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  1. EXPEDIÇÃO PEDREADO “Qual é o propósito de um monte de homens adultos se jogarem numa jornada incerta, num roteiro desconhecido, chafurdando numa floresta quase que inacessível, num fim de mundo que quase ninguém sabe que existe? Enquanto tento achar resposta para essas perguntas, vou me arrastando pela margem deste incrível rio de águas quase que intocadas, tentando levar minha carcaça destruída até o acampamento, nesse final de tarde de outono. Ter um tornozelo torcido minutos antes de chegarmos as grandes gargantas foi um pouco de azar, por isso não fiz nem objeção quando alguém cantou a bola para pararmos ainda antes das 4 da tarde, mesmo porque, ser pego pela noite emparedados naqueles cânions poderia nos render um sofrimento desnecessário, melhor mesmo é ir cuidar das feridas, fazer uma janta quente e se preparar para o dia seguinte que promete ser de grandes aventuras. ” Não havíamos nem nos recuperado da Expedição ao VALE DO RIO SÃO LOURENCINHO, que quase culminou em uma tragédia e meus olhos já se voltaram para outro grande rio isolado ali da região de Juquitiba. O grande rio PEDREADO, conhecido e chamado pelos sitiantes locais pelo nome de RIO DO BRAÇO GRANDE, nasce no meio da Serra do Mar Paulista e se enfia em um vale quase inacessível, terra de ninguém, visitados eventualmente eu suas partes mais planas, apenas por alguns corajosos palmiteiros e caçadores mais audaciosos. Quando os estudos começaram, já ficou claro que esse rio apesar de selvagem, não teria um desnível tão abrupto quanto outros já explorados por nós, mas o fato de ser uma travessia extremamente longa da sua nascente até a sua foz, no encontro com o próprio São Lourencinho, esse afluente do Rio Juquiá, já me fez olhar essa expedição como uma missão de respeito. O rio era longo, mas a parte que nos interessava, aquela onde quase ninguém já teve coragem de meter a cara, contava com um 20 km de travessias, grande demais para apenas 4 dias, que era o tempo que dispúnhamos. Mesmo assim tínhamos que ariscar, precisávamos que alguém fosse lá e encontrasse um caminho até o rio, que alguém investigasse a qualidade da água. Para essa missão prévia se apresentou como voluntários Décio Marques e Regis Ferreira, que para lá se dirigirão, entraram pelo Bairro do Engano e se embrenharam nuns sítios abandonados até darem nas barrancas do Pedreado. Fizeram um excelente trabalho, e voltaram com o caminho mapeado no GPS, estava estabelecido a rota até o rio, agora era hora de montar uma equipe e botar mais um rio selvagem no mapa das grandes travessias da Serra do Mar Paulista. Ao apresentar o projeto para a equipe, a grande maioria já deu uma desdenhada, achando que por não haver grandes desníveis, talvez não valesse a pena tanto sacrifício e seria correr um risco desnecessário. Na minha opinião, depois de passar meses debruçado sobre os mapas de satélite e cartas topográficas eu não tinha a menor dúvida que a expedição era totalmente viável, muito porque se tratava de um rio selvagem, em estado quase bruto e que ao longo do caminho receberia mais de 50 afluentes de águas intocáveis, atravessando uma das mais exuberantes florestas do mundo. Resumindo: Parte do grupo caiu fora e foi se divertir em outras paragens. Paciência, como a gente fala, não existe carteirinha e nem obrigação com ninguém e cada um tem a liberdade de ir quando quiser e quando bem entender e isso é muito legal porque sempre deixamos bem claro. Os feriados foram passando e nada da expedição sair do papel até que no feriado de maio encostei uma meia dúzia de sem noção à parede, montamos um grupo e mesmo com alguns desconfiados quanto ao roteiro, resolvemos que já estava na hora de desvendar os mistérios escondidos naquele fim de mundo. Às nove da noite já estava eu plantado na Estação Faria Lima do Metrô, na capital Paulista, quando me aparece Paulo Potenza, arrastando atrás de si Thiago Dias (Rasta) com seus cabelos de corda, mal deu tempo de cumprimenta-los e já surgiu sei lá de onde, Guilherme rocha, que veio me cumprimentar dizendo que acompanhava meus relatos na internet e quando pediu para tirar uma foto comigo, tive que aguentar a zueira geral, muita coisa para um caipira do interior de São Paulo, rsrsrsrsrs . Não demorou muito e os outros chegaram e o grupo se completou com Anderson Rosa, Régis Ferreira, Rafael Araújo e Daniel Trovo. Nos dirigimos para o tal Largo da Batata e lá pegamos um ônibus para Itapecerica da Serra e de lá outro para Juquitiba, aonde uma van escolar já esperava para nos levar até o mais próximo do rio. O motorista rodou por 14 km pela BR 116 no sentido sul e depois entrou no tal bairro do Engano, tocou direto pela estrada principal para o sul e seguiu sempre por ela que foi se dirigindo para leste/sudeste e se bifurcou 5 km depois que saímos da BR e ali paramos porque não havia mais condições de seguirmos motorizados. Num primeiro momento eu pensava em adentrar no sítio em que a vam havia nos deixado e cortar caminho por