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Relato: Londres e Edimburgo (09 dias)


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Olá, gente!

 

Em retribuição às dicas que sempre pego aqui no Mochileiros, resolvi contar como foi a minha viagem para a Inglaterra e Escócia. Vou aproveitar para fazer isso enquanto as lembranças estão vivas e as anotações que fiz durante o passeio, aqui à mão. Mas vou escrevendo aos poucos porque o tempo anda escasso e eu tendo a escrever muito hehehe.

 

Fomos eu e um amigo, e tínhamos decidido não saracotear demais passando por 50 cidades, já que só poderíamos ficar fora pouco mais de uma semana. Eu já havia ido a Londres antes com uma excursão e sabia que há muita coisa pra se fazer lá, independente do seu perfil de viajante. Então, optamos por passar por Londres e depois seguir para Edimburgo, cidade que nenhum dos dois conhecia.

 

Partimos no dia 20/09, num voo da British Airways às 16h15 direto para o aeroporto de Heathrow. O voo foi tranquilo. A tripulação era profissional e um tanto descontraída, mas não tomava muito conhecimento dos passageiros não. Faziam o mais rápido possível o que tinham que fazer e sumiam. Como eu não sou de ficar pedindo água, travesseiro, palito, cobertor, café, revista e tudo mais nessas viagens, minha interação com eles limitou-se a responder "chá" ou "café" na hora das bebidas.

 

Pousamos no Heathrow perto das 7 da matina do dia 21. E aí começou pra valer a saga.

 

1º DIA (21/09) : Todo mundo sabe que qualquer viagem começa nos preparativos, mas a imigração, pra mim, sempre é um capítulo à parte. Como falei antes, já havia ido a Londres e não estava tão receoso em relação à imigração. Mas meu amigo, exceto por uma viagem ao Peru e Chile este ano, nunca havia ido pra fora. E pior, já havia passado pela péssima experiência de ter um visto americano recusado. Então, boa parte do meu tempo antes da viagem foi gasta lendo relatos de pessoas que passaram pela imigração e fazendo praticamente um estudo sobre os motivos que levaram pessoas a serem barradas e como foi o procedimento. Li vários desses relatos aqui mesmo no Mochileiros e em vários blogs na Internet. Busquei informações nos sites oficiais da embaixada do Reino Unido, li relatos de estrangeiros para ver se havia diferenças, e por aí foi. Ao mesmo tempo, ia fazendo notas e passando para o meu amigo uma lista de documentos que seria bom ele providenciar e ter à mão na hora da imigração. A agonia era tanta que, dois ou três dias antes da viagem, lá estava eu no YouTube assistindo episódios de uma série inglesa intitulada "UK Border Force", que mostra a atuação dos oficiais de imigração nas fronteiras do Reino Unido e a caça empreendida aos trabalhadores ilegais no país. Já via eu e meu amigo sendo abordados pela polícia de imigração no açougue de um imigrante turco e tendo de mostrar os passaportes falsos e... peraí, volta à realidade porque vocês estão indo a passeio, gastar o suado dinheirinho do emprego de vocês e não têm a menor intenção de ficar lá mais que os nove dias planejados inicialmente.

 

Enfim, nós tínhamos muito mais do que os documentos recomendados. De comprovantes de hospedagem até a passagem de volta, passando pelos comprovantes financeiros, de emprego, contracheques, declarações, seguro de viagem e até um roteiro com o que pretendíamos fazer em cada um dos dias, tudo estava lá, bonitinho, caso pedissem. Mas sempre rola um pouco de insegurança porque, afinal de contas, nunca se sabe se você realmente levou tudo, e, se você pensa demais, começa a lembrar de outras coisas que poderia ter levado junto. Só que chega uma hora também (já dentro do avião, no meu caso) em que você tem que admitir que fez tudo o que podia e que, se não rolar, não rolou. Não vai ser por você não ter se preparado e, sim, por algo alheio à sua vontade. E fomos com esse pensamento para a imigração.

 

Com base em vários relatos, achei que esperaríamos horrores na fila, mas ela estava limpa e cristalina, exceto por umas duas ou três pessoas que foram chamadas enquanto estávamos percorrendo o zigue-zague até o ponto que marca onde se deve esperar. Eu tinha falado para o meu amigo que vi relatos de que pessoa sem vínculos familiares não podem passar pelo mesmo guichê, mas já havia dito também que era pra gente tentar ir junto, já que as viagens que já fizemos juntos, meu visto americano e outras coisas poderiam facilitar a entrada. Assim, passamos direto do ponto de espera para o guichê, e ninguém achou ruim. A oficial foi simpática, pegou nossos passaportes e começou as perguntas:

 

P: Qual o motivo da viagem ao Reino Unido?

R: Turismo.

P: Quantos dias vão ficar?

R: Nove.

P: De onde vocês se conhecem?

R: Do trabalho.

P: O que vão ver em Londres.

R: Alguns dos pontos mais famosos, como --

P: Desculpe, senhor, pode repetir?

R: Aham. Alguns dos pontos mais famosos, como o Palácio de Buckingham e a Torre de Londres.

P: E vão passar os nove dias em Londres?

R: Não, pretendemos passar cinco dias em Londres e depois ir para Edimburgo.

P: E o que vão ver em Edimburgo?

R (sorrindo): Principalmente o castelo.

P (sorrindo): Certo. Vocês já vieram antes ao Reino Unido?

R: Eu já, ele não.

P (pega os passaportes e carimba) : Certo, obrigado e aproveitem a viagem.

 

Poderia ter dado um beijo nela e falado que mandaria uma passagem pra ela visitar o Brasil e ficar hospedada na minha casa, se ela quisesse, mas fiz o mais sensato: agradeci, peguei os passaportes e saí com meu amigo antes que ela mudasse de ideia. :D

 

Depois disso, até meu esfíncter relaxou, e começamos a sessão de fotos ainda no aeroporto. Fomos, logo depois, até as máquinas de bilhete de metrô (não tem jeito de você deixar de vê-las no caminho, é só ir seguindo as placas do "Underground") e compramos o bilhete para ir até a Zona 1. Sabíamos da opção do Oyster Card, mas, nesse momento, nossa intenção era usar o metrô só pra ir e voltar do aeroporto, então compramos bilhetes individuais mesmo (a bagatela de 5,30 libras pra cada um). Pegamos o elevador até o andar do metrô e embarcamos na linha Piccadilly para o centro. Ah, é importante você guardar o bilhete do metrô porque tem de usá-lo para sair da estação quando chega ao seu destino.

 

A viagem de metrô até o centro demorou entre 40 ou 50 minutos. Pegamos ele vazio no Heathrow e ele foi enchendo - e muito! - ao longo do caminho. Os vagões são pequenos e estreitos, mas aparentemente há bastantes trens, pois é raro você ficar esperando muito tempo na plataforma. E outra: o povo não fica naquele espreme-puxa-empurra e viva a festa da Xuxa. Quando o vagão lota, o pessoal que sobrou fica do lado de fora, pacientemente, aguardando o próximo trem. Não vi ninguém com a cara prensada no vidro. Estávamos, eu e meu amigo, cada um com uma mochila do tipo escolar abarrotada, e, por isso, foi um alívio ir sentado a viagem toda.

 

Descemos na estação de South Kensington e, como ainda não eram nem 9 da manhã e só poderíamos fazer nosso check-in no hotel a partir das 3 da tarde, lá fomos nós perambular. Resolvemos seguir nosso roteiro original (que já havia levado em consideração esse tempo de chegada e o horário do check-in) e subimos a Exhibition Road a partir da estação. Vimos e tiramos fotos dos prédios do Victoria & Albert Museum e do Natural History Museum, mas visitar nem pensar porque ainda estavam fechados. Seguimos em frente e demos uma passada pelo Royal Albert Hall. Aquele prédio é muito bonito, mesmo que não tenhamos visitado por dentro valeu a pena parar ali um pouco e tirar umas fotos.

 

Atravessando a rua, estávamos na entrada dos Kensington Gardens. Bem de cara, um memorial belíssimo ao marido da rainha Victoria, Albert. Se você gosta de escultura, como eu, é um prato cheio, principalmente as esculturas nos quatro cantos do monumento, que representam quatro continentes. Depois de gastar um tempinho ali, fomos andando pelo restante do parque e, sem querer querendo, demos de cara com a estátua do Peter Pan. É uma das histórias infantis que eu mais gostava quando criança, então foi a realização de um sonho tardio ficar ali do lado e tirar umas fotos. Seguimos adiante e passamos pela galeria Serpentine e pelo próprio Serpentine até chegarmos ao jardim italiano, que é muito bonito. Esse jardim é praticamente a divisão entre os Kensington Gardens e o Hyde Park. Depois da paradinha no jardim, seguimos pelo Hyde Park.

