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Europa 24 dias - França / Rep.Tcheca(Praga/Cesky Krumlov) / Alemanha - COM FOTOS!!!


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Cinco anos foi mais ou menos o tempo que esperamos para conseguir realizar essa viagem. A Jô tinha sérios problemas para conseguir tirar 30 dias de férias e esse era um ponto inegociável nos nossos planos: a Europa merecia, e exigia, de 20 a 30 dias. Nesse entremeio fizemos muitas viagens, de no máximo dez dias, pelo Brasil e pela América do Sul. Mas a viagem pra Europa nunca saiu da nossa cabeça, pelo contrário, todo esse tempo apenas tornou-a ainda mais desejada. Então, eis que a oportunidade se fez carne; sem perder tempo, iniciamos os preparativos.

Decidimos viajar entre setembro e outubro; além de ser baixa temporada (o que, em algumas cidades, não fez tanta diferença, é turismo o ano todo), também é meia estação, nem quente, nem frio. De qualquer modo, mesmo sendo baixa temporada, vale a regra de que quanto antes as reservas forem feitas, menor será o preço.

Bom, então tínhamos três meses de preparação antes da data da viagem. Optamos por conhecer três regiões, de três países; a tentação de “entupir” nossa viagem visitando mais países foi posta de lado à medida que percebíamos que corríamos o risco de passar mais tempo se “transportando” pra lá e pra cá do que curtindo os lugares, que também não seriam devidamente “curtidos” já que sempre teríamos horários e prazos curtos a cumprir. E isso não é programa pra quem está de férias! Com dor no coração, tiramos Grã-Bretanha e Itália da viagem.

Olha, vou contar uma coisa, os três meses demoraram pra passar, viu! O lado bom é que a viagem fica bem planejada, dá tempo de estudar todas as opções e fazer as melhores escolhas. Nesse meio tempo não joguei futebol e fiquei até meio hipocondríaco, tomando alguns remédios preventivamente, pois não queria de maneira nenhuma pôr a viagem em risco com alguma perna quebrada, infecção, inflamação, ou qualquer outra coisa que o valha.

Sobre o itinerário, chegaríamos à Europa pela França, descendo em Toulouse. Dali, chegaríamos a Lavaur, onde ficaríamos hospedados na casa dos pais do Nicolas, um amigo francês já completamente abrasileirado depois de 13 anos de vida em terras tupiniquins. Abro aqui um parêntese para contar uma história que está diretamente ligada a essa viagem.

Eu sempre fui um cara que nunca fez muita questão de viajar, no máximo visitar parentes nos estados mais próximos. Aí então surge o Nicolas. Em nossas conversas etílicas, ele começou a me contar de todas as viagens que já havia feito, principalmente pela América do Sul. Isso, de alguma maneira, me despertou, e, aos poucos, fui percebendo que aquela era uma lacuna na minha vida que precisava ser preenchida. Então, comecei a viajar.

A escolha pela França começou pela vontade de conhecer Carcassone. Somou-se a isso a especial condição de podermos conhecer as cidades da região com dois “guias” de luxo: Marie e Nicolas (que estava lá visitando os pais), irmãos, nascidos e criados em Lavaur, na região dos Médios-Pirineus. Acabou sendo muito melhor do que a gente imaginava.

Chegamos a Toulouse às 17h00, mas já havíamos feito a imigração em Amsterdã. Lá, o oficial começou pedindo pra ver a passagem de volta e depois perguntou se tínhamos onde ficar (no que eu apresentei TODAS as reservas). Sem qualquer intenção, perguntou se éramos casados, ao que eu prontamente tirei da minha pastinha uma cópia da nossa certidão de casamento. Ele, estranhando, perguntou o porquê de eu ter levado tantos documentos. Eu respondi: “Eu espero ter comigo qualquer tipo de documento que você me peça”. Dando um sorriso e vendo que não conseguiria me “pegar” de maneira nenhuma, ele carimbou os passaportes e desejou-nos uma boa estadia.

No aeroporto de Toulouse estavam o Nicolas e a Marie nos esperando. Fomos direto para a casa dos pais deles, um lindo sítio na zona rural de Lavaur, uma pequena cidade com uma história quase milenar, sendo um dos berços do povo cátaro. Esse povo antigo foi dizimado cruelmente pela Igreja no século 13, na única cruzada da história direcionada contra um povo também cristão, quando optaram por viver um cristianismo primitivo em detrimento da opulência e sede de poder da Igreja.

Chegando no sítio dos Brien, fomos recebidos como reis: Nicolas informou que a sua mãe, Danielle, tinha feito um menu especial com pratos típicos do sul da França para os dias que passaríamos lá. E assim foi. Pratos dos mais saborosos (tanto para o paladar quanto para os olhos) desfilavam diante de nós, nos deixando em uma espécie de êxtase gastronômico. Entradas, saladas, sobremesas, queijos, carnes, frutos do mar, patês, cogumelos, tudo isso regado a muito vinho e pastis (uma forte bebida típica – 45ºGL - à base de anis. Por ser muito concentrada, você dilui com água gelada, quando a bebida, antes transparente, adquire um aspecto leitoso, como em uma experiência de laboratório de química). Começávamos a jantar às 8 e terminávamos quase 10 da noite. Sabedora do meu desejo de provar novas iguarias, Dona Danielle nos preparou um prato que acabou sendo o ponto alto de todas as surpresas gastronômicas que a viagem nos reservou: os famigerados escargots. “Colhidos” no próprio sítio de nossa anfitriã, esses moluscos gastrópodes terrestres, ou lesmas, ou caracóis, exigem um dia inteiro de preparo. Servidos na própria concha, temperados em uma mistura de manteiga, alho e cebolinha, eles são deliciosos! Nos fartamos e recomendamos a quem quer que queira um dia provar!