um vale, andando uns 2 km até atingirmos o rio Pedreado, mas logo vimos que seria impossível forçar passagem por uma área habitada de madrugada e aí resolvemos seguir o plano original, o roteiro conseguido na primeira incursão. Portanto, naquela madrugada de sexta para sábado, jogamos as mochilas às costas e partimos pela estrada da esquerda que logo adentra pela mata e sem pegar nenhuma bifurcação, vamos seguindo por ela que vai ficando cada vez mais intransitável, passa por um sítio à esquerda e uns 300 m depois o terreno se abre e aparece um grande lago também à esquerda, denunciando ser ali o último ponto com sinal de gente porque a partir daí a estradinha vira quase um trilha e numa bifurcação pegamos para a direita até desembocarmos num sítio abandonado de gente aonde uma placa nos dá as boas-vindas: Caiam fora, proibido entrar, caçar, pescar, colher palmito, MEXEU MORREU ! A gente sabia que ali é terra sem lei, mas naquela hora da madrugada era o nosso único porto seguro para tentar descansar um pouco, então adentramos assim mesmo, já que era nítido que não havia ninguém no sítio. O lugar até que estava bem cuidado, sinal que não estava de todo abandonado. Em uma das casas, uma grande varanda já nos chama a atenção e nos indica um possível lugar para nos abrigarmos. Na outra casa encontramos a porta sem trancas, mas o lugar estava deplorável, com cheiro de rato morto e não havia a menor possibilidade de dormimos nas camas, mesmo assim arrastei um colchão mais apresentável e o levei para a varanda da outra casa, fiz o mesmo com um cobertor que continha apenas bostas de ratos, nada que uma boa espancada não o deixasse em condições de uso, mesmo sobre protesto e cara de nojo dos participantes daquela expedição. Então nos alojamos ali naquele casebre mequetrefe e cada um se ajeitou como pode, espalhando seus sacos dormir sobre lonas ali no chão de barro e eu tive uma noite de rei, sem friagem, sem umidade e dormi como um anjo, mesmo que alguns dissessem que nem o satanás ousaria usar aquele cobertor e aquele colchão, bobagem, exagero da galera, (rsrsrsrsrsrs). Pouco depois das 6 da manhã já estávamos de pé, tomamos café, arrumamos as mochilas e partimos. Passamos entre os dois casebres e demos a volta no lago e interceptamos uma trilha atrás dele, mas não andamos nem cinco minutos e o Régis já notou que havíamos entrado pelo lado errado, então varamos mato para a direita por uns 100 metros e achamos a trilha de acesso ao rio. Sabendo que o rio iria fazer várias voltas, resolvemos cortar caminho e seguir rente ao morro do nosso lado direito e fomos varando mato acompanhando a direção correta dado pelo nosso GPS. Aliás, havíamos marcado todo o percurso do rio Pedreado com GPS e escolhemos como nosso navegador Anderson Rosa, que iria conduzir aquela expedição com extrema competência no uso do Wikloc, que foi o aplicativo usados. A chegada ao rio alegra todo mundo. Ele está lindo, a água ainda um pouco amarelada, típica de rio ainda de planalto, que carrega um pouco de sedimento, mas logo saberíamos que ele a cada curva iria ganhar novos afluentes de águas cristalinas e irá aos poucos se transformando em um rio translúcido. Como sempre acontece, no início da caminhada a gente vai tentando manter as botas secas, tentando ganhar terreno pela margem ainda plana e transitável, mas não demora muito para as botas começarem a empapar e quando o mato fecha de vez é hora de largar de frescura e se jogar de vez na água fria da manhã, a AVENTURA ESTÁ POSTA À MESA. Nesse início o rio se mantém raso, com a água mal passando do nível da cintura, mas numa grande curva, quando somos obrigados e passar com água na altura do peito e vez por outra tendo que nadar nos lugares mais fundos, foi aí que demos conta de que esse rio seria uma grata surpresa, e alguns, que antes se mantinham céticos a respeitos do sucesso daquela expedição selvagem, já se renderam completamente e seus olhos brilharam de felicidade. O rio serpenteia, vira para um lado, vira para o outro e quando dava, usávamos suas margens para nos locomover com maior rapidez, nos utilizando também de algumas raras trilhas de palmiteiros e caçadores, aliás, em poucos lugares na Serra do Mar vimos tantas Palmeiras Juçara. Logo o rio se encaminha para dentro da floresta densa e até os raros caminhos de palmiteiros já não são mais vistos. O dia já ia pela metade quando a primeira garganta se apresentou à nossa frente, local que chamaríamos de PORTAL DO PEDREADO. Nesse ponto o rio começa a se encachoeirar e as grandes rochas faz valer o nome dado ao rio. Paramos ali para um breve lanche e para traçar a estratégia de descida, que é sempre a mesma : ganhar um pouco de altura pela direita para depois começar a descer na diagonal, que vai nos devolver de novo ao rio aonde uma Grande Cascata se apresenta e como alguns caras estavam meio que apressados para passarem por esses obstáculos, coube a mim e ao Régis nos enfiarmos numa descida para registrarmos umas fotos do salto, que aliás, era muito bonito, quase