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Biografia de Cora Coralina: https://www.ebiografia.com/cora_coralina/ Terminamos ontem, domingo 24.06.2018, o mais novo Caminho do Brasil (Cora Coralina), situa-se no estado de Goiás, inicia na cidade de Corumbá de Goiás terminando no município de Goiás(antiga Goiás velho), terra da escritora que dá nome ao caminho. São aproximadamente 300 quilômetros de extensão, passando por alguns municípios e distritos do interior Goiano. Obs.: Paisagens magníficas, trilhas bem demarcadas(algumas difíceis), rica culinária, visualização de pássaros (destaco a quantidade de Araras e tucanos), receptividade incrível do povo Goiano, riquíssima cultura, muita histórias e estórias, foram 11 dias de muita alegria e tranquilidade, nenhum problema. Apesar desse caminho ter sido inaugurado a somente 2 meses, destaco que, pela quantidade de atrações, sinalização, apoio dos idealizadores, recebimento dos peregrinos, esse caminho, sem dúvida está entre os 5 melhores caminhos do Brasil. SHOW DE BOLA.
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Olá pessoal, A anos venho sonhando em fazer o Caminho de Santiago de Compostela, sonho de adolescente mesmo mas nunca me preparei a sério para isso. Porém depois de rodar um pouco por este mundo Portugal se tornou um dos meus lugares preferidos, por isso agora estou pensando em fazer o chamado Caminho Português. Sei que pouca gente conhece esta rota, mas ano após ano vem atraindo mais peregrinos e já chegou a 35 mil ano passado. Alguém mochileiro ai já fez? Ou tem vontade? A rota sai de Lisboa, passando por alguns locais famosos como Santarém, Tomar, Coimbra, Porto, Barcelos e Ponte de Lima, são aproximadamente 640 km, contra 800 km do Caminho Francês.
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Estrada Real a pé - Perguntas e Respostas - 2013 a 2015
casal100 postou um tópico em Trilhas de Longo Curso
1) - Jan/fev de 2013 - estrada real caminho velho. Foram aprox. 710 kms no total + 100 kms entre Paraty x aparecida + PN Itatiaia + visconde de mauá 2) - Julho/2013 - estrada real caminho diamantres (diamantina x Ouro Preto); 3) - Julho/2013 - Estrada Real caminho Sabarabuçu(Ouro preto x Glaura x Cocais) 4) - Janeiro/2014 - Estrada Real caminho Novo (Ouro Preto x Rio de Janeiro). Informações Básicas e Resumo geral: No final da postagem desse relato, informarei nesse post , todas as principais dicas sobre esse maravilhoso roteiro, bem como o resumão. Muitas pessoas já fizeram a E.R. à pé, mas pouquíssimas fizeram relatos sobre a viagem, com dicas, sugestões....... Procurarei dar dicas sobre: tempo de viagem em cada roteiro, locais de hospedagem e seus respectivos preços..... fotos, roubadas, ..... Alguns sites importantes da região: Ouro preto e os distritos: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_distritos_de_Ouro_Preto Estrada Real(planilhas e informações diversas): http://www.institutoestradareal.com.br/- 112 respostas
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Eu e minha esposa Magali decidimos em setembro de 2020 fazer a travessia. Começamos a planejar e nos preparar desde então. Definimos que a melhor data seria na semana santa pois seria mais fácil de conciliar férias, folga etc e ainda daria uma margem de segurança maior caso fosse necessário estender a travessia. Fomos com o objetivo de caminhar no mínimo 35km/dia mas tentar fazer 40km/dia, que reduziria em um dia a travessia. Inicialmente iríamos seguir no sentido sul (Rio Grande x Barra do Chuí), porém na semana que antecederia nosso início a previsão indicava maior incidência de vento sul e optamos em inverter, saindo da Barra do Chuí no sentido norte. Saímos de Itapema/SC de carro até a rodoviária de Pelotas/RS no dia 27/03 onde deixamos nosso carro e pegamos o ônibus até Chuí. Chegando em Chuí levamos 20min até conseguir um taxi para a Barra do Chuí (lá não existe Uber/99 etc). Pernoitamos em um Airbnb lazarento, mas enfim, a ideia era ficar bem próximo da praia para conseguir começar a caminhada cedo. Obs: não conseguimos sinal de celular na Barra do Chuí. Dia 01 Iniciamos a caminhada as 06:00 do dia 28/03/2021 com vento sul moderado. Nossa ideia inicial era fazer uma parada a cada 10km, porém preferimos tocar direto até Hermenegildo e nos abrigar do vento. Foram aproximadamente 13km até essa primeira parada. Aproveitamos para comunicar os familiares. Trocamos as meias e seguimos a caminhada. Logo ao passar Hermenegildo começou uma chuva leve. Vestimos a capa de chuva e continuamos. Poucos km a frente a chuva engrossou, porém não havia local para abrigo e continuamos a caminhada por mais 5km até encontrar um barraco de pescador onde nos abrigamos por aproximadamente 1 hora até a chuva passar. Ao longo do dia o sol ia e vinha. Como era domingo, vários moradores de Hermenegildo passavam de carro. Estávamos aproximadamente no KM 38, totalmente secos quando uma chuva torrencial nos atingiu. Sem possibilidade de abrigo, seguimos até completar 40km e montamos acampamento em meio as dunas (agora sem chuva). Nessa noite ventou pouco, porém a chuva recente e o orvalho que se formou acabou gerando um pouco de condensação no interior da barraca. Jantamos, cuidamos dos pés e eu percebi a primeira bolha inesperada (bolha nos mindinhos eu já esperava). Distância: 41km (areia fofa) Dia 02 Despertador tocou as 5:00, comemos, organizamos as coisas e levantamos acampamento. Eram aproximadamente 6:45 quando começamos a caminhar com as roupas e tênis molhados. Decidimos racionar a água para reabastecer na casa do Sr. Ricardo que possui poço e atingiríamos entre 10 e 11 horas da manhã. Faltando 1 km da casa do Sr. Ricardo, avistamos uma vaca deitada na beira da praia. Minha esposa achou que ela estivesse morta, mas eu percebi movimentos de orelha. Estávamos a 50mt dela quando nos observou e levantou assustada. Virou-se contra nós e avançou em nossa direção. Nesse momento tentei chamar atenção para mim e me afastei da minha esposa. Imediatamente empunhei os bastões como se isso fosse resolver alguma coisa. A vaca recuou e virou da direção da Magali quando pedi para ela ficar parada e fui até ela. A vaca ameaçou novamente e juntos erguemos os bastões lentamente até que a vaca recuou e se afastou pelo outro lado. Lentamente nos desviamos e seguimos nosso rumo. A adrenalina subiu bastante nessa hora e o susto foi enorme. Melhor que nada aconteceu e ficou apenas por isso. Chegamos na casa do Sr. Ricardo e chamamos por ele. Não estava, enchemos nossas garrafas e tratamos com cloro. Enquanto isso, aproveitamos a sombra para um descanso e para trocar as meias. Descobri uma nova bolha se formando em baixo do outro pé. Quando estávamos para sair chegou um veículo com 3 homens que estavam construindo uma nova casa para o Sr. Ricardo mais aos fundos (pois a atual está quase sendo tomada pelas dunas). Conversamos um pouco e seguimos nossa caminhada. Por ser 2a-feira, nesse dia praticamente não tivemos contato humano. Nesse dia encontramos o único caminhante que veríamos ao longo da nossa caminhada. Nos cumprimentamos, conversamos rapidamente e cada um seguiu seu destino. Nós querendo seguir e ele querendo terminar logo. No meio da tarde pegamos chuva novamente. Decidimos proteger os tênis com o saco que usávamos para atravessar os arroios pois não queríamos andar novamente com os pés molhados. Esse foi o pior dia e a pior noite, o dia todo foi um misto de "chega, vamos desistir, etc", por sorte não passou ninguém oferecendo carona. Quando paramos para acampar, ventava sudoeste e então montei a barraca abrigado por dunas nesse lado. Só havia abertura pequena para o leste e foi ai que começou nossa pior noite. Já estávamos dormindo (aproveitamos 21:30) quando o vento virou leste com chuva forte. Vacilei ao não reforçar o estaqueamento da porta que estava exposta ao leste e aconteceu o óbvio, o speck soltou e essa lateral "caiu". Fiquei sentado encostado no bastão para a lateral ficar de pé. Quando estiou sai à procura de algo para ancorar essa porta e achei um barril cortado que coloquei sobre o speck e enchi de arreia. Nessa noite continuou ventando muito e chovendo diversas vezes. Distância: 40km (areia fofa com bem pouca área firme) Dia 03 Despertador tocou as 5:00, estava chovendo e botei o soneca para + 15min. Continuava chovendo e seguimos dormindo até aproximadamente 6:15 quando parou de chover, então comemos e saímos para caminhar já eram 8:00. Decidimos que 30km estaria bom para esse dia. Seguimos +/- a ideia do dia anterior e racionamos a água para reabastecer no Farol Albardão que estava a 7-8km de distância. Fomos muito bem recebidos no Albardão onde bebemos água e reabastecemos todas nossas garradas. A água lá é potável, então não tratamos nem filtramos. Nesse dia percebemos que uma parada a cada 10km não era sustentável e decidimos parar a cada 7km. Nesse dia comecei a sentir fortes dores na junção do fêmur com o quadril e comecei a "mancar" para não estender a perna e doer mais. Assim foi praticamente até o final da travessia. Outro dia que tivemos pouco contato humano e com pouco vento, dessa vez sentido leste. Apenas no final do dia quando chegamos na área de reflorestamento que avistamos 2 caminhões saindo de uma área indo no sentido norte. Quase no final do dia, avistamos um morador indo recolher sua rede. Perguntamos se conhecia algum lugar bom para acampar na região querendo ouvir um "pode acampar no lado da minha casa" mas veio um "lá naquela baleia tem uma base do reflorestamento, talvez consiga lá". A tal baleia estava a uns 3-4 km e já estava começando a anoitecer. Deveríamos nos arriscar a andar toda essa distância e chegar lá de noite correndo o risco de nem achar a base? Preferimos seguir mais 1km e acampar em meio as dunas altas. Dessa vez ancorei muito bem praticamente todos os lados da barraca para não ter surpresas. Novas bolhas para cuidar. Dormimos magnificamente bem. Como todas as noites anteriores, choveu bastante durante a noite. Distância: 35km (areia fofa) Dia 04 Despertador tocou as 5:00, comemos, organizamos as coisas e levantamos acampamento. Nesse dia acreditamos que seria difícil manter o ritmo e terminar em 6 dias. Já aceitamos que precisaríamos de 7 dias. Porém mantivemos o desejo de fazer os 35km. O dia foi bastante movimentado, muitos caminhões, ônibus, etc. Sabíamos que agora a água viria apenas dos arroios, porém perto das 11:00, quando devíamos ter apenas 1 litro de água, vimos um quadricíclo vindo em nossa direção. Pedi para parar e perguntei se sabia de algum ponto de água pela frente. Conversamos um pouco e o Mauro, funcionário da empresa de reflorestamento, se ofereceu para ir pegar água na base deles. Deixamos nossas 4 garrafas de 1,5lt com ele. Uma hora depois ele passou por nós e falou que deixou as garrafas em uma placa mais a frente para que não precisássemos carregar todo o peso. Caminhamos uns 2km até chegar nas garrafas, tratamos e filtramos. Ficamos absurdamente contentes, não tinha como ficar mais contente. Próximo das 15:00 uma caminhonete branca nos intercepta. São funcionários da empresa de reflorestamento. Conversamos um pouco e eles falam (se pedirmos) que iriam trazer água para nós quando voltassem. Ganhamos o dia e agora não tinha mais como melhorar mesmo. Uma hora depois passa outra caminhonete igual (também da empresa) e pergunta se queremos algo (água, comida, fruta etc). Respondo que aceitamos qualquer coisa, mas principalmente água. Ele diz que na volta trará algo para nós. Continuamos a caminhada e com o sol de pondo resolvemos achar um local para acampar. Enquanto montava a barraca a esposa ficava nas dunas de olho se vinha alguma caminhonete. Quando terminei de montar a barraca, avistei um veículo vindo e como já estava escuro sinalizei com a lanterna. Dois santos que caíram do céu. Nos trouxeram 4 litros de água tratada e gelada (com pedaços de gelo ainda). Não só isso, trouxeram duas marmitas e frutas. Estávamos nos sentindo reis. Só então percebemos que montávamos acampamento praticamente na entrada de uma base deles e nos falaram que o movimento de caminhões ali seria a noite toda pois a operação deles é 24hrs. Nos ofereceram ficar em um alojamento vago. Agora certamente não tinha como melhorar. Decidimos aceitar o convite pois o local onde estávamos era de dunas baixas e o vento provavelmente iria incomodar. Caminhamos quase 2km até chegar na base e nos deparamos com o inimaginável, além de tudo que já tinham nos oferecido, poderíamos tomar um banho quente em chuveiro a gás. Nossa energia se renovou absurdamente nessa noite. Decidimos dormir uma hora a mais nessa noite pois não precisaríamos arrumar muita coisa pela manhã. Agradecemos ao pessoal que nos recebeu e principalmente ao Rodrigo (encarregado). Pegamos seu contato para agradecer novamente quando concluíssemos. Nesse dia outras bolhas surgiram e algumas antigas começavam a parar de incomodar. Distância: 42km (enfim, areia firme) Dia 05 Despertador tocou as 6:00, comemos, organizamos as coisas, reabastecemos nossa água, nos despedimos do pessoal e começamos a caminhada. Pela distância percorrida no dia anterior, decidimos que esse dia seria de luxo, 35km bastaria. Saímos dá área do reflorestamento e começamos a avistar as torres geradoras de energia eólica. Que visão horrível. Você começa a enxergar elas a 20-25km de distância, então caminha, caminha, caminha e caminha ainda mais e nunca chega. Esse dia foi um dia caminhando olhando apenas para baixo, pois era desmotivador. Esse foi o 1o dia que não pegamos chuva na caminhada. O vento estava moderado a forte no sentido leste, o que fez com que a maré estivesse acima do normal, nos forçando a subir para areia fofa em vários momentos. Ao final do dia, chegamos em um trecho de dunas baixas e já bateu aquela sensação ruim para achar um local bom para acampar. Nós não queríamos ter que andar 500-700 metros para chegar nas árvores, querendo ou não é uma distância que pode fazer a diferença e em terreno ruim. Atravessamos o primeiro grande arroio e achamos um ponto menos exposto. Ancorei bem a barraca e dormimos igual reis. Distância: 38km (alternando entre areia firme e fofa) Dia 06 Despertador tocou as 5:00, comemos, organizamos as coisas e levantamos acampamento. Esse seria o primeiro dia para captar água nos arroios. Estávamos com 1 litro de água e a esperança era conseguir água com quem passasse, afinal era feriado e teríamos movimento. Passou o primeiro carro e nada de água. Logo chegamos a outro arroio grande e decidimos captar água ali e garantir. Pegamos 4,5 litros, tratamos e filtramos. Esse dia estava puxado, o vento resolveu querer dificultar e virou norte moderado. Foi o dia todo contra o vento, mas nada nos seguraria. Muitos arroios pela frente, já estávamos exaustos de colocar e tirar a sacola nos pés, mas assim o fizemos durante todo o dia. No 4o ou 5o arroio a Magali não olhou bem o terreno e entrou em uma arreia movediça, ficando com os 2 pés enterrados até acima do tênis. Falei para não tentar sair, fui até ela e puxei ela pela cargueira. Saiu fácil mas encharcou os pés e os tênis. Andamos, andamos, andamos e a quilometragem não andava. Parecida que estávamos em uma esteira, andava sem sair do lugar. Dia bem movimentado, carros, motos, ônibus, bicicletas e o primeiro cachorro de toda travessia. Esse foi o 2o dia que não pegamos chuva na caminhada. Enfim chegamos a praia do Cassino, mas ainda tínhamos 13 km pela frente. Parece que foi a parte mais longa da travessia. A praia estava muito movimentada devido ao feriado. Às 16:30, enfim, chegamos aos molhes. Ficamos sem reação, apenas sentamos e aproveitamos o momento. Decidimos pegar um Uber até Pelotas e retornar direto para casa. Distância: 34km (areia firme) Distância total: 230,74 km Equipamentos que levamos: Murilo Magali Se alguém querer, posso passar também a relação dos alimentos levados. Tracklog
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Na vastidão do deserto, somos dois pontos perdidos a meio caminho de lugar nenhum. O vento sopra de leste para oeste e vai penteando as dunas, levantando uma fina camada de areia, que se amontoa junto a uma lagoa, refletindo a luz cintilante do sol, que naquela tarde de inverno, chega a impressionantes 32 graus de temperatura. Do topo da duna, acompanho a trajetória do astro rei, enquanto me deslumbro com a cena da minha filha, imersa nas águas prateadas, se preparando para passar a noite num dos mais incríveis cenários do mundo. Quando o sol se deita, logo a lua cheia se levanta e ilumina nossa barraquinha e aí nos damos conta da grande aventura que estamos vivendo, do momento mágico que estamos presenciando. Estamos a um dia de caminhada de qualquer lugar onde se possa ver uma face humana, somos testemunhas da solidão, do isolamento e escolhemos por conta própria, sermos parte daquele sonho, senhores do nosso próprio destino, testemunhas de uma vida cheia de simplicidade, desapego e deslumbramentos. Quando nosso avião pousou em São Luís - MA, partindo de Campinas-SP e chegando ao destino, às três da madruga, mal colocamos os pés para fora do aeroporto e já nos vimos sequestrados pelas vans que seguem de madrugada para Barreirinhas, tecnicamente a capital dos Lençóis Maranhenses. Fomos arrastados sem termos tempo nem de nos manifestarmos e quando vimos, já estávamos à caminho, numa viagem de mais ou menos 5 horas por estradas ruins. Barreirinhas é uma cidade não muito grande, mas é o local mais movimentado da região, bem às margens do Rio Preguiças e é junto às dezenas de barcos, que somos desovados pelas vans, e ainda cabeceando de sono, ficamos por ali, tentando nos localizarmos, tentando compreender melhor a geografia do lugar, enquanto alguns agentes de viagens tentam nos vender algum pacote, algum passeio, mas queremos mesmo é achar uma hospedagem para podermos descansar e traçar um plano. Fazer a GRANDE TRAVESSIA DOS LENÇOIS MARANHENSES, era um sonho antigo, mas o fato de conseguir tirar férias somente no verão, inviabilizava qualquer projeto, já que no fim do ano, as lagoas já estão secas e a data fica quase imprestável. Por isso fomos sempre adiando e me parece que cada coisa tem seu tempo, já que agora, além de conseguir féria em final de junho, ainda teria a possibilidade de viver esse sonho com a minha filha, mas para isso era preciso montar uma estratégia, uma logística quase perfeita e que nos desse a possibilidade de viver uma das mais extraordinárias jornadas das nossas vidas. Uma coisa era certa e disso a gente não abria mão: Queríamos fazer a travessia independentes, sem a necessidade de um GUIA. Não que a gente não achasse importante o profissional, mas no estágio que havíamos chegado, depois de 25 anos de andanças pelo Brasil e fora dele, não me via mais com a necessidade de um, para caminhar em nenhum lugar desse país, se não fosse obrigado. Outra coisa, era que, por decidir não depender de ninguém, também queria estar autosuficiente, desejava andar com todos os equipamentos de segurança para poder resolver os problemas, sem vir a ter que recorrer a nenhuma ajuda. Mas para andar com um nível de segurança pleno, ainda mais estando responsável por carregar minha filha, teria que escolher os equipamentos a dedo, mesmo que isso me custasse andar com uma cargueira cheia. Consultando alguns amigos que lá estiveram, fui aconselhado a não levar blusas, sacos de dormir e deixar a barraca em casa, já que os pernoites seriam feitos nos chamados OÁSIS, lugarejos perdidos no meio do deserto. Os sacos de dormir e as blusas, até cheguei a tentar persuadir minha filha a deixá-los, mostrando para ela que a previsão no deserto estava por volta de 26 graus à noite, mas não teve jeito, ela não arredou pé, segundo ela, não queria correr nenhum risco num fim de mundo novo, desconhecido até então para ambos. Já a barraca, essa foi eu mesmo quem se recusou a deixá-la, porque se algo acontecesse, queria ter uma proteção sobre nossas cabeças, seria nosso porto seguro, seja lá em que lugar fosse. Para caminhar, decidimos que usaríamos as papetes, sandálias de couro, inclusive, cagando e andando para o que iriam pensar, embarcamos com elas até dentro do avião, feito uns molambos, foda-se. E para completar, levamos fogareiro a álcool, panelas, e todos os utensílios de cozinha necessários, além de comida reserva para quando tudo falhasse, além dos equipamentos básicos de primeiros socorros, lanternas, capas de chuva, enfim, estávamos pronto para sobreviver no deserto , como se fosse nas nossas expedições pelas grandes montanhas e florestas do Brasil. De volta à Barreirinhas , conseguimos uma hospedagem barata e depois fomos nos perder pela cidade, comer uma comidas típicas e apreciar a cultura local. O que nos chamou a atenção, foi o número absurdo de motocicletas, onde capacete não existe e famílias inteiras se penduram numa só moto, inclusive carregando recém-nascidos, algo inimaginável para nossa cultura aqui do Sudeste. Fomos até o píer comprar a passagem que nos levaria para ATINS no dia seguinte, lugar onde oficialmente começa a travessia a pé. E há vários jeito de se chegar lá : a pé , por quase um dia de caminhada pelas estradas de areia, de carro , balançando numa espécie de pau de arara de luxo , pegando o barco e navegando pelo rio Preguiças direto para o litoral( Atins) ou pelo melhor jeito , que é o passeio completo , também pelo Rio Preguiças, mas parando em tudo que é vilarejo, uma experiência incrível que vai lhe introduzir nos PEQUENOS LENÇOIS, uma prévia sensacional do que virá. DE BARREIRINHAS ATÉ CANTO DOS ATINS Compramos o passeio completo por 70 reais, não sei se é barato ou caro, muito porque , depois de Barreirinhas quase tudo é inflacionado e rola uma espécie de cartel até entre os nativos dos oásis. Às nove da manhã, nos apresentamos no lugar marcado, com nossas cargueiras, contendo tudo que tínhamos para 15 dias de viagens, tudo que havíamos trazido de São Paulo estava com a gente, o que usaríamos na travessia e o que não usaríamos. No porto, não encontramos ninguém que iria fazer a travessia a pé, só uma multidão de turistas indo para todos os lados. O Barco partiu e já ganhou a curva para o norte em direção ao litoral, deixando para trás, uma grande duna de areia que ameaça engolir parte da cidade. O Rio PREGUIÇAS é extremamente lindo e a navegação vai nos surpreendendo o tempo todo, com paisagens muito parecidas com a Floresta Amazônica, qualhado de buritis e todo tipo de palmeiras, até que o piloto faz um atalho e nos diz que aquele caminho, que corta uma grande curva do rio, foi talhado a mão. Não demora muito, somos surpreendidos pela lancha do Instituto Chico Mendes em conjunto com a Marinha do Brasil e logo nos vemos com uma metralhadora apontada para nossa cara. O fiscal faz um teatro danado quando o condutor do barco diz que não estava com os documentos da embarcação, mas logo percebemos que o tal fiscal era amigo do piloto e fez o teatro para impressionar, dizendo que ele teria que aportar mais à frente e só poderia seguir depois que fosse trazido todos os documentos, estava blefando, claro. A nossa primeira parada é simplesmente mágica, é quando você é apresentado oficialmente aos Lençóis Maranhenses, na verdade, aos Pequenos Lençóis, uma prévia do que a gente vai encontrar pela frente. Mas ao desembarcar, antes mesmo de ver a primeira lagoa, as boas-vindas são dadas pelos inúmeros macacos prego, que vão fazer de tudo para tentar abocanhar alguma comida, caso você esteja com uma, apesar das placas dizendo para não os alimentar. Estamos no lugarejo conhecido como VASSOURAS, tão minúsculo que eu não consegui enxergar mais que duas ou três casas. Mas se o cenário parece um tanto bucólico, com aquelas atrações onde deixa transparecer o clichê de que no Brasil, macaco anda na rua, não se engane, quando se sobe as dunas, atrás do vilarejo, seu queixo vai despencar na areia. Lagoas incríveis se apresentam, com dunas gigantes no horizonte, esse é o primeiro contato real com o paraíso, aprecie essa beleza, mas lembre-se de que coisas grandes é o que viemos buscar. Retomamos a viagem de barco e logo descemos em Mandacaru, na margem esquerda do rio. Um vilarejo pobre, formado por pescadores, onde a sua maior atração é o FAROL PREGUIÇAS, que infelizmente estava fechado para subir, mas ainda com acesso livre à visitação. O farol é bem bonito, um dos mais belos que já visitei, mas foi uma visita rápida, uma foto e já estávamos voltando para o barco que em mais 15 minutos nos levou para o vilarejo de CABURÉ. Em Caburé é onde se para na hora do almoço, mas os preços não são nada convidativos, coisa de 110 reais para duas pessoas por pratos simples, então eu e a Julia decidimos que não comeríamos ali, aproveitaríamos o tempo para conhecer a praia e as cabanas de pescadores. E foi realmente uma decisão muito acertada, porque é um espetáculo aos olhos o passeio na praia com as Usinas EÓLICAS de cenário e os ranchos de buriti , feitos para abrigar os pescadores por dias, enquanto esperam que os peixes caiam nas suas redes. Os ranchos tem uma construção próprias, feitos para abrigar do vento e do sol, com algumas tarimbas e poços para retirar água doce da areia da praia, uma engenharia bonita de se ver e como todos estavam vazios, pudemos entrar e conhecê-los, um passeio e tanto. A última e derradeira parada é o vilarejo de ATINS, mas antes de lá chegar, vamos nos deslumbrando com as gigantes construções das usinas Eólicas, grandes pás girando com a constância do vento que nunca para de soprar, nesse momento, somos D. QUIXOTE sem cavalo, absorvidas pelos gigantes que nos fascina. Pouco depois das 2 da tarde, encostamos perto do vilarejo de ATINS e para nossa surpresa, não vimos nada, nem casa, nem vila e muito menos um porto para desembarcarmos. A descida do barco é feita ali, de qualquer jeito, parecendo que éramos clandestinos tentando entrar ilegalmente em algum lugar. Na areia, várias caminhonetes com bancos tipo pau de arara, esperavam para levar para alguma pousada, todos os turistas que ali desembarcavam, vindos com a gente, no nosso barco e também de outras embarcações. Mas nós não, nós ficamos como cachorros que caem do caminhão da mudança, perdidos, sem saber nem qual direção seguir, com uma cargueira enorme nas costas, pés na areia, sol na cabeça, apreensão no coração. Tomamos um rumo que achávamos coerente, mas antes de darmos meia dúzia de passos, liguei meu GPS, anotei nosso ponto de partida e a partir de agora, estávamos oficialmente iniciando nossa TRAVESSIA e por 6 dias, somente um meio de transporte nos levaria ao nosso destino, o melhor meio de transporte que se pode ter, o único capaz de nos levar a qualquer lugar sobre a face da terra, NOSSAS PERNAS. Com o estomago nas costas, viramos à esquerda na primeira rua que vimos junto a praia ou foz do rio Preguiças, passamos por um córrego de águas escuras e vendo que a rua de areia não tinha saída, viramos à direita e interceptamos o que nos pareceu ser a estrada principal, uma rua mais larga, igualmente de areia fina, num lugar meio desolador, num sol escaldante, já que dentro desses vilarejos, costuma ventar pouco. Andamos umas 2 centenas de metros e descobrimos um pequeno restaurante aberto com Prato feito a 25 reais e como a fome já estava de matar, jogamos nossas mochilas ao chão e nos deleitamos com o banquete simples, que não passou de arroz, feijão, peixe frito e uma saladinha de tomate e um guaraná Jesus, porque a fome é o melhor tempero. Com a barriga cheia e diante de um calor infernal, a Julia ficou questionou se valeria a pena enfrentar quase 3 horas de caminhada até o próximo destino, já que a tarde já ia alta, mas eu bati o pé, queria aproveitar aquele resto de dia para adiantar a travessia. Então jogamos as mochilas às costas e partimos, deixando para trás as casas do vilarejo, adiantando passo nas ruas de areia, que por vezes eram cruzadas por rios que tinham que ser atravessados com a água pela cintura. De olho no mapa, fomos avançando, até que sem percebermos, fugimos da estrada principal e acabamos por pegar algumas alternativas que parecia que nos devolveria de novo ao tronco certo da estrada. E foi mesmo uma sorte ter errado o caminho, já que acabamos colando nas dunas dos Lençóis, onde uma placa nos avisa que é proibido adentrar naquela área com carros particulares e somente carros cadastrados são permitidos, mas como não falava nada de pessoas caminhando, demos de ombros e seguimos, um pé a frente do outro, numa caminhada linda, uma planície cheia de pequenas lagoas rasas, margeadas por dunas gigantes de areia. O sol baixou e o cenário ficou bucólico, não conseguíamos enxergar onde estaria essas tais casas que deveríamos achar. Resolvemos então, cortar caminho e seguir nossa intuição, até que interceptamos a estrada principal e por ela seguimos, até que vimos surgir a nossa frente, um amontoado de meia dúzia de casas espalhadas e numa delas, do outro lado de uma lagoa, uma mulher veio nos atender e sem ouvir nada do que ela dizia, atravessamos a lagoa até adentrarmos no portão e nem precisava perguntarmos onde estávamos, a placa já denunciava ser ali o RESTAURANTE E REDÁRIO DA LUZIA, um dos pontos de apoio em CANTO DOS ATINS, um fim de mundo a meio caminho entre o litoral e as dunas. A área do restaurante é enorme, mas o redário não passava de uma cobertura mequetrefe, sem paredes, onde a chuva poderia surpreender caso viesse com vento. Os preços são extremamente salgados pela estrutura oferecida, inclusive, como eu havia dito, há um cartel e todos cobram o mesmo preço: São 50 reais pela rede com café da manhã e mais 50 reais pelo prato feito, talvez o PF mais caro do mundo, mas não se engane, você vai pagar com gosto depois de um dia inteiro de caminhada. Mas ainda não era o nosso caso e como vimos que o tempo estava para chuva, resolvemos optar por um quartinho fuleira que custava 10 reais mais caro, mas poderíamos descansar bem, para no dia seguinte poder pular da cama bem sedo. As instalações eram bem ruins, mas não estávamos ali atrás de luxo nenhum, ao contrário, fomos buscar simplicidade. Se pouco ligamos para as instalações ruins, muito nos aborreceu o atendimento. A D. Rita não estava e o estabelecimento foi deixado a cargo de um pessoal mais jovem, mas com uma má vontade incrível de fazer as coisas, mal respondia o que perguntávamos. Como tínhamos almoçado tarde, tentamos descolar algo para comer que não fosse propriamente uma janta completa, mas a má vontade das pessoas nos fez optarmos por fazermos uma jantinha básica dentro do quarto mesmo. Eu de uma próxima vez, trocaria essa opção pela do seu Antônio, que é bem ao lado, talvez tivéssemos mais sorte. DE CANTO