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Bom, acordamos no dia seguinte e seguimos para o nosso principal objetivo: Carcassone. Antes, paramos para comer outro prato típico francês, o Cassoulet, em Castelnaudary, que orgulhosamente exibe placas pelas ruas outorgando-lhe o título de Capital Nacional do Cassoulet, que é um cozido de feijão branco com carnes e lingüiças diversas. Terminado o delicioso rango, seguimos para Carcassone

 

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O tempo não estava dos melhores, mas isso contribuía para criar a atmosfera lúgubre e sinistra que se espera de uma cidade medieval. Na verdade, Carcassone é a cidade medieval mais bem preservada de toda a Europa. Toda ela é cercada por duas gigantescas muralhas, separadas por um fosso e salpicadas em toda a extensão da cidadela por torres pontiagudas. Uma terceira muralha cerca o castelo, já na parte interna da cidadela. Passando pelo portão principal você entra pelas ruas labirínticas e já se deslumbra com a paisagem urbana medieval da cidadela (é claro que é necessário abstrair o impacto visual negativo causado pela quantidade de lojinhas e comércios em geral, mas não é nada que estrague a experiência). Carcassone é um local bastante turístico, por isso as ruas centrais ficam “apinhocadas” de gente; mas também é um lugar enorme e as áreas próximas às muralhas externas são um convite a caminhadas praticamente solitárias, desvendando os pormenores da arquitetura medieval do lugar.

 

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As casas e prédios, todos de pedra, tem os mais variados formatos e se encaixam uns nos outros nas mais diferentes formas. O passeio pelo interior do castelo é pago, mas vale à pena porque se conhece a estrutura interna de um lugar construído para um único propósito: defesa. Na bilheteria, o atendente, vendo minha camisa do Brasil, agradeceu em português e sacudiu o punho, quase gritando: “Neymar . . . the best!!”.

Bom, voltando ao que interessa, dentro do castelo há também objetos medievais expostos, estátuas, lápides de túmulos antigos e afrescos seculares (sem restauração, do jeito que eu gosto). É possível ainda caminhar sobre as muralhas internas, entrando nas torres e tirando fotos incríveis da cidadela ao redor

 

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Por último, entramos na Basílica de Saint-Nazaire e Saint-Celse, construída no século 12. Essa igreja, assim como a maioria das igrejas das cidades medievais, fica “espremida” pelas demais construções ao redor, quase não havendo espaço entre suas paredes e as dos prédios que a circundam, compondo um visual arquitetônico fantástico! A única coisa que não conseguimos ver em Carcassone foi a cidadela iluminada à noite, que dizem ser deslumbrante. E por falar em Carcassone à noite, o Nicolas me contou que, quando era adolescente, ele passou uns dias na casa de um amigo que morava na Carcassone moderna. Sendo “local”, o cara conhecia uma maneira de entrar escondido no Castelo, à noite. Ele classificou a experiência como “inesquecivelmente assustadora”.

Fim do dia e voltamos a Lavaur, onde fomos recebidos pelo aroma inebriante do banquete que estava sendo preparado para aquela noite. E foi quando eu cometi minha primeira gafe em terras européias: na mesa, me servi do vinho antes do anfitrião, no caso o Sr. André, que apenas riu e, dando sequência à tradição, provou o vinho, aprovando-o e então o servindo aos seus convivas.

Que fique registrado que, em todos os passeios que fizemos, a Marie sempre foi a nossa motorista de todas as horas. Praticamente se abstendo dos prazeres do álcool, o que seria impossível para o Nicolas, ela nos levou a todos os lugares em que pretendíamos ir nos Médios-Pirineus. Sendo assim, no dia seguinte partimos cedinho na direção norte.

Cordes sur Ciel é praticamente uma aldeia medieval, construída no alto de uma colina, no século 13, como uma fortificação. A primeira coisa que nos chamou a atenção foi a quase ausência de turistas ( o que foi muito bom!!). Cordes nem de longe tem a fama de Carcassone, e praticamente só encontramos poucos turistas franceses pela cidade. E as ruas vazias ajudam a imaginação a rolar mais solta, a atmosfera secular do lugar se faz presente e você prazerosamente se entrega a ela. Dá pra imaginar cavalos subindo com seus cavaleiros pelos estreitos e íngremes caminhos de pedras, passando sob os muitos portais seculares em forma de arco que conduzem o visitante pelas ruelas da aldeia, subindo até o topo da colina. Tudo é muito bonito, bucólico, e ao mesmo tempo lúgubre, soturno, as lindas cores sombrias das coisas medievais. Vi algumas casinhas que só podiam ser de hobbits. Vi outras que pareciam assombradas. A dica é a mesma de Carcassone: perca-se pelo lugar, maior diversão não há.

 

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Depois de almoçarmos em Cordes (10 euros a refeição, comida gostosa, prato com visual de alta gastronomia, o que, surpreendentemente, não significou pouca comida.), seguimos em direção a Najac, outra cidade fora dos circuitos tradicionais de turismo. Lá, a grande atração são as ruínas de um castelo no alto da cidade, a Fortaleza Real de Najac, que começou a ser construída no século 10. Chegando lá, começamos a caminhada para subir até o castelo, atravessando toda a vila medieval, com suas construções de pedra escurecidas pelos séculos.