que se espalhando de um lado ao outro do rio Pedreado. Logo nos encontramos entre algumas paredes com corredeiras um pouco mais rápidas e foi ali que o Rafael tentou se jogar e ir boiando e se fudeu todo, sendo arrastado pela água e quase triturado pela máquina de lavar natural. A caminhada consiste em avançar pelo rio, hora por dentro da sua correnteza, hora pela sua margem às vezes planas e com mata mais aberta. Quase sempre era preciso cruzar de um lado a outro e numa dessas travessias vindo do interior da floresta, eu mais um pisamos a um palmo de uma jararaca velha, mas foi o Rafael que quase foi picado ao se apoiar na pedra e cair com a mão encima da serpente, que por sorte só fez pular fora da rocha. Notamos logo que teríamos problemas com as cobras e não demorou muito já me deparei com outra jararaquinha tomando sol encima de uma outra pedra no meio do rio e também tive sorte de vê-la antes de saltar sobre a pedra, ainda bem-estarmos todos com perneiras e isso faz uma grande diferença, principalmente psicológica. A galera estava motivada e tudo era motivo para alegrar mais ainda o grupo, até uma ossada de queixada servia para distrair e virava assunto, mas um tal Potenza começou a aloprar todo mundo porque queria parar para nadar, mas eu e o Trovo queríamos ganhar terreno, ainda mais porque estávamos agora numa parte plana do rio e esperávamos encontrar grandes poços mais abaixo, mas como ele encheu muito nosso saco, tivemos que esperar quando ele resolveu se jogar num poço parado , cheio de tranqueiras. Depois dessa parada não muito estratégica, cruzamos o rio para sua margem direita e os olhos treinados de lince do Rosa localizou um girau de caça e o Rasta investigando o terreno encontrou um vestígio de trilha. Nos enfiamos nesse caminho e qual não foi a nossa surpresa ao encontrarmos um vestígio de antiga estrada tomando o caminho para o norte. Era praticamente uma trilha, tomada de árvores de grande porte e só olhos bem treinados seria capaz de saber que outrora aquilo fora uma passagem maior. Mas com o objetivo daquela estrada, para que teria servido, porque estaria ali? Estudando a carta topográfica de 1973 era possível verificar que nela constava a construção de uma pequena usina hidrelétrica, coisa comum nessa época, mas esta usina, se existisse, estaria muito mais abaixo e só a encontraríamos no segundo dia de travessia. Bom, o certo é que seguir aquele caminho mais desimpedido era uma boa pedida, mas depois de uma meia hora, talvez menos ,esse vestígio de estrada foi se afastando cada vez mais do rio e eu a todo momento insistia para direcionarmos nosso nariz de volta para as barrancas do rio. Sem me dar ouvidos, parte do grupo continuou caminhando, mesmo que a estrada fosse cada vez mais se afastando do rio e ganhando altura. Teve uma hora que eu já estava implorando para a gente tomar outro rumo, tanto que cheguei a apostar até a minha dignidade, contando com o Rafael como fiador da aposta e tendo o Potenza como assinante de algumas promissórias. Mas os caras não queriam nem saber e quando a caminho se bifurcou, pulamos um afluente e seguimos meio que para oeste, infelizmente ainda subindo. Eu já estava nos cascos quando finalmente a tal estradinha que nem trilha mais parecia de tão fechada, se enveredou para o sul, indo em direção ao rio e logo à frente ela acabou de vez e aí descemos escorregando em um barranco até desembocarmos umas 4 da tarde, olha só, bem na barragem da tal usina hidrelétrica. Ninguém entendeu nada, na marcação da nossa carta topográfica essa tal usina seria muito mais abaixo do rio, tanto que só esperávamos encontra-la apenas no outro dia. Achar essa Usina hidrelétrica foi mesmo gratificante porque pensávamos até que ela nem existisse e chegamos à conclusão de que o IBGE havia cometido um pequeno engano ao coloca-la um pouco mais abaixo, um erro plenamente justificável, haja vista que a carta datava de 1973, mas a construção dessa usina é muito antes disso, talvez da década de 30 ou 40. Então estava explicado aquele vestígio de estrada que havíamos encontrado, ela serviu para a construção da usina, que por sua vez foi construída para alimentar uma madeireira as margens da local aonde hoje é a BR 101. Claro, é uma usina minúscula, tanto que só no outro dia conseguimos localizar no meio do mato e carcomida pelo tempo o maquinário e a turbina que gerava a energia, mas hoje só resta mesmo a barragem de pedra que fecha o rio de um lado ao outro, mas ainda deixando passar toda sua água, formando uma bucólica cachoeira aos seus pés e diante desse engano e aproveitando a própria deixa com o nome do bairro, vou chamar essa queda d’água de CACHOEIRA DA USINA DO ENGANO, para marcas essa localização. Ainda era muito cedo para acamparmos, mas os caras bateram o pé para que passássemos a noite ali e quanto a isso não fiz objeção, mesmo achando ser muito cedo para arriar as mochilas. Então nos pés da cachoeira armamos nossas redes e enquanto alguns cozinhavam, outros aproveitaram para se esbaldar no poço da