aprendizado e momentos inesquecivéis. Estamos abertos a debates, sugestões e correções, um abraço! Quem quiser ver os relatos na Serra Fina segue os links da Serra Fina em 1,2, 4 dias e a vez que abortamos pelo Paiólinho: Relato da Serra Fina em 24 horas: http://coconomato.com.br/travessia-serra-fina-24-horas/ Relato da Serra Fina em Dois dias: http://coconomato.com.br/travessia-da-serra-fina-em-dois-dias/ Relato da Serra Fina em Quatro Dias: http://coconomato.com.br/travessia-da-serra-fina-em-4-dias/ Relato da Serra Fina em dois dias abortada pelo Paiólinho: http://coconomato.com.br/travessia-serra-fina-em-dois-dias-abortada-pelo-paiolinho/
  4. O Início da travessia foi feito na Toca do Lobo, no município de Passa Quatro - MG. Chegamos até a toca com o transfer do Hostel Serra Fina (35) 997203939 feito pelo guia Cristiano (35) 991910372, recomendo ambos pela humildade e hospitalidade sem igual. Começamos a caminhada 8h da manhã e chegamos no Alto do Capim Amarelo por volta do meio dia. Vou falar uma coisa para vocês, essa é definitivamente a pior parte da travessia. Um aclive muito grande, um capim infernal, e todo o peso da mochila. Você pode pegar a sua água já na toca, ou então 1h a frente em um lugar chamado quartzito, onde existe uma água amarelada que não faz mal nenhum para a saúde, pode ser bebida sem medo e foi o que eu fiz. Quem passou a dica foi o Cristiano que é guia de tempos da Serra Fina. Abasteci 4 litros. Dica do dia: Não acampe no topo do capim, adiante e vá até uma área de camping bem grande e plana chamada maracanã. Foi o que fizemos, chegamos lá passando das 14hrs. No dia seguinte começamos a caminhada perto das 9h. Chegamos no próximo ponto de água que é na base da Pedra da Mina 12h, fizemos nosso almoço e tocamos montanha a cima. Neste ponto de água você deve pegar o suficiente para subir a pedra, jantar e tomar o café da manhã do dia seguinte, para mim isso se traduz em no máximo 2 litros. Chegamos no topo da Pedra da Mina 15h, subida relativamente tranquila. Lá em cima os ratos vão tentar roubar a sua comida se ela tiver cheiro forte e você der bobeira. A noite foi bem fria por causa do vento, mas as muretas de pedra ajudam bastante dentro da barraca. No terceiro dia começamos a caminhar somente às 9h. Com 45 minutos de descida você já visualiza o primeiro ponto de água no Vale do Ruah, caso você precise abastecer. Nesse momento a trilha segue por 1 hora margeando o rio que corta o vale, então você pode esperar para abastecer quando você estiver para "se separar" do riacho. Abasteça completo, no meu caso foram 4 litros. Seguimos a trilha e chegamos no topo do Pico dos 3 estados 15h. No último dia de travessia começamos a caminhar 8h, estávamos dentro de uma nuvem literalmente. Chuva fina e vento gelado, realmente passamos frio nesse dia pois a caminhada era sempre por cristas expostas ao vento. Com 2 horas de caminhada conquistamos o cume do Alto dos Ivos, dali em diante foram mais 3 horas para chegarmos até o final da travessia, às 13h. O interessante é que lá embaixo o dia estava bem bonito, enquanto no topo da montanha não se via nada. Neste dia os bambus quase te puxam para trás, mas quando você adentrar uma floresta e diminuir a "população de bambus" você já pode ficar tranquilo, dali em diante é só vitória! Cristiano nos buscou no sítio do Pierre com cerveja gelada e voltamos para o Hostel. A travessia foi realizada no inverno, mas pos sorte pegamos tempo bom em 3 dos 4 dias. Minha sugestão de roupa para essa travessia é: conjunto segunda pela, conjunto fleece, 2 calças de caminhada, 2 camisetas de caminhada manga longa, 1 anorak e se quiser mais 1 jaqueta de plumas. Para dormir usei um saco da nautika chamado Mummy, conforto 8ºc e mais um cobertor fleece, além de quase toda a roupa. Não passei frio durante as noites.
  5. Olá Mochileiros, como vão? Espero que bem, aqui estou eu novamente escrevendo meu segundo relato do ano de 2018. Ano passado fizemos a travessia da Serra Fina em 17h, se quiserem ler o relato segue o link: O propósito para esse ano seria fazê-la em 2 dias para podermos aproveitar mais a montanha e o companheirismo da turma. Como de costume, o Nandão plantou a ideia de fazer a travessia em 2 dias e nós aceitamos de cara. Nosso parceiro Breno deu ideia de fazermos a travessia ao contrário, pois assim passaríamos no Vale do Ruah à tarde e não de madrugada. Escolhemos uma data que fosse melhor para todos e reunimos a turma. Aquele medo de fazer a Serra fina já não era tão grande como foi da primeira vez, o medo agora era de tentar terminá-la com o peso da mochila. Como sabíamos da dificuldade da travessia, treinamos por vários meses e, depois de adiarmos o passeio por 2 vezes por conta do tempo, nos dias 18 e 19 deu tudo certo. Confesso que torci para chover novamente porque estava com muito medo de fazer a Serra fina, ainda mais no sentido inverso, mas como eu havia prometido aos meus amigos que eu iria, eu fui. Estávamos em 5 pessoas: Samuel (eu), Nandão, Breno, Zé Renato (Fotógrafo oficial) e Jonas (primeira vez na SF). Saímos da Cidade de Santa Rita do Sapucaí-MG às 23h com o nosso motorista oficial Edson, chegamos até a entrada do Sítio do Pierre às 2:20 da manhã, fizemos uma oração e partimos rumo ao nosso objetivo. Passamos pela trilha, chegamos no primeiro ponto de água e já atacamos o Alto dos Ivos. Chegamos lá por volta de 7h14min, onde esperamos nosso companheiro Jonas que demorou cerca de 1h para chegar. Enquanto isso, deu pra fazer um café para dar uma aquecida - o café saiu sem açúcar porque nosso companheiro Breno esqueceu de trazer...hehe, mas faz parte. Saindo do Alto dos Ivos fomos direto para o Pico dos Três Estados. Até antes de chegar nesse pico eu estava animado e pensei “Até que o meu treino fez efeito, estou me sentindo muito bem”. Doce ilusão, mal sabia que a subida dos 3 Estados era difícil e ao contrario mais difícil ainda. Subindo aquela montanha enorme pensei em abortar a travessia, mas segui firme até o pico. Zé Renato e Nandão como sempre subiram primeiro, esses dois sem sombra de dúvidas são de outro planeta. Quando eu e o Breno chegamos os dois já estavam dormindo e nós aproveitamos para também tirar um cochilo e esperar o Jonas (esse cochilo rendeu viu?!). Chegada nos 3 Estados 10h21 Saindo dos 3 Estados, fomos para o Cupim do Boi. Lá tiramos algumas fotos, paramos para fazer um lanche e esperar o Jonas...rsrs. Nesse momento, nosso amigo Zé Renato deu a Ideia de criarmos uma #cadeojonas...hehe, e não é que pegou?! Logo depois disso, partimos para o Vale do Ruah. Chegada no Cupim do Boi 12h58. O caminho até o Vale do Ruah é relativamente mais tranquilo, a única coisa que enche o saco são os Capins Elefantes que seguram, dificultando a caminhada. Lá pegamos água, molhamos os pés e fomos atacar a Pedra da Mina. Chegada no Vale do Ruah 14h51 A subida da Pedra da Mina é muito cansativa, quando eu a vi lá debaixo bateu um desanimo, é muito alta. Quem já fez a travessia ao contrário sabe do que eu estou falando, é uma subida que não tem fim. Eu várias vezes sentei e comentei com o Breno que queria chorar e abortar a travessia. Sentamos umas 3 vezes para descansar e toda vez que sentávamos cochilávamos por um tempo. Quanto mais a gente subia, mais cansado a gente ficava e nunca chegava, sinceramente, nesse momento eu queria ter um amigo rico, mais bem rico com um helicóptero pra eu poder ligar e ele vir me buscar..rsrs Depois de todo o sofrimento, chegamos no topo. Ufa! Pensei que não chegaríamos. Montamos nossa barraca, fizemos aquela feijoada ao som de Sorriso Maroto e Thiaguinho (créditos ao Nandão), comemos e fomos dormir. Dentro da barraca eu tive vontade de chorar, pensei que no outro dia não daria conta, mas dormimos. Na madrugada fez -4°C, nossa barraca congelou. gelo.MP4 No outro dia levantamos para ver o sol nascer - que espetáculo gente! Coisa linda demais. É um espetáculo da natureza ver o sol subir por cima do Agulhas Negras. Vejam as imagens: Depois do espetáculo, arrumamos as coisas, assinamos o livro e partimos com o objetivo de terminar a travessia. Nosso ânimo estava renovado e, apesar da noite mal dormida, estávamos todos bem, nesse momento esquecemos dos problemas do dia a dia e demos várias risadas pelo caminho. Isso me fez lembrar de uma frase que o grande Maximo Kausch (Gente de Montanha) disse na entrevista com o Danilo Gentili “Quando a gente está na cidade a gente segura uma máscara tentando ser outra pessoa e quando estamos na montanha, longe do conforto do dia a dia, você realmente vê quem é quem”. Eu particularmente gostei dessa frase e ela retrata muito bem os amigos que eu fiz na montanha, eles são demais. Descemos a Pedra da Mina e paramos no primeiro ponto para pegarmos água. O Sol estava bem quente e teve um parceiro nosso que queria ir de cueca, pois já não aguentava mais. Pedimos pelo amor de Deus para que ele não fizesse isso, por fim, todos reabastecidos, fomos rumo ao Camping Maracanã. Camping Maracanã às 09h44. Passamos rapidamente pelo Camping e paramos um pouco acima para comermos. tirar umas fotos e esperar o Jonas. #cadeojonas Descemos um pouco mais e logo depois avistamos o Pico do Capim Amarelo - o último pico dessa travessia. Que felicidade gente! Nem acreditava que não teríamos que subir outra montanha. Apertamos o passo, chegamos lá em cima às 12h43min e Zé Renato fez um time lapse animal lá de cima. time capim.mp4 A subida até o Capim Amarelo é pesada. subida capim.MP4 Nesse momento ligamos para a pessoa que iria nos resgatar e a mesma disse que iria nos buscar às 17h30min da tarde, pois estava saindo para fazer outro resgate, detalhe que nós havíamos conversado com ela anteriormente e cantamos a pedra que chegaríamos na Toca do Lobo por volta de 15h30min – 16h. Nesse momento lembrei do Sr. Edinho (uma ótima pessoa que todos que fazem a travessia já devem ter ouvido falar dele) e na mesma hora ele disse que iria nos resgatar, isso foi um alívio. Esperamos o #cadeojonas chegar e descemos às 13h30min do Capim Amarelo, rumo à Toca do Lobo. Estávamos ansiosos para passar no Caminho dos Anjos, pois na primeira vez que fizemos a travessia, não deu para tirarmos fotos, pois estava de madrugada ainda. Chegamos lá e as fotos ficaram incríveis (Creditos José Renato). Gostaria aqui de fazer uma pausa no relato e falar de uma pessoa que realmente é nota 10: José Renato Ribeiro - ele é uma pessoa que não mede esforços para tirar uma fotografia. Além de ser um ótimo profissional e humilde, ele é feliz fazendo o que gosta. Carregando a mochila pesada, cheia de acessórios, ele é capaz de ir na frente da turma e parar em um certo lugar só pra tirar fotografias da galera e das belas paisagens. Sinto-me privilegiado de conhecer essa grande pessoa e ser seu amigo. Além disso, agradeço ao Nandão por ter nos apresentado a ele. Obrigado por tudo Zé. Os créditos pelas fotos desse relato é seu. Chegamos na Toca do Lobo às 16h, tiramos mais algumas fotos, tomamos um meio banho na cachoeira pra tirar o cheiro de urso e fomos ao encontro do Sr. Edinho. Considerações finais: a travessia da Serra Fina no sentido normal já é bruta, no sentido inverso ela fica mais bruta ainda. Pensei em desistir várias vezes, mas a vontade de terminar, o encorajamento dos amigos e o desejo de não desistir falaram mais alto e isso me fez criar forças para concluir essa travessia tão linda e ao mesmo tempo tão dificultosa. É difícil colocar em palavras o quão difícil é subir uma montanha. Às vezes as pessoas acham que estamos exagerando e que não é tão difícil assim, pra essas pessoas eu digo e sempre vou dizer: vá lá e veja como é. A briga com o psicológico é constante, mas com um jeitinho e incentivo de todos a gente chega lá, lembrando que quando eu digo “eu”, eu me refiro ao grupo todo. Gostaria de agradecer de coração aos que foram nessa mega aventura - Nandão, Breno, Zé Renato, Edson (nosso motorista oficial, que todo ano está com a gente e dessa vez não foi diferente), Jonas (mesmo sofrendo para andar e acompanhar a turma, concluiu a travessia e foi até o final #cadeojonas). Muito obrigado a todos, espero que ano que vem nós possamos fazer outras travessias. Apesar de difícil ela se tornou extremamente divertida por conta de vocês. Estava lendo um blog um tempo atrás e vi uma frase que não sei se é da blogueira, mas eu achei que essa frase faria todo o sentido para terminar esse relato, que ficará marcado nas nossas memórias por um bom tempo. “E então é o seguinte: Não desista. Não deixe que um sentimento de incapacidade cresça e tome conta de você. O melhor impulso para a falta de coragem é meter a cara e sair do lugar mesmo! Porque sempre há uma chance da gente tropeçar em algo maravilhoso. E é impossível tropeçar em algo enquanto estamos sempre sentados no mesmo lugar.” Até a próxima. 1º dia: 18,2km Ganho de elevação: 1.972m Tempo: 14h21m 2º dia: 11,6km Ganho de elevação: 531m Tempo: 8h 5m Elevação maxima: 2798m Dados do Strava.
  6. Este é um relato detalhado dessa trip que chegou ao topo da Pedra da Mina cruzando a Serra Fina de sul a norte. Iniciamos a caminhada em Queluz/SP, seguindo pela margem do Rio Claro até chegar próximo à sua nascente, que é a base da Pedra da Mina, para depois descer do outro lado pela Trilha do Paiolinho. Iniciamos no dia 24/07 (Quinta-feira) e levamos 4 dias para chegar no topo e depois mais 2 dias para retornar à São Paulo. Estávamos em 4, mas logo no segundo dia tivemos uma baixa. As fotos estão no Flickr:. # Preparativos Tudo começou em 2007. Na época o Carlos Lessa, mais conhecido com Cela (montanhista do UNICERJ) enviou e-mails para mim e para o Jorge Soto convidando para fazermos essa travessia subindo pelo Rio Claro. Ele até tentou ligar em um telefone que pertencia ao dono da Fazenda Jaboticabal, que fica em Queluz/SP onde se inicia a trilha, mas em vão. E com isso passou a época de inverno e deixamos para lá, mas ali a ideia foi plantada. E novamente no começo de 2008 voltamos a falar sobre essa travessia e em Abril consegui o telefone através de um relato que encontrei na Internet. O telefone era do dono da Fazenda. Ao longo dos meses de Abril e Maio, liguei algumas vezes para o escritório e consegui falar com ele, explicando nossa intenção de subir a trilha do Rio Claro, mas ele sempre dizia que a trilha estava muito fechada e que já tinha havido problemas com pessoas que tentavam fazer essa trilha (em um relato postado no site loucos de pedra comentavam que já tinha havido 7 tentativas frustradas para subida por essa trilha: Clique aqui- http://www.loucosdepedra.com.br/anterior/anterior/diarios/d_rio_claro.html). Ele não quis citar as pessoas que tentaram, mas pelo relato deu para ver que a trilha é casca grossa mesmo. Argumentei com ele que o grupo era só de três pessoas (eu, o Cela e o Jorge) e que já tínhamos feito algumas travessias pesadas, mas a cada momento que eu ligava para ele percebia que a autorização ia ser difícil conseguir. No começo de Junho/08 comentei com o Jorge e o Cela sobre essas dificuldades da trilha. O Jorge disse que tinha conseguido a trilha plotada em uma carta topográfica de 1:10.000. Não pensei 2x e voltei a ligar novamente e comentei com ele sobre isso e daí em diante até se mostrou favorável para que fizéssemos a trilha, mas surgiu um outro problema: ele queria nos conhecer pessoalmente, o que seria uma dificuldade para nós, pois não era fácil reunir os 3 e se mandar para Guaratinguetá onde ele morava. Outra exigência dele, que de certa forma entendemos, foi querer saber se tínhamos mesmo experiência em travessias pesadas. Pelo menos isso foi fácil, já que só foi mandar por e-mail relatos e fotos de trilhas que eu e o Jorge já tínhamos feito. Pela dificuldade de agenda em marcarmos uma data para encontrarmos com ele, o Jorge propôs que no mesmo dia que fossemos iniciar a trilha, que passássemos pela sua casa em Guaratinguetá para assinarmos o Termo de Responsabilidade e dali para frente qualquer acidente ou morte seria por nossa conta e risco, isentando o dono da fazenda sobre isso. Liguei novamente para ver se aceitava a nossa proposta e ele concordou. Em seguida pediu nossos nomes completos e números dos documentos para que ele redigisse o Termo e assinássemos quando tivéssemos passando por lá. Mas aí surgiu outro problema (era um atrás do outro): o Cela não estava respondendo os e-mails há vários dias e isso nos deixou preocupados quanto a sua confirmação na trip. Depois de ligar no seu celular fui saber que ele estava no RS a trabalho. Comentei que os planos de subir a Pedra da Mina pela Trilha do Rio Claro já estava quase tudo pronto e que estávamos planejando a travessia para última semana de Julho devido a disponibilidade de datas minha e do Jorge. O problema é que ele só estaria disponível depois de Agosto e com isso antes de iniciar a caminhada, já tínhamos a primeira baixa. Agora éramos só eu e o Jorge, mas ele prevendo isso já tinha convidado o Ricardo (outro trilheiro experiente que tínhamos feito a Transmantiqueira juntos – relato aqui) e mais alguns outros para a trip. Liguei novamente comunicando a desistência do Cela e o acréscimo de mais pessoas na trip, mas ele disse que achava errado, pois em todos os contatos sempre mencionei que iriam só 3 pessoas. No final tivemos que reduzir a trip e só ficamos em 4 (eu, Jorge, Ricardo e Ângelo), o que ele concordou. O Ricardo estava levando um GPS com os pontos plotados do Google Earth e da carta do Jorge e eu estava levando uma carta topográfica com toda a trilha plotada desde a Fazenda até o topo da Pedra da Mina. Nossa intenção era descer pela Trilha do Paiolinho e um irmão do Ricardo nos resgataria lá na Fazenda Serra Fina. A Trilha do Paiolinho nenhum de nós tinha feito, mas iríamos descer por lá mesmo (no final a trilha foi muito mais fácil do que prevíamos, pois ela é bem demarcada – impossível se perder ali). Nos últimos dias acertamos de entregar diretamente na Fazenda os Termos de Responsabilidade assinados e a data ficou marcada para o dia 24/08 (Quinta-feira) e o retorno para o dia 27/08 (Domingo) levando 3 dias somente para a subida da Fazenda até o topo da Pedra da Mina. # 1º dia Saímos de Sampa na Quinta pela manhã para encontrar o Ricardo na Rodoviária de Queluz, mas por um atraso no planejamento só saímos do Terminal Tietê às 09:00 hrs em direção a Resende (RJ), chegando em Queluz as 12h30min e nessa cidade pegamos um táxi em direção a Fazenda Jaboticabal onde chegamos as 13h20min. Aqui entregamos nossos Termos de Responsabilidade assinados para uma pessoa que cuidava da Fazenda e logo que iríamos iniciar a subida em direção a trilha, um caminhão entrou na Fazenda para fazer o mesmo percurso que a gente e com isso ganhamos uma carona que nos economizou cerca de 7 Km de subida íngreme pela estrada, nos deixando a cerca de 30 minutos do início da trilha. Daqui em diante, seguimos caminhando por uma antiga estrada de acordo com o GPS do Ricardo até encontrarmos o início da trilha. As 15:00 hrs chegamos na placa que indicava o início da trilha que leva até o Rio Claro que o proprietário já tinha nos alertado, encontramos a trilha bastante fechada e com o mato tomando conta. Depois de uns 15 minutos varando mato, chegamos ao Rio Claro que merece o nome que tem, pois suas águas são de uma transparência nunca vista e aqui encontramos seu leito com inúmeras pedras e pequenos poções (dependendo da incidência da luz solar, a água pode se tornar azul ou verde). Devido a falta de chuva há vários dias o rio estava com alguns trechos secos, o que facilitou a caminhada, na verdade, escalaminhada. A subida até a nascente foi um trepa pedra atrás do outro e isso quando não tínhamos que varar mato para evitar paredões verticais onde a subida era impossível. Nesse primeiro dia, não ganhamos tanta altitude porque o trecho inicial não estava muito encachoeirado, o que até facilitou para gente. O Ricardo foi sempre à frente e eu logo atrás dele. De vez em quando a gente parava para confrontar os dados do GPS com as coordenadas da carta topográfica para sabermos em que trecho do rio estávamos. Conforme íamos escalaminhando enormes pedras, o fim da tarde já ia se aproximando e por volta das 17:00 hrs eu e o Ricardo resolvemos explorar algumas partes planas nas laterais do rio e encontramos um local que dava pra acomodar as 3 barracas e a rede do Jorge. Era nossa primeira noite ao lado do rio e por volta das 20:00 hrs todos já estavam dentro das barracas e só me assustei que durante a madrugada acordei com um barulho estranho debaixo da barraca. Era como se fosse um animal ou inseto roendo alguma coisa e na hora tive que dar várias porradas no piso da barraca para que o barulho parasse, mas que pouco adiantou. Voltar a dormir não foi fácil, pois a todo o momento pensava que o bicho ou inseto podia entrar na barraca. O local onde estávamos era forrado de vegetação e várias raízes, por isso o bicho continuava lá embaixo. No horário que acordei, por volta das 02h20min, o termômetro marcava cerca de 12 °C e não lembro de quando voltei a dormir, mas por volta das 06:00 h acordei um pouco sonolento, mas pronto para mais 1 dia de escalaminhada. Continua no segundo dia
  7. RELATO TRAVESSIA SERRA FINA: No feriado do dia sete de setembro/17 eu criei coragem para realizar este desafio - A Travessia da Serra Fina trilha no Sudeste do Brasil uma travessia cobiçadas e que tbm e considerada uma das mais difíceis do Brasil. Localizada na tríplice divisa de SP/RJ/MG. Começa pelo Pico do Capim Amarelo (2570 m) e passa por diversos picos acima dos 2000 m de altitude e em duas das dez mais altas montanhas do Brasil: Pedra da Mina (4° 2798 m) e Pico dos 3 Estados (10° 2665 m). Estava com um grupo de 14 pessoas do Trilhas&Passeios ❤️❤️❤️. Começamos a Travessia da Serra fina, dia 07/09, às 5h30 pela toca do Lobo, tds os integrantes pegaram água 6 litros cada um,ai seguimos até o cume do Capim Amarelo, com aproximadamente 20 kg na cargueira, claro que qdo começou as cordas aí eu comecei a chorar e pensei não irei conseguir aí pensei já deu pra mim, pq já estava sem forças para subir, aí ao chegar na última corda nosso amigo Franco que ja estava ao Cume do Capim desceu e pegou há minha cargueira aí sim eu consegui chegar ao cume feliz da vida 😅😅😅 estava morta de cansaço aí o grupo fez a opção de não acampar, lá, eram as últimas Vagas e deixamos para outro grupo, avançando até o Maracanã, claro aí foi só alegria pq era só descida onde acampamos no primeiro dia. Tudo bem tranquilo, chegamos cedo, montamos acampamento e durante a noite, a temperatura chegou a -2ºC, e durante o dia, a mesma foi de aproximadamente 24 graus. Iniciamos o segundo dia, com a intenção de alcançar a Pedra da Mina e acamparmos no Vale do Ruah, claro que eu tbm sofri mas um pouco menos, pois estava só com 2 litros de água, pq lá na frente tem ponto de água e a subida era em zigue-zague. Ao chegarmos no Cume da Mina, a mesma já estava lotada, Pois bem lá estava eu na Pedra da Mina (4° montanha mais alta do Brasil). Após avistar o cupim do Boi, Pico dos três estados aí pensei borá terminar que agora falta pouco 😅😅😅 (se referindo ao Três estados), aí eu segui junto ao grupo com a logística de chegar no Camping. Chegamos a tarde no Vale do Ruah, montamos acampamento e às 18h já estava muito frio, claro eu não consegui dormir de maneira alguma, pois eu estava com uma mega friaca. Quando amanheceu todas as barracas estavam congeladas, águas dentro da barracas e mochilas, tudo congelado, um guia lá disse que a temperatura chegou a -12ºC. No terceiro dia, tínhamos como objetivo acampar no Pico dos Três estados, avançamos rapidamente até mesmo pq que tem muitos trechos de escalaminhada mas ao chegar ao local, já estava tudo lotado, porém conseguimos acampar pouco abaixo do mesmo, sem grandes problemas, claro uma subida bem puxada pq estávamos com 6 litros de água na cargueira claro na minha só deu para colocar 3 litros estava muito cheia aí eu levei na mão os outros 3 litros que no caminho nosso amigo Franco colocou na cargueira dele. No último dia o sol nasceu lindíssimo no alto do Pico dos Três Estados, e depois disso foi só descida 😅😅😅 antes fosse né , pois “a gente desce pra subir, e sobe pra descer”. Isso porque se passa por várias outras montanhas para se chegar ao sítio do Pierre, na BR-354 na cidade de Itamonte, onde termina a travessia. Passamos pelo Cabeça de Touro, Alto dos Ivos e outros, o nosso resgate estava marcado para ás 15h00, mas devido a nossa agilidade , felicidade, cansaço e etc estávamos em Itamonte às 13h00 🎉🎉🎉, claro que nossa amigo do resgate Alexandre e o Sr. Manoel já estavam lá. A experiência é única em que eu aprendi muito uma delas é que nessa travessia a água se torna o bem mais valioso, a parte física já estava pra lá de comprometida como dores nas pernas dor de cabeça devido ao sol muito quente o cansaço foram vencidos e superados, pois graças adeus eu não encontrei nenhum bicho já que eu tenho medo e isso me impedia de acompanhar em montanha claro que o psicológico conta muito e eu só tenho a agradecer a meu deus e a tds do grupo Trilhas&Passeios pela união e apoio uma energia magnífica que ficará em minha vida e para fechar eu FARIA td novamente. Travessia Serra Fina: da Toca do Lobo ao Sítio do Pierre – 30 km de extensão Pedra da Mina: 2.798,4 metros (4º ponto culminante) Pico dos Três Estados: 2.665,0 metros (10º ponto culminante) Pico do Capim Amarelo: 2.570 metros Alto dos Ivos: 2.519 metros Pico Cabeça de Touro: 2.649 metros Pico Cupim do Boi: 2.543 metros " Eu que decidi viajar, Eu que escolhi conhecer, Nada tenho a deixar Porque aprendi a viver..."
  8. Álbum com todas as fotos da travessia estão em: https://goo.gl/photos/nfzuWXFzDoqd68vh8 Travessia realizada entre dias 29/07 a 01/08/17. - Introdução - No geral, quem faz a travessia da Serra fina pela 1º vez, logo se encanta com a beleza do lugar e também sente na pele a fama da travessia estar entre as mais dificeis do Brasil. O que ela tem de dificil, tem de recompensas, o que faz que muitos retornem. Já tendo feito outras 2 vezes no sentido tradicional, agora era hora de experimentar a travessia no sentido contrário, que dizem ser mais dificil, mas que oferece outras experiências, pespectivas e visuais diferenciados. E mais perrengues, obviamente. Chamei alguns amigos, mas devido a logística (ter que enforcar 2 dias úteis da semana) o unico que topou encarar a empreitada comigo foi o Leonardo. Marcamos de nos encontrar na Rodoviaria do Tietê e embarcamos no ônibus das 23:30hs em direção a Itanhandú/MG. A viagem foi tranquila e pouco antes das 4:30hs saltamos na rodoviaria da pacata cidadezinha de Itanhandú, cidade localizada no sul de MG e que mais parecia uma rodoviária fantasma. Além da gente, outros 2 passageiros desembarcaram na pacata rodoviaria. O céu estava claro e a temperatura marcava 05ºC para o desespero do Leo que duvidou qdo eu disse em SP que as cidades do sul de MG são muito frias, principalmente a noite. O motorista do ônibus, ao ouvir o Leo dizendo que tava muito gelado ali, brincou: "Está quente hoje...pois o normal para o horário e já estar abaixo de zero....E eu ainda disse: Se acha que está gelado aqui, espere para ver o que te espera lá em cima. Pelo roteiro, iriamos esperar o 1º ônibus do dia para Itamonte, que sai as 6:00hs e de lá pegaríamos um taxi até o sítio do Pierre, onde começa/termina a trilha da travessia. Mas para a nossa sorte, 2 pessoas que desembarcaram haviam chamado um UBER e também iriam para Itamonte. Eles perguntaram se tb iriamos para lá e se topariamos rachar a corrida em 4, o que aceitamos na hora, é claro. Após chegarmos em Itamonte, aproveitamos para esticar a corrida direto para o Pierre, o que otimizou bastante o nosso tempo e ainda saiu a bagagela de apenas R$ 30 para cada um, vindo direto de Itanhandu até o Pierre, parando apenas em Itamonte para o desembarque das outras 2 pessoas que iriam ficar por lá. Com isso, economizamos tempo e dinheiro. 1ºDia - Do Sítio do Pierre (1.800m) ao Pico dos 3 Estados (2.665m) Ainda estava escuro qdo chegamos ao inicio da trilha, no sítio do Pierre....após ajeitamos as cargueiras e fazer os alongamentos de praxe, iniciamos a caminhada pontualmente as 6:00hs em direção ao Pico dos 3 Estados. A 1ºhora de caminhada é feita pela estradinha de terra do sitio que mostra logo de cara que a subida até os 3 Estados não será moleza. Passamos pela porteira de entrada do sitio e vejo que não havia ninguém, apenas 2 cães solitários que latem a nossa passagem. O dia já está clareando e a serração tipica da montanha cobre os vales. O céu estava livre de qualquer vestígio de nuvens o que mostra que o dia seria igualmente aproveitavel para a nossa alegria. Vamos ganhando altitude e a subida tediosa pela estradinha de terra não dá trégua, mas pelo menos serviu para aquecer os músculos e espantar um pouco o frio da manhã. Passamos por alguns pontos de água, mas sabendo que haveria mais pontos acima, falo para o Leo deixar para abastecer mais acima. Se quiser evitar um peso desnecessário nas costas, deixe para pegar água a mais ou menos 30 minutos após o inicio da trilha, que é o ultimo ponto. As 6:47hs resolvemos fazer uma rápida parada para um café da manhã reforçado....afinal, subir de estomago vazio não dá né? Os primeiros raios do sol já coloriam o alto dos picos e o céu azulzinho apenas aguçavam nossa ansiedade. O Picú com seus 2.020 metros de altitude nesse ponto estava bem visivel a nossa frente. Ainda no sitio do Pierre, subindo pela estradinha de terra... Vista do Picú na subida da estradinha de terra, ainda no Sítio do Pierre A placa no inicio da trilha Após o café, retomamos a caminhada e as 7:15h chegamos ao inicio oficial da trilha. Uma placa logo a frente nos alertara para levar todo o nosso lixo de volta. 25 minutos desde as últimas casas do Pierre, chegamos ao 1º e único ponto de água do 1ºdia da trilha (sem contar os pontos de água da estradinha do sitio do Pierre) onde aproveitamos para carregar o suficiente para os próximos 2 dias, pois só iremos encontrar o próximo ponto de água no final do 2ºdia, no Vale do Ruah. Como a subida dos 3 Estados é mais longa do que a subida do Capim amarelo, abasteço com 4 litros e ainda tinha 2 garrafinhas de 500ml de gatorade cada na mochila, totalizando 5 litros que foram mais do que suficientes para mim. No sentido tradicional, costumo trazer apenas 3 litros de água e 1 de gatorade. Com as cargueiras mais pesadas do que nunca, vimos que a subida seria mais dificil que a do Capim de fato. E que iriamos comprovar a fama da travessia ao contrário ser mais puxada que a tradicional. De qualquer forma, é sabido que na Serra fina não tem moleza alguma do começo ao fim. Só de saltar na rodovia e começar a caminhar com um subidão pirambeiro logo de cara mostra bem isso. Abastecidos, retomamos a caminhada em meio a mata fechada e o frio da manhã ainda estava bem intenso, pois ainda estavamos na sombra e o Leo não via a hora de sair no sol. Até brinquei com ele que não deveria desejar o sol, pois qdo chegarmos ao trecho de crista, não haverá sombra e o sol já estará mais forte, o que acaba aumentando mais o desgaste físico. Em alguns pontos, aberturas em meio a mata fechada revelavam alguns picos e a crista por onde ainda iriamos passar. A trilha dá uma volta enorme em formato de "U" para evitar um grande vale a direita e atingir uma crista a frente que une os 2 morros. A frente vejo algumas subidas bem fortes e falo para o Leo que a trilha sobe exatamente por ali. Vista dos picos ainda no trecho de mata fechada 40 minutos desde o ponto de água lá atrás, chegamos aos primeiros trechos de campos de altitude as 10:30hs. Já estavamos acima dos 2.000 metros de altitude e nesse ponto entramos em um trecho de transição, onde a vegetação de mata atlântica vai pouco a pouco dando lugar aos de campos de altitude. As primeiras vistas do entorno aparecem e já consigo ver o Pico dos 3 Estados ainda bem distante e o alto dos Ivos a direita, com sua crista parecendo estar próximos, mas ainda distante algumas horas ainda....A Leste visualizo a Serra do Itatiaia com os Picos do Couto a esquerda e Prateleiras a direita em destaque. Ao fundo a esquerda, Pico dos 3 Estados ainda distante. A direita, alto dos Ivos Tapetão de nuvens cobrindo o vale do Paraíba Serra de Itatiaia ao fundo O dia estava radiante e o sol brilhava forte, com um tapetão de nuvens cobrindo totalmente o vale do paraíba, um espetáculo em tanto que foi merecedor dos primeiros clicks, é claro. Passamos por um descampado protegido para 4 ou 5 barracas que Pode/deve ser usado para quem começa a trilha no final do dia e quer adiantar parte do trajeto do primeiro dia, mas sem água perto. Pouco depois, cruzamos com alguns montanhistas fazendo a travessia no sentido tradicional a qual cumprimento cordialmente. A subida da uma leve tregua e nesse ponto, passamos por alguns trechos curtos de sobe morro/desce morro sem maiores dificuldades. Descampado plano e protegido que fica pouco a frente logo qdo você passa pelo primeiro trecho aberto fora da mata O corpo já começa a reclamar e com a cargueira mais pesado do que nunca, as pernas já dão os primeiros sinais de desgaste, após quase 3 horas de subida desde a Rodovia. Pouco antes das 12:00hs chegamos a base do Pico do Ivos e só de olhar o paredão íngreme da crista cansou até a vista. As 12:10 entramos definitivamente aos campos de altitude e a partir daqui a trilha some e a navegação passa a ser feita quase que exclusivamente por totens e fitas presas. Começamos a subir e o trecho inicial se mostrou uma pirambeira daquelas com trechos de escalaminhada e trepa-pedra. A subida é ardua, o sol castiga muito, o que me fez parar algumas vezes vezes para retomar o fôlego. As 12:48hs, com pouco mais de 30 minutos de subidão pirambeiro, o terreno dá uma amenizada e a caminhada entra no trecho da fina crista, com enormes vales à esquerda e a direita. A nossa frente, vejo o topo do Ivos relativamente próximo, mas ainda tinha um trecho com 2 cocorutos para vencer antes dele. Nesse ponto também consigo visualizar todo o trecho já percorrido, com o Pierre lá embaixo, as escarpas rochosas da Serra de Itatiaia e o Picú a leste. O visual daqui impressiona. Crista dos Ivos logo a frente Último trecho antes de começar a subida pirambeira Trecho da crista por onde passamos As 13:15, após 5 horas e meia de caminhada desde a rodovia, a subida finalmente acaba e a partir daqui entro no trecho final antes do cume do Ivos. O Topo estava bem próximo e por fim as 13:20 finalmente chego aos 2.512 metros de altitude do Alto dos Ivos para um merecido descanço. Do cume, é possível ver todo o trecho de subida, o Pico dos 3 Estados, Pedra da Mina e vários outros picos da Serra fina a Oeste, com a Serra do Itatiaia e o Picú a leste. Aproveitamos para fazer um pit-stop mais demorado para forrar o estomago e molhar a goela seca, após a subida que se mostrou bem mais puxada que a subida do Capim amarelo. Aqui acaba o trecho mais puxado de subida, mas não a caminhada do dia. Trecho final da crista No Topo dos Ivos, com a bela vista do Pico dos 3 Estados a esquerda e Pedra da Mina a direita Pouco antes das 14:00hs, começamos a descer o Ivos em direção ao nosso destino final, agora novamente por trilha bem demarcada. O Pico dos 3 Estados parecia estar perto, mas ainda restava a descida e a subida de 2 vales e picos menores até a base. A descida é ingreme, mas tranquila e vamos descendo sem maiores dificuldades. 30 minutos desde o topo do Ivos, a descida termina e estamos cruzando o primeiro de 3 vales. Passamos por alguns descampados planos e protegidos na base do Ivos com espaço para umas 8 barracas que são perfeitos para acampamento, mas com o problema de não haver água perto. Vista do trecho ainda a percorrer, durante a descida dos Ivos Subida de um pico menor entre o Ivos e o 3 Estados A trilha segue subindo em direção a um pico menor para depois bordejar a direita de outro morro para então seguir em direção a base dos 3 Estados. As 15:20hs finalmente chego aos descampados na base dos 3 Estados denominado "Bandeirantes". O frio da montanha começava a dar as caras e nem ficamos muito tempo parados na base para evitar que o corpo esfrie. A nossa frente só restava o tenebroso e imponente Pico dos 3 Estados e seu paredão ingreme pronto para ser escalaminhado. Estavamos a uma altitude média de 2.450 metros e teriamos que subir mais 200 metros afim de atingir os 2.665m dos 3 Estados. Após um breve descanço, as 15:35hs iniciamos a subida de ataque final ao cume, que logo se revela uma pirambeira daquelas....Não é nada fácil esse trecho e vou subindo devagar, sem pressa. Os músculos das pernas já estavam esgotados de tanto sobe morro/desce morro, mas continuar era preciso. Com vários trechos de escalaminhada e trepa-pedra, vou parando em alguns momentos para retomar o fôlego. As 16:05hs alcanço um dos ombros dos 3 estados, com a subida dando uma tregua. Aproveito e faço uma breve parada, pois ainda tinha mais um trecho de subida final para o desespero do Leo que estava nas últimas também. Continuamos em frente nos guiando por fitas amarelas e vermelhas e totens por um trecho plano. Vista do vale na base dos 3 Estados (ignorem a data da foto) Subindo a pirambeira dos 3 Estados Enfim, o trecho de subida final antes do pico Depois do trecho plano do ombro, subimos mais um trecho para então finalmente alcançamos o topo dos 2.665 metros do Pico dos 3 Estados as 16:35hs, o que foi motivo de comemoração, é claro. Afinal, foi uma caminhada árdua de quase 8 horas com peso máximo das cargueiras e vegetação virado ao contrário para nós. No Topo havia apenas 2 grupos com poucas pessoas e bastante vagas nos descampados para montar barraca. Vantagem de fazer a travessia ao contrário e chegar tarde e não ter problema para encontrar vaga...Nesse horário, no Alto do Capim amarelo já estaria lotado e teríamos que seguir em frente em direção ao Avançado ou o Maracanã, afim de encontrar vaga. Alguns sacrificios valem a pena. Após montarmos nossos respectivos aposentos e ver o Astro-rei repousar no horizonte, preparamos nossa janta e com o frio intenso, nem ficamos muito tempo fora da barraca e logo fomos dormir. Continua no post abaixo....
