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  • Membros de Honra

Fotos da bodega, cortesia do Ronald Colombini

http://rcolombini.multiply.com/photos/album/34

 

TRAVESSIA ZIRIGUIDUM PELO PN SEMPRE-VIVAS

São mtos os caminhos q se concentram nas derivações da Serra do Espinhaço, enorme cordilheira q divide MG em dois, de norte a sul, e sempre escancara novas alternativas trilheiras q parecem nunca esgotar. Longe do Cipó, Lapinha,Tabuleiro, e mais precisamente ao norte de Diamantina, encontra-se o desconhecido Parque Nacional Sempre-Vivas, unidade de conservação criada em 2002 (q está somente no papel) q homenageia aquelas típicas florzinhas q nunca perdem a aparência, mesmo depois de retiradas. Com córregos de água límpida, campos rupestres de perder a vista, garimpo ilegal e personagens gentis e hospitaleiros, a travessia de boa parte deste parque - do vilarejo de SJ da Chapada ate o arraial Pé de Serra - foi uma agradável surpresa de caminhada no feriado reservado longe dos festejos de Momo.

 

"SE EU NÃO DURMO NINGUEM DORMEEEE!!"

"Fudeu!", foi o singelo pensamento q veio à mente qdo soube q o Bastos - q sabia de cor o roteiro da trip - não viria mais conosco, já quase embarcando p/ Diamantina. No entanto, c/ mapa em mãos, coragem e disposição de sobra, e alguma vaga lembrança das confabulações de nosso prévio encontro semanas atras, eu, Ronald, a Fran e a Gi embarcamos no Gontijo c/ destino à cidade de Xica da Silva e JK, entregando a empreitada ao Deus-dará. Não bastassem já as 15hrs tediosas de busao, prova de fogo foi tê-las feito na cia de um grupo de jovens foliões q faria corar de inveja qq torcida organizada. Chamar de farofeiros é elogio: já entraram no busao c/ um isopor enorme de cerveja!! "Esta noite vai longe!", pensei. Pior q não dava p/ reclamar pq eles compunham 2/3 dos passageiros. Paciência.. Assim q partimos, as 22:30, o busao parecia trio-eletrico de tanta bagunça. Como andar no corredor era impossível tanto pela zona como pela cevada seca derramada no chão (q grudava os pés de qq um), o jeito foi permanecer sentado e tentar cochilar. Como é praxe, não tardou ao olfato apurar o nauseante cheiro de "cannabis" no ar. Mas, por incrível q pareça, ou devido ao cansaço do dia-dia, conseguimos breves instantes de sono naquela q parecia uma Sodoma & Gomorra de 4 rodas. A Fran, sortuda, partira num busao meia hora antes e se livrou deste suplicio pré-trilha.

Acordamos o sábado já em terras mineiras, com o coletivo tendo um raro momento de paz e silencio; os moleques tavam detonados de goró e erva, sendo q um deles havia vomitado no fundo. Mas depois da parada em BH a zona voltou c/ forca redobrada c/ um interminável repertorio de festa-trash, q ia desde hits do Sergio Mallandro ate Perla, musicas q ficaram martelando na cabeça ate o final da trip. "Comprei um quilo de farinha p/ fazer farofa-fá!" Farofa esta q parecia não ter fim.

 

DE SÃO JOAO DA CHAPADA ATE QUARTEIS

As 14hrs e num sol de rachar, chegamos ao som de axé (ecaaa!) na muvucada Diamantina a tempo de encontrar a Fran, comer algo e tomar o bus local c/ destino a São João da Chapada, as 15hrs. Assim, fomos atravessando os enormes e vastos campos rupestres sentido norte por estrada de terra, parando em minúsculos arraiais ora deixando ora pegando passageiros, q se apinhavam no corredor do rústico cata-jeca. A oeste, nuvens carregadissimas pareciam vir na nossa direção, mas logo o sol tornou a sair em definitivo. E após 25km de sacolejo e mta poeira, chegamos no minúsculo arraial as 16:30hrs.