DOS ATINS ATÉ O ACAMPAMENTO SELVAGEM Combinamos de tomar café às 4:30 da manhã e você tem essa opção de escolher os horários em qualquer lugar, mas as 4 horas desabou uma tempestade que não víamos a muito tempo. E choveu e trovejou e relampeou. Acabamos saindo da cama somente as 7:30, tomamos café (servido com uma má vontade de espantar) e partimos. O nosso caminho começa por logo sedo, atravessar a lagoa, que agora, depois da tempestade, havia virado um oceano. Passamos entre as duas casas, se valendo de uma rua de areia, viramos à esquerda, logo a direita e fomos curvando novamente para esquerda até nos vermos meio que paralelos ao mar, que só ouvíamos o barulho das ondas ao longe, sem poder enxergá-lo. A caminhada é paralela ao mar, mas sem ainda conseguir botar os olhos neles, talvez pelas pequenas dunas que nos trava olhares mais distantes, mas 2 km depois de partirmos do abrigo, talvez uma meia hora, nos chama atenção uns ranchos de pescas e abandonamos nosso caminho para investigar. É realmente uma maravilha essas construções, esses ranchos e sinceramente, ao invés de dormir lá no alojamento, de uma próxima vez eu dormiria nesses ranchos, secos , bem construídos e que colocaria uma charme maior nessa travessia. Vinte minutos depois já estamos com o mar sob nossos olhares e ao invés de ser uma caminhada enfadonha, acaba se transformando numa paisagem bem bonita. Vamos cruzando incontáveis rios e riachos, margeando lagoas e vegetação rasteira, até que uma elevação nos chama a atenção e o que nos pareceu ser uma construção, não passava de uma formação rochosa, uma pedra furada. Uns 6 km após partimos do Alojamento, fomos obrigados a parar para analisar nossa saída do litoral e programar nossa entrada definitivamente para o interior do deserto. Essa parte do litoral, a turistada faz contratando um 4 x 4 e vai até um lugar, acho que um RANCHO que chamam de BONZINHO, mas eu não faço a mínima ideia de onde seja, muito porque, é necessário tocar mais uns 5 km pela praia e encurtar o caminho até Baixa Grande, o próximo destino de todo mundo. Mas o nosso roteiro está longe de seguir esse caminho, minha intenção era a partir dali, virar à esquerda e nos enfiar definitivamente no vazio, o que nos proporcionaria uma experiência jamais vivida, esse era o plano, essa era a estratégia, talvez um pouco ousada porque jamais havíamos tido contato com esse tipo de terreno, mas eu não abria mão disso, para isso havíamos discutido o projeto, para isso estávamos com uma cargueira enorme nas costas, havia chegado a hora de nos despedirmos da civilização, mas ainda tínhamos que alcançar o último ponto habitado ou com vestígio de moradia, que era um grande RANCHO DE PESCA, uns 200 metros afastados da praia, onde ao longe já enxergamos um bode pastando. No rancho, não encontramos ninguém, mas era um rancho com sinal de que pessoas passavam por ali constantemente, já que um gato tomava conta do local, mesmo que ninguém tomasse conta dele como deveria. Com dó do bichinho, abrimos a porta do rancho e pegamos um pouco de água para abastecê-lo e ficamos com o coração partido por não termos nada de comida pronta para deixar para ele, torcendo que o morador esporádico, voltasse logo. Agora seríamos somente eu e a Julia, pai e filha numa jornada solitária, se apegando um ao outro pelos próximos 5 dias. Apontei minha bussola e meu nariz para SUDOESTE, jogamos as mochilas nas costas e partimos, com a alma livre e o coração preso, fomos em busca de uma vida de aventuras, fomos fazer história, não para o mundo, que nem sabe que existimos, mas a nossa própria história de vida, história essa que compartilho a seguir com quem possa interessar. Nos despedimos do gato e do bode, atravessamos um riacho, onde atolamos até a canela e já ganhamos as areias das dunas e não levou 15 minutos para a gente ser definitivamente apresentados às lagoas da travessia. Era dia 25 de junho, uma sexta feira de inverno, mas o sol brilhava como nunca, com uma temperatura de 32 graus e vento soprando de leste, nos trazendo uma sensação muito agradável. A lagoa de aguas levemente amareladas pelas algas presentes no fundo, contrastava com a branquidão das dunas ao redor. As mochilas foram jogadas ao chão e delas retirados alguns petiscos, mas as roupas continuaram no corpo e foi com elas que nos atiramos para dentro da água, que mesmo ainda sendo pouco mais de 10 horas da manhã, estava quente, numa temperatura agradável, estava inaugurado o primeiro de centenas de banhos daquela travessia. Tínhamos um objetivo claro, como todos que partem para essa travessia, seja lá que caminho acabem pegando: chegar ainda hoje no OÁIS DE BAIXA GRANDE, mas, porém, entretanto, todavia, não tínhamos compromissos com o tempo, aliás, não tínhamos compromisso com coisa nenhuma, tempo era o que tínhamos de sobra. A caminhada vai seguindo, enquanto vamos tentando nos adaptarmos com o novo e desconhecido terreno, vendo o que é preciso ajustar nas cargueiras, testando o que melhor funciona, andar descalço ou com as papetes (chinelas de couro). Minha filha prefere se manter calçada, mas eu já havia pendurado as chinelas, achei que era menos atrito para os pés, mas não tinha certeza se seria mesmo uma boa ideia andar com os pés nus, era questão de tempo para ver o que seria melhor. No meu celular, um caminho previamente marcado para nos dar sempre um norte , uma direção, mesmo porque, o deserto do ano passado, não é mais o desse ano, as dunas mudam de lugar, as lagoas enchem ou esvaziam, novas surgem e outras desaparecem. Menos de 15 minutos depois, tropeçamos em outro lago, dessa vez com águas esverdeadas, ainda mais bonita que a anterior. Por enquanto, estávamos numa espécie de vale, um corredor entre grandes dunas que avistávamos ao longe e para lá fomos nos guiando, sempre cruzando por algumas pequenas lagoas, descendo ao fundo de algum vale que ligava uma lagoa à outra. Esperávamos uma caminhada dura, até meio enfadonha, subindo várias dunas até que uma ou duas horas depois, poderíamos aproveitar alguma lagoa, mas estávamos REDONDAMENTE ENGANADOS. Começamos a notar, que não se passava nem 15 minutos para que estivéssemos com o corpo, os pés e até o pescoço chafurdado dentro da água. A ficha começou a cair aos poucos, principalmente quando ao subirmos a encosta de uma grande duna, ela despencou vertiginosamente para dentro de uma lagoa do tamanho do mundo, donde bodes selvagens corriam de um lado para o outro, que ao notarem nossa ilustre presença, fugiam assustados. Eram lagoas não muito fundas, com muita vegetação, um jardim de possibilidades que iam transformando tudo que pensávamos a respeito dos Lençóis. O mundo não era só de areia e água como imaginávamos. Quanto aos bodes, ficamos sabendo que tinham donos, mas nasciam muitos sem o contato com humanos, ficavam lá, seres do mundo e seres do mundo não costumam ter donos, o mesmo que buscávamos nessa viagem, não ter donos, não sermos guiados por ninguém, seríamos viajantes ao sabor do vento, da água e da areia. Uma lagoa prateada é cruzada, uma verde-azulada deixada para trás, uma duna subida, para logo em seguida, um mundo de mais areia e água fazer com que a gente nos detivéssemos novamente. Aquilo era algo que nunca imaginávamos existir e por mais fotos e vídeos que tenhamos vistos dos Lençóis Maranhenses nesses últimos anos, nos custava acreditar naquilo que nos passava à frente dos olhos. Era o nosso cérebro tentando se adaptar a algo que lhe era estranho. O corpo parecia querer se aprumar para melhor compreender o que ali se passava e a cada passo que dávamos rumo ao interior do DESERTO MAIS MOLHADO DO MUNDO, nossa cabeça tendia a recalcular as mensagens recebidas. Com a caminhada deslanchando, começamos a ver que a dinâmica era sempre a mesma: Depois de uma lagoa, subíamos uma duna que era penteada com o vento, deixando suas costas duras e fáceis de subir, para em seguida, despencar para dentro de alguma lagoa, nenhuma igual a outra, cada uma com um cenário único, cada uma com uma cor própria. Eram lagoas rasas, fundas, grandes, pequenas, secas, com vegetação, com bode, sem bode, com alga, sem alga, era uma infinidade de possibilidade que em nenhum momento a caminhada se quer passava perto de ser monótona, pelo contrário, eram os adjetivos para classificar cada lagoa que iam escasseando do vocabulário. Ao meio dia e mais de 20 km de travessia desde que partimos lá de ATINS e umas 4 horas de caminhada de Canto dos Atins, paramos para um breve almoço junto a uma lagoa esverdeada com algas lindíssimas. Apesar do calor intenso, uma coisa é muito legal nos Lençóis, além de ventar um pouco, o que deixa o clima agradável, o próprio vento não deixa com que a areia fique muito quente a ponto de queimar os pés. Outro fenômeno que é incrível, é que a água não chega a ficar quente a ponto de incomodar, pelo mesmo fenômeno do vento que acaba resfriando-a um pouco e mantendo a areia do fundo da lagoa quentinha, então é a sensação mais incrível de bem-estar que se possa ter ao adentrar uma lagoa dessas. Você entra e se não se der conta, vai ficar lá para o resto da vida. O dia vai passando, as lagoas vão sendo cruzadas e são tantas e tão diferentes que fica difícil narrar aqui uma por uma. Depois das 13 horas resolvemos ir gastando nosso tempo em brincadeiras memoráveis, aqueles que largamos as mochilas e despencamos dunas à baixo , explodindo nas lagoas fundas. Aqueles eram momentos de pura diversão, de puro desapego , éramos dois perdidos no ócio, ligando pra coisa nenhuma , mas chega uma hora que é preciso começar analisar o tempo e a distância do oásis de Baixa Grande e percebemos que se quiséssemos dormir nele, precisaríamos parar e acelerar um pouco. Antes das 14 horas, um lago mais seco acaba marcando nossa virada definitivamente para OESTE, foi quando a Julia achou que daríamos conta de cumprir o roteiro completo do dia, mas eu já não tinha essa certeza toda não. Grandes dunas vão surgindo, o cenário vai ficando cada vez mais impressionante, o horizonte vai se pontilhando de lagoas para todos os lados e mesmo quando temos que descer até alguma mais seca, rios atravessassem grandes baixadas, num cenário de sonhos. Por vezes, encontramos lagoas mais profundas, que tinham que ser contornadas, mas eram raras as vezes que usávamos esse artifício, porque eu sempre procurava cruzar por dentro, carregando até a mochila da Julia quando pressentia que ela poderia ter problemas, deixando-a livre para nadar, caso fosse preciso. Mas, mesmo a areia não sendo muito fofa, chega uma hora que o corpo já começa a dar sinais de desgaste, afinal de contas, as 15 horas já fazia mais de 7 horas que estávamos envoltos em pernadas intensas, então tentamos apertar o passo com o objetivo de chegar há algum lugar onde pudéssemos vislumbrar a possibilidade de um camping. Cada passo que dávamos, cada lagoa que cruzávamos, não encontrávamos nada que nos deixasse satisfeito. Claro, poderíamos colocar nossa barraquinha em qualquer lugar plano, porque água não ia faltar, mas pretendíamos encontrar um lugar bem abrigado do vento, mas quando esse lugar era encontrado, era dentro de uma lagoa seca, então passávamos reto e seguíamos em busca do lugar perfeito. A gente começou a cruzar por cristas de dunas, onde algumas, com lagoas secas, parecia bocas de vulcões. Todas nos pareceu abrigadas, mas nós ainda buscávamos alguma com água dentro. Não que faltasse lagoas cheias, longe disso, não se passavam 15 minutos sem trombarmos com uma, mas nenhuma delas nos oferecia abrigo que esperávamos, até que numa curva de uma crista de areia branca, o lugar perfeito nos saltou aos olhos e nem precisou que consultássemos um ao outro sobre a possibilidade, nós dois sabíamos que aquele lugar era o mais perfeito possível. Uma duna gigante, uma lagoa rasa e de águas cristalinas, bem abrigada, num lugar lindíssimos, era tudo que eu sonhei quando resolvi planejar aquela travessia com uma cargueira nas costas, era aquele momento que eu esperava. Jogamos as mochilas ao chão e demos por encerrada nossa jornada naquele dia mágico. Eu estava no limite da minha capacidade emocional, mais um pouco e eu aumentaria aquela lagoa com lagrimas. Passava da 4 da tarde e o sol já estava nos preparativos para logo mais ir se deitar a oeste. Antes de mais nada, aproveitamos para tomar um belo de um banho, o centésimo quadragésimo terceiro daquele dia. Logo depois, aos pés da duna gigante, montei nossa barraquinha com a porta voltada para oeste, a fim de evitar que a areia das dunas entrasse pela porta. Me organizei para fazer uma boa de uma janta, mas antes, joguei para dentro da barraca nossos sacos de dormir, um trambolho inútil que serviu apenas para forrar o chão, já que a temperatura era extremamente agradável. Para cozinhar, levamos uma espiriteira (fogareiro a álcool), optamos por ele porque não é possível carregar gás no avião e não teríamos tempo de procurar em São Luís. O vento atrapalha um pouco, mas safo como sempre fomos, já tratamos de fazer uma cobertura com uma toalha e resolver a contenda. Enquanto o arroz cozinhava lentamente, minha filha foi tomar o derradeiro banho do dia e eu subi a duna para apreciar o pôr do sol. Do alto daquele monstro de areia, sentei-me confortavelmente e fui acompanhando o cenário ao meu redor. O sol derramava uma luz cintilante, deixando a lagoa mais abaixo, toda prateada. Dentro da lagoa, minha filha se esbaldava com a água quentinha e ao lado dela, nossa morada provisória insistia em me informar que estávamos prestes a passar a noite num dos lugares mais isolados do Brasil, longe de qualquer lugar habitado. O acaso, o destino, havia nos levado até ali e as chuvas da madrugada, que caíram torrencialmente e nos fez começar tarde aquela caminha, fazendo com que não tivéssemos tempo de atingir o oásis, acabou apenas por se tornar uma grande desculpa. Verdade mesmo, é que já tinha a intenção de viver essa experiência única no deserto com a minha filha e quando o tempo foi se esvaindo pelos dedos, por dentro eu fui comemorando a possibilidade de podermos acampar. O dia se foi, a noite caiu, jantamos e nos pinchamos para dentro da barraquinha. A temperatura continuou agradável e uma leve brisa continuou a soprar a noite, jogando fragmentos de areia na nossa casa. Por incrível que parece, alguns mosquitinhos apareceram, nada demais e foi só fechar o mosquiteiro para nos sentirmos confortáveis. A Julia apagou imediatamente, mas eu ainda fiquei um tempo remoendo emoções vividas . Dormi umas 7 da noite e lá para a 11, saí da barraca para apreciar uma lua cheia de encher os olhos. O deserto iluminado pela lua é qualquer coisa de sensacional, acho que essa é uma cena que nunca mais vou esquecer em toda minha vida. DO ACAMPAMENTO SELVAGEM ATÉ BAIXA GRANDE Foi uma noite de sono incrível. Às 6 da manhã, estávamos em pé, desmontando nossa barraca, enquanto nosso fogareiro fervia uma água para o café. O dia amanheceu quente, como amanheceria todos os outros e nuvens no céu não havia, somente um azul de encher os olhos. Partimos às sete e para variar, não deu 10 minutos para a gente ter que negociar a descida para uma baixada, com uma imensa lagoa de águas mirradas, mas com um cenário encantador, onde uma vegetação rasteira, cruzada por inúmeros fragmentos de rios, e ia nos dizendo que foi muito acertada a nossa decisão de ter acampado antes, já que ali era bem desprotegido, sendo varrido por ventos constantes, nada de mais, mas que poderia ter atrapalhado um pouco nosso sono. O cenário vai se modificando radicalmente, as dunas vão crescendo de tamanho e parece querer engolir tudo ao nosso redor, principalmente onde não havia lagoas e sim baixadas com aguas rasas e vegetações rasteias. É impossível narrar como são as infinitas lagoas nesse percurso, mas o que marcou, foram as areias mais consistentes, que nos fazia avançar rapidamente para os cumes das dunas, mas por outro lado, também tínhamos que despencar mais vezes nas areias fofas que desabavam para dentro de lagoas profundas, onde tínhamos que atravessar com a água acima do peito. Não que isso fosse problema, na verdade, era uma enorme curtição. Ao longe, uma lagoa rasa e com vegetação rasteira, abriga um grupo de BODES SELVAGENS, que ao menor sinal da nossa ilustre presença, fogem apressados para as dunas. Atravessar essas lagoas, requer um cuidado para não atolar a perna até os joelhos e perder suas chinelas ou, acabar machucando os pés em algum graveto maroto. Por volta das 10 horas da manhã, conseguimos avistar ao longe, a vegetação do oásis de Baixa Grande e essa é a primeira vez que vemos uma árvore em quase um dia e meio. São florestas de cajueiros, que nessa época do ano, estão sem frutos. O aparecimento de algo que nos remeta à civilização nos anima a apertar o passo e vamos caminhando, decididos a chegar na hora do almoço. Pelo caminho, vamos deixando inúmeras lagoas, atravessando a nado ou rodeando, quando assim desejamos, parando vez ou outra para um bom banho demorado, afinal de contas, somos passageiros do ócio, não temos muito compromisso com o tempo, mesmo porque, nosso almoço é quando a gente quiser. Às onze da manhã, somos obrigados, pela força da beleza, a parar, jogar nossas mochilas ao chão e apreciar uma LAGOA VERDE CLARA, onde uma árvore seca a transforma numa atração imperdível. Com águas extremamente transparentes e quentes, por lá ficamos, extasiados pelo momento, como se pedíssemos para o tempo parar e para nos congelar ali mesmo. O oásis estava perto, mas não víamos nenhum sinal de habitação humana. A barriga já estava roncando, mas resolvemos que nosso almoço seria no povoado, então aceleramos. Os cajueiros foram aparecendo, mas a gente se enroscou para conseguir achar as trilhas que adentra definitivamente e rodamos um pouco, perdendo e achando trilhas. Adentramos no oásis, margeando um rio e só depois de cruzarmos para o outro lado, foi que percebemos uma estradinha/trilha de areia que nos levou para o centro da vegetação, saindo bem em frente a casa do seu Moacir, finalmente no OÁSIS DE BAIXA GRANDE. Já passava do meio dia. Bodes, porcos e galinhas, circulavam livremente ao redor do que mais me pareceu com uma aldeia indígena, do que com uma habitação. Mas logo somos recebidos pelo seu Moacir, que deitado na sua rede, embaixo de um barracão de folhas de buriti, nos convida para ficar . O preço por uma rede no redário é o mesmo, 50 reais com café da manhã. Mas naquele momento, nosso interesse era mesmo em um bom almoço e mesmo que a gente carregue comida e que possa cozinhar nosso próprio rango, não nos furtamos em pagar outros 50 reais por um prato feito, porque nós merecíamos. No deserto, as opções não são muitas e só havia frango, para gente, mais do que suficiente, ainda mais porque serviram muita comida, e sabedores de que tudo ali era escasso, tratamos logo de guardar o excesso para janta. Seu Moacir é um dos filhos do saudoso BRITO e nos disse que seu pai era o fundador de tudo aquilo, sendo dono de milhares de bodes, resolveu distribuir a família para cuidar do rebando e assim nasceria os povoados no meio do deserto. QUEIMADA GRANDE é um oásis no meio do nada e a casa do seu Moacir está um pouco afastado do vilarejo, que nem chegamos a conhecer. Umas casas simples, feitas de materiais simples, na sua maioria de folhas de palmeiras, mas o redário é bem construído, melhor que o alojamento de Cantos dos Atins. Com a pandemia, o turismo decaiu muito, segundo seu Moacir, tanto que praticamente ninguém havia chegado lá nesse mês de junho e eu e a Julia éramos os únicos hospedes deles. Internet não havia, estava com problemas há muito tempo. A luz vem de painéis solares, instalados há pouco tempo também. Como não tenho muita paciência para ficar só dormindo, levantei e fui passear pelas dunas ao redor, tomar banho num rio local, onde encontrei seu Moacir e a menina que trabalha com eles, lavando as redes. Acontece que, não os reconheci, porque o seu Moacir tinha tirado a barba e a mulher estava com um lenço na cabeça. Fiquei lá, fazendo perguntas sobre o povoado e ouvindo quase as mesmas coisas que já tinham me falado e quando resolvi falar que estava hospedado numa casa ali perto, seu Moacir saiu da moita: - Eu seu, sou o dono da casa e foi eu quem recebeu vocês. E a moça: -E foi eu quem cozinhou para vocês. ( hahahahahahahahahha). Passeio como doido, mas ainda sai no lucro ( rsrsrsrsrsrssrr) À noite, jantamos a sobra do almoço e fomos dormir sedo e deixamos combinado o café para 6:30 da manhã, porque achamos que não deveríamos madrugar, porque nosso próximo destino não estaria muito longe e pretendíamos alcança-lo lá pela hora do almoço. Dormimos muito bem, já que estávamos acostumados em dormir em redes, coisa que fazemos muito nas expedições à Serra do Mar de São Paulo. DE BAIXA GRANDE ATÉ QUEIMADA DOS BRITOS O dia amanheceu agradável, espetacularmente quente, mesmo sendo alto inverno, aliás, enquanto nos esbaldávamos com o calor nordestino, nossos conterrâneos do centro sul do pais, quase congelavam por causa de uma massa de ar polar. Tomamos café e partimos pontualmente às oito da manhã, passando por uma minúscula lagoa e já subindo do meio do oásis para as dunas, recomeçando nossa travessia, agora rumo ao oásis de Queimada dos Britos. Nossa jornada pelos Lençóis Maranhenses, já havia consumido quase 40 km de caminhada na areia, desde o povoado de ATINS. Oficialmente esse era o início do quarto dia de travessia e mesmo tendo optado por caminhar com cargueiras nas costas, ainda nos sentíamos muito bem, estávamos alegres e muito dispostos, ainda maravilhados com a paisagem. A Julia veio se comportando direitinho, sem reclamar e ao meu ver, parecia também muito envolvida com a empreitada, sem reclamar de coisa nenhuma, sempre uma companheira de primeira linha, atenta a tudo e palpitando na condução do roteiro, dando suas opiniões quando precisávamos decidir para que lado seguir, como cruzar as lagoas ou a melhor maneira de ganhar terreno sobre as dunas. E logo pela manhã, assim que subimos a primeira duna, já nos deparamos com uma grande baixada, onde um rio atravessava o nosso caminho. Esses rios são rasos, cruzam por dentro de grandes depressões, as vezes ligando uma lagoa à outra. A água varia muito, mas quase sempre são cristalinas ou assumem as cores das algas no fundo, num cenário muito bonito de ver e prazeroso de cruzar, com areia fininha. Aliás, as areias das dunas vão se alternando entre branca e branca feito neve, as vezes dura e compacta, outras vezes fofinha. Cruzar lagoas e subir dunas, vai sendo a tônica daquele dia, como seria a de todos os outros dias, mas não se engane, monotonia não existe e antes das nove da manhã, paramos para um descanso, que no caso se resume a ficar correndo sem mochila e se jogando de cima das dunas para dentro das lagoas, que hora são verdes, hora são azuladas, algumas mais rasas e outras profundas, emolduradas por plantas aquáticas, numa paisagem de sonhos. As vezes ficamos encantados e abismado com a capacidade da natureza de criar cores para as lagoas, que cansadas de serem só azul ou verde, começam a combinar com vermelho e amarelo e de repente, vira uma lagoa de múltiplas cores, um arco-íris de beleza, emolduradas por areias desenhadas pelo vento. Vamos perdendo a capacidade de achar adjetivos para homenageá-las, vamos embaralhando sentimentos, já perdemos noção do que é belo e do que é extraordinariamente belo e nossos olhos não se cansam, é um condutor de emoções, é através deles que vamos ampliando nosso arquivo de felicidade. Diferentemente dos dias anteriores, desde muito cedo, quando iniciamos a nossa caminhada, sempre tivemos ao longe a visão do nosso próximo objetivo, que sempre pareceu perto, mas só pareceu, porque no deserto, as distancias enganam muito. Mas às 10 horas da manhã, já vislumbramos a nossa chegada ao OÁSIS, mas antes de lá encostarmos, um trecho do caminho vai nos surpreender novamente: Uma mistura de rios, lagoas, baixadas e pântanos, vão nos fazer cair o queixo diante de um mosaico colorido impressionante. Aguas de todas as cores vão se juntando, mas dessa vez um rio na sequência de outro , com areias coloridas e algas, que vão formando outro mosaico , aquilo era bonito, aquilo parecia ir além das belezas , eu e a Julia estávamos novamente extasiados diante de tamanha diversidade. Havia chegado a hora de adentrarmos definitivamente no oásis, mas as coisas foram se complicando. Ao longe, vimos um grupo de pessoas sobre uma duna, calculamos uns 3 km da gente, mas como estávamos com o esboço da entrada da trilha no nosso gps, ignoramos a direção e começamos a navegar para dentro da vegetação, mas uma infinidade de rios começou a cruzar nosso caminho. Tentávamos escapar para todos os lados, mas as vezes éramos barrados por rios profundos ou com terrenos pantanosos. Sem desgrudar os olhos no gps , fomos nos perdendo para todos os lados, atravessando caminhos batidos, mas que no fim, não nos levaram há lugar nenhum. Tentei forçar a passagem pela vegetação, mas foi impossível passar, porque os cajueiros não estavam a fim de facilitar nossas vidas. O tempo foi passando e a gente preso num labirinto de vegetação rasteira, onde jardins de plantas carnívoras acabavam nos alegrando os olhos, até que achamos uma passagem entre uma duna e outra, que nos levou para uma estradinha de areia. Achar o caminho de areia foi realmente um alívio, mas estava longe de nos levar para dentro da Queimada dos Brito. Por um tempo até que achávamos que nossa missão estaria cumprida, mas logo tivemos que rever nossa euforia. A estradinha começou a atravessar uma lagoa atrás da outra. Atravessávamos meio que pelo rumo, com a água pela cintura, sempre tentando encontrar a sua continuação do outro lado. Mas às vezes era angustiante estar dentro de uma lagoa enorme, de águas turvas e não saber para onde ir e como nem tudo é ruim que não possa piorar, perdemos completamente a direção e nosso caminho se enfiou num oceano, fim da linha para a gente. Fizemos uma pausa para analisar o mapa e a trilha protada no gps, mas nosso caminho não mais existia. Estava claro que na época das chuvas o terreno muda, rios e lagoas tomam conta de tudo e o que outrora fora uma estradinha, hoje não mais existia e agora jaz no fundo das aguas. Vasculhei ao redor, tentei forçar passagem novamente pelo mato, mas não havia mesmo sinal de caminho. À nossa frente, uma ”lagoa oceânica” e sobre o topo de uma duna, 500 metros de onde estávamos, uma casa nos acenava como vestígio de civilização. Não havia o que fazer, havia chegado a hora de por em pratica alguma ideia estúpida e quando olhei para minha filha, com cara de deboche, ela já sabia que íamos nos enfiar em encrencas. Apesar da situação complicada, estávamos como ótimo estado de espírito e fazíamos piadas sobre a possibilidades de cobras e jacarés. A julia se segurou na minha mochila e fui nos guiando, tentando nos manter sempre com a cabeça fora da água, mas orientando a Julia sobre a possibilidade de soltarmos as mochilas e nadarmos. A temperatura da água estava excelente e mantive o foco, sempre mirando a casinha no alto de uma duna, do outro lado da lagoa. Avançamos bem e teríamos cruzado por dentro d’água, mas uma saída à direita conseguiu nos levar de volta para uma trilha de areia, que margeava a lagoa e surpreendentemente nos desovou bem em frente a uma casa, onde nos pareceu ser um alojamento, já que mais parecia uma maloca de índios, com alguns redários e foi aí que descobrimos ser ali a casa do seu Raimundo e da D. Joana, enfim QUEIMADA DOS BRITOS. Seu Raimundo era irmão do seu Moacir lá da Baixa Grande, portanto filho do seu Brito, o fundador de tudo aquilo ali. Quando lá chegamos, encontramos um casal de turistas que haviam chegado ali de quadricículo, vieram para uma expedição fotográfica junto com um guia e mais uma vez, não encontramos ninguém fazendo a travessia a pé, eu e a Julia éramos os únicos e claro, causamos espanto em todos quando souberam que estávamos por conta própria e com uma mochila gigante nas costas. O alojamento ali era bem estruturado e bonito, ainda que extremamente simples e os preços eram os mesmo de todos os outros, os mesmos 50 reais para rede e para a comida. Novamente decidimos não cozinhar, estávamos varados de fomo, com o estomago lá nas costas e nos demos esse presente, já que a comida também era agradável, mesmo que não passasse de um peixinho frito, arroz, feijão e uma saladinha. Havíamos enfrentado um dia difícil, complicado em termos de navegação, mas estávamos ali, sentados à mesa e com uma comida quentinha a nos alegrar a alma. Foi um dia incrível, com paisagens de sonhos e eu estava imensamente satisfeito de estar ali com a minha filha, num fim de mundo , no centro selvagem do deserto mais molhado do mundo e a minha felicidade transbordava, eu estava justamente onde queria estar, fiz tudo para estar ali, a vida me trouxe até ali , não tinha o direito de reclamar de nada, mas tinha o direito de chorar, extremamente emocionado pelo momento único. Depois do almoço saímos para conhecer o povoado de QUEIMADA DOS BRITOS e também já ir nos familiarizando com o caminho que nos levaria para fora do oásis no dia seguinte. Seu Raimundo nos contou que as dunas estavam avançando e que mais uma vez teriam que se mudar de lá, mas que já estavam acostumados. O povoado em si não tem muitas casas, talvez uma dúzia ali nos Britos e mais uma dúzia 1 km à frente, que é onde se diz ser a Queimada dos Paulos, mas o seu Raimundo diz que é invenção do povo e que tudo aquilo pertence a queimada dos Britos e que não tem nada de Paulo não. Nossos aposentos no alojamento da D. Joana (mulher do seu Raimundo), não passou de uma rede, instalada cuidadosamente numa espécie de oca circular, feita de troncos de cajueiro e palha de Buriti, um charme rustico. Além dessa espécie de oca, ainda há um grande galpão que serve de redário, que é justamente onde estão o casal de turistas e o guia. Aliás, o guia quis tirar uma casquinha, oferecendo para levar nossas mochilas no quadricículo, para o próximo destino, para o próximo oásis, mas recusei imediatamente, mesmo vendo que minha filha já estava com os pés bem machucados e que o dia seguinte seria o maior trecho que teríamos de percorrer. Talvez fosse um pouco de orgulho, mas tinha em mente atravessar o deserto com minhas próprias pernas, carregando minhas próprias coisas e não ia fraquejar agora, quando só nos faltavam 2 dias, nem que eu tivesse que carregar duas mochilas nas costas. DE QUEIMADA DOS BRITOS ATÉ BETÂNIA Às cinco da manhã, nos pomos de pé, tomamos café e partimos às seis, quando o sol deu as caras. Pegamos um atalho para fugir do rio, que nessa