  9. Bem, sei que há trocentos relatos sobre essa clássica travessia, então aqui vai mais um.... Álbum, com todas as fotos da travessia estão em: https://photos.app.goo.gl/gh3c4PJaBMSHoF887 Travessia realizada entre dias 12 a 15/06/2014. Eram 3:55h da manhã de uma fria madrugada de quinta-feira qdo saltei do ônibus na minúscula e pacata rodoviária de Passa Quatro (MG), que mais parecia um galpão qualquer. Após pegar meu chum...ops, cargueira do bagageiro do busão, Vivi, Marcão e alguns amigos do Sandro já se encontravam no local a minha espera e dos demais. Michel também já estava no local, mas só foi aparecer meia hora depois, pois se encontrava no mundo dos sonhos dentro de seu carro. Feitas as devidas apresentações, ficamos aguardando os demais do grupo chegarem. A madrugada na pacata cidadezinha localizada em um vale no meio das imponentes montanhas da Mantiqueira estava gelada, como é comum em cidades de altitudes elevadas (acima dos 1.000 metros). O céu estava com poucas nuvens, o que indicava que o dia seria bem aproveitável nesse primeiro dia. Os 2 resgates contratados já se encontravam no local e ficamos aguardando o resto do pessoal chegar. Tão logo isso ocorreu (embora alguns que disseram que viriam, deram para trás e sequer avisaram, mas felizmente a maioria apareceu), as 5:30h partimos rumo ao inicio da trilha, onde chegamos por volta das 6h20, na chamada "Fazenda Santa Amélia" (Toca do lobo) na cota dos 1.570 metros de altitude. A fazenda parecia estar abandonada e uma placa verde já bem gasta pela ação do tempo nos dava as boas-vindas com algumas orientações, dicas e o mapa com os picos, pontos de acampamento e de água. 1º Dia - Toca do Lobo (1.570 m) ao Pico do Capim amarelo (2.491m) Mapa ilustrativo da travessia com os pontos de acampamento, água e os principais picos A placa bem gasta, já não dava para visualizar quase nada, infelizmente.... Após ajeitarmos as cargueiras e alguns alongamentos básicos, iniciamos a caminhada por volta das 6:40. O trecho inicial da fazenda até a Toca do Lobo já começa logo de cara com uma subida, dando uma idéia do que nos aguardara nesse primeiro dia, rumo ao Pico do Capim amarelo. Após o primeiro lance de subida (que foi boa para aquecer os músculos e espantar o frio da manhã), a estradinha nivela, vira trilha e segue margeando a encosta esquerda de um morro, passando a descer levemente em direção a um pequeno vale. Passo por uma trifurcação, onde pego o caminho mais batido a esquerda. Galera ajeitando as cargueiras A simpática e discreta fazenda Santa Amélia Inicio da trilha Os primeiros raios de sol coloriam o topo das montanhas ao redor, indicando que o dia seria igualmente aproveitável e com visão total do percurso e do entorno. Nesse trecho inicial, algumas aberturas no meio da mata fechada revelavam os picos do entorno, por onde iria passar, dando uma ideia do que me esperava pela frente.... Janelas em meio a mata fechada, revelavam alguns picos Não demora muito e as 7:10, chego no 1º ponto de água da travessia ao lado de uma pequena gruta conhecida como "Toca do Lobo", que realmente lembra uma toca. Lá, encontro parte da galera que havia saído minutos antes de mim na frente, fazendo seu primeiro pit stop no local e também faço o mesmo. A água de um rio que corre bem do lado direito é corrente e de boa qualidade, mas sabendo que havia outro ponto de água mais acima, optei por deixar para abastecer os cantis mais acima, entre os morros do Cruzeiro e Quartzito, a cerca de 1 hora de caminhada trilha acima, economizando no peso da cargueira. Toca do Lobo 1ºponto de água ao lado da Toca Depois de atravessar o rio, sigo pela trilha a direita e passo por mais um trecho de mata fechada, que não dura muito tempo e logo dão lugar aos primeiros trechos de campos de altitude, formado inicialmente por gramídeas e capim ralo, com trilha bem aberta, possibilitando as primeiras visões dos picos ao redor por onde ainda irei passar. Pouco a pouco, o pessoal vai se afastando uns dos outros, devido ao ritmo variado de cada um e nisso, vou seguindo pela trilha, que vai subindo meio que em zig-zag, sem maiores dificuldades....As primeiras vistas nesse trecho inicial de subida já são de impressionar, inclusive com as primeiras visões do Pico do Capim amarelo bem lá no alto imponente, a esquerda. Primeiras vistas logo que sai da mata fechada Pico do Capim amarelo lá no alto, bem distante ainda Passados 30 minutos desde a Toca, chego no alto do morro do Cruzeiro na cota dos 1.783m, onde já é possível visualizar parte dos trechos por onde a trilha segue em direção ao próximo morro, o do Quartzito. Após alguns cliques e uma curta parada para descanço, retomo a pernada, descendo levemente o morro, para então iniciar a primeira subida forte em direção ao Quartzito. Subida do morro do cruzeiro,se não me engano...Subidinha ainda "tranquila" A trilha segue galgando a crista em zig zag, com a visão do entorno e o percurso da trilha bem demarcada a frente que são um atrativo a parte. Quanto mais você vai avançando, mas te dá vontade de parar e ficar apreciando aqueles belos contornos serranos e as finas cristas que dão nome a Serra fina. Belíssimas vistas do vale do Paraíba durante a subida Mas a subida ainda está só no começo e logo visualizo bem a frente, o paredão íngreme do próximo morro, o do Quartzito, pronto para ser escalaminhado, ao mesmo tempo que ouço um barulho de água de um riachinho do lado direito. Mais 15 minutos após passar pelo alto do Cruzeiro e 45 minutos desde a Toca, chego ao segundo e último ponto de água desse 1º dia as 8:40, onde uma discreta bifurcação a direita sugere que o acesso ao riachinho é por ali. É a partir desse ponto que deve-se encher todos os cantis para os próximos 2 dias, pois o próximo ponto de água será somente no rio claro, no final do 2ºdia, nas nascentes da base da Pedra da Mina. Chegando ao 2º e último ponto d´agua desse 1º dia de Travessia. É aqui que acaba a moleza da cargueira mais leve e deve-se encher os cantis para 2 dias. 2º ponto d´agua Encho os cantis com 3 litros de água e ainda tinha mais 1 de gatorade que foram mais que suficientes para mim. Com os cantis cheios, inicio a subida em direção ao Quartzito. Com a mochila mais pesada do que nunca, a moleza acaba e é o bicho iria pegar para valer, pois é a partir do segundo ponto de água que se inicia a primeira subida pirambeira em direção ao morro do Quartzito. E vamos que vamos. Esse primeiro trecho é bem íngreme e com a cargueira mais pesada ainda, foi bem complicado, dando uma idéia do que ainda teria pela frente. As 9:15, chego ao topo do Morro do Quartzito (na cota dos 2.020 metros de altitude) para um merecido, mas breve descanso. Aproveito a pausa para apreciar as belas paisagens do entorno, com os picos do Marins, Marinzinho e Itaguare bem ao fundão, se destacando no horizonte. É nesse trecho que se passa pela parte mais bonita da subida e também onde se visualiza o trecho da foto "clássica" da trilha descendo e contornando o topo da crista até a base do enorme paredão do Capim Amarelo. Aqui a subida dá uma tregua e a caminhada segue no plano, com uma leve descida pelo alto de uma fina crista logo após passar pelo alto do morro do Quartzito. O Topo do Capim amarelo aparece bem imponente lá no alto e a frente, parecendo estar próxima, mas ainda resta uma longa subida pirambeira até lá. Aqui encontro alguns vestígios de acampamento, mas como o local é exposto aos ventos, é arriscado acampar aqui. Alto do morro do Cruzeiro visto do alto do Quartzito Do alto do Quartzito, se tem a visão de todo o trecho percorrido e também todo o traçado da trilha demarcada pelo alto das cristas. É um capitulo a parte e rendeu vários clicks. O grupo de 12 pessoas se dividiu em grupos menores, onde cada grupo foi seguindo em seus ritmos, com os mais rápidos mais acima, eu no intermediário e os mais lentos logo atrás de mim, o que gerou belas fotos da galera em diferentes ângulos. Em uma travessia como essa, é quase impossível todo mundo ficar juntos em um mesmo ritmo. Picos do Marins, Marinzinho e Itaguaré bem ao fundão.... Chegando ao trecho da foto "classica" Caminhar pela fina crista é uma sensação única... Após descer levemente o morro do Quartzito, passando pela crista com 2 grandes vales a direita e a esquerda, chego definitivamente no "paredão" da base do Capim e é a partir de agora que as pernas serão postas a prova máxima de resistência e superação. As 10:15, começo a longa e exaustiva subida que vai ficando cada vez mais íngreme e com alguns lances de escalaminhada, onde o auxilio das mãos passam a ser necessários para impulso nas pedras e troncos. A subida é árdua, o sol castiga muito e nisso, acabo parando várias vezes para retomar o fôlego. As 11:00 chego ao alto de um morro, conhecido como "Cotovelo" onde a subida dá uma leve trégua e aproveito para fazer uma pausa. Olho para cima e vejo a nebulosidade aumentando sobre o topo do Capim amarelo. Vista do alto do morro do Cotovelo Subindo de cocoruto em cocoruto, vou seguindo em direção ao morro do camelo em trilha bem demarcada e com vários lances de escalaminhada. O Grupo está bem dividido e a minha frente vejo os mais rápidos mais acima e os mais lentos lá embaixo. A pirambeira não dá trégua e parecia não ter fim. Só de olhar para cima, cansava até a vista. Vou ganhando altitude rapidamente e quase 3 horas desde o Quartzito lá embaixo, chego a um ombro do Capim Amarelo, conhecido como "Camelo" na cota dos 2.380 metros de altitude. A principio, achei que era o topo do capim, mas não era. Enquanto isso, a neblina foi ficando ainda mais densa e nisso, a visão ficou prejudicada. Descanso por algum tempo aqui e pouco antes das 13h00, volto a caminhada. Alto do morro do "Camelo" um ombro do Capim amarelo, com o pico do Capim mais acima ainda, encoberto pelas nuvens Segui mais um pouco até chegar a uma parte mais plana onde a trilha passa por 2 descampados bem protegidas no meio de enormes tufos de capim elefante. Olhando para baixo (aproveitando algumas janelas em meio a neblina), consegui visualizar o Michel e os demais bem lá embaixo ainda, enquanto a Vivi, Marco e Fábio dispararam na frente e imaginei que a essa hora, já haviam chegado no topo. O relógio marcava 13:00hs e eu ainda não fazia ideia de qto tempo iria levar até o topo do capim. Após passar pelas áreas de acampamento, visualizo bem a frente outro paredão no meio da neblina, com a trilha indo na direção dele. A subida volta a ficar ainda mais íngreme e com alguns trechos enlameados e pirambeiros, acabo parando mais algumas vezes para recuperar o fôlego. Em alguns pontos, havia cordas estrategicamente instaladas para auxilio nos trechos mais complicados da subida e que foram muito bem-vindas. O ataque final ao cume é de matar com mais lances de escalaminhada e trepa-pedra. Com o peso da cargueira e uma noite praticamente sem dormir, não foi nada fácil vencer esse trecho. As pernas e braços já pediam arrego, mas continuar era preciso. E se já estava ruim com a falta de visibilidade, ficou pior qdo começou a chover fraco, o que me deixou apreensivo....O Topo parecia estar bem próximo e finalmente, as 13:20 chego nele, onde sou recepcionado por parte da galera da turma do Roger, Marco e da Vivi que já haviam chegado lá entre 30 minutos a 1 hora antes de mim e já tinham até montado seus respectivos "aposentos"....rsrs Mas ainda faltavam o Michel, Mariana e outros que estavam atrás de mim e só chegaram cerca de 40 minutos depois. Enfim, barraca montada e o merecido descanso no topo do Capim amarelo O Cume do Capim é bem plano e com várias clareiras para 1 ou 2 barracas, todas bem protegidas por conta dos enormes tufos de capim elefante que formam uma ótima proteção contra os fortes ventos. Como ainda havia muitas clareiras disponíveis, pude escolher o melhor ponto para montar a barraca. Na subida final a chuva havia parado, mas voltou no exato momento que estava montando a barraca. Não foi fácil montar a barraca por causa da chuva, pois tive que monta-la as pressas, mas felizmente era apenas uma chuvinha passageira e logo parou, não chegando nem a molhar direito o chão. Descampados entre os tufos de capim elefante Após montada a barraca, explorei as laterais do topo e depois fui preparar meu almoço, ficando o resto da tarde de boa com o pessoal. Fui deitar por volta das 19h30 e logo peguei no sono. De madrugada, acordei com o teto da barraca mais clara e ao botar a cabeça para fora, vi que a neblina havia dissipado, o céu estava com poucas nuvens e a lua brilhava forte. Com isso pude apreciar as cidades em volta todas iluminadas e com a lua cheia iluminando todo o topo. E ainda pude me presentear com a bela visão dos picos da Serra fina ao redor, com a Pedra da Mina em destaque a leste. A temperatura não caiu muito de madrugada e ficou em torno dos 04ºC. Continua no post abaixo....
  10. Pessoal, Estive fazendo a travessia da Serra Fina nesse fim de semana, e resolvi deixar algumas dicas, como todos os sites por ai trazem o caminho detalhado, eu prefiro dar algumas dicas e sugestões que não aparecem neles. Dia 1 Tínhamos decididos fazer a travessia em 3 dias saímos em 5 pessoas bem preparadas, e conhecemos mais uma amigo que se juntou a nós no caminho, partindo de Passa Quatro subimos de carro até a já conhecida Fazenda Toca do Lobo. Se você preferir subir de taxi sai por uns R$ 60,00 (4P4 com Eliana (35). 3374263 e 3371.3937, os taxistas Schmidt e Bonifácio fone (35)3371.2013 ) o carro pode ser deixado dentro da fazenda sem problemas somente falando com o caseiro, alguns mas intrépidos vão até a entrada da trilha que fica cerca de 1km acima, mas não vale a pena, a estrada (se e que se pode chamar assim) está destruída nesse pequeno trecho. Um carro que se arriscou ficou sem o tanque de gasolina. Mesmo a estrada até a fazenda está totalmente ruim, me arrependi de ter ido de carro até lá. Começamos a trilha que está muito bem demarcada, mas alguns metros a frente tem uma bifurcação a direita que leva para baixo, não a siga, pegue a esquerda mais alguns metros a frente, você deve pegar a trilha a direita que sobe vertiginosamente pois, a mais batida que segue reto leva somente a um local com água, neste trecho é único local passível de erro, depois daí é só subir. É claro levando os 4 litros de água cada um para cozinhar e beber. Subindo em ritmo forte saindo as 11:30 hs, sem paradas de mais de 10 min. chegamos ao Alto do Capim Amarelo as 16:00 hs. Devido ao ritmo quase todos pensavam em desistir pois o primeiro dia é o pior e mais cansativo, o pior é quando se vê onde está a Pedra da Mina que parece infinitamente longe, se tiver que desistir tem que ser nesse ponto, se estiver ameaçando chover, não prossiga acredite, você vai se arrepender amargamente. Meio na marra o pessoal desceu o Alto do Capim Amarelo, as 17:10 estávamos montando acampamento no primeiro ponto possível logo abaixo do Alto do Capim, o pessoal só não desistiu porque subir novamente de volta era a morte. Dia 2 Partimos as 08:30 rumo a Pedra da Mina em ritmo mais forte ainda, com o peso um de nossos colegas não estava agüentando é eu acabei por levar a água para ele, para que o grupo andasse mais rápido . As 10:30 passamos por uma poça de água parada que numa emergência pode servir para se cozinhar fervendo-se bem, cerca de 40 minutos depois, estávamos ao pé da Pedra da Mina, onde se encontra um riacho. Tomamos muita água e levamos um pouco somente suficiente para atravessar a Pedra da Mina. As 12:00hs estávamos no topo debaixo de chuva e um frio insuportável as mãos por debaixo das luvas estavam roxas, saímos rápido dali e descemos até a várzea da Pedra da Mina. Armamos acampamento debaixo de chuva a - 4º C, as 13:00 hz congelando e com as roupas molhadas, nesse ponto achamos que precisaríamos chamar um resgate o frio e as roupas molhadas deixou um de nossos companheiros muito ruim, choveu a noite toda Dia 3 As 11:00hs céu limpo, estávamos prontos com tudo seco depois de uma noite Siberiana, partimos para o pico dos 3 estados porém, as botas secas logo se molharam, para atravessar a várzea, por isso recomendo se possível acampar após ela. Abastecemos com mais 4 litros de água. Em ritmo mais brando (já não dava mais para fazer em 3 dias a travessia) chegamos ao pico dos 3 estados as 16:30 hs, e resolvemos acampar um pouco abaixo para adiantar o ultimo dia. As 17:30 acampamos as 20:00hs a barraca estava coberta de gelo. Dia 4 Partimos as 08:30. Torci o joelho, e dava cada passo me arrastando, e gritando com uma dor insuportável, atrasando o grupo, tomei alguns medicamentos e passei algumas pomadas, para prosseguir. Após um caminho confuso com demarcação ruim, chegamos a água as 12:00, e a rodovia as 13:30. Dicas Chegando no asfalto, depois de 2 horas conseguimos uma carona milagrosa até Passa quatro onde os carros havia sido deixados, com o senhor Joaquim, que já levou muita gente para lá através de pousadas, mas a algum tempo arrumou um outro emprego e vendeu a D20 que possuía. Ele reside em Passa Quatro e tem uma Saveiro. Ele se dispôs a nos levar até a Toca do Lobo por uma contribuição simbólica, e deixou contato para quem quiser combinar algo com relação a transporte (ligar antecipadamente e negociar se é possível, pois, ele não trabalha com isso mais) Joaquim Siqueira 35 3371 2410, 35 9113 7643 ou jjssiqueira@bol.com.br Outra informação importante é que agora para se passar pelo Sítio do Pierre existe um aviso meio digamos "Hostil" quanto a se entrar na propriedade sem autorização, infelizmente eu não anotei o e-mail e o fone que estavam no aviso. Já que estávamos, lá não tinha como voltar, prosseguimos, e depois conversamos com o senhor Sebastião, caseiro do Sitio, e pela conversa achamos mais prudente na próxima vez, pedirmos tal autorização, se alguém tiver o e-mail ou fone por favor me mande. Mais uma opção interessante é o Hotel Serra Azul em Passa Quatro que cobra R$ 15,00 de mochileiros (com café da manhã) para a estadia, contato Steffi Sikorski Hotel Serra Azul-Passa Quatro-MG (35) 3371.1291 hotelserraazul@hotelserraazul.com.br . Se você quiser uma descrição completa, compre o livro do Sérgio Beck, "Caminhos da Aventura" pode ser encontrado na Half Dome 11 3532 4331, o livro descreve todo o trajeto. Bom pessoal isso é um resumo de tudo, quem precisar de dicas mais detalhadas, entre em contato, será um prazer ajudar.
  11. Olá Mochileiros, estou aqui escrevendo mais um relato da nossa aventura desse sábado dia 24-06-2017, dessa vez foi a famosa Travessia da Serra Fina. Antes da chegada da nossa tão aguardada travessia da serra fina, estávamos todos ansiosos pela data do dia 24-06-2017, Treinávamos toda semana - cada um fazendo seu treino particular e postando no grupo do WhatsApp para incentivar o outro. Anteriormente fizemos a travessia Marins x Itaguaré, como podem ler nesse link: travessia-marins-itaguare-1-dia-otimo-treino-para-serra-fina-t143519.html. Apesar de estarmos treinando firme e fazendo todos os planos, o "medo" da serra fina incomodava alguns do grupo. Às vezes eu me perguntava "será que eu vou dar conta de acompanhar a turma?", mas ao mesmo tempo eu queria fazer. Não para me sentir "o cara" ou "contar vantagem" para ninguém, mas eu queria por superação e por orgulho de fazer a serra fina com esse grupo. Quando eu digo "eu", referi-me a todos do grupo. Enfim, vamos ao relato. Saímos de Santa Rita do Sapucaí 0:05 rumo a Passa Quatro e chegamos na cidade às 2:20 da manhã, o Diego da Trans Manti, com o qual combinamos o resgate, já esperando para nos levar até a Toca do Lobo, local do inicio da travessia. Chegamos lá às 3:20. Toca do lobo Como começamos bem cedo, não deu para tirarmos foto na clássica Crista da Serra, que é o motivo do nome Serra fina. Após passarmos pela Crista, começamos a primeira subida até o Morro do Cruzeiro. Logo depois passamos pelo primeiro local onde se pode pegar água, mas não pegamos, pois estávamos muito bem abastecidos. Fizemos uma pausa para comer e atacamos o Pico do Capim amarelo que, por sinal, é uma subida que exige um pouco de esforço. Chegamos ao topo às 6h20min. Lá em cima conversamos com um pessoal do Rio de Janeiro que estava acampado no topo e um integrante dessa turma nos disse que o Pico do Campim Amarelo era um termômetro - que se a gente chegou até lá, faríamos a travessia numa boa...Mentira! Vocês entenderão a seguir. Depois do Capim Amarelo é descida e subida sem parar. Passamos por vários acampamentos base, por lugares cheio de barro preto chamado de charco, encontramos com outras pessoas e depois subimos mais até chegarmos ao Morro da Asa, onde pegamos um fôlego e partimos para o acampamento base da Pedra da Mina. Quando olhamos para cima e vimos a 4ª maior montanha do Brasil com os seus 2798 metros de altura nos esperando, bateu aquele desânimo - nessas horas que a gente começa a fazer reflexão das coisas. Estava eu e mais duas pessoas para trás e uma delas disse "não é possÍvel que temos que subir mais essa", e eu respondi "É meu amigo. No nosso dia a dia a gente toma decisões a todo momento. Se não quisermos ir à escola não vamos, se não quisermos ir trabalhar, não vamos e tudo tem suas consequências. Agora, quando se trata de uma travessia, não há opção - temos que subir sim essa e a outra, porque voltar não tem como "(fui filósofo, eu sei...hehe). Montanhismo é assim, um encorajando o outro, e fomos rumo ao topo. Chegamos lá às 10h20min. Lá no cume da Mina estava um rapaz da Staff porque, justamente nesse dia, estava acontecendo um evento lá chamado KTR, corrida de montanha. Ele nos deu um pedaço de queijo, que caiu muito bem por sinal. Descemos da Mina e passamos pelo Vale do Ruah, um dos mais altos do Brasil. Após abastecermos nossos reservatórios com água, caminhamos até o Pico da Brecha, um caminho, chato cheio de Capim Elefante atrapalhando a caminhada. Quando chegamos lá em cima, todos estavam cansados e exaustos, então logo pensei "o rapaz que disse que aquele pico era um termômetro nos enganou certinho". Descansamos 5' e partimos para mais uma subida - o Pico do Cupim do Boi - mais mata fechada com bambú e várias subidas. Chegamos às 13h40min. Descansamos um pouco e já fomos rumo ao Pico dos Três Estados (MG, RJ e SP) com seus 2660m. Estávamos descendo quando o GPS apitou - estávamos no caminho errado. Quando isso acontece na montanha, o psicológico de todos é derrubado. O corpo já estava moído de dor e tivémos que voltar um pouco. Entrando na trilha novamente fomos atacar o Pico Três Estados, quando eu parei e olhei o tamanho da montanha, eu entrei em choque, me deu vontade de desistir, pensei que não daria conta de subir e passou mil coisas na cabeça, uma delas foi que eu poderia prejudicar a equipe e que se eu ficasse lá iria morrer de frio à noite - esse último foi o principal...hehe. Chegamos no topo dos Três Estados às 15h12m. Em cima do pico a turma desabou, para se ter uma ideia, uma parada de 10' era o suficiente pra gente pegar no sono, até o Nandão dormiu. Nessa hora eu pensei "a coisa está feia mesmo". O próximo pico seria o Alto dos Ivos, outra subida desanimadora. Essa hora foi o momento de outros companheiros dizerem que estavam com vontade de chorar, estávamos acabados, mas chegamos ao topo às 17h10min. Perguntamos pro Nandão se seria o último lugar que iríamos subir e ele disse que sim, mas não era nada, haviam mais duas subidas - bem menores mas haviam. Depois de andarmos mais um tanto - e quando eu falo um tanto é um tanto mesmo - finalmente chegamos ao sítio do Pierre, onde o resgate estava nos esperando, isso era 20h30min. Quando vimos a Kombi, a alegria foi imensa, não tenho palavras para descrever a felicidade de todos, a gente podia sentar por horas e não por 5 ou 10 minutos...isso não tinha preço. Chegamos na cidade Passa Quatro às 21h30min e em Santa Rita do Sapucaí à 0:00. Considerações finais do relato: sem dúvidas, foi a trilha mais díficil da minha vida e de todos que foram, aprendi que o companheirismo é o principal em uma ocasião dessas e que o psicológico conta muito, porque chega uma hora em que o corpo já não aguenta mais e só o psicológico é que faz você não desistir. Mesmo treinando todos os dias, vimos que devemos respeitar a montanha, porque quem dá as cartas é ela e a gente tem que respeitar isso. Não tenho palavras para agradecer ao grupo que foi comigo, o companheirismo deles é 100% e a motivação nem se fala. Criamos um laço de amizade muito forte. Queria agradecer ao Diego que fez o resgate, uma pessoa muito gente fina e também ao nosso motorista oficial Edson, ele sempre está com a gente nas nossas aventuras. Obrigado a todos. Às vezes, as pessoas nos perguntam o motivo de querer fazer isso. Sentir dor, passar frio ou até mesmo perguntam se a gente não tem algo melhor pra fazer. Para essas pessoas vai uma frase de um livro que eu li há um tempo, chamado "Mar sem fim" de Amyr Klink: “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”. Saída de SRS: 0h05min Chegada em P4: 2h40min Toca do Lobo : 3h20min Alto do Capim Amarelo: 6h20min Pedra da Mina: 10h20min Cupim de Boi: 13h40min Pico dos 3 Estados: 15h12min Alto dos Ivos 17h10min Ponto de Resgate: 20h30min Chegada em P4: 21h30min Chegada em SRS: 0h00min
  12. Este é meu primeiro relato. Não tenho o costume de escrever sobre minhas trilhas, mas esta é uma aventura que merece ser contada, que deve ser compartilhada com as pessoas que gostam de trilha, para que possam ter ideia de quanto é bela e desafiadora fazer esta travessia. Saindo de Sampa Combinamos de nos encontrar na estação da Barra Funda por volta das 22:30, na quarta feira que antecedia o feriado de Corpus Christi. Encontrei com o Adilson na estação de Santo André e de lá partimos para Barra Funda. Para variar, fomos um dos primeiros a chegar, logo em Seguida chegou o Daniel, e depois foi chegando o resto da galera. De um grupo de 15 pessoas eu conhecia apenas o Fúlvio, Daniel, Adilson, Ronaldo e Furtado, as outras pessoas eu nunca tinha visto (esta é a parte legal do trekking, sempre conhecer pessoas novas). Depois que todos chegaram (quase todos) pegamos a Van que nos levaria até Passa Quatro, onde seria o inicio da trilha, mas antes passaríamos por Pinda para pegar o casal que faltava (Douglas e Ju). Dia 1 – O Erro Chegamos no inicio da trilha em Passa Quatro por volta de 5:30 da manhã de quinta-feira. Ainda estava escuro, vários grupos chegando. Pegamos nossas lanternas e seguimos a trilha. A trilha já começa com uma subida, onde o grupo que era de 15 pessoas começou a se separar. Havíamos combinado que os mais rápidos iriam na frente com as barracas para conseguir lugar nos pontos de camping, que por sinal eram bem disputados. Já estávamos cientes disto, por se tratar de feriado prolongado sabíamos que haveria muita gente na trilha. Na linha de frente estavam Eu, Adilson, Ronaldo, Daniel e Furtado (mais a frente o Clayton iria se juntar ao nosso grupo) e o restante do pessoal ficou no grupo de trás, sendo que o Fúlvio estava com um rádio para se comunicar com nosso grupo que estava à frente. Seguindo a trilha, não é preciso caminhar muito para chegar até a toca do lobo, onde se encontra o primeiro ponto de água e onde fica o caminho para prosseguir na trilha. É preciso atravessar o rio que fica a direita e começar a subir a pirambeira. A maioria de nós não pegou água neste primeiro ponto, visto que já estávamos com água e até aquele momento ninguém havia consumido quase nada. Para minha infelicidade, quando fui atravessar o rio que é bem raso, pisei em uma pedra que estava solta, perdi o equilíbrio, e para não cair dentro da água de uma vez meti os dois pés dentro da água... Ok, vamos lá, quem disse que eu queria fazer a trilha com o pé seco? Com emoção é melhor #SQN. A partir deste ponto é só subida, subida, subida e... mais subida. Quando o dia amanheceu já era possível ver os tapetões de nuvens, o que nos da um pouco mais de fôlego para continuar subindo. Depois de algum tempo subindo, paramos para descansar, onde outra parte do grupo nos alcançou. Ficamos alguns minutos tirando fotos, comendo e tomando o café que o Adilson acabava de fazer, para partimos logo em seguida. Neste momento o Wagner (Que era o único que já havia feito a trilha anteriormente) falou para gente esperar que ele iria nos mostrar onde ficava o próximo ponto de água. O pessoal que estava na dianteira disse que iria esperar um pouco mais a frete, mas quando eu vi, eles já estavam lá no alto da pirambeira. Camelei um pouco até conseguir alcança-los, a subida vai ficando cada vez mais íngreme, e o fôlego acabando cada vez mais rápido, mas o Adilson me esperou e acabamos conseguindo alcançar os outros. Seguindo Pirambeira acima, começamos a subir uma parte bem íngreme e com lama, onde era possível ver no rosto de várias pessoas o desespero, e era quase possível escutar elas dizendo para si próprias “O que eu estou fazendo aqui”? Neste momento nosso estomago já roncava de fome, foi quando decidimos parar para comer. Não foi o lugar ideal pra parar, bem no meio do caminho, em uma subida onde o pessoal chegava com a língua de fora pensando “Viva, eu consegui” e davam de cara com a gente fazendo nosso lanche... Fazer o que, a fome falou mais alto. Neste momento o Clayton nos alcançou, e começou a nos acompanhar. Agora estávamos em seis pessoas, continuamos a subir mais uma pirambeira (Notaram como eu falo pirambeira com frequência?) para enfim chegar o alto do Capim Amarelo. Ficamos parados por alguns minutos lá em cima, e parte do grupo começou a chegar. Em comunicação através do rádio, descobrimos que o pessoal que estava no final do grupo estava bem longe da gente. A ideia era espera-los para prosseguir, mas estavam muito longe, e nós seis que estávamos na frente tínhamos como pretensão acampar na Pedra da Mina, e conseguir lugar para os que estavam vindo logo atrás (mera ilusão). Saindo do Capim amarelo, descemos pirambeira abaixo. Descida bem ingrime, super fácil de descer rolando. O esquema é segurar nos capins e bambus laterais pra não descer de uma vez. Tem também algumas pedras soltas, inclusive o Adilson pisou em uma sem querer que desceu rolando e acertou meu tornozelo, era tudo que eu precisava naquele momento! Haha.. Mas continuamos descendo até finalmente chegar ao ponto de acampamento do Maracanã. Nosso próximo ponto de água seria na cachoeira vermelha, segundo informações não demoraria a chegar, mas estávamos andando que nem loucos e nada de chegar nesta tal cachoeira. Neste momento nossa água já estava escassa. Posteriormente descobrimos que perto do acampamento do Maracanã tinha um ponto de água, mas até então, para nós não tinha validade alguma, já estávamos bem longe dali... Quando começamos a subir em direção ao Melano, alguns urubus começaram a dar rasantes em nossa direção. Será que estavamos fedendo tanto assim? Era apenas nosso primeiro dia senha banho! rs, mas o Furtado, em reação ao ataque do Urubus atirou uma bolacha Negresco que quase acertou o pobre coitado do Urubu, demos muita risada! Kkkk. Seguindo em frente, alcançamos o Melano, local onde perecebi que estava já estava ficando sem forças. Em um trecho que é preciso subir com corda, tive muita dificuldade para subir, coisa que com energia faria muito fácil. Neste mesmo local, entramos em contato com o Fúlvio pela ultima vez e descobrimos que estávamos a mais de 2:30 a frente deles. Encontramos um amigo do Daniel que estava fazendo a travessia no sentido inverso, e nos disse quanto tempo seria necessário para chegar até o próximo ponto de água e para alcançar o cume da pedra da Mina. Deste modo, tivemos certeza que não seria mais possível espera-los e tampouco eles conseguiriam nos alcançar. Devido a um erro de planejamento, tivemos que passar a primeira noite separados e sem comunicação. A bateria do radio tinha acabado e não tínhamos comunicação com a outra parte do grupo. Não sabíamos como estavam, se tinham água, ou se estavam bem. A única coisa que nos restava a fazer era alcançar o cume da Pedra da Mina e espera-los por lá. Após andar um pouco mais, finalmente avistamos a tal cachoeira vermelha, que não chegava nunca. Avistamos um descampado próximo à cachoeira, onde montamos nossas barracas antes de escurecer e fomos nos abastecer com água do rio. A nossa frente estava a Pedra da Mina. Avistamos varias lanternas lá em cima, mas estávamos exaustos pra atacar o cume no mesmo dia e era bem provável que não teria lugar pra acampar no cume. Foi aí que descobrimos nosso erro, de nada adiantou termos acelerado na trilha, pois nem todos conseguiriam alcançar o rio vermelho, e por ser em um local baixo, perdemos o por do sol. Acampamos ali mesmo, fizemos uma pequena fogueira que nos manteve aquecido por um tempo. Com o eu havia molhado a meia no começo da trilha, estava com muito frio nos pés, estava batendo 5°, troquei a meia por uma seca, mas como minha bota também estava molhada, acabei molhando a única meia que tinha seca. Mesmo com a fogueira, não estava suportando o frio porque meu pé estava molhado, resolvi ir deitar. Discutimos sobre o que fazer no dia seguinte e fomos dormir. O Adilson me emprestou uma meia seca extra que ele tinha e todos fomos dormir. Fez muito frio durante a noite, mal consegui dormir, mas o dia seguinte prometeria. Dia 2 – As aparências enganam Acordamos por volta das 5:30 da manhã e resolvemos atacar o Pico do Tartarugão que estava próximo a cachoeira vermelha, onde estávamos acampados. Ainda escuro, pegamos nossas lanternas e começamos a correr que nem loucos na esperança de conseguir ver o nascer do sol. Estávamos no meio do vale, e nossa única chance de ver o nascer do sol era conseguir subir em algum dos picos que estavam ao nosso redor. Pedra da Mina impossível, não daria tempo, então fomos em direção ao Pico do Tartarugão. Procuramos trilha, e nada... então atravessamos o rio e começamos a varar mato no campim elefante. Este foi um dos momentos mais engraçados da nossa travessia, nossa luta contra o capim elefante. Vira e mexe alguém afundava no capim elefante, ou desparecia metendo o pé nos vários charcos que existiam escondidos no meio do capim. Depois de um tempo, alcançamos uma parte mais elevada, onde o Adilson, Clayton, Daniel e eu resolvemos ficar por lá mesmo, já que acreditávamos não ser mais possível alcançar o cume do Pico do Tartarugão em tempo de ver o nascer do sol. Ronaldo e Furtado continuaram subindo, pelo lado do “casco” do Tartarugão e conseguiram ainda pegar o finalzinho do nascer do sol. Nós subimos pela parte da cabeça do Tartarugão, fazendo uma escalaminhada pelas pedras. Encontramos com o Ronaldo e Furtado no cume do Tartarugão e aproveitamos para tirar fotos e curtir o belo visual. Dos seus 2595 metros de altitude, se tem um linda vista em 360° onde é possível ver todas as montanhas que estão ao seu redor, como Marins, Itaguaré, Pedra da Mina, Pico dos 3 Estados, Alto do Capim amarelo e por aí vai... Depois de algum tempo lá em cima, apareceu mais um trilheiro, que pediu para tirar uma foto conosco, para provar aos amigos dele que haviam pessoas lá em cima. Ele também comentou que estava acampado perto da cachoeira, e que nos havíamos acordado ele! rsrs. Normal, faz parte! Após a sessão de fotos ele desceu, e nós permanecemos lá por mais algum tempo, não havia necessidade de correr, pois como estávamos horas a frente do restante do grupo, teríamos que ficar o dia todo na Pedra da Mina. Só não queríamos subir muito tarde para não correr o risco de não arrumar lugar para montar acampamento. Sendo assim, começamos a descer, para em seguida atravessar o temido vara mato de capim elefante. Desta vez consegui gravar um vídeo do Daniel afundando no Capim, ficou hilário, dou risada toda vez que vejo o vídeo. Seguimos até alcançar novamente a cachoeira, e vimos que algumas pessoas já estavam por alí se abastecendo de água, e percebemos que deveríamos acelerar o passo se quiséssemos arrumar lugar para acampar no cume da Pedra da Mina. Tomamos um café bem rápido, desmontamos acampamento, pegamos água, e começamos a subir em direção ao cume da Pedra da Mina por volta das 10:00 da manhã. A subida é íngreme, e notávamos que estava rolando um tipo de corrida para conseguir lugar para acampamento. Durante a subida encontrávamos algumas pessoas que estavam cansadas e fazíamos nossa parte incentivando-os a continuar. O Clayton disparou na frente, enquanto Eu, Daniel, Ronaldo, Furtado e Adilson subimos um pouco mais devagar, e quando chegamos lá conseguimos o que seria um dos melhores lugares para acampar, cobiçado por vários grupos que chegavam depois e olhavam para nosso acampamento, com o desejo de ter chegado antes e conseguir aquele lugar. Conseguimos dois pontos de acampamento, mas ainda precisávamos arrumar lugar para o restante do grupo que estava por vir. No cume não existia mais espaço, então fomos procurar lugar na parte mais baixa, que é onde fica o acesso para a trilha do Paiolinho. Com uma pazinha que ao