Enfim, mochilas nas costas e pé na estrada. SJ da Chapada já conehcia de 2 anos atrás (Trilha do Algodão), so q da Igreja do Senhor do Bonfim tomamos a estrada p/ norte. Porem, logo ela termina assim como uma breve garoa de verao. Perguntei aos locais (pois iniciativa masculina, so minha!) o caminho p/ Quartéis (a 8km dali) e, tomando umas quebradas por dentro do vilarejo, damos numa precária estrada-trilho na extremidade leste do mesmo, q desce a serra suavemente em meio a arbustos e lajedos cortados por pequenos corregos. Minutos depois caimos numa estradinha de areia clara (quartzito) q basta seguir p/ norte, enqto a paisagem do entorno revela cumes e paredões rochosos ao longe, típicos do Espinhaço. Subindo a serra c/ pouco aclive, alcançamos um pequeno topo no qual nossos horizontes de alargam descortinando um vale encaixotado no meio de pequenos morros, e ao norte, uma enorme muralha composta de maciços rochosos q parece não ter fim. Um belo arco-iris confere à paisagem um aspecto quase impressionista.

Descendo o vale lenta e sinuosamente, passamos uma ponte sobre o ruidoso Rio dos Quartéis, ao mesmo tempo em q nuvens escuras ocultam o belo sol ate entao. Felizmente, as primeiras casinhas esparsas do mirrado vilarejo de Quartéis já começam a aparecer, ao mesmo tempo q gotas de uma breve pancada começam a fustigar nosso rosto. Sem titubear, as 19hrs acampamos no ótimo gramado de um pequeno cpo de futebol ao lado da estrada, onde uma oportuna cx dagua despejava seu precioso liquido afim de abastecer nossos cantis e servir tb de eventual chuveiro, sob olhar perplexo de cavalos q ali pastavam. Assim q escureceu tornou a chover outra vez, mas ate la estávamos devidamente entocados, preparando a janta ou já deitando p/ repôr o sono da noite anterior. Era o meu caso, agravado ainda por uma inconveniente dor-de-cabeca. As ultimas a deitar foram as meninas, q pelo cheiro q tomou conta nosso MST devem ter feito uma janta divina. A noite fora tranqüila, relativamente fresca, sem maiores intercorrencias fora algumas pancadas passageiras de chuva.

 

DO CÂNION DO MACACO ATE O TSUNAMI NO SEMPRE-VIVAS

Levantamos as 6hrs de domingo, totalmente encoberto e c/ bruma ocultando todos os picos ao nosso redor. Contudo, aos poucos a nebulosidade foi se dissipando escancarando um sol q nos encheu de disposicao. Tomamos rapidamente café, arrumamos as coisas e zarpamos as 8hrs, outra vez tomando a estradinha principal sentido norte.

Passamos pelo "centro" do arraial, a charmosa Igr. N. S das Mercês e pelas demais casinhas , algumas misturando arquitetura colonial c/ placas solares modernas. Logo acompanhamos o leito do Rio Caeté-Mirim, de onde a estrada o segue p/ norte c/ destino a Inhai, e onde tb alguns pequenos afluentes obstruem a mesma na época de chuvas, como agora. Uma cobra no caminho nos lembra de prestar atenção onde pisamos. Daqui, um trilho lamacento, largo e obvio sai pela esquerda, passa pelo Caeté-Mirim e continua na outra margem, o q nos obriga a molhar os pés pela 1ª vez. Apesar de largo, o rio é na verdade raso, assoreado pela areia trazida dos garimpos a montante. Assim, cruzamos o dito cujo c/ água ate o joelho, exceto qdo a areia cede subitamente e a perna parece afundar mais uns 20cm.

Do outro lado, após a Gi levar uma picada de marimbondo (cortesia do Ronald ao esbarrar numa arvore p/ pular outro fiapo dágua), a trilha sobe forte por uma encosta de pasto e algumas palmeiras, contorna a montanha passando algumas porteiras, e desce pro amplo vale seguinte, pra alegria da Fran, q mostra sinais de cansaço mas continua guerreira ate o fim. Contornando a base de mais um morro pela direita, a trilha vira p/ oeste, no largo vale do Rio Macaco, e as 10:30hrs chegamos à "vila" de Macaquinhos, q se limita a uma única casa!! Aqui podíamos ir ainda pela trilha, atravessar o raso rio Macacos e continuar pela encosta oposta, c/ destino ao arraial de Barreiros (nordeste). No entanto, nosso destino é Macacos, vilarejo à oeste, e pra isso descemos ao amplo, largo e alvo rio - q brilha de longe devido a enorme qtdade de areia assoreada no entorno - bastando segui-lo ora pela areia, ora pelo leito seco ou pela água rasa, eventualmente atolando o pé. No caminho, muito material de garimpo acumulado nas margens, palhoças abandonadas feitas de folha de palmeiras, etc.

