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Torre da Prata... a pé!


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http://jorgebeer.multiply.com/photos/album/133/Torre_da_Prata

 

 

ESCALAMINHANDO A TORRE DA PRATA

Montanhismo no Paraná é sinônimo de “Pepê” ou Marumbi, certo? Exato. Contudo, os cumes paranaenses vão além das possibilidades q a cordilheira do Ibitiraquire oferecem ou às limitações restritivas q a Serra da Marumbi permitem. Próxima de Morretes, uma outra cadeia desgarrada eleva-se da planície numa imponente pirâmide de 1500m q se destaca do resto da Serra do Mar. Estamos falando da Serra da Prata, cujo pto culminante, a Torre da Prata, é alcançado após árdua caminhada através de 3 biomas distintos: planície litorânea, mata intermediaria e cpos de altitude. Uma pernada legitimamente selvagem, árdua pelo desnível abrupto e pouco frequentada numa montanha conquistada tardiamente, apenas 3 anos após a q cunhou o “Pepê” como pto culminante do sul do país.

 

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A manhã estava bem promissora enqto rasgávamos o asfalto da BR-277 rumo Morretes. Janelas azuis num céu acizentado esboçavam um sorriso animador no quarteto q se espremia no veículo juntamente com 4 pesadas cargueiras. Colocando as fofocas e causos em dia, reencontrava gdes amigos como o montanhista e editor do site “altamontanha.com”, Julio Fiori, e os fotógrafos Paulo Marinho e Zig Koch. Oportuna ocasião esta q não podia deixar de ser numa montanha selvagem e pouco visada, no caso, a Torre da Prata, q alias foi um dos últimos gdes desafios de cume daquele estado.

Situada na serra do mesmo nome, a Torre da Prata ganhou tal alcunha em virtude do metal q, dizem as antigas lendas, foi supostamente visto brilhando em suas encostas gerando uma efêmera (e infrutífera) garimpagem pelos seus contrafortes forrados de verdejante Mata Atlântica. Saliente da cordilheira serrana, a destacada posição da montanha serviu tanto de marco de referencia aos navegantes como limite natural das fronteiras municipais. Foi inclusive uma das ultimas gdes montanhas paranaenses a ser conquistada, fato q so ocorreu em 1944 pela dupla Gavião & Canguru, respectivamente Waldemar Buecken & Antonio Setengel Cavalcante. E qual minha surpresa ao ser informado q este último era nada mais nada menos q o pai do Zig, integrante do nosso intrépido quarteto!

 

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Pois bem, após um tempo rodando as 7:30hrs deixamos o asfalto em favor de uma larga estrada de terra assinalada por uma decrépita borracharia logo em sua entrada, q alias era a segunda de Morretes. Estávamos na sinuosa “Estrada da Limeira” serpenteando tanto pequenos sítios como extensas plantações de xuxu, de onde já podíamos avistar o pico q visávamos apontando prum céu repleto de névoas incertas, destoando de td cadeia serrana ao redor.

Após meia hora de sacolejo e comendo mta poeira, uma placa nos dá as boas vindas ao bairro rural de Morro Alto, q se limita a algumas poucas chácaras espalhadas ao longo da estrada. Após cruzar o rio q dá nome ao bairro, estacionamos o veiculo num pequeno e simplório sitio, cujo caseiro, o simpático Josias, já conhece o Fiori de outras andanças pela região. A estrada de terra, por sua vez, segue em frente e atravessa a tb serra ate encontrar o Rio Canasvieiras, pra desembocar em Garuva passando pelas costas da não menos imponente Pedra Branca de Araraquara, espécie de Pico do Frade paranaense q será tema de outro relato dentro de breve.

Após ajeitar as cargueiras nos ombros, passar mto repelente pois os mosquitos estavam impossíveis, e distribuir balas q deixam a criançada do sitio com os olhinhos brilhando, iniciamos a pernada propriamente dita após as 8hrs. O altímetro do Zig marca exatos 74m de altitude. Andamos um pouco pela estrada ate mergulhar num estreito aceiro à esquerda q nos leva às margens do borbulhante Rio Morro Alto, q cruzamos cuidadosamente saltando de pedra em pedra. O aceiro logo cede lugar a uma larga trilha q bordeja uma pequena plantação de bananeiras, passa do lado uma casa bem simples da qual não há sinal de seus ocupantes, e mergulha em definitivo na mata fresca e úmida em direção ao sopé da serra.

 

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Este trecho inicial é bem desimpedido pois a variação de altitude é imperceptível tornando a subida bastante agradável, embalada o tempo td pelo canto metálico das arapongas e o chiado estridente de coléricas maritacas. A vegetação à nossa volta aumenta de tamanho consideravelmente e logo somos brindados por belos e imponentes exemplares de árvores enormes, gigantes da floresta q evocam imediatamente o filme “Avatar”. Este trecho inicial de trilha bem larga e cênica é chamado de “Picadão do Burro”, só não me pergunte o motivo.

Após galgar suavemente uma evidente crista, com mato caindo de ambos lados, a pernada nivela por um tempo até embicar de vez, subindo forte e fazendo escorrer os primeiros filetes de suor pelo rosto. Algumas paradas pra recuperar o fôlego são necessárias, mas estas são breves pois os pernilongos não permitem pausas mais prolongadas. Algumas bifurcações surgem mas basta se manter na principal, sempre. Neste trecho pirambeiro o Zig & Paulo distanciam-se da gente, uma vez q ambos estavam sem trilhar já a um bom tempo e portanto, descondicionados. Mas não há pressa alguma, uma vez q tínhamos o dia td pra ganhar o alto da serra.

