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Índia Extraordinária - (3 meses de trip pela Índia)


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Cheguei a Índia em fevereiro de 2013, em Mumbai vindo de Nairobi. Um casal amigo, Arjun e Lavynia, ofereceu seu apartamento para que eu pudesse me ambientar com a cidade. Trens auxiliaram na aventura pela cidade. Portas abertas, pedintes e o famoso pulo com o trem chegando na estação são suas características, nada muito difrente do que havia em São Paulo há uns 10 anos atrás. No segundo dia, caminhando pela cidade, ouvi uma música e resolvi seguir o som. Entrei no corredor de uma casa e lá no fundo um casal no chão realizava uma pequena cerimônia. Quando me viu, um outro rapaz se aproximou e pediu que colocasse meu nome em um papel dourado. Era o convite para um casamento que aconteceria no dia seguinte. Eu prontamente aceitei o convite. Na manhã seguinte apareci e em um ônibus com mais 20 pessoas fomos ao local da cerimônia. Foi-me servido um ótimo café da manhã e algumas pessoas chegaram para perguntar se eu era o rapaz que tinha vindo do Brasil para o casamento, eu respondi que sim hehe. A cerimônia durou horas e horas, eu acompanhei a primeira parte antes do almoço, em uma certa parte jogaram arroz nos noivos, em outra fizeram o ritual com a chama de uma vela. O almoço incluía buffet indiano e chinês, ambos vegetarianos. Eu desfrutei de tudo que poderia. Mais tarde conheci Shreeneth e fui a sua casa para trocar minhas roupas. Ele me emprestou um terno azul e uma calça social, eu comprei sapatos na rua e então retornamos à cerimônia. Já no salão, muitas fotos com os convidados, inclusive com os noivos e obviamente um jantar de gala que novamente incluía os dois buffets. Encerrada a cerimônia, disse a Shreeneth que queria ir a um bar, mas ele me levou para um lugar mais exótico. Uma porta de madeira discreta era a entrada. Sentamos em um sofá no meio do salão. Havia um palco em frente e músicas sensuais eram tocadas. Pedi uma cerveja e logo diversas garotas asiáticas começaram a desfilar para a gente: era um prostíbulo. Como estrangeiro, eu era um prato cheio por lá e não podia sequer sorrir para qualquer uma que isso já era um sinal de positivo. Bebemos a cerveja e eu incomodado disse a Shree para partimos. Tudo isso aconteceu já no meu segundo dia na Índia.

 

Eu continuei usando o terno azul pela cidade e era engraçado como muitas pessoas me seguiam e perguntavam o que eu fazia por lá e quais eram meus planos para a Índia hehe. A todo instante alguém vinha papear comigo. Conheci os principais pontos de Mumbai, o clássico Portão da Índia, feiras, templos, igrejas, bares, baladas. Comi em ótimos restaurantes acompanhado de Arjun e Lav e após uma semana decidi que era hora de partir. Segui então para Goa, destino mais famoso do país. Escrevendo isso hoje, acabei de ler que os viajantes poderão tirar visto de 30 dias no próprio aeroporto de Goa, inclusive, os brasileiros (naquela época, somente visto com antecedência). Decidi ir por terra. O transporte é um caso à parte no país. Os ônibus são equipados com beliches e todos viajam deitados. Comprei uma passagem simples e a trip duraria 12 horas. Na hora do embarque percebi que a largura das camas era muito boa e pensei comigo que dormiria confortavelmente a viagem toda. Ledo engano, nunca estamos confortáveis na Índia. Após uma hora, um rapaz que estava no fundo do ônibus se aproximou de mim e disse que ele logo viria descansar. Eu perguntei aonde e ele apontou para a letra B atrás da cama. Meu tíquete era a letra A e só então eu percebi que aquelas camas largas e confortáveis são para duas pessoas hehe. Fiquei bravo. Perguntei ao assistente do motorista porque ele não havia me dito nada e ele garantiu que tinha me dito. Não havia muito o que fazer, eu me enfiei no saco de dormir e deitei de ponta-cabeça eseprando pela chegada do rapaz. Felizmente ele era simpático e a noite transcorreu sem maiores problemas, exceto pelas curvas da estrada.