Rio acima, aos poucos a "avenida branca" pela qual seguimos vai sendo lentamente afunilada por enormes paredões rochosos. Agora, subimos o rio saltando de pedra em pedra no interior de um cânion, o q é bem cansativo diante do forte sol das 11hrs. Felizmente, vários córregos e pequenas cachus despejam suas águas cristalinas no rio principal e molhando nossa goela, alem de tornar a paisagem mais interessante. Pra tornar menos ardua a subida, há trilhas na margem q sobem o rio, ora de um lado ora de outro, mas q após um tempo deixa o rio p/ trás e sobe a serra em definitivo, aos ziguezagues pela direita, em meio a uma matacao de arbustos e samambaias. No alto, uma breve pausa pra retomada de fôlego. Daqui a trilha acompanha uma cerca ate cair numa estradinha de terra q, num piscar de olhos, desce pro vilarejo de Macacos. As 12:15hrs, pausa merecida p/ relax, lanche e banho nas águas cor-de-coca-cola do Córrego do Burro, bem do lado da ponte q da aceso à entrada do rustico vilarejo.

Revigorados e novamente pela estradinha, tomamos à direita numa bifurcacao e logo estamos no interior do minúsculo arraial. Aqui ha uma trifurcação, e pelas infos q colhi (sim, sempre eu!) tomamos o caminho da direita (cruzando uma porteira de arame), bem na frente de uma rústica igrejinha. Dali é so seguir em frente. O caminho desce um pouco ate um riachinho (sem ponte) p/ depois subir suave e sinuosamente serra acima. Aos poucos, a vegetação muda e diminui de tamanho, pequenas arvores de galhos retorcidos surgem e os campos rupestres tomam conta da paisagem ao redor. Após serpentear afloramentos rochosos de formatos bizarros, estamos no "Campo das Sempre-Vivas" (ou seja, no parque) q na carta consta como "Campo de São Domingos". São campos de perder a vista, ora dominados por pasto ou por matas de cerrado arbustivo, compacto e espinhento, alem das onipresentes sempre-vivas, claro! Por conta disto, resolvemos nos manter na segurança da estradinha, embora as possibilidades de exploracao à leste/nordeste fossem tentadoras.

O caminho arenoso e repleto de borboletas se mantem inalterado, sem maiores desníveis, rasgando o cerrado plano p/ norte. E o forte sol fritando nossos miolos, sem sombra ou brisa disponiveis, duplica nosso desgaste e consumo de agua. Como não notamos presença do precioso liquido fazia tempo, nossa prioridade foi essa: achar onde repor os cantis urgentemente. Por sorte, as 17hrs, divisamos à direita da estrada (por trilho menos batido, ao longe), a casinha do Ibama q nos fora mencionada, e pra la nos dirigimos sem titubear. A casa estava em construção e c/ algum lixo ao redor, porem dispunha de água (caindo de um cano), acomodações, e ate comida. Estava trancada, mas isso não foi problema, pois com uma escada entramos pela única janela aberta, onde as meninas fizeram uso da toalette, alem de descolar suculentas bananas. Por termos a certeza de água e lugar plano, meu voto foi p/ q pernoitássemos ali, já q não sabíamos se mais adiante teriamos essas facilidades. Porem, Ronald achou o local "deprimente" demais e queria continuar a andar, mas como eu já havia convencido as meninas de não trocar certo pelo incerto, foi voto vencido; deprimente ou não, o local era prático, logisticamente falando. Ate ai o tempo tava ótimo, mas não notamos nuvens agourentas se aproximando sorrateiramente c/ os ventos do sul.