Adilson levava em sua mochila conseguimos dar uma ajeitada em dois pontos de acampamento. Em um deles já deixamos a barraca do Fulvio montada, e no outro o terreno preparado para a chegada dos nossos amigos. Estávamos preocupados, pois havíamos perdido a comunicação com eles no dia anterior, e nossa ultima noticia era que dois deles tinham passado mal, e ficamos preocupados pensando que eles poderiam estar sem água. De vez em quando avistávamos grupos bem longe, e eu tentava através do zoom da câmera ver se eram eles, mas nada, nem sinal. Este foi um dos dias mais tranquilo, como chegamos cedo no cume da Pedra da Mina deu para fazer bastante coisa: Cozinhamos, Ronaldo e o Furtado foram procurar lenha, tiramos bastante fotos, e é claro, fomos deixar nosso registro no livro do cume. O dia estava lindo, visibilidade perfeita, era possível avistar de longe alguns picos do Parque do Itatiaia, como o Agulhas Negras e Prateleiras. De lá era possível também avistar o vale do Ruah, muito belo visualizado de cima, mas chegando nele a historia é totalmente outra... Estávamos nos felizes, certos de que desta vez conseguiríamos ver o por do sol, quando de repente começa a baixar a neblina e ventar. Lá se vai embora novamente nossa chance de ver o por do sol, e com a chegada do final do dia o restante do grupo começou a chegar. Descemos parte da trilha da Pedra da Mina para ajudar a carregar a mochila de alguns dos nossos amigos que estavam chegando. Estávamos descansados e eles exaustos, pois tocaram direto até aquele ponto. Ajudamos o pessoal a montar as barracas e nos reunimos próximo a barraca em que eu Adilson e Ronaldo iriamos dormir, pois havia uma pequena mureta feita de pedra para proteger do vento e um belo espaço para cozinhar. Fizemos uma pequena fogueira, preparamos nosso jantar, e até pipoca estouramos. O Céu estava meio encoberto, as vezes abria e era possível ver o mar de estrelas. Tivemos a sorte também de ver uma lua maravilhosa surgindo entre as montanhas, toda alaranjada, exibindo toda sua beleza. Acabado os comes e bebes, fomos dormir, a temperatura estava abaixo dos 5°, e ventava muito. A noite foi longa, o vento parecia que ia levar a barraca embora. As paredes da barraca ficaram úmidas e molharam os sacos de dormir. Foi uma péssima noite e foi então que descobrimos que o lugar que parecia ser perfeito não era tão perfeito assim... Dia 3 – O temido vale do Ruah Após uma terrível noite, ainda estávamos na esperança de ver o nascer do sol. Tentei olhar pra fora da barraca, mas estava tudo cinza, frio e um vento muito forte. Novamente perdi as esperanças de ver o nascer do sol, nem quis sair de dentro da barraca. O Furtado saiu da barraca dele que estava a poucos metros da nossa e ficou lá fora gritando para todo mundo acordar. Eu acho que o pessoal que estava nas outras barracas não ficaram muito felizes com isto! Hahaha Vimos um grupo passando por nossa barraca, e depois voltaram dizendo que estava perigoso descer a pirambeira da Pedra da Mina indo sentido ao vale do Ruah, devido ao mal tempo. O Adilson fez (mais) um café dentro da barraca, que tomamos junto com algumas bolachas, desmontamos o acampamento correndo, o vento estava muito forte, deu trabalho, arrumamos nossas mochilas e partimos. Chamamos o Clayton, Furtado e Daniel que estavam próximos a nossa barraca, mas eles disseram que iriam esperar o tempo melhorar, os outros não chamamos porque estavam acampados longe da gente, e por terem chegado tarde na Pedra da Mina imaginamos que iriam querer dormir até mais tarde. Com o pessoal ciente de que estávamos indo na frente, começamos a descer a pirambeira da Pedra da Mina. Haviam vários grupos descendo, incluindo o grupo que tinha abortado a descida, mas voltaram atrás. Senti-me em um dos filmes do Senhor dos Anéis, várias pessoas descendo uma pirambeira no meio do nada, visibilidade quase zero, e um vento forte, cortante, batendo no rosto e que podia nos derrubar se houvesse qualquer vacilo. O pessoal estava descendo muito devagar, conseguimos ir cortando a fila ate tomar a dianteira, um pouco mais abaixo encontramos um grupo acampado em um lugar mais protegido do que o cume, mas mesmo assim eles disseram que a noite deles também não havia sido fácil. Continuamos a descer até chegar ao inicio da travessia do Vale do Ruah. Encontramos um grupo que estava desmontando acampamento, e pedimos informação para o Nilson, que viriamos a conhecer melhor mais a frente na travessia. O Nilson falou que para seguirmos a trilha, deveríamos ir para a esquerda, o problema era que tínhamos que ir pra esquerda e depois continuar em frente, e não continuar seguindo para a esquerda. Fomos nos embrenhando no meio do Capim elefante, e desviando dos charcos quando possível. Quando nos demos conta, já estávamos no meio do nada, dentro daquele verdadeiro labirinto, sem visualização alguma, devido a densa neblina que dominava o local. Se tivéssemos visualização, seria fácil prosseguir, pois a subida para o Cupim do Boi seria a montanha que estaria bem a nossa frente, mas nossa visualização era zero, escutávamos apenas vozes de pessoas dos outros grupos, mas era impossível saber de onde vinham. Conseguimos sinal do GPS do celular, e após afundar os pés por diversas vezes nos charcos avistamos o grupo do Nilson, que estava procurando o caminho para prosseguir na trilha. Assim, alcançamos o Rio Verde, nos abastecemos de água, e prosseguimos a trilha, agora sem maiores problemas, pois era só ir acompanhando a margem do rio. Encontramos diversos grupos mais a frente do rio pegando água, continuamos e paramos na parte mais a frente do rio para escovar os dentes e descansar. Na pressa de fugir do cume da Pedra da Mina não havia tido tempo de fazer isto ainda. Prosseguimos com a trilha, abandonando o rio e começando a subir em direção ao Cupim do Boi. Finalmente chegamos a uma área de acampamento bem plana, e ótima pra descansar depois de subir a pirambeira. Ficamos em duvida se deveríamos prosseguir, ou esperar pelos outros. Havíamos avisado que estaríamos esperando em um local protegido do vento, abaixo do cume da Pedra da Mina, mas a empolgação nos fez prosseguir. Sendo assim, resolvemos esperar um pouco na área de camping. Deitamos em nossas cargueiras e depois de alguns minutos vários grupos começaram a passar por nós, todos que passavam seguiam no sentido errado da trilha, e nós ficávamos ali indicando o caminho correto. Vários grupos paravam para descansar e conversar conosco, foi onde fizemos amizade com o grupo do Nilson, e com o grupo da Erika e Analú. Conversando com os grupos, chegamos a conlusão de que o melhor lugar para acampar seria na parte baixa do capim do Boi antes das base do Pico dos 3 estados. Como as meninas estavam indo na frente, pedimos para elas guardarem lugar no acampamento para nós em troca do café do Adilson, tudo na base da brincadeira, rs! Depois de algumas horas esperando, encontramos o Wagner, Douglas, Ju e Amanda. Eles haviam nos informado que os outros nem tinham saído do cume da Pedra da Mina quando eles começaram a descer. Com esta noticia, decidimos seguir a trilha em busca de acampamento, disparamos na frente até que os outros grupos sumiram de vista. Continuando a trilha, Eu, Ronaldo e Adilson estávamos num ritmo bem acelerado. Chato como sou, cheguei a dar uma reclamada dizendo que não havia necessidade de corrermos tanto, visto que o resto do grupo estava bem atrás, e tínhamos apenas uma barraca para montar acampamento. De nada adiantaria chegar cedo para guardar lugar sem barracas, diferente do que havíamos feito no primeiro dia. Eu disse também que queria tirar umas fotos, e curtir um pouco mais a trilha. O tempo estava começando a abrir, e eu queria tirar algumas fotos. Já estava meio desanimado em trilhar o dia todo com o tempo fechado, e já não tinha esperança de arrumar um bom lugar para acampar. Duas noites sem dormir mexem com o físico e psicológico. O pessoal concordou, e fomos um pouco mais devagar até chegar em outro ponto de acampamento, onde paramos para almoçar. Preparamos alguns Cup Noodles, e o Adilson fez (mais) um café. Estávamos ali no silencio, somente nos três quando escutamos o chão vibrando, como se fossem pessoas correndo. Não demos muita atenção, mas minutos depois ouvimos o mesmo barulho, ficamos em alerta, esperando que algo fosse sair da mata que nos rodeava. O Ronaldo em silencio falou pra que eu deixasse a câmera engatilhada. Escutamos o barulho novamente, mas depois sumiu. Logo apareceram o Daniel, Furtado e Clayton, que se juntaram ao nosso grupo que já estava bem próximo a subida do Cupim do Boi. Subindo a crista do Cupim do Boi, avistamos um vale, todos ficaram maravilhados com a vista e é claro que começou a sessão de fotos. Já no alto do Capim do Boi já era possível avistar o Pico dos 3 Estados, e algumas pessoas que já atacavam seu cume. Começamos a descer uma pirambeira, e no final dela adentramos em um bambuzal. Encontramos algumas pessoas montando acampamento e perguntamos se haviam mais locais para acampar a frente. O rapaz informou que havia, mas eles não quiseram ficar porque não daria para ficar todos juntos. Disse que um grupo havia chegado antes, e ficamos preocupados em não conseguir lugar para ficar. Não seria possível subir para acampar no cume do Pico dos 3 Estado. Se estava tarde para nós, imagina para o restante do grupo que havia ficado para trás? Arriscamos e quando chegamos na área de acampamento, para nossa surpresa tínhamos um lugar garantido para acampar. Lembram do grupo que havíamos oferecido café em troca de lugar? Pois é, as meninas reservaram um lugar para gente. Na minha opinião este é o melhor lugar de acampamento de toda a travessia. Chão plano, forrado de folhas e todo protegido pelas arvores e bambus. Conseguimos montar nossas duas barracas, e arrumar lugar para o restante do grupo que estava por vir. Quando estávamos terminando de montar nossa barraca, o Furtado chega e torce o pé, bem quando pisa no acampamento (Coisas que só ele consegue fazer rs). Perguntamos sobre o Wagner, Douglas, Amanda e Ju que tínhamos encontrado no meio da trilha, mas ninguém sabia deles. Podíamos jurar que eles não haviam passado por nós durante a trilha. Montamos nossa barraca, e deixamos o sobre teto e as outras coisas secando, que estavam molhadas devido ao mal tempo que havíamos enfrentado na noite anterior. Uma das primeiras coisas que o Adilson fez, foi fazer o café prometido, e serviu a todos que estavam com vontade de toma-lo. Antes de chegar neste ponto, estava desanimado. Tempo ruim,roupas molhadas, duas noites praticamente sem dormir, mas chegando no acampamento parece que tudo começou a melhorar e dar certo. Novamente comecei a me empolgar e as coisas começaram a dar certo. O tempo melhorou, estávamos protegidos do vento, e tinha a esperança de que finalmente conseguiria dormir. Enquanto ajeitávamos nossas coisas, o Ronaldo juntou galhos secos que haviam pelo chão para fazer uma fogueira durante a noite. Fizemos um jantar coletivo, cada um cedendo algo e o Adilson como chefe de cozinha e contando com a ajuda de algumas pessoas. Acendemos a fogueira com os devidos cuidados, e fizemos um belo de um banquete, nunca havia comido tão bem em um acampamento. Até tapioca e outros doces foram servidos, acabou virando o “Arraial do Adil” como alguns comentaram. E até minhas meias e botas que estavam molhadas consegui secar na fogueira. De fato as coisas estavam melhorando, e eu sentia que o dia seguinte seria ainda melhor. Dia 4 – Pico dos 3 Estados e o Bambu Finalmente depois de dois dias sem conseguir dormir, uma bela noite de sono. Roupa seca e local protegido do vento, contribuíram para que isto acontecesse. O Adilson até disse que eu ronquei rs. Havíamos combinado na noite anterior que caso o tempo estivesse bom pela manhã, iriamos tentar ver o nascer do sol do cume do Pico dos 3 Estados. Por volta das 4:00 da manhã escutei o pessoal do outro grupo desmontando o acampamento e vi que o tempo estava bom. Acordei o Adilson para ver se ele iria tentar atacar o cume do Pico dos 3 Estados, e de prontidão ele topou. Gritamos o Clayton que estava na barraca ao lado com o Daniel e eles também toparam. Demos umas beliscadas numas bolachas, avisamos o Ronaldo e o Furtado que iriamos partir e logo mais todos estavam de pé. Recolhemos nosso lixo, e partimos em direção ao cume do Pico dos 3 Estados. O inicio da trilha é bem Íngreme, e como o grupo que saiu antes da gente era grande a subida foi lenta. Começamos a subir por volta das 5:00 e a medida que íamos subindo o ceu começava a ficar avermelhado, dando indícios do nascimento do sol. Após subir um pouco, o grupo que estava na nossa frente nos deu passagem. Foi então que Eu, Clayton e Adilson assumimos a dianteira. Uma trilha que não conhecíamos, onde nos guiávamos apenas com o auxílio das luzes de nossas head lamps, disparamos no desespero de não querer sair da travessia sem ter visto ao menos um nascer do sol. Em poucos minutos já estávamos subindo a pirambeira dos 3 Estados, e avistando várias lanternas cada vez mais longe da gente. Uma cena muito bonita, varias luzes abaixo de nós e o céu ficando alaranjado. Subimos como se fossemos corredores de montanha, me sentia muito bem. Tinha conseguido dormir na noite anterior, me alimentado bem e com a cargueira bem mais leve. Estava voando na trilha. Chegamos antes do amanhecer e antes do sol começar a surgir, e ainda conseguimos um camarote no disputado espaço do estreito cume para conseguir ver o sol nascer. Após contemplar o lindo espetáculo, admirar a linda vista do cume dos 3 Estados e tomar (mais) um café preparado pelo Adilson, nos preparamos para descer. Novamente voltamos ao sobe e desce, desta vez partindo para o nosso ponto de resgate. Começamos a descer a pirambeira e comecei a sentir calor, paramos para tirar as camadas de roupa e seguimos em frente até chegar na parte baixa onde mais a frente encontramos o Wagner, Amanda, Douglas e Ju. Eles passaram nossa frente em algum ponto do dia anterior. Provavelmente quando paramos para fazer os Cup Noodles, eles decidiram tocar direto subindo o Pico dos 3 Estados, e desceram para acampar no descampado da parte de baixo. Não deve ter sido uma boa escolha, pois segundo eles pegaram muito frio e vento. Paramos para o Adilson fazer (mais) um café, e o pessoal comeu as tapiocas preparadas pelo Wagner. Logo à frente teríamos que enfrentar uma parte de escalaminhada, que aparentava ser bem perigosa. Até que uma das pessoas que estava vindo e iria passar no mesmo local nos informou que eles estavam indo pelo lugar errado. Quando estávamos de saída, notei que o meu corta vento não estava na mochila. O Ronaldo se prontificou a voltar comigo para procurar na trilha, mas para nossa sorte um grupo havia encontrado e estava procurando o dono. Fiquei muito contente e agradeci várias vezes o pessoal. Desta vez guardei o corta vento dentro da mochila, e quando estávamos de saída, o Marcelo apareceu. Ele iria nos acompanhar, mas como tinha acabado de chegar e o pessoal estava se preparando para desmontar o acampamento, sugerimos que ele descansasse um pouco e que seguisse com o pessoal. Fizemos a escalaminhada sem maiores problemas, descemos uma pirambeira para em seguida voltar a subir. Vira e mexe gritávamos “Fruviooooooooooooooooooo” que acabou virando o grito de guerra oficial da travessia. Desde o dia que o Fúlvio ficou pra trás, ficavamos gritando o nome dele, e logo vários montanhistas começaram a gritar também, sem fazer ideia de quem era o dito cujo, ou por qual motivo estávamos gritando. No último dia o Fúlvio já tinha virado uma celebridade. Todos estavam achando engraçado gritar “Fruvioooooooooooo” menos ele, não sei porque.. rs. Continuando a subir, chegamos ao Alto dos Ivos, onde encontramos um guia (super gente fina) que estava com um grupo e que ficou conversando com a gente. Um dos integrantes do grupo deles teve a ideia de juntar os dois grupos e gritar “Fruvioooooooooooooooooo” Quem sabe assim ele nos escutaria? Assim o fizemos e o Adilson registrou o momento em vídeo.. rs. A partir dai começamos a perder altitude, até chegar ao sitio do Pierre. Paramos em baixo das Araucárias para descansar e preparar o almoço. Novamente o Adilson preparando o rango, desta vez um talharim que logo após estar pronto ele acabou derrubando no chão.. kkk. A regra é clara, 5 segundos é o tempo de reaproveitar o que se cai no chão, conseguimos ainda aproveitar o que estava por cima.. rs. Aos poucos a galera foi chegando, e continuamos a descer até o ponto de resgate, que já era na rodovia em Itamonte. Como havíamos chegado 1 hora antes do horário combinado para o resgate, parte da galera queria ir comer pastel, resolvemos subir a rodovia andando para chegar até um bar que vendia os pasteis. O Wagner era o único que já tinha ido ao bar que servia os pasteis, e o mesmo nos informou que levaríamos cerca de 40 minutos para chegar até lá. E lá vamos nós subir cerca de 4Km depois de uma caminhada de 4 dias na Serra fina em busca de pasteis. Subíamos a rodovia atento aos carros que passavam próximos a nós, pois a mesma não possuía acostamento. No final da trilha, o Raul volta e mexe dava uns gritos xingando o Wagner por fazê-los andar novamente depois de ter terminado a travessia. Comemos, bebemos, mas havia um problema: No local não havia sinal de celular. O Marcelo ficou preocupado, pois não teria como avisar o nosso resgate que não estávamos mais no local combinado. Passado alguns minutos, escutamos o famoso grito “ Fruviooooooooooooo”. Para que todos caíssem na gargalhada. Não só nosso grupo, mas todos que estavam por perto. Eram o Furtado e Clayton, dentro da Van do nosso resgate. Por sorte eles tinham ficado lá atrás porque tinham achado uma cachoeira e estavam tomando banho. Viram nossa Van de resgate, acenaram e subiram até o bar que estávamos. Depois que todos estavam de barriga cheia, tiramos uma foto de todo pessoal em frente a Van, nos acomodamos e seguimos viajem de volta a São Paulo, com sensação de dever cumprido e todos contentes por terem superado este grande desafio que se chama Serra fina.
  13. Fonte: http://coconomato.com.br/travessia-da-serra-fina-em-1-dia/ Como uma pessoa pode mudar em apenas um dia? Fazer uma travessia dessa em um dia indo ao seu limite extremo, faz você se conhecer melhor, fortalece seu psicológico e faz com que você dê muito mais valor pelas coisas que tem. Cada vez que vou para uma trilha eu volto mais simples, mais desapegado de todas as mentiras hipócritas dessa sociedade e com certeza cada vez mais apaixonado pela vida que tenho. Essa é a melhor forma de se conhecer, de evoluir seu espírito. Travessia da Serra Fina em 1 dia – A idéia e os preparativos No último ano fomos para Serra Fina duas vezes, uma abortamos pelo Paiolinho e outra a completamos, as duas tentativas foram feitas em apenas dois dias, quebrando o mito de que a Serra Fina só poderia ser feita em 4 dias. Se quiserem ler os últimos dois relatos da Serra Fina em dois dias cliquem em: Travessia da Serra Fina em dois dias abortada pelo Paiolinho e Travessia da Serra Fina em dois dias. Em um inbox pelo Facebook buscando algo novo e mais desafiador o Renan disse brincando: “BORA FAZER A SERRA FINA EM 1 DIA?” não da idéia pra louco, na hora decidimos que voltariamos para Serra Fina mas desta vez em um dia, foi meio difícil marcar a data devido aos compromissos pessoais. Decidimos a data e nos comprometemos em treinar muito para não arregar na hora “H”, fizemos até um role em Mogi das Cruzes uma semana antes para ver como estaria o ritmo de cada um. Neste dia deu pra ver claramente que o André estava bem preparado como sempre, o Renan estava muito melhor do que na última Serra Fina e eu estava pior kkkkkk, é engordei uns 6 kg desda última investida e mesmo praticando sempre me senti bem inferior ao meninos. Na semana da Serra Fina eu e o Renan Prado até fizemos um corte de cabelo (moicano) para homenagear o role! (Ficou ridículo!) A alimentação desta vez foi mais elaborada, chega de barrinhas de cereais, comprei pão sírio, polenguinhos, amêndoas, bala de goma, monster pack, gaitorade, gel em barra, barra de proteína e água. Travessia da Serra Fina em 1 dia – Logístic Combinamos em sair juntos no sabádo a noite no último busão e andar até o fim da Serra Fina, como na semana anterior vi que o meu condicionamento estava bem pior que o deles, decidi ir na frente e espera-los em frente ao Refúgio Serra Fina, eles reclamaram um pouco pois queriam ir todos juntos, mas como eu sabia da minha real condição decidi ir na frente para dormir e descansar após os 13 km de estrada. A idéia era fazer a travessia em 16 horas (de estrada a estrada) no meu caso seriam em 14 horas (do refúgio até a estrada) o pai do Renan nos buscaria as 19:00. Travessia da Serra Fina em 1 dia – 1º e único dia Desembarquei do ônibus na estrada de Passa Quatro as 1:00 am, sim achei que chegaria antes mas não foi o que aconteceu =/. Caminhei tranquilamente durante 2 horas e meia até a frente do Refúgio Serra Fina embaixo de um céu estrelado e uma lua crescente TOP! Bivakei alí mesmo ao lado da porta do refúgio, a noite estava gelada e a manta térmica não segurou o frio e acabei dando só algumas coxiladas. O tempo estava instável, as vezes abria e as vezes fechava. Eram 5:40 da manhã e nada dos meninos aparecerem, pelo meus cálculos eles chegariam as 5:00, fiquei preocupado e sem celular não tinha o que fazer, era só esperar. Já estava pronto, em pé e inquieto, pensando “Será que aconteceu alguma coisa? Cade os vagabundos?”, pensei em seguir sozinho em caso de desistência deles, pensei, vou esperar até as 7:00 e se eles não chegarem subo até onde der, qualquer coisa aborto pelo Paiólinho. Mas como bons amigos de palavra as 6:00 vejo uma lanterna na estrada e la vem eles os dois pilantras, Renan Prado e André Nascimento, tirando a maior onda! Demos um forte abraço e esperei eles comerem alguma coisa. As 6:20 batemos uma foto e seguimos loucamente rumo ao novo desafio. O visual estava zero! A neblina tomou conta de tudo, estava bem pior que da 1º vez que abortamos, porém com menos vento, como conheciamos o caminho e mesmo que não tivesse nenhum visual pensamos “Será apenas 1 dia!” e seguimos PRA CIMA DELA! Na subida do Capim Amarelo encontramos um pessoal descendo, abortando devido ao tempo, trocamos algumas idéias rápidas e seguimos em frente. O Renan Prado começou a sentir seu joelho logo no ínicio, fizemos algumas paradas rápidas por conta disso, mas em nenhum momento o Renan cogitou em desistir. Após 2 horas de subida o André que estava na dianteira começou a gritar loucamente, o tempo abriu! Uau que tempo lindo, o Sol rachando a cuca, comemoramos mais um belo visual que a Mãe Natureza nos ofereceu, pensamos na galera que abortou, que azar! Tiramos as roupas de frio e seguimos pra cima! Chegamos no Capim Amarelo as 9:00, após 3 horas de caminhada, comemos alguns petiscos e seguimos rumo a Pedra da Mina, o objetivo era chegar lá em 3 horas também no caso ao meio dia. Seguimos rápido, mas parando algumas vezes para comer e outras para o aliviar a dor no joelho do Renan, eu que estava um pouco cansado usava as paradas do Renan para retomar o fôlego. Fomos o mais rápido possível, Marinzinho, Avançado, Maracanã, Dourado, Melano, Asa até chegar a Base da Mina, na 2º água do dia, abasteçemos pouca água já que teríamos água logo a frente no Vale do Ruah, o caminho todo como sempre bem batido com toténs, fitas amarelas, vermelhas e adesivos refletivos fomos o mais rápido possível com algumas paradas, porém mesmo assim chegamos ao Cume da Pedrda da Mina as 14:00 com duas horas de atraso do planejado, e eu posso dizer que meu corpo já estava exausto. Paramos no cume para assinar o livro e aproveitamos para retomar o fôlego, meu corpo já estava moído, apesar de já ter feito esse trajeto em um dia, fizemos bem mais rápido. O Renan estava meio estressado por conta da dor no joelho, eu estava cansado devido ao ritmo puxado e o André estava cansado mas nem tanto como nós devido ao seu melhor preparo físico. Sem dúvidas nesse ponto nosso limite físico já tinha ido pro saco (pelo menos o meu e do Renan), neste momento o psicológico que tomou a frente do desafio. Fiquei um bom tempo pensando, onde será o limite do ser humano? Nosso limite físico foi deixado na Pedra da Mina e mesmo sabendo que teria mais metade do percurso adiante seguimos em frente superando muito nossos limites físicos, agora vamos ver até onde vai o limite psicológico. Iniciamos a descida para o Vale do Ruah, e o humor do Renan voltou ao normal, com risadas e brincadeiras idiotas, ele disse que a energia do cume de uma renovada nele, e decidimos firmemente seguir em frente em ritmo de alegria. Com duas horas de atraso do planejado decidimos em apertar o ritmo em todas partes planas. Atravessamos o Vale do Ruah em 15 minutos sem tempo para brincadeiras naquele matagal da hora! Abasteçemos nossas águas e seguimos rumo ao Cupim do Boi, a previsão era chegar até o fim da travessia até as 19, então tinhamos umas 5 horas para finalizar a travessia. Durante o caminho do Cupim do Boi, o Camel Back do André vazou e além de perder muita água perdemos um tempo com várias paradas até estabilizar o vazamento, que foi feito com um saco plástico de improviso. Neste trajeto o nosso ritmo foi reduzido automaticamente por conta do cansaço físico. Não lembro que horas chegamos no Cupim do Boi, mas eu já estava exausto, muito, muito cansado e acredito que os dois estavam só o pó também. Consigo lembrar exatamente a sensação de exaustão do meu corpo, joelhos e panturrilhas latejando, coxa extremamente dolorida, braços sem força para se apoiar, boca seca e por sorte os pés não estavam com bolhas. Decidimos seguir sem descanso para tentar chegar no Pico dos Três Estados ainda de dia, a subida foi horrível, em vários trechos fui me arrastando por não ter mais força nos braços e pernas para subir, tive que parar várias vezes para descansar, estava com MUITA sede, devido ao cansaço acredito que o corpo começou a pedir água água e mais água, quando paramos no meio da subida perguntei como eles estavam de água, pois a minha só tinha 3 dedos de uma garrafa de dois litros, eles mostraram as suas águas e estavam que nem a minha….o Renan até comentou “É agora é cada um por si!”. Chegamos no cume do Pico dos Três Estados as 19:00 no horário combinado do resgate com o pai do Renan kkkkkkk eita galera pontual viu! Tentamos contato com o pai do Renan por telefone, mas sem sucesso, o Renan deixou uma mensagem para sua mulher para avisar seu pai do nosso enorme atraso. Paramos nos três estados, comemos e tentamos falar com o Pai do Renan para avisar do nosso MEGA atraso, porém não conseguimos contato. O André perguntou do nosso estado físico e mental e até citou a idéia de bivakar no Pico dos Três Estados para seguir no dia seguinte, minha resposta foi “Se tivesse um saco de dormir com certeza bivakaria por aqui, mas como não temos o negócio é seguir!” seria impossível dormir por lá com certeza morreriamos de hipotermia. A noite estava linda uma lua CHEIA iluminando muito nosso caminho e um céu estrelado com milhares de estrelas. Era uma noite sensacional. Nos Três estados foi uma das nossas maiores paradas, comemos algumas coisas e acabei com minha água, naquele momento eu começei a lembrar da minha mulher, minha família, meus amigos e me deu uma baita vontade de chorar, engoli o choro e automaticamente coloquei essas pessoas na minha cabeça, pensei deixa eu chegar logo em casa pra poder encontra-los. Nessa hora o psicológico já estava corroído, mas com Fé na Força Maior iniciamos a descida rumo ao fim da Travessia. A Fé é algo incrível, sempre me achei uma pessoa de Fé, mas esse dia eu conheci um pouco mais sobre a Fé e vi a força que ela pode nos dar em uma situação de aperto. O vagabundo do Renan esqueceu a lanterna e a minha extra que trouxe para ele estava com a pilha fraca, sorte que o céu estava brilhante que possibilitou nossa descida mesmo sem lanterna. Com o tempo totalmente estourado decidimos seguir com cuidado para não piorar a situaçao. A descida foi cautelosa porém com os assuntos mais em dia, conversando mais e rindo até um pouco mais, agradecendo a natureza por aquele dia de superação que passamos, parece que a Fé estabilizou nosso humor. A subida pro Alto dos Ivos, como sempre a pior de toda travessia, ainda mais naquela situação, corpo gelado e esgotado, kkkk fui o lanterninha e subi me sujando inteiro de barro, pois força não havia mais. Após o Alto dos Ivos sabíamos que não haveria mais subidas fortes e apesar do cansaço, fome e sede a Fé trouxe de volta um pouco do nosso psicológico (pelo menos o meu). Quando chegamos na MATA mesmo, já estava feliz, pois sabia que dalí pra frente era passeio no bosque, ta que esse passeio foi o mais longo da minha vida porque não acabava nunca. O André desceu ouvindo uma música no seu celular lá dos Três Estados e eu não tinha celular na época e o celular do Renan já estava sem bateria, nós ainda perguntamos, André terá bateria pra ligar pro pai do Renan se precisar, ele disse “Relaxa vai ter sim!” A animação para ir embora era tanta que ignoramos totalmente o último ponto de água na travessia, chegamos no sítio do Pierre com pouca comemoração e seguimos rápido para o encontro do pai do Renan, era mais ou menos 23:20. Seguimos pela estrada o mais rápido possível, ignoramos novamente o outro ponto de água, crente que o pai do Renan estaria lá embaixo nos esperando. Chegamos a estrada exatamente 00:00, com a esperança de ver aquele carro branco estacionado nos esperando. Cade o pai do Renan? Nada? O Renan disse com uma voz muito decepcionante quando chegou lá embaixo “Pai? Pai?” e gritou “PAIIIII!” Puts grilla mano, sentei no chão e pensei “Merda porque não pegamos água lá em cima, seria master blaster hard subir tudo de novo pra pegar água!” E o celular? Boa André no último trecho da estrada ele estava trocando SMS com uns amigos e a bateria havia acabado logo quando chegamos. Foi um momento meio desesperador sabe? Pois todos descemos a milhão pensando no resgate, no aconchego do carro, na comida, água que teríamos e chegamos lá e nada! Kkkkkk triste né? O André deu a idéia de buscar lenha para fazer uma fogueira e eu fui contra, falei o que adianta fazer uma fogueira para nos aquecer durante um tempo, tempos que andar até um lugar pra achar algum abrigo ou andar para não morrer de frio! Mesmo assim o Renan e o André começaram a procurar lenha para fazer uma fogueira e eu continuei sentado tentando racíocinar, cheguei a conclusão que o pai do Renan jamais iria embora deixando o filho no meio do mato, isso me deu uma certa paz, pensei logo logo ele estará ai. Após uns 5 minutos um carro vira naquela serra gelada do Itatiaia e nos ilumina, todos param e ficam olhando com aqueles olhares esperançosos, o carro para e lá esta ele, o Pai do Renan! IHAAAAAAAAAAAAAA!!!! Ele ainda mandou essa piada, nossa eu vi vocês três ai todos sujos nem reconheci, achei que era três mendingos deu até medo de parar! kkkkkkkk Demos oi para o pai do Renan, guardamos as mochilas no porta malas e quando sentei no banco de trás daquele carro a sensação foi incrível, aconchegante, quentinho, a segurança do perrengue ter acabado bem e a sensação de missão cumprida, a felicidade tomou conta de todos. Na volta explicamos para o pai do Renan o que aconteceu e paramos para comer em um posto de gasolina. Cálculamos o horário fizemos a Serra Fina em exatamente 18 horas. Chegamos em São Paulo 4 am e eu e o André pegamos o trem no Bresser e o Renan seguiu pra sua casa. Objetivo pessoal da Travessia da Serra Fina em 1 Dia Porque esse desafio? Quando aceitei esse desafio sabia que era somente para superar meus limites físicos e psicológicos, é nessas situações que você evolui seu corpo, mente e alma. Não fiz e tenho certeza que nem meus dois companheiros para bater record ou possuir um status, foi totalmente para superação pessoal. E sem dúvidas todos alí tiveram uma superação pessoal, momentos difíceis, reflexões, momentos que não nos restava nada, só a Fé. Quanto mais perrengoso o role mais evoluido você sai dele, o aprendizado foi fenomenal. Posso garantir que nós não sabemos até onde vai nosso limite, posso garantir que por mais que você trabalhe o psicológico ele ainda pode se abalar e que a Fé é algo incrível de se sentir, ela te da forças e começa a restaurar o seu psicológico é incrível, por isso eu digo, tenha Fé! Travessia da Serra Fina em 1 Dia - Mar de Nuvens Travessia da Serra Fina em 1 Dia – Mar de Nuvens Dicas para quem vai fazer a Travessia da Serra Fina em 1 dia – Você pode fazer o trajeto de estrada a estrada ou da Toca até o Sítio do Pierre; – Se for fazer da Toca até o Sítio um resgate seria fenomenal; – Se for fazer de estrada a estrada, veja um resgate para o final, porque pelo horário que você irá acabar não terá mais nenhum ônibus por lá; – Leve pelo menos 2 mantas de alumínio de emergência em caso de desistência no meio do trajeto; – Cada um de nós levou 2 litros e meio de água, porém no trajeto final ficamos sem água, então recomendo levar pelo menos 500 ml a mais; – Abasteça água no 1º ponto após a Toca do Lobo (pelo menos 2 litros), na Base da Mina (pelo menos 500 ml) e no Vale do Ruah (toda sua água); – Camel Back é realmente ótimo para esses roles, mas se ele te deixar na mão que nem deixou o André eai? Sorte que ele conseguiu arruamar e não perdeu toda água e se perdesse? Garrafa PET sempre! – Leve bala de goma para salivar se por acaso acabar a água; – Leve comidas leves e rápidas; – Vá com o físico bem afiado, nos preparamos mas mesmo assim foi bem puxado, lembrando que nenhum de nós é corredor de montanha ou algo assim; – Vá com o corpo 100% coberto para evitar cortes; – Leve 2º pele, anorak, balaclava e luva, mesmo andando o frio lá é intenso;
  14. Oi pessoal. Esse é um relato da primeira travessia que eu fiz na Serra Fina planejando terminar em 4 dias, mas só fui completá-la em 6. Tudo começou depois daquela propaganda em cima da Pedra da Mina, já que medições feitas em 2000 a colocavam como 4º maior ponto do país (recentemente pelo Projeto Pontos Culminantes foram encontradas algumas medidas que fizeram a Pedra da Mina cair para 7ª posição, porém essas medidas não foram ratificadas pelo IBGE e com isso se manteve a 4ª posição da Pedra da Mina). Com o relato do Sérgio Beck em mãos iniciei pela Toca do Lobo e terminando no Sitio do Pierre (de oeste para leste). O álbum de fotos com alguns croquis e imagens do google earth dessa travessia estão aqui: 1º dia Alguns dias antes liguei para alguns contatos em Passa Quatro para agendar o transporte da cidade até a Toca do Lobo e já acertar os valores, mas desisti depois de ter ouvido o quanto queriam cobrar, inviabilizando qualquer tentativa. Com isso não me restou outra opção senão o de seguir o mesmo roteiro do Sérgio Beck (vir da Rodovia até a Toca do Lobo na caminhada). No dia 31 de Julho peguei o ônibus na Rodoviária do Tietê em direção a P4 (MG) saindo as 07:00 hrs. Ele segue pela Via Dutra e depois sentido Cruzeiro para só então subir a Serra da Mantiqueira. Logo depois que ele passa um monumento na divisa SP/MG e uns 7 Km depois pedi para descer em frente ao galpão da CIBRAZEM, no Bairro do Pinheirinho (cerca de 4 Km antes de chegar em P4), onde cheguei pouco antes das 12:00 hrs. Aqui sai uma estrada de terra do lado direito e segue em direção a Toca do Lobo (no dia em que passei aqui havia uma faixa convidando a todos para o Fórum da Serra Fina que estava sendo realizado na cidade, mas resultados práticos desses fóruns nunca vi nenhum resultado até hoje). Da Rodovia até a Toca do Lobo são quase 3h30min, mas não é tão fácil encontrar água de boa qualidade. A estrada cruza alguns rios, mas de água não confiável, por isso pegue água nas primeiras casas ou traga na mochila para esse primeiro trecho. A estrada vai seguindo por entre pastagens e com o Sol a todo momento castigando. Logo na primeira hora vão aparecendo algumas bifurcações a direita e a esquerda, mas a estrada principal é fácil de identificar e é só seguir por ela. Passado 1 hora de estrada e pouco depois das 13:00 hrs sigo por um trecho no plano com um vale e um rio à esquerda. Do lado direito inúmeras árvores estão na beira da estrada e logo chego numa outra bifurcação. Aqui é bem fácil e sigo para esquerda já visualizando uma enorme árvore a esquerda da estrada. Seus galhos e a área de sombra são enormes e depois de cruzar e deixar o rio para a direita, a estrada inicia uma subida bem forte, passando ao lado de uma pequena Capela do lado direito (aqui se chover não é qualquer carro que passa). Mais uns 40 minutos e passo ao lado de um curral do lado esquerdo e depois de mais uma outra subida básica, desço em direção a uma porteira e cruzo com um riacho. Até aqui foram quase 3 horas de caminhada desde a Rodovia e a partir daqui estou entrando na Fazenda Toca do Lobo. Depois de cruzar a porteira, logo a direita já se avista a sede da Fazenda, mas o caminho é em frente pela estrada que segue ainda subindo. Mais uns 20 minutos e a estrada se estabiliza com uma leve descida até chegar na Toca do Lobo (uma espécie de gruta bem pequena e cheia de lixo). Cheguei aqui por volta das 15:20 hrs e com quase 3 horas e 30 minutos de caminhada era o suficiente para o dia (engraçado que desde a Rodovia não passou um único carro por mim que pudesse oferecer carona). Procurei uma parte plana para montar a barraca e fui dar uma explorada pelo rio acima. A água aqui é de boa qualidade, mas se quiser evitar um peso desnecessário, pegue água uns 30 minutos à frente na subida da crista. Quando começou a anoitecer fui para dentro da barraca fazer o jantar e logo fui dormir, pois os próximos dias seriam bem mais puxados. Continua no 2º dia