 

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Depois de pagarmos para entrar no castelo (4 euros), subimos por uma rampa que nos levou até uma pequena porta, única entrada para o interior da fortaleza. Por dentro, o castelo não tem teto ou divisões; sobraram as paredes enormes, duas torres, um calabouço (onde foram aprisionados cavaleiros templários, quando da decadência da Ordem religiosa) e restos de grandes escadarias ainda fixados às paredes. Sua destruição foi na verdade uma desconstrução, quando, em guerras futuras, Najac foi atacada e seus habitantes usaram as pedras do castelo para reconstruir partes da cidade. Em uma das torres você sobe por uma escada espiralada até o topo, onde se tem uma vista espetacular da cidade e das florestas ao redor. Quando você desce, na metade do caminho, totalmente escondida, existe uma portinhola, que leva você a uma espécie de corredor secreto, escondido dentro das paredes, que liga aquela torre à torre romana no lado oposto. Pô, andar por uma passagem secreta dentro de um castelo!! Realizei um sonho! Depois descemos até a vila e fomos à Igreja de São João, do século 13, quando os moradores de Najac foram obrigados a construí-la como uma punição por suas crenças cátaras.

 

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Bom, até esse momento as coisas estavam bastante fáceis para nós. Tínhamos “intérpretes” particulares, só passeávamos de carro, refeições dionisíacas todas as noites, e por aí vai. Mas no dia seguinte nós iríamos mais para o sul da França, só eu e a Jô, conhecer as cidades fundadas pelos romanos e suas construções bilenares (ops, essa palavra não existe, mas tá valendo, é o mesmo que milenar, só que o dobro). Próximo destino: Nîmes.

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Saímos bem cedinho de Lavaur, de novo a Marie nos levando, e pegamos o trem em Toulouse. Três horas depois chegávamos a Nîmes (sim, com esse acento circunflexo no i). Já tinha reservado o hotel e nessa etapa o googlemap foi uma mão na roda para encontrarmos um lugar com preço acessível e perto do centro histórico. Olhava o hotel no booking.com, copiava o endereço físico dele e colava no googlemap, depois digitava um endereço no centro histórico, ou de um monumento, e então via a distância entre os dois pontos e decidia se dava pra encarar (o preço e a distância!). Em Nîmes, o hotel era em frente à estação de trem e ônibus e a 5 minutos de caminhada do Coliseu, ou seja, como dizemos no Vale do Paraíba, “armô o peão”. Deixamos as coisas lá e saímos pra conhecer a cidade.

Nîmes foi fundada pelos romanos no século I, quando eles decidiram estabelecer uma base administrativa na região da Gália. Sendo assim, a cidade precisava ter uma aparência romana, suscitar a presença de Roma mesmo tão distante da capital do Império. Por isso, foram construídos na cidade, e pela região, muitos monumentos, arenas, templos, torres, aquedutos, fórum, etc.

Fomos primeiro à Arena de Nîmes (ou Coliseu, que é um nome mais conhecido). Menor apenas que o Coliseu de Roma, o de Nîmes é mais conservado e ainda hoje é utilizado para touradas.

 

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A entrada é paga e com direito a um audioguia em espanhol. Lá dentro, passeamos por todos os níveis e entramos em todos os acessos. É tudo muito imponente; pedras gigantescas, com o amarelo dos séculos corrompendo sua brancura original, são encaixadas formando corredores de 5 metros de altura, arcos gigantescos e escadarias que nos levam a qualquer recanto da Arena. Nos níveis inferiores as ruínas são predominantes, quase não houve restauração e pouca gente explora o lugar. Dá pra se chegar também até o topo das arquibancadas, andando por sua borda enquanto contempla a cidade de Nîmes lá embaixo. A frustração ficou por conta das arquibancadas de madeira e ferro montadas sobre as originais, de pedra, para o povo assistir às touradas e shows (o Metallica fez um na arena). Foi frustrante por serem elementos do século 21 contaminando um visual de dois mil anos atrás. Bom, o negócio foi abstrair.

 

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Seguimos para a Maison Carrée, ou Fórum Romano, bem no centro de Nîmes. Esse Fórum é um dos monumentos romanos mais bem preservados de toda a Europa; algumas pequenas lacerações em suas colunas são a única degradação visível, dava até pra continuar funcionando como Fórum. Antes de seguirmos em frente, uma merecida caneca de cerveja na praça ao redor do monumento.

 

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De lá continuamos na caminhada até chegar ao Jardim de La Fontaine, que foi o primeiro parque público de toda a Europa. Você entra e é tudo muito bonito e bem cuidado, muitas árvores, jardins, pontezinhas, pista de caminhada, fontes de água, ou seja, tudo o que existe em um típico parque público. Quer dizer, foi essa a impressão que eu tive até que, em meio ao gramado impecável do parque, surgem, como que do nada, as ruínas do Templo de Diana. Á primeira vista, dá até pra pensar que se trata de um cenário cinematográfico, metodicamente construído pra alguma superprodução envolvendo buscas por tesouros antigos e civilizações perdidas. Mas, não! Aquele templo está lá há 2000 anos! Apesar de estar em ruínas, ele ainda conserva suas paredes, colunas e alguns afrescos quase intactos. Achei injustiça ser um monumento tão pouco comentado e indicado

 

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Continuamos parque adentro e subimos uma colina. No alto dela, um dos monumentos que mais me impressionou em toda a viagem: a Torre Magna. Com 32 metros de altura, a Torre, do ano 15 a.C, tem a forma de um octógono e podia ser vista a grandes distâncias, como um aviso, assinalando a presença do Império Romano na região. Não se parece com nenhum dos típicos monumentos romanos (arenas, anfiteatros, templos, etc.); parece mais um monumento a deuses de alguma civilização extinta. Chocou o visual!!! Por dentro dela, foi construída uma escada metálica que leva até o topo, onde se tem a melhor vista de Nîmes.