 

O Hyde Park não é, ao menos pra mim, tão bonito quanto os Kensington Gardens, mas é bastante agradável. Fomos andando pelo lado norte do parque até chegarmos no Speaker's Corner, mas não havia ninguém lá discursando, coisa que eu adoraria ter visto. Mas, além da chuva fina, li em algum lugar que o povo costuma ir até lá aos domingos, embora não saiba se é algo que acontece realmente todo domingo ou se a tradição já está esquecida. Enfim, pegamos uma chuvinha fina nessa hora e fomos até o Marble Arch, saindo do parque pelo canto superior direito do parque, e de quebra vimos uma escultura linda representando a cabeça de um cavalo (toda vez que falo isso só me lembro de "O Poderoso Chefão"). A chuva apertou um pouquinho e aproveitamos pra ir comer num Pret à Manger que tem ali perto. Aliás, o Pret à Manger é ótimo se você, quando viaja, prefere forrar o bucho com um sanduíche frio e um refrigerante enquanto anda em vez de sentar e gastar pelo menos meia hora em qualquer restaurante. O nosso plano, inclusive, era comprar e sair andando, mas a chuva apertou bastante enquanto pagávamos e então optamos por comer lá dentro mesmo e aproveitamos a oportunidade para dar um descanso para as nossas costas do peso das mochilas.

 

Não demorou muito, a chuva ficou fininha de novo, e lá fomos pra rua. Voltamos beirando o Hyde Park e os Kensington Gardens até o playground que é dedicado à Princesa Diana (no lado esquerdo dos jardins) e descemos o caminho até o Palácio de Kensington. Não achei o palácio tão bonito, mas a área em volta dele é muito bonita. Grama aparadinha, árvores trabalhadas com formas diversas, um lago próximo e a estátua da rainha Victoria e de William III nos arredores. Meu amigo sugeriu visitarmos por dentro, mas esse é um dos lugares em que você precisa pagar, e, no fim, não achamos que valeria realmente a pena frente às outras coisas que queríamos ver.

 

Assim, voltamos para o nosso ponto de partida na frente do Royal Albert Hall e descemos pela Exhibition Road até o Natural History Museum. Já era de tarde e pudemos entrar tranquilamente. Eu achei que haveria pelo menos algum tipo de inspeção das nossas mochilas, uma catraca ou detector de metais, mas nada: passamos direto para dentro do museu e ninguém tomou conhecimento da nossa existência. Entramos pela entrada lateral, e acho que esse foi o nosso erro: caímos no pavilhão de geologia, que não me interessa nem um pouco. Era pedra atrás de pedra, com todos os detalhes de formação de cada uma, onde são encontradas e por aí vai. Há atividades interativas, em que você pressiona botões, move alavancas e tal, para observar os efeitos. Mas realmente não é a minha praia, embora com certeza vá deleitar quem curte o assunto. Nem o simulador de terremoto me fez sorrir, porque é bem fraquinho (e nem podia ser diferente.. imagina alguma vó caindo e quebrando a perna).

 

O quentinho do museu, comparado com o frio leve do lado de fora, começou a fazer eu e meu amigo ficarmos com cara de drogado. Depois de 10 horas e meia de voo, praticamente sem dormir, e passar toda a manhã e uma parte da tarde andando feito camelos carregando entre 5 e 6 Kg nas costas, com chuva e vento, chega uma hora que seu corpo começa a chorar, né? Então resolvemos ir até a ala dos dinossauros - motivo-mor da nossa ida ao Natural History Museum - e, como já passava das 4 da tarde, veríamos mais alguma coisa se desse tempo até o museu fechar e pronto. No caminho, passamos por um corredor com várias espécies de aves empalhadas, e paramos lá um pouquinho para vê-las. Fiquei fã de uma coruja marrom que tem lá com cara de "ataaaaaaaaaaaque!!!". Continuamos e passamos por um outro corredor gigante, onde há os esqueletos fossilizados de uma preguiça gigante e de vários dinossauros marinhos, alguns gigantescos! No final das contas, pra quem curte dinossauros, o Natural History Museum vale mais pelos exemplares marinhos do que os terrestres. Mas claro que só descobrimos isso depois da visita à aula dos dinossauros mesmo. Há alguns esqueletos de triceratops, estegossauro, alossauro e outros, além de alguns ossos avulsos de partes de uma pata ou da coluna. Há também um modelo animatrônico de tiranossauro e um outro de raptor, mas, no fim das contas, eu achei a ala pequena. Há informações gerais e atividades para crianças, mas eu achava que a ala era maior e que havia mais espécies do que os de sempre. No fim, como disse, os espécimes marinhos valem mais a pena, na minha opinião.

 

Tentamos ir à ala dos insetos, bichos nojentos, rastejantes e afins, mas o museu já estava fechando. Ainda deu tempo de tirar uma foto da estátua do Charles Darwin, no primeiro patamar da escadaria de entrada do museu, mas em seguida tivemos que ir embora mesmo. Saindo do quentinho e indo pro geladinho, ficamos um pouco revigorados, mas decidimos ir logo para o hotel. Ficamos, nessa noite, no EasyHotel South Kensington. Por uma demora na hora de fecharmos as datas da viagem, acabamos não conseguindo vaga na primeira noite no EasyHotel Victoria, que era nossa primeira opção, e, assim, ficamos a primeira noite no EasyHotel South Kensington e, no dia seguinte, iríamos pro EasyHotel Victoria, que é mais central. A chuva fraca voltou a incomodar, mas em mais ou menos 15 minutos estávamos no hotel. Foi minha primeira experiência em um EasyHotel e posso dizer que não me arrependi nem um pouco. Se você só precisa de uma boa cama, um chuveiro e uma privada, o EasyHotel te serve muito bem. Como eles dizem no site, os quartos são bem pequenos, então gente que viaja com malas grandes pode ter problemas pra se virar dentro do quarto. Todos os extras, mas todos mesmo, do ar condicionado à televisão, passando pela limpeza do quarto e guarda de bagagem, são cobrados à parte. Isso tudo está no site deles, então não dá pra se assustar quando você chega lá. Eu achei o custo bom para o que era oferecido, principalmente levando-se em conta que estávamos em Londres, onde tudo é caro.

 

Apesar do cansaço e de já estar vendo tudo em quatro dimensões, saímos de novo para conhecer a vizinhança. No caminho, passamos por um Sainsbury, um supermercado que dá igual chuchu na cerca lá no Reino Unido. Aproveitamos e comemos por lá, já que há tipo uma praça de alimentação. Compramos mais algumas coisas para o caso de fome noturna e também um adaptador para a tomada - no Reino Unido as tomadas são de três pinos chatos, dois na horizontal e um na vertical. Compramos por 3 libras (no EasyHotel estavam vendendo por 7), mas dias depois precisamos de outro e achamos por 1,50 libra.

 

Tentamos usar o caixa self-service do supermercado, mas foi um epic fail total. Já vesgos de cansaço, fomos a um que não aceitava cartões, e eu tinha deixado meu dinheiro no hotel. Fomos a um outro caixa self-service, e ele também não aceitava cartões. Nesse meio tempo, meu amigo achou o dinheiro dele e um tio apareceu lá, levou a gente até outro caixa e praticamente fez tudo, inclusive trocar o dinheiro (meu amigo tinha uma nota de cinquenta libras, o caixa só aceitava 10 e 20 libras). O tio foi super prestativo, mas a nossa sensação de incompetência foi grande hehehe.

 

Nessa brincadeira, já tinha passado de 8 da noite. Por mais que digam que não se deve dormir em viagens assim, a gente realmente precisava dormir. A nosso favor, tínhamos o fato de que havíamos feito tudo o que pretendíamos nesse primeiro dia. Combinamos então em voltar pro hotel e capotar para levantar cedo no dia seguinte e continuar a maratona. Pra dormir, não precisei nem de dois minutos depois que deitei.

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Cara eu ia abrir um tópico da minha viagem para Londres , exatamente para falar da facilidade que encontre na imigração de lá

acho que os caras aprenderam muito com os jogos olimpicos , o negócio é no momento da entrevista ser CLARO e objetivo.

Responder o que for PERGUNTADO e não ficar inventando firula, não tem como dar errado, acho que encontrei tanto brasileiro em Londres esse mês capaz até da gente ter se trombado por la!

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Legal, Bibi, espero que possa encontrar algumas dicas no meu relato!

 

Pois é, Loganeto, eu tinha um quadro amplo sobre a imigração antes de passar por lá, e eu não via motivos reais para ficar lá muito preocupado, mas sou beeeem precavido e só deixo pra gritar "gol" quando a bola sacudiu a rede e o juiz marcou hehehe. É bom mesmo que você fale da sua viagem e deixe claro pro pessoal que a imigração pode ser bem tranquila.

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2º DIA (22/09) : Como combinado, acordamos cedo pra correr pra rua. Fizemos o check-out no EasyHotel South Kensington e lá fomos com 6 Kg de bagagem nas costas de novo. Sério, galera, não deixem pra fazer reserva muito em cima da hora a não ser que vocês gostem de correr riscos ou viagem com menos coisas ainda do que eu costumo viajar. Porque ficar andando pra cima e pra baixo com a mochila cheia, ainda que ela fique nas costas, é desgastante. Aliás, se tem uma coisa que eu posso dizer que não é legal no EasyHotel é justamente o horário de check-in (3 da tarde) e check-out (10 da manhã). Você até pode pagar uma taxa (pra variar) pra entrar mais cedo ou sair mais tarde, mas pra quem viaja com orçamento apertado, isso acaba não sendo uma opção.