  15. Nós já tínhamos ouvido falar da Travessia da Serra Fina, mas não tínhamos ideia da beleza e das dificuldades dessa trilha. Tínhamos planejado fazer a trilha saindo da toca do lobo, dormindo a primeira noite no alto do Capim Amarelo, seguindo até a Pedra da Mina na 2ª noite e na 3ª noite dormindo no Pico dos três estados, terminando a Travessia no dia seguinte na Fazenda Engenho da Serra, mas como nada acontece como planejamos, tivemos que abortar a travessia na Pedra da Mina e descer pela rota de fuga conhecida como Paiolinho. A falta de água, o sol quente e a altitude acima dos 2.000m, na maior parte do tempo, contribuíram muito para o perrengue que passamos, e apesar de tudo isso valeu muitíssimo a pena, o lugar é incrível! Filmamos tudo, do começo ao fim, e fizemos dois episòdios de 15 minutos cada, Confiram aí! Episódio 01 Episódio 02
  16. Travessia Serra Fina – 3 dias Quem foi Fomos só eu, Cristiano Amaro, e meu irmão Atla Amaro. Os outros parceiros tiveram dificuldade em negociar folga, já que precisaríamos de alguns dias da semana livre. Planejamento e Preparativos Como essa travessia é considerada uma das mais difíceis do Brasil iniciamos o planejamento e os preparativos com bastante antecedência. Programamos nossa saída de Curitiba para o dia 10/05/13 (sexta) e retorno no dia 15/05/13, que acabou sendo antecipado em 01 dia (mais abaixo saberão por que). Uma das maiores dificuldades da Serra Fina é a escassez de água, de modo que planejamos que cada um levaria 5,5 litros do liquido precioso, dividido em 2 garrafas pet 2 litros e 1 cantil de 1 litro. Isso somado ao restante da carga das mochilas pesou mais de 19kg (outro fator preocupante é o peso). Download do track para GPS (gpx) ou Google Earth (kml) acessem: http://montanhoso.blogspot.com.br/2013/05/travessia-serra-fina-maio-2013.html Ônibus Ida Curitiba – São Paulo Embarque Tipo Tarifa Duração Previsão Empresa 23:20 CONV R$73,50 06:00 11/05/2013 05:20 COMETA São Paulo – Passa Quatro Embarque Tipo Tarifa Duração Previsão Empresa 07:00 CONV R$47,47 04:50 11/05/2013 11:50 COMETA Fiquei com medo de comprar a passagem pra esse horário e o busão de Curitiba pra São Paulo atrasar. Por curiosidade olhei na noite de sexta feira como estavam as reservas e pra minha decepção o ônibus das 7h já estava lotado, assim como o das 8h. Pra garantir comprei a passagem para o próximo horário, 12:15h Programação Inicial 11/05/13 Rodovia MG 158 – Toca do Lobo 10 km – 4h (previsão de chegada 16h) 12/05/13 Toca do Lobo – Acampamento 01 Capim Amarelo Pegar água na Toca do Lobo 5 km - 8h (previsão de chegada 15h) 13/05/13 Capim Amarelo – Acampamento 02 Pedra da Mina Pegar água no Rio Claro 7 km - 8h (previsão de chegada 15h) 14/05/13 Pedra da Mina – Acampamento 03 Pico Três Estados Pegar Água no Rio Verde (Vale do Ruah) 8 km - 9h (previsão de chegada 16h) 15/05/13 Pico Três Estados – Sitio Pierre 10 km - 5h (previsão de chegada 12h) Saída de Curitiba O ônibus, como de praxe, saiu atrasado em quase 40 min. Como nossa passagem pra Passa Quatro era só depois das 12h tínhamos tempo de sobra. Acordei muito cedo na sexta feira e estava bem cansado, foi sentar no busão e dormir. Mas meu sono durou apenas meia hora, as 00:30 fui acordado por um policial federal. - Você é o Cristiano Amaro? Respondi que sim e ele me pediu para que descesse do ônibus e o acompanhasse. Na hora pensei milhões de coisas ruins (tragédia com familiares, atraso de pensão alimentícia... isso que nem tenho filhos rs). Depois fiquei mais tranquilo quando descobri que se tratava de nossa bagagem que estava em meu nome. Um cão farejador (falhado rs) implicou com a mochila do Atla e os policiais pediram pra revistar a dita cuja. Fiquei com pena do meu irmão porque nossas mochilas estavam muito cheias e deu um trabalhão tirar tudo de dentro pra depois arrumar de novo. Resumindo, acho que desgraçado do cachorro gostou do cheiro da calabresa que estávamos levando e ficou ouriçado com a mochila. Não tínhamos drogas (nem camisa do Corinthians) e fomos liberados depois de longos 30 minutos. Gostei de ver a cara caída dos passageiros, que apostaram que éramos traficantes, quando voltamos para o ônibus hehe. Chegamos na rodoviária do Tiete antes das 6h da manhã. A primeira coisa que fizemos foi ir ao guichê da empresa Cometa e tentar antecipar o horário da passagem pra Passa Quatro. Por sorte colocaram mais um ônibus pras 8:30h e ainda tinha lugar. Um pouco depois das 13h estávamos em Passa Quatro. Dica: Evitem sair de Curitiba na sexta feira ou em véspera de feriados. Só assim você poderá reservar a passagem pra Passa Quatro sem medo do ônibus Curitiba / São Paulo atrasar e acabar perdendo o embarque pra Minas. Passa Quatro Depois de um almoço caprichado num restaurante próximo ao terminal rodoviário pegamos a rodovia sentido estrada Toca do Lobo, que fica a aproximadamente 2km do centro de Passa Quatro. Muito ruim andar por lá, não tem acostamento. Em poucos minutos estávamos no inicio da estrada e às 15h iniciamos nossa caminhada. Embora a estrada seja só subida, inicia-se com pouco mais de 960m e termina acima dos 1600m, dá pra vencer o percurso de aproximadamente 10km em menos de 4 horas de caminhada. A estrada é muito bonita e repleta de araucárias e eucaliptos. Pouco antes da chegada a Toca do Lobo dá pra ver como será o inicio da empreitada. Antes das 19h estávamos na Toca do Lobo, onde acampamos e fizemos um jantar caprichado, macarrão com calabresa. 1º Dia 12/05/13 – Da Toca do Lobo até o Maracanãzinho – Dia tranquilo com caminhada leve. Pra iniciar a trilha deve-se cruzar o rio bem em frente à Toca do Lobo. A maioria das pessoas, assim como nós, prefere pegar água nesse rio, mas um pouco antes do Quartzito tem um ponto de água. Depois de pegarmos 5,5 litros de água (cada um) iniciamos a travessia às 8h. Já de cara a trilha é bem íngreme e dá pra ter noção de como será dali pra frente. Poucos metros acima já dá ter uma vista bem interessante da cidade de Cruzeiro (acho eu) e do Quartzito, separado por um longo corredor sobre a crista dos morros. Encontramos com 2 montanhistas locais que estavam empenhados em abrir uma trilha que liga o centro de Passa Quatro (próximo ao terminal rodoviário) ao cume do Capim Amarelo, passando por algumas poucas montanhas e desviando a estrada da Toca do Lobo. Eles acreditam que em 1 ano terão concluído sua missão. As 11:30h, depois de muita subida, já estávamos no cume do Capim Amarelo. A principio esse era o objetivo do dia, mas como ainda estava muito cedo decidimos almoçar e avançar até o Maracanãzinho pra ganhar algum tempo pro dia seguinte, que no caso seria mais puxado que o anterior. As 15h depois de bater aquele rango (arroz, feijão e calabresa) e tirar uma soneca merecida, já que tínhamos dormido mal nos 2 últimos dias, partimos pro camping próximo ao Maracanãzinho. Do Capim Amarelo até lá levamos 1h e 40min. A descida tem que ser feita bem pela esquerda, é só seguir os totens. Assistimos o por do sol, muito lindo por sinal, armamos nossa barraca, jantamos e antes das 21h estávamos recolhidos no aconchego do saco de dormir. Dicas: - Mesmo que esteja munido de GPS poderá confiar nos totens; - Se chegar depois das 15h no cume do Capim Amarelo vale a pena acampar lá. O camping é bem protegido pelos capins altos e o chão é bem macio e plano. - Independente se quiserem pegar água na toca, ou antes do Quartzito, o recomendado é que levem de 4 a 6 litros. Talvez, como no nosso caso sobre, mas é melhor pecar pelo excesso quando se trata do liquido precioso. 2º Dia 13/05/13 – Do Maracanãzinho ao cume da Pedra da Mina – Dia relativamente puxado com trechos de escalaminhada e alguns vales. As 7h da matina iniciamos nossa jornada até a Pedra da Mina. Algumas subidas e vales e lá por 10:30h estávamos no riacho, último ponto de água antes do cume da Pedra da Mina. Aproveitamos pra nos lavar e dar uma vadiada. Já que teríamos que almoçar mesmo aproveitamos pra fazer o grude ali mesmo, assim poderíamos lavar a louça com a água do riacho e pouparíamos o liquido. Depois de um almoço e mais um cochilo rsrs rumamos pro ataque a Pedra da Mina, eram 14h e 20min. Mais uma vez coletamos 5,5 litros de água cada um. A subida é bem puxada com alguns trechos de escalaminhada, mas como estávamos descasados vencemos o trajeto em pouco mais de 1 hora e as 15h e 30min estávamos apreciando a vista do cume. Montamos acampamento (o vento atrapalhou um pouco) e ficamos assistindo a mais um por do sol, mais fascinante ainda que o anterior. Ali no cume tem poucas opções de camping, mas como não tinha ninguém além de nós dois arranjamos um lugar bacana e relativamente protegido do vento, que estava forte por sinal. Jantamos e antes das 20h nos recolhemos em nossa barraca. Foi a noite mais agradável que tivemos, dormi muito bem. Dicas: - Antes do riacho tem a Cachoeira Vermelha, mas não é um bom lugar pra pegar água; - Se fizerem a travessia em algum feriado correram risco de não achar lugar pra acampar no cume da Pedra da Mina desça até o Vale do Ruah que bem no comecinho tem uma clareira legal pra acampar. No track que estou disponibilizando tem várias áreas de camping marcadas; - Mais uma vez fique atento aos totens, não invente caminhos alternativos, acredite, não vale a pena. 3º e último dia – Da Pedra da Mina até a BR-354 – Dia intenso, com muito sobe e desce, escalaminhada, encharco e vales repletos de bambus. As 19h e 10min iniciamos a descida da Pedra da Mina sentido Vale do Ruah. A descida é bem forte e íngreme, além de perigosa levando em consideração a dificuldade de se equilibrar com quase 20kg nas costas. Não caia na tentação de subir o morro (que inclusive tem alguns totens bem visíveis) que fica no final da descida. Pegue a esquerda e termine de descer até o vale do Ruah. Nesse ponto a caminhada é lenta devido ao capim alto e solo “pantanoso”, mas pra quem está acostumado com terreno assim fica divertido. O esquema, depois de caminhar até o Rio Verde (1/4 de distância entre o inicio e o fim do vale) siga sempre margeando ele pela direita, nunca cruze o rio. A trilha é bem fechada e confusa, repleta de “caminhos de rato”. Se tiver um GPS em mãos e seguir meu track poderá ganhar um tempo precioso. Depois do último ponto de água (também está marcado) a trilha começa a rumar mais para a direita e o vale termina iniciando a subida que dá acesso ao Cupim de Boi. Novamente deve-se abastecer com água, principalmente se pretende acampar no cume dos 3 Estados. Depois de algum sobe e desce (mais sobe do que desce), antes do meio dia, estávamos no cume dos 3 Estados. Pra nossa tristeza o tempo estava totalmente encoberto, impossibilitando qualquer tipo de vista. Não achamos que valia a pena acampar ali e ainda era muito cedo então decidimos fazer um lanche rápido e terminar a travessia naquele mesmo dia, afinal da li até a BR calculamos que levaríamos no máximo mais 5 horas de caminhada. Começamos a descer o cume por volta de 12h e 30min. A trilha fica bem pesada com muito, mas muito sobe desce passando hora pela crista dos morros, hora por vales repletos de bambu. As descidas são bem fortes também, mas os galhos e o matinho ajudam a diminuir a carga das pernas. A mais emocionante escalaminhada, no meu ponto de vista, é a do Alto dos Ivos, nos divertimos muito. Depois de suar a camisa (fizemos muito rápido mesmo) por 3h e 30min já estávamos no final da trilha. Lá tem uma bifurcação, pegue a estrada da direita que leva ao Sitio do Pierre. Não tinha ninguém no Sitio do Pierre, mas paramos ali perto pra fazer mais um lanche e tomar um suco, na verdade tomamos 1 litro de suco cada um hsuahuashsaua. Dali até a BR dá pra fazer em menos de uma hora. A estrada passa por 2 porteiras e alguns pontos de água, uns fracos e outros fortes. Lá por 17h estávamos na BR, onde ligamos pro taxista / motorista de funerária (kkkk) José Roberto (35) 9113-4325, que nos cobrou a bagatela de R$60,00 pra nos levar até Itanhandu, distante quase 40km, onde pegamos o Cometa pra Sampa. Dicas: - Se pretende fazer a travessia em 4 dias vale a pena acampar no cume dos 3 Estados; - Como a trilha é repleta de bambus use manga longa e calça comprida, mesmo que esteja calor, ou ficará cheio de arranhões nas pernas e braços; - Se pretende fazer em 3 dias esqueça de almoço no último dia, faça um lanche rápido. Montanhoso, Subindo Montanhas e Conquistando Amizades http://www.montanhoso.blogspot.com
  17. Travessia da Serra Fina - Primeiro Dia Depois de muito tempo, consegui entrar em um grupo que poderia ir a Serra Fina sem ser no feriado e com isso fugir da grande quantidade de pessoas que ali vão nos feriados, principalmente o de corpus christ. Eu, Luci, Carlo, Marco, Tiago e Ricardo. Todos, menos o Tiago que iria no dia seguinte pelo Paiolinho na Pedra da Mina, saímos de Sampa às 23:30, via viação Cometa, para a cidade de Passa Quatro (MG) (R$45,00). A viagem é demorada porque o ônibus vem de pinga pinga por São José, Taubaté, Cruzeiro até chegar em Passa Quatro por volta das 3:40 am. Deu tempo de arrumar a mochila, colocar o peso para parte inferior dela, ajeitar as garrafas de água. É bom levar garrafas pet's vazias. Você chega está tudo fechado. Minha mochila sem as garrafas de agua, estava pesando 18kg. A Lu tinha combinado com o Mauricio do Refúgio da Serra Fina de ser nosso resgate na ida e na volta (http://refugioserrafina.com.br/) (R$50 para cada), ele chegou na hora exata, as 4am e fomos para seu refúgio, que é próximo ao começo da trilha. O Refúgio é totalmente novo e bonito, experiência de quem é montanhista, já viajou bastante e ainda manda bem na cozinha. Ali tem trilhas e cachoeiras e você pode fazer um bate volta ao Cume do Capim Amarelo. As diárias são por volta dos R$80, altamente recomendado. Depois de passear pelo Refúgio, começamos a caminhar por volta das 5:30am. A trilha é bem demarcada, passa por uma porteira e logo você está na Toca do Lobo. É um dos pontos de água da travessia. Mapa da Travessia com pontos de agua e acampamentos Aqui na Toca do Lobo, fizemos nosso café da manhã, abastecemos nossas garrafas e por volta das 7h começamos a Travessia. A maior dificuldade da Serra Fina são os bambus, o capim alto e tambem os poucos pontos de água. A trilha segue atravessando o rio, a direita. Depois segue bem demarcada sentido ao Capim Amarelo. Passamos por bastante bambus e capins e continuamos subindo. Há algumas marcações e totens também. Antes do morro do Quartizito há o último ponto de agua do dia. O próximo só no dia seguinte, dali a trilha tem um totem avisando da saída da água e abastecemos mais uma vez nossas garrafas, levei 4.5l. Depois é só subir subir, atravessar a famosa foto da Serra Fina, tudo demarcado. No primeiro dia paramos bastante devido ao cansaço da noite anterior na viagem. Rolou até umas piscadas encostados nos capins. A sorte que o sol nesse dia não estava forte. O imponente Capim Amarelo e com a vista da trilha que leva a ele Chegamos ao cume do Capim Amarelo, 2491m às 13h. No cume é um ótimo lugar para se acampar, o capim presente no local nos protege do vento. Acampamento no Cume do Capim Amarelo Por do sol visto do Capim Amarelo As 19h estávamos todos nas barracas, exaustos e com sono. Dicas * No primeiro dia existem duas opções de abastecer de água.No segundo ponto abasteça agua para até a tarde do dia seguinte. * Calças e camisa de mangas compridas são essenciais * Não pendure nada fora da mochila, enrosca e é capaz de você perder para algum bambu. Fotos do primeiro dia da Travessia: ou com as legendas: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10151149747774812.473196.576754811&type=3&l=aa1525c95f Tracklog e altimetria: http://connect.garmin.com/activity/224344219
  18. [align=center]Travessia da Serra Fina, solo. Já fazia algum tempo que eu ouvia falar da Travessia da Serra Fina, considerada a “mais difícil do Brasil”, fiquei intrigado com esse “título” e resolvi conferir de perto. Após algumas pesquisas descobri que a Serra Fina, na verdade, é um lugar “badalado”. E que em feriados, verdadeiras procissões cruzam suas cristas. Além disso, vi pessoas reclamando que agências de turismo estavam monopolizando os pontos de camping, como? Contratando carregadores (sherpas) que corriam na frente e reservavam os melhores lugares. Diante disso, tinha que evitar feriados, mas como conseguir 4 dias livres fora de feriado? A oportunidade veio a surgir no feriado de 7 de setembro de 2010, que caiu numa terça. Daria tempo suficiente pra completar a travessia, eu e mais 1037 pessoas. Felizmente, dessa vez eu tinha alguma flexibilidade, e poderia sair um dia antes, na quinta à noite (dia 2). Para a navegação pela serra, levei carta topográfica e bússola. Imprimi, em papel A4, trechos da carta com um esboço do trajeto. Na quinta-feira a tarde cheguei em casa e comecei a arrumar a mochila, ainda faltava algumas coisas pra comprar. Quando terminei de arrumar a mochila já era mais de 21h. Detalhe, ainda não tinha comprado passagem. A única coisa que eu sabia é que o ônibus saia as 23h. Bem, essa é uma das vantagens de fazer as coisas solo, tudo que você faz de errado, só afeta você mesmo. Joguei a cargueira nas costas e segui para o ponto de ônibus. Aí já foram uns 20 minutos esperando o ônibus e mais uns 20 até a rodoviária. E lá estava eu numa fila gigante no guichê da viação Gardênia. Já passavam das 22h e ainda tinha umas 7 pessoas na minha frente. Eis que ouço a vendedora dizendo: “pra São Lourenço só tem mais 3”. Nóoooo, momentos de tensão. Até que chegou a minha vez, e eu consegui comprar a passagem!! A aventura começou cedo, pensei, hauahaua. A previsão de chegada a São Lourenço era as 5:20h, e 5:10h tinha o primeiro ônibus pra Passa Quatro. Por sorte, cheguei as 5h e já embarquei 10 minutos depois. Finalmente, por volta das 7h, cheguei em Passa Quatro. Primeiramente fui a padaria e tomei um café reforçado, depois fui a procura de transporte até a Toca do Lobo. Conversei com o pessoal do posto de gasolina próximo à padaria e eles tentaram, sem sucesso, contatar algumas pessoas que faziam o trajeto. Depois de mais de duas horas de tentativa, decidi que teria que seguir a pé, pois já estava ficando muito tarde. Segui até a BR, pois a estrada para a Toca ficava do outro lado. Enquanto comia uma barra de cereais e batia fotos, chegou um motoqueiro, ele disse que o pessoal do posto tinha ligado para ele. Negociamos um valor (R$ 40,00), e seguimos até a Toca do Lobo, bem no início da trilha. Croqui da travessia. Trajeto de aproximadamente 48 km. DIA 1: Subindo para o Pico do Capim Amarelo Enfim, as 10:10h, iniciei a subida. O inicio da trilha fica do outro lado do riacho. Sobe-se em meio a uma pequena matinha, por um trecho ligeiramente íngreme e curto. Saindo da mata, se alcança a crista, que é o caminho predominante dessa travessia. A partir desse ponto começa o sobe e desce, sempre pela crista. Dali de baixo já dava pra ver o topo do Capim Amarelo. Riacho onde inicia a trilha - Toca do Lobo O tempo estava ótimo, céu completamente azul. A subida estava tranquila. Fiz uma pequena parada no quartzito, onde me abasteci como cerca de 3,5L de água. Continuando, passei em um pequeno trecho de bambus e segui para um semi-pico, de onde deve-se descer antes de seguir para a parte final, que é um pouco mais íngreme. Nesse ponto já se está bem alto, e olhando ao sul, é possível ver os Picos do Itaguaré e Marins. Logo após ao Quartzito. Pico do Capim Amarelo a esquerda. Esse primeiro dia é praticamente 100% subida, apesar disso, é compensado por ser um percurso curto. As 14:10h cheguei ao topo, o que encerrava a caminhada primeiro dia. O pico do Capim Amarelo me causou uma certa estranheza, pois ao invés de rocha nua, ele é recoberto de capim elefante, planta que pode chegar a aproximadamente 2 metros. Em meio ao capim, corredores e “cômodos” espalhados pelo pico. Como ainda era muito cedo e eu estava sozinho, não tive pressa, primeiro deitei por um tempo sob a sobra do próprio capim. Descansei e relaxei ao som do vento, enquanto fitava o infinito, daquele incrível céu azul. Depois passeei pela enorme mansão, procurando pelo melhor quarto. Desempenando a coluna. Barraca montada, agora viria a parte mais difícil, que é curtir todo aquele visual. Ao sul, era possível ver a cidade de Cruzeiro, em SP. Bem distante, a oeste, a penumbra dos picos Marins e Itaguaré. E a leste, o destino do próximo dia, a Pedra da Mina. Pedra da Mina ao centro, Tartarugão a direita e caminho (cristas) do dia seguinte a esquerda. Já no fim da tarde, deitei em uma pedra inclinada e fiquei curtindo o pôr do sol. Depois disso preparei o jantar, que foi bem simples, apenas miojo, sardinha e batata palha. A noite foi muito tranquila, nem mesmo ventava. Pessoalmente, prefiro mais animação, aceito até chuva =P. Completamente só no pico do Capim Amarelo, muita paz e tranquilidade DIA 2: Pedra da Mina Acordei por volta das 6h, dava pra notar que estava bem claro. Dei uma espiada pela porta da barraca e vi que o tempo continua completamente aberto. O sol estava pra nascer atrás da Pedra da Mina, e isso deixava o espetáculo ainda mais bonito. Aos poucos, a grande tocha foi ascendendo, e seus raios foram vazando pela laterais da Pedra da Mina, até que finalmente o mar de luz eclodiu e fui acolhido pelo calor, naquela manhã fria(wtf?!). Após o grande evento matinal, preparei o café e logo após desmontei a barraca. Nascer do sol Devido a minha lerdeza caracolistica, só comecei a andar por volta das 8h. Peguei uma trilha saindo do Capim Amarelo bem batida, e já comecei a descer. Passei por uma floresta de bambuzinhos e já achei estranho. Pouco depois cheguei ao fim da linha, aquele caminho estava errado, e estava batido de tantas pessoas errando ali, como eu. Como tinha andado apenas uns 10min, foi fácil resolver, nem precisei subir de novo. O mais curioso, é que ali perto tinha uma mochila velha, com algumas coisas estranhas, como velhas, borrachinhas de dinheiro e uma lata de achocolatado vazia. Alguém deve ter passado aperto naquele local. De volta á trilha correta, segui descendo por uma trilha bem íngreme, até chegar a uma matinha agradável, já praticamente no colo do vale. Mesmo dalí, era possível ver a Pedra da Mina, bem distante. Esse trecho tem sobe-e-desces bem suaves. Mais a frente, passei por uma grande área de camping, possivelmente o chamado Maracanã. Em sequencia, um belo túnel de bambuzinhos, quem brandavam ligeiramente ao vento, fazendo um efeito interessante de luzes no chão. Pedra da Mina ao longe. Depois do bambuzal já começa uma subida mais forte, e olhando pra trás da ver todo o caminho percorrido. E o que chama mais atenção é o desnível do pico do Capim Amarelo, nem parece que é possível descer. Pico do Capim Amarelo e toda a crista percorrida até ele. Depois de mais alguns sobe-e-desce, sobra apenas o enorme maciço da Pedra da mina. Enquanto a direita, bem menor, o pico do Tartarugão. Entre eles, a cachoeira Vermelha, que na ocasião estava seca, apenas com as pedras molhadas. Pedra da Mina "Cachoeira" Vermelha e Morro do Tartarugão A intenção era subir o Tartarugão, mas minha água já tinha acabado. Teria que pegar água primeiro, então voltar e realizar o ataque. Mas na verdade, a sede não me impediria de realizar o ataque, o que me impediu mesmo, foi o fato de ter pouco espaço pra montar barraca no topo da Pedra da Mina. E como esse dia já era feriado, possivelmente teria muita gente subindo pelo Paiolinho pra ir apenas na Pedra da Mina. Eu fazia questão de acampar lá no pico, por isso, desisti do ataque e segui. Por volta de 12:40h, cheguei na água. Felizmente, tinha bastante água. Saciei a sede e recolhi água para passar a noite. Então segui para a subida final. Foi uma longa subida, cheguei ao topo as 14h. Como eu havia previsto, já tinha algumas pessoas por lá, apesar disso, ainda tinha uma excelente vaga. E pude montar a minha barraca com tranquilidade. Terminando a montagem, já chegaram algumas pessoas, e informaram que vários grupos estavam por chegar. Água da vida! Parece pouco, mas dava até pra nadar... só que não =P Cume da Pedra da Mina. Pico do Capim Amarelo a esquerda. Barraca montada no topo da Pedra da Mina. Ainda era cedo, pouco antes das 15h, então resolvi fazer um ataque ao Tartarugão. O ideal era dar uma volta gigante e passar próximo à cachoeira Vermelha, mas era muito longe e optei por um caminho mais curto, na verdade, quase em linha resta. Pra eu ter sucesso, bastava vencer uma “floresta” de capim elefante. Inicialmente, eu desci fora da trilha, de frente para o Tartarugão, era bem íngreme, mas deu pra descer. Chegando no capim elefante, vissh... muita treta! Fiquei lá numa batalha sem fim, tomei altos capotes, não conseguia ir pra onde eu queria, e aquilo foi sugando o resto das minhas energias. Por fim, desisti de seguir em frente, deixa pra próxima. Afinal, o capim elefante me mastigou e cuspiu fora, haahauhau. Uma vez livre do capim elefante, foi só subir toOoOoda Pedra da Mina. Chegou só o bagaço lá em cima. Morro do Tartarugão e sua "floresta carnívora". De volta ao topo, notei que as últimas vagas já tinha sido ocupadas. Os grandes grupos tiveram que acampar mais em baixo. Aproveitei para assinar o livro do cume. Depois fiquei conversando com algumas pessoas que estavam por lá. Acabei conhecendo o Tácio e o Parofes, que pretendiam subir o Tartarugão nos próximos dias. O sol se preparava pra descansar ao fim do horizonte, e todos sacaram suas câmeras pra registrar o momento. O belo céu azul se esvanecia, enquanto a interface do céu com a terra explodia em tons de laranja, e por alguns instantes o ofuscante astro rei nos contemplou com seus contornos, e em seguida, repousou. Pôr do sol. Após o pôr do sol a temperatura caiu rapidamente, e todos se abrigaram em suas barracas. Antes de ir dormir preparei a minha tradicional feijoadinha gordurenta e deliciosa. Falem o que quiser, mas esse trem é bão demais! No meio da noite saí pra regar a moita, e pra minha surpresa, uma das barracas parecia uma boate, com luzes piscado e até música. Isso sem contar que mais cedo eles estavam tomando pinga. Imagina descer toda a serra com ressaca? não deve ser fácil. DIA 3: Pico dos 3 Estados Acordei por volta das 5:40h, antes do sol. O céu ainda estava perfeitamente límpido, ligeiramente azul com uma borda laranja, de onde em poucos minutos emergiu o astro rei, que inaugurou o dia. Após várias fotos, tomei café a arrumei minha mochila. Era hora de despedir da Pedra da Mina e descer para o Vale o Ruah. Por volta das 9h iniciei o percurso. A descida é acentuada, e o tempo todo você é contemplado com a visão do Vale. De longe, parece que o vale e recoberto por uma graminha baixa, mas chegando um pouco mais próximo, pode-se ver que trata-se de capim elefante. Bem ao fundo, é possível ver o tímido Rio Verde fazendo curvas suaves vale a dentro. Vale do Ruah. Chegando no vale, encontro vários saguões, enormes áreas de camping. A frente, vários caminhos, mas todos com o mesmo destino, uma vez que o vale vai se estreitando. Logo já se está ao lado do rio Verde. Aproveitei uma árvore à margem do rio e fiz uma parada. Enchi minha reserva d'agua, dessa vez cerca de 4L de água. Área de camping no Vale do Ruah. Rio Verde A partir desse ponto, a trilha não ia na direção que eu queria, procurei e não achei nenhuma que fosse. Resolvi varar o capim. Deu muito trabalho mas consegui, cheguei na borda do morrote desejado, subi numa pedra e fui comer uma barra de cereais. Enquanto fitava o vale, notei que onde eu estava não fazia sentido algum, eu estava completamente fora da rota. Desci novamente, varei mais capim e voltei a trilha. A partir daí segui o caminho correto. Vale do Ruah. Na parte estreita, próximo ao Rio Verde. Continuei pela crista. Chegando no alto já é possível ver o Cabeça de Touro e o Cupim de Boi. No caminho, alguns morrotes mais suaves, e pouco antes do Cupim, um pequeno trecho de mata. Enquanto seguia para o Cupim, notei uma enorme nuvem vindo do lado de SP, ela chegou até a crista, mas não foi capaz de ultrapassá-la. Após o Cupim, desci e passei por um trecho de bambus e algumas árvores, aproveitei a sombra para fazer um lanche. Logo a frente havia uma pequena área de camping, e após grande trecho de capim elefante, já iniciei a subida final para o pico dos Três Estados. A subida foi razoável, e por volta de 16h já estava descansando no topo do pico. Pico 3 Estados(esq.), pico Cabeça de Touro(dir.) e Cupim de Boi, a esquerda do Cabeça de Touro. Próximo ao Cupim de Boi. Pedra da Mina ao fundo. Mais uma vez, um espetáculo de visual. O lado do Rio e Sampa recoberto de nuvens, enquanto Minas completamente limpo. Estava sozinho no pico, e não tive pressa em escolher o local para a barraca. O pico dos Três Estados, como o próprio nome já diz, é o ponto onde os estados de Minas, Sampa e Rio se “tocam”. Lá existe um marco de metal, uma espécie de pirâmide, e em cada uma de suas três arestas (que não estão contidas no plano do solo) está escrito o nome de um dos três estados. Barraca montada. Pico Cabeça de Toura no fundo. É sabido que a Serra Fina é habitada por roedores, que furam barracas e mochilas atrás de comida. Eu havia levado mortadela. Com receio do cheiro atrair os roedores, prendi a bendita em um mastro de metal que existe por lá. Se um rato conseguisse subir lá, seria merecedor do prêmio. Por fim, depois de tudo arrumado. Fiquei apenas aguardando o pôr do sol, que dessa vez contou com algumas nuvens para ornamentar o espetáculo. E ao escurecer, me recolhi em minha barraca. Por do Sol visto do Pico 3 Estados. DIA 4: Alto dos Ivos e fim da travessia Pela manhã, ao sair da barraca, fui logo conferir se mortadela ainda estava no mastro. Estava lá, geladinha, devido às baixas temperaturas da madrugada. O cenário se mantinha, ainda um mar de nuvens a leste, enquanto Minas permanecia límpido. No Rio, a serra do Itatiaia exibia sua imponência, acima das nuvens. Era possível ver claramente o Pico das Agulhas Negras, e foi bem próximo dele que o sol emergiu. "Pirâmide" no Pico 3 Estados. Nome dos 3 estados em metal. Após o café da manhã, arrumei minha mochila e me preparei para o dia final. Era hora de descer a serra. As 9:30h parti para as cristas. Inicialmente uma descida mais suave, até que se inicia uma mais suave. A seguir, o tradicional sobe e desce de alguns morrotes, até a ultima subida mais forte, em direção ao Alto dos Ivos, chegando lá por volta das 11:40h. No topo existe um totem de pedra, com cerca de 1 metro. E como na Pedra da Mina, também não possui capim elefante. Alto dos Ivos A partir desse ponto, andei pouco mais de 1h até, enfim, deixar a crista e entrar numa mata. Esse trecho da mata é muito bonito, começa por uma trilha bem marcada. Depois a vira uma estradinha abandonada, cheia de mato. No caminho, a preciosa água. Desci durante 1h, até chegar o sítio do Pierre. O sítio possui várias casas enormes, até mesmo quadra de futsal. Mas aparentemente está tudo abandonado. Mar de nuvens. Último trecho da crista. Trilha na mata Pra quem tem resgate, esse é o fim da linha. Mas não era o meu caso, continuei a descer pela estradinha. Já quase chegando no asfalto, passei por uma casa. Parei pra pedir informação sobre transporte. Como de práxis, acabei sendo convido pra um cafezinho, e claro, não recusei. Descobri que não iria passar ônibus por ali, e minha única chance seria uma carona. Chegando no sítio do Pierre. As 15:30h, lá estava eu na BR com o dedão em posição. Estava pouco promissor, mas tive sorte. Depois de 40min, um caminhão parou uns 100m antes de mim. O motorista desceu e foi ver alguma coisa no caminhão. Era a minha melhor chance, então fui conversar. Chegando próximo ao caminhão notei que ele estava atrás do caminhão mandando um “N° 2”. Pra não constranger o cara e perder minha carona, esperei ele ”aparecer” pra então pedir a carona. E assim, sem maiores problemas, consegui carona até Varginha, de onde peguei um busão para BH. Na BR-354, contando com a sorte. Considerações Finais Roedores: Embora eu não tivera problemas com roedores, já vi vários relatos de pessoas que tiveram suas barracas e até mesmo suas mochilas furadas pelos bichanos. Então fiquem espertos. Água: Eu não sou de beber muita água, e consigo ficar muito tempo com pouca água. Mas pra quem consume muito, recomendo levar entre 5 e 6 litros. Nessas condições, água não é peso a se economizar. Abraços, Antonio Junior[/align]