Como prevendo o q viria a seguir, as 19hrs montamos acampamento numa clareira próxima a tempo de nos protegermos da primeira forte pancada de chuva, seguida de violenta rajada de vento. Foi breve, mas suficiente p/ alagar e criar um sem-numero de goteiras no interior das barracas, alem de vinagrar a janta das meninas; não sei como, mas semi-encharcado, ilhado no interior da minha tenda consegui preparar meu miojo. Foi ai q as meninas sugeriram a possibilidade de ir dormir na casa. As coisas pareciam voltar à normalidade, c/ o chão absorvendo o rio q corria abaixo da gente e eu tentando me acomodar pra dormir onde estivesse seco. Mas foi ai q veio o tiro de misericórdia sob a forma de outra implacável tempestade. Se o local já estava alagado, agora nossa situação emulava a de um tal Noé; agua se infiltrava dentro da barraca como se tivesse uma mangueira dentro. Bem q tentei dormir "molhadinho", sobre a mochila ou sentado no isolante, mas não teve jeito. Juntei-me às meninas e fomos correndo p/ casa, tiritando de frio. Chamamos o Ronald mas ele permaneceu na barraca dele, q mais parecia boiar sobre um brejo. No interior da casa, colocamos os sacos-de-dormir sobre os colchões dos beliches e tivemos uma noite agradável e seca, enqto o forte vento se debatia nas janelas e rajadas de chuviscos varriam intermitentemente la fora.

 

AINDA PELO CAMPO DAS SEMPRE-VIVAS

Segunda amanheceu encoberto e sob fina garoa, mas mesmo assim levantamos as 6hrs p/ avaliar os estragos e tentar secar alguma coisa. Tentar, pq ainda tínhamos um cronograma de caminhada a seguir. Ventava razoavelmente, razão pela qual minha barraca não tava tao molhada conforme imaginara. Ainda assim, ao arrumar a mochila parecia q tava com mais peso do q no 1º dia. Ronald sim q tinha boa parte de pertences úmidos, e incrivelmente, conseguiu passar dormir assim; confessou q, se houvesse a possibilidade, desistia da trip. Assim, levamos nossos pertences p/ casa afim de dar um trato e, claro, tomar café na cozinha. As meninas, por sua vez, concluíram a janta da noite anterior.

Retornamos à estrada principal as 9:30; o nevoeiro se dispersara e um tímido sol nos animou, repleto de promessas. Ao longe, a bruma remanescente cobria o topo dos rochosos, numa cena digna das obras de Tolkien. Aos poucos, o caminho desvia p/ oeste, nos dando outra perspectiva dos enormes maciços e cumes q viramos o dia anterior, ao longe. Já os campos e cerrado rupestre próximos pareciam ganhar novas cores, com sua textura habilmente erodida e repleta de liquens amarelo-laranjas. De acordo o super-relogio do Ronald, estamos constatemente na linha dos 1283m de altitude.

As 11:15 o caminho se divide; pela carta e pouco q avançamos p/ checar, o trilho da esquerda continuava p/ oeste, menos batido, descendo rapidamente as escarpas p/ vale do Rio Preto e, conseqüentemente, Curimatai. Mas como nossa intenção era nos manter nos campos por mais um dia, continuamos pelo caminho principal, ou seja, pela direita e noroeste. Assim, fomos chapinhando trechos alagadiços, caminhando por trilha pedregosa e contornando afloramentos rochosos, agora na cia de irritantes moscas q se enroscavam no cabelo. Foi qdo começamos a descer suavemente ate entrar numa mata maior, e sua bem-vinda sombra serviu de pretexto p/ parada p/ lanche, as 12:30, bem do lado de um pequeno córrego q descia à direita. Aproveitamos o sol daquele horario p/ secar boa parte do q tava úmido. Foi qdo passou um senhor a cavalo, e como parecia q eu era o único homem c/ cordas vocais solicitei algumas infos; este confirmou minhas suposições, mas adiantou q o trilho pelo qual seguíamos já não daria mais em Curimatai (destino original) e sim no arraial de Pé-de-Serra, mais ao norte. Como me garantiu q la havia condução p/ Buenopolis, decidimos entao seguir ate la mesmo. Os tempos por ele fornecidos deviam estar corretos, não fosse nosso desconhecimento da região e, principalmente, do tempo gasto em perdidos, lanches, descansos e banhos, q não eram poucos.