 

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Antes de voltar para o hotel, praticamos nosso ritual quase que diário em terras européias: passamos em um supermercado e compramos vinho (R$10 a garrafa, bom demais.) e queijo, para levarmos na mochila no passeio do dia seguinte.

Acordamos e pegamos o primeiro ônibus para Avignon (beeeeem mais barato que o trem). Quarenta minutos depois e chegávamos à Cidade dos Papas. Resumo histórico: no século 14 houve uma cisão interna na igreja católica por motivos políticos, o que culminou na existência de dois papados simultâneos durante 80 anos, um em Roma e outro em Avignon. Daí vem a alcunha da cidade e sua maior atração: o Palácio dos Papas. Chegamos em Avignon com sol, mas logo depois começou a chover e esse vai-e-vem continuou por todo o dia (capas de chuva sempre à mão). O centro histórico de Avignon é todo cercado por muralhas, e quanto mais se aproxima do palácio mais as construções e ruas se aproximam do medieval.

O Palácio dos Papas fica em frente a uma grande praça e o visual é de tirar o fôlego. Para entrar precisa pagar (13 EUR), mas é algo absolutamente imperdível, além do que dá direito a um audioguia em português!!! Foram três horas caminhando pelo palácio, curtindo a incrível experiência de ouvir sua história e a história de seus papas no lugar onde tudo aconteceu: salões onde eram recebidos os reis, cozinhas enormes, os cômodos papais, afrescos deslumbrantes de 700 anos atrás, salão de banquetes, capelas, pátios. Foi uma época de muita fartura dentro dos portões do palácio, enquanto a população do lado de fora passava fome.

 

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Quando saímos começou a chover, e nós buscamos refúgio em um prédio também medieval próximo ao palácio, onde os papas às vezes jantavam ou dormiam. Entramos e sentamos no pátio interno do prédio, desanimados com a chuva. Então, como em uma revelação, me lembrei daquilo que jamais poderia ser esquecido: tínhamos uma garrafa de vinho na mochila!! Uma luz iluminou nossas almas cansadas e, sozinhos no pátio, matamos a garrafa, e aí o clima mudou completamente (não lá fora, mas dentro das nossas cabeças!). Foi então que chegou um francês e começou a fazer o mesmo, mas no estilo francês: primeiro tirou uma toalhinha da mochila e colocou sobre o degrau da porta aonde ele iria se sentar, pra não sujar o bumbum; depois tirou outra toalhinha e colocou no colo, pra não sujar a roupitcha. Eu e a Jô acompanhamos todo o ritual com uma curiosidade divertida, já imaginando o quanto íamos zoar com o Nicolas quando voltássemos a Lavaur. Então, a chuva começou a parar e eu aproveitei pra ir ao banheiro antes de ir embora. Dor de barriga das brabas!! Fiquei quase uns 10 minutos no trono, levemente alcoolizado e cantando marchinhas de São Luiz do Paraitinga para passar o tempo. Até que, da porta do banheiro, chega a voz da minha mulher, me avisando que eu tinha entrado no banheiro feminino e que uma mulher estava esperando pra entrar. Respondi que a coisa estava feia e precisava de mais uns minutos, ao que ela me respondeu que o cheiro estava horrível. Não sabíamos, mas a mulher que esperava era brasileira e entendeu toda a nossa conversa. Foi muito engraçado, e levemente constrangedor, quando ela se revelou.

 

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Voltamos a Nîmes e no dia seguinte partimos bem cedo para nossa última etapa na região: Árles. A cidade mistura o romano com o medieval e também foi importante durante a expansão do império. Vale à pena visitar: Termas de Constantino (ruínas de uma casa de banhos romana), Teatro Romano, Coliseu (menor que o de Nîmes mas tão impressionante quanto, com torres de defesa erguidas na época medieval, quando a população da cidade se refugiou em seu interior para se proteger dos inimigos) e um claustro do século 12 (Igreja de São Trófimo, cuja entrada é um portal impressionante, no estilo românico, com diversas esculturas representado o Juízo Final. O claustro é muito legal, mas devia ser enlouquecedora a experiência de viver em um lugar como aquele, no século 12, trancado pra fora do mundo e vigiado por estátuas religiosas com seus olhares eternamente inquisidores). Também existem alguns lugares que foram eternizados por Van Gogh em suas pinturas, quando ele viveu na cidade no século 19.

 

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Para voltarmos de Árles para Nîmes tivemos problemas com os horários de trem e ônibus, por ser domingo, e precisávamos chegar em Nîmes até as 18h00 para pegar o trem de volta a Toulouse. Mas isso nos acabou “desviando” para uma agradável surpresa. Paramos por uma hora em Tarascon, no meio do caminho, aguardando o próximo trem, que nos levaria a Nîmes. Resolvemos dar uma volta pela cidade, pra matar o tempo. Bem no meio da cidade, às margens do rio Ródano, acabamos nos deparando com o Castelo de Tarascon, umas das mais impressionantes fortalezas medievais da França. Bônus da viagem!

 

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Chegamos em Nîmes com tempo suficiente para sentar em um restaurante em frente à estação central e tomar uma cerveja Grimbergen de frutas vermelhas (pelamordedeus, não confundir com o nosso chopp com groselha, porque a cerveja é amarga, com o sabor das frutas de fundo, ou seja, bom para caramba!!!). Acabou que quase perdemos o maldito trem, porque na França eles mudam a plataforma de repente, nos últimos minutos, e se não fosse por minha mania de confirmar o que já foi confirmado, ficaríamos com cara de bunda esperando por um trem que já tinha partido.