queda d’água. Alguns se viraram como puderam, fazendo o velho e tradicional miojo, mas eu, em parceria com o Régis, cozinhei uma boa de uma janta reforçada. Aliás, o Régis e o Rasta eram os novatos do grupo, mas logo se enturmaram e não escaparam em nenhum momento das piadas e chacotas destinadas aos debutantes, muito porque eles mesmos, já “não valiam nada”(rsrsrsrsr) Foi uma noite bem dormida, de temperatura agradável e só não foi melhor porque demora um pouco para a gente se acostumar com o barulho da queda d’água explodindo no poço da usina, mas o dia que amanhece é um dia sem nuvens e promete ser sem chuvas. Antes das sete da manhã já estávamos de pé, mas só depois das oito foi que nos animamos a partir. Ficamos divididos entre voltarmos para a estrada/trilha ou continuar seguindo por dentro do rio, mesmo ainda sendo muito cedo para nos atirarmos na água. Num primeiro momento tentamos descer pela margem e não andamos nem 100 metros já nos deparamos com a tal casa de maquinas em completa ruina, aonde o caminho acabou de vez. Querendo ganhar um pouco de terreno resolvemos retornar e novamente interceptar a tal estradinha, mas logo descobrimos que ela na verdade acabava mesmo ali na usina e quebramos a cara porque perdemos muito tempo rodando para ver se achávamos ela na direção que pretendíamos. O jeito foi retornar novamente até a antiga casa de maquinas e varar mato pela direita, até que o barranco fechou nossa passagem e fomos obrigados a nos jogarmos novamente dentro do rio e uma vez com as partes baixas molhadas, não havia mais motivos para fugirmos da água gelada. A caminhada seguiu alternando as margens do rio e sempre procurávamos facilitar nossa passagem, as vezes varando mato por algum barranco, outras vezes abrindo passagem pela vegetação mais tranquila, quando o rio se estabilizava, até que chegamos às gargantas e aí foi hora de nos esgueiramos por dentro de grandes rochas, subindo e descendo, escalando fendas e vencendo paredes lisas. Não que o rio nessa parte tenha grandes correntezas, mas sempre é um tormento para atravessá-lo, principalmente para mim que sou muito leve e qualquer bobeada aumenta a chance se ser arrastado é um perigo real, mas quando se pode ver o que se esconde atrás de alguma curva é sempre um barato se jogar nessa correnteza e deixar com que a força do rio o conduza bem mais à frente , sem nenhum esforço, nos poupando energias .Quando o rio resolve se enfiar de vez numas paredes que o espreme, é hora de pular fora dele e voltar a escalar pedras novamente. Chega uma hora que a margem que se caminha não serve mais ao nosso propósito, então é preciso montar uma operação para conseguir voltar ao outro lado. Caminhar pela Serra do Mar é algo incrível não só pela paisagem deslumbrante e selvagem, mas também pela forma com que se faz isso. Aqui não seguimos nenhuma regra cagada aos quatro ventos por grupinhos constituídos, as regras nós mesmos criamos dependendo do momento e da ocasião e para atravessar uma torrente de água basta uma cordinha qualquer, um nó de emergência criado na hora por quem se sente mais seguro com ele. Basta um pedaço de pau qualquer, uma mão amiga para não deixar que o indivíduo despenque na queda mais abaixo e tudo está resolvido. Mais à frente o rio se afunila mais ainda e aí é preciso tomar cuidado para não escorregar e cair na máquina de lavar e se lascar todo. Logo sem ter como prosseguir voltamos a nos enfiar no mato e subimos barranco abrindo passagem pela vegetação mais densa até novamente podermos voltar ao rio, desta vez sobre uma imensa laje de pedra, hora de parar para um breve descanso e umas mordidas em uns lanches. A cada passo dado, a cada metro que ganhamos vamos vendo a transformação desse rio. Suas águas vão ganhando novos afluentes e vão ficando cada vez mais cristalinas e logo quando as gargantas acabam, nos vimos caminhando numa mata bonita, onde o rio vai se enlarguescendo e fazendo várias curvas. O dia já vai bem adiantado quando começamos a sentir um cheiro característico de comida no fogão a lenha, sinal de que algum grupo de caçador poderia estar por perto, mesmo porque, vimos no mapa que estávamos nos aproximando de um local aonde era possível que se pudesse chegar ao rio pela existência de uma estradinha no passado. Passamos em silêncio, não queríamos ser confundidos com algum animal de caça e corrermos o risco de tomarmos um tiro de cartucheira. Resolvemos mudar de margem para uma maior segurança e de repente, sem prévio aviso, tropeçamos numa ponte pênsil que atravessava o rio de um lado a outro, que ligava nada a lugar nenhum. Estava bem claro que havia um caminho vindo de algum lugar da civilização, mas era claro que nenhum turista chegava por ele, haja visto que não havia nenhum sinal de lixo. Logo acima da ponte de cabos abria-se uma grande clareira e a partir dela saia uma larga trilha que denunciava que realmente no passado uma estradinha poderia ter chegado até ali. Parte do grupo que estava à frente resolveu seguir a larga trilha que se distanciava