O caminho desce ate terminar numa casa e os restos de uma caminhonete, onde um senhor de idade nos acenou gentilmente. Passado um curral, continuamos por trilhos de vaca q se dividiam, mas q logo se juntavam mais adiante. Ainda em descida, atravessamos um belo trecho de cerrado florido - repleta de arvores de galhos retorcidos e muitos arbustos salpicados de flores coloridas - ate alcançar um amplo campo, onde a nascente do largo Rio Jequitai brilha de forma convidativa. Claro q não deu outra e paramos p/ um merecido tchibum em suas águas cristalinas, as 14:30.

O trilho continua na outra margem do rio em meio a um campo forrado de sempre-vivas e canelas-de-ema, porem sentido nordeste-leste(!?), fato q não atentamos por julgar q o trilho contornasse os rochosos p/ depois continuar p/ noroeste, nosso destino. Entramos numa mata ate q o trilho desaparece num decrépito curral. Procuramos a continuação e nada. Decidi q voltassemos pelo mesmo caminho p/ procurar alguma bifurcacao q nos tivesse passado desapercebida. Dito e feito, voltamos à margem do rio e, sentido noroeste e andando pelo pasto, notamos um trilho q ia na direção de um selado no meio dos rochosos, a noroeste. Dali não tem erro, pq após o referido selado - e uma pancada breve de chuva - a trilha passa a bordejar pela direita as encostas de pasto alagadiças da morraria, sentido norte, ora atravessando alguns focos de mata ou cruzando com pequenos córregos. Sempre com forte sol da tarde esbofeteando nosso rosto.

As 17:30 alcançamos um pequeno gramado, seguido de uma porteirona e dois rios seguidos (q depois ficaria sabendo se chamarem oportunamente "Dois Córregos"), onde decidi q pernoitassemos, principalmente pela presença de nuvens escuras se aproximando ao norte. Como desta vez não dispúnhamos de uma casa, a prioridade era montar as barracas em lugar apropriado e seco, e ali parecia ser o lugar ideal. Felizmente, a pancada de chuva fora breve limitando-se a uma só. O único senão fica por conta dos mosquitos (inclusive abelhas!), q ao anoitecer enlouquecem, parecendo praga biblica. Preparamos a janta e logo depois deitamos, exaustos daquele dia. À noite dei uma espiada la fora e vi o ceu quase limpo, pontilhado de muitas estrelas. Dose foi depois ter de dormir ouvindo o zumbido de malditos pernilongos no ouvido, alem de me retorcer por conta do pescoço queimado e lábios rachados pelo sol.

 

CHEGANDO EM PÉ-DE-SERRA

A manha seguinte levantamos cedo, e logo q o sol toca as barracas as gotas da fina garoa noturna se desfazem. Depois de um café sem pressa e o equipo engolido pelas mochilas, partimos pontualmente as 8:15. Saltando de pedra em pedra o rio, a trilha continua na outra margem em meio ao cerradao rupestre. Enormes cupinzeiros se acomodam ora sobre rochas c/ cactos, ora a meio caule nas arvores afim de se proteger das eventuais queimadas q devem ocorrer naquela região agreste, naturais ou não. Carcarás e gaviões singram o ceu azul despreocupadamente enqto vamos perdendo imperceptivelmente altitude.

As 9hrs chegamos num curral vazio, seguido de duas casas mergulhadas na sombra de frondosas mangueiras (sem fruto). A trilha desce ate novo rio, q atravessamos com água na altura da coxa, e continua do outro lado por um largo descampado, p/ subir outra vez novo selado atraves de lajedos q servem de degraus naturais. Do selado vamos perdendo outra vez altitude em meio a breves trechos de mata fechada grudenta, acompanhando as nascentes de um corrego. Foi aqui q encontramos Seu Alves, q montado e fumando seu cigarrinho de palha, subia a serra pra buscar cavalos e nos confirmou estarmos na direção certa. A presença de uma espingarda no seu ombro nos causou certa apreensão, mas relaxamos depois ao saber q ele so a carregava por forca do habito, sem munição. Mesmo assim, a Gi já ia dar sermão nele caso mencionasse estar caçando.