Analisando os três dias que passamos naquela região, sem intérpretes, posso afirmar que os franceses foram extremamente solícitos quando precisamos de informações. A maioria, ao ser questionada, dizia saber muito pouco do inglês, mas nenhum recusou-se a tentar ajudar e realmente se esforçavam para isso. No fim, o pouco que sabiam sempre era o suficiente para a informação que precisávamos.

Já de volta a Lavaur, em nosso último dia na França, fomos a Albi, a principal cidade do povo cátaro, que também eram chamados de Albigenses. O cartão-postal de Albi é a gigantesca Catedral, construída no século 13, logo após o massacre do povo cátaro pela Igreja Católica, como uma forma de consolidar sua vitória e seu poder, mostrando à população a quem eles deveriam seguir e dever obediência a partir de então. É a maior catedral de tijolos do mundo. Bom, perseguições e crueldades à parte, o legado histórico está lá.

 

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Por dentro, a Catedral é de tirar o fôlego, o mais belo interior de todas as igrejas visitadas por nós na Europa. Toda pintada com arabescos seculares, seus desenhos preenchem completamente o teto, paredes e colunas.

 

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Ao lado da Catedral ainda há uma espécie de palácio eclesiástico, também gigantesco e de tijolos vermelhos, com um lindo jardim e um mirante com vista para o rio Tarn e a Ponte Velha (do ano 1035). Há ainda um passeio construído ao redor das muralhas, às margens do rio, perfeito para caminhadas idílicas em meio à paisagem natural/medieval.

 

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No meio da tarde retornamos a Lavaur, a cidade, cujo centro histórico ainda não havíamos conhecido. A Catedral de Lavaur começou a ser construída em 1098 e possui uma característica que a tornou mais interessante que todas as outras, ao menos pra mim: com praticamente nenhuma reforma nesses quase mil anos, ela é deslumbrante justamente porque aparenta a “idade” que tem. Em seu interior as pinturas estão desbotadas, há fissuras nas paredes, estátuas enegrecidas e pedras gastas pelo tempo. Sensacional!!! E o mais legal foi que, talvez por ser meio de semana, ficamos durante 30 minutos completamente sozinhos lá dentro, curtindo aquela atmosfera milenar, escura e silenciosa.

Bom, essa foi a parte francesa da viagem. No dia seguinte a Marie nos levaria a Toulouse para pegarmos o avião para o nosso próximo destino: Praga, na República Tcheca.

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Fala Hardaway,

 

Então, a idéia foi essa mesmo, sair dos grandes centros e conhecer os pequenos lugares, que têm história e beleza suficientes pra gente se maravilhar, além de ser mais vazios e mais baratos. Na verdade, nesses lugares dá pra você se envolver mais com a cultura do povo, parece que é mais genuíno.

 

Não esqueça de postar as fotos da Itália

 

Valeu

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  • 1 mês depois...
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Chegamos a Praga perto da meia-noite, depois de cinco horas no aeroporto de Frankfurt esperando a conexão. Já sabendo que iríamos chegar “podres” e “detonados” e que o transporte público nesse horário iria ser complicado, deixei reservado um transfer do aeroporto até o Miles Hotel, perto da Praça Venceslau ( ou Vaclavské Namésti, como eles dizem por lá). Um senhor nos aguardava no desembarque, segurando uma placa com o meu nome. A percepção de que havíamos entrado em um universo lingüístico radicalmente diferente de nossas raízes latinas veio quando, enquanto eu usava o VTM para sacar coroas thecas no saguão do aeroporto, nosso motorista, com gestos, perguntou à minha mulher quem era o Júnior, eu ou ela . . .

A expectativa sobre Praga era enorme. Era talvez o lugar que eu mais queria conhecer de toda a viagem. Já tinha o mapa do centro histórico na minha cabeça, conhecia pormenores da história da cidade e sabia as direções de todos os monumentos.

A escolha do hotel mostrou-se bastante acertada. O Hotel Miles fica a, no máximo, cinco minutos de caminhada da Praça Velha, no coração de Praga (pelo mapa parecia mais longe, mas é muito, muito perto!). Tem supermercado bem em frente, vários pubs ao redor, o movimento non-stop da Praça Venceslau e a deliciosa comida de rua tcheca nas barracas espalhadas pela praça. Ficamos em um quarto privado com banheiro compartilhado (em Praga, quarto com banheiro privado é muito caro!). Tudo é muito limpo, organizado, e o staff é bastante amigável e prestativo. Cheguei a trocar euro por coroa tcheca lá, e a taxa de câmbio foi a melhor que encontrei em Praga.

Acordamos um pouco mais tarde no dia seguinte. Descemos do hotel e vimos que realmente estávamos praticamente na Praça Venceslau. As ruas lotadas nos mostravam que Praga é turismo o dia inteiro, o ano inteiro, com especial menção aos asiáticos, que chegam à cidade aos borbotões e em grandes grupos: casamentos de asiáticos nós vimos uns quinze, com direito a carruagens e toda a pompa.

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Bom, antes de qualquer atividade, paramos em uma lanchonete para comer um kebabizinho suculento. Café da manhã no bucho e seguimos praticamente em linha reta até desembocarmos na Praça da Cidade Velha. A torre do relógio astronômico com a Igreja de Nossa Senhora Diante de Tyn ao fundo é a foto a ser tirada.