do rio na perpendicular e era claro que não serviria a nosso propósito, mas os caras teimosos foram seguindo, feito cabras segas, enquanto eu o Rasta já putos da vida, seguíamos atrás reclamando porque víamos que aquele caminho não daria em lugar nenhum, a não ser para nos tirar da nossa rota. Dez minutos de caminhada, depois de uma curva, surge a nossa frente um telhado de um rancho e isso fez com que a gente ficasse apreensivo por não saber o que encontraríamos naquele fim de mundo e poderíamos dar de cara com os bandoleiros da serra que provavelmente nos receberia com um trabuco na cara. Se nós já estávamos apreensivos, imagina a cara dos sete homens que foram surpreendidos por outros sete saído do meio da floresta, vindos sabe-se lá de onde. O rancho não passava de uma construção rústica, com uma cobertura de telhas, mas sem paredes e rodeado de algumas lonas velhas. Mesmo sendo um barraco qualquer, no meio daquela selva parecia mesmo um castelo, onde um fogão a lenha jogava fumaça pelos ares denunciando que havia comida cozinhando e algumas camas rusticas espalhadas pelo outro ambiente completava o senário do palácio perdido. Logo nos apresentamos como aventureiros e exploradores, eliminando assim qualquer mal-estar que a nossa presença pudesse causar. Aqueles homens que ali estavam não eram caçadores e nem palmiteiros e sim convidados do cuidador daquela propriedade que segundo nos disseram, pertencia a um grande banco que a comprou para fazer lastro financeiro, mas eles estavam ali apenas para praticar um ócio: beber, comer e jogar conversa fora. Ao lado do rancho, uma willis velha deixava claro que realmente havia uma estrada ligando a civilização ao rio, mas por ser propriedade particular, ninguém passava, deixando o lugar no mais total isolamento. Todos apresentados. Fomos logo convidados a nos sentar à mesa para compartilhar a refeição, coisa que o Daniel Trovo já recusou de cara por educação, mas como educação passou longe da barriga lombriguinha do Potenza, o “zoiudo” já se atirou no fogão à lenha e saiu de lá com um prato caindo comida pelas beiradas. O Trovo mandou logo sua educação para os quintos e abocanhou seu quinhão e assim, um a um foram se achegando naquele fogão à lenha e revirando o “zóio” de tanto comer. Eu mesmo, um pouco mais contido, talvez pela minha educação europeia, ao olhar para o tamanho daquela panela, aonde poderia comer umas 20 pessoas e me dando conta que sobre aquele rústico fogão havia dobradinha com carne de porco, arroz, torresmo, carne de panela cozida com palmito selvagem, enchi meu prato como se fosse um refugiado de guerra, muito porque aqueles homens não estavam mesmo a fim de comer mais nada, já estavam com o rabo cheio de cachaça. Fazendo justiça a um do nosso grupo, que se recusou a comer todo aquele banquete, não posso deixar de citar o único cara que se mostrou civilizado naquele dia e se manteve firme nas suas convicções, o Rasta não tocou na comida, mesmo estando varado de fome, não por ser um lorde inglês, mas simplesmente por ser vegetariano e esse foi o único que se lascou bonito e teve que fazer sua própria janta. Bom, a comida estava boa, o papo estava melhora ainda, mas já passava das 4 da tarde e a gente tinha que decidir o nosso rumo. Numa rápida reunião decidimos que mesmo ainda sendo muito cedo, acamparíamos na clareira à beira do rio, mas aí o inesperado veio alegrar a alma já que a barriga estava para a lá de cheia. Seu Joaquim nos ofereceu o rancho para passarmos a noite já que eles estavam de partida em no máximo meia hora. Não havia o que pensar, aceitamos e ficamos agradecidos pela oferta, aquilo iria além do que a gente sonhava. Enquanto os donos do rancho se organizavam para ir embora, aproveitamos para tomar um bom banho no rio e colocar roupas limpas e secas e quando retornamos eles haviam partido e aí nos apossamos do abrigo e cada qual foi escolher sua cama e seu colchão. Os mais espertos se empoleiraram nas camas rusticas e os outros tiveram que se deitar no chão mesmo. Ali naquele casebre improvisado e quentinho rolou papo furado até quase de madrugada, sempre regado a café e chá. Alguns ainda se deram ao luxo de comer o resto da comida que havia sobrado, outros foram ainda preparar mais comida. Na hora de deitar os homens se separaram dos meninos logo que elas surgiram: Eram aranhas de tudo quanto é tamanho e tipo, saíram dos lugares mais estranhos e foram tomando tudo de conta. Alguns logo se revelaram com a masculinidade abalada e outros nem disfarçaram, já largaram os colchões no chão e trataram de montar suas redes, até aqueles que vive de defender a sociedade acabou por nos decepcionar e ameaçou dar chilique e só depois de uma operação de guerra com muitas chineladas é que conseguimos vencê-las e os mais medrosos conseguiram pegar no sono no RANCHO DAS ARANHAS. Quando o dia raiou foi difícil abandonar aquele cafofo confortável e só lá pelas nove da manhã foi que resolvemos partir, ainda bem porque eu andava preocupado com o zunzum da noite anterior