  19. Feriado que começou com a frustração da previsão de chuva pro Sudeste inteiro. O que sobrava era a vontade de fazer a tal da Serra Fina: se não fosse agora, dificilmente conseguiria fazer ainda em 2012, já que são 4 dias. Do grupo de 3-4 que aparentemente iam, 2 desistiram. E conforme a data ia chegando perto, eu ia ouvindo mais gente cancelando, e mais gente falando que ia estar feio, perigoso e complicado. Mas o problema é esse, quando eu quero muito uma coisa, por mais idiota que seja, perco a noção e vou atrás. E não foi diferente, fazer Serra Fina com chuva foi uma ideia totalmente de gente sem noção. COMEÇA O FERIADO Nada menos que 7 horas pra ir de São Paulo a Itanhandu, sendo mais de 3 pra sair da cidade, da Zona Sul à Marginal Tietê. Trânsito, muita chuva, e muita paciência. Já não tinha certeza se a gente ia sequer conseguir começar a trilha, mas fomos na cara e na coragem, enfrentar tudo isso pra ver se ia dar certo. Passamos em Itamonte pra comer perto da meia noite, e nem isso eu consegui pois estava meio mal do estômago a semana inteira. E dá-lhe presságio de que não ia rolar travessia. Seguimos depois pra Itamonte e não achamos hotel nenhum, o que nos levou a dormir (muito mal por sinal) no carro, no estacionamento do hospital da cidade. Mais presságio ruim: acordamos com uma mega chuva, e bem cansados. Saímos pra procurar uma padoca pra tomar café, ainda na dúvida se ia rolar. A chuva continuava fina e o tempo muito fechado. Era muita coisa ruim junta, e desistimos da travessia. Mas e aí? Fazer o que no sul de Minas, agora que a gente já estava lá? Saímos dirigindo meio sem rumo e surgiu a ideia de ir até Aiuruoca. Então fomos! No caminho pegamos algumas informações e tivemos a ideia de subir o Pico do Papagaio, ou de repente outro que tem por lá onde dá pra acampar, mas tinha que pagar guia e já estava tarde pra começar qualquer um dos dois (eram 11 da manhã). Nesse meio tempo, o céu abriu bastante, pelo menos praqueles lados. Estávmaos com bastante sono e bem cansados. Descemos então até o Vale do Matutu, onde fizemos uma caminhada super light até uma cachoeira. Mas não dava pra negar a frustração – a ideia de fazer a travessia não parava de passar pela cabeça, e fica me perguntando se o tempo lá pra Passa Quatro estava aberto igual em Aiuruoca. E não deu outra, Marcelito soltou o verbo pra corrermos de volta pra Itanhandu, ligar pro nosso resgate e arriscar daquele jeito mesmo. Bora! Pro inferno o perrengue, a segurança, e sei lá mais o que. Gente teimosa e sem noção é assim mesmo. Saímos correndo, ligamos pro cara do resgate, comemos salgado de padaria e tocamos pra Passa Quatro. Paramos na frente do Refúgio Serra Fina, já que o carro não iria além de lá. Organizamos as mochilas rapidinho, batemos um papo com o dono do refúgio – o Maurício, que nos disse que 4 grupos tinham iniciado a travessia, e às 16h30, estávamos de mochila nas costas pra iniciar a subida sob chuva fina. Não dava nem pra acreditar muito na loucura – íamos tentar a Serra Fina em praticamente 3 dias, naquele tempo péssimo. Exaustos e a praticamente 2 dias sem dormir, sem se alimentar direito e sob chuva, saímos do refúgio e caminhamos 1,5 km até a Toca do Lobo. Subi com 6L de água, e depois de pouco mais de 1 hora de caminhada, com uma chuva cada vez mais grossa, já não estava me sentindo muito bem. A ideia era caminhar 3h até o Quartzito, o último acampamento antes do Capim Amarelo, mas sem visibilidade, com chuva grossa e já no escuro, drenada e sem energia, e ensopada, não consegui tocar em frente. Paramos no acampamento 1 (Cruzeiro, 1793m) e montamos a barraca debaixo de chuva. Às 19h, já com a barraca montada, desabou uma chuva pesadíssima sobre nós. Descobri que só tinha levado 1 par de meia, e estava molhada. O que seria dos próximos dias? Nem sabíamos se iríamos continuar no dia seguinte – se sim, teríamos um dia duríssimo, pois teríamos que chegar o mais próximo possível da Pedra da Mina. Ia depender do volume da chuva. Na pior das hipóteses, teríamos que desistir dali mesmo. DIA 1 - ACAMPAMENTO CRUZEIRO AO ACAMPAMENTO DOS QUASE PERDIDOS Acordamos com metade do céu aberto, garoa fina e uns 10 graus. Deu ânimo pra botar a roupa molhada e desmontar o acampamento, mas em pouco tempo, a chuva engrossou e o vento começou a ficar mais forte. Na teimosia, decidimos tocar em frente. Saímos às 8h30, e em pouco tempo o tempo abriu e começamos a andar nas cristas e visualizar um pouco do que tínhamos à frente – deu ânimo pra aguentar o perrengue. Mas não durou muito. O tempo fechou novamente, a chuva voltou, e o vento ficou ainda mais forte. Subimos e descemos cristas, às vezes protegidos no meio da mata. A primeira parada foi no acampamento Maracanã, mas durou 5 minutos por conta da chuva que novamente apertou. Na subida do Capim Amarelo (2.491m) teve trégua e cruzamos um grupo que tinha dormido lá em cima mas estava abortando a travessia - mais presságio ruim. Subimos mesmo assim e enfrentamos um paredão de lama – a cada 3 passos acima, escorregávamos 2 pra baixo. A chuva voltou. O ventou ficou mais forte. Mas alcançamos o cume antes do meio dia, totalmente sem visibilidade. E foi assim por várias horas, subir e descer cristas sem saber pra onde estávamos indo, escalaminhar paredão de pedra com vento forte e totalmente encharcados, com uma ou outra parada de 5 a 10 minutos pra comer qualquer coisa e respirar um pouco. Mal dava pra parar, porque os anoraks já estavam molhados por dentro, e com a parada o corpo esfriava e ficava mais frio ainda. Já estava imaginando que não conseguiríamos chegar na Pedra da Mina. Eram quase 17h quando, depois de vencer mais uma crista, o tempo começou a abrir um pouco, e avistamos um vale enorme mais à frente. Já tinha avisado o Marcelito que não aguentaria muito mais tempo - já eram quase 9 horas caminhando em chuva, vento e frio e pouca comida. Decidimos parar num dos próximos acampamentos, e aí começou mais um perrengue, pois passamos por 2 acampamentos totalmente inviáveis, que estavam encharcados. Não tínhamos opção, já estava escurecendo e teríamos que caminhar até achar algum lugar que prestasse pra montar barraca. Pra piorar a situação, subimos por um morro – caminho errado – enquanto procurávamos o acampamento marcado como #20 no tracklog. Quando encontramos a trilha, ainda entramos errado num capinzal, e pra completar, o GPS deu chabu e não mostrava mais onde estávamos. Bateu o desespero: estávamos desorientados de noite, num capinzal, sem visibilidade, sem referência, e perigando tomar uma chuva daquelas. Mas não durou muito - se descemos pro capinzal, teríamos que subir de novo. E nessa subida, nos encontramos a 15 metros do acampamento. Alívio como senti poucos vezes na vida! Montamos a barraca e nos trocamos, e não deu outra, o mundo desabou sobre nós em formato de tempestade. Depois de mais de 9h de caminhada nas piores condições possíveis, podíamos descansar. De novo pensei, na pior das hipóteses, abortamos no dia seguinte via Paiolinho. DIA 2 - ACAMPAMENTO DOS QUASE PERDIDOS AO PICO DOS TRÊS ESTADOS Na noite anterior tínhamos visto algumas lanternas mais acima de nós. Devia ser um dos grupos restantes. De manhã o céu amanheceu aberto, e o sol apareceu timidamente por alguns momentos, mas iluminava com persistência os topos das montanhas em volta. Mais uma vez foi sofrido vestir a roupa molhada e gelada no frio, e apesar de ter mais um dia duríssimo à frente, tínhamos boa visibilidade e parecia que o tempo ia ficar firme. No caminho, logo cedo, o desafio de subir a Pedra da Mina (2.798m). Desmontamos acampamento e tocamos em frente. No caminho cruzamos 2 grupos que acamparam improvisadamente, sendo que metade deles ficou com tudo encharcado e estavam com um menino de uns 12, 13 anos. Mais acima, 2 caras subiam o morro. Em teoria, eram essas pessoas e mais ninguém que estavam fazendo a travessia, e se ninguém tinha chegado ainda à Mina, é porque todo mundo tinha passado muito perrengue. Tocamos pra cima numa subida interminável, cuja parte final era um barranco de capim que não acabava nunca. Qual foi minha supresa quando cheguei lá em cima e vi os dois caras assinando um livro de cume? Como assim? Assim sim! Estávamos na Pedra de Mina, em menos de 1 hora de caminhada. E que presente: tempo aberto! Visão em 360 graus da Serra Fina, sol secando a roupa e iluminando bem o caminho. Bom sinal? Se descêssemos a Mina, teríamos que ir até o fim! Durante o segundo dia o tempo começou a abrir e foi possível apreciar um pouco do que tinha pra frente. Aproveitamos a paisagem pra recarregar um pouco a bateria, avistamos o tal Vale do Ruah e tocamos pra baixo. Erramos um pouco o caminho mas depois voltamos à trilha. Na descida, cruzamos um grupo de 4 cariocas que ia atravessar o Vale só na base da carta, e convidei eles pra irem com a gente, já que estávamos de GPS. Achar o caminho certo no Ruah é meio difícil no começo, mas depois é só seguir o rio pela esquerda, cruzar à direita e seguir tocando. Apesar do capim alto, a trilha é relativamente visível pra quem tem experiência. Pegamos água no meio do Vale, e em alguns momentos não teve jeito de não meter o pé na água. O capim é realmente isuportável, mas saber que não tínhamos desistido e que iríamos até o fim depois de tanto perrengue, foi bem estimulante. Nessas horas me lembrava do meu amigo Jorge Soto e a travessia perpendicular que ele fez da Serra Fina... deve ter amassado muito capim! Bom, o que tinha começado como uma incerteza arriscada, estava se concretizando em um feito. Ainda faltava muito, mas o tesão – isso mesmo que você leu – da possibilidade de completar essa travessia com todo esse volume de acontecimentos estava virando energia, vontade, perseverança. Romantismo à parte, depois do Ruah inciamos a subida mais longa da travessia: os dois cumes antes do Cupim de Boi (2.530m), um trecho que parece não acabar nunca. Dá-lhe vara mato, capim, subida. Ninguém fala muito, e é possível ouvir a respiração ofegante de quem vai à frente e de quem vem atrás, todo mundo exausto, entretido em seus próprios pensamentos que provavelmente não iam muito além de chegar no Três Estados (2.656m), comer, vestir uma roupa seca e dormir. No cume do Capim do Boi já é possível avistar o dito cujo, o que dá uma mistura de alívio e desespero. O caminho ainda é longo, e o tempo novamente começou a fechar. A descida parece ser muito íngreme, mas rapidamente descemos a encosta rochosa, atravessamos capinzal, adentramos mata, e depois começamos a subida do Três Estados, com escalaminha e lama, tudo misturado e bem íngreme. O cansaço era tanto que parecia que dávamos passos de alpinista em altitude: um de cada vez, intercalado com a respiração. Foram dois dias de 9 horas de caminhada, comendo mal e dormindo não tão bem assim. Mas no ponto em que estávamos, pra acabar com o sofrimento, só terminando a trilha. E olha, ô povo que gosta de sofrer... Chegamos no cume do Três Estados e nos surpreendemos, pois além dos 2 que estavam à nossa frente, tinha mais uns 3 grupos pequenos por lá. E só tinha espaço suficiente pra nós. O grupo que em teoria vinha atrás com as crianças tinha desaparecido – talvez tivessem descido pelo Paiolinho, mas se tivessem continuado certamente não chegariam ao Três Estados com luz, e se chegassem não teriam onde acampar. Tivemos tempo de montar a barraca e trocar de roupa (eu com luva de Polartec no pé né...), antes de ver um incrível por-do-sol, com um céu bem aberto e uma noite salpicada de estrelas. A travessia que tinha começado como um perrengaço estava nos dando pequenos prêmios, um atrás do outro. O dia tinha sido lindo, sem chuva, e agora, a noite era bem clara. No entanto, o vento estava bem forte lá em cima, e derrubou a temperatura durante a noite. Não foi fácil dormir. DIA 3 - PICO DOS TRÊS ESTADOS À BR Se alguém pensa que a Serra Fina tem dia fácil, pensa errado. Não assisti ao sol nascer por inteiro, mas saí sim da barraca de pé pelado pra ver o tapetão de nuvens mais lindo da história da minha vida. De um lado da Serra Fina, tudo encoberto, com as pontas de Itatiaia visíveis, do outro, tudo aberto. No meio, o maciço da Mantiqueira, e nós lá em cima: uma visão que perdurou o dia inteiro. Roupa molhada, meia e bota encharcadas, cansaço e frio: assim começou o terceiro dia, descendo do Pico dos Três Estados. Saímos pouco antes das 9h. O último dia sempre dá a impressão de que vai ser fácil, por ser só descida. Mas a descida na Serra Fina começa bem no fim. Descemos o três Estados e passamos por algumas cristas, com a impressão de não estar perdendo muita altitude. E aí vem a subido do Alto dos Ivos (2.513m) – mais um trepa pedra totalmente desanimador, debaixo de sol firme. Foi o único dia da trilha em que realmente fiquei preocupada em estar com pouca água. Mas vencida essa última subida, e depois de admirar um pouco a paisagem do último ponto alto da travessia, adentramos uma descida por mata que dura mais de hora, com bambu, planta e capim enroscando na cara, na perna no braço e na mochila. Me seqüestraram uma Nalgene e terminaram de fatiar meus dedos e mãos. Pra ser bem sincera, essa etapa final da trilha é miserável. São algumas horas caminhando dentro da mata, sem visão de nada, e sem perspectiva de sair, com muita lama escorregadia, num caminho que não acaba nunca e paisagem que não muda, e quando acaba, acaba numa estrada. Falando nisso, uma coisa muito suspeita: quando a estrada bifurca em T, e deve-se tomar a esquerda, que é a descida pra sede da fazenda, Porém, algum “esperto” (pra não falar palavrão) montou uma seta pra direita. Pra quem não tem noção de navegação, ou GPS, ou indicação de nada, vai entrar no caminho errado. Uma mega sacanagem, pra dizer o mínimo. Descemos até a sede da fazenda, depois pela estrada de terra e pelo vale, e finalmente chegamos na saída da BR, com seu calçamento octavado. É uma sensação e tanto, terminar a tal “travessia mais difícil do Brasil”. Não tem como não sorrir, depois de uma conquista tão suada como essa: não foi só fazer a travessia, foi driblar o tempo ruim, correr pra fazer em bem menos tempo que o sensato, chegar inteira, e ainda dar risada no final. A maior parte da descida do terceiro e último dia foi com esta vista: o maciço de Itatiaia ao fundo, e uma mar de nuvens sem fim. Dados numéricos finais Km total 31.58km Tempo total de trilha 27h53 Peso ida 18-19kg estimados, com 6L de água (como a mochila é nova e muito confortável, ainda não peguei a manha de estimar o peso, como conseguia com a antiga)
  20. Dessa vez fomos nos aventurar na conhecida Travessia da Serra Fina, considerado um dos mais difíceis trekkings do Brasil. A escassez de água e a altitude acima dos 2.000m contribuem muito com a dificuldade, e dificilmente não passaríamos por um perrengue, já que, filmando levaríamos mais tempo, e 4 dias não seriam suficientes. Mas valeu muitíssimo a pena, o lugar é fantástico! Espero que gostem! Fizemos o vídeo em 2 episódios de 15 minutos cada. Segue abaixo os links. 1ºEpisódio 2º Episódio
  21. SERRA FINA – A GRANDE TRAVESSIA ENTRE O INFERNO E O PARAÍSO. ..........Já é final de tarde quando dois homens de meia idade, quase que cambaleando, descem por uma crista de pedra rumo ao acampamento base da Pedra da Mina. Um branco e magrelo o outro barbudo e de chapéu. Os dois indivíduos lutam contra o vento que vez ou outra tenta jogá-los montanha a baixo. Estão molhados, com muito frio e tentam localizar o caminho se guiando por pequenos totens de pedras, mas a forte neblina e a chuva não os deixam enxergar um palmo à frente do nariz. Quem olha a cena vê logo que os dois sucumbirão ao mal tempo a qualquer momento, parece só questão de tempo. Der repente o magrelo pisa em uma pedra lisa, escorrega e quase vai parar la em Passa Quatro – MG. O homem de chapéu fica inerte, quase não se move, fica só esperando a hora certa para tirar um sarro do seu amigo de infância (filho da mãe!). O magrelo tenta se levantar, mas o peso da mochila não o deixa. Ele se esforça e consegue. Suas mãos estão toda ralada. Sua bunda toda dolorida, mas não quebrou nada. Os dois homens seguem. Suas mãos estão congeladas e eles parecem estar em estado de semi-hipotermia. Estão com tanto frio que mal conseguem segurar seus cajados e se não conseguirem encontrar logo uma área para acampar estarão em maus lençóis, já que a noite se aproxima e a temperatura deve cair mais drasticamente ainda. Apesar de parecerem frágeis, estes homens não podem ser subestimados. Há dois dias eles vêm suportando toda desgraça que o mau tempo na montanha vem lhe jogando às costas. Suas pernas já estão destruídas, já tomaram tudo que é tipo de tombo. Seus ombros já estão tortos de tanto carregarem suas mochilas com mais de 20 quilos de peso. Já subiram montanhas com desníveis gigantescos. Já perderam o caminho várias vezes e com muita força e determinação, voltaram a reencontrá-lo. Vê se logo que não são super-homens, mas carregam dentro de si uma garra e uma vontade incontrolável de chegar ao seu destino, pois com eles sempre foi assim, não desistem nunca, são mesmos uns bravos. Finalmente antes do sol se por, eles conseguem atingir uma área de camping a 100 metros antes do acampamento base. Não pensam duas vezes, jogam suas mochilas no chão e rapidamente montam sua minúscula barraquinha. Estão salvos! Jogam-se para dentro da barraca, colocam roupas secas e entram no saco de dormir. Logo apagam, estão exaustos. Somente horas depois quando a chuva cessa um pouco é que vão cuidar do jantar. Bom, estes dois caras sou Eu e o Dema e como uma travessia não pode começar pelo meio, esta história também não. Vamos ao seu começo. Precisou que mais de 10 anos se passasse para que eu me animasse a voltar à SERRA FINA, onde está localizada a montanha conhecida como PEDRA DA MINA, com altitude de 2.798 metros acima do nível do mar, a montanha mais alta de todo o Estado de São Paulo, o ponto culminante de toda a Serra da Mantiqueira e a quarta montanha mais alta do Brasil. A notícia que uma galera de amigos virtuais estava montando uma expedição para serra e a oportunidade de apresentar esta fantástica travessia ao meu amigo Dema foi o estopim que faltava para minha volta a estas montanhas. Diferentemente de 2001, hoje a Travessia da Serra Fina ficou famosa e quando surge uma oportunidade a galera disputa uma vaga nos grupos a tapa. No final ficou decidido que seriam 17 pessoas, divididos em dois grupos, para caberem em duas Kombis. Mas a previsão do tempo foi mudando e a possível entrada de uma frente fria no feriado começou a espantar algumas pessoas. Alguns desistiram por problemas de saúde na família, outros preferiram ir participar da passeata colorida na Av. Paulista e teve uns que não foram porque tinham que fazer inscrição no programa “O MAIOR ARREGÃO DO MUNDO” (kkkkk, foi só brincadeirinha galera). No final acabaram sobrando somente Eu e o Dema e mais dois ou três paulistanos. Combinamos de nos encontrarmos na cidade de Passa Quatro – MG, por volta das seis horas da manhã. Às 18 horas, Eu e o Dema embarcamos na rodoviária de Campinas rumo a São José dos Campos e em São José pegamos outro ônibus às 23h40min para Passa Quatro, aonde chegamos antes das três horas da manhã. Até o dia amanhecer, ficamos “hospedados” na “Rodoviária Palace” e nos acomodamos nos confortáveis bancos de madeira. Assim que o sol surgiu por de trás do céu cinzento, nos deslocamos até o local combinado para encontrarmos nossos amigos paulistanos. Quando tocamos o interfone do hotel onde os sujeitos deveriam estar, recebemos a informação que não havia ninguém com os nomes citados. Pronto! Estávamos agora só nós dois, sem transporte para o início da trilha, perdidos em uma cidadezinha deserta de gente por causa do tempo ruim. Pelo menos a cidade estava muito bonita, com as ruas todas decorada por causa do feriado de Corpus Crist. Tentamos alugar um taxi para nos levar até a Toca do Lobo, que é o início da travessia, mas o cara quis arrancar o nosso coro, então o mandamos a merda e decidimos enfrentar os quase 20 km a pé mesmo, desistir é que não iríamos, há isso não! Da minúscula rodoviária de Passa Quatro seguimos até a ponte que atravessa o rio de mesmo nome e pegamos a rodovia para a esquerda. Andamos uns 500 metros e perguntamos para um grupo de romeiros que estavam indo para Aparecida se ainda estava longe a divisa de Estado. Eles nos disseram que deveria ficar a uns 5 quilômetros, só que ficava no sentido contrário . Putzzz que furo, nem começamos a caminhada e já tínhamos errado o caminho. Voltamos para o lado correto da rodovia e em mais ou menos uma hora de caminhada, depois de passarmos pelo marco de concreto da “Estrada Real”, chegamos ao barracão da CONAB e então pegamos para esquerda na rua asfaltada. O asfalto acaba depois de uns 500 metros e mais um quilômetro à frente todo o aglomerado de casas ficou para trás e então vamos acompanhando pelo lado esquerdo, o vale do Rio Quilombo. A caminhada é agradável e não chega a ser enfadonha. De vez enquando, passa por nós a galera que também se dirige para o início da travessia, todos sortudos que conseguiram arrumar transporte e não precisarão enfrentar todo esse percurso a pé. Chegamos a pedir carona, mas todos os carros e jipes estão lotados. É vamos na canela mesmo! Logo à frente encontramos um nativo que a cavalo, vai tocando duas mulas de volta para seu pequeno sítio. Ele acabará de descarregar sua pequena produção de leite em um sítio de um parente onde há um freezer para conservar o produto. Logo puxamos conversa com seu Lourival. Homem simples e humilde não pensa duas vezes e nos oferece as suas mulas para levar nossas pesadas mochilas por pelo menos uns 3 km à frente, onde ele terá que abandonar a estrada para acessar sua casa. Mais que depressa jogamos as mochilas nos ombros das mulas e sentimos o alívio de andar morro acima sem pesos nas costas. Quando ele chega ao seu destino, nos convida para um gole de água e para saborear umas bananas maduras. Impossível recusar tal proposta. Hidratados e com a barriga cheia, voltamos para a estradinha de terra e retomamos a caminhada. Passamos por uma placa curiosa: ”PROÍBIDO A ENTRADA DE PESSOAS E TAMBÉM DE ANIMAIS”. É parece que os animais por estas bandas também são alfabetizados (rsrsrsrsrs). A pernada continua por um bom tempo até que chegamos a uma ponte que cruza o Rio Quilombo. Perguntamos a uns nativos se a Toca do Lobo está longe. Como bom mineiro eles nos dizem que se continuarmos andando no ritmo que estamos não levamos nem meia hora. Levamos mais duas. Chegamos a Toca às 11h30min da manhã. A Toca do Lobo é o final da estrada e não passa de um pequeno buraco no barranco, onde á sua frente temos o pequeno poço de águas cristalinas, onde todos devem se abastecer com pelo menos 4 litros de água para 2 dias de caminhada. Fizemos uma parada para um pequeno lanche. Logo passa por nós dois montanhistas apressados, tão apressados que com GPS e tudo perdem o começo da trilha. Explico para eles por onde seguir e volto para mastigar meu lanche. O tempo volta a fechar. Somos os últimos a entrar na trilha. Pulamos, portanto as pedras que barram o pequeno riacho e logo encontramos a trilha que faz uma pequena curva para a esquerda e segue sempre subindo. O relato que segue, não será um relato explicando o caminho a seguir e tão pouco servirá de guia para outros montanhistas. Claro que muitas dicas serão dadas e algumas muito úteis. Mas confesso, não tenho a mesma competência de outros caminhantes experientes que vão anotando passo a passo todo desvio e saídas de trilhas. Essa gente alem de escrever muito bem, ainda presta um grande serviço a todos os amantes de trilhas e montanhas e a eles todo o meu respeito. Muitos me acusarão de várias vezes “assassinar” Camões e fazer “picadinho” de Fernando Pessoa e isso será a pura verdade. Não sou escritor, sou montanhista e este texto não é um guia para o “ENEM”, é só um relato que deixo para minha filha e meus netos contando as aventuras que passei na minha vida, na esperança que sigam meus passos e possam dedicar suas vidas a proteger aquilo que tanto amamos : As montanhas, as florestas,os rios e todo tipo de vida selvagem. Texto que disponibilizo também aos meus amigos, os virtuais e os reais. O tempo continua, portanto, muito fechado, mas não faz muito frio. Eu e o Dema vamos seguindo pela trilha que vai sempre na ascendente. Logo à frente ouvimos o barulho de água correndo do lado direito da encosta, mas me parece muito trabalhoso descer uma íngreme encosta para pegar água, mas como nossa mochila já está com o líquido suficiente para os próximos dois dias, nem nos preocupamos em investigar. Passamos pela parte da trilha em que a crista fica realmente fina e como não conseguimos ver muita coisa por causa da intensa neblina, o caminho se torna muito sinistro e ficamos imaginando a altura dos abismos de um lado e de outro da serra. O caminho passa por pequenos capôes de mata rala, passa por enormes corredores de capins de quase 2 metros de altura, que nos molha até a alma. Vez ou outra perdemos o caminho em alguma trilha falsa, mas logo a reencontramos. É preciso ir sempre prestando atenção nos sulcos que se escondem por baixo destes enormes tufos de capim. Sempre encontramos algum bom lugar para montar uma barraquinha, coisa que praticamente não existia em 2001. Em um destas áreas de acampamentos, fizemos uma pausa mais longa para um descanso e um descuido meu e do meu amigo, nos fez perder quase meia hora, quando caímos no sono. É, estamos só o bagaço! Os quase 20 km de caminhada adicional de Passa Quatro a Toca do Lobo nos destruíram, já começo a duvidar que chegaremos ao topo do Capim Amarelo hoje ainda. A trilha vai sempre subindo e não conseguir ver o nosso destino devido à neblina, nos deixa com os nervos a flor da pele. Aos poucos a temperatura vai caindo e o frio vai aumentando. O corpo já dá sinais de exaustão, chegamos ao nosso limite. O terreno muda radicalmente e então nos vemos escalando um paredão gigantesco e escorregadio. É lama que não acaba mais. Não são poucas as vezes que escorregamos e voltamos para baixo e aí temos que recomeçar o processo novamente. Mais fico feliz, acho que falta pouco para chegar ao topo. Tiramos força de onde não temos mais, cada obstáculo transposto é comemorado. – Vamos Dema, o topo está próximo! Mais um escorregão, mais uma grande rocha escalada, mais uma “bambuzada” no olho e finalmente ás 17h30min alcançamos o topo de coisa nenhuma. Que frustração! Uma rajada de vento faz surgir a nossa frente mais uma enorme montanha. Vemos logo que se trata do próprio Capim Amarelo. Olhando a foto do mapa que eu tirei em uma placa perto da Toca do Lobo percebo que estamos no alto do Camelo (2.380 m), uma hora ante do topo do Capim Amarelo (2491 m). No Camelo existe uma pequena clareira, que mal cabe uma barraca. Eu e meu amigo Dema nos olhamos e praticamente sem dizer nada um ao outro jogamos nossas mochilas ao chão e demos por encerrado nosso primeiro e longo dia de caminhada. Dez horas de caminhada e sem dormir já estava de bom tamanho, nossa jornada chegara ao fim naquele dia, não tínhamos mais luz natural, não tínhamos mais forças, precisávamos de calor e comida, tínhamos ido alem do que poderíamos agüentar. Não conseguimos chegar ao topo hoje, mais ainda estamos vivos e psicologicamente resolvidos a terminar esta Travessia e nada iria nos desviar do nosso caminho. No Camelo o tempo fecha de vez. Montamos nossa barraca rapidamente e nos jogamos para dentro. Tiramos a roupa molhada e suja de lama, colocamos roupas secas e nos lançamos para dentro do saco de dormir, ficando por La por um bom tempo até que o nosso corpo pudesse adquirir uma temperatura confortável. De dentro da barraca, piloto meu fogareiro e logo cozinho arroz, frito umas tiras de bacon, esquento o feijão pronto. Jantamos muito bem e antes mesmos da chuva apertar já caímos no sono da morte. O primeiro dia no “inferno” estava finalizado. Já são mais de 09h00min quando um raio de sol atinge a nossa barraca naquela manhã gelada do dia 8 de Junho. Levanto-me de supetão. O sol me anima a sair logo de dentro da barraca. A chuva se foi, é o que eu penso, mas em minutos o tempo volta a se fechar e ficar carrancudo e cinzento, não dá nem tempo de bater uma foto e a neblina cobre tudo. Coloco a água para ferver a fim de preparar um chá de mate e de gengibre. Enquanto a água esquenta tento tomar coragem para por de novo as roupas molhadas e a bota encharcada. Esse é um momento de maior angústia na montanha. Sair da cama quentinha e vestir aqueles trajes nojentos, ninguém merece! Começamos a ouvir vozes que vinham das montanhas. Pensamos ser a galera que estava no topo do Capim Amarelo se preparando pra recomeçar a caminhada, mas não era. Era uma expedição guiada que abandonaram a Travessia e estavam descendo e indo embora para casa. Mais umas 12 pessoas que desistiram de seguir. O guia que era de Petrópolis decidiu que não seria seguro continuar com o mau tempo. “Essa é a grande vantagem de contratar um guia, ele decide por você, ele sabe o que é melhor para você, ele é o senhor do seu destino” (rsrsrsrsrsr). Bom, nós não temos guia, não temos GPS, não temos se quer visibilidade para nos guiar nessa jornada. Estamos por conta própria, as pessoas a nossa frente já estão muito longe e atrás de nós parece não haver viva alma. Mesmo que houvesse seria impossível vermos alguma coisa. Então ás 10h00min da manhã jogamos nossa mochila às costas e partimos para a escalada do Pico do Capim Amarelo. A trilha entra pelo mato molhado (cacete) e vai avançando até chegar a outro paredão, liso, escorregadio, enlameado, íngreme. E lá estamos nós, mais uma vez nos pendurando parede acima. Quarenta minutos depois atingimos os (2.491 m) do topo do Capim Amarelo. Infelizmente não conseguimos ver coisa alguma la de cima. Faz muito frio, cai uma garoa fina e uma neblina espessa toma conta de tudo. O pico do Capim Amarelo é um bom lugar para acampar, com muitas áreas bem abrigadas do vento, mas nesta manhã ele se encontra vazio e solitário. Como já estamos atrasados, tratamos logo de tentar encontrar a continuidade da trilha. Em 2001 me deram a informação que a trilha não seguia para onde seria óbvio, ou seja, para leste e sim segui quase para o norte. Lembrando-me disso, peguei minha bússola e encontrei o ponto cardeal e realmente encontramos uma trilha bem batida naquela direção. Essa trilha depois de uns 3 minutos começa a descer para leste e vai descendo entre as árvores e então se perde uma meia hora depois. É pegamos a trilha errada. Parece que todo mundo desce essa trilha, se perde no vale e depois tem que voltar a subi-la novamente. Foi o que fizemos. Voltamos para cima da montanha e encontramos outra trilha a uns 10 metros daquela que pegamos, essa sim, a trilha correta. O nosso caminho começa a descer por dentro da vegetação espessa e molhada. Nós procuramos acelerar o passo, primeiramente para tirar o atraso e também para nos mantermos aquecidos. Uma hora depois passamos por uma pequena área de camping e logo depois chegamos a um vale, que imaginamos ser o local conhecido como Avançado (2.296 m). Nesta hora o tempo abriu e todas as montanhas do lado mineiro podiam ser vistas. Ficamos super contentes e paramos por um bom tempo para bater umas fotos, mas meia hora depois o tempo voltou a fechar e a temperatura despencou de vez. Começou a ventar, mas não um ventinho qualquer, eram rajadas de ventos fortíssimas que faziam nossa alma virar picolé. Chegando a esse vale, é preciso encontrar uma trilha do outro lado, no meio do capinzal alto e então subir a parede de pedra e ir se guiando pelos totens de pedra. Um cego conseguiria se guiar melhor que nós naquele nevoeiro. Localizar três pedrinhas, uma encima da outra não era tarefa fácil. A 13h30min chegamos ao Maracanã, que é um dos maiores locais de camping da Serra Fina. Paramos ali para comer alguma coisa, mas ficar parado era coisa que não podíamos se não corríamos o risco de não nos levantarmos mais. A trilha continua par a esquerda, bem na entrada do camping. Entra na mata e vai subindo e descendo. Passando por ilhas de pedras expostas, onde eu e o Dema sofríamos para achar o caminho. E assim foi quase pelo resto da tarde. Perde trilha, acha trilha. Procura totem, procura marco de pedra, até que mais uma bobeada e nos lançamos de novo em uma trilha falsa, bem na divisa entre Minas e São Paulo. Foi mais uma pernada inútil serra abaixo. Aí toca a gente subir tudo de novo. Esses pequenos erros vão enervando a gente. A gente já começa a achar que o sucesso da nossa empreitada começa a ficar comprometido. O excesso de frio e o estado de semi-hipótermia começa a mexer com o nosso psicológico. A parte física já está pra lá de comprometida. A mochila já pesa uma tonelada, as pernas não respondem como antes. As quedas começam a acontecer com mais freqüência. Abalados com o mau tempo que não dá uma trégua, para piorar, um vendaval avassalador nos atingi em plena crista exposta. O vento frio e cortante nos humilha e nos transforma em bonecos e nos joga para onde ele quiser. Não temos mais como resistir. Somos dois pobres coitados vagando por uma crista pedregosa. Mal conseguimos segurar nossos cajados. Praticamente não sentimos mais nossas mãos. Cambaleando, vamos avançando muito de vagar. Não sabemos onde estamos, não sabemos se a próxima área de camping está perto ou longe, não temos certeza de mais nada. Vamos seguindo conformados com o nosso destino ingrato e o nosso sofrimento mútuo. Resignados com a nossa desgraça. Já sabíamos que essa travessia com mau tempo não era para qualquer um. Decidimos fazê-la assim mesmo, estávamos pagando o preço pela nossa ousadia. Será que não estaríamos mesmos velhos para essas coisas? Seríamos capazes de nos safar e voltarmos inteiros para contar a história? Ou foi mesmo uma estupidez sem precedentes ignorar o aviso de tanta gente para não vir com o mal tempo? Foi com esses pensamentos na cabeça que continue descendo pela crista, até ouvir um barulho logo à frente. Não víamos nada, mais tínhamos certeza, tinha mais alguém perto da gente. Enquanto o Dema tentava chamar atenção com seu apito, acelero o passo para tentar interceptar esse grupo que está a nossa frente. Num descuido, piso em uma pedra Liza, os meus dois pés sobem para cima e caio no chão com tanta força, que chego a ficar meio tonto. Foi mesmo um tombo cinematográfico. Fiquei ali estatelado no chão. Levanto-me com dificuldade. Não sacudo a poeira, porque é só lama que tenho impregnado na roupa. Agora é que não sinto mais minha mão mesmo. O Dema me olha com aquele olhar sarcástico. O desgraçado também está sofrendo, mas não se furta de dar um sorrisinho sem vergonha no canto da boca (rsrsrsrsr). De pé, seguimos mais alguns minutinhos e encontramos uma galera de seis pessoas. Na verdade são dois grupos de três pessoas que se conheceram na travessia e se juntaram para serem cúmplices da mesma desgraça. Eles também estão em estado lastimável. No grupo de São Paulo, um menino de 14 anos e no grupo do Rio, um jovem de 57 anos e sua namorada de 29 e ainda tinha o filho do homem de 57 anos, um rapaz de 27. O grupo paulistano eu não consegui decorar os nomes, pois falavam pouco ou quase nada. Já o grupo Fluminense eram o Sr: Olau e sua namorada Viviane e o filho do seu Olau era o Rameno. O Rameno estava com um GPS e nos disse que não estávamos nem a 300 meros do acampamento base da Pedra da Mina. Seguimos todos juntos e 200 metros depois antes de um morrote encontramos uma pequena clareira de acampamento. Faltavam apenas 100 metros para o acampamento base, mas eu e o Dema não queríamos nem saber. Vimos a nossa salvação pular á nossa frente e não iríamos deixar escapar. Naquele pequeno espaço, em meio ao capim protegido do vento, caímos com mochila e tudo. Por hora estávamos salvos, amanhã seria um outro dia, quem sabe um dia melhor, porque pior do que está seria impossível ficar. Tremendo de frio, fizemos um enorme esforço e montamos nossa barraca. O nosso estado é realmente lastimável. Sem perder tempo entramos na nossa casa de mato. Tiramos toda a nossa roupa e colocamos roupas secas. Coloquei todas as roupas que eu trazia na mochila. Gorros, luvas, meias. Mais uma vez estávamos envoltos nos nossos sacos de dormir e não demorou muito apagamos e fomos acordar lá pelas sete ou oito da noite. Foi quando me animei a sair da barraca e ir preparar o nosso jantar, que não passou de arroz, grão de bico e lingüiça. Foi comer e voltar para dentro do saco de dormir. Mas meia hora depois ao me levantar para “regar uma moita de capim”, me deparo com um céu todo estrelado. Entro para dentro da barraca com esperança de que no dia seguinte teremos sol, mas meia hora depois uma tempestade desaba sobre nós e minha esperança volta se transformar em frustração. O jeito é ir dormir e esquecer esse negócio de sol. Parece mesmo que nosso destino já está traçado. Sábado, 09 de junho, 08h00min da manhã. Como parece não haver desgraça que dure para sempre, o dia amanhece lindo e ensolarado. Quando abri os olhos e me deparei com os raios de sol já atingindo a nossa barraca, vi logo que todo o nosso sofrimento acabara de chegar o fim. Havíamos passado pelo purgatório e agora ganharíamos o paraíso de presente e no nosso caso, a porta do paraíso estava a apenas uma hora de caminhada e atendia pelo nome de PEDRA DA MINA. Eu e meu amigo Dema não perdemos tempo. Desmontamos a barraca, enfiamos tudo nas mochilas e sem mesmo tomar café, abandonamos a área de camping e partimos. Subimos o morrote que nos separava do acampamento base da Pedra da Mina e em cinco minutos chegamos à beira do riacho (Rio Claro), onde o outro grupo estava acampado. Trocamos algumas palavras com nossos novos amigos e combinamos de nos encontrar no topo. Eu não queria perder mais tempo, queria aproveitar enquanto o tempo estava aberto. A Pedra da Mina estava a nossa frente e a sua subida é feita pela sua rampa do lado direito. Então, atravessamos o riacho e vamos galgando os ombros rochosos um por um, nos guiando pelos totens de pedra, mas como estamos com um grande, vamos seguindo por onde parece ser mais fácil passar, parando algumas vezes para tomar fôlego e tirar fotos de todos os ângulos que podemos. Quando os ombros rochosos acabam, entramos de vez no capim e vamos subindo a grande rampa. Eu estou eufórico, meu corpo foi invadido por uma adrenalina que há muito tempo eu não sentia. Na minha cabeça só existe uma coisa, chegar ao topo o mais rápido possível. Enfio a cara no mato, vou escalando pedra por pedra, rampa atrás de rampa e quando chego ao gigantesco totem de pedra, que não existia em 2001, espero a chegada do meu amigo que vem logo atrás. Juntos agora, seguimos rumo ao topo. Nas mãos carrego a bandeira do Brasil, para muitos um patriotismo idiota, mas par mim, é um gesto de respeito a essa grande montanha, a essa natureza exuberante. Em 2001 eu trouxe a bandeira da cidade que adotei para ser o meu lar e agora trago a bandeira do meu país. É a minha homenagem a essa montanha que já se tornou lendária, cobiçada por todos os amantes das montanhas. E foi assim que as 10h00min desse lindo dia Junho, que fincamos os nossos pés no topo da PEDRA DA MINA (2.798 metros), o ponto mais alto de todo o Estado de São Paulo, o cume da Serra da Mantiqueira e a quarta montanha mais alta do Brasil. Chegar ao topo e encontrar o tempo todo aberto foi mais que um presente, foi um prêmio pela nossa sofrida conquista, pelo nosso esforço, pela nossa dedicação, pela nossa ousadia de contrariar todos os prognósticos desfavoráveis. É a segunda vez que chego ao topo dessa montanha, mas a satisfação é ainda maior que em 2001. Parece mesmo que toda conquista com muita dificuldade é ainda melhor. No topo, como em 2001 estou novamente emocionado. É uma visão realmente lindíssima, para muitos a mais bela visão de todo o sudeste do Brasil. No topo encontramos apenas um montanhista que subiu pela trilha do Paiolinho. Logo vai chegando a galera do acampamento base. Aí o cume se transforma em uma grande confraternização. Todos se cumprimentam e se abraçam, todos sabem que venceram e se superaram. A travessia só está em sua metade, mas o grande prazer de conseguir chegar ao topo da Pedra da Mina é algo indescritível. No topo, alem do marco geodésico de 2.000, agora existe também um outro marco do IBGE, alem de uma grande caixa de alumínio, onde está o livro de cume, destinado para que todo montanhista possa deixar alguma mensagem e assinar a