 

Enfim, saímos do EasyHotel South Kensington (o check-out é só entregar o cartão-chave na recepção e pronto, adeus) e fomos experimentar o famoso café da manhã inglês. Eu já havia ouvido falar, mas ver e comer é outra coisa. Influenciado pelo meu amigo, que come até as paredes, pedi o café da manhã "grande". Na verdade, o bicho devia se chamar "gigantesco" ou "misericórdia", porque é comida que não acaba mais: ovo, bacon, cogumelos, salsicha, uns empanados que eu não faço ideia do que eram e um tomatinho pra dar um que de leveza, eu acho. Meu amigo, que é do Recife, se sentiu quase em casa com o café da manhã, mas pra mim, brasiliense morando em São Paulo, o negócio tinha mais cara de almoço. Fora que nem nos meus tempos de escoteiro, em que comida era algo racionado nos acampamentos, eu acordava com fome suficiente pra comer aquilo tudo. Resultado: fiquei cheio e satisfeito muito antes do prato acabar. Então, fica a dica: se você não é um ogro ou um troll, e não está acostumado com esse tipo de café da manhã, peça o café pequeno, se houver essa opção. O Illy é um bom lugar pra se tomar café da manhã, embora não seja dos mais baratos.

 

Gastamos um bom tempo lá comendo - coisa que, como disse no post anterior, eu, particularmente, não curto fazer - e tentamos compensar o tempo "perdido" andando rapidinho pelas ruas. Tiramos várias fotos no trajeto entre South Kensington e a área do Parlamento. O dia estava bom, com direito a céu azul e friozinho agradável, então era excelente andar nas ruas sem suar. Nos perdemos de propósito em algumas ruas para poder ver a arquitetura da cidade, que eu acho muito, mas muito bonita mesmo.

 

No meio do caminho, resolvemos começar a colocar um plano em prática: havíamos considerado a possibilidade de tirar um dos dias em Londres para viajar até Stonehenge. Sabíamos que isso significaria ver menos coisas em Londres, mas, como eu já havia estado na cidade, e como meu amigo tinha ficado animado com a ideia de viajar pelo interior, achamos que poderia valer a pena. Na andança, caímos perto da Victoria Station, e fomos até o prédio ao lado, na loja da National Express, ver a disponibilidade das passagens de ônibus para Salisbury. Compramos para a segunda-feira (dia 24), às 7 da manhã e retorno no mesmo dia, às 6:@5 da tarde. Deu menos de 10 libras pra cada um por trecho.

 

Seguimos adiante e acabamos pondo outra ideia em prática. Ambos queríamos ver uma das peças que sempre estão em cartaz na cidade. Minha ideia era ver algo mais clássico, tipo O Fantasma da Ópera", mas, ao passarmos na frente do teatro Apollo Victoria, meu amigo viu que Wicked estava em cartaz. Ele já havia ouvido várias das músicas não sei onde, enquanto eu não fazia ideia do que se tratava, embora o cartaz deixe claro que se refere a algo relacionado a O Mágico de Oz. Como o teatro ficava bem localizado em relação ao nosso próximo hotel, topei deixar de lado o Fantasma da Ópera e compramos ingressos para as 7 da noite desse mesmo dia. Já que estávamos de férias mesmo, compramos um lugarzinho melhor (mas não o melhor de todos), pra não precisar ficar se esticando ou usando binóculos pra ver o que acontecia no palco.

 

Com essas paradas, perdemos um bom tempinho, coisa que iria complicar nosso passeio pelo resto do dia. Já era por volta de 11h20 da manhã e, como meu amigo queria ver a troca da guarda no Palácio de Buckingham, a gente seguiu direto pra lá. Lá vai outra dica: cheguem cedo, no máximo por volta das 11 da manhã, se quiser pegar um bom lugar (a troca acontece às 11h30, mas não todos os dias. É preciso ver no site o calendário de cada mês para ter certeza que você vai no dia certo). Já tinha uma galera considerável lá, e eu, que já havia visto a troca uma vez, peguei a mochila do meu amigo e despachei ele pra tentar se enfiar na multidão e chegar perto da grade. Preferi ficar na graminha dos jardins próximos ao palácio, onde também havia bastante gente (provavelmente amigos e parentes de visitantes, que também não faziam questão de ver ou rever a troca da guarda). Foi bom, porque conversei com alguns locais e, de quebra, ainda consegui ver um pouco da marcha da guarda em direção ao palácio para render a guarda "velha".

 

Terminado o furdunço, fomos dar uma volta no Green Park e no St. Jame's Park. Ambos os parques são muito bem cuidados e agradáveis. Se você tiver tempo e quiser ficar lá curtindo o clima, vale a pena. Nós não tínhamos muito tempo pra isso, então demos uma volta com calma para fazer um reconhecimento, tiramos as obrigatórias fotos (mas optamos por deixar o palácio de Buckingham para outra oportunidade, já que a área estava infestada de turistas) e seguimos caminho. A próxima parada foi o palácio da Guarda Montada, que é muito bonito. Já mencionei que a arquitetura da cidade é incrível? Pois é. Tiramos fotos com guardinhas no solo e montados e seguimos pelo outro lado, descendo a Parlament Street em direção à Elizabeth Tower e o Big Ben. Passamos pela Downing Street, que parece uma fortaleza, e continuamos descendo. Rapidinho, o famoso relógio da agora Elizabeth Tower apareceu, e chegamos bem a tempo de ouvir o Big Ben soando, informando uma da tarde. Meu amigo não curtiu muito a região devido ao mar de turistas, que realmente tira um pouco da aura da coisa. Mas, enfim, desde que o turismo virou um negócio, não existe um ponto turístico no mundo que não esteja cheio de turistas 24 horas por dia, 7 dias por semana, né?

 

Gastamos um bom tempo na área em volta do Parlamento, indo até o Tâmisa e voltando, andando nas pontes próximas para conseguir boas fotos do prédio e da torre do relógio, do London Eye (que fica do outro lado do rio) e talz. De lá, seguimos para a Abadia de Westminster, mas só pudemos ver por fora, pois a visitação já estava fechado àquela hora. Aliás, se alguém tem interesse em visitar a Abadia por dentro (principalmente quem se interessa por história e arquitetura), é bom fazer o passeio logo cedo, pra garantir, já que a visitação se encerra por volta das 15h ou 16h, e ainda mais cedo no sábado (no domingo, ela fica fechada aos turistas). Era esse o nosso plano, mas o atraso devido às paradas para fotos, compra de passagens e das entradas do teatro atrasou muito a nossa programação, e tivemos de deixar a visitação interna à abadia para outro dia.

 

Atravessamos o Tâmisa e resolvemos visitar a estação Waterloo, super famosa e gigantesca. Mas a área onde ela está é bem feinha. Aliás, no final das contas, a própria estação acaba não sendo nada de mais, fora o tamanho. Preferi a estação Victoria e a King's Cross, que conheci depois. Em seguida, optamos por seguir a Queen's Walk, beirando o Tâmisa. Passamos pelo National Theatre, na frente do qual estava rolando um mercado de pulgas de livros e vinis. Gastamos um tempinho lá e só não fiz umas barganhas porque, como não tinha espaço pra ficar comprando quase nada, teria que comprar uma outra mochila ou coisa assim para carregar os extras, coisa que não estava nos planos. Mas valeu a pena ver o mercado. Seguimos andando e, nessa tarde, particularmente, a Queen's Walk estava bem movimentada, não só com turistas, mas com vários locais e vários artistas de rua. Vimos um trompetista de cujo instrumento saíam bolas de fogo quando ele tocava notas mais "fortes"; um senhor que levitava do chão (não sei como ele fazia aquilo, de verdade); gente pintando, desenhando ou tocando outros instrumentos normais (ou seja, sem soltar fogo, fumaça, sapos ou luzes); e por aí vai. Valeu muito a pena.

 

Fizemos uma visita rápida ao National Theatre, só a área comum (na qual há um banheiro gratuito, então fica a dica para um pit stop). Do lado de fora, há várias opções para um lanche rápido ou refeição mesmo. Seguindo para o leste, você acaba chegando ao Gabriel's Wharf, que possui lojinhas de roupa, artesanato e também restaurantes e lanchonetes. É bem pitoresco se comparado com o resto de Londres, e por isso mesmo vale uma conferida, mesmo que rápida. Nessa região também você encontra piers de onde saem barcos que fazem cruzeiros de durações variadas pelo Tâmisa. Não achamos que valeria a pena, tanto pelo preço como pelo fato de que a Queen's Walk cobre boa parte da parte turística do rio, de forma que você consegue ver pontos famosos e tirar foto deles sem precisar estar no barco. Mas fique atento porque alguns desses piers fazem apenas a travessia para o outro lado do rio. São balsas mesmo, usadas no transporte para a população local e turistas.

 

Seguindo pela Queen's Walk, passamos pelo Tate Modern, mas não tínhamos interesse no tipo de arte exibida lá, então só tomamos conhecimento do prédio e seguimos adiante. A próxima parada foi o Shakespeare's Globe, uma réplica do teatro no qual Shakespeare apresentava suas peças, construído num local próximo ao original. O teatro é muito legal, há um tour que pode ser feito em determinados dias, se não houver ensaios, mas eles também terminam cedo (por volta de 5 da tarde). Então, caso você queira conhecer o teatro por dentro, tem que levar isso em conta. Embora já tivéssemos visto pela Internet, antes da viagem, que as peças estavam todas esgotadas para o período em que estaríamos lá, arriscamos perguntar na bilheteria, mas realmente não tinha jeito. Como chegamos um tanto tarde para o último tour, só conhecemos a área mais externa do teatro e tivemos de deixar o tour e a peça para outra oportunidade.