época do ano tomou conta da estradinha de areia, nos fazendo cruzar por uma ponte de troncos, que nos leva diretamente para o centro da aldeia. A estradinha cruza no meio das casas, onde ajudamos um bode a se livrar de uma rede de pesca. À frente, passamos pela escola que homenageia o seu Manoel de Brito e logo em seguida pelo pequeno cemitério. Um km depois, adentramos em QUEIMADA DOS PAULOS, onde está o caminho que vai nos devolver novamente para o deserto de areia, primeiro seguindo por um caminho sinalizado para algum veículo eventual, mas logo o abandonamos e nos enfiamos em definitivo no mar de dunas e lagoas, estávamos novamente envoltos a nossa própria solidão. Nesse quinto dia de caminhada, teríamos pela frente nada mais nada menos que 20 km de dunas , areia e lagoas e estávamos plenamente conformados de que seria um dia duro, talvez o mais duro de toda a travessia, mesmo assim, havia qualquer coisa de mágico no ar , porque havíamos ouvido falar que esse trecho era o mais bonito de todo o roteiro, mas não conseguíamos imaginar como poderia ser isso, já que na nossa cabeça , estava difícil pensar que ainda teria algo para nos surpreender, tamanha a beleza que já tínhamos presenciado nesses 4 longos dias. Logo de cara, uma lagoa gigante se apresenta. Não era uma lagoa muito fundo, mas daquelas que requer cuidado porque poderia haver algum buraco e como a Julia ficou com receio de atravessar e se dar mal, coloquei a mochila dela na cabeça e passei com as 2 mochilas, mas não foi algo fácil, já que era uma lagoa com uns 500 metros e andar dentro da água com 2 mochilas não é lá algo muito confortável, além do mais, tinha sempre que fazer um esforço enorme para não afundar e acabar sofrendo risco de afogamento. Poderíamos ter dado a volta, mas isso nos custaria tempo e mais esforço numa areia extremamente fofa. Para diminuir o trecho e tomar um fôlego, fomos usando as ilhas no meio da lagoa como porto seguro, para descansar e enfrentarmos o próximo trecho. As dunas vão crescendo de tamanho e como nada no deserto parece não ser insuperável, a areia foi mudando de cor e se transformando em um branco de doer os olhos, num fenômeno impressionante, a tal ponto da gente perder a noção de distância e profundidade e quase acabar despencando várias vezes em verdadeiras bocas de vulcões, poços de areia sem água. A cada duna subida, a cada lagoa atravessada, a paisagem ia se agigantando, como se as montanhas de areia quisessem engolir o mundo. O dia vai passando e é impossível contar quantas lagos diferentes testemunharam nossos pés, quantas dunas de areias foram subidas por nós, muito porque , dizem haver 36 mil delas espalhadas por um território tão grande que caberia toda a gigante cidade de São Paulo e ainda sobraria espaço e como eu havia dito, era impossível que se passasse mais de 15 minutos sem termos que cruzar uma lagoa, seja com a água pela canela, seja com a água no pescoço ou mesmo com algumas confinadas em verdadeiros poços, o que as tornam um espetáculo à parte. Esse quinto dia estava excepcionalmente mais quentes que os outros, talvez fosse impressão nossa, já que esse era um dia longo, com um desgaste um pouco maior, mas no horizonte, nuvens negras já pairavam sobre nossas cabeças, anunciando que a tarde não escaparíamos de uma boa chuva. Por isso mesmo, puxei a fila, apertei o passo, não poderíamos dar bobeira. Mas o dia vai passando e mesmo que já tenhamos o próximo oásis na nossa visão, temos plena consciência de que ele ainda se encontra numa distância considerável. Outro fenômeno que vai nos chamando a atenção, são os pássaros que ao nos ver, vão dando rasantes sobre nossas cabeças, na tentativa desesperada de proteger filhotes e ninhos. Essas pequenas coisas vão nos distraindo, vão fazendo o tempo correr e mesmo que estejamos apreensivos com uma possível tempestade no final de tarde, nunca nos furtamos de nos enfiarmos de cabeça nas lagoas transparentes e lá ficarmos, até acharmos que é hora de partir para outra lagoa, num ciclo que se repete a cada 15 minutos, fazendo com que estejamos sempre de bom humor , sempre felizes pela oportunidade que a vida estava nos dando, mas uma hora foi preciso descer para o mundo real, porque o nosso maior pesadelo veio sorrir para a gente. Estávamos há menos de 2 horas de caminhada da entrada do próximo oásis, quando o vento começo a urrar, soprar velozmente, levantando poeira para todos os lados. No horizonte, nuvens negras ameaçadoras faziam derramar uma atmosfera de água, a coisa começou a ficar feia. Atravessamos uma grande baixada, onde uma lagoa rasa era pontilhada por pequenos arbustos mortos. Não havia tempo para mais nada e infelizmente, eu nem mesmo sabia o que fazer diante da situação ameaçadora que se apresentava à nossa frente. Não havia para onde correr, éramos apenas espectadores passivos de um show de horrores, onde uma guerra de raios era travada no céu. Não havia tempo nem para montarmos nossa barraca e minha única ação foi tirar nossas capas de chuvas da mochila e esperar que a sorte fizesse com que passássemos ilesos pela tempestade. A água caiu com gosto, mas surpreendentemente não durou mais que 10 míseros minutos e do mesmo jeito que veio, foi embora, desapareceu na imensidão do deserto e nos deixou novamente com nosso companheiro de jornada e nós três, eu , a julia e sol, descemos e subimos mais algumas dunas até nos posicionarmos numa montanha de areia bem alta e ter certeza de que a terra prometida, ao menos daquele dia, já estava ao nosso alcance , o OÁSIS DE BETÂNIA já quase poderia ser tocado com nossos pés. Lá embaixo, duas lagoas de águas transparentes nos convidam para ficar. O sol tomou conta de tudo e não havia nenhum vestígio da chuva. Como o oásis estava ali, a não mais que uns 30 minutos de caminhada, jogamos nossas mochilas no chão e nos entregamos mais uma vez ao ócio e só fomos embora porque nossas barrigas começaram a roncar. Do nosso lado esquerdo, uma área alagada nos chama atenção e por um momento quase pensamos estar no PANTANAL. Avistamos uma prainha de rio, onde muitos veículos 4x4 estavam estacionados, os tais pau de arara de luxo e aí começamos a entender que esse oásis é onde os turistas conseguem chegar motorizados. Pois bem, para entrar no povoado é preciso que se atravesse o grande rio ALEGRE, pagando-se uma pequena quantia que deve girar em torno de uns 10 ou 15 reais, como haviam nos dito, mas antes mesmo de chegarmos no lugar onde se pega uma canoa, fomos interceptados por um pequeno barquinho a motor que nos ofereceu uma carona até o RESTAURANTE E REDÁRIO NOVO HORIZONTE. Esse estabelecimento fica um pouco afastado do povoado, não muito, mas como estamos na época das cheias, tudo em volta parece estar embaixo d’água e como eu disse, se você não se situar bem, vai pensar que está dentro do Pantanal. Já passava das três da tarde e a maioria dos turistas que foram ao restaurante, já haviam se mandado, mas ainda havia comida e mandamos ver um “PF” de peixe e camarões gigantes, com custos muito menor que a comida dos oásis anteriores, chegando a pagar 35 reais, mas como ali há muitas opções, era só procurar para achar preços ainda melhores, afinal de contas, o cartel estava quebrado pela concorrência e até as redes conseguimos alugar por 40 reais, num lugar tranquilo e aconchegante. DE BETÂNIA ATÉ SANTO AMARO DO MARANHÃO BETÂNIA, como os outros povoados é minúsculo, mas a gente nem chegou a ir no meio das casas, como eu disse, tudo alagado e também aproveitaríamos o barco do restaurante que nos levaria de volta sem nenhum custo. O Percurso Britos x Betânia é sem dúvida um dos mais duros e longo dessa travessia. A Julia estava com os pés em frangalhos, além das bolhas, sentia muitas dores por causa da repetição de movimentos, como se você ficasse o tempo todo dando pequenas batidinhas na areia dura e isso durante 5 dias seguidos, chega uma hora que o pé vai colapsar. A grande maioria que faz essa travessia, chega em Betânia e contrata uma das dezenas de caminhonetes que passam por lá todos os dias trazendo e levando turistas e poderíamos tranquilamente ter feito o mesmo, mas a gente se recusava a sair dali motorizados, nem que tivéssemos que nos arrastar de joelhos na areia até o final. Eram pouco mais de sete horas da manhã, quando o barquinho nos deixou em terra firme, bem do outro lado do rio, em frente à entrada ou saída do vilarejo. Tomamos a larga trilha de areia e em alguns minutos já estávamos novamente na mesma prainha onde ficam estacionados os jipes e caminhonetes 4x4. Passamos por eles, sob o olhar incrédulo dos turistas que por lá estavam, como se eles quisessem nos perguntar, para onde diabos iríamos com uma cargueira enorme nas costas. Deixamos definitivamente a civilização para trás e nos metemos nos caminhos dos jipes, descendo e subindo dunas, voltando a nos maravilharmos com lagoas cada vez mais espetaculares, mas numa curva do deserto, se é que deserto tem curva, fomos obrigados a logo pela manhã, pinchar nossas mochilas na areia e aplaudir de pé, mas as vezes aplaudíamos de cabeça para baixo, quando escorregávamos para a LAGOA AZUL E VERDE. Aquela lagoa ia além da nossa capacidade de achar as coisas bonitas. Não importa quantas lagoas havíamos visto, não importa que havíamos nos deslumbrados com centenas de paisagens incríveis, não sei porque, mas a gente ficou hipnotizado por ela, talvez nem fosse a mais bela do roteiro, mas estávamos fragilizados por ser o último e derradeiro dia daquela travessia. Era uma lagoa um pouco mais funda, principalmente na borda, onde a duna despencava para dentro d’agua e aí não teve jeito, ficamos brincando de correr e se jogar para dentro dela, duas crianças brincando no parque de diversão. Nesse último dia de travessia, como sabíamos que era um trecho curto, resolvemos não nos preocuparmos com o tempo. Decidimos apenas caminhar, apenas andarmos, um pé à frente do outro, fomos curtindo cada metro de areia, quando nos dava na telha, parávamos por um longo tempo e ficávamos imersos nas lagoas. Quando queríamos ganhar terreno, usávamos os caminhos dos jipes, sempre tomando cuidado para não sermos atropelados por um, já que as vezes caíamos em pontos cegos nas dunas, onde ninguém via ninguém. Aliás, toda vez que um jipe passava lotado de turistas, nós éramos a atração, ficavam apontando o dedo para gente, dois minúsculos pontos vagando pelo deserto ou éramos reverenciados, como símbolos de persistência e determinação. E não era de se estranhar mesmo tal comportamento, já que em quase uma semana, jamais vimos outro grupo fazendo esse roteiro a pé e tão pouco encontramos outros caminhantes por onde passamos e dormimos e olha que estávamos na alta temporada dos Lençóis. As lagoas vão se sucedendo, enquanto o sol vai se posicionando no meio do céu. Eu e a Julia vamos nos arrastando, vagarosamente. A julia mais ainda, devido as dores nos pés e conforme o tempo vai passando e vamos comendo quilometragens, parece que o corpo vai desacelerando, sabendo que o fim está próximo. Continuamos alternando o caminho dos jipes e a rota das lagoas, muito porque, o caminho dos jipes também passava por lagoas espetaculares, só não havia a necessidade de termos que cruzar por dentro delas, mas como passava colado, não nos furtávamos em nos jogar para dentro da água e lá ficávamos até a pele descolar dos ossos. Como essa parte da travessia passa pelas bordas dos Lençóis, vamos encontrando pelo caminho, placas que vão sinalizando, além do lugar onde devem passar os jipes, (já que podem despencar facilmente de uma duna de uns 50 metros de altura), mas também algumas lagoas turísticas, as poucas com nomes, das mais de 36 mil que existem por lá. Ao longe, uma antena nos indica que Santo Amaro já está na nossa mira, mas ainda muito distante, onde um vai e vem de veículos aparecem e desaparecem sobre as grandes dunas e vão nos dando a direção a seguir, nos facilitando a vida e nos fazendo planejar atalhos, que encurtam nossa jornada. Miramos a Antena e traçamos uma rota para ela, cruzando baixadas alagadas, subindo outras tantas dunas, dando tchauzinho para a turistada motorizada que passavam constantemente por nós, até nos desviarmos do caminho em favor de uma placa que marcava uma lagoa famosa. Às 11:30 estávamos na PISCININHA, uma lagoa incrível, não muito funda, mas com uma transparência única. Largamos tudo e corremos para dentro dela, sabedores que essa seria nossa última parada, oficialmente nosso último mergulho, nossa despedida final. E por lá ficamos, imersos, curtindo o que de melhor essa vida pode nos proporcionar. Nos levantamos e partimos, agora imbuídos de chegar, sem pressa, mas com determinação. Uma lagoa profunda se apresenta à nossa frente, mas bastou margeá-la para encontrar uma passagem, virar à esquerda e ganhar o km final, até tropeçarmos numa placa que marca a ENTRADA PARA DOS LENÇOIS, no nosso caso, a SAÍDA. Ganhamos a rua de areia, atravessamos um riacho e já demos de cara com uma BASE MUNICIPAL que fiscaliza os veículos 4x4 para saber se são cadastrados, CHEGAVA AO FIM NOSSA JORNADA PELOS LENÇOIS MARANHENSES, o mundo feito de DUNAS, AREIAS E AGUAS, acabava de ficar para trás. Antes de começarmos esta travessia, ainda em São Paulo, tentamos angariar informações sobre a necessidade ou não de sermos obrigados a contratar um guia ou sobre as restrições de se acampar no meio do deserto. Não encontramos nada e nem ninguém que nos dissesse o contrário, mas mesmo assim, ficamos preocupados o tempo todo de sermos barrados, não no meio do deserto, mas no início ou no final da caminhada. Então, quando vimos a base, ficamos receosos de sofrermos alguma sanção, mas com a cabeça firme e o olhar confiante, chegamos até a base e lá encontramos uma mulher, que mal olhou na nossa cara, quando demos um sonoro, BOA TARDE. Passamos ilesos e não demos outras satisfações, mas alguns metros depois, encontramos uma placa que nos esclareceu todas as nossas dúvidas: Na placa do próprio Parque Nacional, um monte de ícones nos dão aval para caminhadas, travessias , mergulho, fotografia, canoagem e acampamentos e só restringem fogueiras, jipes e motos não credenciadas , portanto, toda a nosso jornada estava dentro da lei , mas se o mundo de areia chegou ao fim às 13 horas da tarde, ainda nos faltava mais de uma hora de caminhada até o centro da cidade. Aquele era um dia quente, talvez o mais quente de todo a nossa travessia. A Julia capengava, quase não conseguia mais andar e até eu comecei a sentir uma cólica de rim, consequência de uma pedrinhas mal tratadas. Ganhamos o calçamento empoeirado. As ruas quase desertas, de um povoado meio que beirando um fim de mundo, ainda que um tanto grande. No caminho, tentávamos achar uma birosca para nos hospedar , mas não encontramos nada que nos interessasse e depois de perambular por mais de uma hora, ganhamos o que nos pareceu ser a avenida principal e ao vermos uma placa de restaurante, viramos a direita antes da praça central e quando lá chegamos, descobrimos que além de um lugar para se comer alguma coisa, também servia de alojamento e aí não tivemos dúvidas, encerramos nossa travessia oficialmente, SANTO AMARO DO MARANHÃO havia sido conquistado, MISSÃO CUMPRIDA. Almoçamos e fomos até o centrinho da cidade para comemorar nossa travessia com muito sorvete a base de frutas locais, além de agendar a volta para São Luís. E é preciso mesmo ficar atendo a isso, porque quase não há lugares disponíveis nas vans que partem geralmente uma vez ao dia e quase sempre de madruga, tipo quatro ou cinco da manhã. À noite, ficamos de bobeira, apenas descansando e curando as feridas, mas ainda extasiados com a aventura vivida nessa última semana e como no outro dia teríamos que acordar com o cantar do galo, fomos dormir sedo e se a caminhada havia terminado definitivamente, ainda sabíamos que nossa jornada por terras maranhenses estava apenas no começo, hora de conhecer a capital do Estado e dar um pulo na histórica Alcântara, mas essa é uma outra história, um longa e deliciosa história. Nessa vida, já tive a oportunidade de conhecer grande parte dos Estados do Brasil. Subir quase todas as grandes montanhas, viajar por quase todo o litoral. Já me enfiei em quase todas as Chapadas brasileiras, fui há lugares onde poucos já estiveram, pelo acesso difícil e complicado. Estive em dezenas de Parques Estaduais e Nacionais. Viajei por vários países da América do Sul, desde o norte da Patagônia, passando pelos desertos do Chile, altiplano boliviano, Cordilheira Branca no Peru, lugares históricos e de relevância mundial e apesar de serem lugares deslumbrantes e diferenciados, nenhum deles conseguiu me cativar quanto os Lençóis Maranhenses, mas tem um, porém, essa beleza toda tem que ser sentida, vivida intensamente, é preciso que a pessoa se desapegue das comodidades da vida moderna e se lance numa das mais incríveis caminhadas do Brasil. Será necessário sair da zona de conforto e se organizar para poder atravessar um dos desertos mais molhados do planeta, para sentir o quão isolado um ser humano pode estar, para sentir a essência do vazio espacial, mergulhar num mundo feito de areia e água, mas com uma diversidade inigualável e só assim poderá descobrir a grandiosidade dessa caminhada, que faz dos LENÇÓIS MARANHENSES, a mais SENSACIONAL travessia do nosso continente.
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Em tempos complicados nos colocamos na estrada. Foram 26 horas dentro do ônibus. A lotação praticamente vazia, nem 15 pessoas, uma série de protocolos para evitar ao máximo qualquer contaminação. Depois de todo esse trajeto ficaríamos sós, isolados, quase uma quarentena. Sete dias completos e muitas surpresas, superações e no final um evento triste que poderia estragar toda uma viagem, mas deixa pra lá. As pessoas de boa índole não merecem que seja despendida grande atenção para os intrépidos. Dia 1 Ficamos meio período na cidade de Rio Grande, um local de muita história, 9 museus (fiquei sabendo) todos fechados, muita arquitetura e praças dignas de um povo desbravador. Ao meio dia pegamos o circular que vai até a Barra. Descemos no último ponto antes do retorno. Recebeu-nos um aguaceiro danado. Enquanto encapávamos a cargueira e colocava a capa de chuva, tomamos o primeiro banho. Só não foi maior porque fugimos para uma varanda ali do lado. Não demorou para o proprietário aparecer. Depois de algumas curiosidades sanadas, seguimos firmes pelo asfalto até o molhes. Já na chegada encontramos um bugue, nele um homem desesperado. Pedindo ajuda. Seu filho, um amigo e o tio haviam seguido pelo molhes mar adentro. O mar enfurecera e subiu rapidamente. O homem fugiu com o carro mas os outros nem sinal, o molhes já estava praticamente tomado de água. O mar quebrava com força, rajadas de ondas cobriam metros acima do monumento. Orientei o a correr na Barra e chamar o bombeiro ou qualquer coisa (nesse momento eu não havia visto a situação do mar ainda). Quando chegamos no molhes, padre mio... Olhei para trás e lá vinha o homem, não tinha ido atrás do bombeiro ainda. Quando peguei o telefone para fazer a ligação um casal que estava em um trailer ali do lado gritou - Lá, estou vendo alguém. Guardei o telefone, os três vinham com dificuldades entre as ondas. O pai desabou em prantos, e xingamentos. Horas mais tarde fui refletir: ele não ligara para o socorro temendo a notícia horrível que receberia. No final todos ficaram bem. Para nós, vida que segue. Primeiro não conseguimos chegar no molhes, o mar tinha tomado toda a praia. Desviamos pela direita e saímos nas dunas. Dali seguimos com dificuldades contra o vento e sobre as dunas. Para ter uma ideia os banheiros químicos que ficam na praia estavam todos tombados. Mas não se apavoremos, toda essa situação se devia a um ciclone que estava sobre o oceano nesses dias. Caminhamos os 8 km até o Balneário Cassino, durante o trajeto traçamos vários planos B. Se a tempestade não passasse teríamos de esperar alguns dias, em último caso desistir. Pernoitamos num Hostel. Ventava muito. Passei a noite monitorando o ciclone e os ventos pelo app wheater. De madrugada os ventos começariam a se afastar e no sábado já estaria tudo calmo. Dia 2 Acordamos cedo, o vento ainda soprava forte, mas o céu já estava melhor. Partimos. Na praia o mar tinha recuado um pouco, apesar do vento sul. Logo na primeira hora, depois da garoa um arco íris pintou sobre o parque eólico. Isso é um bom sinal. Seguimos firmes, 3 horas depois o parque eólico ainda estava às vistas. Chegamos no Naufrágio Altair. Pera lá! Chegamos perto dele, as ondas tomavam a ruína. O mar já avançara sobre a praia novamente, muitos dos canais de água se tornaram bancos de areia movediça engolindo os pés. Paramos para almoçar no Hotel Netuno, único lugar abrigado do implacável minuano (vento). Voltamos a marcha, agora pelas dunas. A praia estava alagada. Não demorou muito até que a Bruna fosse engolida até a cintura na areia movediça. Com muita luta conseguimos resgatá-la. Um misto de apreensão, medo e comicidade tomou conta dos dois. Às 15:00 demos por vencidos, depois de 30 km, tomamos o rumo da mata, em meio a um novo parque eólico, as poucas árvores restantes serviram de guarida. Dia 3 Saímos cedo, ansiosos por descobrir o que o mar reservara. Pelo menos o vento já reduzira pela metade. Com a praia larga a caminhada fluiu bem. Logo cedo avistamos o Farol Sarita. Mais um desafio psicológico. Caminhamos 25 km dos 30 km, avistando o luminoso, e nada de chegar. Parecia que o negócio tinha rodinhas. Logo depois do almoço o mar voltou a complicar. A caminhada voltou a ser pela duna. Em poucos quilômetros encontramos um homem todo esfarrapado, com uma faca e olhar desafiador. Com receio, me aproximei a tentar um diálogo. Não entendi nenhuma palavra que ele disse, tratava-se de um hermitão que vive nas dunas, provavelmente. Enfim às 15:00 chegamos no farol, e logo à frente tentamos ir para a mata acampar. Caminhamos 3 km circulando o mangue alagado até que decidimos acampar embaixo de um arbusto na duna mesmo (sei que é burrice, mas depois do hermitão, fiquei um pouco abalado, não com medo de ser atacado, mas vai que ele se sentisse invadido...). Depois de lavar as partes no alagado, deitamos na barraca e nem lembramos mais do hermitão ou de qualquer coisa. Nessa hora o vento já havia cessado. Durante o dia, manhã, encontramos muitos carros e motos fazendo a travessia, a penas um grupo de motocross parou e falou que acampariam perto do Farol Verga, que deveríamos passar lá. Também encontramos um leão marinho e muitas, muitas tartarugas mortas. Dia 4 Começamos cedinho na tentativa de fugir das dunas no período da tarde. O dia estava lindo, céu azul, vento leve, areia fina, mar calmo. Encontramos muitos carros fazendo a travessia nesse dia, também um grupo de ciclistas, que inclusive nos deram água. Logo avistamos a primeira carcaça de Jubarte, no segundo dia tínhamos visto uma Beluga morta. Mais à frente um naufrágio recente ainda bastante visível apesar das ondas. Logo que retomamos do almoço encontramos novamente a galera do motocross. Nos disseram que tinham feito um churrasco e esperado por nós, mas... No fim o seu Zeca falou que seria um bom lugar para acampar, e foi o que fizemos. Durante a caminhada da tarde percebemos que algumas caminhonetes iam e vinham pela praia, só não entendi o motivo. Como o mar tinha acalmado e a praia estava larga aproveitamos. Debaixo do sol forte das 14:00 uma das caminhonetes parou, um simpático senhor nos ofereceu um suco de limão, oh glória. Pensa num negócio bom, agradecidos seguimos em frente. Já eram passadas 15:00 quando chegamos no local de acampar. Definitivamente não chegaríamos a tempo de almoçar. Nesse dia alcançamos a marca importante dos 100 km andados. Dia 5 Foi o dia que começamos mais cedo. Logo nas primeiras horas avistamos um senhor maltrapilho, descalço, caminhando com dificuldades. Ainda lembrando do hermitão, me aproximei. Ele com a mão dentro da bermuda, eu com cautela. Surpreendentemente entendi sua fala. Se chamava Paulo, recusou um sapato que tinha minha mochila, recusou comida, apenas aceitou água. Como tínhamos avistado um pouco antes um acampamento de trabalhadores na mata de pinus, orientei o senhor que caso precisasse chegasse lá. Nesse ponto já estávamos no Farol Verga. Saindo do Verga avistamos no horizonte um veículo gigante que saiu na areia e rumou para o sul. Não demorou, encontramos um carro parado com adesivos "Pet Free", não sei o que fazia ali. Uma hora depois aponta no horizonte o gigante, eram um caminhão de carregar toras, carregado. Vinha a todo vapor na areia. Passou por nós, buzinou e sumiu no norte. Paramos para almoçar quando encontramos uma carreta parada na areia. Sentamos à sombra e logo o dono dela apareceu. Curiosamente ele tinha o mesmo nome do senhor dos sucos. Conversando, explicou-nos que têm frentes de trabalho que ficam acampadas na floresta de pinus (chegam a 150 trabalhadores). Ele estava com a carreta-casa esperando um ônibus que traria o pessoal de Rio Grande e Pelotas. Quando falei do seu Paulo ele disse que já havia visto o mesmo homem andando de bicicleta na areia, de certa forma me senti aliviado por saber que ele se virava por aquelas bandas. Pouco depois de deixar a carreta, encontramos outra Jubarte, essa bem mais conservada. Ao tirar foto da baleia, olhamos para trás e lá estava o ônibus, descendo uma galera. Às 14:00 o reflorestamento que nos acompanhara acabou. Percebemos que seria possível chegar no Farol Albardão ainda naquele dia, ele já se desenhava no horizonte. Com 40 km, exaustos, com chuva, chegamos no farol. Já não esperávamos dormir lá devido a pandemia. Montamos acampamento do lado de fora do pátio da Marinha. Como o vento já rugia, fiz algumas ancoras com sacos cheios de areia que, enterrei e amarrei a barraca neles. Fomos dormir assustados com o vento, mas a amarração deu conta. Dia 6 Acordamos de madrugada com trovões, vento e muita chuva. O dia clareou e a chuva castigava, meu maior medo não era se molhar, eram os raios. Pensamos em fazer um dia de descanso caso não passasse. Eram 07:15 quando as nuvens começaram a ceder, fizemos um desjejum e partimos, já 08:10. A chuva sumiu, mas as dunas estavam todas alagadas. Assim que começamos a caminhar começaram aparecer os problemas. Os passos de água que, até então eram raramente fundos, agora pareciam rios de desgelo. E para piorar se multiplicaram, cruzamos em média 5 por km nesse dia. Nessa manhã observamos uma infinidade de caravelas azuis na areia, assim como raízes e galhos que devem ter saído das dunas com a enxurrada (não as caravelas, que, devem ter vindo do mar). Só atingimos os 30 km às 17:00, quando avistamos um pedaço de mata, onde nos escondemos à noite. Além de atingir os 150 km nesse dia, tomar água muito boa drenada das dunas, encontrar um bom local para acampar, acompanhamos o segundo pôr do sol nas dunas (o primeiro havia sido no Albardão), tomamos banho fresco na água da chuva acumulada nas dunas e dormimos em meio a algazarras dos periquitos que aninham nas árvores ali. Dia 7 Sabíamos que seria um dia longo, faltavam mais de 40 km para chegar no Balneário Hermenegildo onde teria um camping. Partimos às 06:40. O mar tinha recuado muito, as enxurradas formaram muitos canais (já secos). O chão irregular castigou os pés a manhã toda, quando ficava mais plano o conchal tornava os passos mais pesados. Nesse trecho muita vacas vigiam a praia, é grande também o número de ranchos nas dunas. Lá pelas 09:00 encontramos um negócio motorizado, feito em madeira, puxando uma carretinha cheia de entulho, com rodas largas que parecia um rolo compressor, apinhado de gente. Ainda de manhã avistamos mais dois naufrágios quase submersos na areia e no mar, um hotel destruído e um leão marinho começando a putrefação. Na hora do almoço se chegamos à sombra de um rancho na areia. Descansamos, aliviamos os pés e retomamos a marcha. O número de veículos que encontramos cresceu exponencialmente, muitas pessoas pescando de molinete. A praia agora alternava em trechos terríveis de irregular e outros menos, mas os pés doem até a alma. O alento é que já avistamos o Hermenegildo. No final foram 45km caminhados, além de bater os 200km. Valeu a pena. Chegamos no Camping Pachuca, o dono (incrivelmente tinha o mesmo nome dos dois outros homens que conversamos na praia nos dias anteriores) nos recebeu muito bem. Ofereceu a garagem para montar a barraca, nos trouxe pão com queijo e mortadela e ainda disse que seria cortesia da casa. Depois do banho, de barriga cheia, e diga-se de passagem a musica no rádio incrível, dormimos feito criancinhas. Dia 7 Se demos o luxo de acordar mais tarde e sair só às 08:00. Diga-se de passagem que amanheceu chovendo. E ventando, mas o vento agora era norte e empurrou nos para o molhes. Na praia novamente, não demorou para dois cachorros, muito brincalhões nos acompanharem. Foram 15 km tranquilos. Com muitos passos de água, alguns fundos, inclusive. Mais um negócio estranho aconteceu, eram umas 10:00 quando passou uma patrola por nós. O maquinista ainda ofereceu carona, dispensamos numa boa. Chegamos no molhes da Barra do Chui às 11:50. Fomos recebidos por um bombeiro, todo empolgado que nos revelou estar pronto para fazer a travessia nos próximos dias. Descansamos algum tempo refletindo nosso feito. Tomamos as ruas do balneário até encontrar um buffet, onde fomos à desforra. De barriga inchada pegamos o ônibus para o Chui, chegamos lá a então a palhaçada. Como o ônibus para Porto Alegre era só às 22:00 ou às 12:00 do dia seguinte, fomos procurar um local para tomar banho e descansar, quem sabe passar a noite. Fomos em um posto Ipiranga que segundo o dono da rodoviária tinha chuveiro para os caminhoneiros. Fomos muito mal recebidos, e mesmo oferecendo para pagar fomos recusados. Segunda tentativa, uma pousada. O velhote que nos atendeu, primeiro fez cara de nojo por que talvez não estávamos muito bem trajados, segundo ele estava lotado, sei. Terceira tentativa, outra pousada. O homem que nos viu nem a porta abriu direito, após nos analisar, disse em tom ríspido que não tinha vaga e deveríamos procurar outro local. Respondi pra ele que não adiantaria procurar, o problema não era vaga, era preconceito. Nossa última investida foi um hotel de uma rede, Turis Firper, apesar de não muito barato (afinal não passamos a noite), fomos muito bem recepcionados. Às 22:00 tomamos o ônibus para passar 29 horas viajando até nossa terrinha. A maior dificuldade acabou sendo o chão irregular dos últimos dias, e a batalha psicológica do terceiro e quarto dias. Agora vamos descansar que a temporada de montanhas se avizinha.