sua presença. Existem ali várias clareiras para acampar e em algumas clareiras foram colocadas ao seu redor grandes pedras empilhadas para formarem uma barreira contra os constantes ventos que varrem o cume. Ficamos por mais de uma hora contemplando as grandes montas ao redor da Pedra da Mina. Montanhas onde quase ninguém já foi. Quase a leste é possível observar os destroços de um pequeno avião que se chocou contra a montanha e muito mais ao longe, em todas as direções, é possível ver outras tantas montanhas famosas, que já trilhamos em outros tempos: Agulhas Negras, Serra do Papagaio, Marins e Itaguaré, Serra da Bocâina, Picú e muitas outras. Mas o tempo vai passando e a travessia tem que continuar. Nosso caminho agora vai em direção ao Cupim de Boi e Pico dos Três Estados. Mais cinco minutos de caminhada nos leva ao início da descida em direção ao Vale do Ruah (vale de Deus). Antes da grande descida resolvemos tomar nosso café. Nossa, a visão desse vale é realmente fantástica, são poucos os lugares que se pode sentir um isolamento tão grande da civilização como é este vale. Eu e meu amigo ficamos ali admirando tamanha beleza e acabamos sendo os últimos a começar a descida. Descida que é feita pela direita do Vale, seguindo os totens e as trilhas no capim. Só se percebe o tanto que descemos, quando chegamos ao fundo do vale e olhamos o caminho que fizemos. A chegar o fundo do VALE DO RUAH (2.512 metros), nos juntamos ao grupo da galera do Rio e de São Paulo. Agora somos 8 sobreviventes, juntos em um só grupo, unidos até o fim da travessia. Vamos seguindo pelo fundo do vale, margeando o Rio Verde, que nasce a 2.576 de altitude, sendo assim a mais alta nascente de um rio da Bacia do Prata no Brasil. Como tivemos vários dias de chuva o vale está inundado e qualquer tentativa de fugir da lama e da água é inútil, por isso meto logo o pé no barro e vou seguindo por entre os tufos de capim elefante que de vez enquando escondem grandes buracos e fazem a gente sumir , mas como já tomei tudo quanto é tombo nessa travessia, uns a mais uns a menos pouca diferença faz. O Rio Verde vai aumentando de tamanho e já começa a ganhar algumas pequenas quedas de água e quando ele resolve se lançar de vez cânion abaixo é hora de abandoná-lo, mas não sem antes nos abastecer de água para mais um dia e meio. É a última água que teremos até o final da travessia. Faz um sol espetacular, mas a água está congelante e ninguém se arisca a tomar banho. O nosso caminho segue para a direita, aproveitando as trilhas no meio no capinzal e mesmo que se perca a trilha, o que é muito fácil de acontecer, o caminho é óbvio, vai subir a crista e galgá-la até o seu fim, no Pico do Cupim de Boi. De cima da serra, damos adeus ao Vale do Ruah e tiramos aquela foto clássica com a Pedra da Mina ao fundo. A nossa jornada vai subindo e descendo pequenas montanhas, passando por capões de mato e línguas de pedras, até que nos deparamos com um gigantesco vale a nossa direita. É uma visão arrebatadora da parte paulista da serra. Uma garganta realmente digna desta travessia. Antes de chegarmos ao cume do Cupim de Boi, nos deparamos com um abismo com uns 1.000 metros de profundidade e enquanto eu e o Dema fazíamos poses para fotos à beira do despenhadeiro, o seu Olau, o jovem de 57 anos e sua jovem namorada caminhavam de gatinho, quase se arrastando pelo chão. Foi engraçado, porque o seu Olau é um militar reformado e até então eu o via como uma espécie Rambo. É, parece que todos nós temos nossas fraquezas e medos e a fraqueza do seu Olau é o medo de altura. Já seu filho Rameno parece uma espécie de soldado universal, se alisou na Legião estrangeira, serviu na França e na África. Bom, um de quatro pés, outros fazendo gracinha à beira do abismo, foi assim que todos nós chegamos às 05 da tarde no cume do CUPIM DE BOI (2.530 metros). Ao lado direito do Cupim, existe uma montanha muito alta e muito provavelmente deve dar para contar nos dedos às pessoas que foram até lá, isso se tiver algum caminho que chegue até ela. O nosso caminho passa um 50 metros após o cume do Cupim de Boi e desce em um grande totem de pedra. Chegando ao totem pega-se para a esquerda e desce-se até o vale. Não é um caminho fácil de seguir, mas fomo nos guiando pelos raros totens até encontrarmos a trilha que entra na mata. Já é tarde e logo o sol vai desaparecer, por isso aceleramos o passo e em meia hora chegamos ao bambuzal, onde existe uma grande área de acampamento. Já estamos todos exaustos, mas a galera menos experiente já está nas últimas e todos decidem que é hora de dar por terminado esse terceiro dia de caminhada. Eu, o Dema e o Rameno, resolvemos seguir sem mochilas por mais uns 15 minutos á frente para ver se não haveria uma área ainda maior para acamparmos. O caminho começa a subir por uma trilha muito íngreme e nos leva até o topo de um morro. Não vimos nenhuma área para camping, mas em compensação tivemos a honra de presenciar um dos fenômenos mais espetaculares da natureza, um arco-íris de 360 graus. Em quase 20 anos de montanhismo eu jamais havia presenciado um fenômeno destes. Um espetáculo para aplaudir de pé. De volta ao acampamento, montamos nossas barracas e cada um foi cuidar do seu jantar. Eu e o Dema dosamos bem o nosso consumo de água, pois eu já sabia que o dia seguinte seria muito longo e me lembrava também que em 2001 tivemos problemas com a falta de água. Mas nos chamou a atenção o fato de parte de a galera estar comendo miojo cru porque não tinha mais água para cozinhar. Se há um lugar onde a individualidade não tem vez, esse lugar são as montanhas. Se estamos juntos, somos um só grupo, uma só família e se é para passar sede, vamos passar todos juntos, por isso ofereci uma das nossas garrafas de água par o resto do grupo. Como fazia muito frio, jantamos e fomos dormir e esse foi o dia mais seco de toda a nossa travessia e a melhor noite que passamos. Um dia lindo, foi assim que nasceu nosso ultimo dia de travessia. Acordamos cedo, bem cedo. Tomamos café e partimos. Logo de cara enfrentamos uma enorme subida e quando chegamos ao topo se descortinou à nossa frente uma magnífica paisagem, um tapete de nuvens esplendoroso, nos sentamos ali por um bom tempo. Mas o nosso objetivo estava logo ali á nossa frente nos chamando. E então partimos e só paramos quando chegamos à outra grande atração desta travessia: O PICO DOS 3 ESTADOS (2.656 metros), local exato onde os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se encontram. Um grande marco de ferro com as letras dos 3 estados foi colocado lá encima para marcar o ponto geográfico da divisa.Do topo desta linda montanha , as Agulhas Negras ficam ainda mais espetaculares e a Pedra da Mina aparece em toda sua magnitude. Todos nós nos juntamos no topo para uma foto do grupo. Tomamos os últimos goles de água que nos restou nos cantis. Daqui para frente começará a nossa desesperada luta para encontrar água. Como no topo não é lugar par se encontrar água, tratamos de descer logo e abandonamos o Pico dos 3 Estados a sua própria solidão. É uma grande descida e algumas partes são mesmo complicadas de descer, mas nada que não possa ser vencida com muita determinação. Desta grande descida já avistamos la de cima uma ilha de pedra no meio de uma pequena mata. Uma ilha de pedra toda úmida, que aos nossos olhos parecia conter alguns filetes de água escorrendo por ele. Ao chegarmos no final dessa descida, a um selado, eu e o Rameno nos lançamos no meio do mato tentando localizar esse possível oásis . Depois de arrebentar um pequeno bambuzal no peito eu até cheguei a encontrar estas pedras, mas só havia uma grande umidade, água que é bom, nem uma gota. A situação foi ficando cada vez mais crítica e alguns de nós já começou a lamber alguns musgos, só para eliminar a secura da boca. A procura pela água era constante e cada um tentava fazer a sua parte. A caminhada seguia, a paisagem continua linda e agora tínhamos a nossa frente o Pico Alto dos Ivos, uma subida considerável. Eu e Dema estávamos com sede, mas não teríamos nenhum problema para terminar a caminhada sem beber água. O mais preocupado era o seu Olau, que tentava encontrar água de qualquer jeito. Talvez a sua maior preocupação fosse por causa da sua namorada, a única menina do grupo. Foi em mais uma tentativa de lamber uns musgos, já na subida os Ivos, que tentando puxar umas raízes, vi que elas saíram pingando água. Enfiei as mãos bem fundas nas raízes dos musgos parecendo uma esponja, puxei e torci. Meio copo de água jorrou. Dei um grito e chamei todo mundo. Então a “colheita” começou. Pegamos as panelas e fomos torcendo os musgos, do qual saiam um líquido vermelho com de barro, grosso, nojento, gosmento. Tentamos coá-los, mas não obtivemos sucesso, o líquido era muito espesso. Então o que não tem solução, solucionado está. Agora tínhamos água o suficiente para terminar a caminhada, faltava só estômago para encarar o fluído. Chegamos ao ALTO DOS IVOS (2.513 metros) e foi neste pico que abrimos a “garrafada nojenta” e bebemos sem nenhuma frescura. Era o “A PROVA DE TUDO” real, sem truques, sem cortes. Depois de tomar isso, não há mais nada que nos assuste. O que é engraçado é que depois de beber aquele negócio, não sentimos mais sede, é como se o nosso cérebro desse um aviso para o nosso corpo para não sentir mais sede. É o cérebro defendendo o organismo (rsrsrsrsr). Depois dos Ivos começa a grande descida e a grande atração fica por conta da visão das formações rochosas do Parque Nacional de Itatiaia. Ao chegarmos a uma área de acampamento, talvez o último desta travessia, paramos para um breve lanche e depois eu e o Dema aceleramos á frente e quando a trilha ficou plana no meio da mata quase corremos na trilha, até que ela se transforma em uma estradinha abandonada e em mais meia hora nós dois estávamos parados na bica salva-vidas a beira do caminho. Bebemos o quanto conseguimos e só não bebemos mais pára sobrar água par os outros, que chegaram uns 15 minutos depois. Todos juntos mais uma vez, retomamos a caminhada e logo a frente chegamos a uma bifurcação em “T”. Pegamos para a esquerda e em mais uns 15 minutos chegamos ao sítio ou pousada do Pierre, que não é mais o dono do lugar a muito temo. O certo é que tudo parece abandonado, como estava em 2001. Mais o caminho não terminou, ainda tinha uns 40 minutos de caminhada pela estrada até o asfalto. Quando chegamos ao asfalto, foi a primeira vez em 4 dias que nos sentimos de novo com os pés na civilização. Lá encontramos outro grupo que havia feito a travessia e então nos juntamos todos nós para uma foto de despedida. E cada qual voltou para sua casa. Nós e o grupo do Rio alugamos uma perua até Engenheiro Passos e depois seguimos para Resende e de Resende para São Paulo e logo em seguida para Sumaré-SP. E foi assim que num feriado de 2012. Eu e meu amigo Dema nos lançamos nesta travessia que é considerada por muitos a mais difícil Travessia de montanha do Brasil. Muitos poderão contestar e até apontarão outras caminhadas como mais difíceis. Podem até terem razão ou não, haverá sempre controversas. Algumas destas travessias por enquanto não passam de vara mato e outras são uma trilha que emenda em outra para formarem grandes travessias. A serra Fina é uma Travessia única, selvagem, grandiosa. Contém um das mais altas montanhas do país. Tudo isso é verdade, mas o grande atrativo desta trilha é ser travessia livre, sem encheção de saco de regras de Parques Nacionais e de órgãos ambientais. É a travessia da liberdade, é difícil, é complicada e com mal tempo o Everest paulista pode se transformar no K2 e o que mais me impressionou é que passado mais de 10 anos esta caminhada ainda continua do mesmo jeito. Não vi lixo algum, não há erosão nas trilhas, sinal que os caminhantes que por la estão passando , estão tendo uma consciência espetacular e a todos temos só que agradecer. Finalizo este relato agradecendo ao meu amigo professor: Dema e aos outros amigos que fiz durante a travessia. O seu Olau nos disse que o homem passa sua vida inteira a procura da felicidade e que a maioria jamais a encontrará. Acho que é isso mesmo, mas mesmo assim nós vamos seguindo, de trilha em trilha de montanha em montanha, à procura da nossa felicidade e se não a encontrarmos, valerá os momentos felizes que passamos, valerá os amigos que fizemos e os grandes lugares que conhecemos. Desta vez estivemos no topo do Estado de São Paulo, mas poderemos ir a lugares mais altos, mais distantes, porque ainda não conhecemos nosso limite. DIVANEI GOES DE PAULA – JUNHO / 2012
  22. Olá galera!! Espero que gostem do meu relato sobre a Travessia da Serra Fina! Pra quem duvida, ela é difícil sim. Não sei se é a mais difícil, mas ela é muito difícil!! PRÉ-TRAVESSIA A Travessia da Serra Fina é tachada por muitos, como sendo a mais difícil do Brasil. Ela fica localizada bem na divisa entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, fazendo parte da Serra da Mantiqueira. Apesar de estar localizada bem próxima ao Parque Nacional do Itatiaia, estas montanhas só foram exploradas em meados dos anos 50. Esta travessia também conta em seu roteiro com duas das dez maiores montanhas do Brasil, a Pedra da Mina (2.798m) e o Pico dos Três Estados (2.656m), pra não falar das dezenas de montanhas acima dos 2.000m que também estão incluídas. A nossa aventura para a travessia iniciou-se muito antes de pegarmos a estrada, pois juntamente com um grupo começamos a planejar pelo menos um mês antes, a fim de evitarmos futuros imprevistos. Naquele instante, todo o esquema já estava formado: Eu e mais quatro amigos sairíamos de Teresópolis na quarta feira de carro, encontraríamos o restante do grupo - oito pessoas – em Passa Quatro e dali seguiríamos de van para a Toca do Lobo, onde iniciaríamos a empreitada. Entre o grupo que faria conosco, estavam uma pessoa que já havia feito a travessia e outra que levaria um GPS... Até então estava tudo pronto! Porém, todo o nosso planejamento foi por “água abaixo” literalmente, quando há menos de três dias do início, todos os sites de previsão do tempo denunciavam uma forte chuva para aquela região durante praticamente todos os dias em que faríamos a travessia... De quinta a domingo! Um a um foi desistindo... De um grupo que continha treze pessoas, só sobraram quatro pessoas confiantes e otimistas de que os sites estavam errados: Os irmãos Felipe e Fabiano, Digão e eu, Maicon. Basicamente, o planejamento de irmos de carro até Passa Quatro ainda continuava de pé, porém todo o restante do plano - a van que levaria até a Toca do Lobo, a pessoa que nos guiaria na trilha e o GPS – estava perdido, pois não dispúnhamos de tempo suficiente para preparar tudo. Foi aí que na véspera de nossa partida, nos reunimos e deixamos de pensar com a razão e passamos a pensar somente com a emoção... Iríamos assim mesmo e enfrentaríamos mais este desafio... E sabe-se lá Deus como! Após a nossa decisão de ir, conseguimos descobrir o telefone do “Seu” Edson, um senhor muito bacana que costuma levar a galera até a Toca do Lobo. Ligamos para ele a fim de negociarmos o resgate e também para perguntar como estava o tempo na cidade, que segundo ele estava “dando pra ver até estrela”! Revelação esta que nos fez ficar bastante empolgados e fortificar a decisão de arriscar. Com as mochilas prontas partimos às 23h, chegando em Passa Quatro lá pelas 5h. Encontramos-nos com o “Seu” Edson, subimos em uma caminhonete Toyota e partimos rumo à Toca do Lobo. Passamos por uma espécie de condomínio, onde o “Seu” Edson foi resgatar mais dois rapazes. A partir daí sentimos que a travessia não seria brincadeira, pois a viagem em cima da caminhonete foi muito emocionante, já que a rua era cheia de buracos que mais aparentavam crateras. Além disso, o mato tomava conta da tal estrada, e quem abria o caminho era a caminhonete. O carro também subiu em lugares que um carro comum não subiria, logo parecia que faríamos toda a travessia em cima dele... Até que, quando não mais tinha como andar pela rua, a caminhonete parou numa espécie de platô, onde havia já uma barraca montada. Aí sentíamos que finalmente íamos começar a “pegar” a trilha. 1º DIA – TOCA DO LOBO X ALTO DO CAPIM AMARELO Já a pé, continuamos a seguir a estrada que depois virou uma trilha, até passarmos pela famosa Toca do Lobo (onde também já havia algumas barracas montadas) e chegar a um riacho. Após atravessarmos o riacho, notamos que logo de cara a travessia já se mostrava imponente, pois contava com uma forte subida. Pouco mais de vinte minutos caminhando chegamos numa grande clareira onde já se podiam avistar várias montanhas, entre elas o Pico do Itaguaré! Também já se podia perceber o Alto do Capim Amarelo se mostrando. Ali demos conta de que já estávamos a uma altitude considerada. A trilha até este ponto é de orientação bem fácil e demarcada e não oferece maiores riscos de se perder, mesmo para quem não conheça como no nosso caso. Com uns 40min desde o começo da trilha, parecia que tudo não ia ficar bem, pois o tempo ameaçou a ficar ruim e gotas grossas de chuva começaram a cair... Porém, tudo não passou de um susto, e a chuva parou instantaneamente... Foi um alívio para todos nós! Por volta de 1h30min de caminhada, chegamos à mais um ponto de água onde paramos por um tempo para descansar. Percebemos que a travessia é difícil até neste quesito, já que para pegar água neste lugar, tem-se que descer um barranco muito escorregadio e inclinado. Um desafio para poucos. Daí pra frente o visual começa a ficar cada vez mais fascinante, pois vamos caminhando pelas cristas das montanhas e lá em baixo, um mar de nuvens! Logo percebemos que a previsão dos sites poderia ter acertado a questão do clima para as cidades abaixo, mas para a Serra Fina não... Nessa, demos sorte. Mas todo o visual “acaba” quando começamos a pegar uma subida muito forte. Em alguns trechos mais parecia com uma escalada do que uma caminhada, só que ao invés de rocha escalávamos em barrancos cheios de lama. Agradecemos muito por ter tantos bambus nesse ponto, pois graças a eles conseguíamos vencer cada metro. A mochila, pesada, parecia que puxava o nosso corpo para baixo, e foi muito difícil conseguir passar por vários trechos com ela. Até que eu e Felipe, conseguimos chegar numa espécie de acampamento onde havia quatro pessoas nele, para as quais perguntamos se ali era o Capim Amarelo. Após se entreolharem, um respondeu que não e meio que ironicamente disse que ainda tinha uma pequena subidinha e complementou que pararam ali somente para fazer uma refeição. Não acreditamos nesse termo “subidinha”, pois se pararam ali pra fazer uma refeição, era sinal de que a subida ainda era longa... A expectativa se cumpriu, e a subida que era forte, parecia que tinha ficado pior. Nesse momento, já não se podia ver o horizonte, pois estávamos cobertos por uma névoa muito densa. A cada passo que subíamos e chegávamos num suposto cume, percebíamos que mais acima existia mais um morro a ser conquistado. E foi assim por pelo menos umas cinco a dez vezes. Não estávamos acreditando naquilo tudo, a montanha parecia que lutava contra a gente... Nunca tínhamos passado por trilha pior do que aquela e nossas forças estavam se esgotando completamente. Até que... (uffa) Finalmente chegamos ao nosso destino final: A conquista do Alto do Capim Amarelo havia chegado 5h após o início. A alegria tomou conta de nós e mal sabíamos o que nos ia acontecer no dia seguinte. Rapidamente, eu e Felipe, começamos a procurar um local para acamparmos, pois já tínhamos ouvido falar sobre a tal disputa por acampamentos que rola nesta travessia. Encontramos um lugar bem protegido e só nos restou esperar o Fabiano e o Digão chegarem. Enquanto isso, ficamos conversando com aqueles dois rapazes que vieram junto conosco no carro. Estes que já haviam chegado ali há bastante tempo, pois vieram num ritmo bem mais rápido. Após a chegada dos nosso amigos, montamos as barracas, fizemos uma refeição e logo fomos dormir, pois estávamos todos acordados desde as 22h e nesse momento já eram 15h! 2º DIA – ALTO DO CAPIM AMARELO x BASE PEDRA DA MINA O frio tinha tomado conta do acampamento e acordamos somente às 8h. Levantamos, saímos da barraca e reparamos que o tempo estava completamente nevoado. Um grande grupo de mais ou menos quinze pessoas estava acampado, além de vários outros grupos menores. A grande maioria sabia que dali pra frente, a orientação na trilha seria muito difícil e piorada com o clima desfavorável, por conta disto quase todos desistiram de continuar a travessia. Neste momento foi muito decisivo para o nosso grupo, pois ninguém conhecia sequer um pouco da trilha. Mesmo assim decidimos ir em frente após conversar com um grupo de três pessoas, um deles o Rameno que estava com GPS e aceitou nos dar ajuda. A partir dali tínhamos nos tornado um grupo de sete pessoas. Logo após sairmos do acampamento fomos seguindo por uma trilha que começou a ficar muito íngreme e em seguida se fechou. Ao consultar o GPS, o Rameno descobriu que estávamos fora da trilha. Estava aí a prova de quanto a orientação seria difícil naquele dia. Voltamos subindo cerca de 5min até encontrar a bifurcação. A trilha correta seria a da esquerda de quem esta descendo e foi essa mesmo que pegamos. A partir deste ponto, a trilha ficou mais tranquila de ser guiada, e sempre quando aparecia alguma dúvida, consultávamos o GPS. Porém ainda estávamos em meio a nuvens e tínhamos no máximo 5m de visibilidade. Andamos cerca de 2h até encontrar mais um grupo de três pessoas, entre eles um menino de 14 anos, que estavam meio confusos com a trilha e se juntaram a nós. Agora éramos 10 pessoas andando em meio à mata e se ajudando em todos os pontos. Parecia que já nos conhecíamos há muito tempo. Foi uma convivência muito agradável. Durante essa caminhada até a base da Pedra da Mina quase tudo aconteceu! Pegamos uma chuva um pouco mais forte e com ventos muito gelados, nos perdemos da trilha umas duas vezes, porém conseguimos voltar a ela. Descobrimos que o Rameno já foi soldado da Legião Estrangeira. Também rimos muito quando o pai dele disse que caso ele continuasse parado ali, ia acabar virando um totem. E depois complementando que se estávamos rindo daquela forma era porque estávamos todos bem. Também encontramos mais um ponto de água que estava marcado no GPS. No mesmo local fizemos amizade com mais dois homens que estavam passando, Divanei e Valdemir. Eles nos acompanharam até chegarmos num local que serviria de acampamento e lá eles ficaram. Com dificuldade por conta da chuva, do vento e do frio, fomos andando até chegar a um riacho. O GPS estava apontando para a esquerda, informando que teríamos um acampamento. Nesse instante já conseguíamos ver uma pedra muito alta, que estávamos imaginando que seria a Pedra da Mina. Eu e Rameno fomos procurar o tal acampamento, mas nada encontramos. O que existia era apenas um grande terreno pedregoso, e como já estava quase escurecendo, decidimos ficar por ali mesmo e acampar, pois no próximo dia a caminhada seria complicada. O terreno onde acampamos não era dos melhores e a todo instante eu acordava. De vez em quando com dores pelo corpo e outras vezes porque escutava o Fabiano e o Digão discutindo na outra barraca por conta dela ter sido colocada num lugar horrível... Eu e Felipe só riamos da situação... Foi uma verdadeira comédia romântica! 3º DIA – BASE PEDRA DA MINA x PICO DOS TRÊS ESTADOS Acordamos e levantamos logo cedo, às 5h30min. Sabíamos que o dia seria muito difícil, pois teríamos que subir a Pedra da Mina e no final o Pico dos Três Estados. Guardamos as nossas barracas e ficamos à espera do grupo do Rameno. No entanto quando já eram 9h, nós quatro decidimos ir adiantando e partimos em frente. Começamos a subir a Pedra da Mina e em pouco mais de 1h de caminhada já estávamos no seu cume. Lá encontramos o Divanei e o Valdemir, além de mais algumas pessoas. Entre elas o Marcelo e a Cissa. Lá em cima tiramos muitas fotos e também comemoramos muito, já que estávamos num dos maiores picos do Brasil! Espantamos-nos quando um homem apareceu com dois bonitos cães por lá, um fato estranho para um ambiente de montanha como aquele. Também ficamos interessados quando este mesmo homem nos mostrou os destroços de um avião numa montanha logo à frente. Logo após isso, o grupo do Rameno também chegou ao cume. No entanto não permanecemos muito tempo ali e nós quatro decidimos continuar nossa longa aventura, se guiando apenas mesmo por totens e vestígios de pisadas até que novamente encontramos o Marcelo e a Cissa, que tinham descido um pouco antes, mas estavam um pouco fora da trilha. Eles também nunca tiveram feito a travessia e estavam se guiando por um GPS, quando por sorte nossa, também nos ofereceram ajuda! Após descermos a Pedra da Mina, ficamos de frente para o temido Vale do Ruah. Um vale alagado e cheio de Capim Elefante, que em muitos lugares alcançavam facilmente os dois metros de altura. Fora isso, também tínhamos que tomar cuidado porque qualquer vacilo, poderíamos ficar atolados até a cintura! E sem exageros! Mesmo assim fomos em frente, sempre seguindo as pistas do GPS até chegar ao um rio. A partir daí começamos a margear o rio até quando ele começou a virar para a esquerda. Traços do GPS indicavam que a trilha estava mais a direita. Foi isso que fizemos, começamos a subir o morro e olhando para trás nos agraciamos por ter passado por mais um difícil obstáculo. A partir daí a trilha sempre foi bem demarcada com pontos muito fáceis de serem guiados, porém muito difícil quanto a capacidade física, pois a toda instante subíamos e descíamos grandes morros. Fomos nesse dilema até chegarmos à base do Cupim do Boi. Nesse momento surgiu uma dúvida, pois o GPS dizia que tínhamos que ir para o cume, mas antes tínhamos recebido a informação de que ele deveria ser contornado, a fim de evitar a sua subida. Como não encontramos nenhuma trilha, seguimos mesmo para o cume, que nos presenteou com uma belíssima visão do Pico dos Três Estados! Depois disso começamos a descer o Cupim, sempre seguindo os totens que estavam pelo caminho até adentrarmos em meio a um bambuzal. Logo após pegamos a subida para o cume do Três Estados. Uma forte, mas tranquila subida e cerca de 1h depois, estávamos de frente para o famoso tripé de ferro que fica localizado no seu cume. O tripé tem as palavras Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais em cada um de seus “pés”! Espantamos-nos ao perceber que havia muitas pessoas por lá, e quase não conseguimos arrumar um bom local para acamparmos. Na verdade, um bom local não veio e tivemos que acampar num terreno meio desnivelado mesmo. No entanto, mesmo com isso, não nos deixamos abater e ficamos muito felizes por estar completando mais uma etapa. Sabíamos que o fim desta empreitada estava próximo, só faltava um dia para cumprir a nossa meta! Nada como ficar curtindo um pôr do sol e desfrutar da belíssima visão que o cume do Três Estados nos proporciona em direção às Agulhas Negras e Prateleiras! 4º DIA (Parte 1) – PICO DOS TRÊS ESTADOS X BIFURCAÇÃO (depois explico) Após três cansativos dias ao longo da travessia, esperávamos que o último dia fosse bem mais tranquilo, porém não foi isso que aconteceu. A descida do Pico dos Três Estados não é das mais fáceis, justamente porque os nossos corpos já estavam bastante cansados e debilitados. Problemas nos pés e nos joelhos e cansaço nas pernas começaram a aparecer. Parecia que tudo se unia para tentar nos derrubar, literamente. E como já não bastasse esse trecho não é feito somente de descidas, e em pelo menos quatro momentos tivemos que pegar subidas também. Esse trecho é bem tranquilo quanto à orientação, mas mesmo assim seguimos no encalço de quatro rapazes que estavam descendo na nossa frente, até chegarmos a um ponto que pudemos realizar uma ligação para o “Seu” Edson, a fim de combinarmos o resgate para os oito. Até ali estávamos conseguindo ir sempre bem próximo a eles, porém um problema afetou os pés de Fabiano e tivemos que descer bem devagar, para evitarmos maiores problemas. Outra coisa que estava afetando muito era a questão de água, que naquele momento já estávamos sem. Foi aí que nos surgiu uma ideia: pedimos para o Digão, que estava aparentemente bem, seguir e tentar acompanhar os quatro que estavam na frente, a fim de pedir a eles para nos esperarem e assim pegarmos o resgate juntos. Com bastante receio de que ele pudesse se perder, eu o alertei de que caso chegasse à algum ponto duvidoso ou algum tipo de bifurcação, que ele parasse e nos esperasse, pois decidiríamos juntos o que fazer. Após isto, eu Fabiano e Felipe, continuamos a nossa longa descida que parecia que nunca ia acabar. Já estávamos andando às 3h praticamente sem água. Só o que tínhamos eram alguns mililitros. O Fabiano já não tinha nada e decidiu tomar água das que ficavam armazenadas nas Bromélias. Foi muito hilário, mas salvador! Depois de mais ou menos 5h andando pela trilha, esta se transformou em uma espécie de estrada que aparentemente há anos não passa carro. Continuamos a descer por esta estrada e com cerca de 15min finalmente encontramos um riacho! Foi tanta alegria, que quase pulamos dentro dele. Enchemos as nossas garrafas menores e deixamos as maiores vazias, pois aparentemente a travessia estava chegando ao seu fim. Quando estávamos caminhando aproximadamente 30min nesta estrada, encontramos uma bifurcação em “T”. Naquele momento não tínhamos ideia de que direção pegar, até que encontramos uma seta feita com pedaço de pau apontando para o lado direito. E no outro lado existiam pedaços de pau espalhados, como se fossem barreiras. Nesse momento, como o Digão não estava ali da forma que eu o tinha orientado, nem pensamos duas vezes. Calculamos que ele tivesse acompanhado os outros quatro, e que estes decidiram nos sinalizar a direção correta. Assim sendo, pegamos a estrada para a direita. 4º DIA (Parte 2) – BIFURCAÇÃO X HOTEL SÃO GOTARDO (a grande burrada) Depois de caminhar aproximadamente 1h30min a estrada começou a ficar mais larga e de repente nos deparamos com um enorme platô, uma espécie de mirante de frente para as Agulhas Negras... Uma visão espetacular! Lá também estava o nosso amigo Digão sentado, nos esperando. A primeira coisa que perguntamos foi onde estavam os rapazes, e ele nos disse que não conseguiu acompanhá-los. A partir daí já começamos a ficar desconfiados. E então perguntamos se ele tinha seguido a seta também, mas foi aí que ele nos disse que foi ele quem tinha colocado a seta no chão! Nesse momento ficamos boquiabertos e assustados com a situação, pois não tínhamos chegado à Fazenda do Pierre que há 1h30min atrás achávamos que estava perto e agora estávamos de frente para um mirante que nunca tínhamos ouvido falar que existia... Foi aí que ele nos disse que havia visto um casal no mirante, que estes disseram que estavam num hotel e depois desceram por uma trilha. Naquele momento nós três já tínhamos quase a certeza de que estávamos no lugar errado. Fui olhar pelo mirante e reparei que passava uma rodovia lá em baixo, no mesmo momento calculei que se tratava da mesma rodovia que deveríamos ter saído. Começamos a nossa descida pela trilha, e logo avistamos uma pequena placa indicando que faltava 1 km para o fim da mesma. Depois disso tudo, ainda tínhamos que andar por uma trilha de 1 km de descida íngreme e ter que ler chatas plaquinhas informativas. Nada bom para os pés e joelhos que já vínhamos sentindo há um tempo. Mesmo sem ter a certeza acusávamos o Digão de ter feito uma bela de uma lambança. Foi quando me lembrei de que tinha imprimido alguns relatos da travessia. Foi uma sensação horrível quando li que depois do riacho (aquele que quase pulamos dentro) haveria uma bifurcação, e que o lado correto deveria ser o esquerdo! Também dizia no relato que a trilha seguiria por mais apenas 20min e chegaria à Fazenda do Pierre. Neste momento, a vontade de prender, torturar, enforcar, estrangular e matar o Digão foi grande. Os irmãos Fabiano e Felipe também sentiram a mesma coisa, eu acredito. Ninguém conseguia acreditar nisto tudo, pois realizamos a travessia quase toda e não havíamos nos perdido em nenhum instante... E agora, no lugar mais tranquilo de todos, acabamos pegando o caminho errado. Não conseguíamos entender o porquê do Rodrigo de ter feito isso e o porquê dele ter optado justamente pelo lado errado. Se ao menos ele tivesse seguido nossa recomendação e tivesse nos esperado. E se ao menos ele não tivesse colocado a maldita seta no chão... Àquela hora estaríamos pegando o carro para casa! Parece hilário, mas no momento, só o que sentíamos foi revolta... Após termos esta certeza acima, continuamos a nossa dura descida, até chegarmos numa espécie de fazenda, por onde andamos cerca de 30min até chegarmos à portaria. Aí foi que percebemos que estávamos na famosa Garganta do Registro, “apenas” 5 km de onde deveríamos ter chegado!!! Ficamos conversando com o porteiro, a fim de saber como poderíamos entrar em contato com o “Seu” Edson, mas não conseguimos, pois não existia sinal de celular e nem ao menos um telefone fixo. Ficamos muito impressionados quando o porteiro disse que trabalhava ali há seis anos e que nunca tinha visto alguém sair da travessia por esse ponto... Percebemos que tínhamos feito algo inédito! Era realmente inacreditável! Só nos restava sorrir da situação, já que uma opção mais trágica (matar o Rodrigo) nada mais adiantaria... E também sorrimos muito, pois o porteiro, com um sotaque bem puxado de minas, não parava de exclamar a todo o momento: “Uunooouusssaa Sinhooouura!”. Ficamos lá buscando uma resolução para o problema, até que nos bateu a ideia de irmos mesmo caminhando até a entrada da Fazenda do Pierre... Depois de andar por uns 15min e ficar decidido que eu e o Digão iríamos à frente pra tentar chegar mais rápido Felizmente conseguimos uma carona até o local e lá encontramos um motorista de Taxi-Kombi, o qual eu convenci a voltarmos e buscar o Felipe e Fabiano. Após buscarmos os dois e retornarmos a entrada da fazenda, conseguimos ligar para o “Seu” Edson, o qual informou que estava chegando a Passa Quatro e que retornaria para buscar-nos. Esperamos pelo menos umas 2h no local e nada do “Seu” Edson aparecer para nos resgatar, até que começaram a surgir várias pessoas que haviam saído lá do Pico dos Três Estados bem depois da gente... Pessoas que tinham feito amizade com a gente pelo caminho... Entre eles o Rameno com todo o seu grupo, o Divanei e o Valdemir, o grupo de três pessoas que continha o menino de 14 anos... Enfim, quase todos! Percebemos que pelo menos para uma coisa a “burrada” tinha nos adiantado: Reencontrar as amizades que tínhamos feito durante a travessia e aproveitar para pegar todos os contatos, para que essas amizades pudessem perdurar por um bom tempo. Depois disso, todos eles começaram a ser resgatados e nós quatro continuamos lá por mais pelo menos 2h e nada do “Seu” Edson. O que estávamos pretendo fazer quando saímos do cume do Pico dos Três Estados, que era chegar cedo em Passa Quatro e logo voltarmos para Teresópolis, tinha ido por “rio a baixo”. Agora nos perguntávamos se iríamos conseguir sair dali e que hora, até que finalmente: com uma Toyota antiga (a mesma que nos levou até a Toca do Lobo) surge o “Seu” Edson para nos resgatar e nos levar sãos e salvos para a pequenina Passa Quatro. A viajem na Toyota até que foi prazerosa, pois ficamos na carroceria e fomos presenteados com uma noite bela e estrelada, onde não havia sequer uma nuvem. Mesmo com aquilo tudo que nos tinha ocorrido, naquele momento estávamos em silencio a apreciar toda aquela magnitude. Pude pensar em tudo que vivi durante aquela travessia: a incerteza da conclusão da mesma quando saímos de Teresópolis; a chuva repentina no começo da travessia e que nos fez repensar a ideia de continuarmos ou não; a forte neblina que encontramos quando acordamos no Alto do Capim Amarelo, esta que fez muita gente desistir. Pensei também nas “caronas” de GPS que por sorte conseguimos descolar (sem elas dificilmente conseguiríamos). Pude pensar na chuva e vento forte que pegamos até chegar à base da Pedra da Mina; nas lutas para conseguir bons locais para acampar; no frio e na dor que senti ao tentar calcar as botas logo pela manhã por conta dos dedos quase congelados; na dificuldade de ter que sair da barraca de madrugada para “tirar água do joelho”. Naquele momento tive a certeza de que tudo que eu havia feito e passado, tinha valido a pena e que mais um objetivo tinha sido concluído em minha. Já começava a pensar em novos planos e novos desafios no futuro... Até que finalmente chegamos em Passa Quatro. Despedimos-nos de “Seu” Edson, entramos no carro e deixamos para trás a pequena cidadezinha, com a incerteza de que um dia voltaremos para aquela que apesar de ter sido a mais difícil, também se tornou a mais emocionante!!! Até mais Serra Fina, foi um prazer!!