 

Cheguei pela manhã e após tomar um Masala Chai, encontrei uma pousada perto da praia. Conheci Jammie, da Nova Zelândia, Ros, da Inglaterra e Anna da Escócia, melhor jeito de treinar o inglês, impossível. Nos tornamos uma equipe de motociclistas, cada um de nós alugou uma scooter. Eu consegui uma por 1 dólar por dia, acreditem se quiser. De lá, visitamos diversos pontos de Goa, Vagator, Arambol e a capital com tradição portuguesa. Nesta última, eu comi até uma feijoada, um pouco diferente e mais apimentada, mas deu pra enganar. Em uma das tardes, fomos a uma clássica rave na praia e à noite visitamos diversas festas. Todos os estrangeiros em Goa alugam scooters, sendo que acidentes são bem comuns. Algo divertido ocorreu em uma das noites: terminada a festa, eu com Ros na Garupa voltei para o hotel. A estrada é bem escura e com bastante curvas. Eu, sem lembrar muito do caminho aquela hora da noite, peguei uma entrada à direita e após três minutos fui parar em uma rua sem saída com um portão grande em frente, quando olhamos pra trás, diversas outras scooters estavam nos seguindo e também tiveram que dar meia volta. Nós rimos que nem loucos. Há também um perigo adicional de se pilotar pela Índia: as vacas. De dia elas ficam na praia tomando sol e à noite, elas dormem no meio da rua e para quem está pilotando isto não é nada bom. Diversas vezes, tive que frear em cima para não bater em uma vaca dormindo no meio da rua estreita, parece até mentira, mas quem manda por lá são elas. E nada de buzinar, é preciso esperar que elas decidam se levantar e sair do caminho. Falarei mais delas na segunda parte. Fiquei uma semana em Goa e me diverti adoidado, para quem gosta de festa, aquele é o lugar, mas eu também queria ver algo mais “indiano” e segui viagem.

 

Novamente de ônibus fui para Hampi, no centro-sul da Índia, à beira do Rio Thungabhadra. Capital de um atigo império, possui centenas de templos antigos, esculturas, pinturas e sistema de irrigação, que compõem um cenário fantástico. Conheci Charlotte, francesa que viajava por lá e decidimos ficar no mesmo quarto. Passeamos de bike pela região e até fizemos um trekking até um monte próximo para ver o por do sol. Um ponto de destaque de lá são os cafés: não há cadeiras, todos sentam nos chãos e descalços assistem a filmes temáticos. Nada melhor que um ótimo almoço depois de uma pedalada e uma soneca no restaurante para recarregar as energias. Tive a impressão que o tempo por lá passou em um ritmo mais vagaroso e foi muito bom para curar a ressaca da frenética Goa. Segui ainda com Charlotte para Mysore, onde um palácio magnífico nos esperava para ser visitado. Ricamente decorado, o local impressiona tanto de dia quanto de noite, com shows de luzes na parte externa dele. Com mais dois franceses, seguimos então para um bar local. Quebrando o tabu machista do país, as garotas entraram conosco, mas não foi fácil. Ficamos em uma espécie de cabine só para a gente, mas não estávamos sós. Um ratão enorme quase do tamanho de um gato tentou entrar no recinto para desespero de Charlotte e da outra francesa que nos acompanhava. Em seguida um bêbado descontrolado também invadiu a cabine e num tom ameaçador falou alguma coisa em Hindi para nós. Depois disso, decidimos que era hora de partir, era Resident Evil demais para nós. Como estava muito calor na época, fomos para as montanhas do sul respirar ar fresco. Ooty foi nosso próximo destino, a 2400 metros de altitude, equivalente à nossa Campos do Jordão aqui de São Paulo. Com um ritmo mais tranquilo e com uma temperatura média de 14ºC, serve como um refresco para o quente verão indiano. Charlotte e eu ficamos em uma incrível pensão colonial e fizemos um trekking pelas montanhas da região. Com um comércio voltado para o turismo, mas também para agricultura, as colinas impressionam pelas plantações de chá, de legumes como batata, couve-flor e de frutas como pêssegos, ameixas e morangos. Dessa vez quem nos atormentou foram os macacos, extremamente agressivos, eles podem te atacar facilmente caso vejam que você está com uma banana que a princípio é deles. Eles me roubaram um doce que eu pus ao meu lado enquanto estava sentado em um banco, mas por sorte, pouparam o meu celular. Após dois dias, me despedi de Charlotte que estava indo ao leste indiano para um trabalho voluntário e eu segui ainda mais para sul: para o rico estado de Kerala.