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No dia 14 de Junho de 2019 foi inaugurado o Caminho de Nhá Chica, inspirado no Caminho de Santiago de Compostela e no Caminho da Fé, a rota se inicia na cidade de Inconfidentes/MG e vai até o Santuário de Nhá Chica em Baependi/MG, são cerca de 260 km cruzando as belíssimas paisagens montanhosas da Serra da Mantiqueira, é todo sinalizado com setas e placas, para mais informações há um grupo no Face com o nome "Caminho de Nhá Chica" ou visite o site: www.caminhodenhachica.com 1° Dia: Inconfidentes/Borda da Mata (21 km). Eu percorri em Setembro de 2019, o 1° trecho, entre Inconfidentes e Borda da Mata, é o mesmo do Caminho da Fé, após Borda os caminhos se separam, o da Fé vai pra Tocos do Moji e o de Nhá Chica vai para Congonhal... 2° Dia: Borda da Mata/Congonhal (25 km). Trecho muito bonito após uma fazenda com um haras, muito pitoresco, na metade do trecho há uma torneira ao lado da Igrejinha no bairro das Almas, o topo da Serra das Almas e Cachoeira das Almas são os destaques desse trecho... 3° Dia: Congonhal/Espírito Santo do Dourado (26km). Trecho magnífico, logo de cara tem que superar a Serra de São Domingos, ainda na Serra, no km 07 tem fonte de água potável e mais uns 7 km depois tem o Santuário da Obediência, com estrutura de água e lanchonete, a paisagem é linda, com lindas araucárias e várias plantações de brócolis e morango, um dos trechos mais bonitos do caminho... 4° Dia: Espírito Santo do Dourado/Silvianópolis (20 km). Trecho muito bonito e ermo até a rodovia MG-179, chegando nessa rodovia, a uns 100 mts tem uma barraca de frutas e doces mineiros onde adquiri bananas e doces, os últimos 3 quilômetros são em asfalto até Silvianópolis... 5° Dia: Silvianópolis/Careaçu (20 km). Trecho plano e tranquilo perto dos anteriores, na saída de Silvianópolis há um belo lago chamado Lago dos Bandeirantes, próximo a Careaçu o caminho coincide com o Caminho de Aparecida até a cidade, paramos no bar da ponte para beber alguma coisa e seguimos para a belíssima Pousada Castelo... 6° Dia: Careaçu/Heliodora (24km). Saindo de Careaçu por baixo da Fernão Dias, chegasse na Comunidade Rainha do Brasil, ali o monge Bernardo ofereceu café e batemos um papo, deixando o local passa-se por umas 3 porteiras e uma pequena trilha até pegar a estrada de terra novamente, a partir dali caminha-se por lugares muito ermos e bonitos até o km 16, ali há um comércio para abastecer e depois seguir pelos 8km finais pelo asfalto visualizando lindas montanhas... 7° Dia: Heliodora/Natércia/Conceição das Pedras (24km). Entre Heliodora e Natércia há uma grande inclinação a ser vencida, ou seja; vai ter que subir muito e descer tudo até Natércia, lá de cima tem uma bela vista de ambas cidades, em Natércia me abasteci com víveres e segui rumo a Conceição das Pedras em meio a belíssimas paisagens, o destaque nesse trecho é a bela Cachoeira da Usina, eu aconselho a ficar em Natércia pois a pousada lá é muito boa e serve janta e a de Conceição das Pedras fica atrás de posto de gasolina, sem janta... 8° Dia: C. das Pedras/Cristina (36km). Mais um dia com uma serra a ser vencida, talvez a maior inclinação do trecho, porém esse trecho é o mais belo do caminho, passa por mata nativa, pelo bairro Sertãozinho e Vargem Alegre onde há muitas plantações de banana e café, em Vargem Alegre (km18) há uma pousada, seguindo adiante, o caminho até Cristina revela-se magnífico com suas belas paisagens, Cristina é uma cidade turística e charmosa, a mais bela do caminho... 9° Dia: Cristina/Carmo de Minas Carmo de Minas (20km)/ Soledade de Minas (16km). Pretendia fazer os 36km mas entre Cristina e Carmo de Minas é por uma rodovia movimentada e sem acostamento, portanto peguei uma carona até Carmo e de lá iniciei os 16 km até Soledade, o trecho é por terra e plano, não tem a beleza dos trechos anteriores mas é bonito, ali já estamos caminhando pela famosa Estrada Real, Soledade de Minas é uma cidade bem pequena, há um trem turístico que vem de São Lourenço até lá... 10° Dia: Soledade de Minas/Caxambu/Baependi (30km). Pra sair de Soledade é necessário subir uns 4 km de asfalto (trecho movimentado) até a estrada de terra que leva a Caxambu, alguns km depois encontra a Estrada Real e segue até a cidade por trechos tranquilos, com matas preservadas, consegui ver alguns saguizinhos nas árvores, ao chegar em Caxambu segue pela rua de cima da rodoviária rumo a Baependi, terra de Nhá Chica, devido a proximidade das cidades, os 7 km finais não tem muita beleza, com alguns lixos no meio da estrada mas ali o importa é chegar ao Santuário de Nhá Chica e agradecer pela jornada perfeita, conhecer o local, comprar lembranças, carimbar e pegar o certificado, foi o que fiz depois segui para um hotel p/ descansar e voltar pra casa no dia seguinte... POUSADAS QUE PERNOITEI: Preços em 2019... Santa Varanda: Inconfidentes: $50 Tem janta 👍 Nossa Senhora de Fátima: Borda da Mata: $60 Tem janta 👍 Hotel Silva: Congonhal: $50🙁 sem janta (é melhor ficar no JS). Pousada do Adão: Espírito Santo do Dourado: $50🙁sem janta (Na verdade é ponto apoio onde vc pousa, não tem outra opção por enqto). Hotel Luciana: Silvianópolis: $50👍 Tem janta no comércio embaixo do hotel. Pousada Castelo: Careaçu: $50👍 Tem janta na praça da Matriz. Hotel Vilarejo: Heliodora: $50😒 (Única opção na cidade, tem o suficiente, conseguimos janta mas não sei se é sempre que consegue). Natércia: Pousada do Juliano: $?👍Tem janta, eu não fiquei lá mas vi que é bonita. Conceição das Pedras: Pousada da Dona Fininha ☹️ $50 sem janta, fica atrás de um posto de gas. Bairro rural Vargem Alegre: Zé Toco $?( Por ser casa de família, provavelmente serve janta, eu não fiquei lá). Cristina: Pousada Casarão: 👍🤑$100 (belíssima pousada mas é cara e não oferece janta, é melhor ficar na Pousada Real, do Célio, $50 + janta). Carmo de Minas: Hotel São Lucas:👍$? (Não fiquei mas vi que o hotel é muito bom). Soledade: Solar das Montanhas: 👍$60(boa mas não serve janta). Caxambu: Hotel São Francisco 👍$80 não oferece janta. Baependi: Pousada Instituto Nhá Chica: 👍$? (não fiquei, não sei se serve janta, a pousada é bonita). Se quiserem um relato bem detalhado visite o site abaixo: http://www.oswaldobuzzo.com.br/Home/caminho-de-nha-chica
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Dando continuidade à minha primeira caminhada (https://www.mochileiros.com/topic/55152-60-dias-a-pé-pelo-litoral-brasileiro/), me vi na mesma situação que a anterior (saí do emprego + férias da faculdade) e não pensei duas vezes antes de continuar de onde tinha parado. Parti em dezembro até a Paraíba, passei uns dias e logo depois do natal, fui pro Rio Grande do Norte onde dei continuidade de onde tinha parado. 1º DIA 26.12.2018, chegando na rodoviária da calorenta e ensolarada Natal, almocei bem baratinho por 8$ e peguei um coletivo com destino a Praia da Redinha. Chegando lá comprei água e uns lanches e parti pro mar pra dar uns mergulhos. Dessa praia temos uma bela vista da ponte Newton Navarro e de toda Capital potiguar, a água é verdinha e com aquela temperatura característica nordestina. Olhando a frente também é possível avistar o final da praia que já marca o início de Genipabu. Parti por volta das 15h com a maré baixinha e com trecho não muito vazio, com bastante casas. Rapidamente cheguei em Genipabu que é verdadeiro cartão postal, com dunas, maré baixa, algumas pedras e turistas por todo canto, hora de buggy hora de dromedário. Parti pra água pra dar mais uns mergulhos no mar calmo e depois subi a duna pra conhecer, esperei o sol se pôr e armei a rede no meio de uma moita. A noite foi sofrível com muito vento e com a falta de costume de dormir em rede e preparar comida nessas condições. Andei uns 8km. Genipabu-RN: 2º DIA Pra minha sorte a noite não choveu e assim que clareou levantei, comi alguma besteira e desci a duna pra começar a andança. Logo nos coqueiros dos restaurantes ao lado da duna consegui 2 cocos, os primeiros dessa viagem. Segui calmamente deixando Genipabu pra trás e uns 40 minutos depois surge a primeira barra pra atravessar, a do Rio Ceará-Mirim, que atravessei com água na cintura. Logo a frente próximo a Pitangui parei em umas das inúmeras casas abandonadas/vazias ou sei lá o que, e armei minha rede pra dar uma descansada. Minha ideia foi começar caminhando bem pouco pra tentar evitar as bolhas (funcionou!). Com as coxas assadas e os pés ardendo um pouco dei uma boa descansada (leia-se cochilada), enquanto os buggys passavam pra lá e pra cá. A orla de Pitangui é ligeiramente mais humilde, almocei um PF no restaurante da Maria por 10$ e segui, peguei mais 2 cocos antes de passar por uma lagoa com barracas vazias as margens da praia. Genipabu estava sempre a vista quando olhava pra trás, mais um pouco de caminhada vem Jacumã e mais belas praias surgem, um pouco mais a frente quase colado vem Muriú, cheguei já escurecendo e não achei um bom canto pra dormir, acabei armando a rede num quintal de uma casa que parecia vazia, ainda sem ritmo nenhum, apenas lanchei antes de dormir. Caminhei uns 18km. Sentido Jacumã-RN: 3º DIA Levantei cedinho e fui até a rua principal comprar meu café, depois de comer e chupar uns cajus que achei no caminho, parti na maré baixa e com mar agitado. Depois que acabam as casas vem uns 3km sem nada além de uma coqueiral bem ralo e uma faixa de areia bem extensa, ao fim da praia vem umas pedras e a barra do Rio Maxaranguape, que atravessei com água na coxa, do outro lado peguei a sombra de um quiosque vazio e descansei até o almoço. Única movimentação eram de poucas famílias se banhando no rio e pescadores trabalhando em seus barcos atracados. Almocei no mercado central por 10$ e voltei a descansar na orla que não tem nada de luxuosa. Da minha rede já conseguia avistar mais a frente a Árvore do Amor e o Farol de São Roque. Parti umas 15:30 com sol mais ameno e maré baixando, a esquerda a areia forma quase uma pequena falésia que esconde as casas por trás dela, uma dessas casas estava vazia e foi na varanda dela que armei minha rede pra dormir, antes ainda dei uma boa mergulhada, o dia foi bem tranquilo caminhando apenas uns 9km pra compensar o dia anterior. Sentido Maxaranguape-RN: 4º DIA No primeiro claro já levantei, comi e parti. Ao fim da praia vem uma falésia mais consistente e algumas pedras na areia, na praia seguinte a uns 200m vem a Árvore do Amor, que são duas gameleiras, árvore típica de lá, que parecem estar se abraçando. 300m depois vem o Farol de São Roque, que representa o ponto brasileiro mais próximo do continente africano. Ao fim da praia vem mais pedras e sempre um velho conhecido das praias, o lixo. Na praia seguinte já dá pra avistar a Praia de Caraúbas e mais distante Maracajaú. A caminhada segue tranquila com areia firme e maré baixa, as praias seguintes são muito bonitas, sempre com pedras, falésias e um formato bem curvado. Parei rapidamente em Caraúbas pra um lanche e continuei andando, um pouco a frente vem a Lagoa Peracabu, com muitas barracas e as típicas redes na água, que daqui pra frente são bem comuns. O trânsito de quadricículos e buggys é frenético entre a lagoa e Maracajaú. Ao final da praia surge um visual incrível com águas claríssimas e uma pequena lagoa formada pela maré. Cheguei em Maracajaú com a maré subindo e areia um pouco fofa, sem muita opção pra almoçar, acabei comendo um peixe por 18$ no restaurante Tereza Pança e descansei por lá o resto da tarde, alternando banhos de mar e chuveiro. Maracajaú não é muito grande, mas o que chamou mesmo atenção foi uma iguana gigante que circulava tranquilamente entre os moradores pela rua. Ao final das casas, encontrei uma abandonada parcialmente engolida pela areia e armei por lá minha rede, ainda consegui 3 cocos no coqueiral que tinha nos fundos, jantei e dormi muito bem aquela noite. Andei uns 14km. Maracajaú-RN: 5º DIA Saí cedo e comecei a andar aproveitando a sombra de uma imensa nuvem, mais a frente tem mais casas abandonadas boa pra um pernoite. A nuvem não durou muito e logo o sol brotou, com a maré ainda muito boa pra andar rapidamente alcançei o fim da praia, depois vem um retão de praia que ao final tem algumas pedras e uma bela vista do percurso que tem pela frente, daqui dá pra ver também a primeira grande sequência de parque eólico, que é bastante comum dali pra frente. A primeira praia é bem curvada, com bastante pescador puxando rede, depois de uma duna mediana começa Pititinga, descansei um pouco por lá e segui. Ao fim das casas, tem uma lagoa com algumas barracas, ainda vazia pelo horário, e uns coqueiros baixos espalhados, peguei 4 cocos e dei mais uma descansada. A praia dali pra frente é uma reta bem deserta, 3km a frente vem o Rio Tatu que tava bem rasinho sem problemas pra passar, um pouco mais a frente vem Zumbi, que já estava no clima de réveillon com suas ruas desordenadas. Almocei um frango na brasa com o melhor suco de graviola da viagem por 12$, depois fui mergulhar e descansar na praia que tinha muito quadricículo e a água com uma cor impecável. No fim da tarde fui até o final das casas e achei uma abandonada onde armei minha rede na varanda. O vento foi insano a noite toda e não consegui dormir muito bem, caminhei uns 13km nesse dia. Zumbi-RN: 6º DIA Pra compensar a noite mal dormida levantei um pouco mais tarde e a praia já tinha banhista caminhando. Amanheceu um pouco nublado, o que sempre ajuda na hora da caminhada, ainda na maré baixa logo cheguei no fim da praia onde tem muitas pedras e falésias, esse cenário segue praticamente até Rio do Fogo sempre com alguns catadores de marisco nas pedras. Faltando uns 2km pra chegar no centro um bugueiro me ofereceu uma carona até a cidade que gentilmente recusei, preferi ficar descansando embaixo de uma boa sombra de frente pro mar. Rio do Fogo tava com um trânsito insuportável de fim de ano, almocei um peixe num restaurante pela praia enquanto me molhava no mar e no chuveiro. Saí no fim da tarde com a maré alta, tive que ir descalço pra facilitar, peguei 2 cocos numa pequena duna antes de chegar em uma pequena vila, se não me engano se chama Perobinha de Touros. Mais à frente vem um hotel luxuoso com seguranças devidamente armados que me observavam enquanto andava. Mais pra frente achei 2 barracas de pescador onde armei a rede, porém devido aos fortes ventos, acabei inaugurando a barraca e dormindo nela, e foi como eu temia, muito abafado e quente. Realmente calor e corpo salgado não combinam com barraca de camping. Andei uns 10km. Sentido Rio do Fogo-RN: 7º DIA Acordei as 5h e me arrumei logo pra sair, a areia já estava bem durinha e a maré baixando. Caminhada bem tranquila e depois que passa por um imenso hotel em construção vem Carnaubinha, que é um lugar bem pequeno com a orla repleta de casas alugadas, algumas ainda em festa pela virada do ano. Quase colado em Carnaubinha vem Touros, que é bem maior e estava com a praia lotada do pessoal que passou a virada do ano ali. Fui até o centro comprar pão e estava saindo uma procissão da igreja, muita gente indo embora da festa e mais gente ainda já chegando pra aproveitar o feriado, achei uma sombra onde comi e descansei até o almoço. Almocei um frango na brasa por 10$ e vazei dali por volta das 14h, a praia entupida de gente me fazia lembrar Copacabana em dia de feriado, deixei toda a muvuca e lixo pra trás e segui andando embaixo do sol escaldante na maré alta, falei comigo mesmo que nunca mais andaria na maré daquele jeito. Apesar do trecho deserto sempre surgia alguma família pelo caminho, definitivamente era o dia mundial de ir à praia. Ao final da praia tem o Farol do Calcanhar, que tem esse nome por estar posicionado no “esquina” do Brasil, com 62m é o segundo maior farol de concreto do país e um dos maiores do mundo desse tipo, a partir daqui a caminhada deixa de seguir pro norte e passa a ser pro oeste. Logo a frente vem um restaurante e depois vem o marco do km0 da BR-101, chupei muito caju enquanto tirava foto das placas. Armei a rede numa espécie de coreto de um casarão abandonado onde assisti de camarote a lua cheia surgindo de dentro do mar. Dormi muito bem depois de andar 14km e compensei a noite mal dormida do dia anterior. km 0 BR-101-RN 8º DIA Acordei com o sol nascendo mas antes de sair ainda peguei 6 cajus pra completar o café e saí sem pressa esperando a maré melhorar. Uns 15 minutos dali tem um lugar chamado Cajueiro, que ainda estava amanhecendo, passei direto e uns 40 minutos depois vem uma bela praia que parece um lugarejo, mas é só uma praia de pescador, todas as cabanas existentes são pra guardar o material de pesca deles. Daqui pra frente começa um climão de deserto com solo mais avermelhado e com dunas realçam o cenário. Ao fim dessa praia começa uma sequência de falésias e pedras que só dá pra passar na maré baixa. Quando cheguei em São José uma família colombiana me ofereceu carona e aceitei, fui de carona de buggy até São Miguel do Gostoso, onde descansei numa sombra até a hora do almoço. São Miguel estava na ressaca do réveillon, na praia ainda estavam desmontando as estruturas da festa. A praia tem uma faixa de areia enorme, e na orla tem um banheiro público onde tomei uma bela ducha. Consegui almoçar por 12$ mas no geral lá é um lugar caro repleto de pousadas e restaurantes chiques. Deixei o local com o sol cozinhando e areia já ficando fofa. Ao chegar em um coqueiral baixinho bebi um coco e quando fui abri-lo arrebentei o dedo, pude então entender porque algumas pessoas chamam cortes feios de buceta. Mais a diante começa uma sequência de pedras diferente, elas se posicionam bem onde as ondas quebram te dando apenas duas opções: andar por cima delas ou por fora na areia fofa, elas se estendem por 1,5km. Mais à frente tem mais alguns coqueiros baixos, não me rendi e mesmo com o dedo arrebentado e com minha faca já quebrada, ainda bebi 3. Ao final vem a Praia de Tourinhos, pequena, bem curvada com água clarinha e muito mais bela que a vizinha famosa São Miguel, praia cheia e com algumas barracas, armei minha rede em um quiosque fechado. Nesse dia me desloquei 23km, sendo 8km de carona e 15km andados. Praia de Tourinhos-RN 9º DIA A noite foi bem clara com lua cheia e dormi muito bem, acordei cedo mas fiquei dando um tempo pra maré baixar, enquanto isso observava os turistas. Eles chegam tiram fotos, armam tripé, correm pra tirar uma foto sentado na areia como se tivessem contemplando o mar e voltam correndo pra ver como ficou a foto, porém não ficam sequer 10 segundos contemplando o mar de fato, ou então tiram fotos fazendo poses de yoga... não aguentei ficar assistindo aquilo e vazei dali. A 500m dali tem o Suspiro da Baleia, uma pedra que quando a onda bate jorra água pra cima como uma baleia, passei na maré inadequada e não vi nada acontecer. Essa primeira praia toda segue com a estradinha paralela, ao final dela começa um enorme parque eólico. Duas belas praias a frente vem uma pequena vilinha só com cabana de pescador, um pouco adiante mais uma sequência de pedras, que eu já tava aprendendo a andar sobre elas, com bastante cuidado, elas se estendem até a Praia do Marco. Tava difícil a caminhada pois foi a primeira manhã sem vento, mas por volta das 8h cheguei na Praia do Marco, uma belíssima praia de aguas claras e calmas, com algumas dunas e praticamente sem turismo. Aqui tem o primeiro marco do Brasil, e alguns estudiosos ainda defendem que o Brasil foi descoberto por lá, polêmicas à parte, descansei num restaurante até o almoço e comi um peixe cozido por 12$. A Tarde fui embora mas a calmaria do lugar dava até vontade de ficar por lá mais tmepo. Caminhar no sol da tarde é foda, dá muita sede, ainda mais naquele climão de deserto com mar. Com a maré baixa, algumas praias a frente cheguei em Enxu Queimado, que é muito pequena, típica vila pesqueira, fiquei pela praça descansando, a noite fiz um lanche no pequeno centro e armei a rede em um quiosque fechado. Andei 17km. Praia do Marco-RN 10º DIA Fiquei a manhã toda ainda em Enxu Queimado, almocei por 12$ uma carne de bode no que parece ser o único restaurante do lugar e parti depois do almoço com maré baixa. A primeira praia logo acaba e surge outra bem comprida, totalmente deserta que vai beirando o parque eólico. Pelo caminho no meio do nada tem umas barracas de pescador muito boas pra dormir, ao logo da praia não dá pra ver muito bem o que existe terra a dentro pois os morros de areia encobrem a vista. Lá pela terceira praia dá pra ver o imenso deserto que tem, ao fim da praia começam umas pedras que vão lentamente virando falésias. Na quarta praia resolvi parar armei minha rede numa pequena vegetação ao lado de um cata-vento, deixei a barraca armada caso chovesse, mas dormi na rede mesmo ao som das hélices girando, embaixo do céu estrelado. Esse trecho tem boas praias que são quase particulares, não tem banhista num raio de quilômetros, nessa tarde andei por 8km. Saindo de Enxu Queimado-RN: 11º DIA Parti não tão cedo esperando a maré baixar mais, as 2 primeiras praias são bem parecidas, são curtas e com muitas pedras que são vencidas facilmente. No início da terceira praia apenas uma casa de pescador e um mar lindo de cor verdinha, daqui já é possível avistar o farol bem distante. Mais adiante vem uns viveiros (eu acho) com cheiro terrível de esgoto, uma ou outra habitação pelo caminho e uma família vindo na direção contrária. Ao final da imensa praia tem o Farol de Santo Alberto e o início de mais uma bela praia, a Praia do Farol, que tem apenas uns restaurantes, pousadas e algumas famílias se banhando, depois vem uma bela duna e o centro de Caiçara do Norte, que é considerada a que tem o maior número de barcos pesqueiros do Brasil, em proporção ao tamanho do município, que deve ser verdade pois a praia é lotada de barcos e as ruas cheias de peixarias. Almocei por 12$ no restaurante da Maria, um dos poucos da cidade e fiquei o resto da tarde mergulhando e assistindo ao vai e vem das jangadas e barcos, embalados pelo vento furioso que veio de tarde. Jantei um espetinho de carne e dormi pelo centro mesmo, numa peixaria detonada pela maré. Andei 11km. Caiçara do Norte-RN: 12º DIA Como no dia anterior esperei pra sair depois do almoço pra pegar a maré boa, almocei no mesmo lugar e fui embora depois do almoço pra encarar o que seria um dos maiores trechos sem nada pelo caminho. Uma sequência de cabanas de pesca marca o final da cidade, a partir daí é só praia deserta, duna e muito vento. Vão surgindo dunas maiores e limpas, sem vegetação, e após uma longa praia voltam os cata-ventos do parque eólico. O vento em certos momentos me fazia andar torto, ele batia forte pelas costas e ficava o tempo todo balançando minha mochila. Tentei andar um trecho descalço pisando somente na lâmina d’água, mas não compensou, depois a sola do pé ficou pegando fogo e voltei pro chinelo pela areia seca. Nesse dia só passaram por mim dois vaqueiros que estavam seguindo pro interior das dunas pra buscar os bois que estavam pastando por lá. Vez ou outra passava alguma moto ou carro aproveitando a maré baixa, mas no geral é uma caminhada solitária pela praia deserta. Parei no que parece ser o meio do caminho, onde tem umas instalações do parque eólico, armei a rede nunca casa sem telhado e dormi sob o céu muito estrelado porém, sem lua. Andei 14km. Sentido Galinhos-RN: 13º DIA Apesar de não ter chovido a noite, acordei com a rede toda úmida do sereno, me arrumei rápido e parti já com a areia firme, e sem nenhum vento. Numa caminhada constante, em menos de uma hora, chego no final dos cata-ventos, e uns 50 minutos depois vem um lugar chamado Galos, lá tem poucas casas e uma bela praia. No final dessa praia vem Galinhos, um pouco maior e com outra praia bem bonita. Passei o resto d amanhã mergulhando nas águas claras e descansando na sombra, a essa hora o sol já estava castigando e a praia não parava de encher, afinal era um domingo ensolarado. Em Galinhos só se chega de balsa, carro 4x4 ou moto, sendo as duas últimas opções pela praia em maré baixa. É uma cidade pequena bem simpática, infelizmente devido seu isolamento é tudo bem caro, almocei a comida mais cara de toda viagem, uma frango parmegiana sem graça por 22$. Descansei o resto da tarde na praia onde ficava o vai e vem dos “uber-jegue” rsrs, boa parte da cidade não tem calçamento então existe esse serviço regulado de transporte de charrete, praticamente destinado a quem vem de fora a passeio. Jantei um espetinho que custou o olho da cara e dormi numa barraca uns 500m depois do centro em direção ao farol. Andei 12km. Galinhos-RN: 14º DIA Depois de Galinhos começa uma espécie de delta, com uma grande sequência de barras, que se estende até Porto do Mangue, aqui eu planejei meu primeiro trecho de transporte. Cheguei cedo pra pegar a balsa das 07:30, é preciso chegar cedo pra garantir uma senha de acesso, a balsa até Guamaré é gratuita, todos vão sentados, a viagem é lenta mas bem tranquilinha, chegando lá não me informei direito sobre os transportes até Macau e acabei indo nos carros alternativos que fazem lotada, paguei 15$ até Macau. Fiquei na rodoviária e de lá peguei um ônibus por 5$ até Pendências, lá eu me dirigi até a saída da cidade e fiquei esperando algum transporte ou carona. Carros de passeio passavam fingindo que nem me enxergavam, mas quando passou um caminhão caçamba, bastou eu acenar que o coroa parou na hora e me perguntou se queria carona, e assim fomos até Porto do Mangue, pelo caminho estradinha horrorosa, muita seca e muita carcaça de boi morto. Chegando na cidade, fui logo almoçar no único restaurante do mercado público, comida farta e barata. Descansei me abasteci de água e segui com o sol mais fraco, basta ir beirando a orla até o mangue e seguir margeando até o mar. A extensa faixa de areia é a maior de todas até aqui, tão grande que se perde de vista, alguns trechos repletos de conchinhas. Durante o percurso, apenas uma ou outra moto passava aproveitando a maré baixa e areia firme, da praia é possível ver as dunas do Parque de Dunas de Rosado, com suas dunas brancas e avermelhadas, resultado dos sedimentos que vem das falésias, no horizonte a frente tem mais parque eólico. Cheguei na pequena Rosado no fim da tarde, com a praia e barracas desertas, fiquei descansando e batendo papo com um pescador, e armei minha rede em uma dessas barracas vazias. Me desloquei 114km, sendo 5km de barco, 98km de estrada e 11km a pé. Orla de Porto do Mangue-RN: 15º DIA A noite foi terrível, acordei no meio da madrugada vomitando toda minha