aonde alguns ameaçavam largar a expedição no meio e voltar para casa ou no mínimo ficar no rancho por mais um dia. De volta ao rio, a caminhada segue pela sua margem e não demora muito achamos um grande afluente do lado direito, justamente o riacho que rasgava a montanha e abri caminho para a estradinha que vinha da civilização. As andanças se alternam entre varar mato e andar dentro do próprio rio que nesse trecho é raso e plano, com uma água incrivelmente limpa e menos de duas horas depois achamos o que nos pareceu ser uma trilha e resolvemos segui-la, até que ela começou a se afastar muito da água e quando pensamos em abandoná-la, demos de cara com mais um abrigo abandonado. Apreensivo fomos nos achegando aos poucos e logo notamos que esse também estava vazio a um bom tempo e desse rancho partiu uma trilha que nos devolveu novamente ao rio. Nesse trecho a correnteza deu uma aumentada e o leito rochoso dificultava o caminhar, mas se por um lado é preciso empreender mais energia, por outro lado aquele era um cenário lindíssimo com poços sempre nos convidando para um mergulho e em um deles uma caverna escavada no barranco foi o parque de diversão de alguns mais afoitos. Logo em seguida, numa curva para esquerda, o rio desembestou de vez e para não ser arrastado pela correnteza foi preciso que passássemos nadando até uma grande espécie de ilha de pedra e por haver um super poço, foi a grande desculpa para ariarmos as mochilas para uma parada mais demorada e um bom mergulho e alguns se ariscaram a se jogar na correnteza e viraram passageiros do rio, num divertimento sem compromisso. Estávamos ansiosos para encontrarmos as cachoeiras que aquele dia nos prometia e quando as pedras do rio começaram a ficar cada vez maiores, já nos preparamos para desce-las e a primeira que apareceu foi logo uma que tomou conta de todo o rio, uma cascata não muito alta, mas que parecia com uma catarata que jogava gotículas de água para todos os lados. Para descer ao pé dela, parte do grupo varou mato pela esquerda, enquanto outros já se jogaram de cima dela e passaram à nado, aproveitando a força da sua queda para ir parar já na prainha de pedras. Já passava das duas da tarde, talvez um pouco mais e aproveitando a parada providencial, aproveitamos para instalar ali nossa capsula de registro de travessias selvagens,aonde deixamos nosso recado para os futuros aventureiros que por lá passarem algum dia e depois disso deixamos aquela bela cachoeira entregue a sua própria sorte e agora as CATARATAS DO PEDREADO ganhou o registro da nossa ilustre passagem. Para nossa surpresa, mal havíamos começado a caminhar e já demos de cara com mais uma gigante cachoeira, justamente a queda d’água que eu havia estudado tanto e imaginava que poderia ser uma das mais altas da travessia. Só que dessa vez não era uma cachoeira no Rio Pedreado, mas sim num afluente do lado esquerdo e a meinha suspeita se confirmou. Uma queda d’água larga de um grande rio vindo do interior da serra, mais um rio perdido nesse mundo selvagem aonde ninguém põe a cara e que transforma esse ecossistema em um dos mais espetaculares da Terra. Fico feliz em ver se materializar à minha frente aquilo que eu só imaginava nos mapas de satélite e na carta topográfica. Enquanto eu e o Rasta ficamos ali apreciando aquele espetáculo, os meninos se adiantaram e fomos obrigados a apertar o passo para nos juntarmos novamente à eles. O Daniel Trovo o tempo todo vinha com uma conversa de que poderíamos acabar ainda hoje aquela travessia, mas eu já sabia que isso não passava de delírio, muito porque eu não estava nem um pouco a fim de abandonar aquele rio extraordinário antes do combinado, mas o dia foi passando, a gente varando mato, atravessando rio a nado, nos jogando nas corredeiras, subindo barranco e escalando paredes na unha e numa curva qualquer, talvez por já estar cansado e um pouco desatento, num pulo mal dado, vi meu pé virar e foi inevitável que meu tornozelo torcesse junto. Na mesma hora eu já ví que o estrago havia sido feito, mal conseguia colocar o pé no chão e perdido naquela vastidão de floresta temi pela continuidade daquela travessia. Uma parada de uns 15 minutos para que a dor inicial desse uma estabilizada e me valendo da água fria para um analgésico momentâneo consegui prosseguir. A dor ainda era intensa, mas não havia tempo para ficar choramingando pelos cantos, o jeito era tentar me arrastar até o fim do dia e tentar um curativo a noite, no acampamento. A tarde já ameaçava acabar e como já pensávamos em acampar, fomos andando e já de olho em alguma área plana, mas por infelicidade estávamos presos entre duas paredes sem nenhum lugar descente para montamos nossas redes e como nada é tão ruim que não possa piorar, surgiu à nossa frente uma sequência de gargantas profundas, hora de parar e montar uma estratégia. Já eram quase 4 horas da tarde e nos veio à cabeça a possibilidade de iniciarmos aquela descida e acabarmos mais presos ainda e agora por paredões de pedra. Ser pego à noite sem nenhum lugar para