  23. Caros amigos. Resolvi compartilhar com vocês este "breve" relato da Travessia da Serra Fina, realizada pelo Grupo Camelos de Mochila em Julho de 2009. Trata-se de um Relato Fotográfico com 61 fotos e informações relevantes para aqueles que pretendem fazer a travessia da Serra Fina pela primeira vez e também uma fonte de recordações para todos aqueles que já estiveram por lá. Somos um grupo de amigos do Rio de Janeiro, apaixonados por Montanhismo e Cicloturismo e que de vez em quando se reúne pra fazer umas doideiras por aí. Visitem o nosso site e entrem em nossa comunidade: http://www.camelosdemochila.com camelosdemochila@yahoogrupos.com.br SERRA FINA A SERRA QUE CHORA... E QUE FAZ CHORAR As passagens estavam compradas, hotel reservado, mochila pronta e previsão do tempo na internet ameaçador.. Meu último email para o grupo foi as 22:00as de Domingo, sob muita tensão, já que a previsão do “Clima Tempo” dava tempo ruim para Segunda, pior para Terça, horrível para quarta e melhora apenas para quinta, com sol para Sexta. Ou seja, Serra fina debaixo de chuva, era a previsão ameaçadora e aterrorizante. 1º Dia – 13/09/2009 – Segunda-Feira – DÚVIDAS, PARTIDA E ALEGRIA Acordei sem vontade de ir, mas, para minha surpresa, havia sol no Rio de Janeiro. - Que nada, lá em MG deve estar a maior chuva e vamos nos ferrar. Cheguei à rodoviária cedo, ainda as 9:15h, já que havia conseguido uma carona com um amigo do trabalho. A passagem estava marcada para as 10:30h. Logo após, chegaram a turma de Magé – Dinho, Jackson e Jorginho – Me recuso a chamá-lo de Dauguinha (eita apelido ridículo...). Café, papo, telefonema preocupado do Jamiu (pai do Jackson), telefonema de boa sorte do Carlos Papel e chegada do Alê e o Oteb. Esse Oteb é um grande chapa. Estava lá para se despedir e nos desejar boa sorte. Me senti o Leonardo de Cáprio entrando no Titanic, rumando para uma viagem sem volta. 13/07/09, segunda-feira, 10:57as – Oteb; amigo inseparável, nos dando adeus. “Good bye Rose....” Esse Oteb é um pé de coelho mesmo, pois quando estávamos saindo ele me afirmou que todas as previsões do tempo iriam errar na semana que iniciava, já que iria desenhar aquele já famoso sol no quintal de seu prédio. Quem o conhece já sabe, que aquele solzinho é infalível. Foi responsável por três anos consecutivos de travessia Petrópolis/Teresópolis com tempo bom. Fiquei mais tranqüilo e confiante, afinal, aquela era a previsão do nosso Ogro de estimação. Chegamos a Cruzeiro (SP) por volta das 14:15h e logo fomos comprar as passagens para P. Quatro. Passagem comprada para 15:30h e longos 30 minutos de espera. Resolvemos almoçar... Aquele almoço foi brabo, pois foram alguns minutos para procurar o pé sujo decente para comermos, outros minutos intermináveis para a senhora nos servir os PFs e apenas 10 minutos para engolir a comida, pagar, trocar a passagem extra que eu havia comprado por engano, embarcar e sair. Ufaaaaaaaaaa. No final, deu tudo certo. Estávamos a caminho de Passa Quatro (MG). Após quase uma hora de viagem, entramos na cidade. 13/07/09, segunda-feira, 16:30h - Chegando a Passa Quatro as 16:30h de 13 de Junho/09. Aqui, vale abrir um parágrafo para descrever um pouco sobre esta maravilhosa cidade: Remonta ao tempo da bandeira de Fernão Dias Pais em 1674 a origem dessa cidade encravada na Serra da Mantiqueira no sul do Estado de Minas Gerais. Situada logo após um marco geográfico bastante notável na Serra, a Garganta do Embaú, por onde passou a expedição liderada por aquele bandeirante, teve sua localização descrita em documentos que dão origem ao nome da cidade. Constam também expedições de Jacques Felix, fundador de Taubaté, e seu filho de mesmo nome, em expedições anteriores, datadas de 1646, pela região que podem ter dado origem ao povoamento mais antigo. Este caminho ficou conhecido, mais tarde, como Caminho Velho da Estrada Real. No caminho descrito por André João Antonil, consta o nome do Ribeirão do Passa trinta, logo após a descida da serra da Mantiqueira, mas segundo nota de Andrée Mansuy Diniz Silva, o nome atual desse afluente do Rio Verde é Passaquatro, ou Passa Quatro.[5] 13/07/09, segunda-feira, 17:08as - Eu, na estação de Passa Quatro Geografia Cachoeira na Floresta Nacional em Passa-Quatro. Fonte: Wikpedia. Apesar de não ser a cidade brasileira situada em altitude mais elevada, o município se encontra entre as regiões mais altas do país, apresentando o quarto maior pico brasileiro, a Pedra da Mina (2.798 m), localizado na Serra Fina e ponto culminante da Serra da Mantiqueira e do Estado de São Paulo, com o qual o município faz fronteira. Aliás, nos limites do município também se encontra o Pico dos Três Estados, marco geodésico da divisa entre os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e muitos outros picos elevados a mais de dois mil metros de altitude, tornando-a uma localidade onde se pratica o montanhismo. O relevo montanhoso é presente em 90% do município, sendo considerado ondulado em 8% e plano somente 2%, onde se encontra a maior parte do centro urbano.[7] O município é cortado pelo Rio Passa Quatro e pelo Rio das Pedras que são parte integrante da bacia do Rio Grande. Inúmeras paisagens cênicas naturais, como cachoeiras e matas nativas, além das montanhas, preenchem a região que se encontra praticamente equidistante (cerca de 270 km) dos dois principais pólos geradores de fluxo turístico do Brasil, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Por este motivo, atualmente, a cidade tem apresentado forte desenvolvimento no setor turístico, notadamente com o ecoturismo, o que vem mudando sua vocação tradicionalmente agrícola e de criação de gado leiteiro. Fonte: Wikpedia. Voltemos para o que interessa: Chegamos à cidade já eram quase 17:00h e corremos para nos acomodar. Logo em seguida encontramos o Rodrigo Cury, que já havia chegado à cidade há algumas horas. O restante do dia foi só turismo e preparação para a nossa jornada do dia seguinte. 13/07/09, segunda-feira, 17:37as - Os Camelos e a Igreja. Buscando forças para a aventura que viria. 13/07/09, segunda-feira, 17:30h - Só alegria na véspera da grande aventura do ano. 13/07/0 , segunda-feira, 18:21h - Na pracinha à noite. Nosso hotel é este sobradinho à direita. 13/07/09, segunda-feira, 18:5h - Alê, Rodrigo e eu, curtindo o friozinho da noite. 13/07/09, segunda-feira , 19:59h - A turma toda tomando um café antes de se recolher. Da esquerda para a direita: Alê, Alberto (eu), Rodrigo, Jorginho, Jackson e Dinho. Aqui vale abrir outro parágrafo que para relatar um fato que seria de suma importância para a nossa excursão. Já íamos nos recolher, quando estávamos entrando no hotel e, de repente um homem em uma bicicleta nos interpelou perguntando se éramos do grupo que iria fazer a S. Fina no dia seguinte. Confirmamos e ele se apresentou como sendo o Guto – guia local que iria também fazer a S. Fina no dia seguinte com um ciente de S. Paulo. Conversamos um pouco e ele nos deu algumas dicas sobre o nosso resgate e outras coisas, além de dizer que iria sair um pouco mais tarde que nós. 2º Dia – 14/07/2009 - Terça-Feira – COMEÇA A AVENTURA RUMO AO CAPIM AMARELO Acordamos as 6:00as e fomos tomar nosso café. 14/07/09, terça-feira, 6:27h – Tomando café da manhã antes da partida para a Serra Fina. Observe pela janela, que ainda é noite na cidade e o frio é intenso. As 7:00as já estávamos embarcando na Kombi do Celso – nosso resgate –e a caminho da tocado Lobo. FOTO 11 (NO SITE DOS CAMELOS) 14/07/09, terça-feira, 7:16h - A turma embarcando na Kombi, rumo à Toca do Lobo. O dia estava maravilhoso, limpo e sem chances aparente de chuva. A mandinga do Oteb havia dado certo, mais uma vez. Abastecemos-nos com 4 lts de água cada um, pois sabíamos que a próxima fonte de água seria apenas no Vale do Ruar, apenas na Quinta-feira. Ou seja; água para dois dias de caminhada. A minha mochila era a maior, pra variar, e parecia que pesava uns 30kgs com aquela carga adicional de água. 14/07/09, terça-feira, 8:15h - Abastecemos as garrafas na Toca do Lobo. Foram mais 4kg de carga em cada mochila. 14/07/09, terça-feira, 8:10h - Ainda na Toca do Lobo. Observe a esquerda da foto uma pequena gruta. Ela é bastante rasa, mas deu o nome ao local. Cruzamos o Riacho e começamos a subir por uma trilha pouco marcada, ao contrário do que havia lido nos relatos. Uma hora depois, a trilha abriu e a navegação ficou mais fácil. 14/07/09 , terça-feira, 9:01h - Após uma hora de caminhada, a vegetação começa a mudar sua característica para a forma tradicional de montanha. A essa altura do campeonato, nosso maravilhoso, fabuloso, fantástico e excepcional GPS, já estava me apresentando suas credenciais – margem de erro média de 10 metros, com céu claro. Imediatamente coloquei nosso “batedor” (Jackson) na vanguarda da coluna e segui logo atrás, navegando, ou melhor, tentando navegar com o nosso trombolhudo GPS (GARMIM LEGEND = NÃO COMPREM). Após o primeiro trecho, meio confuso, a trilha se apresentou até tranqüila, apesar da subida ser sempre constante. Os visuais não tardaram a aparecer e alguma hora depois estava no Quartzito a mais de 2.000m de altitude. 14/06/09 , terça-feira, 9:00h – Eu e Dinho rumo ao Quartzito. Seria um dia muito difícil para o meu amigo. Foi então que a S. Fina começou a se mostrar em todo o seu esplendor e magnitude. Caminhamos sobre a crista das montanhas, em um incessante descer e subir, com o Monte do Capim Amarelo Ameaçadoramente a nossa frente. 14/07/09, terça-feira, 10:44h – Foto tirada do quartzito. Grandiosidade que imagens não são suficientes para expressar. É preciso estar lá para sentir. A cada pequena descida, sucedia uma subida maior ainda e neste ritmo fomos ganhando altura, até que chegamos à base do Capim Amarelo. A essa altura do campeonato, o Dinho já estava “estragado” e se tivesse na Tropa de Elite, ele ia “pedir pra sair”. É sempre assim. No primeiro dia ele sempre demora a metabolizar e fica ruim. 14/07/09, terça-feira, 11:40h – A caminho do Capim Amarelo, o Dinho estava quebradão. Ruim de marrédessí. Por outro lado, o Alê disparou na frente, já que a trilha estava muito bem demarcada. Logo, ele havia sumido da nossa vista. O restante da turma ia bem e pra variar, os garotos (Jackson e Jorginho) estavam loucos pra seguir o Alê. Coisas da idade e da saúde em excesso. A subida do Capim Amarelo foi duríssima. 14/07/09, terça-feira, 13:46h – A caminho do Capim Amarelo. Um dos muitos trechos em que tivemos que utilizar as mãos para escalaminhar. O interessante é a diferença singular entre o PARNASO e a Mantiqueira. No PARNASO, após uma determinada altitude a vegetação passa a ser composta de capim de anta baixo, com pequenas áreas de vegetações maiores, entre uma montanha e outra. Já da Mantiqueira, a coisa é diferente. No meio de uma subida com uma vegetação tradicional de campo de altitude, a gente acaba se deparando, em plena subida, com uma mata bastante densa, de árvores altas, bem parecidas com aquela mata da subida da Pedra da Gávea, via Estrada das Canoas, próxima à Geladeira. Neste ponto, tivemos, eu, Jackson e Jorginho, que parar pra esperar o Dinho, que estava muito ruim lá atrás. O Rodrigo, que estava sobrando e cheio de gás, acompanhou o Alê e seguiu. Após a chegada do Dinho, descansamos um pouco e seguimos. Subida dura, com uso freqüente das mãos para vencer a vegetação densa e a lama escorregadia e constante. Quase caí. O Jackson, que estava atrás de mim, presenciou e levou um susto. Escorreguei em uma subida de mais de 70 graus de inclinação e me segurei com a mão esquerda em uma raiz. Esta manobra me custou uma luxação no ombro que iria me perturbar silenciosamente por toda a travessia. Logo após, encontramos os dois vanguardistas (Alê e Rodrigo) e descansamos um pouco mais. Energético, granola, água (sempre contida), papo, fotos e seguimos para o último esforço no intuito de vencer o Capim Amarelo. Após seis horas e meia de caminhada, chegamos ao cume do Capim Amarelo. Quando chegamos lá, o Alê já havia montado a sua barraca. O cara deu um gás inacreditável no final. Comemoramos muito, pois certamente havia sido o maior esforço de subida que eu havia feito nesses meus nove anos de montanhismo. O Alto do Capim Amarelo: A direita está o Quartzito e caminhando pela crista, lá no canto superior esquerdo, o Pico do Capim Amarelo, com o interminável sobe e desce até chegar ao seu cume. Fonte Wikpedia São 2.500m de altitude encravado na Serra da Mantiqueira. O seu cume é plano, coberto de capim de anta com dois metros de altura. No meio destes capins existem diversas clareiras excelentes para montar acampamento, tornando todo este capim do entorno, uma ótima proteção dos ventos cortantes do local. O visual é esplêndido e logo tratamos de montar nosso acampamento e preparar o almoço/jantar. 14/07/09, terça-feira, 14:58h – No alto do Capim Amarelo. Enfim, acampados e descansando. Logo depois chegaram o Guto e o seu cliente (André). A partir deste momento, o Guto nos “adotou” como caronas e se tornou fundamental para o sucesso de nossa expedição. Logo ele nos deu a primeira dica, que eu jamais havia lido em qualquer relato sobre a Serra Fina. Existe na Serra Fina uma praga de ratos silvestres: Pois é, podem acreditar: Todos os picos da Serra Fina, freqüentados por montanhistas, estão infestados de pequenos camundongos silvestres que chegam perto da gente, sem a menor cerimônia, assim que começamos a esquentar a comida. Eles já estão acostumados conosco e ficam aguardando a gente dar bobeira ou dormir, para assaltar nossos alimentos. O Guto recomendou que colocássemos os alimentos dentro de sacos plásticos e dentro da mochila fechada, para não exalar cheiro, pois eles são capazes de roer a barraca, roer a mochila e pegar a comida no meio da noite. A saída é deixar um “suborno”, ou seja, um pouco de comida, ou embalagens usadas a certa distância da barraca, para que eles se fartem de comer e nos deixem em paz. Assim eu fiz. Deixei uma lata de feijão suja a uns 5 metros da barraca e acordei várias vezes durante a noite com o barulho da bendita lata sendo revirada e, pela manhã, a mesma estava brilhando de lustrada e cheia de coco de rato. Que M.....!!! Depois disso, todas as noites foram um misto de cansaço, dor no corpo, torpor e alerta, para que os ratos não furassem minha preciosa barraquinha Manaslú, comprada com tanto sacrifício. A vítima dos ratos, no nosso grupo foi o André (o paulistano), que teve sua barraca furada por um desses “Jerris” famintos. Deixando os ratos de lado, e voltando para o Alto do Capim Amarelo, assistimos a um por do sol esplendoroso e um nascer do sol fantástico. 14/07/09, terça-feira, 16:21h – Visual do alto do Capim Amarelo. Observem no centro da foto, dentro daquilo que parece uma cratera, uma formação rochosa parecendo uma caveira. Chama-se Pedra da Caveira. A direita da foto há um pequeno ponto branco e brilhante que se destaca. Trata-se de destroços de um bimotor que se chocou com a montanha. Piloto e co-piloto morreram com a colisão. 14/07/09, terça-feira, 16:25h – Eu, Rodrigo e Dinho, contemplando a beleza do lugar. Recompensa merecida após um dia de muito esforço. 14/07/09, terça-feira, 18:07h – Jackson apreciando o belo por do Sol no Capim Amarelo. Segundo alguns relatos, o primeiro dia, até o Capim Amarelo, é o pior, com a subida mais exaustiva. Isso me confortava e eu coloquei esta observação para o grupo, principalmente para animar o Dinho, que já alimentava a idéia de voltar pela rota de fuga do Paiolinho. A verdade é que eu estava enganado, pois os desafios estavam apenas começando... 3º Dia – 15/07/2009 – Quarta-Feira – RUMO À PEDRA DA MINA Tomamos nosso café e partimos animados, por volta das 9:00h, em direção à Pedra da Mina; o 4º maior pico do Brasil ficando atrás apenas do Pico da Neblina, Monte Roraima e Pico da Bandeira. 15/07/09, quarta-feira, 8:53h - A caminho da Pedra da Mina. Turma reunida no Alto do Capim Amarelo, pronta pra partida. Da esquerda para a direita: Em pé: Alê, Jorginho, Rodrigo, André e Guto. Agachados: Eu (Alberto), Jackson e Dinho Ocorre que o acesso a Pedra da Mina é infinitamente mais difícil do que o Pico da Bandeira, conforme iríamos sentir na pele. Neste dia, fomos logo cedo apresentados ao famoso Capim de Anta de mais de dois metros e aos insuportáveis e quase intransponíveis bambuzais da Serra Fina. Foi uma sucessão infinita de desce e sobe, por um terreno que oferece aos amantes do Treking, uma variedade enorme de dificuldades, que coloca o PARNASO no nível de um parque de diversões. As 10:20h demos uma parada em um local descampado chamado Maracanã e o Guto pediu que aguardássemos ali. Ele sumiu no mapa e voltou, logo depois, com um punhado de mantimentos. É que os guias costumam ter os seus locais secretos, onde armazenam mantimentos para o caso de emergências. Isso me lembrou o Arones lá nas matas de Magé, com os seus depósitos secretos de mantimentos e tralhas. 15/07/09, quarta-feira, 10:22h – Este local é chamado de Maracanã. Ponto de repouso e ótimo lugar para acampar. Paramos por quinze minutos e seguimos. Voltamos logo para a trilha e logo caminhávamos entre touceiras de capim de anta, bambuzais, mata fechada e trepa pedras, quando de repente, a Serra Fina resolveu dar o ar da graça. Este lugar pode ser comparado a uma misteriosa e volúvel mulher: Por alguns momentos o explorador tem a sensação de estar caminhando nas nuvens, tamanha a sua beleza. Quando menos se espera, estamos embrenhados em uma floresta fechada ou quase escalando trechos completamente inesperados, pelo seu grau de dificuldade e beleza recompensadora. Em outros momentos, cruzamos extensos campos de capim de anta, que nos cobrem até a cabeça, nos massageando e arranhando ao mesmo tempo, como uma mulher repleta de volúpia e pronta a nos devorar até a nossa essência. Quando acreditamos que temos o domínio da situação, ela se revela, em toda a sua plenitude, aridez e crueza, nos dominando e subjugando, para provar que tem todo o domínio da situação e quem manda é ela. Foi assim que a Serra Fina se comportou neste dia... Paramos para lanchar as 11:00h e de repente o Guto nos aconselhou a colocar os agasalhos e, num piscar de olhos, as nuvens se aproximaram com uma velocidade espantosa, carregadas com um vento forte e agonizante, nos empurrando para o lado oposto do que caminhávamos. 15/07/09, quarta-feira, 11:08h – Nesta parada, o Guto nos preveniu para o tempo que iria virar dali em diante. Observem o “russo” subindo entre eu e o Guto (de camiseta preta). A neblina tomou conta de tudo e caminhar exigia um enorme esforço. As 14:00as, chegamos a uma pequena queda d’água chamada Cachoeira Vermelha. Não nos abastecemos, porque a água é intragável, pelo alto grau de minério de ferro na sua composição. Tiramos algumas fotos e seguimos. 15/07/09, quarta-feira, 14:04as – Parada em frente à Cachoeira Vermelha. Observem atrás de minha mochila uma pequena queda d’água. É ela! A água não é boa, pois tem muito minério em sua composição. Chegamos à base da Pedra da Mina e nos abastecemos, depois de mais de 36 horas do último abastecimento na Toca do Lobo. Valeu à pena, pois a água deste riacho é pura e cristalina. Fartamos-nos de beber e enchemos as nossas reservas, que já estavam em um nível crítico. Mais pesados, em virtude da carga de água, retomamos a subida e o ataque final ao Cume da Pedra da Mina. Não preciso dizer que a subida foi terrível. O vento açoitava as capas das mochilas, de forma que elas pareciam velas de navios. A neblina era densa e fria e nossas forças, cada vez menores. 15/07/09, quarta-feira, 15:16as – Último ataque à Pedra da Mina. Os totens de lá, são sempre amigos. Observem o tempo fechado. Pena que a foto não registrou a ventania. Finalmente, depois de mais de 8 horas de caminhada muito pesada, chegamos ao topo da Pedra da Mina, em meio a muita emoção, gritos de entusiasmo e euforia. Foi uma subida e chegada inesquecível. Tocar aquele marco com a indicação geodésica da Pedra da Mina foi um momento de muita emoção para todos nós. Assinamos o livro do cume e tiramos muitas fotos. 15/07/09, quarta-feira, 16:11as – A poucos metros do cume da Pedra da Mina. Momento de emoção e glória pessoal para todos. 15/07/09, quarta-feira, 16:16as – Emoção da chegada após três anos de planejamento. O Dinho tinha que estar comigo nessa. Valeu amigo! 15/07/09, quarta-feira, 16:16as – A emoção da garotada também foi grande. Grandes garotos! 15/07/09, quarta-feira, 16:16as – Marco geodésico do IBGE na Pedra da Mina. 15/07/09, quarta-feira, 16:22as – Jorginho assinando o Livro de Cume. Não reparem na meleca congelada, nem nos dentes imundos hehehe. Não preciso dizer, que dormir no cume seria impossível, em virtude do mal tempo e do pouco espaço para montar barraca. Só há um pequeno ponto abrigado e com espaço, onde só cabe uma barraca pequena. O restante do espaço é composto de terreno rochoso e irregular. Mais uma vez, por intervenção do Guto, descemos uns 10 minutos até um local chamado Cratera, onde o vento não batia e havia muitos pontos excelentes para se montar barracas. Acampamos, comemos e ficamos na expectativa de como o tempo iria se comportar, pois havia grande possibilidade de termos que retornar pelo Paiolinho, caso o tempo continuasse ruim. Por falar nisso, o nosso guia emprestado (Guto), iria retornar à Toca do Lobo, de qualquer forma, pelo Paiolinho no dia seguinte, pois já havia tratado com o André, em virtude de um compromisso com a sua filha no dia seguinte. Com isso, um grande dilema pairou sobre o grupo e fiquei com a responsabilidade de definir se seguiríamos ou não, no dia seguinte. A situação, ao final do dia era a seguinte: • O Dinho estava quebrado e estava pensando em retornar com o Guto pelo Paiolinho. • O Rodrigo queria seguir de qualquer jeito, mesmo caindo tempestade. • O Alê estava cauteloso, porém, queria seguir. • O André queria seguir conosco, mas estava muito preocupado, já que não nos conhecia bem e duvidava da nossa capacidade de navegação. • Os garotos – Jackson e Jorginho – estavam sobrando no grupo e queriam é mais. • O Guto voltaria de qualquer maneira pelo Paiolinho. • Eu estava: o Quebrado e cansado, com uma puta distensão no ombro e uma dor insuportável. o Com um GPS que não funcionava bem, nem com tempo bom. O que não dizer com tempo fechado. o Às vésperas de encarar o pior trecho de navegação da travessia (Vale do Ruar). Sem GPS, sem guia e com um monte de malucos comigo. o Desapontado, com a possibilidade de ter que abortar esta travessia, planejada durante três anos e sem nenhuma vontade de retornar, em caso de fracasso. Só nos restava orar e esperar o amanhecer. No meio da noite, veio a boa notícia. O Dinho acordou para ir ao banheiro e ficou comemorando, pois o céu estava limpo e estrelado, anunciando um lindo dia. Aquilo me animou e nem saí da barraca para ver, pois naquele momento, tive a certeza de que iríamos concluir a travessia da Serra Fina. Dormi que nem uma pedra! 4º Dia – 16/07/2009 – Quinta-Feira – RUMO AO PICO DOS TRÊS ESTADOS ENFRENTANDO O TEMIDO VALE DO RUAR Acordamos cedo e muito felizes, pois o dia estava favorável. O sol voltou a brilhar e os ânimos se acenderam. Dinho estava recuperado, otimista e pronto para seguir. Eu estava melhor, em virtude da virada positiva do tempo. O restante da rapaziada estava afiando os cascos e prontos para seguir. Subimos pra ver o nascer do sol e ficamos eufóricos com o visual e o tempo bom. Tiramos muitas fotos e descemos para a cratera, a fim de levantar acampamento. 16/07/09, quinta-feira, 7:10h – Amanhecer no topo da Pedra da Mina. Enfim, tempo bom de novo 16/07/09, quinta-feira, 7:12h – Comemoração e euforia, celebrando o novo dia que chegou Lanchamos, colocamos o equipamento para secar, levantamos acampamento e nos despedimos do Guto, que estava retornando pelo Paiolinho, conforme previsto. 16/07/09, quinta-feira, 7:34h – A cratera da Pedra da Mina. Ótimo ponto de camping, protegido das intempéries do topo e com o chão macio e plano 16/07/09, quinta-feira, 9:06h – Eu e Rodrigo nos despedindo do Guto, que iria retornar pelo Paiolinho, em virtude de um compromisso familiar. Agora era por nossa conta e risco apenas Agora era por nossa conta e risco. Embora o Guto tivesse passado dicas preciosas do caminho a seguir, nos apontando a rota, do cume da Pedra da Mina, a apreensão era visível, já que sabíamos que não poderíamos mais contar com o GPS, principalmente, se o tempo resolvesse virar. Mas não havia retorno para nós e resolvemos seguir. O Guto havia nos instruído a descer por 40 minutos pela pedra e, ao Chegar ao Vale do Ruar, deveríamos encarar a “floresta de Capim de Anta”, sem trilha, procurando a direção de um cânion que ficava entre duas montanhas. Ao achar um córrego, deveríamos pulá-lo e segui-lo, mantendo-o a nossa esquerda, até que o Vale começasse a fechar entre duas montanhas. Daí então, deveríamos quebrar 90º à direita e procurar um único Tóten localizado no cume de uma montanha próxima. Achado o Tóten, deveríamos seguir ziguezagueando o capim de anta, já que é impossível encará-lo de frente, até o tal Tóten, que nos indicaria a saída do Vale do Ruar. A teoria parecia fácil, mas, pra variar, se mostrou muito diferente na prática. Partimos as 9:15h, com uma hora de atraso. Porém, era preciso, pois necessitávamos secar o equipamento. A descida até o vale do Ruar foi previsível. Bastante íngreme, porém, sem maiores dificuldades. Logo estávamos de frente a uma imensa floresta de capim de anta com mais de 2m de altura e quase sem trilha. Logo achamos o córrego e tratamos de pulá-lo, conforme instrução do Guto. 16/07/09, quinta-feira, 10:52h – Guto se preparando para decolar e pular o córrego no Vale do Ruar Daí em diante, nossos problemas começaram, pois, de repente, a trilha que já era ruim, desapareceu e perdemos a referência do Rio. Neste ponto o grupo se dividiu, pois o GPS marcava o caminho pela direita, subindo diretamente por um morro com o capim de anta muito fechado. O Rodrigo insistia que deveríamos quebrar para a esquerda e procurar o rio, conforme indicação do Guto, mas eu, em um ataque de liderança desenfreada, achei que deveríamos seguir as instruções do maldito GPS. Ainda vinha em minha cabeça a experiência na Serra dos Órgãos a dois anos atrás, quando não confiamos no GPS e acabamos tendo que descer uma ribanceira de pedra, que quase nos levou a um acidente. Eu estava errado, pois o caminho por mim escolhido era impossível de seguir, além de nos levar, caso insistíssemos a ficar sem água e fora da rota. Parei, refleti, dei razão ao Rodrigo, que a essa altura já estava puto e me chamando de teimoso, com razão, por sinal e propus ao grupo, se dividir em dois. Enquanto fiquei parado no local, mais elevado, com parte do grupo, o Rodrigo seguiu com o Dinho e o André em busca do Riacho. Não demorou e eles nos comunicaram pelo rádio que haviam achado o caminho e seguimos felizes até eles, enfrentando o capim de anta pelos peitos Seguimos flanqueando o córrego pela nossa esquerda até que a cânion se fechou. 16/07/09, quinta-feira, 11:22h – Último ponto de água da travessia. Fica no Vale do Ruar. A água mais pura que já bebi em minha vida. Água agora, só no final da travessia Abastecemos-nos de água. E quebramos para a direita a procura do tóten em cima do morro. Mas qual morro? A neblina, de repente, tomou conta do Vale e mais uma vez não se via nada! E agora? Não preciso dizer que o GPS não marcava nada, com sua margem de erro média nunca menor do que 25 metros. Saímos peitando aquele insuportável e quase intransponível capinzal, procurando subir o morro, completamente sem referência. Cabe aqui, abrir mais um parágrafo para falar sobre o Jackson. São nas horas difíceis que os heróis se apresentam e desta vez não foi diferente. Antes de iniciarmos o dia, havíamos traçado uma estratégia para enfrentar o Vale do Ruar. Como o terreno prometia ser muito difícil, sem trilhas e com muitos buracos, com poças escondidas de até dois metros de profundidade, conforme os relatos lidos e confirmados pelo Guto, acertei com o Jackson, que, como eu teria que navegar (ou tentar) pelo GPS, não poderia olhar a trilha. Assim ele iria um metro na minha frente, de olho no chão, enquanto eu ficava com os olhos grudados no GPS instruindo a sua direção. Esta fórmula deu certo, parcialmente, já que o GPS não ajudou muito, ou quase nada. O fato é que o Jackson enfrentou toda a situação como um adulto e liderou o grupo por todo o Vale do Ruar. Quando chegamos ao cânion e a situação piorou, o garoto encarou o capim de anta pela frente, liderando o grupo, até que, numa “janela” na neblina o André visualizou o Tóten e a coisa ficou melhor, pois daí em diante, teríamos um farol para nos indicar a saída daquele lugar. Saímos! Foi muito duro, exatamente como todos os relatos nos indicaram, Muito difícil e sofrido este trecho do Vale do Ruar. Paramos ao lado do desejado, maravilhoso e amigo Tóten e descansamos. Foi então que o Jackson mostrou a extensão de seu sofrimento, dignidade e valentia, pois suas mãos estavam todas cortadas e sangrando, em virtude de sua luta com aquele capinzal. 16/07/09, quinta-feira, 12:15h – Esse garoto é um Leão. Liderou a travessia do Vale do Ruar e terminou com as mãos inchadas e com sangue. Observem a expressão de seu semblante. Grande garoto! 16/07/09, quinta-feira, 12:15h – Final da travessia do Vale do Ruar. Embora não pareça, esta foto foi tirada de cima do morro logo após o Vale do Ruar. Observem o Tóten por cima da mochila do Jorginho e lá embaixo, toda a imensidão do temido Vale do Ruar, atrás do Rodrigo,com sua floresta de Capim de Anta. Embora pareça um gramado, o Rodrigo está na beirada do morro e aquela visão atrás dele está a uns 20 ou 30 metros para baixo Outro parágrafo importante que preciso abrir é para falar sobre a maior dificuldade que encontrei e vocês observarão a seguir. A falta de água. Em toda a travessia da Serra Fina existem quatro pontos de abastecimento, sendo que apenas dois estão no meio do caminho e muito próximos um do outro. São eles: 1. Toca do Lobo, no início da trilha; 2. Base da Pedra da Mina, só no final do segundo dia; 3. Base oposta da Pedra da Mina, no Vale do Ruar, ou seja, muito perto do ponto anterior. O que causa uma falsa sensação ao montanhista, que não precisará de muita água para o restante da travessia. Este foi o meu maior erro! 4. No final do quarto dia, já próximo ao Sítio do Pierre. Como vocês podem observar, na prática, são apenas dois pontos de reabastecimento muito próximos um do outro. Durante estes dias, o montanhista sofre muito com a escassez de água, já que as subidas são inúmeras e a necessidade de água é muito grande. Como não podemos atender a esta necessidade, o corpo sofre com a desidratação e o rim começa a reclamar. A urina fica muito amarela, viscosa e com um odor muito forte. Nos relatos lidos por mim, recomendava-se que nos abastecêssemos a cada vez, com quatro litros de água, mas a experiência mostrou-me, que, ao menos para mim, que o ideal seriam seis litros por vez. Acreditem. O esforço em carregar um excesso de peso será muito recompensado no final. Durante o abastecimento no Vale do Ruar, subestimei minhas necessidades e me abasteci apenas com 3 litros de água. Foi um grande erro, que me faria sofrer no dia seguinte. Após o Vale do Ruar, descansamos um pouco e seguimos por um interminável sobe e desce de montanhas. Eram tantas que o GPS marcava pico um, pico2, pico3, etc. Durante este trecho nos deparamos com um grupo de “montanhistas” que vinham em sentido oposto. Parecia ser um grupo muito heterogêneo, com alguns casais e composto por pessoas bastante jovens. Eles pareciam estar meio perdidos e o seu “líder” nos informou que haviam pernoitado no Pico dos Três Estados e pretendiam pernoitar naquele dia na Pedra da Mina e descer pelo Paiolinho no dia seguinte. Aquilo me preocupou, pois já era tarde e eles não tinham referência, apenas um GPS, sem os tracklogs marcados, ou seja, o mesmo que um relógio sem ponteiros. Estavam perdidos e não sabiam que ainda enfrentariam o Vale do Ruar em pleno cair de tarde no meio da neblina. Não deve ser nada agradável dormir no Vale do Ruar, pois dizem que é o ponto mais frio e certamente úmido da Serra Fina. O André, pacientemente deu algumas dicas e seguimos o nosso caminho. Daí em diante, encaramos um sobe e desce interminável e, quando o tempo permitia, altos visuais das Agulhas Negras. Até que as 14:00h demos uma parada para o lanche. 