 

Voltamos por dentro da região de Southbank para ver se a região era tão feia quanto muita gente diz, mas na verdade só a parte perto da estação de Waterloo é que é judiada, pelo menos na nossa opinião. Se você anda pela Stamford Street, vai ver prédios modernos e ruas largas, bem legal pra caminhar. Quando chegamos perto do Tâmisa de novo, resolvemos passar pelo London Eye, dessa vez pertinho. As filas estavam quilométricas. Embora eu, particularmente, não ache que é algo essencial, meu amigo queria subir pra ver Londres lá de cima, mas o tamanho das filas, o preço dos ingressos e o pouco tempo de que dispúnhamos (lembram dos ingressos para Wjicked às 7 da noite?) fizeram-no desistir da empreitada.

 

A essa altura, as minhas costas já estavam em prantos há um bom tempo, e foi um alívio ir para o EasyHotel Victoria fazer o check-in. Gostei mais dele do que o de South Kensington. O quarto era tão pequeno quanto, mas a área do hotel é maior, e a sensação de segurança e de não estar tão isolado do resto da cidade é maior. Basicamente o que fizemos foi jogar nossas coisas nas camas e sair correndo pra rua, já que tínhamos que subir o caminho até o Apollo Victoria em pouco menos de meia hora. Mas deu tudo certo. O tempo ajudou também, já que não caiu uma gota de chuva nesse dia, e o friozinho bom ajudava a nos manter animados pra caminhar.

 

Chegamos ao Apollo Victoria faltando menos de 10 minutos para o início da peça (ou, pelo menos, do horário marcado no ingresso). Gostamos muito do teatro, da organização e das poltronas. E a peça... cara, eu nunca achei que ia curtir tanto! Não tô nem aí se é peça pra adolescente ou não, só sei que chorei de rir em vários momentos, e curti os números musicais (e olha que não sou chegado nesse tipo de coisa). Mas as duas atrizes principais são excelentes, não só atuando, mas também cantando. Acabou que eu tive que ficar explicando referências da peça pro meu amigo, porque ele nunca viu o filme ou leu o livro do Mágico de Oz, e a peça (que também é baseada num livro) conta uma história paralela à que acontece no filme/livro original. Aliás, muito bem sacada a história e como o autor reverteu vários pontos tidos como certos na história original. E o melhor, todos fazem sentido! Realmente um show de criatividade e narração. Os efeitos de luz e de som também são excelentes. O fim do primeiro ato é sensacional, mesmo não sendo fã nem de longe da história do mágico de Oz, não pude deixar de sentir um arrepio na espinha com o fim do primeiro ato. Realmente sensacional, e recomendadíssimo se você tem mente aberta, senso de humor e preza a diversão acima de quaisquer estereótipos ou ideias pré-concebidas.

 

Ao todo, o tempo gasto no teatro foi em torno de 3 horas (primeiro ato, mais o intervalo, mais o segundo ato). Um tempo muito bem gasto, mas estávamos com fome e resolvemos ir à estação Victoria, na frente do teatro. Lá há Burger King e McDonald's, mas optamos por comprar alguns sanduíches naturais numa lojinha de conveniência. Sentamos por lá mesmo e comemos, e eu fiquei extasiado com a estação. Fiquei pensando e até me deprimi um pouco pensando em como aquilo é tão comum para os londrinos: uma estação de trem e metrô daquele tamanho, com painéis eletrônicos indicando os trens, as plataformas, as paradas de cada linha, sendo atualizadas de tempos em tempo, indicando eventuais atrasos e cancelamentos... enquanto aqui no Brasil, um país desse tamanho, não existe uma linha férrea que preste. Desculpa, mas não tem como não comparar. É claro que não vou ficar aqui fazendo comparações entre os dois países, até porque a história de ambos é bem diferente, e eu fui pra passear e não pra fazer um estudo de caso, mas há coisas (como a educação das pessoas, o fato de como elas desviam umas das outras nas ruas e abrem espaço para que os passageiros desçam dos ônibus e metrôs) que não tem como você não comparar e concluir que, nesta parte do mundo, ainda temos muito que aprender.

 

Quando saímos da estação, depois de andar um pouco por ela, estava caindo uma chuvinha leve, e a previsão era de mais chuva durante o resto da noite (já era quase meia-noite) e o dia seguinte, de modo que preferimos voltar ao hotel para dormir acordar cedinho no dia seguinte novamente. Apesar de não termos conseguido fazer 100% o que gostaríamos (ficaram faltando principalmente as visitações internas à Abadia de Westminster e ao Shakespeare's Globe), foi um dia bem proveitoso, em que não paramos um minuto sequer (nem pra comer, já que fizemos o lance de comprar e ir comendo no caminho), e cobrimos, a pé mesmo, uma boa parte da cidade.

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@patrick

Acho que eu tava inspirado hehehe.

 

3º DIA (23/09) : Esse dia foi tipicamente londrino: frio, cinzento e chuvoso. Tenha em mente, como pano de fundo pra este dia, alternância entre chuva leve e moderada o tempo todo, sem descanso, sem folga. E eu sem guarda-chuva ou capa de chuva, contando apenas com meu boné mágico pra me proteger.

 

Saímos bem cedinho, pegamos um café no Starbucks pelo caminho e fomos subindo em direção ao Palácio de Buckingham para tirar aquelas fotos sem milhares de turistas que não tiramos no dia anterior. Pena só o cenário cinzento e molhado não ter contribuído para fotos melhores, mas, enfim, não é todo dia (e toda hora) que você consegue enquadrar o palácio E a estátua da rainha Vitória E você com a cara amassada na mesma foto e, por isso, valeu a pena.

 

De lá, fomos "subindo" (subir e descer, quando eu falo aqui, refere-se sempre à ideia de você estar segurando um mapa enquanto anda. O Regent's Park está "em cima" no mapa, então você "sobe" até ele, enquanto o Tate Modern está "embaixo" no mapa, então você "desce" pra ele). Optamos por ir por dentro de ruas menores pra ver mais da arquitetura da cidade, e só pegamos ruas maiores pra ganharmos tempo ou nos situarmos depois de muitos zigue-zagues. O destino foi a Abbey Road, famosa rua na qual os Beatles tiraram a famosa foto na faixa de pedestres para aquele famoso álbum vários anos atrás. A chuva deve ter afastado uma boa parte das pessoas, mas ainda tinha um bom montinho de gente lá, despenteados, mas felizes. Foi beeeeeem complicado pra tirar foto imitando os besourinhos, porque a rua tem movimento (embora, como fosse domingo, não estivesse abarrotada de carros), mas todo mundo queria tirar sua foto sozinho ou com os amigos/parentes, e muita gente pulava na faixa de pedestre no meio do trânsito. Os britânicos paravam, muitos achando que as pessoas iam atravessar, e depois buzinavam, xingavam e arrancavam furiosos. Alguns foram gente boa, entenderam a situação e aguardaram algumas fotos pacientemente, mas enfim, sempre tem gente que abusa, e mesmo os mais pacientes às vezes se irritavam com o abuso. Eu e meu amigo tiramos a foto lá depois de mais de uma hora entre tentativas e corridas alucinadas para nos proteger da chuva. Mas foi divertido.

 

De lá, seguimos para o Regent's Park. Como o dia não estava propício para um passeio descontraído, fomos, molhados mesmo, descendo acompanhando os patos pelo lado direito do parque, que pareceu muito bonito. Fiquei imaginando que, na primavera, deve ser uma visão muito bonita. De lá, saímos e descemos a Baker Street, famoso endereço do detetive Sherlock Holmes. Procuramos o número 221 B, e ficamos um pouquinho decepcionados pelo fato de o endereço não ser exatamente esse. Quer dizer, o 221 B está lá, com plaquinha e tudo, mas o museu do Sherlock Holmes está um pouco mais à frente. Já estávamos, meu amigo e eu, parecendo Dementadores de tão molhados e esfarrapados, mas, até por isso mesmo, topamos encarar a fila e conhecer o museu por dentro. Pra quem conhece as obras do Arthur Conan Doyle, o museu é um prato cheio. Há objetos relacionados a vários casos solucionados pelo detetive e seu inseparável companheiro Watson, além de documentos e estátuas representando diversos personagens, inclusive o famigerado professor Moriarty. O museu é bem apertado, a entrada é limitada (é preciso esperar uma certa quantidade de pessoas sair para que um novo lote possa entrar), e não há um tour guiado ou coisa assim, de modo que, se você não está familiarizado com as histórias, vai perder bastante informação. Ainda assim, eu acho que vale uma conferida. A lojinha, que funciona ao lado da entrada do museu e pode ser acessada independente de você visitar o museu ou não, também vale uma conferida. Há livros, chaveiros, chapéus, réplicas, canecas e várias outras bugigangas para fazer qualquer fã sentar no chão e chorar como uma menina na pré-escola.