montar acampamento não estava nos nossos planos, já havíamos passado por isso em outras expedições e sabíamos muito bem o quanto é desagradável e sofrível, então numa reunião rápida, o grupo decidiu que deveríamos montar acampamento e deixar aquela aventura para o outro dia. O grande problema era aonde conseguir um lugar descente, mas aí o Trovo se lembrou de que algum tempo atrás ele havia visto uma área de caçadores abandonada e que seria prudente retornarmos e tentar passar a noite por lá. Sem ter outra alternativa fizemos o caminho de volta e por sorte encontramos essa área do lado direito do rio e não poderia ser melhor. Um local plano e com boas árvores para esticarmos nossas redes, abrigado do vento e com um pequeno afluente para nos abastecer. Quando montamos essa expedição e decidimos que mesmo o rio não tendo um desnível descomunal como estávamos acostumados a explorar, iríamos ir nos divertir, acampar num lugar selvagem e jogar conversa fora e felizmente tudo que havíamos planejado estava saindo ainda melhor. Os quatro acampamentos que fizemos foram realmente incríveis e como é gratificante poder nos sentar às margens desse rio fantástico, numa noite de lua clara e temperatura agradável e poder se dar ao luxo de viver uma vida de desapego. Lá nós não somos ninguém, nem ricos nem pobres, ninguém é Cristão ou Budista ou Espírita. A profissão de cada um não vale absolutamente de nada e muito menos a sua posição política ou filosófica. Somos apenas nós mesmo, apenas homens crescidos brincando ao som da simplicidade da vida. E nesses acampamentos é muito zueira, muito porque o politicamente correto não existe e quem puder mais chora menos. Mesmo já estando a 3 dias nessa labuta incessante, todos estão muito dispostos e animados e a conversa acaba por se estender até tarde, ou ao menos até mais tarde do que estamos acostumados e quando o sono chega é só se jogar para dentro das nossas redes e dormir como nunca dormimos antes até que o sol venha nos acordar para mais um dia de jornadas gratificantes. Pouco depois das 6 da manhã já estamos de pé e enquanto a água do café não ferve, desmontamos tudo e nos aprontamos para partir. E a partida já começa em grande estilo porque logo cedo já somos obrigados a cruzar o rio com a água pela cintura e ganharmos o mato do lado direito, interceptando um vestígio de trilha que vai ganhando altitude e quando vimos já estávamos paralelos à garganta. Poderíamos tentar seguir varando mato pela crista mas aí nos afastaríamos do objetivo principal que eram as cachoeiras e por isso embicamos nosso nariz numa diagonal e avançamos escorregando pelo barranco até nos posicionarmos novamente às margens do Pedreado, bem aos pés de uma queda incrível, que abria o início das grande cachoeiras antes do rio fazer sua curva para esquerda e começar a acompanhar a Rodovia Regis Bittencourt (BR 116). Não demora muito e entre escaladas e desescaladas, ganhando terreno dentro do rio, conseguimos perder altura até nos posicionarmos em mais uma Cachoeira larga, com um véu abaulado, mais um cenário lindíssimo, mais uma descoberta surpreendente aonde alguns ficaram brincando no meio do seu véu. Por incrível que pareça, nós estávamos enfiando dentro de um vale bem no meio da SERRA DO CAFEZAL , aonde milhares de pessoas passam todo dia indo ou voltando do sul do país e que nem imaginam o que se esconde por dentro dessas montanhas. Em épocas de feriados, congestionamentos monstros se formam na BR 116 , são horas e horas parados , pessoas perdem seus tempos, dinheiro e saúde, parados no meio do nada, enquanto aqui em baixo nos vales a vida pulsa numa beleza poética, com rios de águas cristalinas, cachoeiras lindas ,plantas exóticas e animais extraordinários e naquele momento tudo nos pertencia e somente a nós, donos absolutos do lugar. Agora à nossa frente o vale se abriu de vez e acima das nossas cabeças já era possível notar que estávamos bem perto da rodovia, talvez em uma hora varando mato e escalando a montanha conseguíssemos chegar ao asfalto, mas ainda não havíamos chegado ao meio dia e seria uma pena abandonar tudo aquilo e quando o Rio Pedreado curvou-se de vez para o sul, junto a um grande afluente do lado direto, no próprio rio uma outra cachoeira se fez presente, num cenário de tirar o fôlego e um mundo paisagens fascinantes se abriu para nós e ficamos encantados de estar tão perto de uma das rodovias mais movimentadas do país e ao mesmo tempo tão isolados num mundo selvagem. Aquilo era realmente incrivelmente belo e para nossa surpresa uma antiga ponte pênsil caindo aos pedaços havia sido construída ali, mas com sinal de estar abandonada há muito tempo, parecendo mesmo ter sido esquecida ali para todo o sempre. A Cachoeira da Ponte Pênsil marcava definitivamente nossa vitória e nossa conquista daquele vale e daquele rio desafiador porque sabíamos que poderíamos cair fora a qualquer momento, mas a aventura ainda não havia terminado, então decidimos nos enfiar na próxima garganta e avançar um pouco mais e não nos