Continuamos descendo suavemente, acompanhados pelo rio, atravessando pastos alagadiços ou trechos pedregosos de fundas valas, ate adentrar na mata fechada. As 11:30 fizemos uma parada p/ lanche e banho, às margens do rio Curumataizinho, q descia a serra na forma de numeras corredeiras, poços e cachus. Aqui constatamos varias coisas: a presença de enormes carrapatos, q a bota da Fran rasgara na lateral, q eu tava ralado no tornozelo, q a Gi tava com bolhas e q mta roupa suja devia ser lavada. Feitas as devidas "gambearras" retomamos a pernada serra abaixo, sempre acompanhando o rio.

O Ronald tava apressado e se adiantou, seguido da Fran e a Gi. Eu cabei voltando na cia do Seu Alves, c/ quem tive longa prosa enqto percorríamos um trecho da trilha com calçamento colonial, similar aos da Bocaina. Me contou dos "letreiros antigos" (pinturas rupestres) da regiao, da presença de onças nos campos (daí a razão dos currais estarem sempre vazios), de seu pavor de cobras, de uma planta fulminante só de se cheirar (uma tal de "erva de rato"), entre outros causos. Gentil e hospitaleiro, pediu q o seguíssemos ate sua casa, no pé da serra. Contudo, o calor daquele horario fez com q parássemos novamente p/ nos refrescar noutra das muitas cachus do Curumataizinho. A Fran, cansada, acompanhou Seu Alves serra abaixo. Afinal, sua casa não deveria estar longe dada a presença de varios canos de captação.

Retomamos a caminhada e damos de cara com uma trifurcação. E agora, qual a Fran tomou? Seguindo as pegadas aparentemente dela, tomamos a trilha de areia clara da esquerda (após checar a da direita e desprezar a do meio, q tinha uma cerca de arame). Francamente, eu estava preocupado (e meio puto) pq não deveríamos ter nos separado, pq se for pra nos perder, q fosse ao menos juntos. De qq maneira, sabíamos q ela tava com Seu Alves e por ele deveríamos buscar. Pois bem, a trilha cruzou o rio p/ margem esquerda e se afastou do mesmo, descendo por picada pedregosa e seca, ate q alcançamos o fundo do vale, ou seja, os limites rurais do "sertão" de Pé-de-Serra, as 15hrs. Nos dirigimos às casas próximas onde tive a informação da moradia de Seu Alves, e tivemos q dar uma volta enorme sob forte sol da tarde, passar uma estrada de terra e varias porteiras ate chegar num sitio, onde o Curumataizinho despencava na forma de uma bela e enorme cachu, q por sinal se chama Pé-de-Serra. Do lado, a casa do Seu Alves onde a Fran nos aguardava. Tava resoluto a dar bronca, mas isso foi impossível c/ o doce de pessoa q é, mesmo ela alegando q deixara marcação pra nós, provavelmente ensinada pelo "Manual do Escoteiro-Mirim" já q ninguém viu..

Together again, fomos dar um mergulho refrescante na imponente cachu enqto Seu Alves ficou de ver um veiculo c/ o cunhado p/ Buenopolis. Na seqüência, a tradicional hospitalidade de sua enorme familia fez questão de q almoçássemos fabulosa comida mineira caseira, e so não limpei a panela do frango caipira pq esquecera meu óleo-de-peroba em casa. A casa era simples porém de rusticidade acolhedora, com bichanos, cães esquálidos, galinhas e patos convivendo harmonicamente, tanto q tinham livre aceso as dependências da casa. "Animal Farm" rules!! Entre goles de leite fresquinho, Seu Alves nos conta causos e mais causos, inclusive de sua estadia no Iraque(!?). O proprio sugeriu q pernoitássemos ali mesmo e q amanha tomássemos um bus local p/ Buenópolis, ideia q eu adorei, principalmente c/ a possibilidade de tomar mais da pinga de alambique q ele me dera a bebericar. Eita trem bão, sô! Entretanto, o resto tava impaciente em conseguir condução ate BH ainda naquela noite, e acertamos o preço de R$80 pela carona ate Buenópolis naquele final de tarde.