 

Depois do museu, entramos na loja ao lado, que é toda dedicada aos Beatles. Mais um lugar para fazer o cartão de crédito dos fãs gritar de dor, porque há TUDO e mais um pouco relacionado à banda. Eu passei invicto pela loja, embora tenha sido mais tentado pelas bugigangas do que o Frodo pelo Um Anel, mas consegui diminuir e ir para o Oeste. Meu amigo, por outro lado, quando pisou lá já sentiu libras indo embora, e demorou um tempinho até se decidir por qual cacareco levar. Pegou uma camisa e uma caneca. Uma atração à parte é a entidade que fica no caixa. Enquanto meu amigo vasculhava a loja tentando se decidir, fiquei perto à entrada, monitorando a chuva e tentando entender que espécie de criatura era aquela e à qual sexo pertencia. Depois de um tempo, concluí que era uma mulher, mas não colocaria minha mão no fogo quanto a isso.

 

A chuva não deu trégua mesmo durante todo o tempo dentro do museu do Sherlock Holmes e da loja dos Beatles. Na verdade, ela piorou. Tanto que optamos pot abrir mão do nosso plano de explorar a cidade a pé e encarar o metrô. Como havia possibilidade de mais chuva nos dias seguintes, optamos por comprar logo o Oyster Card, que facilitaria a nossa vida, além de nos fazer economizar alguns trocados. O Oyster Card é tranquilo pra usar, é como um bilhete único de São Paulo ou o equivalente em outras cidades, mas, enfim, você pode usá-lo para pagar metrô, ônibus e trens. Vale a pena principalmente se a sua ideia é ficar passeando pela cidade de metrô. Ainda que você não seja fã de andar, contudo, recomendo passear a pé pela cidade quando possível, porque senão você vai conhecer só o subterrâneo e os pontos turísticos.

 

De posse dos novíssimos e utilíssimos Oyster Cards, pegamos o metrô e fomos até a estação mais próxima do British Museum. Já que a chuva não dava trégua e a previsão apontava que seria assim até o fim do dia, o melhor era ficar em lugares fechados mesmo. Chegamos ao museu e, de novo, nada de revista, de ter de abrir mochila ou de passar por detectores. Entramos e pronto, já estávamos vendo as exposições. Pra quem curte história, como eu, o museu é um prato cheio: há centenas de objetos, esculturas e outras peças de diversos impérios antigos, como o Egito, Roma, Grécia e Assíria. Eu, que sou tradutor, fiquei fascinado com a Pedra de Roseta, que deu a luz que faltava para a decifração dos hieróglifos egípcios. O pior é que, se você quer parar diante de cada peça e ler as informações, logo fica claro que você precisaria pelo menos de uns dois dias inteiros lá dentro. Como nosso tempo era bem reduzido, optamos por dar uma passeada pela maior parte das salas e parar naquelas que realmente chamassem a nossa atenção (o que é uma besteira no que diz respeito a mim, porque até elmo de guerreiros da Grécia antiga chamam a minha atenção).

 

Quando o museu fechou e fomos gentilmente expulsos, com toda a educação britânica, a chuva não havia parado, mas pelo menos estava fraquinha. O tempo dentro do museu ajudou a nos secar um pouco, então resolvemos encarar o fim do dia para passear pela Oxfort Street pro meu amigo comprar as lembrancinhas pros amigos. Eu só acompanhei, porque só tinha intenção de comprar lembrancinhas na Escócia, então só fiquei atrás dele pentelhando: toda vez que ele falava que tal coisa custava três libras, eu fazia a conversão e disparava "é, legal que você pode gastar quase 12 reais nesse ímã de geladeira, nem todo mundo tem esse poder aquisitivo" hehehe.

 

Terminadas as compras, já noite adentro, fomos caminhando até Piccadilly Circus. Foi só chegar lá e a chuva despencou com força de novo. Ainda assim, deu pra tirar umas fotos legais, protegidos pelas coberturas na entrada de algumas lojas. Ficamos esperando a chuva melhorar porque ainda queríamos descer até a Trafalgar Square, mas depois de 40 minutos por ali, entre fotos e corridas para nos proteger do dilúvio, ficou claro que a chuva não ia dar trégua mesmo. Então optamos por correr para o metrô e pegar a linha para a estação Victoria e, de lá, para o hotel. Foi o dia em que voltamos mais cedo para o hotel, por volta de 9 ou 9:30 da noite, e só por causa da chuva pesada mesmo, mas pelo menos fizemos praticamente tudo o que queríamos. E, como teríamos de levantar ainda mais cedo no dia seguinte para pegar o ônibus para Salisbury (e levando-se em conta o que rolou depois), o mais sensato mesmo foi encerrar o dia com um sanduíche frio e um suco da estação Victoria e um bom banho quente no hotel.

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Acompanhando ansiosíssima pelo restante *-*'

Londres é minha cidade dos sonhos, e morro de vontade de conhecer Edimburgo, então estou adorando seu relato =D

Parabéns pela riqueza de detalhes e por expressar suas opiniões sobre as coisas, alguns relatos aqui no fórum são tão mecânicos que nem dá vontade de acompanhar ;/

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@amandaplima

Obrigado pelos elogios! Já te adianto que gostei bastante de Edimburgo, já, já o relato chega nela!

 

4º DIA (24/09) : Acordamos às 5 da matina, junto com as galinhas de Londres. Gastei uns 15 minutos tentando entender onde era o chão e onde era a parede, mas, depois que o cérebro pegou no tranco, levantei, me arrumei e saí com o meu amigo. Era tão cedo que o recepcionista do EasyHotel achou que a gente tava fazendo check-out :D

 

O ônibus para Salisbury saía só às 7 da manhã, mas optamos por sair cedo para comprar comida para o café da manhã e também para acharmos logo a estação e não correr risco de chegarmos em cima da hora ou, pior, perder o ônibus. As ruas estavam quase desertas na hora em que deixamos o hotel (por volta das 5:30). Fomos até uma loja de conveniência, abastecemos as mochilas com sanduíches frios, sucos, biscoitos e refrigerantes, e saímos à caça da Victoria Coach Station. Não demoramos nada pra achar. Tem gente que confunde a Victoria Station com a Victoria Coach Station, o que é totalmente compreensível. Além de terem quase o mesmo nome, estão localizadas bem próximas uma da outra. Na Victoria Station, você pode pegar o metrô e trens. Na Victoria Coach Station, você pega ônibus. Pronto, resolvido.

 

Quando você entra na Victoria Coach Station, há um painel eletrônico com informações sobre os ônibus. Eu já havia notado que no bilhete que compramos na loja da National Express não havia indicação de plataforma ou portão, então sabia que era uma coisa que teria que procurar. Mas enfim, estava tudo ali no painel: bastou localizar o número do nosso ônibus (e confirmar pelo destino) pra gente saber de qual portão ele sairia. Depois disso, foi só seguir as placas até o portão. Não houve qualquer tipo de controle de segurança desde a entrada na estação até a sala de embarque. Toda vez em que a gente NÃO passava por algum tipo de vistoria eu ficava chocado. Mas é claro que, pro passageiro - e especialmente pro passageiro turista - assim é bem menos estressante.

 

O embarque começou às 6:45, e pontualmente às 7 o ônibus saía com destino a Southampton. É, aqui cabe um esclarecimento: a National Express não possuía um trecho direto Londres-Salisbury. O que eles fazem é te levar até Southampton (pra quem não sabe, a cidade de onde saiu o Titanic) e depois te embarcar em outro ônibus de lá até Salisbury. Na volta, a mesma coisa, apenas invertendo-se o sentido. Não é a maneira mais rápida de se chegar a Salisbury: há trens de Londres a Salisbury, e parece que também ônibus de lá direto a Amesbury (cidade mais próxima de Stonehenge), além de excursões mesmo até Stonehenge. No nosso caso, optamos pelo ônibus porque (1) era mais barato do que trens ou excursões; (2) ele saía cedo, enquanto outras opções saíam mais tarde, embora, devido à conexão em Southampton, o horário de chegada fosse praticamente o mesmo para qualquer das opções; (3) como a previsão de chuva para a manhã ainda continuava, preferimos gastar mais tempo viajando na estrada realizando rituais pagãos para que a dita cuja não caísse ou caísse logo e parasse do que correr para Stonehenge e ter que ver tudo debaixo de chuva. No final das contas, como ficará claro daqui a pouco, é tudo uma questão de preferência e sorte. Com tantas variáveis como as desse dia, é pouco provável que você consiga fazer tudo do jeitinho que gostaria.

 

Mas vamos lá. A viagem até Southampton durou pouco mais de duas horas e foi bem tranquila. Meu amigo sentou na janela, e o filho da mãe dormiu quase a viagem inteira. Eu lá, todo bancando o irmão mais velho pra ele, já que ele nunca havia pisado na Europa, deixando ele sentar na janela, entrar primeiro nos lugares e talz, e o infeliz dorme! Mas tá, o horário em que levantamos e saímos foi realmente cruel. Quando chegamos em Southampton, tivemos que aguardar na estação de ônibus de lá. Quer dizer, "estação" é um nome Shakesperiano para aquilo. Parece mais um quiosque de venda de celular. Tem um tio num balcão de informações, que basicamente fica anunciando os ônibus que chegam (embora o lugar seja tão pequeno que é impossível você não ver qualquer ônibus chegando e parando em uma das três - TRÊS! - vagas na frente da estação), uma lanchonete com uma atendente do leste europeu e um banheiro pago, além de cadeirinhas bem do jeito daquelas que você encontra quando vai nas lojas da Tim, Claro, Vivo, etc. Não estou reclamando de forma alguma, o lugar é tranquilo e limpinho, só fiquei surpreso por ser tão pequeno.