 

Com o maior PIB da Índia, o pujante estado de Kerala apresenta diversas atrações. Tratamentos Ayurvédicos à beira-mar, surf nas ondas de Varkala, Yoga, ótima gastronomia, além de alimentação orgânica e vegetariana por toda parte. No hostel Shiva Garden, conheci Mike, da alemanha e Erick da Suécia. Formamos uma equipe de surf e nos arriscamos pelas ondas da praia em frente. Os hostels ficam todos no topo de uma colina, enquanto que para acessar a praia é preciso descer uma grande escadaria. O cenário é fantástico. Tomamos muito caldo no mar, mas deu pra se divertir. À noite, violão, fogueira, chai e muita diversão. Fiquei quatro incríveis dias por lá e até pratiquei um pouco de Yoga ao amanhecer com uma portuguesa, dona do Shiva Garden. Fizemos a saudação ao sol, Surya Namaskar. Eu me despedi de Mike e Erick que acabaram comprando um Rickshaw (triciclo automotor usado como táxi na Índia) e decidiram seguir para Goa. Eu fiz minha última parada no sul da Índia em Kollam, para um passeio pelos canais do lago Ashtamudi, um dos mais preservados da Índia. A região inteira é conectada por canais e tudo é feito de barco por lá: ida à escola, igreja, mercados flutuantes, visitas a pontos turísticos, vale a pena conhecer a região. Por fim, segui então para Madurai para uma breve visita ao espetacular templo Meenakshi Amman e de lá peguei meu avião para a Delhi começando uma outra jornada, mais turbulenta, mais quente e ainda mais insana pela Índia. Conto na Próxima.

 

Lucas Ramalho

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Seguindo viagem pela extraordinária Índia, eu saí de Madurai no Sul do país e voei até a caótica Delhi. Com mais de 20 milhões de habitantes em sua área metropolitana, a capital do país apresenta uma organização bem confusa. Em muitas avenidas, não há contramão e cada um faz o caminho que quiser. Lá, eu peguei um trânsito inacreditável mesmo estando de bicicleta. Chega a ser bizarro lembrar das vacas presas no meio do intenso tráfego humano. Falando nisso, há vacas por toda parte, inclusive nas estações e dentro dos trens haha. No restaurante enquanto desfrutava de um Veg Biryani (mix de arroz apimentado com vegetais), uma vaca ruminava ao meu lado. Elas também tem passe livre pelos templos e monumentos do país. Infelizmente se alimentam de lixo e restos de comida, sobretudo nas cidades; eu cheguei a ver vacas lambendo a lataria de motos sabe-se lá pra quê. Uma outra questão interessante em Delhi é a alimentação, apesar de ser barata, é preciso ter um extremo cuidado para não ter problemas estomacais, existe até um termo comum entre os viajantes para indicar o problema: Delhi-Belly. Eu mesmo peguei uma senhora diarréia após comer um frango suspeito em um restaurante. A higiene é mínima por lá e qualquer descuido pode ser fatal. Após uma curta visita aos pontos principais da cidade, tratei logo de sair de lá. Fui de trem para Udaipur, conhecer seu famoso City Palace.