janta (miojo com sardinha era o que jantava na maioria das noites), levantei assim que clareou, o mesmo pescador do dia anterior já estava por lá, me despedi e segui. A estrada segue paralela à praia até Ponta do Mel, por coincidência, o velho que me deu carona de caminhão passou e deu uma buzinada. O sol seguia encoberto pelas nuvens e corria uma brisa agradável, pelo caminho só dunas e alguns casarões pelo caminho. No fim da primeira praia vem Pedra Grande, um lugarejo minúsculo, ao final da segunda praia surge um farol meio escondido, dali pra frente já é Ponta do Mel. Descansei o resto da manhã em um dos diversos bares da orla que estavam fechados, consegui achar um restaurante pra comer por 12$ com direito a suco da fruta e armei a rede pra descansar a tarde. O vento soprava quente, o sol tava rasgando e a terra avermelhada me fazia pensar que estava no meio de algum deserto. A praia seguinte é bem curvada, com mais dunas e cata-ventos, foram 10km de muito calor, maré baixa e pernas começando a ficar doloridas, ao final da praia vem um restaurante, muitas pedras, falésias e conchinhas. Tem uns bares abandonados na altura do cemitério, fiquei por lá e armei a rede logo cedo pra descansar mais. Andei 18km. Rosado-RN: 16º DIA Dormi bem demais, dei uma boa descansada, acordei sem pressa e fui embora. A primeira praia que surge é a principal do lugar, Cristóvão, somente com alguns barcos e pescadores na água, pela orla as casas são bem distantes, todas grandes e com varandas. A manhã toda foi de nuvens com o sol saindo de vez em quando e bem abafada, daqui já dá para ver todo o caminho restante até o Ceará. Ao fim da primeira praia tem umas pedras e uns 3km depois um pequeno lugarejo, e bem mais a frente vem Baixa Grande, outro lugar bem pequeno apenas com casas de veraneio que estavam 90% vazias, parecendo uma cidade fantasma. Seguindo a dica de um morador, fui por trás das casas pra passar pelo mangue e cruzar a barra com água na coxa, a praia depois dessa barra é típica de pescador também vazia. Depois de um trecho de praia deserta chega Upanema, a essa altura o sol já tinha saído por completo e castigava, eu estava seco de sede e parei num bar pra pedir um pouco de água e seguir até Areia Branca. Entrei em uma rua que dava acesso ao centro e um mototáxi me deu uma carona me fazendo poupar uns kms. Almocei numa churrascaria por 10$, matei minha fome e sede e como precisava lavar roupa, fiquei na Pousada Central por 50$. Andei 21km. Cristovão-RN: 17º DIA Lavei as roupas pela manhã, peguei a balsa e atravessei o Rio Mossoró ou Rio Apodi por 3$, a balsa deixa no município de Grossos a 4km da praia, estendi as roupas ainda molhadas e fiquei aguardando o sol pra secá-las. Com as roupas secas e com fome tentei uma carona até a barra do rio, mas foi uma tarefa difícil, quando você pede carona parece que ganha o super poder de ficar invisível, mas não desisti e consegui uma caroninha de carroça puxada por um burro rsrs. Foi desconfortável e lento mas cheguei na barra e matei minha fome com um PF de 15$. Chegando na praia ela estava com uma cor azulada muito bonita, com poucas crianças dali mesmo tomando banho. Passando as casas vem uma reta que se estende até Tibau, pelo caminho é comum avistar muitos grupos de cavalos andando livremente pela praia deserta e também alguns playboys de quadrículo. Cheguei em Tibau no fim da tarde, a praia estava lotada de turistas, todos uniformizados com suas ridículas blusas UV manga longa, que me olhavam meio torto ao cruzar a orla repleta de mansões. No final da praia fica a divisa de estados, mas a cidade continua do lado cearense, tomei uma bela ducha em um restaurante e armei a rede já no escuro numa varanda de uma casa vazia. Apesar da noite com muito vento, eu estava com muito ânimo por chegar no Ceará, esse dia andei 19km. Sentido Tibau-RN: 18º DIA Parti cedo de Tibau, demora um pouco até a praia ficar sem casas. Precisava chegar em São Luís-MA em até 25 dias, então estabeleci uma média de 18km por dia pra conseguir chegar a tempo. Depois que somem as casas não demora muito pra chegar em Tremembé, lugar minúsculo, com alguns restaurantes e poucas pousadas, lugar onde a tranquilidade reina. Parei na barraca do Juarez que ainda estava abrindo, dei uns mergulhos no mar quentinho e descansei até a hora do almoço. Fiquei batendo papo com o pessoal gente boa da barraca e ainda almocei uma moqueca de arraia que saiu de graça. Parti de tarde, com maré baixando e areia firme, surge mais um lugar bem pequeno chamado Quitéria, e o mar vai ficando com cara de manguezal, as casas se estendem até quase o final da praia. Chegando na barra tem um mangue enorme que afunda até o peito além do rio que não tem como passar, por sorte encontrei 3 biólogos que estudavam os passarinhos maçaricos do local, e me deram uma carona até o outro lado. Ainda percorri toda a Praia de Requenguela até o final das casas pra achar um local pra dormir, armei a rede numa cabana de pescador, muito vento a noite e uma chuva rápida que me fez trocar a rede de lugar. Andei 21km. Sol nascendo em Tibau-RN: 19º DIA Parti com o céu um pouco nublado e com a praia ainda cheia de algas, que estavam se estendendo desde Quitéria. Ao final da praia se acabam as casas e tem início uma sequência de falésias. A primeira praia é pequena e deserta, a segunda tem alguns casarões, é a bela praia de Picos, a terceira é Peroba, praia cercada pelas falésias e a mais bela da região, com alguns casarões e casas de pescador, depois vem a quarta praia, a Redonda, um pouco mais extensa e mais simples, com alguns restaurantes e chalés ao longo da orla. Descansei ali o resto da manhã, almocei um belo peixe e fiquei mergulhando na Barraca da Boneca. Parti a tarde na maré alta mas parei na sombra da falésia ao fim da praia pra descansar mais. Aqui as dunas e falésias alternam cores brancas e avermelhadas, a praia seguinte é bem pequena e ao final dela não há saída, tive que continuar por cima do morro, valeu a pena a subida pois a paisagem vista de lá é única. Mais a frente tem uma descida por uma duna gigante e muito íngreme que dá acesso a Ponta Grossa, que é uma praia bem reservada com alguns chalés. Uns metros adiante é preciso cruzar um mangue grande com um cheiro terrivelmente podre com água até a coxa, basta ir margeando as ondas que logo chega na praia seguinte. Parei logo numa cabana de pescador e armei minha rede por ali mesmo um pouco antes de Retiro Grande. Foram 17km andados. Peroba-CE ? Picos-CE ? não lembro... : 20º DIA Parti cedo, 1km a frente termina a praia, Retiro Grande fica acima das falésias. A praia seguinte é um cenário do paraíso, praia bem curvada, com apenas uma mansão, um belo mar e falésias a perder de vista. Uma manhã bem ensolarada porém com um vento fresco e areia boa pra caminhar. Uns kms a frente tem um pequeno lugarejo de pescador, depois vem Fontainha, também bem pequena com casas de pescador e algumas de veraneio, passei direto por ela. Às vezes eu me esquecia em que dia da semana estava, mas bastava ver o transito irresponsável e intenso de buggys e hilux que já entendia que era domingo. As falésias vão deixando o vermelho de lado e passam a ficar mais clarinhas e começam a surgir fontes de água doce, algumas delas infelizmente cheias de lixo. Chegando em Lagoa do Mato só tinha um restaurante na praia, acabei seguindo em frente só parei pra almoçar em Quixaba, que tava lotada, fui até o centro onde descansei e almocei uma “leve” panelada cearense (dobradinha). Só uns 30 minutos a frente fica Marjolândia, que estava igualmente lotada, andei mais e parei depois da praia numa cabana vazia, armei a rede, descansei o resto da tarde e fiquei ali mesmo pra dormir. Andei 21,5km. Partindo de Retiro Grande-CE: 21º DIA A tarde anterior teve um belo pôr do sol e o dia começou com um nascer do sol espetacular. Enquanto me arrumava para sair um pescador já chegou me oferecendo um burrinho (garrafa pequena) do elixir cearense, a famosa Ypioca, nem eram 6h e o cara já tava dando um talento na cachaça rsrs. Me despedi e segui a caminhada, bem perto dali tem um resort abandonado, meio cenário de filme de terror mas um bom local pra dormir. No fim dessa praia tem algumas pedras que marcam o início de Cano Quebrada. Com a praia ainda vazia, passei pelas falésias pintadas e subi a escadaria até o centro, providenciei meu café da manhã. O centro é todo turístico e voltado para o consumo, aquilo me deu arrepios e vazei o quanto antes. Não sei porque mas tinha nas minhas anotações que deveria contornar de Canoa Quebrada até Parajuru, talvez devido alguns rios e barras que teria pela frente, analisando hoje acho que me precipitei e acabei deixando de conhecer uns 25km do paraíso, enfim, fica pra uma próxima. Peguei uma típica Topic até Aracati por 3$ e depois outra de 6,50$ até Parajuru. Em plena segunda feira encontrei um mar azul com uma praia belíssima e vazia, que não deixa e desejar em nada a nenhum dos litorais famosos do nordeste, local ainda desconhecido do turismo da moda, que espero que continue assim, isso acabou me dando a impressão de que ali era um dos grandes achados da viagem. Parei em uma barraca onde fiquei o resto da manhã descansando na rede, e mergulhando nas piscinas formadas na maré baixa. Almocei uma carne de sol com um bom suco por 15$ e continuei a descansar. Parti umas 15h com a maré já subindo mas com areia ainda boa pra caminhar, o dia inteiro sem nenhuma nuvem no céu. Quando voltei a andar foi preciso desviar de duas casas onde as ondas já batiam nos muros, na praia seguinte tem diversas barracas de palha vazias pra dormir, muitas construções destruídas pela maré, muito lixo e um parque eólico que se estende pela praia sem fim, uns 6km tem umas barracas de pescadores vazias onde dormi, teve mais um belo pôr do sol e tive uma boa noite de sono. Me desloquei 53km sendo 40km de transporte e 13km andando. Parajuru-CE: 22º DIA Levantei cedo e parti enquanto chegavam os primeiros pescadores preparavam o material pra entrar no mar. A Prainha do Canto Verde é uma vila pesqueira bem pequena, passei direto por ela, a praia continua numa reta longa, com mar agitado e presença de lixo na areia. 8km a frente tem a Lagoa do Pequiri, com águas claras e barracas com rede na água, era terça e o lugar tava vazio, parei pra mergulhar e dar uma boa descansada. Logo 1km a frente se acaba a praia e começa outra com belas falésias brancas que vão até Barra do Sucatinga, lugar bonito demais, onde se formam piscinas na maré baixa, mas o lugar é mais conhecido mesmo por ter sido cenário das gravações da primeira versão do programa “No Limite”. Almocei peixe na barraca do Belarmino por 15$ e descansei enquanto já avistava no horizonte a Praia de Uruaú. A tarde antes de partir ainda roubei 4 cocos pelos quintais, a maré ainda não estava totalmente alta mas a areia já estava ruim pra caminhar. Em Uruaú só tem casarão e hotel, sequer tem barco de pescador por perto, passei direto, ao fim das casas tem uma lagoa que serve de parada para os passeios turísticos, lotada de farofa também passei direto. Ao final da praia começam as falésias e as bicas de água doce, em uma delas parei pra banhar e uma onda molhou a mochila e deu um banho na minha máquina fotográfica que quase me deixou na mão o resto da viagem. Parei na Praia do Diogo, na barraca Dodô do Mar, não demorou 15 minutos e o dono me chegou com 4 pastéis e uma garrafa de água geladinha, mostrando o quão gente fina é o cearense. Comprei uma cocacola e dormi na rede ali mesmo. Andei 22km. Sentido Morro Branco-CE: 23º DIA Parti cedinho, os mosquitos me perturbaram a noite mas deu pra dormir. Maré baixando, caminhada bem fácil e com uma brisa agradável, ao final da primeira praia foi preciso contornar umas casas devido as ondas. Mais a frente surgem várias bicas de água doce pelas falésias, em um momento é preciso ir andando bem devagar entre pedras que surgem na areia, depois dessas pedras já é o centro de Morro Branco, daqui até Barra Nova só tem casarão de luxo, muitas delas até vazias. Barra Nova é bem bonito, atravessei a extensa barra do Rio Choró sem problemas e descansei até o almoço, comi um farto PF de peixe e fui pra uma barraca as margens do rio pra descansar, não demorou muito e já encostou um pescador e o salva vidas local pra bater papo, aprendi mais sobre a relação lua x maré, e sobre kitesurf. Saí com a maré subindo e sol castigando, ao fim da praia tem a barra do Rio Malcozinhado, aqui já é a famosa Águas Belas do Ceará, rio e praias lotadas de banhista e kitesurf. Fiquei do outro lado e logo surgiu uma balsa que me atravessou de graça, o lugar é bem pequeno. Tomei uma ducha numa barraca e lanchei no centro a noite, voltei até as barracas onde armei minha rede as margens do rio. Andei 20km. Águas Belas-CE: 24º DIA Levantei cedo com o céu totalmente nublado e parti com a maré já baixando. Apenas 3km de Águas Belas já vem o centro de Caponga, com sua orla totalmente tomada por jangadas e pescadores. Depois de dar uma reforçada no café da manhã segui com um leve chuvisco caindo, é preciso contornar algumas casas parcialmente destruídas pelas ondas até sair numa praia que segue reto. Areia durinha clima fresco, logo vem a Praia do Balbino com alguns barcos, restaurantes fechados e poucas casas, a praia aqui tem algumas pedras que parecem lama, troncos e raízes pela areia, como se ali fosse um antigo mangue que vai até Batoque, a praia seguinte com cenário semelhante a anterior. Depois vem mais uma reta extensa e bem deserta até chegar em Barro Preto, nesse trecho uma vegetação com alguns lagos seguem junto a praia, que estava com mar agitado desde Caponga. Depois das primeiras casas de Barro Preto surgem algumas pedras e uma belíssima praia, no final dela tem uma duna que marca o início de Iguape. A essa altura o sol já tinha saído um pouco tímido e o mar estava com cor impecável, almocei um PF por 10$, armei a rede pela orla e fiquei o resto do dia descansando, dormi numa varanda das inúmeras casas abandonadas pela orla, dormi muito mal, caí 3 vezes após a corda que amarrava a rede se arrebentar, e acabei armando a barraca, na madrugada choveu algumas vezes. Caminhei 19,5km. "Caponga do Peixe-CE": 25º DIA Parti logo no amanhecer ainda um pouco nublado mas antes de sair do centro já dei de cara com um manguezal intransponível desaguando na praia, voltei até o centro e peguei um ônibus até Fortaleza por 7,50$, de lá peguei outro até Caucaia por 3,20$ onde fiquei até o almoço, um delicioso PF com churrasco de 10$. Depois do almoço peguei mais um ônibus de 2,50$ que me levou até Cumbuco, a essa altura o sol já brilhava forte. A praia é lotada de turista, hotéis e restaurantes, olhando pra trás da pra ver boa parte de Fortaleza e a frente, no fim da praia, o enorme Terminal Marítimo de Pecém. As águas de cumbuco estavam com tons de marrons e verde mais ao fundo, ao longo da praia só tem um coqueiral meio ralo, e no fim dela uma lagoinha com algumas barracas vazias. Passei pelo terminal, onde um pescador pegava um peixão jogando rede de mão, segui pela areia fofa e grossa até a orla de Pecém, que tava lotada de jogos de futebol, não me agradei do local pra dormi e continuei seguindo em frente. Depois que passa o centro, vem um pequeno manguezal e após ele muitas pousadas e casarões, já estava quase escurecendo, minhas costas estavam moídas de dor quando achei o que parecia ser uma pousada parcialmente engolida pela areia, armei minha rede nela ao lado de uma sinuca, as tomadas estavam até funcionando só faltou um chuveiro rsrs. Percorri 93km sendo 82km de ônibus e 11km andando. Cumbuco-CE: 26º DIA Dormi muito bem, parti sem pressa depois de carregar meus eletrônicos, com maré ainda um pouco alta, algumas nuvens com sol e pouco vento. Um bicho do pé que surgiu no meu dedão já começava a incomodar mas não comprometia a caminhada. Esse primeiro trecho não tem nada, só areia sem fim e mais um parque eólico que vai até Taíba. Surgem os primeiros casarões, e algumas ondas medianas bem disputadas pelos surfistas, mesmo ainda sendo bem cedo. Após contornar algumas pedras vem a belíssima praia do centro, com água na cor do paraíso, no centro tem um comércio bem barato onde tomei mais um café da manhã, voltei a praia e armei minha rede na sombra de uma casa fechada, onde rolava uma discreta boca de fumo. Descansei até a hora do almoço, comi uma galinha ensopada por 10$ e voltei a praia. Depois do centro vem mais 2 praias, uma mais bela que a outra com pedras formando pequenas piscinas, resumindo, Taíba é perfeita, é um lugar barato, com praias lindas porém bem menos agitada que outros destinos, e torço pra que continue assim. A frequência das casas vão diminuindo até na Lagoa da Barra, que tem algumas barracas boas pra pernoite todas vazias, na lagoa mesmo só havia a galera do kitesurf. Alguns rios que tinham em minhas anotações estavam tão ralos que nem localizei, pelo caminho de vez em quando surge um coqueiral, depois vem 2 casas isoladas, mais umas barracas de pescador, algumas peças metálicas gigantes vindas do terminal encalhadas na praia e muito chão depois vem o Bar do Kite, são uns restaurantes isolados na praia onde é o point do kitesurf, que tava lotada de gringo, parei pra uns mergulhos e uma chuveirada, andei mais um pouco e parei pra dormir numas barracas de pescador, a noite os mesmos surgiram pra alimentar os gatos com peixe e como sempre, me deixaram muito a vontade pra descansar e ainda insistiram pra que eu aceitasse um pouco do pescado deles. Andei 24km. Taíba-CE: 27º DIA Choveu algumas vezes na madrugada e amanheceu meio nublado, fui embora e logo a frente vem um terminal da Petrobrás com alguns restaurantes. Depois do píer, vem uma praia linda onde as ondas batem direto do paredão das dunas, as praias seguintes são uma mais bela que a outra, água esverdeada/azulada impecável. Segue nesse ritmo até a Praia do Farol, no centro, onde tomei um café enquanto descansava e observava todo o percurso dali pra gente. 9h da manhã e o sol ainda brigava pra sair, já havia chovido 2 vezes, cada chuva com menos de 1 minuto de duração, as 10h o sol saiu pra valer. Passei a manhã mergulhando e pegando as mangas que caíam na areia, tomei umas duchas nas bicas de água doce e almocei um PF de 10$. A tarde segui meio contrariado, pois Paracuru é um lugar digno de se passar 1 semana de férias somente ali. Saindo do centro vem outra sequência de praias lindas que vão até a barra do Rio Curu, que apesar da maré baixa não secou completamente formando 3 rios menores para atravessar com água no estomago. 2km a frente no meio do deserto de areia tem uma barraquinha de pescador com rede armada e tudo, dei uma parada pra descansar e botar a máquina pra secar novamente no sol. Decidi que ia andar 1h e descansar 10 minutos sempre, isso funcionou e amenizou as dores nas costas. Continuei pela praia deserta apenas com alguns coqueiros velhos até o final da praia, achei outra barraca de pescador já com rede, um balanço e até uma mesa improvisada, pernoitei ali mesmo depois de andar 17km. Paracuru-CE: 28º DIA Dormi muito bem, e parti pra Lagoinha logo cedo, logo ao fim da praia vem umas pedras e surgem as primeiras casas, nas pedras eu pude ver o mesmo Suspiro da Baleia que não consegui ver em Tourinhos, trata-se da onda batendo por baixo das pedras que faz com que jorre água por um buraco, fazendo um barulho e esguicho bem parecido com da baleia, minha câmera tava dando problema e não consegui registrar. Lagoinha é bem bonita, com uma bela praia cheia de bicas de água doce e muito casarão, além de um hotel gigantesco sendo construído. Seguindo em frente só tem kms de praia deserta e coqueiral ralo, parei em um deles pra descanso e o destino tratou de colocar justo ali um ganho de pegar coco e arranquei 1 pra beber. A frente vem o Rio Trairi, que atravessei com água na coxa, do outro lado tem algumas barracas mas todas fechadas, depois vem um pequeno lugar chamado Canabrava, e volta o deserto, pelo caminho apenas os jegues (contei mais de 25) pastando livremente. Depois vem Guajirú, lotada de mansões, hotéis e muita construção, a maré baixa deixava a praia com centenas de metros. Guajirú é lugar de barão, com tudo caro, mas consegui um PF por 15$ na rua de trás. Descansei o resto da tarde na rede que armei num restaurante fechado, fiquei o olhando o mar azulado enquanto bebia 3 cocos roubados de um quintal. No fim da tarde segui pra Flecheiras que fica a menos de 20 minutos, por lá as mansões se multiplicam e surgem os playboys com seus quadricículos. Dormi no 2º andar de uma casa abandonada na orla. Andei 22km. Guajiru-CE ? : 29º DIA Acordei quase as 7h com o tempo bem nublado, fui até o centro tomar um café. Na orla ficam as mansões e hotéis, nas rua paralelas vem as casas mais simples, comi na praça do centro junto com umas mangas que achei pelo caminho. O resto da manhã foi só chuva com raios, fiquei passando o tempo junto com o pessoal que aluga quadricículo na praia. Na hora de almoçar, tem que cruzar a rodovia, pois lá tem um centrinho onde turista não frequente, tudo com preço justo, comi um PF de 10$ mas um cara do quadricículo, o Rubens, fez questão de pagar meu almoço. Voltamos pra praia e fiquei no aguardo do sol pra poder dar uns mergulhos, como ele não saiu completamente fui assim mesmo, dei uma mergulhada nas piscinas naturais de Flecheiras e parti depois das 16h. Flecheiras vem ganhando fama de paraíso (e realmente é), e aumentando consideravelmente o turismo por lá, aos poucos vai deixando de ser uma vila pesqueira pra se tornar mais um destino da moda. Parti na maré baixa e com clima fresco, caminhada sem dificuldade até Emboaca, que é bem pequena, segui adiante sempre com a estrada paralela a praia, ambas vazias, apenas os jegues e eu. Vendo que não tinha nenhum lugar legal pra dormir embiquei pra dentro das dunas pra ver e avistei uma casa de longe que aprecia abandonada próximo a um coqueiral no meio das belas dunas e de um parque eólico, estava longe mas fui até lá e não deu outra, estava vazia e armei minha rede dentro dela. Dormi muito bem depois de andar apenas 9km. Flecheiras-CE: 30º DIA 24.01.2018, meu aniversário de 31 anos. Acordei cedo, não achei nenhum coco e fui embora. Praia boa pra caminha tempo fresco e maré baixa e em torno de 1h já estava em Mundaú. Na praça ao lado da rio peguei 1 coco e depois fui pro outro lado da duna dar uns mergulhos, chupar mais manga e descansar o corpo que tava bem dolorido. Mundaú é lindo demais, tem umas dunas bem grandes e o rio tem uma água verde incrível. Fiquei nesse ritmo o resto da manhã toda, enquanto os turistas faziam os típicos passeios de buggy. Almocei no centro e voltei, atravessei o rio na balsa por 2$ e continuei a descansar do outro lado. Parti na maré baixa e com a praia deserta, pelo caminho um pescador me ofereceu uma carona mas recusei. Cheguei em Baleia, outro belo lugar repleto de piscinas naturais e bons lugares pra pernoitar, mas acabei indo pra uma cabana de pescador meia boca. Durante a madrugada choveu 2 vezes e me molhei todo, essa foi a pior noite de todas. Andei 16km. Mundaú-CE: 31º DIA Levantei logo cedo pra arrumar as coisas molhadas, enquanto os barqueiros chegavam pra pegar os materiais na barraca, como de costume todos me deixaram bem à vontade pra ficar o quanto quisesse. Deixei a bela Baleia pra trás e parti com a maré subindo e o céu bem nublado, caminhada razoável com o corpo muito dolorido, pelo caminho apenas algum pescador ou outro e muitas jangadas entrando no mar, moradores circulando de moto também era comum. Pouco tempo depois chega Apiques, que se resume a uma fileira de casas com um cemitério no final, bem no meio da praia, dei uma descansada rápida e segui até o próximo lugarejo, os Caetanos de Cima, colado nele vem os Caetanos de Baixo, ambos bem calmos e vazios sem nada de comércio, com muito coqueiro baixo, porém com os donos de vigia rsrs, acabou que pedi informação pra um morador e o mesmo me convidou pra almoçar na sua própria casa, não recusei, comi um dos melhores peixes de todos, pescado na noite anterior, insisti com ele e paguei 15$ pelo almoço. Passei o resto do dia na rede da bodega dele descansando e tentando secar a máquina que devido a umidade deu pane novamente. O sol só ameaçou sair umas 14h, parti umas 15h, achei um coco seco que fui comendo pelo caminho até que em algum trecho de praia deserta um cara passou de quadricículo me ofereceu carona e aceitei, fui até onde começa a primeira casa de Icaraí, onde tem umas armadilhas de peixe parecidas com um cercado de madeira, dormi num barraco abandonado ao lado de uma mansão, dormi logo cedo exausto. Andei uns 20km e fui uns 5km de carona. Fiquei sem máquina esse dia. Lua cheia nascendo do mar, km 0 BR-101-RN: 32º DIA Parti sem pressa e com o céu um pouco melhor que o dia anterior, mesmo sem sol o mar aqui é absurdamente bonito, muito verdinho e com muito recifes e algumas piscinas. No centro de Icaraí a praia é bem curvada com muitos coqueiros, pousadas e mansões, caminhada fácil até chegar uma sequência de pedras no final da praia onde tem mais um cemitério a beira mar, mais um pouco adiante já começa Moitas, lugar pequeno demais com quase nada na orla, fiquei numa barraca na praia botando a máquina no sol, descansando e dando uns mergulhos, almocei o melhor peixe de toda a viagem, um verdadeiro banquete por 15$, com direito a típica “cambica” cearense, prato típico de lá. Fiquei boa parte da tarde descansando e mergulhando no mar verdinho até partir por volta das 15h. Depois de uns 800m do centro é preciso entrar nas trilhas até sair no local da travessia, basta seguir a marca dos pneus na areia, pelo caminho ainda roubei 2 cocos de um restaurante vazio. Pra atravessar um dos braços do enorme Rio Aracatiaçu, tem que pagar 5$ que só leva até o outro lado, então é preciso atravessar um longo trecho na lama do manguezal até sair num estradinha e ir direto. Pelo caminho ainda pulei uma cerca pra pegar umas frutas, saldo: 3 cocos, 3 cajus e 2 mangas. Depois de passar por alguns postes eólicos é só pegar a direita na bifurcação que sai em Morro dos Patos, outro lugar minúsculo com uma vista paradisíaca. Segui beirando o lago até sair na praia sempre com a presença dos jegues, no meio da praia deserta surgem 3 barracas de pescador vazias, dormi em uma delas depois de andar 20km. Morro dos Patos-CE: 33º DIA Levantei como de costume umas 5:30 com tudo ainda nublado e um leve chuvisco. Rapidamente cheguei em Torrões, onde