 

O ônibus para Salisbury saiu pouco depois das 9h50, aproximadamente. Atrasou um pouquinho pra chegar e, consequentemente, atrasou um pouco nossa chegada, que estava prevista para as 10h30. De novo, a viagem foi tranquilíssima, e chegamos pouco depois das 10h40. Os sacrifícios pagãos que realizamos não foram totalmente eficazes, já que a chuva continuava caindo, embora bem mais fraca. O céu estava bem carregado, e começamos a duvidar da previsão, que dizia que o tempo ia melhorar à tarde. Levamos um tempinho para nos decidir, e achamos por bem dar uma volta pela cidade pra dar um tempinho pra ver se a chuva parava de vez ou, pelo menos, diminuía a ponto de deixar a gente poder seguir viagem do jeito que queríamos. Assim, passeamos pelas ruas e acabamos indo ver a famosa catedral de Salisbury. A cidade é pequena e a torre da catedral se destaca igual à torre de Barad-dûr em Mordor: é só você olhar pra cima que você enxerga, e daí é só ir se aventurando pelas ruas até chegar. O lugar onde ela está situada é muito bonito, e a catedral em si é um espetáculo por fora. Tiramos várias fotos e demos uma passeada pelo jardim e pelo pátio interno, mas decidimos não visitar por dentro porque isso com certeza tomaria um bom tempo e poderia atrapalhar mais os planos para Stonehenge. Mas fica a dica para quem passar por lá: a catedral realmente vale uma visita mais demorada. Eles cobram uma "doação" pra entrar, mas, embora eu deteste esse tipo de jogo semântico e a exploração de igrejas e templos em geral em cima dos turistas, "doaria" aqui com prazer.

 

Quando vi um raio de sol cruzando o céu e batendo no chão, joguei os braços pro alto e arrastei meu amigo para fora da catedral. Já era quase meio dia, e nossos planos já estavam um tanto comprometidos, embora não ainda perdidos. Voltamos pelo caminho de antes e fomos até a Hayball Cyclesport para alugar bicicletas. Nossa intenção sempre havia sido fazer o trajeto de Salisbury a Stonehenge a pé ou de bicicleta. Para fazê-lo a pé, precisaríamos de bastante tempo, já que a distância da cidade até o monumento é de aproximadamente 17 Km. Então põe aí umas três horas de caminhada pra ir e mais umas três pra voltar - isso se o tempo e o percurso colaborassem. Então, o meio mais rápido e que permitia curtir um pouco as paisagens do interior da Inglaterra era a bicicleta. Então alugamos duas na Hayball. O cara que atendeu a gente foi um tanto frio e pareceu não depositar lá muita confiança na gente a princípio. Quando falei que a gente pretendia devolver as bicicletas ainda naquele dia, a situação piorou e ele fez questão de me dizer que já era meio-dia e que eles fechavam às 5. Bom, não tinha o que fazer, né? Ou era isso ou ficar perambulando por Salisbury a tarde inteira, até o nosso ônibus sair. Fechamos as duas bicicletas (15 libras cada por 24 horas, mais um depósito de 50 libras, que é devolvido quando você entrega as bicicletas), um outro funcionário, bem mais simpático, ajustou os bancos e testou os freios pra gente, e lá fomos nós.

 

Andar de bicicleta pelo Reino Unido é bem diferente de andar no Brasil. Lá, as bicicletas são encaradas MESMO como veículos. Devem seguir o mesmo sentido das vias que os carros seguem, possuem, em geral, um espaço na frente do semáforo onde elas devem aguardar, e ninguém vai passando com a bicicleta entre os carros. Então, é um ponto para prestar atenção em qualquer lugar, mas principalmente se você tiver a intenção de pedalar em Londres, onde o trânsito é maior. Já ouvi dizer que podem rolar muitas se você pedalar à brasileira, ou seja, indo na contra-mão, subindo em calçada, atravessando a rua em qualquer lugar e costurando os carros. Por isso, pesquise bem se a intenção for pedalar.

 

Levamos uma meia hora para sair de Salisbury. Apesar de eu ter salvo uns mapas do Google no celular do meu amigo, o lance de ter de seguir o sentido da via atrapalhou um pouco na hora de a gente se localizar. Tivemos de parar duas vezes e perguntar pras pessoas por onde saíamos da cidade, e ainda gastamos um tempo conversando com um senhor, que insistia que o caminho mais rápido era subindo a A 345 até Amesbury e de lá até Stonehenge, e eu falando que tudo bem, mas que a gente queria ir por dentro, meu senhor, pra ver os riachos, pontes, vaquinhas e tudo mais. Quando ele finalmente viu que não ia mudar nossa ideia, admitiu que não tinha certeza de como poderíamos fazer, mas indicou uma ciclovia por dentro de um parque, que daria na estrada que queríamos. Ô dificuldade!

 

Enfim, perdemos um tempo precioso nisso, o que nos custaria uma visita tranquila a Stonehenge mais tarde. Mas finalmente seguimos pela Stratford Road, que é basicamente uma reta só. Eu havia visto o caminho pelo Google Street View, e a estrada era exatamente o que parecia: estreita, ladeada por árvores, arbustos, algumas casas aqui e ali e cenários muito bonitos. O tráfego era leve, mas não inexistente, e nessas horas você vê o respeito dos britânicos aos ciclistas: mesmo ali, no meio do nada, sem policiais ou câmeras, eles realmente tratam a bicicleta como outro veículo, dando preferência ao ciclista em ruas principais e esperando que você também dê a preferência quando você está numa rua secundária. Não digo que você pode ficar tranquilíssimo, até porque você tem de se lembrar constantemente que deve seguir as regras de trânsito (coisa que não fazemos no Brasil nem em carro, imagina em bicicleta), mas com certeza é muito mais tranquilo pedalar lá do que aqui.

 

Mas voltando ao caminho, vimos lugares muito bonitos, outros apenas curiosos. Em determinado momento, passamos por uma plaquinha de banheiro e resolvemos parar para usar. Andamos um pouco até nos darmos conta de que o "banheiro" era um aglomerado de árvores e arbustos, por entre os quais há uma trilha onde você pode se esconder e, digamos, se aliviar. Em outra ocasião, passamos por uma igrejinha com cara de ser antiga, daquelas com cemitério ao redor. Não nos contivemos e entramos no espaço (o portão estava aberto). Vimos túmulos e criptas datando de 1800 e 1700. Pode parecer bizarro, mas, naquela região, com aquele clima interiorano, e com o tempo já bem mais aberto (a chuva havia parado), foi muito legal entrar ali e ver um pedacinho da história daquele lugar. Há inscrições muito bonitas em alguns túmulos, e outros são bonitos por si mesmo.

 

O caminho foi cheio dessas pequenas paradas para se contemplar peculiaridades. Passamos por uma hospedaria bastante antiga, na qual um dos reis da Inglaterra se hospedou em fins da Idade Média (era algum dos George, eu acredito, mas só vendo a foto pra ter certeza), e eles exibem a plaquinha lá com orgulho. O problema dessas paradas é que elas iam engolindo o relativamente pouco tempo de que dispúnhamos para ir a Stonehenge, visitar o local e voltar. Ainda assim, quem é que conseguiria simplesmente passar direto por tudo aquilo sem parar e admirar um pouco?

 

Apesar disso, em determinado momento eu cheguei pro meu amigo e falei: "cara, é melhor a gente ir agora sem parar porque eu tô começando a ficar preocupado com a hora". Ele topou, mas meu lampejo de bom senso não podia ter vindo em pior hora: dali pra frente, encontramos várias subidas e descidas no trajeto. Não que a estrada fosse totalmente plana antes, mas os aclives e declives eram bem menos acentuados, e as paradas pelo caminho não nos deixavam sentir fadiga. Aquele trecho final foi beeeeeem diferente: embora não fosse aquela coisa de subir morro e descer morro, as subidas exigiam mais da gente. Eu não sou exatamente um atleta, mas caminho todo dia até o trabalho e de volta pra casa, além de me exercitar com meu Kinect (academia de pobre) cinco vezes por semana, então eu acho que posso ser classificado em algum lugar entre uma batata e alguém que consegue subir alguns lances de escada sem suar. Meu amigo, por outro lado, só faz levantamento de garfo, e isso foi um problema no percurso de bicicleta. Levamos muito mais tempo do que seria necessário nessa última parte do percurso. Não que eu teria conseguido fazer tudo num fôlego só, mas com certeza teria parado bem menos.