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O nome da igreja vem de um mercado a céu aberto que existia na época medieval, chamado Tyn. Outra curiosidade da igreja é que sua porta de entrada não é visível, sendo necessário entrar por um dos prédios renascentistas que a cercam para conseguir acessá-la. Mas toda a Praça Velha é espetacular. Os prédios que a circundam são todos muito bonitos, com detalhes arquitetônicos em profusão, paredes pintadas com arabescos rebuscados e coloridos e estátuas incrustadas nas fachadas. No centro há uma grande estátua de Jan Huss, reformista religioso do século XV, cem anos antes de Lutero, que foi queimado vivo. Há ainda muitos músicos pela praça, do jazz ao medieval, do jovem ao idoso, todos vestidos a caráter, batalhando pelo pão de cada dia.

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Já sabíamos que em quinze minutos sairia um free tour em espanhol, então ficamos esperando por ali. Foi quando deu hora cheia e começou o espetáculo do relógio astronômico. Uma multidão olha pra cima quando os sinos repicam; dois a dois, os bonecos dos 12 apóstolos desfilam pelas janelinhas sobre o relógio. Quando termina, do alto da torre, um arauto declara uma curta melodia em seu clarim; ao final, ele acena para as pessoas lá embaixo, que irrompem em aplausos e urras. De hora em hora o espetáculo se repete.

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Um argentino de ascendência tcheca seria o nosso guia no free tour, que começou na própria praça. O grupo, enorme, andava atrás e ao redor do guia, todos se esforçando para ouvi-lo em meio ao ruído de fundo da cacofonia turística (free tour não tem a dupla microfone/fone de ouvido, como eu vi em muitos tours particulares; é no gogó mesmo!). Pra nós piorava um pouco o fato de ser em espanhol e do guia precisar falar bem rápido. Como havia muitos outros grupos do tamanho do nosso, quando acontecia de se cruzarem ou dividirem o mesmo lugar a confusão era certa e a mistureba de sons desnorteante. Foi legal, aprendemos muita coisa, mas depois de uma hora decidimos abandonar o barco e seguir por conta própria.

Depois seguimos até a colina Vysehrad, um parque histórico enorme onde, reza a lenda, uma princesa antiga previu o surgimento de Praga. Vysehrad também foi uma antiga fortaleza da realeza, antes da construção do castelo de Praga. Decidimos ir a pé mesmo, o que rendeu uma boa caminhada. Mas valeu a pena; fomos margeando o rio Vltava e curtindo o visual inacreditável que é Praga ao longo de sua extensão, principalmente o Castelo de Praga na margem oposta

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No caminho, acabamos sendo os observadores de uma cena curiosa. Uma mulher atravessou a rua com o sinal de pedestres fechado para ela. Um homem freou em cima para não atropelá-la e buzinou. A mulher pegou o cigarro que fumava e jogou no pára-brisa do carro. O homem estacionou o carro em cima da calçada, saiu, e pegou a bituca. A mulher, como se não tivesse feito nada, continuou caminhando. O homem saiu correndo atrás dela até alcançá-la e jogou o cigarro em sua cara. Aí começou um bate-boca desgraçado no meio da rua. Continuamos na caminhada, certo que de havíamos acabado de presenciar uma amostra do famoso “pavio curto” dos tchecos. Mas foi a nossa única experiência nesse sentido. Ainda bem.

Demos uma parada no Claustro Emausy, do século 13, já perto de Vysehrad. O claustro conta com diversos afrescos em suas paredes, representando várias passagens bíblicas, algumas até pouco conhecidas. Os afrescos já estão um tanto quanto deteriorados (também, 700 anos!), mas você recebe na entrada um folheto explicativo com a planta baixa do claustro e números representando os afrescos que remetem a um índice explicativo de cada desenho.

Bom, do centro até Vysehrad foram quatro quilômetros de caminhada. Nesses quatro quilômetros não vimos UM prédio moderno, apenas uma sequência infindável de prédios antigos, de vários períodos da história (medieval, barroco, renascentista, rococó, etc), quando cada edifício era construído como uma obra de arte única, cheia de detalhes e caprichos arquitetônicos. Andar por Praga é isso: caminhar por quilômetros e não parar de se deslumbrar com a beleza arquitetônica da cidade.

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Entramos em Vysehrad pelo portão principal, direto no pavilhão funerário do parque, onde estão sepultados os vip’s históricos de Praga, personalidades de destaque na arte e cultura thecas. Passamos túmulo por túmulo, cada um mais impressionante e pomposo que o outro.

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Em frente, está a Igreja de São Pedro e São Paulo, com suas duas imensas torres e pedras enegrecidas pelo tempo. Como Vysehrad fica em uma colina, tem-se um visual único de Praga, com vários mirantes.

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Voltamos para o hotel, mas não sem antes passar pela Praça Venceslau e comer uma espécie de tender em uma das barracas da rua. São pedaços enormes que ficam defumando em um gira-grill; eles cortam um pedaço, pesam, e acrescentam um refogado que mistura batata, repolho e bacon. Bom pra caralho!! Isso sem falar nas barracas de salsichas, dos mais diversos tipos.