 

Era final de março e logo ocorreria o Holi Festival, famoso festival das cores que celebra o início da Primavera na tradição Hinduísta. De Udaipur eu segui então para Pushkar para comemorar o evento. A cidade é pequena e possui apenas uma via principal que circunda o sagrado lago Pushkar, onde muitos peregrinos se banham. Pela cidade, eu encontrei Jammie, que fez parte da nossa equipe de motociclistas de Goa. Como precisava relaxar um pouco, fiquei em uma super pensão com piscina, ar condicionado e tudo mais por um preço bem módico. A cidade é famosa pelo Templo de Brahma, um dos poucos dedicado a ele em todo mundo. A cerimônia do Holi começou na noite de lua cheia com a queima de Holika, mulher-demônio, representando o triunfo do bem sobre o mal. A cidade inteira se reuniu no cruzamento principal e após uma série de mantras e cantos sagrados, deu-se início à fogueira. Houve então muita dança em volta dela até às 4h da manhã, quando a multidão se dispersou. No dia seguinte, logo cedo, começou de fato o festival de cores. Eu fui com uma roupa bem velha e em cinco minutos já estava completamente colorido. Rico ou pobre, mulher ou homem, hindu ou não-hindu e até mesmo as vacas não escapam dos pós coloridos. A cerimônia vai até de tarde com dança e celebração até o final. Foi um evento espetacular e até hoje guardo na memória detalhes da festa.

 

Segui então para Jaipur, para conhecer o imponente Forte Nahargarh. Conhecida como a cidade rosa, Jaipur impressiona pela organização de suas ruas e pela divisão dos distritos. Não é à toa que faz parte do triângulo dourado que inclui Delhi e Agra (Taj Mahal), compreendendo um circuito de visitação prático e acessível para os viajantes. Falando nisso, fui então visitar o famoso Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo moderno. Para quem não conhece, é um mausoléu de mármore branco construído pelo Imperador Shah Jahan para a sua terceira esposa. É tida como a joia da arte islâmica na Índia. Cheguei cedo para a visita e fui um dos primeiros a entrar. Acompanhado de uma japonesa, testemunhamos um batalhão de pessoas que se amontoavam para tirar fotos incessantes do Taj. Em um momento, pensei que o monumento iria ser implodido em breve, tão afoitos estavam todos para tirar fotos dele. Obviamente que o Mausoléu impressiona pela harmonia e concordância, mas acredito que alguns que estavam ali não desgrudaram os olhos da câmera e nem sequer apreciaram propriamente a obra. Nós entramos dentro dele, apreciamos o jardim e relaxamos um pouco. O preço da entrada é caro para os padrões indianos, porém ele é diferente para turistas estrangeiros e nacionais. Nada muito de assustar, na época custou 25 dólares e vale muito a pena. Ainda dentro do triângulo dourado, há uma cidade chamada Vrindavan que é pouco visitada por estrangeiros. O inglês não é muito falado por lá. A cidade é tida como o Vaticano da Índia, lugar sagrado para todas as tradições hinduístas. Segundo reza a lenda, Krishna teria nascido a 10 quilômetros de lá, em Mathura. Há centenas e centenas de templos localizados um ao lado do outro. Impressiona a demonstração de fé dos indianos que visitam o local. Dentro de um dos principais templos da cidade, eu testemunhei uma intensa catarse coletiva, com gritaria, choro, alegria, tudo ao mesmo tempo. Em outro templo, eu vi uma beleza inacreditável nos detalhes, nas esculturas e quadros e na arquitetura. Se estiver visitando esta parte da Índia, Vrindavan é imperdível.

 

De trem então segui para o leste, para visitar Varanasi, tida como capital espiritual da Índia. Lá testemunhei as tradicionais cremações dos mortos. Segundo a lenda, morrer em Varanasi traz a salvação para a alma. Por isso, muitos hindus trazem seus entes falecidos para a cremação à beira do rio Ganges. Não é um ritual fácil de assistir, alguns dele vem enrolados em panos, outros vem com face, pés e braços descobertos. Diversas fogueiras ficam acesas ao mesmo tempo e há um fluxo continua de corpos, sobretudo, à noite. Após a cremação, as cinzas são jogadas no Ganges. Para quem tem estômago para assistir, é um momento auspicioso em que paramos para refletir sobre o que é a morte. Pela manhã, muitos hindus se banham no rio, apesar de estar intensamente poluído (também serve para refletir sobre o que fazemos com nossos rios). A temperatura passava fácil dos 40 graus na região e eu ainda tinha uma última parada antes de rumar às montanhas do norte: Khajuraho.