 

Enfim, o alarme do fator "tempo" começou a soar nos meus ouvidos, e eu tive que encontrar o equilíbrio entre incitar meu amigo a continuar e fazer ele parar e tomar ar pra não cair duro no meio da estrada. Foi complicado, e não sei se consegui. Em determinados momentos, eu via que ele se irritava comigo, mas não havia outra coisa a fazer: ou a gente continuava pra tentar ver Stonehenge nem que fosse de longe, ou desistíamos de tudo e voltávamos para Salisbury logo. Acho que ele entendeu isso, e fez um esforço final, pelo qual sempre serei grato. Depois de pedalar pela Stratford Road, cruzar o Woodford Valley, subir e descer por Ash Copse, finalmente viramos à esquerda depois de West Amesbury. Quando terminamos a subida, pudemos avistar lá de cima, ainda de longe, as pedras de Stonehenge à distância, no meio de uma planície verde. A visão e a sensação foram indescritíveis. Pena não podermos nos deter ali em cima por mais tempo, mas aproveitamos a descida beirando a auto-estrada para gravar aquela visão na memória.

 

Pensei que já havíamos terminado a peregrinação, mas essa descida invariavelmente levou a outra subida, e nessa parte meu amigo pediu água. Estávamos do lado de Stonehenge, só que do lado de fora, separados das pedras pela cerca. A ideia de fazer o tour com áudio-guia (que dura aproximadamente 40 minutos) já havia ido pro saco há um bom tempo na minha cabeça. E ali eu realmente considerei se valia a pena pagar para entrar, tirar uma foto correndo e voltar na mesma hora. Enquanto meu amigo recuperava o fôlego, conversamos sobre isso. Ele queria ir, acho que mais porque ele sabia que ver Stonehenge de perto era um dos pontos altos da viagem pra mim, mas eu deixei claro que, apesar de querer curtir o lugar de pertinho, já estava satisfeito só com a jornada até ali. Fora isso, para entrarmos no sítio, teríamos de desistir da ideia de devolver as bicicletas no mesmo dia. O que provavelmente faríamos seria visitar Stonehenge relativamente tranquilos, daí voltar para Salisbury a tempo de ele pegar o ônibus para Londres (para não perdermos as duas passagens), enquanto eu me hospedaria em algum lugar em Salisbury (ou até na taverna onde ficou o rei. Rá!) e devolveria as bicicletas no dia seguinte, pegando o próximo ônibus que pudesse. Ele não concordou, não achou justo eu ter de arcar com tudo, e acabamos concordando em dar um tempinho ali, contemplando o monumento de fora mesmo, tirando as fotos do jeito que dava, e voltar para Salisbury. Não digo que fiz isso feliz da vida, mas eu realmente já estava extremamente satisfeito de poder estar ali, e se era o que dava pra fazer, o jeito era aceitar.

 

Terminada a contemplação, tive de dizer pro meu amigo que a gente teria de se esforçar o máximo possível no início da jornada de volta, que era justamente a parte das subidas e descidas, pra depois tentar ir com mais tranquilidade pelo resto do caminho. Também falei que, exceto por paradas rápidas descansar e para ir ao banheiro, a gente não poderia parar de jeito nenhum. Tínhamos menos de duas horas pra voltar, tempo mais que suficiente para quando você está descansado, bem preparado e sabe para onde está indo - o que não era o caso de jeito nenhum. Ele concordou com tudo e lá fomos nós.

 

A urgência da situação fez a jornada de volta parecer até mais longa que a da ida, embora sem dúvida alguma tenhamos gasto bem menos tempo. Meu amigo colaborou o tempo todo, parando realmente quando não tinha mais ar, mas sem se deter para fotos ou para jogar conversa fora. Eu, de minha parte, ficava apenas tentando encontrar o equilíbrio entre o "vambora!" e o "calma, respira fundo e não força", e de novo não sei se consegui. Mas pelo menos ele não me xingou hehehe.

 

Faltando 10 minutos para as 5 da tarde, horário em que a Hayball Cyclesport fechava, ainda conseguimos nos perder na entrada da cidade. Com a ajuda de uma senhora extremamente simpática, descobri que havia uma passagem subterrânea que podíamos usar para cruzar uma rotatória enorme, que era o obstáculo daquele momento. Depois de fazê-lo, metemos os pés nos pedais e disparamos. Lembram daquela história de seguir o sentido das vias, parar nos semáforos e não subir na calçada? Pois é, mandei tudo pro inferno (embora sem orgulho algum) e fui entrando nas ruas sem me importar com o jeito que os motoristas e pedestres me olhavam. Resultado: chegamos à Hayball às 4h57, quando eles já começavam a colocar para dentro da loja as bicicletas que ficam expostas do lado de fora. Ainda levou mais uns 10 minutos para fecharem de vez, mas com horário britânico não se brinca, né? O cara que tinha nos recebido da primeira vez foi bem mais simpático ao ver que os dois "moleques" brasileiros de boné realmente devolveram as bicicletas intactas e no mesmo dia, como haviam dito. Fizeram a vistoria nas ditas cujas, devolveram nosso depósito de 50 libras e ainda aproveitamos para pedir uma dica de lugar para matar a sede e encher o bucho. Recomendaram o Coach and Horses, um pub/restaurante bem em frente ao Hayball, que eu agora também recomendo. Chegamos lá e falei para o bartender, "cara, a gente tá morrendo de fome. Recomendaram vocês pra gente e eu gostaria do maior prato que vocês têm aí". O cara deu risada e foi só cordialidade com a gente o tempo todo. Eu detesto cerveja, mas fiz questão de tomar uma porque o lugar realmente tinha todo um clima de hospedaria medieval e eu estava me sentindo o camponês depois de um dia de trabalho. Enchemos o bucho e demos risada do sufoco que foi o imaginado singelo passeio de bicicleta no campo, mas estávamos satisfeitos com o resultado, ainda que não tivesse saído exatamente como planejamos.

 

Nosso ônibus saiu de Salisbury às 18h25. Voltamos a Southampton e tivemos de esperar em torno de uma hora até o ônibus para Londres chegar. E detalhe: o quiosque/estação de ônibus estava fechado, de forma que quem viaja depois das 6 da tarde tem de esperar do lado de fora da estação, independente do clima. Ainda bem que levamos agasalhos e luvas, pois naquela região venta demaaaaaaaais. Aliás, em Salisbury e Stonehenge venta mais ainda, mas, como estávamos com a adrenalina a mil e o corpo quente pelo esforço físico, o vento era mais uma bênção que uma maldição. Mas ali, parados à noite do lado de fora da estação em Southampton, deu pra sentir o frio legal. O ônibus chegou e partiu pontualmente às 20h00. Meu amigo capotou de novo (mas dessa vez deixei ele no corredor \o/ ) e eu fui acompanhando a estrada, embora tenha pescado inúmeras vezes no trajeto.

 

Chegamos quase às 22h00 em Londres. Vesgos de sono, ainda erramos o caminho de saída, mas logo nos situamos e voltamos para o hotel. Não houve tempo nem disposição de fazer mais nada, tão cansados estávamos. Foi só tomar um banho quente e capotar na cama.

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  • 4 semanas depois...
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Desculpem a demora, fim de ano é complicado no trabalho, mas hoje o sistema caiu ( \o/ ), então vamos ao que interessa:

 

5º DIA (25/09) : Este era o nosso último dia cheio em Londres. Acordamos cedinho, fizemos o check-out no hotel (já mencionei o tanto que o check-out do EasyHotel é simples? Você só entrega a chave e tchau) e, com as mochilas nas costas, lá fomos nós pras ruas. Como havíamos deixado de ver algumas coisa em outros dias devido ao mal tempo ou a desvios que fomos fazendo pelos caminhos, saímos bem cedo para tentar compensar pelo menos uma ou duas coisas que gostaríamos de ver. Depois de um café da manhã num café bem simpático (mas bastante demorado... pedi duas torradas e um café e esperei uns 20 minutos), seguimos para a Abadia de Westminster, mas não sem antes dar uma paradinha em frente ao prédio da Scotland Yard e tirar uma foto no letreiro. Pra quem curte Sherlock Holmes ou gostava do jogo de mesmo nome na infância ou aborrescência, é obrigatória a foto.

 

De lá para a abadia. Ela não é exatamente bonita por fora, embora isso seja bastante subjetivo. Em se tratando de construções religiosas, há outras mais bonitas na própria Londres (como a catedral de São Paulo) e pela Europa. Aliás, a Catedral da Sé mesmo, em São Paulo, e a de Brasília eu acho mais bonitas, por fora, que a abadia de Westminster. Já por dentro, a coisa muda e MUITO de figura. O lugar é simplesmente lindo! Há tantos detalhes nas paredes, no teto, nas esculturas e monumentos que você pode se perder na visita. Aliás, a dica aqui é o áudio-guia, que vem recheado de informações históricas e te ajuda a fazer um percurso bastante completo. Você vai passar por túmulos e homenagens a pessoas famosas, inclusive o Darwin, pra minha surpresa, além de Isaac Newton, Shakespeare e Charles Dickens, dentre vários outros. Alguns estão, de fato, enterrados lá; outros possuem uma placa ou monumento comemorativo. Há um momumento muito, mas muito bonito mesmo, a Lady Elizabeth Nightingale, na qual a morte surge para buscá-la, enquanto seu marido tenta protegê-la. É bom saber um pouquinho da história dos principais monumentos antes de entrar, mas o áudio-guia ajuda. Você vai passar também pelos túmulos de monarcas famosos, inclusive o de Mary, a rainha dos escoceses, o de Eduardo, o Confessor, e o de Elizabeth I. De novo, pra quem gosta de história, é um prato cheio.