arrependeríamos por isso. O Pedreado dá uma afunilada e é pelo lado esquerdo que vamos seguindo, nos enfiando no meio de pedras e descendo uma a uma até nos posicionarmos acima de uma grande e longa rampa que nos trava a passagem. Descer por ali seria realmente perigoso e o jeito foi retornar um pouco e tentar uma passagem para o outro lado do rio, mesmo assim seria necessário se jogar à beira da queda potencialmente perigosa. O Rasta acabou sendo o boi de piranha que se ariscou e já puxou o Daniel Trovo para o mundo dele, mas o resto do grupo não achou prudente passar por ali sem nenhuma segurança e só se animou a cruzar o rio quando o próprio Rasta sacou um cordim para nossa segurança e um a um foi se agarrando àquela corda medíocre e se atirando na correnteza até alcançar a outra margem. Uma vez cruzado o rio, até tentamos varar mato para descer até a próxima cachoeira, mas a inclinação do terreno e sabendo que aqueles eram os últimos momentos nossos naquela expedição, preferimos não gastar mais nenhuma energia e o melhor caminho se mostrou mesmo pelas bordas do rio, passando e se esgueirando pelas pedras lisas, mas ainda assim perfeitamente passáveis e nem quinze minutos depois a gente largou nossas mochilas e agradecemos por estarmos diante de mais uma maravilha despencando de cima das pedras formando mais uma grande cachoeira para coroar de vez a nossa passagem por aquele vale. Não Era mais uma cachoeira qualquer, era outro espetáculo que se espalhava de um lado a outro do rio e foi bonito ver parte da galera se esbaldando embaixo da sua queda e no seu grande poço de águas claras. Eu da minha parte não queria mais saber de água, quase 4 dias socado dentro do rio para mim já era suficiente. Sentei sobre uma grande rocha e me pus a contemplar pela última vez aquele cenário que me encantou nesse feriado do dia do trabalho. Foram 4 dias intensos, de grandes descobertas, de novas amizades, de desafios e deslumbramentos e quando a galera cansou de desfrutar daquela Cachoeira com uma espécie de chafarizdo lado direito, demos por encerrada aquela expedição por dentro do rio, mas ainda estava longe de nossa aventura terminar por completo. Estávamos a uns 200 metros de desnível abaixo da BR 116 e para lá chegarmos seria necessário escalar a montanha e varar mato até o asfalto. Não havia muito o que fazer, apenas pedimos proteção a nossa senhora do barranco e nos pomos a puxar mato e subir sem nem olhar para trás e logo demos adeus a Cachoeira do Chafariz e ao vale do Rio Pedreado. O Rasta e Trovo foram à frente puxando a fila, mas logo o Potenza nos ultrapassa e ele e o Rasta tiveram o privilégio de avistar os primeiros sinais de civilização e um pequeno cervo selvagem correndo apressado ao perceber nossa presença. Finalmente antes das 2 da tarde comemoramos com um abraço coletivo mais uma expedição bem-sucedida na Serra do Mar Paulista, chegamos todos em segurança, cansados, mas felizes de mais uma vez podermos ir ao lado escuro dessa fascinante serra, numa das mais incríveis florestas do mundo, aonde ainda reina a paz que todos desejam. Chegar a rodovia foi uma conquista, mas fomos sair num lugar inóspito, praticamente desabitado e somente depois de quase uma hora de pernadas foi que conseguimos achar uma alma viva que morava num sítio e ele nos informou que deveríamos descer por mais um km até uma borracharia abandonada, aonde seria possível pegar um ônibus subindo a serra que possivelmente viria do bairro de Santa Rita. Esperamos, esperamos até que a bunda ficasse quadrada e nada de conseguirmos um transporte, muito menos uma carona. Com muito custo nos veio a informação que somente as 18 horas poderia haver um ônibus e nós ficamos lá abandonado a própria sorte até que um ônibus vazio e que não nos servia parou e nos avisou que ali não conseguiríamos voltar para casa nunca e nos ofereceu uma carona até mais acima na rodovia, aonde havia um ponto de ônibus que fazia a linha Juquitiba x Barnabés ou sei lá que fim de mundo dos infernos era aquele. O ônibus quando apareceu, a noite já havia caído faz tempo e em mais de hora de viagem, nos deixou na pequena rodoviária de Juquitiba e de lá conseguimos outro ônibus para a região metropolitana de são Paulo aonde cada qual se dispersou para um lado e eu voltei para minha aldeia em Sumaré, no interior Paulista. Essa Travessia expedicionária surgiu da vontade de poder explorar um mundo quase selvagens, ir à lugares ainda desconhecido pela maioria dos Paulistas. Poder botar nossos pés e arrastar nossa alma ávida de conhecimentos até lugares praticamente intocados, poder lutar e vencer a nós mesmo, poder cerrar os punhos e enfrentar uma natureza quase que desconhecida e entrar de um lado e sair do outro transformados, satisfeitos, inebriados e agradecidos por mais uma vez ir aonde poucos foram e principalmente por ter conseguido juntar uns amigos e conhecidos e ao final da jornada quase poder chamá-los de irmãos. Divanei Goes de Paula / maio - 2018
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