 

A pequena cidade é um destino popular entre os viajantes pelos templos jainistas e hinduístas famosos pelas esculturas eróticas nas fachadas externas. Segundo a história, a dinastia Hindu Rajput na época da construção dos templos era seguidora do culto tântrico e decidiu esculpir centenas de figuras de posições sexuais envolvendo homens, mulheres e animais. O local impressiona pela qualidade e conservação dos templos que datam do século X. As representações eróticas são bem detalhadas e sugestivas e às vezes envolvem grupos e até mesmo cavalos. Para quem gosta do tantrismo ou se interessa por história e arqueologia em geral, vale a pena a visita. A temperatura já chegava aos 45ºC e era hora de rumar para lugares mais serenos e tranquilos: para as montanhas do norte. Minha próxima parada foi a fantástica Rishikesh, capital internacional do Yoga. Conto na próxima e última parte referente à Índia.

Lucas Ramalho

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Para sair do tórrido verão indiano, na última parte da minha trip pela Índia, eu fui para as montanhas do norte, de Khajuraho diretamente à Rishikesh, capital internacional do Yoga. Ao chegar à cidade, primeira grande surpresa: muita gente falando português. Local onde está o Ashram do Prem Baba, milhares de brasileiros todo ano visitam o lugar para um Satsang com ele. Como eu não sabia disso até chegar lá, achei que eu tinha me teletransportado de volta a alguma localidade do Brasil desconhecida. Minha segunda surpresa foi a limpeza do rio Ganges naquele ponto: como Rishikesh é a primeira grande cidade à beira do rio Ganges, suas águas límpidas e geladas são um convite a um mergulho sagrado. Toda noite havia danças, cantos e mantras com dezenas de pessoas em comunhão bem pertinho do rio. O fluxo energético é enorme no local e Rishikesh me pareceu um dos Chakras principais da Terra onde a energia cósmica dança e vibra em todos que ali se encontram (lugares não são apenas lugares). Na cidade, é proibido o consumo de carnes e álcool e em contrapartida é possível desfrutar de dezenas de pratos vegetarianos deliciosos nos restaurantes localizados à margem do Ganges. É até possível experimentar o famoso Bhang Lassi ou Special Lassi, iogurte com partes das flores e folhas da Cannabis usado há séculos na Índia. Só provando pra entender.

 

Para quem gosta de Yoga, Rishikesh é a Meca. Dezenas de locais oferecem cursos, práticas, encontros em suas diversas abordagens: Hatha Yoga, Ashtanga Yoga, Raja Yoga, Bhakti, tem para todos os gostos e eu encontrei até um russo que oferecia Ignis Yoga por lá, método que ele próprio desenvolveu. Para quem gosta de massagem, é possível se aprofundar na Ayurvédica e outras variantes. Falando nisso, há grupos de estudos e práticas da medicina Ayurvédica, das técnicas de respiração como o Pranayama e por aí vai. Alguns monastérios oferecem o Vipasana, processo em que o praticante fica 10 dias sem comunicação (sem falar) e com uma alimentação restrita. Enfim, a cidade é um prato cheio pra quem se interessa por tudo isso. Passei 10 dias em Rishikesh, mas foi pouco. Conheci gente do mundo inteiro, desfrutei de cachoeiras próximas à cidade, fiz passeios de bicicleta, conheci sadhus que optaram por não participar da sociedade e se isolaram nas montanhas, tomei um super café depois de um trekking com 2 holandesas, Julia e Lidh, em um hotel cinco estrelas chamado Ananda Hotel Spa, local onde geralmente as autoridades, presidentes e primeiras-damas se hospedam quando visitam a região (uma noite por lá custa 700 dólares). Para quem gosta de esportes, há opções de rafting no rio Ganges, trekking nas montanhas próximas, ciclismo e outros mais. Eu fiz o rafting no Ganges, que não se compara ao rafting do Rio Nilo, mas vale a diversão até pelo preço que é irrisório e dessa vez o bote não virou nenhuma vez. Como nem tudo são flores, mais uma vez eu peguei diarréia, mas que felizmente durou apenas um dia. Mesmo comendo em restaurantes de boa qualidade, nunca se sabe. Como eu tinha apenas mais 20 dias de visto, segui então mais ao norte, para Dharamsala, outro lugar muito especial.