 

E o dia foi um dia de história. Saindo da abadia, pegamos o metrô para Tower Hill e fomos correndo para a Torre de Londres. Eu também já havia ido lá antes, mas acho que é o típico lugar ao qual eu sempre vou voltar quando passar por Londres. Quer uma fortaleza medieval? Vai lá. Do portão de entrada, passando pelas torres, até o pátio interno, lá há todos os elementos pra você brincar de Senhor dos Anéis ou de Robin Hood. Aqui também há um áudio-guia (pago), e ele é muito útil - embora existam guias de viagem que possuam mais ou menos as mesmas informações. Como sempre, vai depender do seu interesse geral por esse tipo de história e arquitetura, e também pelo que você, como turista, está a fim de ver. Tem gente que vai lá só porque é um ponto turístico famoso, e sai de lá sem saber nada sobre o lugal, embora cheio de fotos. Enfim, independente disso, acho legal pegar pelo menos um dos passeios com os guardiães da Torre. São gratuitos e saem em determinadas horas do dia (há um relógio indicando o horário do próximo passeio pertinho da entrada). É legal você poder acompanhar como a torre foi construída, o projeto original e o que ela se tornou. O lugar foi palácio, prisão e corte de julgamento, dentre outras coisas. Então, história é o que não falta. Cada uma das torres que formam a Torre tem suas próprias histórias e teve um papel diferente com o passar dos séculos. Há ambientes decorados de acordo com os originais, mostras de peças e utensílios utilizados em várias épocas, além de armas e armaduras (na torre principal, a construção que fica no meio), e as joias da coroa (eu acho sem graça, mas a mulherada pira hehehe). Uma das histórias mais legais é a dos príncipes da "Torre Sangrenta". Eles sumiram sem deixar vestígio quando tinham 12 e 10 anos. Seriam os herdeiros legítimos do trono britânico, mas, com o sumiço, o tio deles, Ricardo III, foi coroado. Quase dois séculos depois, encontraram os esqueletos de duas crianças, dois meninos, numa parede sob uma escada na torre principal. Não se tem certeza absoluta sobre a identidade das crianças, mas é bem provável que sejam deles e que tenham sido assassinados. Shakespeare, inclusive, aponta o tio das crianças como mandante do crime, na pela Ricardo III.

 

Enfim, eu poderia ficar falando horas desse lugar, que pra mim é espetacular. A sensação é de estar de volta à Idade Média (exceto quando passa algum turista em surto maníaco, gritando pra alguém tirar uma foto). Eu passei três horas lá dentro e com certeza passaria mais, mas tínhamos outras coisas para ver. Ah, sim, não deixem também de ver o lugar onde Ana Bolena e outros ficaram presos, e o monumento erguido perto de onde acredita-se que ela (e outros também) foi decapitada.

 

Saímos da Torre de Londres e caminhamos até perto da Ponte da Torre para uma sessão rápida de fotos. Eu queria ir até lá perto, mas corríamos o risco de nos atrasar muito (deve-se ter em mente que tínhamos um trem para pegar em King's Cross, e não se deve brincar com a pontualidade britânica, principalmente quando se trata de trens). Então só tiramos umas fotos de longe mesmo e seguimos caminho. Quer dizer, paramos num quiosque para pegar um prato típico londrino - fish & chips, o bom e velho peixe com batata frita - e fomos andando e comendo, o que deve ser meio bizarro para os londrinos, já que o que recebemos de olhares espantados na rua não tá no gibi. Gastamos um tempinho na andança e comilança, mas chegamos ao Leadenhall Market, uma espécie de mercado municipal elegante, com pubs, açougues, lojas de especiarias e por aí vai. O lugar vale pela arquitetura vitoriana, que é muito bonita lá. Não tivemos tempo para experimentar qualquer dos pubs ou mesmo entrar nas lojas, mas o lugar vale uma visita, sem dúvida alguma.

 

Já de olho no relógio, disparamos (com os 6 Kg nas costas) em direção à Catedral de São Paulo. Desde o dia anterior, tinha ficado óbvio que ou faríamos o passeio da Abadia de Westminster, ou o da Catedral de São Paulo, já que tínhamos certeza que gastaríamos uma boa parte do nosso tempo na Torre de Londres - e não deu outra. Optamos pela abadia, como visto acima, então fizemos apenas um reconhecimento externo da catedral - que é muito bonita por fora - e da área próxima, inclusive da ponte do milênio, que está relativamente perto dali. Deu aquela vontade de entrar na catedral e ver um pouquinho, mas nossa passagem estava comprada para as 19h00, e já era perto das 18h00. Por isso, engolimos a vontade e fomos por metrô.

 

E ainda bem que fizemos isso! Turistas, de férias, desencanados da vida, esquecemos que, pra quem mora e trabalha na cidade, aquela era uma terça-feira normal! O que quer dizer que pegar metrô perto das 18 hs pode ser um suplício! Quando vimos o volume de gente na estação, me deu aquele frio na barriga de "meu santo, será que a gente chega a tempo?". Carregamos o Oyster Card, estudamos rapidamente o mapa - mas com atenção, pois errar o planejamento naquela hora poderia ser o fim - e nos juntamos à manada que descia para as plataformas. De novo, apesar de muito cheio, é impossível não notar o modo civilizado e respeitoso das pessoas de circular, bem diferente das cidades de, aham, outros países. Sim, tem sempre um ou outro que está ou acha que está mais atrasado que os demais, mas isso é a exceção. Todo mundo parece primar pelo respeito coletivo.

 

Conseguimos pegar o segundo trem que passou pela estação e lá fomos nós, ainda com uma baldeação pra fazer. Mas graças a Deus, tudo correu bem. Descemos em King's Cross faltando uns 20 minutos para o nosso trem sair, e ele ainda nem estava aparecendo nos painéis. Aliás, é bom ficar atento às placas, porque a estação é bem grande, e se você chegar muito em cima da hora e não prestar atenção para onde está indo, pode penar pra conseguir se achar. Aproveitamos o tempo para tirar foto na plaquinha da plataforma 9 3/4 do Harry Potter. Li em vários relatos que muita gente ficou decepcionada, porque a placa nem está na plataforma e talz, e que é só isso e um carrinho pela metade, como se estivesse atravessando a parede... mas, cidadão, você queria o quê? A turma toda reunida pra te dar um abraço? Um dragão norueguês, um gigante meio abobalhado, vassouras voando? O negócio é uma estação, não é um parque de diversões! Eu achei bem legal o pequeno espaço que presta uma homenagem à série de livros, e tirei uma foto hilária empurrando o carrinho pela parede.

 

Nosso trem finalmente apareceu no painel e fomos para a plataforma indicada. Achei que ia rolar uma conferência de bilhetes na entrada, ou que, pelo menos, teríamos que passá-los em algum leitor, mas nada: você chega na plataforma, o trem está lá, você entra nele e acabou. Quer dizer, pelo menos nessa hora acabou, porque depois alguém sempre passa pedindo seu bilhete. Mas é bem tranquilo, e de novo não pude deixar de ficar surpreso com as diferenças entre lá e cá. Ah, e o trem saiu pontualmente às 19hs - na verdade, quando ele começou a se movimentar, eram 18h59min48s. Já falei que com pontualidade britânica não se brinca?

 

A viagem até Edimburgo foi bem tranquila, mas demorou beeeeeem mais do que esperávamos. Ela estava prevista para durar entre 4h e 4h30, mas demorou pouco mais de 5h30 porque choveu bastante e, em determinados trechos, o trem teve de se deslocar com velocidade bastante reduzida. Mas não estávamos preocupados, já que nossa ideia era apenas fazer o check-in e sair para um reconhecimento externo, se o tempo deixasse. Tínhamos comprado lanches em Londres (aliás, é melhor fazer isso, porque o que vendem à bordo do trem é sempre muito caro), então só pararíamos para comer e beber se estivéssemos realmente a fim. Mas, com o atraso todo do trem, chegamos a Edimburgo depois meia-noite e meia, e ainda por cima estava chovendo, embora não canivetes, mas estava chovendo. A primeira impressão da cidade foi sensacional, mas acho que não pelo motivo que boa parte das pessoas acha as cidades sensacionais: o que eu curti é que a cidade (pelo menos na área da estação) é bem escura, bastante gótica, um visual meio de que filme de terror passado na Idade Média, e isso me deixou muito pilhado! Fomos andando pela Princes Street, passamos pelo monumento a Sir Walter Scott (tudo às escuras, com postes aqui e ali, mas ainda assim tudo com aspecto meio sombrio), a colina do castelo se erguendo contra o céu nublado, e o castelo em si, esse sim, iluminado. Fenomenal!

 

Achamos rapidinho o EasyHotel de Edimburgo, que fica praticamente colado na estação, coisa de 10 minutos de caminhada. Fizemos o check-in, fomos para o quarto, tomamos banho e capotamos. Ah, uma observação: o EasyHotel de Edimburgo foi o melhor em que fiquei até o momento, tanto pela localização como pelas instalações e o pessoal da recepção. Recomendadíssimo para quem não faz questão de ficar muito tempo dentro do quarto do hotel

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