 

A SEPARACAO NA VOLTA

Nos despedimos de Seu Alves e sua família, as 17hrs, seguindo por poeirenta estrada e logo depois por um asfalto de dar inveja a qq queijo suíço. Chegamos em Buenopolis hora e pouco depois, apenas p/ saber q a agencia da Gontijo fechava as 16hrs, ou seja, nenhum ônibus pararia ali naquele dia. Ainda havia a remota esperança de outro bus p/ BH, pela Transnorte, parasse no trevo q dá aceso a cidade. No entanto, as infos desencontradas qto esse horario fez com ficássemos prostrados varias horas ali, feitos joão-bobo de psto de gasolina. Péssima ideia ter ido pra Buenopolis! E q saudades da branquinha.. Sem falar no barulho de axé audivel de longe, e na eventual zona de alguma molecada (e algum traveco, q deve ofertar como ninguém o famoso"redondo"mineiro) se preparando pra ultima noite de folia. Resumindo, Ronald foi o primeiro a debandar p/ buscar pouso, logo ele q suportou bravamente um diluvio, se dobrou tao facilmente às facilidade de uma pousada. Eu ainda permaneci mais 2hrs c/ as meninas, inutilmente, ate q as mesmas desceram, insistindo q as acompanhasse p/ alguma pousada. É ruim, hein? Eu já tava de olho no pasto atrás do posto-rodoviaria, e alem disso eu não carrego barraca à toa. Aquela cidade interiorana era segura, ainda mais p/ quem já acampou ate em cemitério. Quase 22:30hrs e morrendo de sono, não acampei onde queria (tava ocupado por caminhoneiros) e me dirigi do outro lado do asfalto, onde subindo um pouco havia um discreto campo de futebol, longe da bagunça. Montei a barraca e capotei, apenas p/ perder a noite mais estrelada da trip. Alguns cães vieram incomodar à noite, mas nada q duas pedradas certeiras não resolvessem.

Na quarta-feira de cinzas acordei as 5hrs, arrumei td e fui tomar café na padoca diante do posto. Na seqüência encontrei o Ronald e as meninas no referido trevo. Assim q o guichê da Gontijo abriu estudamos as possibilidades de retorno. Ate q finalmente apareceu o bus p/ BH da Transnorte, porem precisava de passagem antecipadamente, daí tivemos q esperar ele sair da cidade p/ ver se sobrava alguma vaga. Impaciente, preferi garantir a minha pela Gontijo no das 16hrs direto p/ SP. As meninas tiveram mais sorte, pq o Transnorte passou apenas com 2 vagas, justamente p/ elas, as 9hrs. Ronald queria pq queria tb chegar cedo, e tomou um bus p/ Curvelo logo depois, na esperança de abreviar distancias. E fiquei ali pelo resto do dia. Deixei a mochila no guichê e fui dar um rolê pela verdejante serra do lado, e em hora e meia, alcancei as torres de telefonia celular do alto e de onde se tem uma vista linda da cidade. Retornei no mesmo tempo, me entretendo com os ringtones do celular. Passeei pela simpática cidade ate estacionar de vez num boteco, no calor infernal do meio-dia, onde enchi a cara, comi alguma coisa e conversei com algumas locais. La pelas 14:30 voltei à rodoviária onde tomei uma boa ducha e comprei mantimentos p/ viagem. Parti pontualmente as 16hrs e o motora pisou fundo, pois as 20hrs já estávamos em BH, onde encontrei os farofeiros da ida, q felizmente estavam noutro bus. Cheguei em SP as 5hrs da manha sgte.

 

Pra quem se dispõe a conhecer lugares pouco explorados, mesmo q tenha q vencer gdes distancias, este outro Espinhaço reserva momentos inesquecíveis, ainda mais qdo é uma empreitada pioneira q certamente oferece muitas outras possibilidades futuras de reconhecimento. Agora, com td este previo know-how entregamos a aventura em suas mãos. Ou pés, como preferir, pq seja de exploracao ou não, as impressões desta serra mineira se mantem tal qual suas ilustres plantinhas, ou seja, sempre-vivas.

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