atravessei outro braço do Rio Aracatiaçu com 2 pescadores que estavam chegando do mar, daqui eu resolvi logo fazer mais um contorno da sequência de barras que vinha adiante e acabei pegando um carro tipo pau de arara até Itarema por 5$, depois outro por 8$ até Acaraú, andei até o fim da cidade e peguei uma van por 3$ até Cruz, almocei no mercado popular por 8$, depois de não conseguir nenhuma carona, voltei pra rodoviária pra descansar e pegar o único ônibus pra Aranaú por 2$, que só sairia as 22h. Ao longo do dia muita chuva forte, dia totalmente perdido. Chegando em Aranaú fui direto até a praia onde dormi num restaurante fechado, dormi pouco, porém bem. Percorri 44km de transporte e 5km a pé. Fiquei sem máquina esse dia. Carona de charrete em Grossos-RN: 34º DIA Levantei cedo, comi e parti com céu tampado de nuvem mas sem nenhuma chuva. A primeira parte da praia é um mangue seco seguido de um parque eólico desativado, pois a água do mar já está encostando neles. Pela praia só alguns pescadores, o mar nessa manhã estava uma verdadeira piscina, com muito curral pra pegar peixe, e as jangadas já começam a dar lugar aos primeiros barcos com motor. Quando se acabam os cataventos começam alguns coqueiros e pequenas dunas, a praia continua com uma faixa de areia extensa e sempre dá pra avistar porcos e jegues circulando, a esquerda mais distante vão surgindo algumas dunas maiores. Muito chão depois se chega em Barrinha, que só tinha algumas barracas vazias, mais um chão a frente vem Preá, na primeira barraca que passei tava repleta de turista, escondi a mochila dei uma disfarçada e fui lá dentro nas piscinas tomar uma ducha no chuveiro. Era um dia de domingo e a praia estava insuportável, acabei almoçando um PF por 15$ e fui descansar na guarita do Parque Nacional, fiquei por lá até a polícia me convidar pra sair, fiquei o resto da tarde batendo papo com Reginaldo, um viajante pernambucano que vive em Preá a alguns anos, tomei 3 cocos na casa onde ele toma conta e no fim da tarde me dirigi até uma barraca na praia onde dormi. O trânsito irresponsável e legalizado dos carros, a maioria turístico, dão nojo e me deixaram uma má impressão do lugar. A rota Preá x Jericoacoara pela praia tem trânsito constante de veículos de deixar qualquer cidade grande com inveja. Andei 23km. Preá-CE: 35º DIA Depois de comer alguma coisa parti rumo a Jijoca de Jericocoara, pra isso é preciso embicar pra dentro do parque e seguir toda vida pra sudoeste que fatalmente vai sair na Lagoa do Paraíso. Boa parte do Parque Nacional é enorme pasto com algum gado e jegues pastando, pequenas lagoas secas e o resto é duna, depois de passar pelo limite das dunas é só seguir por dentro da vegetação que sai na lagoa, depois é só ir beirando uns 6km até chegar no centro de Jijoca, pelo caminho os funcionários já começavam a passar vassoura retirando pequenas algas pra limpar a água pros visitantes mais fresquinhos. No final da lagoa chupei muita manga e me informei sobre algum camping, descobri o Camping do Tião, talvez o mais famoso ou mesmo o único, paguei 20$ pela diária e fui direto lavar minhas roupas. Almocei um peixe de 20$ farto porém caro pro meu bolso, armei barraca e passei o resto da tarde chupando mais manga, tomando banho e deitando nas redes da lagoa que estava deserta em plena segunda feira, a noite fiz um lanche no centro e dormi todo quebrado no chão duro da barraca. Andei 12km. Lagoa do Paraíso, Jijoca-CE: 36º DIA Saí bem sem pressa lá pelas 9:30 em direção a Vila de Jericocoara, diferente dos dias anteriores o sol saiu pra valer, quando cheguei na altura das dunas o calor já judiava demais. Pra fazer o caminho da volta, chegando nas dunas basta seguir pra noroeste em direção aos morros mais alaranjados, lá onde fica a Pedra Furada. Durante o percurso muito sobe e desce cansativo e várias paradas pra descanso, chegando na praia tem mais 1 km até a Pedra, que pra variar estava cheia de turista em fila pra tirar foto. Com a maré enchendo é preciso contornar os paredões por cima até chegar no centro, almocei por 18$ pensando que estava pagando pouco mas na rua paralela à principal tem vários restaurantes a 10$, fiquei triste como se tivesse perdido dinheiro. O resto da tarde foi só mergulho no mar e chuveirada nos hotéis rsrs. No fim da tarde segui em frente, turistas e moradores já começavam a caminhada pra Duna do Pôr do Sol, sendo que os moradores estavam voltando do trabalho e seguiam até o povoado de Mangue Seco. Logo depois da duna vem uma lagoa cheia de kitesurf, e a praia aqui é bem curta e naturalmente uma divisa entre a lagoa e o mar, um cara voltava do trabalho de buggy e me deu uma carona até a altura de Mangue Seco, fiquei ali mesmo numa barraca quase engolida pela areia, mas com mesas e cadeiras de plástico, o dono surgiu e já foi mandando eu passar a noite nela. Assisti um pôr do sol particular e espetacular ao mesmo tempo que já nascia uma imensa lua cheia. Andei um 18mk e peguei 3km de buggy. Jericoacoara-CE: 37º DIA Levantei as 5:30, e parti depois de comer. Pra bela, sol tímido e céu limpo, pequenas dunas pela praia e paralelo a ela corre sempre um mangue. Até Guriú foram uns 5km, atravessei de carona na balsa e segui. Guriú é muito pequena, as ruas são de areia e mal tem comércio. Segui pela orla que tem um daqueles projetos de cavalo marinho e muita barraca, todas praticamente dentro do manguezal. Quando acaba o mangue voltam as pequenas dunas, pelo caminho somente algumas pessoas catando marisco nas pedras. Praia enorme na maré baixa, mar verdinho e sol rasgando com nuvens de vez em quando passando pra fazer uma sombra e aliviar por uns instantes. Quando surgem os primeiros coqueiros, já é Tatajuba, um lugar bem pequeno que se resume a calmaria do paraíso, descoberto apenas pela galera do kitesurf e gringos. É preciso atravessar a barra que parece um mangue com água/lama no joelho pra chegar nas barracas, almocei na orla um PF bem farto de galinha por apenas 10$. O resto da tarde passei deitado na rede do restaurante sentindo o vento e assistindo o movimento das marés. Quando parti, o sol já rasgava e o mar não formava onda nos primeiros kms, a água só vai subindo gradativamente conforme a maré vai enchendo, depois surgem dunas e vegetação, aqui as ondas já quebram nas dunas e é preciso fazer uns contornos por fora. Acabei achando um coqueiral de altura mediana e peguei 6 cocos, do lado tinha um quartinho com porquinhos e umas lacraias, acabei optando por armar a rede nela a ter que dormir na barraca. Antes ainda teve mais um pôr do sol fantástico simultâneo com lua cheia. Andei 26km. Lua cheia nascendo nos coqueiros, sentido Camocim-CE: 38º DIA Parti umas 6h entupido de água de coco, maré baixando, tempo nublado e sem vento. Com as ondas ainda batendo nas árvores, é preciso fazer alguns contornos por dentro do mangue. Quando acaba a vegetação vem uma enorme reta de praia deserta até a barra do Rio Coreaú. A travessia de balsa custou 3$, aqui as embarcações maiores do tipo traineira já são mais comum. Fui pela calçada de Camocim até chegar no Farol do Trapíá, lá começa a praia com uma faixa de areia absurdamente grande. Caminhada boa com sol já dando as caras e aquele climão de deserto dando sensação de estar em outro planeta, somente raros catadores de marisco apareciam. Ao final da primeira praia, começa mais uma e a terceira é Maceió, lugar que se resume a uma rua com coqueiros, dunas, praia, somente 1 mercadinho e muito lote a venda. Cheguei por volta de 12h na merda de fome e sede e almocei um PF de peixe por 10$. Dei uma chuveirada e armei minha rede num restaurante vazio na praia pra descansar. Quando parti, a paisagem volta a ficar deserta, o sol fritava e a maré já começava a subir lentamente sem formar ondas, mais a frente vem um lugar minúsculo chamado Barrinha, somente umas 10 casas e três restaurantes. Aqui a maré sobre de um jeito que forma uma baita lagoa e até mesmo uma ilha. Depois de Barrinha volta o deserto de areia sem fim, sem chance nenhuma de achar um bom lugar pra dormir, acabei armando a barraca ao lado de uma moita e passei uma noite sem muito desconforto. Andei 29km. Sentido Praia de Maceió-CE: 39º DIA Parti umas 6:30, céu nublado com sol saindo aos poucos maré baixando e areia boa pra caminhar. Logo começa um parque eólico e depois vem umas casinhas de pescador, colado nelas vem Xavier, vila ainda menor que Barrinha com apenas 1 casa que vendia alguns suprimentos, nem pra da chamar de mercadinho rs. Kms depois vem a Barra dos Remédios, que tem o título de a “5º praia deserta mais bela do Brasil”, depois de tanto andar por praias vazias essa fama não faz sentido nenhum pra mim, mas ainda assim é um belo lugar. Atravessei de balsa por 5$, parei numa barraca do outro lado pra dar uma descansada e esperar passar uma chuva passageira. O bicho do pé que doía no meu dedo sumiu por conta própria. Desde Jericoacoara é bem nítida a percepção de estar andando de leste para oeste numa linha reta perfeita. Mais adiante vem o vilarejo Praia Nova, com poucas casas desalinhadas e quase engolidas pela areia, muitos moradores já se mudaram de lá, em breve essa vila vai sumir, uma pena pois deu pra perceber que aqui a simplicidade e paz reinam. Vivem da pesca, só vão pescar quando precisam, no tempo livre famílias inteiras brincam tranquilamente pela praia, com crianças pequenas correndo a centenas de metros dos pais, não há celulares nem muro separando as casas, coisas que foram comuns um dia mas que precisei andar até aqui pra lembrar que ainda existem. Muita areia depois vem umas cabanas de pescador, as nuvens faziam sombra mas quando o sol vinha descontava. Somente 12h cheguei em Curimãs, lugar pequeno e bonito, almocei um PF de 10$ na barraca da Neide, que fica bem ao lado de um rio represado que forma um piscinão de água doce. Descansei de tarde e segui com sol mais fraco, depois de muita areia e uma chuva fina, cheguei em 2 barracas isoladas no meio da praia, o céu ficou preto de chuva e esfriou um pouco, dormi aqui mesmo depois de andar 28km. Praia Nova-CE: 40º DIA Dormi muito bem e acordei com o tempo ainda fechado sem previsão de melhora, andei pouco mais de 2km e cheguei em Bitupitá, o último lugar do Ceará, daqui é preciso faz um contorno pra vencer o delta dos rios Timonha e Ubatuba. Peguei uma van por 7$ até Barroquinha, daqui só consegui um ônibus pra Parnaíba as 15h, por 12$, cheguei já escurecendo e como não havia mais transporte pra Luís Correia, acabei dormindo num pulgueiro lotado de ciganos em frente a rodoviária por 30$. Fiquei sem máquina esse dia. Tatajuba-CE: 41º DIA Depois de comer tudo que tinha direito no café grátis, segui pra Luís Correia de Topic por 3$. Foi um domingo de praia vazia e tempo totalmente fechado, com chuva a todo momento, pela praia rolava um futebol, uma roda de capoeira, algumas excursões mas pouca gente mesmo dentro d’água, a orla é repleta de quiosques padronizados (preços baratos pra uma orla), casarões pra alugar e hotéis, a maioria vazio, porém é uma orla meio largada onde o lixo ainda tem presença forte, até garrafas de champanhe da virada do ano ainda tinham na areia. Depois de ir até a barra do Rio Parnaíba e ver que não ia conseguir barco barato pra atravessar, voltei até um restaurante vazio e passei o resto do domingo. Almocei um PF por 15$ e continuei na praia, dormi no restaurante da praia mesmo. Fiquei sem máquina esse dia. Em algum lugar sentido Morro dos Patos-CE: 42º DIA Acordei cedo e voltei pra Parnaíba, a ideia era pegar transporte até Pedra do Sal e talvez andar um pouco mais até a divisa do Maranhão, mas o tempo chuvoso dos 2 últimos dias me desanimaram e encerrei minha caminhada em 05.02.2018. Fiquei sem máquina esse dia. Pedra Furada-CE: Ainda continuei viajando, mas dessa vez me locomovendo de transporte. De Parnaíba parti até São Luís e de lá fui pra Santo Amaro do Maranhão onde passei o carnaval com a namorada, pra minha sorte foram todos os dias de muito sol e depois voltou a chover pra valer naquela região, tem sido um dos anos mais chuvosos e com lagoas cheias, o que não ocorreu nos anos anteriores. De São Luís peguei um trem de passageiros da Vale do Rio Doce e fui até o Pará visitar familiares, ainda voltaria ao Maranhão pra viajar mais uma semana mas tive que retornar ao RJ por motivos de força maior. A segunda caminhada foi tão boa quanto a primeira e menos sofrida, dessa vez eu fui ligeiramente mais equipado, com fogareiro a gás e barraca pra usar caso não tivesse lugar bom pra rede. Levei 2 cartuchos de gás e usei um + metade do outro, cozinhei minha janta uns 85% dos dias, sempre um miojo e depois que vomitei passei a usar mais arroz. Quanto a barraca continuo com a mesma impressão de que não combina com o calor da praia, mas foi útil quando precisei dela. Não tive bolhas dessa vez, comecei aumentando as distâncias andadas aos poucos e sempre parando pra descansar. Atravessei o litoral do nordeste no auge da zica e chicungunha em 2015 e passei pelo RN em plena crise da segurança pública e greve da polícia em 2018, mas nada disso me atrapalhou, essa parte do litoral brasileiro é linda demais, recomendo a quem tiver vontade de conhecer seja andando, de bike, ou qualquer outra coisa, que faça o quanto antes, pois as casas só aumentam e as praias diminuem. Boa caminhada a todos !
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Resolvemos, dessa vez, fazer alguns roteiros distintos: beira-Mar, trilhas em montanhas e travessia. Começamos por Ubatuba, foram 10 dias de caminhada, por algumas das principais praias; depois pegamos nosso veículo e fomos fazer alguns roteiros em Extrema-MG e, por último, a grata surpresa: TRAVESSIA DA SERRA DA CANASTRA-MG, que lugar maravilhoso: belas cachoeiras, trilhas fortes, flora e fauna exuberante, povo amigável, queijos deliciosos(alguns entre os melhores do mundo na sua categoria) sem contar a culinária mineira. Tudo de bom.
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Realizamos no periodo de 05 a 17 de Julho de 2015 a Volta completa da ilha de florianopolis a pé. Foram 12 dias e 251 quilometros. Somente a trilha entre ponta de canas e lagoinha que estava fechada, as outras estavam abertas. Em breve relato completo.
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Descobrindo as maravilhas, histórias e superação pessoal na travessia a pé de 316 km - Cora Coralina Novembro de 2018. Mauro César Vieira Vitor Entrada do museu de Cora Coralina Inspirado em Santiago de Compostela, trajeto passa por oito cidades de Goiás. Pensando em reviver os passos de uma das maiores poetas brasileiras, pirei, hora de equipar o mochilão e rasgar trilha adentro, foi à proposta imposta por mim para a realização do Caminho de Cora Coralina. Aberto ao público em abril de 2018, atravessando cerca de 316 km, oito cidades históricas, três parques estaduais, sete vilarejos em Goiás. O primeiro caminhante com a tentativa de fazer o percurso completo sem hospedagem, apenas com modalidade de camping. (Vide observação no relato). Diante da curiosidade, resolvi pesquisar, me preparar e então, dar inicio a um propósito mais que especial. Acompanhem essa aventura: Data marcada. É hora de se aprontar, 03/11/2018. Saindo de Brasília-DF em direção a Corumbá de Goiás-GO, passagem baratinha, apenas R$23,00, onde pernoitei. Dia seguinte, hora de dar inicio, mas antes... Interessante àquela voltinha na cidade e apreciação do lugar. 1° dia – Corumbá de Goiás x Cocalzinho, 04/11 Domingo Com inicio ás 09:00 do dia 04/11 comecei a trilha bastante empolgado. Feito algumas vezes de mountain bike, já conhecia o percurso com chegada até Pirenópolis. Clima agradável, bastões firmes e mochilão lotado, 22kg para alegria das minhas costas e pernas, entretanto, a emoção contida me dava forças. Passando pelo portal dando inicio a trilha fechada, bastante sombra, em seguida pegando o asfalto, foi percorrida neste dia 23 km até Cocalzinho onde pernoitei, a caminhada foi de 12 horas, sinalização ótima. Momento de montar camping e relaxar, acampei as margens do parque logo na saída da cidade, antes passei em um Hotel (SÃO JORGE) para higiene pessoal, o que era feito em paradas antes de dormir ao longo do percurso, isso quando não havia possibilidades de me lavar em lugares nas proximidades ao local escolhido para acampar... Muita fome! Portal – Início da trilha Cidade de Corumbá de Goiás Frutas no caminho 2° dia – Cocalzinho x Pirenópolis, 05/11 Segunda–Feira Descanso para dar inicio a subida Sai ás 06h00 da manhã, tomei café reforçado e o tempo indicando que seria um dia favorável, em direção ao pico do Pireneus, lugar maravilhoso. Um dos trechos mais ricos em paisagens e o mais bem estruturado em apoios aos caminhantes, foi possível ver o espetáculo da natureza, são exemplos os cachorros do mato, tucanos, araras, varias espécies de aves e seus cantos, somado à vista sendo apreciada da capela Santíssima Trindade dos Pirineus, próximo de 1340m de altitude. O maior pico de todo caminho. Uma parcela deste percurso não faz parte do trajeto de Cora, o desvio foi feito devido minha ida à Cocalzinho, percorrido em média 11Km a mais do previsto. Dando continuidade a trilha segui sentido a Pirenópolis, um banho na cachoeira (Abade) e descanso no morro com vista à cidade, foi uma caminhada tranquila apesar da chuva no final do trecho, seguindo as sinalizações que ainda estavam muito bem orientadas, cheguei por volta das 17h40, um percurso de 24km um banho de rio para refrescar um pouco e encontrar repouso. Acampei em uma das margens do rio, lugar muito seguro para camping, muito seguro e bonito. Hora do jantar, imagine uma sopa gostosa! Obs: Dentro do parque não tem hospedagem, pode acampar, mas antes é preciso fazer contato com a administração. Frase de Cora Acampamento em Cocalzinho de Goiás Chegando ao Pico dos Pireneus Pico dos Pireneus Vista para a Cidade de Pirenópolis 3° dia – Pirenópolis x Caxambú, 06/11 Terça – Feira Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário Outras Até aquele momento o caminho era desconhecido, dando a sensação de que a trilha havia começado naquele instante, grandes fazendas, trecho de muita mata, entre outros. O percurso desse trecho exige umpouco de cuidado, até por que próximo à passagem tem um rio em que a água é forte, acredito que em toda época do ano, mais a frente há sinalização mostrando o sentido, porém deve-se atravessar saltando à cerca e dar continuidade a estrada de terra. “Que morro é esse?” Parte final até a chegada a cidade de Caxambu, nível de subida difícil, exigiu muito de mim até chegar ao topo, sensação de alivio ao ver a vista da cidade, muito cuidado com a descida também, trata-se de um terreno muito íngreme, se tornando pesada a descida. Dando sequência e com o dia próximo de escurecer, a caminho da cidade para cuidar do corpo, dei de frente com um carro onde o condutor me parou, mas que alegria! Sr.Kinzinho, o que dizer dessa pessoa? Feito o convite para me hospedar em sua casa, não tinha como não aceitar, a forma em que fui abordado foi irrecusável, naquela noite estava muito cansado e fraco, foram percorridos 28 km de percurso bem difíceis. Então aquele convite veio em um bom momento, em meio a muitas conversas, o jantar então, estava maravilhoso, feito à lenha tudo muito fresquinho e muito bem temperado, a cama muito aconchegante e quentinha, ao acordar aquele delicioso café da manhã feito pela dona Cleusa. Se recomendo? Super-recomendo. Casa do Sr. Kinzinho O percurso de Pirenópolis ao povoado de Caxambu é o último trecho de relevo mais acentuado, cruza remanescentes de mata primária e transpõe as serras Paraíso e Caxambu esta última com mais de mil metros de altitude. Percorre partes do antigo caminho dos escravos, que ligava a Fazenda Babilônia (1800) a Pirenópolis. 4° dia Caxambu x Radiolândia 07/11 Quarta – feira O percurso de Caxambu a Radiolândia cruza a BR-153 (Belém-PA – Brasília-DF), até atingir a Rodovia Bernardo Sayão, próximo ao povoado de Radiolândia. Acordei por volta das 05h00, sai ás 06h00, trilha adentro, em média 5 km o povoado de Caxambu, na saída da cidade à esquerda, sinalização muito boa, sem chances de erro, trecho onde passa por meio de muitas fazendas, tornando o acesso mais curioso e atrativo, decidi então fazer o percurso até Radiolândia, dia seguinte já sabia o grau de dificuldades para chegar até Jaraguá. Era melhor evitar esforços. O caminho foi tranquilo, completei em 09h40 até a cidade, caminhei em média 14 km depois do povoado a procura de um lugar para o camping, com o total de 32 km neste dia, estava formando chuva, o lugar de escolha para acampamento era aberto, a situação piorava a cada instante, muito vento e para completar veio àquela chuva das mais pesadas, nada que um bom material pra este fim não suprisse a situação. Dormi que foi uma beleza. Interessante visitar o principal atrativo desse trecho, fazenda Babilônia, não conheci, porem, segundo relatos vale muito a pena. 5° dia Radiolândia /São Francisco x Jaraguá, 08/11 Quinta-Feira Um dos dias mais difíceis da caminhada, sai do quilômetro 14 depois de Radiolândia até Jaraguá ás 04h00 da manhã com chegada ás 20h10 na cidade em destino, percorri 52 km passando por centro de produtores, por trechos de matas, inúmeras fazendas. A sinalização para este trecho ajudou muito. Em sequencia segue-se passando por estradas rurais até chegar à cidade de São Francisco. No caminho oportunidade para ver as Serras de Loredo e Chibio. O trecho entre São Francisco e Jaraguá de Goiás começa com aproximadamente 6,5 km todo em asfalto, quando entram na trilha as margens do Rio Pari, para deslumbrar a vista de um gigante chamado SERRA DO JARAGUAR, um monstro de morro, com mais de 610m de altitude, local para pratica de voo livre. A trilha cruza-se a BR-070, Os últimos quilômetros são feitos por uma trilha antiga que transpõe a porção Norte, o caminhante é contemplado de um maravilhoso visual da cidade de Jaraguá, uma pena o clima não está favorável para esta ocasião, finalizando o percurso na Igreja Nossa Senhora do Rosário. Hora do almoço Confesso que estava em uma situação complicada, muita chuva, cansado, exausto. Pensei em desistir, tinha que reabastecer com mantimentos, organizar a mochila e lavar umas mudas de roupas, depois de tudo organizado os ânimos e forças reaparecem, vou continuar, era só o que pensava, não poderia desistir, era questão de honra. Descansei o suficiente para dar continuidade, minha moral estava altíssima. Serra + Chuva 6° dia Jaraguá x Vila Aparecida, 09/11 Sexta–Feira Tudo ok, equipamento, mantimentos e muita energia, sai de Jaraguá ás 09h00, peguei o trecho sentido Vila Aparecida pelo asfalto, foram apenas 21 km neste dia. Atentar para a saída, dando inicio da Igreja Nossa Senhora do Rosário, contornando a serra percorrendo 1,5 km pela cidade até tomar a saída em estrada de terra em volta da serra com 3,2 km até o ponto mais baixo do trajeto no cruzamento da ponte sobre o rio Pari. Em seguida vira à esquerda, retornando pelo mesmo traçado sentido a São Francisco de Goiás, após 4,3 km da travessia da ponte, segue-se à direita sentido ao povoado de Vila Aparecida. Tive um pouco de dificuldade, pois no ponto de partida não existe sinalização ao longo de 2km. Região de grande cultivo de bananas, muitos pássaros, retorna a boa sinalização, bem tranquilas para prosseguir, acampei em um lugar fantástico, uma pequena serra a 3 km da cidade, queria ver o sol nascer, mais uma vez não fui contemplado com o mesmo, muita neblina e a danada da chuva continuava, fiquei encharcado, mais deu para aproveitar. Percorridos 21 km, cheguei à região por volta de 16h50 da tarde. 7° dia Vila Aparecida x Itaguari, 10/11 Sábado Coisas de lá Passando por Alvelândia e Palestina sentido a Itaguari, Região forte em agricultura e pecuária, destacando-se áreas de cultivo de bananeiras. Um trajeto curto e bem sinalizado até chegar ao povoado de Alvelândia nas margens BR-070. As vistas de grandes áreas e túneis de árvores entre as matas tornam um lugar surpreendente. Destacando a Fazenda Estaca, de valor histórico grandíssimo, diversos viajantes cruzaram essa região nos séculos XVIII e XIX. Acordei cedo esse dia, por volta das 04h00 da manhã, não consegui dormir direito, sai ás 05h00 mata adentro, O tempo estava nublado, mas sem chuva, os pássaros mais uma vez deram um show. O sol resolveu aparecer, estava bem animado, já havia completado mais da metade do caminho e queria muito chegar ao destino final. Levei algumas carreiras de bois e vacas nesse caminho hehe, correr com mochila nas costas não é tão agradável. O acesso passa por muitos currais e propriedades particulares onde tem criação de gados e outros. 