 

Cidade onde está assentado o Dalai Lama, Dharamsala é ainda mais alta e mais fria que Rishikesh. Na época o Lama estava de férias, mas eu fiz uma visita ao seu monastério Namgyal, local de residência de diversos monges e aspirantes. É possível observar seus diversos cantos, rituais, conversar com eles e até participar de suas práticas. A vista da região é inacreditável e o friozinho torna aquele lugar super aconchegante. À noite, sempre ocorre alguma celebração nos diversos cafés espalhados pelas montanhas. Falando em montanha, eu decidi realizar um trekking de 3 dias até Indrahaar Pass, aproximadamente a 4300 metros de altitude.

 

Quem me acompanhou na aventura foi a Carol da França. Nós preparamos a mochila e com um mapa pusemos o pé na trilha. O primeiro trecho até Triund (2900 metros) foi tranquilo, mas conforme íamos subindo, o tempo foi mudando e logo começou a nevar. Aquela época (abril) não é recomendada para subir até o pico, já que a neve acumulada torna a subida difícil e perigosa. Nós chegamos até Laka Got, conhecida como linha da neve, onde fica um acampamento temporário de locais que vendem café e alimentos. De lá começa uma inclinada montanha de gelo rumo ao pico. Com a neve, o caminho foi ficando mais complicado. O plano era pernoitar na Caverna Lahesh a 3500 metros e realizar o ataque ao pico de manhã. No caminho encontramos um casal e um guia que tinham tentado o ataque ao cume, mas sem sucesso. Nós achamos a tal caverna, porém ela estava cheia de gelo e nós então acampamos nas pedras em volta dela. Como nevava e ventava, a sensação térmica foi lá embaixo, mas nós sobrevivemos a noite. No dia seguinte, tendo em conta a tentativa do guia e do casal no dia anterior, nós abortamos o ataque e decidimos regressar a Laka Got. No caminho vimos diversas pegadas de ursos. Passamos a segunda noite em uma caverna próxima, que dessa vez estava seca, e no dia seguinte voltamos para Dharamsala, por um outro caminho, acompanhando um grupo que também estava por lá. Apesar de não termos chegado até o pico, a trilha foi compensadora por todo o nosso esforço e coragem de suportar aquele frio intenso das montanhas e pelas vistas espetaculares que tivemos da região. Como a Carol também estava indo pra Ladakh, fomos juntos pra aquela região do extremo-norte indiano considerada o Oásis do país.

 