No dia seguinte acordamos bem cedo, única maneira de curtirmos a Ponte Carlos vazia (no dia anterior ficamos assustados com o tamanho da multidão). Um dos cartões-postais de Praga, a Ponte Carlos (ou Karlúv most, como eles dizem por lá) começou a ser construída em 1357, às 5h31 do dia 9 de julho (isso mesmo, um astrônomo da época definiu o momento como ideal para a construção da obra). Na entrada, uma torre gótica enorme, o Portão da Pólvora, lindamente ornamentada com brasões e estátuas, forma o arco por onde todos passam para acessar a ponte (carros são proibidos ali). Que legal poder curtir a ponte vazia, porque ela realmente é fascinante e a multidão acaba “contaminando” o visual. Mas às 7 da manhã, com quase ninguém, você olha ao longo dos seus 520 metros de extensão e enxerga toda a sua imponência; sobre suas muradas, 30 belas estátuas barrocas a cobrem de santos e mártires, enfeitando-a de uma maneira única.

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Se você olhar para trás, da direção de onde veio, terás uma das fotos mais tiradas da Ponte Carlos, com o Portão da Pólvora em primeiro plano e os pináculos das igrejas, prédios e monumentos da Cidade Velha ao fundo.

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Ou seja, toda a ponte é uma obra de arte. Depois de passar pelo menos uma hora atravessando-a (apreciar os pormenores das estátuas ou mesmo a cidade de Praga ao redor vai levar no mínimo esse tempo), você chega ao outro lado, onde outra torre gótica também impressionante dá as boas-vindas a Malá Strana, o bairro do Castelo de Praga. Perfeita a definição que eu li em um site: é a ponte que liga o lindo ao maravilhoso. A foto ali traz outra composição incrível: a torre, com a cúpula verde da igreja de São Nicolau ao fundo, e o castelo de Praga no alto da colina.

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É o tipo de lugar onde, mesmo depois de ver tudo, você não consegue ir embora, quer olhar mais uma vez, encontrar algum detalhe que tenha passado despercebido. Mas a verdade é muito simples: a gente vai embora quando acaba, ou diminui, a sensação de deslumbramento, e isso demora pra acontecer na Ponte Carlos.

Pra chegar até o Castelo de Praga é só subida; no meio do caminho, a Igreja de São Nicolau, com sua cúpula gigantesca e muuuuito ouro em seu interior, é parada obrigatória. A subida é desgastante, mas é também compensadora; enquanto você segue pelas vielas, o visual da cidade lá embaixo vai ficando cada vez mais espetacular. É quando você entende o porquê de Praga ser conhecida como a cidade das mil torres. Já chegando próximo à entrada para o Castelo, paramos um pouco pra curtir um grupo de músicos de rua mandando ver na música tradicional tcheca.

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O Castelo de Praga é considerado, em área, o maior do mundo. Lá dentro estão o palácio real, onde vive o presidente da Rep. Tcheca, a catedral de São Vito, a Basílica de São Jorge (do ano 920) e a rua do Ouro, onde viviam os antigos alquimistas e também muitos artistas tchecos. O portão de entrada para o Castelo é conhecido como Portão dos Gigantes; sobre suas pilastras, enormes estátuas intimidam qualquer pretenso inimigo do estado tcheco: dois homens golpeando com clava e espada seus oponentes já subjugados. Uma imagem de pura crueldade que, em priscas eras, traduzia poder e controle.

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Passamos pelo portão e percebemos que as hordas de turistas já estavam presentes e a postos para invadir o castelo. Entrei na fila para comprar os bilhetes: são três rotas diferentes, cada uma dando direito a entrar em determinadas partes do castelo. Fizemos a rota B, a mais simples, e mesmo assim foram quase quatro horas pra conhecer tudo.

O primeiro lugar em que entramos foi na Catedral de São Vito, que você avista, maravilhado, de praticamente qualquer ponto de Praga. É o edifício-símbolo do Castelo de Praga (alguns acham até que a Catedral é o Castelo). Toda em estilo gótico, de pedras cor pastel enegrecidas pelo tempo, sua imponência faz qualquer turista ficar de boca aberta. Do lado de dentro, a quantidade de altares, pinturas, monumentos, estátuas é tão grande que chega até a “poluir” o visual. Os túmulos existentes, com suas lápides góticas de 800 anos atrás, são impressionantes; as lápides trazem em alto-relevo figuras ricamente vestidas e armadas, representando quem ali foi sepultado, geralmente nobres, cavaleiros, ou mesmo reis. Ou seja, no mínimo uma hora lá dentro pra conhecer tudo, devagar, curtindo cada detalhe. É claro que essa regra simplesmente parecia não fazer sentido para o turista oriental, que em sua esmagadora maioria caminhava a passos rápidos pelos corredores, sem parar para qualquer tipo de apreciação, enxergando tudo apenas através das lentes de suas máquinas fotográficas. Parecia uma competição de quem tirava mais fotos e, a julgar pelo empenho com que se dedicavam a tal tarefa, o prêmio deveria ser muito bom. Uma coisa engraçada aconteceu lá dentro: estava eu com a camisa do Fluminense quando ouvi uma voz atrás de mim perguntando, num sussuro: “você sabe quanto foi o FlaxFlu?”. Olhei pra trás e me deparei com uma mulher de meia-idade olhando ansiosamente pra mim, esperando pela resposta. “Um a zero, gol de bicicleta do Fred!”, respondi. Ela cerrou o punho e vibrou: “Ah, esse ano não tem pra ninguém. Vamos ser campeões!”. A vidente então seguiu seu caminho em silêncio.

Ainda no interior da Catedral, chama a atenção o túmulo de São João Nepomucemo. A sala que o abriga é impressionantemente decorada com pedras preciosas, afrescos e ricos ornamentos. Infelizmente não se pode entrar nela, apenas observá-la encostado na corda que impede o acesso.