48 km em 15h30 em movimento, acampamento montado a 2 km da cidade em uma propriedade de um novo amigo, Sr.Gumercindo, uma pessoa de muita graça. Achei esse trecho bem tranquilo com algumas subidas e descidas bem leves. Itaguari - GO 8° dia Itaguari x São Benedito, 10/11 Domingo Com saída ás 07h00, sem sinal de chuva para me abençoar, sentido a terra do polvilho. Os pés estavam bem judiados neste dia. Tudo estava perfeito, o sol radiante e muito barulho de Quero-quero. Trajeto feito em 14h00, com o total de 44 km. Tive um pouco de estorvo neste percurso, o cansaço voltou a incomodar, cheguei um momento em que dormi caminhando, nada melhor que um banho para relaxar em um pequeno córrego nas imediações, mas que valeu muito a pena, resolvi aproveitar e preparar o almoço ali mesmo, sem contar que em todos os dias pós almoço o cafezinho era preparado. Nesta parte passei por varias fazendas, trecho de muitas retas, o sol escaldante, região sem muita sombra, de volta a estrada, ânimo renovado continuei a trilha seguindo sempre a direção, bom ressaltar que não tive nenhum problema com sinalização nesse caminho, somente com os cachorros e a boiada novamente. ? Cheguei à cidade em plena tarde de domingo e por sinal não encontrei comércio aberto e comprar alguns mantimentos. Nenhuma pousada para coleta de informações e programar posteriores vindas, acredito que somente em casas de moradores, nenhumas das pessoas em que perguntei souberam responder. Percorri cerca de 5 a 6 km de asfalto, deve-se tomar bastante cuidado, foi um dos trechos que achei mais perigoso (em asfalto) devido ao grande fluxo de veículos, depois do asfalto a esquerda uns 400 m cheguei em um lugar, um bar, bem simples próximo a uma ponte, segundo o proprietário, os organizadores do caminho de Cora tiveram no local e informou que pode ser um lugar para repouso, o forte deles será o camping, até por que o lugar é muito confortável para este fim, esta passando por algumas reformas, mas que já comporta uma boa dormida. Acampei no local, próximo a esta ponte citada anteriormente, o barulho da água descendo rio abaixo foi uma maravilha, banho tomado, a água estava uma delicia, preparei o jantar e logo era hora de dormir. Coisas do Lugar 9° dia, São Benedito x Calcilândia x Ferreiro, 11/11 Segunda –feira Penúltimo dia de travessia, 36 km percorridos, a trilha passa por fazendas com poucas porteiras comparando com outras em que passei, muito estradão de terra batida e mais uma vez a natureza fez seu papel, o nível desse percurso foi muito puxado, tive dificuldades devido ao inchaço no pé esquerdo, mais era parte final e nada tirava mais a minha vontade de chegar, veio a chuva, não tão forte assim. Um dia bem agradável, por mais uma vez a receptividade do povo goiano me cativou, em parada não programada, tive o prazer de conhecer Dona Madalena em Calcilândia, onde me recebeu com bastante alegria, aproveitei para descansar, me serviu um almoço delicioso, café e um bom bate papo. Pé na trilha, saindo de Calcilândia. À direita, é possível visualizar a Serra de São Pedro que guarda muito de suas características naturais cheio de histórias e mitos. Percorri uns 2,4 km de asfalto até chegar na estrada e pegar sentido à esquerda estrada rural de terra. Nesse pequeno trecho, há um tráfego de caminhões considerável e por isso importante redobrar a atenção. Seguindo em media uns 7,5 km até chegar a uma pousada, aparentemente muito confortável. Com mais 10 km, passando por várias fazendas e paisagens perfeitas com vista da Serra Dourada, chega-se as ruínas de Ouro Fino. Foi uma das etapas em que a sinalização mais cooperou, lugar passa por matas fechadas e desertas. Passando pelas serras, fiquei encantado pela beleza rara do ambiente. Na reta final desse percurso veio uma pancada de chuva, porem, passageiras. Estava chegando à fase final da travessia, emoção e o sentimento de gratidão me deixavam mais forte. Chegando às proximidades de Ferreiro, acampei em uma serra pequena naquela noite. Tudo parecia muito calmo, até que o barulho e ruídos dos animais noturnos me intimidaram, sono chegou bem tarde por volta das 02h00, próximo à hora de levantar e concluir o percurso. Onde faltava apenas 8 km. 10° dia Ferreiro x Goiás Velho, 12/11 Terça–feira Museu da Cidade de Goiás O grande dia, reta final, trilha fácil, com algumas subidinhas de leve a passagem toma conta do lugar entre histórias de filhos ocultos e suas particularidades. Foram os quilômetros mais envolventes de toda travessia, comecei bem cedo em menos de 02h00, tinha que retornar a Brasília ainda aquele dia, pegando o asfalto a vista da cidade começa a aparecer anunciando que estava próximo de concluir. Enfim, a chegada depois de 8 km de muita emoção. Cidade maravilhosa, restaurada, cheia de encantos e suas histórias. Visitei dois museus, centro histórico, algumas igrejas e por fim uma casa em restauração. Considerações finais: · A intenção era de fazer o percurso todo com a modalidade de camping; · Foram coletados contatos para apoio, porém não publicados, entrar em contato caso tenham interesse; · As marcações em quilômetros foram marcadas não exatamente como os registros entre cidades, mas sempre próximas às imediações; · Alimentação foi transportada toda na mochila. Agradecimentos: · Familiares; · Filhos – João Vitor Neves, Mayara Neves; · Amigos, em especial Andreia Olivo, Nara Niuma, Aline, Gary, Etiene e Lidiano Pereira. · Workshop Trekking Brasília. · Aos apoiadores ao longo do Percurso Para maiores esclarecimentos entre em contato: E-mail – maurocesar.engenharia@gmail.com https://www.facebook.com/profile.php?id=100004813188325&ref=bookmarks https://www.instagram.com/mauro_cesar_trekker/?hl=pt-br Fone: (61) 99100-3001 https://documentcloud.adobe.com/link/track?uri=urn%3Aaaid%3Ascds%3AUS%3A6d592790-a29d-4c62-b959-dd2a232c443f “Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade.” “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.” Cora Coralina
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ROTEIRO À PÉ: RIO GRANDE DO SUL: Portão Bom Princípio Carlos Barbosa Garibaldi Bento Gonçalves - Vale dos vinhedos Bento Gonçalves - Pinto Bandeira Bento Gonçalves - pela cidade Bento Gonçalves - caminho de Pedras Caxias do Sul - flores da Cunha Caxias do Sul - estrada dos imigrantes Nova Petropolis Gramado - Natal de Luz Canela - Cachoeira do Caracol Gramado - pela cidade (parques, centro) Santa Maria Herval Picada Café Ivoti Sapiranga Três Coroas São Francisco de Paula São Francisco de Paula (parques, lagos e pela cidade) Tainhas Cambará do Sul Cambará do Sul - Canyon Itambezinho Cambará do sul - canyon Fortaleza Torres - praia SANTA CATARINA: Praia Grande - descida Serra do faxinal Balneário Gaivota - Praia Balneário arroio do Silva - Praia Balneário Rincão - Praia Balneário corrente - Praia Farol de Santa Marta - Praia Laguna - cidade histórica + Praia Orleans Guatá (distrito de Lauro Muller) pé da serra do Rio do Rastro Bom Jardim da Serra ROTEIRO DE ÔNIBUS : São Joaquim Urubici Bom Retiro Lages Fraiburgo CONTINUAÇÃO À PÉ SANTA CATARINA: Videira Treze Tílias Água Doce Jaborá Concórdia Seara Chapecó PARANÁ (ÔNIBUS): Curitiba Paranagua Morretes QUILÔMETROS /DIAS: +- 1.300 kms em 53 dias PESSOAS: No planejamento da viagem nossa preocupação era de como seríamos recebidos nas pequenas cidades, visto que algumas delas não tinham vocação turística, e "mochileiros"poderiam ser "novidade". Mas, essa preocupação foi rapidamente deixada de lado. Fomos recebidos muito bem em todos os lugares (exceto dois episódios, que não afetou em nada nossa caminhada). Ficamos impressionados com a educação e o acolhimento da população do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, sempre solícitos às nossas demandas. Poxa, que saudade de tudo aquilo, em breve voltaremos. CIDADES: Praticamente todas as cidades desse roteiro tinham pousada ou hotel, somente o distrito de tainhas-SC não tem, somente restaurante (mas esse trecho tem serviço de ônibus intermunicipal). ESTRADAS: Optamos em fazer pelas estradas asfaltadas(alguns trechos fizemos em estrada de terra), pois não conseguimos informações sobre estradas secundárias nesta região. COBRAS: Nunca vimos tantas cobras como na serra Gaúcha, teve dia que vimos umas 5, quase minha esposa pisou numa em uma rodovia asfaltada. Elas ficam enroladas na pista de rolamento, é normal vê-las todas esmagadas por veículos, ficam parecendo um desenho no chão (pois vários veículos passam por cima). ANIMAIS SELVAGENS: Outra coisa que nos chamou atenção, vimos muitas espécies(raposa, cobras, tatu, macacos, roedores, porco espinho etc) passando lentamente perto de nós. PRECONCEITO: Tivemos um fato lamentável num hotel fazenda. O gerente nos recebeu num descaso tremendo, nem respondia nossas perguntas, foi preciso a intervenção de uma funcionária para resolver a situação (quase mandei o cara a pqp), o infeliz está no lugar errado. O outro caso foi mais leve, mas fiquei puto. Tirando isso, foi muito tranquilo ser mochileiro naquela região, muito tranquilo mesmo. PREÇOS HOTÉIS: Variou de $25 a 95 por pessoa (mas a crise pegou todo mundo ), em alguns lugares priorizamos ficar em lugares melhores, Sempre pechinchamos os preços, na maioria dos casos conseguimos descontos, principalmente à vista. Não fizemos nenhuma reserva, foi muito tranquilo. PREÇOS REFEIÇÕES: variou de $10 a $35 por pessoa à vontade. Peso : de $20 a $44 o quilo. Obs.: em média coloque $22 por refeição sem bebidas. ABUSO CONTRA TURISTA: Só tivemos alguns casos de abuso, mas nada gritante: Você chega em duas pessoas e pede somente um cafezinho pequeno, o cara trás dois grandes (claro, mais caro) e na maior cara de pau diz que pedimos dois. Isso aconteceu nuns 5 lugares na serra gaúcha, lamentável! Obs.: para nos proteger disso, fazíamos assim: chegávamos nos caixas do estabelecimento e pagava antecipadamente, acabou o problema. CARONA: precisamos pegar carona em algumas oportunidades, e foi até tranquilo conseguir. .fomos ao canyon Itambezinho e no Fortaleza à pé, e voltamos de carona, foi tranquilo. .quando visitamos uma cachoeira em Cambará do sul, fomos à pé e voltamos de carona ( neste dia pegamos três, cada um nos levou num pequeno trecho). .dividimos o trecho entre Seara e Chapecó-SC em dois, como o ônibus demoraria muito, resolvemos ir de carona, demorou uns 40 minutos para aparecer. SEGURANÇA: Em momento algum tivemos problema, somente em Porto Alegre (visita ao mercado central que nos orientaram a ter cuidado), mas os moradores de PA estão preocupados. .na saída de Caxias do Sul, saída para estrada dos imigrantes tem um lugar que me pareceu inseguro, mas nada complicado. NEGOCIAÇÃO HOSPEDAGEM: Sempre negocie, em alguns casos conseguimos descontos de 10% abaixo dos sites de hospedagem. Principmente nesta crise, em alguns casos somente nós dois estavam hospedados no hotel.
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Esse é um relato de uma volta quase completa por Ilha Grande. Primeiramente, queria agradecer o @Augusto por fazer o guia definitivo das trilhas de Ilha Grande (https://www.mochileiros.com/topic/1171-volta-completa-de-ilha-granderj-uma-caminhada-inesquec%C3%ADvel/). Salvei o relato e não tivemos problemas em realizar as trilhas. Então, esse relato não tem nenhuma pretensão em ser mais preciso ou descrever minuciosamente as trilhas, isso já foi muito bem feito pelo @Augusto . A ideia aqui é tentar transmitir as sensações que tive ao realizar a minha volta por Ilha Grande e tentar acrescentar algumas informações. Na minha visão, é possível realizar a volta (isso falando apenas da orientação no percurso) pela Ilha Grande tendo em mente apenas três coisas. A primeira é levar o relato do @Augusto , ele descreve muito bem as passadas das trilhas, os lugares e tudo mais. No meu caso, salvei o relato no celular e foi muito útil, principalmente nos dois primeiros dias, quando ainda não estávamos familiarizados com as trilhas. A segunda dica: no caso de dúvida siga à rede elétrica. A terceira, a mais importante, é interaja com as pessoas locais, em todas as comunidades da ilha haverá pessoas e todas elas conhecem as trilhas de acesso a comunidade em questão. Todas as pessoas que tivemos contato ajudaram-nos com informações e detalhes valiosos sobre as trilhas. Agora vamos ao relato! Desde a minha última viagem vinha pensando em qual seria o meu próximo destino, pois a data da viagem iria ser pelo final de ano. Queria algo não muito longe. Pensei na Serra da Canastra, Serra da Bocaina, Parque do Itatiaia e Paraty. Confesso que estava pendendo pelo Itatiaia, mas algumas lembranças vieram a tona e fizeram-me mudar de decisão. Agora estava decidido, seria Ilha Grande o destino e iria dar a volta na ilha. Das lembranças que alteraram o rumo da viagem, foram apenas vozes de uma amiga que sempre dizia-me para fazer a volta na ilha e naquele momento essas vozes me soavam como um chamado. Fazia alguns anos que eu viajava sozinho e mal planejava minhas viagens, apenas me deixava ir. Porém, final de ano é complicado, todos os destinos são invadidos por centenas/ milhares de pessoas, tudo fica mais escasso e os preços são todos mais altos. Ano passado já tinha me frustrado por não me organizar nessa data do ano e tive que mudar de última hora o meu destino. Dessa vez não cometeria o mesmo erro e teria que voltar a fazer algum planejamento antes de sair de casa. Como teria que me planejar porque não ter companhia? Fiz-me essa pergunta. A primeira pessoa que conversei sobre a viagem foi com o Vinicius, amigo que conheci no mestrado, e logo percebi que ele estava afim de fazer esse rolê por Ilha Grande. Depois entrei em contato com duas amigas que no primeiro momento tiveram interesse, mas com o tempo e outros planos não iriam conseguir embarcar nessa. Matheus é um velho amigo e está fazendo um mochilão de longa data pelo Brasil, falei com ele sobre a viagem e ele também animou de fazer parte da trupe. Assim, estava fechado o grupo: Eu, Vinicius e o Matheus. Dias antes de embarcar, pesquisei (no mochileiros.com) se haveria mais alguém fazendo a volta na mesma data e meio sem querer encontrei a Jordana. Ela estaria na ilha nas mesmas datas e estava procurando companhia para dar a volta na ilha. Entrei em contato com ela e consequentemente o grupo tinha mais uma nova integrante. Agora, éramos quatro. Confesso que não houve um super planejamento. O plano resumiu-se a levar comida para os primeiros dias, comprar as passagens para Angra com antecedência e ler alguns relatos. No entanto, é importante comentar que a decisão de fazer a volta na semana do Natal foi a mais acertada de todas, pois na semana entre o Natal e Ano Novo a maioria dos campings estavam trabalhando com pacotes e os preços aumentavam substancialmente devido a grande procura. Em questão de economia acho que o maior acerto da volta foi ser realizada entre os dias 20-27 de dezembro e não dos dias 27-02 como pensado inicialmente. Era uma terça-feira. Acordei cedo. Organizei minhas coisas, aprontei minha mochila e o relógio ainda marcava 09:00. A passagem para São Paulo era só para as 16:00. A ansiedade para mais um trekking era grande. Ouvi música, vi televisão e o tempo passava devagar. Às 13:30 decidi que era hora de partir, caminhei até a rodoviária. Lá fiquei esperando o tempo que restava. Sentei no ônibus que estava praticamente vazio. Li um pedaço do livro que eu levava comigo. Cochilei. Quando a marginal Tietê se tornou a paisagem na janela do ônibus percebi que, enfim, a viagem tinha começado. Na rodoviária de Sampa, logo encontrei o Vinicius. Vinícius é um amigo que conheci no meu mestrado. Ele faz parte do mesmo laboratório no qual eu trabalho e já está no final do seu mestrado. Essa viagem seria a primeira dele nesse estilo. Ficamos esperando e conversando até o Matheus chegar. O Vinícius e o Matheus não se conheciam até então. Foi feita as formalidades e saímos para achar algum lugar para jantar. Matheus é um amigo de longa data. Fizemos graduação, estágio e nossos primeiros mochilões juntos. Hoje em dia ele está em um período sabático viajando pelo Brasil e relata suas aventuras em seu blog (http://fazeraquelasuaviagem.com.br/). Às 22:00 embarcamos no ônibus. Eu, como sempre, levei um livro que eu sabia que não iria ler durante o percurso na ilha. Comecei a lê-lo e dez minutos depois desisti. Estava ansioso. Tentei dormir e não consegui. Depois me senti em viagem escolar, por causa que quase todos os outros passageiros do ônibus se conheciam e a viagem foi seguindo com música e violão. Isso até despertar a ira dos passageiros restantes. Enfim, mal dormi naquela noite. Quando consegui cochilar o ônibus tinha adentrado Angra dos Reis. Ficamos um tempo na rodoviária. Depois seguimos para TurisAngra e assim conseguimos a autorização para acampar na praia de Aventureiro. Logo em seguida pegamos um barco e navegamos até a ilha de codinome grande. Informação 1 - A TurisAngra fica no caminho para o porto. Saindo da rodoviária é só virar a esquerda e seguir caminhando na calçada até chegar na TurisAngra e depois no porto. Angra dos Reis Indo para Ilha Grande Já no barco ficamos fascinados pela cor da água, um verde bem escuro. Logo depois fomos margeando o trajeto de Saco do Céu até Abraão, que seria o percurso inverso do nosso primeiro dia. Atracamos no cais. A nossa espera estava a Jordana que havia chegado um dia antes. Antes da nossa chegada ela havia tentado a autorização no Inea para cruzarmos as praias do Sul e Leste para conseguirmos sair de Aventureiro e chegar em Parnaioca caminhando. Ela não havia conseguido a autorização e isso deu uma desanimada na hora. Jordana é uma guria tocantinense, estudante de medicina em Brasília e seria o seu primeiro trekking. Até aqui era tudo que eu sabia sobre ela. Conhecemos a Jordana e jogamos algumas conversas fora. Tomamos um café coado e logo seguimos para iniciar as trilhas (T01 e T02) até o Saco do Céu, onde iriamos dormir naquela primeira noite. O sentido do percurso foi determinado pelos relatos que consultamos antes de ir, pois todos falavam que o sentido anti-horário era mais tranquilo. Na minha opinião não existe muita diferença não, o principal ponto é entre Aventureiro e Provetá, onde no sentido horário a subida é numa tacada só, mas em compensação a maior parte do trajeto é descida. Enfim, acho que o sentido da volta não faz muita diferença na dificuldade do percurso. Informação 2 - Site com as informações oficiais das trilhas e suas nomenclaturas (http://www.ilhagrande.com.br/atrativos/atividades/trilhas-da-ilha-grande/) Bem-vindo a Abraão Nos primeiros metros vimos que seria difícil completar o dia. Levamos muita comida, o suficiente para uns quatro/cinco dias e assim, economizar o máximo com alimentação. Pra piorar fui na frente e segui a passos largos, sem perceber que estava forçando a passada do restante do pessoal que faziam algo do tipo pela primeira vez. Até o Aqueduto tudo estava tranquilo. Depois no caminho para a Cachoeira da Feiticeira o pessoal foi desanimando, até que o Matheus passou mal. Descansamos e depois fomos devagarinho. O clima entre nós era pesado, creio eu que ninguém além de mim estava curtindo caminhar naquele momento. A umidade também maltratava-nos. Quando chegamos na cachoeira da Feiticeira tudo mudou. Banhar naquelas águas renovou a energia de toda a trupe. Foi bom demais. À partir daí, começamos interagir como um grupo. Seguimos para a Praia da Feiticeira. A praia é bem bonita e muito movimentada. Tirei minha camiseta, torci ela e jorrou suor, parecia que havia acabado de lavar a camiseta. Ficamos por ali por um tempo, tomamos o primeiro banho de mar da viagem e depois seguimos caminhada. Aqui é importante ressaltar, voltando na trilha até uma bifurcação siga para onde continua a rede elétrica. Enfim, sempre siga a rede elétrica. A primeira foto do grupo - Matheus, Eu, Jordana e Vinicius Abraão Abraão Aqueduto Trilha T2 Mirante antes de chegar na Cachoeira da Feiticeira Cachoeira da Feiticeira Praia da Feiticeira Continuamos a caminhada. No meio do caminho tinha a indicação da Praia do Iguaçu, não fomos e seguimos adiante. A trilha desembocou na primeira praia da Enseada das Estrelas, a Praia da Camiranga. Já era final de tarde e a maré estava alta. Descansamos um pouco. Ao passar num trecho que a areia era toda coberta pelo mar, achei que conseguiria passar ileso (sem molhar o tênis) no momento em que a onda do mar recuasse, ledo engano, o trecho era grande demais para passar dessa forma. O resultado foi todos os tênis encharcados. Caminhamos descalços pelas praias de Fora e Perequê. A ansiedade de chegar logo no Saco do Céu era grande, caminhávamos lentamente e todas previsões de tempo que os nativos indicavam nunca confirmava-se em nossa passada. Chegar na Pousada Gata Russa foi um alívio. Próximo de Saco do Céu Eu tinha feito um pré contato com a Rilma, dona do lugar. O valor do camping é R$60 com café da manhã e R$40 sem café da manhã, logicamente ficamos sem o café e ainda demos aquela chorada básica e reduzimos o valor para R$35. Destruídos armamos as barracas e tomamos o merecido banho. Depois, como seria de praxe, cozinhamos bastante comida. Convidamos a Rilma para o jantar. Deitamos por um tempo nas redes. Fomos no cais tentar ver o céu, mas o tempo nublado não deixou as estrelas aparecerem. Logo depois fui para a barraca e desmaiei de sono. Gata Russa Gata Russa Na trilha até o Saco do Céu encontramos um bugio preto morto no meio da trilha. Foi meio chocante, nunca tinha visto um bugio e na primeira vez que vejo, vejo um morto. O Vinícius achou que era uma cobra que havia matado ele, mais especificamente uma jararaca. Eu fiquei preocupado com febre amarela. No entanto, comentei sobre isso com a Rilma e ela disse que o pessoal da comunidade havia falado que o bugio havia morrido eletrocutado. Isso deu um certo alívio. Não sou perito em coisa nenhuma, mas o bugio estava muito perfeitinho para ter morrido eletrocutado. Enfim, o que eu sei que foi triste ver aquela cena. Saco do Céu Na manhã seguinte, tomamos um café da manhã reforçado e assim aliviamos nossas costas com menos peso pra caminhada. Alongamos. Um pouco atrasado partimos, pois já tinha passado metade da manhã. Seguimos pela trilha T03 rumo a Freguesia de Santana. No início da trilha, do lado do campo de futebol, avistamos a diferente Praia do Funil. Particularmente, eu gostei bastante dessa praia, pois nunca tinha visto nada do tipo até então. O restante do pessoal não se encantou muito por ela. Acho que com a maré mais alta e o sol de fundo essa mini praia iria ficar demais. Praia do Funil Matheus e a Praia do Funil Depois seguimos para a Praia do Japariz e logo em seguida para a Praia de Freguesia de Santana. E assim, acabamos a trilha T03 que foi das mais tranquilas do percurso. Ficamos um tempo na praia. Mergulhamos. Tomamos uma coca gelada e descansamos. Praia de Japariz Praia de Japariz Trilha T03 Beleza de vista Trilha T03 Trilha T03 Trilha T03 Praia de Freguesia de Santana Preparando-se para partir de Freguesia Seguimos por detrás da igrejinha. Caminhamos um pouco e logo avistamos a placa indicando a trilha T04 sentido Bananal. A trilha começa com uma subida forte, porém nessa subida encontrei com a Dona Maria, ela mora na subida, e pedi algumas informações que ela prontamente respondeu e depois ela me disse que vendia sucos. Compramos os sucos. Escolhemos o de acerola. Cada um era R$5 e veio estupidamente gelado. Naquele momento senti que era o melhor suco que havia tomado na vida, era incrivelmente bom. Eu com minha mania de supor coisas, supus que haveria diversas Dona Maria pela volta da Ilha Grande, grande inocência a minha. Não surgiu em nenhum momento mais uma Dona Maria com seus sucos milagrosos. Não teve um dia que em nossas conversas não lembrássemos daquele suco de acerola gelado. Continuamos a caminhar. A trilha é cansativa. Quando avistamos o mar a nossa frente achamos que havíamos chegado em Bananal, mas era Bananal Pequeno. Paramos e descansamos um pouco. A praia de Bananal Pequeno é muito bonita e deserta. Voltamos a caminhar e depois de uns cinco minutos chegamos em Bananal, final da trilha T04. A igrejinha A Trilha T04 Bananal Pequeno Bananal Pequeno Chegando em Bananal Chegamos em Bananal - Na vendinha Bananal era um ponto de interrogação. Não sabíamos se passaríamos a noite aqui ou se seguiríamos para Matariz ou até mesmo para Maguariqueçaba. Resolvemos olhar o camping da Cristina, o espaço que ela tem no quintal da casa é bem bacana, mas o senhor que nos atendeu parecia meio confuso, dava informações contraditórias e resolvemos não ficar ali. Paramos numa casa para pedir informações e o dono da casa disse que poderíamos acampar no quintal da sua casa por R$30 (mesmo preço do camping da Cristina), ele com sua filha pareciam bem receptivos e então ficamos ali na casa do Juca Bala, na companhia do próprio e de sua filha Josi. Nos livramos das mochilas e fomos logo cozinhar o almoço. Pela primeira vez comi macarrão, molho de tomate e bacon. A fome é um bom tempero, mas estava muito bom esse rango. Depois fomos a beira mar. O Vinicius ficou no mar sozinho, como se fosse a primeira vez dele e o mar. Juntamos-se a ele e ficamos até a chuva nos expulsar do mar. Ficamos abrigado na vendinha. A chuva não cessava. A Jordana foi até a casa do Juca Bala e fez pipoca. Ficamos assistindo a chuva, que não tinha fim, debaixo da vendinha, de frente pro mar, comendo pipoca e bebendo as primeiras cervejas da viagem. Bananal Bananal Bananal A noite foi boa. Conversamos sobre tudo. Rimos demais. A Josi fez companhia por toda noite. Ela jantou conosco e a janta foi arroz com seleta de legumes, farofa e calabresa frita. A chuva não parou. Pedimos ao Juca se podíamos estender os sacos de dormir na área e dormir por ali mesmo, no relento. O Vinicius que estava sem saco de dormir montou a barraca na área e nós outros estendemos o sacos de dormir e dormimos com aquele ventinho frio que fazia na noite. Diferentemente do primeiro dia, nesse dia conseguimos desfrutar de todo o percurso, das praias, da comunidade, da nossa amizade e tudo mais. Esse dia foi um ótimo dia. A varanda Levantamos às 06:00. Tomamos o café e partimos para a trilha T05 rumo a Sítio Forte. A primeira parada seria a Praia de Matariz. Não sei ao certo o que aconteceu nesse percurso, foi o único no qual nos perdemos por um instante maior, apesar de ser pouco tempo. Seguíamos pela trilha e depois o caminho começou margear um mangue. O chão cada vez mais tinha buracos com ninhos de cobra. Quando os ninhos eram muitos decidimos voltar. Fomos voltando pela trilha e depois de uns cinco minutos avistamos uma ponte e a orla de Matariz. Creio que foi uma cegueira de olhar apenas pro chão que não nos deixou ver aquela ponte que estava logo ao nosso lado. Aliviados paramos um pouco em Matariz que estava deserta naquela hora do dia. Saindo de Bananal Rumo a trilha T05 Rumo a trilha T05 Trilha T05 Praia de Matariz Seguimos rumo a Praia de Passaterra. Cruzamos com uma gangue de cachorros. Quando chegou na bifurcação não fomos para a Praia de Jaconema e seguimos pela trilha principal. Chegamos em Passaterra e descansamos um pouco. O dia hoje seria o de maior quilometragem até então. Não perdemos tempo e seguimos a caminhada até Sítio Forte. Passamos pela Praia de Maguariqueçaba que estava vazia. Para mim Passaterra e Maguariqueçaba são praias bem parecidas. No final da praia seguimos pela trilha. Caminhamos por mais algum bom tempo e chegamos no final da trilha T05. Enfim, Sítio Forte. O lugar me agradou bastante, com um gramado amplo, alguns poucos moradores, um mar tranquilo, mas o melhor é o contorno da serra o fundo a quilômetros de distância. Ficamos abrigados em um sombra. Comemos, descansamos e enchemos as garrafas de água. O tempo parado ali foi grande. Trilha T05 Trilha T05 Praia de Passaterra Trilha T05 Trilha T05 Sítio Forte Sítio Forte Com as energias renovadas partimos para a trilha T06 com destino Araçatiba. Logo no início cruza-se a Praia da Tapera. Seguimos em frente. Caminhamos por mais uns trinta minutos e chegamos na Praia de Ubatubinha. Paramos só um pouco para descansar as costas e continuamos a caminhada que estava muito agradável. O dia estava nublado, em alguns momentos saiu algumas chuvas finas, mas sempre por pouco tempo. O