Na Índia, uma viagem de ônibus não é só uma viagem de ônibus, é uma verdadeira expedição. De Dharamsala até Leh, capital de Ladakh, nós pegamos três ônibus e levamos cinco dias. De Dharamsala fomos a Srinagar onde fizemos uma pausa de 1 dia. Local de forte influência muçulmana, a cidade é bem organizada e recebe muitos turistas de outras partes da Índia. Diversos botes ficam atracados na orla e servem como hospedagem tanto para os locais quanto para os visitantes. Vale a pena dormir em um deles. Nós então pegamos um ônibus que iria até leh. Saiu às 5h e seguiu pelas montanhas nevadas rumo à capital. A travessia chega até 4 mil metros de altitude e não é raro alguém vomitar pelo caminho. Na primeira tentativa, após cinco horas de viagem, chegamos a um ponto em que a estrada estava bloqueada por uma avalanche. Após horas parados por lá, o motorista optou por voltar à Srinagar. No dia seguinte, nova tentativa, mas a viagem tinha sido remarcada para o próximo. Assim no dia seguinte finalmente embarcamos no mesmo horário, às 5h da manhã. Dessa vez a avalanche ocorreu em frente do ônibus. Havia apenas mais cinco ou seis carros parados à frente. Nós fomos caminhando para ver a montanha de gelo que se formou na estrada. Não era tão grande, aproximadamente dois metros, mas o suficiente para bloquear a passagem. Havia poucas pás ou picaretas, então os indianos começaram a cavá-la com as próprias mãos para retirar o gelo, a tarefa durou incríveis cinco horas. Eles abriram uma passagem por entre o gelo e os carros menores conseguiram passar, mas com muito custo já que a pista escorregava demais. O ônibus tentou três vezes e somente na última e com um ronco forte do motor ele passou. Como estava tarde, o motorista decidiu pernoitar em Kargil, metade do caminho. Dia seguinte, finalmente nós completamos a missão e chegamos em Leh antes do por do sol. Que aventura. A cidade encontra-se a mais de 3 mil metros de altitude e possui um cenário fantástico. Como ainda não tinha começado a temporada, vários hotéis estavam fechados. Nos abrigamos em um hotel aconchegante e quente (lá faz bastante frio à noite). Floron, amigo de Carol, chegou no dia seguinte e nós então programamos uma nova trilha dessa vez de 5 dias pelo Markha Valley.

 

A trilha é bastante árdua e conta com uma passagem máxima a 5100 metros aproximadamente chamado Gongmaru La. Fomos sem guia como sempre e levamos comida suficiente apenas para a caminhada, já que à noite, algumas casas ao longo da trilha oferecem hospedagem e jantar para os trilheiros. Não havia ninguém pelo caminho já que a temporada começaria no mês seguinte e mesmo algumas casas estavam fechadas. Por sorte, famílias indianas vivem por lá o ano inteiro e auxiliam na trilha. Ela começa de uma forma inusitada, com uma caixa acoplada a uma corda para atravessar um rio. O primeiro dia foi tranquilo, já o segundo rendeu oito horas de caminhada até Markha Village. O próximo dia também foi mais curto, já que a passagem seria no quarto dia. Saímos bem cedo, às 6h e começamos em um ritmo forte. Paramos para comer e ao meio-dia comçamos a subida até a passagem. Fazia bastante frio e a altitude aumentava o esforço da subida. Nós fomos de forma bem vagorasa e por volta das 14h finalmente alcançamos o pico. Pausa breve para fotos, aperitivos e logo seguimos em frente, havia mais 5 horas de descida até a casa mais próxima. No fim do dia, após 13 horas de caminhada, estávamos esgotados. Um jantar que parecia de gala fechou com chave de ouro aquele dia de grande esforço e coragem. Nós dormimos como bebês. O úlitmo dia, enfim, foi bem mais tranquilo e após uma hora já estávamos à beira da estrada. De lá pegamos um táxi de volta a Ladakh e voltamos para o mesmo hotel. Após uma noite bem dormida, eu desfrutei então do meu último dia na Índia naquela viagem. Tinha vôo para Delhi no dia seguinte, e de lá para Kathmandu, Nepal, de onde iria começar uma expedição rumo ao acampamento base do Everest. Conto na Próxima. Ahô!

 

Lucas Ramalho

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Em 15/10/2020 em 19:58, gustavo.woltmann disse:

Incrível! A Índia é meu sonho de destino e cada vez mais estou ansioso para conhecer esse país que acho tão impressionante e exótico. Só me falta um pouco de coragem para encarar o desafio sozinho. Obrigado pelo relato!

Abraços,

Gustavo Woltmann

Como estão os planos? Comecei a planejar a minha agora. Esses relatos são maravilhosos. Pretendo fazer quando eu for.

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  • Silnei changed the title to Índia Extraordinária - (3 meses de trip pela Índia)

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