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Saímos do interior da Catedral e começamos a contorná-la pelo lado de fora. De frente ela é imponente, mas quando você a vê em toda sua extensão é que se dá conta do quanto ela é grandiosa. Em uma das laterais, sobre um portal, há um mosaico dourado, enorme, conhecido como “Porta de Ouro”: é como uma jóia embelezando ainda mais uma outra jóia.

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Depois entramos no palácio, em sua parte antiga, e vimos vários brasões de famílias que, ao longo dos séculos, fizeram parte da aristocracia praguense. Algumas jóias da Coroa também estão expostas lá. Entramos também na Basílica de São Jorge, maior representante do estilo românico em Praga, que ainda possui algumas das paredes erguidas no século X, quando começou a ser construída (apesar de sua fachada ser do período barroco). Em seu interior, alguns nobres foram sepultados, incluindo Santa Ludmilla, primeira mártir cristã da Boêmia.

Na sequência visitamos a Rua Dourada, ou Beco Dourado, construída no séc. XVI, onde, reza a lenda, alguns alquimistas viveram, tentando descobrir a fórmula do ouro, daí seu nome. A rua na verdade é uma viela curta e estreita, parece mesmo um cortiço. O charme fica por conta das pequeninas casas coloridas ao longo de toda a sua extensão Quer dizer, charme enquanto atração turística no mundo contemporâneo, porque viver ali não deve ter sido fácil: as casas têm, no máximo, um quarto minúsculo e, quando muito, um cubículo pra trocar de roupa. Por sinal, estão todos mobiliados de acordo com a época em que eram habitados, e isso é bem legal, dá pra se ter uma idéia de como era o dia-a-dia das pessoas em suas casas naquele tempo.

Por último, um rolê pelos jardins do palácio, onde vários mirantes dispostos de maneira estratégica permitem “altas” fotos de Praga.

Terminada a visita ao palácio, seguimos subindo o bairro de Malá Strana, até chegarmos ao Mosteiro Strahov. O mosteiro é bonito, muito bem cuidado, mas o mais legal mesmo foi tomar as brejas que os monges fazem. Tem um restaurante lá, onde você toma vários tipos de cerveja, até aquelas que passam por processos mais rústicos e antigos, como, por exemplo, não filtrá-las. As porções de salsichas e miúdos que acompanham também são sucesso total.

Bom, cheguei a um ponto que merece especial atenção e comentários mais aprofundados: as cervejas da República Tcheca (antes, uma pausa pra limpar o canto da boca, que já começou a salivar!).

Sei lá quantas marcas provei, mas foram muitas; sei lá quantos litros tomei, mas também foram muitos.

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Quem me conhece sabe que, embora apreciador, meu limite para cerveja é muito baixo, não consigo beber muito. Em Praga, esse histórico particular não se confirmou (ainda bem!). Tomei cerveja até com sopa! Quer dizer, o que a gente chama de cerveja também poderia ser chamado de milk-shake de cevada, porque é essa a sensação que a cremosidade deixa no paladar, tão gostosa que no primeiro gole já vai metade da caneca de meio litro. Bom, as marcas são muitas e eu me senti na obrigação de provar a maior quantidade possível (eu sei que assumir compromissos nas férias não está com nada, mas desse eu não podia fugir!). É claro que tantas cervejas podem causar problemas quando não há banheiro público disponível, mas eu montei um esquema que funcionou muito bem: para ter o direito de usar o banheiro de um restaurante eu precisava consumir alguma coisa lá, ou seja, cerveja; minutos depois, de volta às ruas, aquela cerveja chegava na bexiga e eu acabava tendo que procurar outro restaurante para usar o banheiro . . . e para tanto eu precisava comprar mais cerveja, o que me levaria mais tarde à bexiga cheia e a mais um restaurante, onde eu teria que beber mais uma cerveja pra poder usar o banheiro . . . E foi nesse alegre e animado ciclo vicioso que eu decidi permanecer, chafurdando e submergindo completamente no ouro líquido tcheco. Não bebi cerveja em latinha, preferindo sempre a cerveja fresca tirada da máquina de chopp. E os preços eram altamente convidativos: de R$ 3 a R$ 4 a caneca de meio litro! Agora, se você fosse beber essa cerveja em um barco-restaurante, todo chique, ancorado às margens do rio Vltava, com um salão com paredes de vidro e vista para o Castelo de Praga, bom, aí você já pagaria . . . uns R$ 5!! Muito barato!! E os petiscos acompanham o bom preço! Comemos e bebemos pra caramba!!

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Por último, uma imagem curiosa que justifica a liderança da República Tcheca no ranking mundial de consumo de cerveja por pessoa: um caminhão-tanque abastecendo de cerveja um restaurante.

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Bom, esses foram os nossos dois primeiros dias na República Tcheca. Mas ainda tem muita coisa pra contar . . .

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Carcassone e Nimes são fantásticas!! Se algum dia for p/ a França, tratarei de conhecer essas duas cidades :D

Ver essas fotos realmente me deixou pendendo para uma viagem Fraça+Inglaterra no ano que vem hahaha

 

É muito estranho ver Praga assim, com sol e sem neve... Quando fui tinha tanta neve que p/ as pessoas subirem para o castelo, tinham todos que ir segurando no corrimão para nao cair hahaha.

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Fejohnson

 

Realmente, Carcassone e Nîmes são cidades não muito conhecidas em terras brasileiras, mas que têm uma riqueza histórica impressionante. Na verdade, todo o país cátaro é impressionante. O único lugar em que eu não consegui ir foi pra Montségur, onde, no alto de uma montanha, há as ruínas de um castelo cátaro, onde os reminescentes daquele povo sobreviveram por décadas a um sítio do exército do papa, até enfim serem vencidos e queimados vivos.

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