clima facilitava a caminhada. O trecho entre as praias de Ubatubinha e do Longa é bem mais extenso e mais chato de caminhar. Porém, nada muito complicado. A trilha desemboca numa vendinha. Sentamos na vendinha e tomamos uma Coca 2 litros (R$10) bem gelada. Uma fato na Ilha Grande é que todas as bebidas, em qualquer lugar, vem muito gelada e isso me agradou muito. Ficamos descansando e vendo a bela Praia do Longa. Tínhamos combinado que de acordo com o horário e o clima seguiríamos ou não para a Lagoa Verde. Creio que era umas 13:00, portanto, tínhamos tempo de sobra e as nuvens de chuva tinham dado uma trégua. Resolvemos ir para a Lagoa Verde antes de ir para Araçatiba. Vendinha na Praia do Longa A trilha para a Lagoa Verde é tranquila. Acho que levamos uns quarenta minutos saindo da Praia do Longa. Chegar na Lagoa Verde é chegar em um paraíso. Desde do início do trekking já havíamos passados por muitos lugares de belezas ímpares, lugares muitos bonitos, mas agora a percepção de beleza estava num nível mais elevado, enfim, a Lagoa Verde é um paraíso. O verde da lagoa, principalmente pelo alto é encantador. Dentro de suas águas límpidas é possível ver cardumes e cardumes de peixes tão nitidamente como se estivessem em nossa palma da mão. Os peixes por lá são tão coloridos. Uma belezura de momento. Apesar de haver algumas pessoas no local somente nós estávamos nadando, portanto, por alguns minutos a lagoa foi nossa. Em certo momento fui queimado por uma água viva e o Vinicius pisou em um espinho. Assim, eu, ele e o Matheus resolvemos sair um pouco da lagoa enquanto a Jordana mergulhava com seu snorkel. Na saída, caminhando distraído eu pisei numa pedra. No ínicio achei que não havia cortado, mas depois de ver a poça de sangue que se formava debaixo de mim fiquei preocupado. Nesse momento surge o anjo, um anjo de dreadlocks, de nome Mari. Antes de eu esboçar qualquer reação ela já estava com o algodão na mão pressionando o machucado. Foi um corte bem grande na sola do pé. Com toda a paciência do mundo ela ficou ali esperando o sangue estancar. Ela me contou que é de São Paulo e sempre vem com seu pai e seu simpático irmãozinho para a Ilha Grande, mais especificamente a Praia do Longa. A Ilha Grande é sua segunda casa. Limpou o ferimento com álcool, aplicou os remédios que o Vinicius havia levado, fez o curativo e ainda ficou um tempo conversando conosco. Quanta gratidão. Fiquei tão feliz com aquela situação que nem mesmo lembrava do ferimento. Nunca irei esquecer a prontidão, a solidariedade e a doçura da Mari. Nunca é demais agradecer: Mari, muito obrigado! Lagoa Verde Lagoa Verde Lagoa Verde Lagoa Verde Depois de todo o ocorrido e a presença de nuvens carregadas decidimos partir. Ao colocar o tênis vi que seria difícil caminhar daquele jeito, mas seria suportável. Nos despedimos da Mari e fomos embora. Voltamos a trilha e na bifurcação subimos rumo a Araçatiba. Esse trecho de trilha é tranquila, porém pra mim foi difícil. A cada pisada do meu pé direito uma pontada de dor subia no corpo. O andar era complicado. Chegamos em Araçatiba. Iriamos ficar no camping Bem Natural. A praia de Araçatiba é bem grande e o camping fica no final da praia. Assim, caminhamos por mais uns vinte minutos debaixo de uma chuva forte até chegar no camping. O preço do camping é R$45 (caro!) sem café da manhã, mas é a melhor estrutura que encontramos em toda viagem. Ótima cozinha, muitos banheiros, alguns chuveiros quentes, locais cobertos para armar a barraca e tudo muito limpo. Conseguimos reduzir o valor para R$40. Montamos nossas barracas. Tomei o melhor banho da viagem. Chuveiro a gás com uma boa regulagem de temperatura, consegui massagear bem as costas. A Jordana refez o curativo do meu pé. Preparamos macarrão com molho de tomate, atum, bacon, milho e ervilha, fizemos suco e ainda ganhamos queijo parmesão ralado do Alexandre, um cara gente boa demais que estava acampado por lá também. Foi uma boa janta. Conversamos bastante com o Alexandre. Depois o Vinicius foi dormir. Eu, Matheus e a Jordana fomos beber umas cervejas num bar suspenso no mar. Antes das onze da noite estávamos de volta ao camping. Acordamos bem cedo porque queríamos chegar em Aventureiro o mais cedo possível. Fizemos café da manhã. Conversamos mais um pouco com o Alexandre e partimos para a trilha T08 rumo a Provetá. A trilha é bem agradável e as mochilas nesse momento já estavam bem leves em relação ao primeiro dia. Fomos em um bom ritmo. Chegamos em Provetá. Aqui é uma autêntica vila de pescadores. Não lembro de nenhum turista por lá. Paramos numa vendinha perto da igreja e compramos muitas frutas, destaque para a melancia que devoramos em instantes. Depois de uma dieta sem frutas era hora de comer frutas por todos os outros dias. Descansamos em uma sombra e por lá ficamos por quase uma hora. Finalzinho da trilha T08 Foto do grupo Provetá Provetá Provetá Provetá De Abraão até Araçatiba, caminhamos pela parte oeste da ilha que está voltada para o continente. O mar nesse trecho é caracterizado por suas águas plácidas e de coloração verde escura. Ao chegar em Provetá esse cenário muda drasticamente, pois agora inicia-se a caminhada pelo lado leste da ilha que está voltada diretamente ao mar aberto. O mar de Provetá até Lopes Mendes é mais bravo, com muitas ondas e sua coloração pende mais para o azul clarinho. Esse é um dos encantos de dar a volta na Ilha Grande conhecer dois tipos distintos de mar em um trecho tão pequeno de terra. Provetá Vinicius em Provetá Das muitas histórias que já ouvi nessa vida, talvez a melhor seja do João, morador de Provetá. João, um pescador com brilho no olhar e de fala mansa salvou um pinguim-de-magalhães, na qual deu o nome de Din Din, que encontrava-se machucado na orla de Provetá. Depois de meses juntos, Din Din partiu rumo a Patagônia. Depois disso, todo ano Din Din volta a Provetá para visitar o João pela gratidão e amizade, isso já ocorre por seis anos. Não tive o prazer de conhecer o João, mas teria sido imensamente gratificante dar um abraço nesse grande homem. Vou deixar o vídeo com ele contando a história que é muito melhor que minhas palavras: Gostamos bastante da Praia de Provetá, o clima menos turístico favorecia isso. Queria ter ficado mais tempo, talvez pernoitado, mas naquele dia queríamos chegar em Aventureiro. Pegamos a trilha T09 e seguimos a caminhada. No início da trilha é uma subida bem chata e sem vegetação, então há outro castigo aqui, além da subida, que é o sol. Difícil aquele trecho, e justo nesse dia o sol apareceu com toda a sua cara. Depois a trilha volta para a mata mais fechada, mas a subida nunca cessa. Sempre subindo. Com toda certeza, essa trilha é a mais pesada de todas. No final da subida, tem uns quatros bancos de madeira que de longe parecem troféus. Ficamos ali deitados por algum tempo. Resolvemos acabar logo com aquela caminhada e partimos para a descida. Nesse momento se desce em zigue-zague. Alguns escorregões e tombos. Descida até o fim. Víamos o mar, a descida estava no final e no fim estavam nossas energias. Depois de Abraãozinho, Bananal Pequeno e Araçatibinha, só faltava haver a praia de Aventureirinho antes de Aventureiro, falava o Vinicius enquanto dávamos risada, mas aquela risada com responsabilidade pois tínhamos um certo medo de haver mesmo uma praia de Aventureirinho. Pra nossa sorte não havia e pra melhorar o camping do Luís ficava bem do lado do final da trilha. Jogamos as mochilas no chão e pela primeira vez nos permitimos não cozinhar. Pedimos um PF (R$30) no camping. Início da T09 - Vista para Provetá Início da T09 - Vista para Provetá O fim da subida e a cara da derrota O início da descida Camping do Luís Camping do Luís Camping do Luís Camping do Luís Caminhei em direção ao coqueiro deitado que é o cartão postal da Ilha Grande. Não sei, coqueiro deitado não me parece um bom nome, o coqueiro está mais para sentado do que para deitado. Prefiro chamá-lo de coqueiro degrau. Entretanto, uma coisa que não tem como discordar que ele é lindo demais, merece o título de cartão postal. Aquele pequeno trecho de praia onde ele se esconde é de uma beleza ímpar. O coqueiro deitado O coqueiro deitado O coqueiro deitado Eu eu o coqueiro Jordana e o coqueiro Depois do almoço o Vinicius se sentiu mal. Ele ficou pelo resto do dia amoitado tentado recuperar-se. Fomos pro mar, ficamos nos divertindo com as ondas do mar que até então era novidade nessa viagem. O Matheus desfilou seu estilo de nado que mais parecia com um afogamento. A tarde naquele mar foi gostosa. Eu estava com certo receio de pisar em algo e abrir o pé novamente. Com isso sai do mar mais cedo que gostaria. Tomei banho. No resto do dia me encostei numa rede. Que delicia. Ficar de bobeira deitado numa rede me lembrava os dias viajando de barco pela amazônia. A noite veio e o lual em Aventureiro não aconteceu. O vento chegou e deixou a noite na rede mais delicia ainda. Só o Vinicius montou a barraca. De resto ficamos todos pelas redes do camping. Dormir na rede naquele cenário foi bom demais. No fim, até o Vinicius desistiu da barraca e se arranjou numa rede para dormir. Aventureiro Aventureiro Aventureiro Matheus e Aventureiro Matheus e Aventureiro Acordei, ainda tudo tava escuro. Caminhei a beira mar e fiquei ali a espera do nascer do sol. A Jordana juntou-se a mim. Pouco a pouco o sol ia erguendo-se e dando brilho aquela praia tão especial e de um mar de cor tão peculiar. Eu e o nascer do sol O nascer do sol em Aventureiro Jordana e o sol Senti muita vontade de passar o resto da viagem em Aventureiro. Desistir da volta e ficar ali em paz. Se algum dia eu voltar para Ilha Grande, será para ir direto rumo Aventureiro e ficar uma semana inteira ali, acampado à beira mar. Entre o céu, o mar, a areia da praia e uma sombra pra descansar. Que saudades de Aventureiro. Que saudades. Aventureiro O resumo de Aventureiro O Vinicius tinha acordado renovado. Tomamos um café da manhã reforçado com direito a pão e queijo deixado por um família que conhecemos no dia anterior. Tentamos uma conexão de internet (no camping tem wifi) para antecipar os votos natalinos com nossas famílias. Tentativa bem sucedida. Saímos era tarde da manhã. Fomos querendo ficar. Não tínhamos a permissão do Inea para atravessar as praias do Sul e Leste, mas fomos mesmo assim. Afinal, não tinha barcos para Parnaioca naquele dia. Logo no inicio da caminhada, no trecho em que caminha-se entre rochas até a Praia do Sul o momento de maior tensão da viagem. O Matheus distraído pisou na parte da pedra que tinha tipo uma cachoerinha, portanto estava molhado. E assim, foi descendo em direção do mar, escorregando pelo pedra que parecia um tobogã. Na hora que olhei bateu um desespero grande. Já estava tirando a mochila pra pular no mar quando o Matheus milagrosamente conseguiu travar-se num trecho inclinado da rocha. Fomos em sua direção, pegamos sua mochila. Ele saiu tranquilo, na visão dele ele nem tinha passado por nenhum perigo. Porém, eu e o restante do grupo ficamos em choque. Foi um grande susto. A caminhada infinita pelas também infinitas praias do Sul e do Leste foi de tensão inicialmente, mas a beleza do lugar logo nos fez esquecer do ocorrido. O Matheus ganhou o apelido de Quase Morte e a sobrevida que ele ganhou nesse dia fez ele disparar no percurso. Ele caminhou na nossa frente pela primeira vez e assim foi até não ser mais visível aos nossos olhos. Esse trecho judia, pois só se caminha pela areia e o sol estava forte demais. Eu me encantei pela travessia entre a praia do Sul e do Leste, na parte que atravessa-se pelo mangue. É de uma lindeza indescritível. Depois foi caminhar e caminhar debaixo de um sol escaldante, mas a beleza do lugar tornava tudo mais fácil. O trecho de pedra Praia do Sul Praia do Sul Belezura O Mangue O Mangue Praia do Leste Praia do Leste Fim de caminhada Praia do Leste Beleza é relativo. Direto eu digo que esse ou aquele lugar é o mais bonito que já vi em minha vida, para mudar de opinião cinco minutos depois. Sobre as praias de Ilha Grande isso também era uma verdade. Toda hora falava que essa ou aquela era a praia mais bonita da ilha. Porém, a verdade que para mim as praias do Sul e do Leste são as mais bonitas. Areia branquinha e mar límpido. Enquanto caminhávamos molhando os pés consegui ver uma raia que nos acompanhou por instantes nadando no rasinho. Lindeza. Naquela situação fiquei feliz demais em ver uma raia. A parte final da Praia do Leste em contraste com a vegetação é lindo demais e é a imagem que eu lembro quando recordo da ilha. Matheus no paraíso A imagem que grudou na retina - Praia do Leste Todas as trilhas que fizemos em nenhuma tivemos problemas com água, exceto essa. O trecho que caminha-se pelas praias do Sul e Leste era de se esperar que não haveria água. São quase duas horas exposto ao sol, então o consumo de água é alto. Ao chegar no trecho que liga a Praia do Leste a Parnaioca volta-se a caminhar em vegetação fechada. Entretanto, nesse trecho não há rios para encher as garrafas. No ínicio da trilha já estávamos sem água. Completar esse percurso foi um martírio, perdíamos muito água pelo suor e a boca estava seca. Quando avistamos o fim da trilha foi um alívio. Chegamos em Parnaioca não era nem uma hora da tarde, tínhamos todo o resto do dia para nós. Nesse dia era véspera de Natal. Seguimos para o camping do Silvio. Não tivemos o prazer de conhecer o Silvio que estava no hospital se recuperando de alguma enfermidade. Fomos recepcionados por seu filho Célio e sua família. Almoçamos. Organizamos nossas coisas e levantamos acampamento. Descansamos nos colchonetes do camping. Depois ficamos na praia. O dia estava ensolarado e Parnaioca estava linda demais. Pena que quase não registramos Parnaioca em fotos. No descer do sol voltamos ao camping. Tomamos banho e pedimos um PF para nossa ceia de Natal. Depois fomos convidados para uma fogueira à beira mar. Aceitamos. Ficamos pouco tempo, não entramos em sintonia com o outro grupo que estava em outra vibe. Voltamos para o camping e ficamos o resto da noite conversando e rindo. Foi boa demais aquela noite. Antes de irmos dormir, como um presente de Natal, o céu se abriu pela primeira vez durante a noite nessa viagem. Curto demais ver o céu estrelado e naquela noite o céu estava bonito de se ver. Fiquei admirando as estrelas até o cansaço me dominar. Parnaioca Parnaioca Acordamos cedo. Alongamos. Tomamos um café da manhã fraquinho, pois já não havia muitas coisas nas mochilas. Seguimos para a trilha T16 rumo a Dois Rios. No caminho para a trilha tirei as únicas fotos de Parnaioca que naquela hora do dia não estava nada bonita em comparação com a tarde anterior, na qual aproveitamos a Praia de Parnaioca. Essa trilha é chatinha apenas nos primeiros vinte minutos, mas depois é quase toda plana. Delicia de caminhar assim. A T16 é a trilha mais longa de Ilha Grande. Porém, nem de longe é a mais difícil. A trilha é cheia de bugios e ao atravessar algumas áreas de posse deles, eles gritam para espantar os invasores e os gritos de um bando de bugios é assustador, principalmente a primeira vez. Não consigo nem fazer um paralelo ou comparação. Acredite é assustador. Na terceira ou quarta invasão no territórios deles você acostuma com o barulho e começa até aproveitar aquele som peculiar. Quando avista-se a Toca das Cinzas a trilha está no final. Essa toca diz a lenda que era usada para deixar os presos mal vistos do presídio de Dois Rios apodrecendo até a morte. O final da trilha é em uma vegetação rasteira diferente de toda vegetação vista na ilha, não consegui identificar qual era essa vegetação, mas era bem bonita. O fim da T16 anuncia-se no mesmo momento que avista-se o presídio de Dois Rios. A trilha T16 A trilha T16 A Trilha T16 A Trilha T16 A Trilha T16 Comunidade de Dois Rios Dois Rios O presídio de Dois Rios é uma tentativa de isolamento e de dificultar a fuga dos detentos, como feito na ilha de Alcatraz nos Estados Unidos. Esse presídio abrigou alguns célebres prisioneiros. O caso mais famoso foi do traficante Escadinha que fugiu de helicóptero do presídio no seu banho de sol. O presídio era de segurança máxima e tal fuga vive até hoje no imaginário da sociedade, inspirando contos, livros e filmes. Porém, o preso mais famoso com toda certeza foi, o fora de série, Graciliano Ramos. Graciliano foi preso por subversão acusado de ser comunista no ano de 1936 no governo Vargas, que na época namorava com os regimes fascistas da europa. Como admitiu posteriormente, Graciliano na época não tinha afinidade com o comunismo, algo que foi só acontecer no pós guerra em 1945. Em Dois Rios, Graciliano terminou de revisar, que para muitos é seu melhor livro, o livro Angústia. Quinze anos depois (e pouco tempo antes de falecer) da sua prisão ele publicou Memórias do Cárcere em que conta seus dias na prisão em Dois Rios. Eu curto demais literatura e antes de embarcar nessa viagem li atentamente o livro Angústia do qual ainda não sei se gosto. Graciliano entrou na minha vida na época que eu prestava vestibular. Tive que ler pela primeira vez Vidas Secas nessa época. Esse foi dos melhores livros que já li. O livro foi muito importante na formação do meu caráter e na minha forma de ver e conceber o mundo em que vivemos. Portanto, estar de frente aquele presídio era estar de frente com uma parte da história de alguém que é importante em minha vida. Não foi especial estar ali, mas tinha que estar naquele lugar e ver um pouco da história. Hoje, resta apenas o paredão da entrada principal do presídio que foi implodido em 1994. O presídio O presídio Desde da caminhada até Aventureiro tomar uma água de coco gelada virou nossa obsessão. Não encontramos em Aventureiro e nem em Parnaioca. Chegamos em Dois Rios e tínhamos a certeza que naquele lugar conseguiríamos, por fim, tomar o coco gelado. Não rolou, nos lugares em que procuramos nada de coco. A comunidade estava meio deserta, afinal era dia de Natal. Tomamos outra Coca de dois litros estupidamente gelada e estupidamente cara, R$14. A comunidade de Dois Rios é bem estilo vilinha de cidade de interior. Eu gostei bastante, porque as casas ficam bem distante das praias. A comunidade é cheia de gramados, isolando a overdose de areia de todas as outras praias, areia que fica apenas na orla. Fomos pra praia e encontramos uma boa sombra. Ficamos na sombra. Dormimos. Almoçamos por ali. Passamos toda a tarde naquele lugar. Surgiu a ideia de montar acampamento, afinal aquela paisagem era demais. Mais uma vez o mar surpreendia por sua cor. Dois Rios não deve em nada em questão de beleza para nenhuma outra praia da ilha. No fim da tarde, o tempo já anunciava chuva. Já havíamos desanimado da ideia de seguir a volta da ilha por Caxadaço, Santo Antônio e Lopes Mendes e com aquele tempo decidimos cortar a pontinha norte da ilha e seguimos para a trilha T14 rumo a Abraão. Praia de Dois Rios Praia de Dois Rios Praia de Dois Rios Descanso na Praia de Dois Rios O almoço Cozinhando O contorno da Ilha Grande seria completo se seguíssemos pela T15 rumo a Caxadaço e terminasse a volta pela ponta norte da ilha. Para fazer isso teríamos que fazer um camping selvagem em Caxadaço. Não tínhamos informação de como era o reabastecimento de água por lá, a chuva viria muito forte naquela noite, tinha a questão da trilha entre Caxadaço e Santo Antônio que parece ser confusa e nossos corpos já começavam dar sinais de esgotamento. Decidimos assim, seguir a trilha T14 e ir direto para Abraão, e no dia seguinte faríamos esse trecho sem mochilas. E assim, partimos para nosso último trecho com nossos mochilões. A T14 na verdade é uma pista, a única que transita carros autorizados na ilha. A primeira metade é de subida e a outra metade é só descida. Já na descida tem um mirante bem bonito. A alegria do sucesso já dominava-nos e o cansaço parecia secundário. Demos bastante risada nesse trecho de caminhada. A maior parte dos assuntos eram recordações da volta. Quando chegamos em Abraão o alívio era o sentimento da vez. Agora era hora de comemorarmos. Fomos até o camping Cachoeira. Eu tinha feito contato, antecipadamente, com a Noé e conseguimos a diária de R$25 no camping, um achado por ser a semana dos preços caros. Arrumamos nossas coisas no camping e logo começou a chover. Chuva forte. Chuva que impediu de sairmos das barracas. Chuva que impediu nossa comemoração do final da volta. A chuva ficou até a manhã do dia seguinte, de maneira intensa. O que fez que a nossa decisão de cortar a ponta norte da ilha fosse acertada. O Vinicius nessa noite resolveu antecipar sua partida. Logo ao amanhecer ele partiu. A trilha T14 O mirante O grupo no mirante Abraão Abraão Volta completada O dia amanheceu chuvoso. Agora éramos três. Demoramos mais que o normal para sairmos das barracas, afinal, a volta estava dada e o descanso era merecido. Tomamos o café da manhã reforçado preparado pela Jordana e saímos caminhar por Abraão. O sonhado coco gelado surgiu nessa manhã, mas de forma melancólica veio em um copo plástico e não diretamente da fruta. Enfim, estava bom demais. Ficamos a olhar o finito mar com Angra ao fundo. De chinelos nos pés resolvemos ir até Lopes Mendes. Vinte minutos depois de entrar na trilha T10 bateu o arrependimento de ir, pois começou a chover e toda hora meu chinelo se desfazia, e ainda tinha a preocupação em machucar o machucado novamente (ou seria remachucar o ferimento existente?). Caminhamos em frente. Depois de uma hora de caminhada estávamos na praia de Palmas. A chuva cessou com a nossa chegada, avistamos umas espreguiçadeiras e ficamos por lá. As espreguiçadeiras em Palmas Almoçamos. Decidimos não mais avançar até Lopes Mendes, o tempo estava fechado e o sol já estava baixo. Ficamos por ali o resto da tarde. Quando a chuva iniciou-se, novamente, partimos rumo a Abraão. Apesar da chuva, essa trilha foi a mais tranquila, sem peso nas costas e por ser o último trecho de trilha que eu iria fazer naquele ano que se encerrava. Tive prazer em cada passo que dei nos últimos sessenta minutos de caminhada. A trilha escorregadia e a chuva incessante não atrapalhava em nada. E assim que avistei os primeiros telhados na enseada de Abraão a sensação de missão cumprida me dominou juntamente com a felicidade. Praia de Palmas Praia de Palmas O Pico do Papagaio é o segundo ponto mais alto da Ilha Grande com 982 metros. O ponto mais alto é o Pico da Pedra D’Água com 1035 metros. Porém, o Pico do Papagaio é acessível por trilha (T13) e sua vista é incrível. A trilha é considerada a mais difícil da ilha em questão de preparo físico. Queria fazer a trilha de madrugada para ver o nascer do sol de cima do pico. Não sei explicar a minha relação com as montanhas. Quando digo montanha, excluo a definição literal e jogo no mesmo significado morros, serras, pedras ou qualquer elevação territorial que se destaca no horizonte. Nasci numa cidade plana e por isso, que até onde eu saiba, tinha dos maiores índices de bicicleta per capita do país. Fui conhecer montanhas tardiamente, talvez isso fez eu ter essa fascinação. Só sei que do alto de algum pico, de onde a imensidão domina a paisagem, d'onde faça eu ver o quão pequeno sou é onde sinto-me melhor. Ali do alto é que eu acho o meu equilíbrio de tempos em tempos. Entre o mar e a montanha sempre irei ficar com a montanha. Por isso, o Pico do Papagaio para mim era o ponto alto dessa viagem. No início do dia quando tive a certeza que não daria para subir o pico naquele dia e nem no próximo (por causa das chuvas e da falta de visibilidade), achei que iria ficar frustado. A frustração não veio. Os dias a beira mar haviam compensado e de certa forma o mar me trouxe esse equilíbrio. Inicialmente iria partir no próximo dia no final da noite, mas com o tempo ruim decidi partir no início do próximo dia. Com ressalvas tinha conquistado o objetivo de dar a volta na Ilha Grande, estava satisfeito com tudo que eu havia vivido. Agora sobrava uma noite e era hora de comemorar. Saímos prum bar, comemos bem e bebemos até o inicio da madrugada. As recordações e as risadas deram o tom da despedida. A comemoração No outro dia acordei cedo. No escuro caminhei por Abraão rumo ao cais. O relógio marcava 06:00, sentei no cais e esperei. Na outra ponta havia um grupo - que imagino eu - que havia pernoitado lá e tocava alguma música. Me aproximei. Não reconheci a música. No momento que o sol se levantava acabei dormindo. Dois caras me acordaram e um deles me perguntou se eu estava procurando hospedagem, eu disse que estava partindo. Corri e consegui alcançar o barco que já estava saindo. Sentei no barco e dormi de novo. Acordei no porto. Novamente com pressa fui até a rodoviária. Subi no ônibus e mais uma vez dormi. Assim, me despedi de Angra e sua Ilha Grande, que facilmente poderia ser chamada de Ilha Bela ou, para evitar o plágio, melhor seria Ilha Linda. A última foto da ilha Para mim essa viagem foi muito especial. Reencontrar o Matheus foi muito bom, amigo que dividiu comigo tantas experiências, desde das aulas da época da universidade, passando pelo companheirismo nos projetos sociais nos quais nos envolvemos, nos dias de estágio no qual também dividimos o mesmo teto até chegar na nossa iniciação em mochilões, no mochilão pela América do Sul. Passar dias com o Vinícius fora do ambiente, por muitas vezes carregado, do laboratório e conhecê-lo de uma forma mais real também foi legal demais. Conhecer a Jordana de uma forma tão casual também foi muito bom, ela deu o toque feminino que faltava no grupo. Acho que formamos um belo grupo. Contornar cada canto da ilha foi surpreendente. Cada nova praia era uma beleza diferente. As trilhas são todas cheias de charme. Beleza não falta nesse trekking. Claro que existem os pontos altos como Lagoa Verde, Aventureiro e Parnaioca em que as belezas são mais gritantes e a paz prepondera nesses lugares tornando-os mais especiais ainda. Porém, caminhar esses dias sem a companhia da Jordana, Matheus e Vinicius fariam com que esses lugares não fossem tão belos. A soma dos lugares, do nosso grupo e das pessoas que cruzaram nosso caminho nessa jornada fizeram dessa viagem, uma grande viagem. Só tenho agradecer aos céus por mais essa oportunidade. Jordana, Matheus e Vinicius obrigado pela companhia e, principalmente, pelas boas memórias que teremos desses cansativos, porém incríveis dias. Muito Obrigado! E agradeço também os pacientes leitores que conseguiram chegar ao fim desse longo relato. Obrigado! Nos vemos pela estrada. Abraços, Diego Minatel