16/07/09, quinta-feira, 14:11h – A caminho dos Três Estados, demos uma breve parada para descanso. Já estávamos muito cansados 16/07/09, quinta-feira, 14:12h – Companheiros inseparáveis. Minas botas e chapéu Embora este dia seja muito sofrido, em decorrência do esforço, valeu muito à pena, pois os visuais e a sensação de caminhar sempre pela crista das montanhas causam um sentimento de liberdade imenso. 16/07/09, quinta-feira, 14:57h – A caminho dos Três Estados. Caminhando sempre pela crista e seguindo o sol 16/07/09, quinta-feira, 15:00h – Rodrigo, sempre sorridente e com disposição de sobra 16/07/09, quinta-feira, 15:02h – Finalmente eles sentaram. Não se cansam estes dois 16/07/09, quinta-feira, 15:19h – A bromélia e a montanha no caminho até os Três Estados, com o André ao fundo. Mais uma descida com um “morrinho” à frente para ser vencido 16/07/09, quinta-feira, 15:25h. Observem que na foto anterior, estávamos em um campo de altitude, descendo uma encosta. Seis minutos após, já estávamos encarando este bambuzal. Este é o encanto da Serra Fina. Terreno completamente imprevisível 16/07/09, quinta-feira, 16:01h – Apenas 36 minutos após a foto anterior, já estamos de volta à crista da Serra Fina, contemplando o maravilhoso visual das Agulhas Negras e Prateleiras ao fundo 16/07/09, quinta-feira, 16:22h – Rodrigo maravilhado com o visual chegando a mais uma crista Por volta das 17:30as chegamos finalmente no Pico dos Três Estados. Cansados e felizes por ser o último pernoite na montanha. Montamos o acampamento e fomos logo comer, pois estávamos todos muito extenuados. O interessante nos Três Estados, é que lá, os ratinhos são mais abusados. Eles não esperam a gente dormir para atacar. Enquanto preparávamos a refeição, eles já iam chegando sorrateiramente para pegar o suborno deles. A topografia do Pico dos três Estados, é muito parecida com o do Capim Amarelo. Capim de Anta alto com clareiras protegidas do vento. Muito legal e com um solo confortável e plano. A noite nos Três Estados não foi muito agradável. Não sei se foi pela ansiedade da última noite, se foi o receio dos terríveis ratinhos, ou se foi a sede interminável que me forçava a dar pequenos goles durante a noite, a fim de poupar água. O que sei é que não dormi quase nada. Fato curioso é que em dado momento da madrugada, acordei para fazer o número um. Como estava muito frio, resovi depositar o líquido em uma de minhas garrafas que já estavam vazias. Até aí tudo bem. Até que eu vi o resultado na manhã seguinte... 5º Dia – 17/07/2009 – Sexta-Feira – ULTIMO DIA. QUEM DISSE QUE IRIA SER FÁCIL? Acordamos ainda em tempo de ver o nascer do sol. Posso lhes assegurar que é muito difícil escolher a melhor vista da Serra Fina, pois em todos os picos que pernoitamos, o visual era alucinante. 17/07/09, sexta-feira, 7:07as – Lê, eu e Dinho curtindo o nascer do Sol no Pico dos Três Estados. Quase ninguém conseguiu dormir direito naquela noite, apesar do tempo ter colaborado e o terreno ser bem plano e macio. Em determinado momento, o Dinho foi a minha barraca pegar alguma coisa e me perguntou se eu havia feito suco. Quando olhei, e a minha garrafa de xixi, que para meu espanto tinha uma urina com um aspecto viscoso e com cor de mostarda. Fiquei assustado, pois tinha certeza de que aquilo era fruto de quatro dias de racionamento e meus rins já estavam dando sinais de que não iam muito bem. Vocês se lembram que eu havia me reabastecido com apenas três litros de água no dia anterior? Pois é. Agora só me restava um litro de água para um dia inteiro de caminhada. Coloquei-a no meu Camelback e preparei meu equipamento para a partida. 17/07/09, sexta-feira, 8:13as – Levantando acampamento no Pico dos Três Estados para o último dia de caminhada. Observem a ventania, apesar do céu azul. Isso voando é o toldo da minha barraca. Partimos dos Três Estados por volta das 8:30as e seguimos em direção ao Alto dos Ivos. Teoricamente, pelos relatos anteriores, este dia seria o mais tranqüilo de todos, pois O Ivos seria o último grande pico da travessia e após ele, teríamos só descida e a volta pra casa. MENTIRA !!! Some-se o cansaço de três dias de caminhada extenuante aliado a um racionamento severo de água, o que proporciona um mal funcionamento generalizado do organismo, além de maximizar a fadiga muscular. Some tudo isso, com o desejo enorme de concluir o desafio. Nesta conjuntura, o quarto dia, pelo menos para mim, pareceu ser o mais duro de todos. Iniciamos com uma série de descidas e subidas constantes, em direção ao Ivos, com um terreno completamente inóspito. Descidas enormes variando entre pedras, lama, capim de anta e bambuzais. Chegamos à base do Ivos e encaramos uma subida super-hiper pesada e chegamos ao seu cume por volta das 12:00as. A esta altura do campeonato, minha água havia acabado e ainda nos restavam quase cinco horas de caminhada. 17/07/09, sexta-feira, 11:10as – A caminho do Alto dos Ivos. A saída é por aí... 17/07/09, sexta-feira, 12:38as – Descendo o Alto dos Ivos. Teríamos ainda mais quatro horas de caminhada pela frente. Após chegarmos ao Alto dos Ivos, encaramos uma descida muito difícil e somando-se à falta d'água, que já estava me causando uma desidratação terrível, não fui capaz de fazer mais nenhum registro visual, dado o meu estado de debilidade. Se arrependimento matasse, eu ficaria por lá, mortinho da silva, pois foi justamente aquele único litro de água que eu não abasteci lá no Ruar, que estavam fazendo toda a diferença. Foi uma pena eu não ter conseguido tirar mais fotos, pois neste ponto do trecho, encaramos os piores bambuzais da travessia. Aqueles que o pessoal diz nos relatos que o montanhista tem que tirar a mochila e rastejar. Para nossa surpresa, a trilha, neste ponto já está bem batida e, com o passar dos montanhistas, não foi preciso rastejar para vencer o bambuzal, porém a dificuldade foi imensa, pois tínhamos que nos contorcer e agachar a todo o momento para passar por aqueles terríveis bambus que se entrecruzavam como uma teia de aranha em nosso caminho. Imagine fazer contorcionismo e se agachar depois de quatro dias na montanha, sem água e com mais de 20kg nas costas. A impressão que me dava a todo o momento é que a Serra Fina não queria nos deixar, pois foram muitas as vezes em que, após vencer um obstáculo de bambu, eu me via jogado pra traz por um bambuzinho agarrado à minha mochila, causando aquele efeito do elástico que me jogava para traz como quem diz: “Volta seu corno. Volta que daqui você não sai!”. Agora vou abrir o último parágrafo deste “breve” rsssss relato para falar da amizade e da solidariedade: As últimas quatro horas da travessia para mim, foram terríveis, principalmente pela falta de água, que me causou uma desidratação que tirou minhas forças neste trecho. Eu ia na coluna atrás do Alê, olhando uma garrafinha de Gatorade que ele havia deixado do lado de fora da sua mochila, com uns 300ml de água. Provavelmente era a última água dele. De vez em quando ele sacava daquela garrafinha, caminhando sem parar, e dava aquele precioso golinho. Aquela visão me dava um desespero terrível e a minha boca parecia que estava cheia de areia. Automaticamente, ao ver aquela cena que se deu repetidas vezes, me dava uma vertigem danada e a vontade era de sentar e ficar por ali mesmo, até que o carro pipa chegasse. Como o carro pipa não iria chegar mesmo, eu seguia em frente, com a boca cheia de areia mesmo. O Dinho que vinha atrás de mim, notou a minha dificuldade, pois eu não havia falado pra ninguém que a minha água havia acabado, já que o erro havia sido meu em não me abastecer com os quatro litros mínimos de água lá no Ruar. Por isso, eu achava que deveria me punir por isso e não espalhar pra turma. Mas, amigos se conhecem e aquilo não passou despercebido pelo Dinho. Foi aí que ele, também com pouca água, ficou insistindo para que eu bebesse a água dele, falando: _ Você ta querendo dar uma de herói cara. _ Herói morto não tem valor. _Bebe essa água logo. _etc, etc, etc. Pois bem; fiz uso da sua água por três preciosas ocasiões, dando um total de seis goles, que foram a minha salvação. Não fosse isso, teria problemas ainda maiores. Valeu Dinho. Você é irmão. De repente e lentamente, a trilha começou a abrir e a vegetação a ficar mais densa, transformando-se gradativamente em uma estradinha apertada e com uma matinha rala, cercada por uma vegetação mais densa. Encontramos logo uma pequena nascente, e não consigo dizer que nos esbaldamos de tanto beber água. Meus rins, se tivessem boca, estariam gargalhando naquele momento. Bebi muuuuita água. Além disso, enchi meu camelback com mais dois litros e termine todo o trecho com aquela mangueirinha conectada à minha boca bebendo e me hidratando. Renasci! Agora eu estava pronto pra fazer a Travessia pelo caminho oposto. Brincadeirinha hehehe. Chegamos finalmente ao Sítio do Pierre. Super bonito, porém abandonado. Parece que aquilo já foi uma pousada, porque tem quadra, uma série de construções e uma piscina seca. Tudo abandonado. Que desperdício. 17/07/09, sexta-feira, 16:00as – Acabamos de chegar ao Sítio do Pierre. Observem que a trilha termina naquele mourão à direita da foto. 17/07/09, sexta-feira, 16:02as – Descendo pela estrada que nos levará à Garganta do Registro. Ainda estamos no Sítio do Pierre e são mais 3,5km de caminhada. 17/07/09, sexta-feira, 16:20as – A caminho de casa. Aquela Pedra ao Fundo chama-se Pedra do Tucum e foi nosso farol desde o Alto dos Ivos. O Guto disse que este Toten natural, serviu de farol aos primeiros viajantes no período colonial. Ao chegarmos à porteira do Sítio do Pierre, único local aonde vimos sinal de humanos, havia uma casinha pequena parecendo-se a casa dos caseiros. Lá havia duas crianças bonitinhas que nos receberam com um largo sorriso perguntando se gostaríamos de tirar uma foto deles. Tiramos a foto, e para nossa surpresa, o garotinho (era um casal) foi na direção do Alê pedindo o pagamento pela foto, que foi prontamente atendido com um saquinho de amendoim. É mole? Mercantilismo na Serra Fina. Eles eram profissionais e queriam nos explorar. O moleque estava cobrando pedágio. Hehehe 17/07/09, sexta-feira, 16:48as – Na porteira do Sítio do Pierre encontramos estas duas gracinhas que queriam nos cobrar por esta foto. 17/07/09, sexta-feira, 16:55as – Alegria, alegria. Acabamos de encontrar o nosso resgate na Garganta do Registro. O Celso (nosso motorista) já estava nos esperando desde as 15:00as, com aquela paciência de mineirinho. Forrou um paninho na grama e deu aquele cochilo até a nossa chegada. 17/07/09, sexta-feira, 16:59as – Fim de uma aventura inesquecível que deixará saudades. Eu e meu amigo e irmão Dinho, nos preparando para entrar na Kombi. 17/07/09, sexta-feira, 21:59as – Comemoração merecida, regada a pizza e vinho no Hotel Serra Azul. Vitória e muita história para contar. Depois foi só comemorar, com um demorado banho quente, um Prato Feito caprichado na Pensão da Filó em Passa Quatro e pizza e vinho com um bom bate papo a noite no Hotel Serra Azul. O dia seguinte foi todo reservado para o retorno cansativo pra casa. É isso amigos. Espero que este “breve” relato atenda a expectativa do pessoal que teve a paciência de esperar por exatos 30 dias para que eu tivesse tempo de escrevê-lo. Agradeço a Deus por ter nos protegido durante toda a excursão, permitindo que a semana transcorresse na maior harmonia e segurança, sem que ninguém sofresse nenhuma lesão grave, pois foram muitas as possibilidades de acidentes na Serra. Agradeço a minha esposa e minhas filhas que tiveram a paciência de me esperar por seis dias em casa, sem saber se eu estava bem e tocando a rotina doméstica enquanto eu estava aproveitando a natureza.Não vou me esquecer disso e darei a compensação assim que for possível Agradeço aos meus amigos que me acompanharam nesta excursão, pela solidariedade, companheirismo e principalmente paciência, durante os meus rompantes de síndrome da “chefite” aguda. Em alguns momentos eu passo dos limites. Mas peço que vocês mais novos relevem este meu excesso. É tudo levado pela preocupação com a segurança de vocês. Coisas de velho mesmo. Agradeço aos amigos Camelos de Mochila, que não foram conosco, mas ficaram aqui torcendo muito pelo nosso sucesso. Mesmo que por interesse, pois assim poderemos guiá-los com segurança no ano que vem. Não é Oteb? Kkkkkkkkkkk Um agradecimento especial ao Fábio (Muito Doido). Amigo sincero das horas difíceis, por sua dedicação e companheirismo. Sempre pronto a ajudar e me resgatar na rodoviária, depois de uma semana intensa nas montanhas. Para finalizar este “Brrrrrrrrrrreeeeeve” relato, gostaria de transcrever duas mensagens para meus queridos e pacientes leitores amigos, extraídos do livro Deus Contigo de Cesar Braga Said: “Valorize suas amizades oferecendo aos amigos o calor da sua presença. Visite-os quando possível, telefone, escreva uma carta, mande um recado, demonstrando o quanto você se importa com eles. Não espere pelas ocasiões especiais para externar o seu carinho. Torne especiais e únicos todos os momentos ao lado deles. Abrace ainda hoje alguém e deixe transparecer toda a alegria de estar ao lado dessa pessoa.” “Solte o pássaro da alegria que está engaiolado em seu peito, privado da alegria de cantar e de voar. Descubra o mar profundo do seu coração, onde se escondem tesouros capazes de torná-lo muito feliz. Vislumbre o céu azul que existe em sua consciência, sem que você já o tenha divisado. Trabalhe as dimensões do seu ser que ainda não foram despertadas. Encontre prazer em desvendar seu mundo íntimo. Ilumine seu rosto com um sorriso e, clareando os caminhos com a sua própria luz, contagie os que se acercarem de você com a sua alegria de viver” Abraços Fraternos. Alberto Monte
  24. Olá caros mochileiros . Vou fazer um relato despretencioso( não me considero um montanhista experiente para tal ) e pretensamente engraçado da minha empreitada na SF . Desde a ideia uterina , aqui no site ,ate o nascimento da criança , de cesarea e sem anestesia ... mas no final , filho é filho e todos ficam felizes !! Vamos por partes como diria Jack ... Me associei ao site aqui , tudo blz . Vi os relatos da SF e pensei : essa é cascuda , vou encarar ! Comecei a pesquisar , ler relatos , ver fotos e vídeos . E a vontade crescendo como tinha que ser ... Me assustava muito os relatos de frio , pois sou friorento . Mas a galera aqui do site me ajudou nas duvidas e arruma um saco melhor daqui , compra um underware mais poderoso dali e assim fui montando o enxoval da criança . Ia sozinho mesmo , pois meus dois camaradas de trilhas Eriberto Almeida , "Betão " ( fotografo amador com nivel de profissa ) e Danny Vills ( ex guia de montanha ) , não tinham como confirmar no periodo das minhas ferias ( julho ) . Um dia Betão me liga e diz que conseguiu marcar as ferias pra segunda quinzena de julho pra coincidir com a lua cheia e que tava dentro . Fechou ! Só o clima poderia atrapalhar . Danny ficou pegado com o trabalho . Contatei o rodrigovsouza que tem um site bem explicativo da SF e fechei o pacote . Só com guiada , o resto por nossa conta . Monitorava o clima e na semana de véspera a maior chuva e frio no sudeste , mas a boa noticia é que um sistema de baixa pressão no sul iria segurar o frio e teríamos uma semana quente e seca na região . Deus abençoou com o clima e foi show . Partimos na segunda dia 12 para passa quatro MG , base da trip . Típica cidadezinha mineira ,pequena e simpática . Lá conhecemos o Will que seria nosso guia in loco , numa parceria sinergética da Will Guiadas Montanhosas LTDA com a Rodrigo’s Mountain Interprise Services Inc. Fomos dormir e ai começaram os pequenos detalhes, que fazem uma diferença no todo ... to acostumado com colchão duro e peguei um macião , maior q o estrado , que ficou torto , ainda não me agasalhei direito ( faz um frio do carai... em pss4) e acordei as duas da matina pela insônia q tenho tido e pela adrenalina . Moral da estória : praticamente não dormi , acordei com o nariz entupido só respirando pela boca e com uma dor nas costas atroz que doía muito paralelo a coluna dos 2 lados . Doia muito qdo eu respirava fundo , mas muita coisa . Lembrei até daquela piada : só dói qdo eu respiro doutor ... e fundo !! Fiquei preocupado qdo colocasse a cargueira cheia no lombo , mas como disse o filósofo frances "Chuck Nietzche Norris " : render se nunca , retroceder jamééééé!!!!! E o motor 4.1, V6 ,turbo , totalflex,forjado em 69 , pode ate ratear mas ate hj nunca parou . Apesar das retíficas , troca de peças por mau uso e gambiarras , devo confessar ... Mas , voltemos a vaca fria e a ação ! Passou a kombi do Ze do posto ( figura hilária, um às no volante , com trocadilho por fvr . A cena dele se contorcendo com o braço esquerdo como um iogue pra pegar o saco de biscoito por cima da orelha direita , enquanto com a outra mao fazia a curva na estrada , fez me arrepender de não ter contratado mais um seguro de vida ) , conhecemos o resto da equipe : Alexandre ( Lorena ) , Augusto ( Cruzeiro ) , Roberto ( RJ) , Eu (RJ ) , Betão (RJ) e Will (guia, Itamonte ) .Os seis cavaleiros do apocalipse , pq depois da fome, sempre tem a vontade de comer ... Pareceu um grupo forte e homogêneo . O que se comprovaria no decorrer . A Kombi não sobe até lá em cima . Tivemos q ir andando após uma parte. Chegamos na toca do lobo , onde propriamente começa a travessia . Neste primeiro dia é praticamente só de subida , se ganha 1.000 metros . Aqui a SF já mostra seu cartão de visitas . É uma travessia de muito contato( galhos, capim elefante e bambuzinhos ) e MT subida . Paramos pra pegar água e eu como transpiro muito e bebo mt água , carreguei logo com 6,5 litros . Isso somado a uma super esquilo 2, um saco de -4 , comidas e roupas superestimadas e uma cargueira montanha 75 com tecnologia na barrigueira da época que o mar morto ainda tava vivo , ficou parecendo uma tonelada . E tome subida ! Do inicio pro meio Betão começou a passar mal , pois estava com inicio de gripe e com a capacidade pulmonar reduzida . Paramos umas duas vezes pra ele tomar ar .Estranhei , pois já fizemos outras pesadas como a petro terê sem problemas , e ele é um cara tenaz e extremamente forte . Mas Tb tava bem pesado , levando o case da DSLR , lentes poderosas , baterias sobressalentes e um tripé profissa . Will comentou que é normal no primeiro dia pessoas passarem mal , seja pelo esforço ou pelo consumo excessivo de água no ultimo PT vc deve beber tudo o q puder sem se empanturrar , senão com o esforço a probabilidade de vomitar fica alta . Ele calcula que uns 20 % desistem nos dois primeiros dias e o resgate agora , só na pedra da mina , pela rota de fuga do paiolinn . Nota triste foi que um Zé Arruela ou Péla Saco( podem adaptar a nomenclatura à região ) que foi usar combustível liquido , deu mole no manuseio e tacou fogo em toda a área à esquerda do caminho dos anjos . Tava tão feio e triste que nenhum de nós teve vontade de fazer uma das fotos mais clássicas da travessia: a trilha de terra batida por cima das cumeeiras . Alias , o nome serra fina vem daí , de que grd parte dela vc faz pela crista das montanhas , vendo lindos visuais dos dois lados . Depois de passar por lá , cruzamos com dois caras descendo do Capim Amarelo , pois estavam fazendo um bate e volta de lá . Dali pra frente é só trilha em pé . Tem uma parte um pouco antes do ataque final ,em pé , que é bem exposta do lado direito , sem vegetação nenhuma , só pedras baixas e uma linda floresta lááááááááá no fundo , uns 200 mts abaixo .Se tiver vertigem , nem olhe ... Chegamos no cume . Capim alto e poucos pontos de barracas . Estavamos sós . Nos instalamos e vimos um lindo por de sol e nascer da lua cheia e um céu todo estrelado . É um dia bem pesado , pois teu corpo ainda ta acostumando ao peso e ao esforço e o ganho de altitude é enorme . Ali a montanha já manda seu recado .Dormi um pouco melhor pq tava exaurido e com défict de sono da noite anterior , foi minha melhor noite ,devo ter dormido umas 4 hrs . Segundo o termômetro do Augusto ( nosso companheiro hi tech , tinha equipo do bom e do melhor com excelente relação peso –beneficio ) fez 3 º C . Demoramos um pc mais pra desarmar o acampamento e saímos umas 8:30 , foi um vacilo , pois é o dia que se caminha mais e com dois ataques bem fortes , alem de que chegar mais cedo na Mina é garantia de pegar um bom PT de camping e ver um visual incrível de quase 180 º em todas as direções .Voltamos pra trilha, lá de cima se vê o rio vermelho onde pegaremos água de novo . Agua quase congelante , dói os dedos só de abastecer a pet de 2,5 . Depois disto tem um ataque a um pico antes da mina , com um visual lindo , por um lageado de pedras . Muito show . Após um longo ataque chegamos a Mina ! Eu estava me sentindo bem , apesar do esforço , o sono restaurou a energia .Betão e Augusto sofreram nesta subida . Quase chegando fomos ultrapassados por um grupo de três caras . Acho que Tiago Ferrer de itamonte , Junior de Itajubá e um terceiro q não lembro o nome e procedência . Galera legal , que já conhecia a trilha e estava mais relax . Nos passaram , trocaram uma idéia e seguiram pra acampar no Ruah . Ufa ,ainda bem !!! Pois pegamos um dos poucos pts de camping q sobrou , já em cima de pedras . Dormi mal, umas duas hrs no total , por isto e pelo vento que é mt forte a noite toda . O sobreteto sacode “ di cum força “ e a friaca marcou 2º mas com sensação térmica de menos .A bolsa do tripé ficou na varandinha e amanheceu com uma crosta de gelo .O visual da mina é incrível , vc vê a lua cheia nascendo com o céu todo estrelado de um lado e vira a cabeça em 180º e ve um por do sol bola de fogo alaranjado do outro .Espetacular . Idem no alvorecer . Incrivel a amplidão , até onde a vista alcança pela altura de quase 2800 mts , onde se ve várias cidades de MG e SP , alem de Resende no RJ .Quarto maior pico do Brasil e primeiro no Sudeste . Fizemos as fotos de praxe na marcação da mina e assinamos o livro . Qdo chegamos na mina , Betão veio nos comunicar que iria desistir , pois estava muito debilitado e sofrendo com o peso excessivo e o desgaste .Que acionaria o resgate via paiolinn .Esperei ficar a sós com ele na barraca pra dar aquela força e sentir se ele tinha condições ou não . Afinal já são varias montanhas e já conheço o gado . Argumentei que ele descer pelo paiolinn seria outra porrada de umas 5 hrs e uma pela outra ele encarava com nossa ajuda e o quarto dia q faltava , ia na marra mesmo . Ficou pensativo pois não queria sobrecarregar ninguém , eu pilhando ele falando q éramos uma equipe , neste momento chega o Will com o msm discurso que eu , e com sua psicologia de guia . Acordamos q Will levaria o tripé e eu mais água pra aliviar o Betão . Ele concordou . Foi ótimo , pois eu abortaria com ele . É meu brother de trilha e amigo de longa data . Entramos juntos e sairíamos juntos em qq situação .Se não desse ,voltaríamos em outra oportunidade .Mas sabíamos que com sol , lua cheia , céu estrelado e sem chuva era uma dádiva q tínhamos q aproveitar . Isso mexeu com os brios nordestinos do Betão . E o nordestino é antes de tudo um forte !! Se bem que aquela rapadura com farinha no sangue dele já está muito misturada com produtos de malhação ... Ah e tem outra coisa , garanto q se chamássemos o grupo e propusessemos de cada um levar uma parte resolveriamos sem problemas . O Will ,totalmente adaptado , bicho solto de trilha com uma Deuter 70 mais 15 com uma barrigueira q parece um sofá , Roberto com sangue nos olhos pra completar a trilha pois já tinha desistido antes por um amigo ter passado muito mal ,logo ,sabia o q estávamos passando e tava bem fisicamente , o Augusto sofreu muito no segundo dia , mas dava pra levar um cup nudless e o Alexandre tava sobrando na trilha , fazendo o fechamento da coluna . Iniciamos o terceiro dia e a descida da mina . Um lindo visual do Vale do Ruah . Um vale todo de capim elefante , bem úmido ( atochei a titã ate o talo na lama e ela foi de boa . Alias , de boa a trip toda .Fabiomon , estás de parabens pelo produto . 3 dos 6 com elas sem reclamação . Fiz uma foto show q te enviarei ) . Cruzamos mais uma vez com a rapaziada .Paramos no rio verde pra abastecer , desta vez com mais água ainda .Pra achar a saída do vale é um pouco difícil , pois o mato alto e varias trilhas vicinais confundiram um pouco , após isso ai é so subidas .Eu sofri muito neste dia , pelo peso e privação de sono anterior . No ultimo ataque aos 3 estados eu estava no bagaço da laranja (Lembro que olhei piramba acima e perguntei ao Will se tinha mais algum ataque após aquele . Ele disse q não e eu disse que sim . Que podia ter o MEU ataque ... cardíaco !!). A parte mais em pé , mais critica e perigosa estava bem úmida , com a lama agarrando na bota e fazendo que ficasse mais escorregadia . Toda a atenção , concentração estava no prox passo . Que nem o lema do AA adaptado : Só mais um passo ! Aqui a minha decisão de levar dois bastões se mostrou acertada , pois aliviou o peso e aumentou e muito a minha segurança nestas condições . Ganhamos os três estados ! Eu bufava mais que um touro miura na arena , o foda é que ele geralmente morre no final . Mas a rapaziada anterior já estava lá instalada , logo na chegada e deu uma moral parabenizando . Senti os polegares pra cima na plaza de toros e o Miura continuava vivo ... Montamos a barraca e eu não parava de tremer . Betão foi fazer as fotos e eu tentando me aquecer coloquei todas as roupas, me enfiei no linner tabajara q fiz , e no saco entrei . Do saco viestes e ao saco voltarás !!! ( essa foi infame , admito... ) .Fiquei mais de duas horas tremendo de frio . Não tava normal, apesar de estar o dia mais frio e ventando . Estava ouvindo a galera de fora na boa e eu me tremendo q nem convulsão , com muita dor de cabeça , na fronte e dor abdominal esparsa . Fiquei cabreiro , pois ainda tinha um dia de descida e um ataque aos Ivos .Chamei betão expliquei e pedi que fervesse água pro macarrão . Ele fez e com a comida quente dei uma melhorada depois de uma hora mais ou menos . Demora muito para reaquecer o corpo . Depois me deu um levante e sai da barraca pra tirar fotos e interagir com a rapaziada . Fizemos altas fotos de longa exposição . Tomei um coquetel molotov feito pelo Betão que é biomédico que me deu uma melhora .Idem pela manhã . A noite foi a mais fria de todas, tive q acordar na madruga pra colocar literalmente tudo de proteção que levei .Todos sentiram . O chão congelou em varias partes e algumas barracas ficaram cobertas de gelo . Altas fotos do gelo com direito a data escrita com os dedos e SF pra identificar .Com certeza deu temperatura negativa , apesar do termômetro estar tabelado nos 2º... Quarto e último dia , descemos os 3 estados , um ou dois ataques a pequenos picos e depois o do alto dos Ivos . Dali pra frente é praticamente descida . Muito trecho de bambuzal e mato , tem contato físico lateral o tempo quase todo , te segurando e enroscando em vários momentos .Fazer a trilha no sentido inverso deve ser uma pedreira monstra , pois toda a vegetação já está inclinada na direção Pierre e to falando de bambus quebrados e cortados a facão . Saca armadilha vietnamita dos filmes da guerra ... pois é . Só de armadura meus caros !! Chegamos ao ponto de água , abastecemos fizemos um menu degustação de tangs e afins de sabores variados . Daí pra baixo a descida foi tranqüila , uma trilha que parecia ate alameda da Disneylândia de tão fácil comparativamente .Chegamos no sitio do Pierre , um lugar muito belo , mas um tanto abandonado atualmente . A rapaziada nos alcançou de novo e chegamos juntos no PT de resgate da rodovia . Todas as congratulações e fotos de praxe e todos com o sorriso de orelha a orelha , apesar do desgaste . Apesar da descrição melodramaticamente cômica proposital , a trip foi um sucesso .Equipe coesa , um dando força ao outro e com bom humor . O Will , apesar da pouca idade , com boa experiência e capacidade de liderança, alem de forte fisica e tecnicamente .E boa praça . O clima não poderia ser melhor com dias lindos de sol e noites enluaradas , redoonnnndaas , com céu de brigadeiro , todo estrelado . Definitivamente Serra Fina não é uma aventura para inicantes . Considero um montanhismo em estado bruto , nível avançado . Tanto pelo desgaste físico enorme , como psicológico . Muita vastidão e dificuldade de acesso em casos de emergências . Mas que compensa cada minuto que vc passa na montanha , seja ralando , meditando , admirando ou seja lá o que buscas nas montanhas . Ficará gravada de forma indelével em seus corações e mentes . Na véspera da minha ida estava arrumando o equipo na cargueira e explicando tudo pro meu único filho de 8 anos ( que vai ler este relato hj ) . Ele meu olhou fixamente e perguntou : Pai , por que vc faz isso ? Com aquela carinha de tecla SAP , tipo vai se ferrar todo, passar o maior perrengue e ainda ta animado . Dei uma resposta longa, politicamente correta do meu gosto pelos esportes de natureza, pra desestressar da vida urbanoide corporativa , pela superação e outras coisas . Hj direi a ele que simplesmente pra me transformar numa pessoa melhor . Pois cada detalhe numa trip destas te evolui se vc for atento a eles . E que Deus ainda nos dê saúde para que possamos ir juntos numa desta . Quero agradecer ao Will como o guia e a toda a equipe da trip ,em especial ao meu amigo Betão , ao Rodrigo pela atenção em PSS4 , ao Leo RJ e ao Augusto ( dos mochileiros.com pelas preciosas dicas ) , ao Lorenzo idem , ao Fabio da Nomade pela atenção . E a minha família pela privação de meu convívio nas férias . Breve postarei as fotos e vídeos , pois faremos uma edição caprichada . A Serra Fina tem que ser bem divulgada e preservada .Utilizada de forma consciente e sustentável .Espero que com relatos como este e com material de vídeo e foto de qualidade consigamos ajudar neste sentido . Que Deus abençoe a todos os montanhistas de boa vontade e que preserve a Mantiqueira . É isso ai ,um abraço a todos . Serra fina tá na conta !!!!! [picturethis=http://www.mochileiros.com/upload/galeria/fotos/20110730135242.JPG 500 333.333333333 Legenda da Foto]Escreva seu texto aqui. Apague este texto mas tome cuidado para não deletar as chaves [ ]. 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