No caminho, Fiori me informa q há mto palmiteiro e caçador por essas bandas, daí a abundâcia de picadas q derivam da trilha principal. Isso torna qq aventura por ali tb um tanto perigosa. Em tempo, a Serra da Prata é uma das tantas inseridas numa enorme unidade de conservação q atende pelo nome de Parque Nacional Saint Hilaire Lange, q atualmente passa por um plano de manejo. O parque é recente (tem apenas dez anos) e, homenageando um ilustre naturalista francês e um biólogo ambientalista paranaense, foi criado justamente pra proteger essa vasta região dessas mãos espoliadoras ou oportunistas desse tipo de gente.

 

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As 9:38 a picada nos leva às margens de um bem-vindo e oportuno riachinho na cota dos 426m, onde nos presenteamos com uma breve parada pra descansar, molhar a goela e mastigar um lanche. Daqui a trilha sugere cruzarmos ao outro lado do ribeirão e prosseguir pela mesma. Mas seguindo rio acima dariamos na chamada “Trilha da Ambulancia”, muito importante durante a Segunda Guerra, q por sua vez desemboca na comunidade do Rio Sagrado aos pés da Serra da Igreja (hj atravessada pela rodovia Curitiba-Guaratuba, isto é, a BR-277). Ao invés disso, buscamos marcações de fitas em meio a mata próximo de onde viemos até encontrar vestígios de uma discreta picada q ganha imediatamente uma nova crista, desviando radicalmente da vereda principal. E tome subida pirambeira montanha acima novamente!

Na cota dos 600m alcançamos uma pequena clareira onde um tronco tombado, oriundo do q parece ser o q restou de alguma antiga construção, pode servir de banco providencial pra retomar o fôlego, as 11hrs. Mas ai é q a subida aperta de fato e nos distancia uns dos outros, cada um seguindo seu próprio ritmo. Escalando raízes e nos firmando na mata em volta, vamos ganhando sucessivos ombros serranos em meio a densa vegetação, atravessando inclusive uma crista repleta de bambu seco q filtra tanto os poucos raios do sol q invadem a picada como permite algum vento soprar nossos rostos suados.

 

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Mas td q é difícil so tende a piorar. Não bastasse escalar raízes consecutivamente segue-se uma árdua escalaminhada em meio a enormes blocos de rochas desmoronadas q so duplicam nosso consumo de água. Raizes e troncos ganham a função de “corda” ou “escada”neste trecho quase vertical, q demanda tanto fôlego como cautela com limo depositado nas rochas. O fato é neste interminável e vagaroso trecho ganhamos altitude num piscar de olhos, pois o altímetro já marca a proximidade dos mil metros! Uma breve fresta na vegetação permite apenas constatar o obvio: estamos já no meio das nuvens, e uma nebulosidade clara toma conta do firmamento permitindo apenas visibilidade dos verdejantes e abruptos contrafortes serranos próximos do entorno. Nada mais.

Após o penoso trecho vertical e uma suave (e breve) crista ascendente, emergimos no aberto pra escalar o restante através de vocorocas de espessos arbustos q tipificam os campos de altitude e agora servem de corrimão. Visu q é bom nada, uma vez q nos encontramos no miolo das nuvens. Após ganhar de fato a crista da Serra da Prata, bordejar uma íngreme encosta e descer ate um colo serrano através de escadas de ferro fincadas na rocha, as 13:30 damos num selado q separa as montanhas daquela escarpada crista. Estamos a 1365m, já bem próximos do cume, mas o melhor é q aquele colo serrano tem água farta traduzida num bem-vindo córrego cristalino entre os rochedos. Pausa pra descanso e pra encher os cantis, claro.

 

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O ultimo trecho foi vencido em meio a um espesso e úmido nevoeiro, onde serpenteamos o restante da escarpada crista enxugando a espessa mata arbustiva ao redor. Mas após ladear a base de um enorme paredão e escalaminhar uma estreita fenda entre imponentes muralhas, eis q finalmente fincamos os pés nos 1496m do alto da Torre da Prata, as 15hrs!! Uma pequena clareira cercada pelo q resta dos paredões, alguma mata alta e uma enorme greta acomoda nossas 3 barracas de forma apertada. Do lado, escadas fincadas na rocha vertical nos levam ao topo efetivo do pico, 4m acima da oportuna clareira. Infelizmente nada se vê agora, pois uma chuva fina teimava em corromper a espetacular vista q dizem se tem dali. O conforto era saber q ali tempo bom é algo raro, tanto é q as redondezas estão repletas de aviões q se estatelam naqueles contrafortes, surpreendidos pelo maciço q se eleva ali de forma abrupta e súbita. Dane-se. Estávamos no cume da Serra da Prata. Isso já basta.

A adrenalina baixou no sangue e não tardou a nossos corpos molhados sentirem frio, nos obrigando a trajar anorakes imediatamente. O vento forte se encarrega de aumentar a sensação térmica e nos entocamos imediatamente na barraca, atrás de aconchegante conforto. A umidade é de 87,9% e a temperatura beira os 8 graus, segundo os medidores do Zig. O resto do dia ficamos à toa, jogados naquele ócio mais q justificado conversando, comendo e torcendo pro tempo melhorar no dia sgte. Mas assim q jantamos e o manto negro da noite nos envolveu em definitivo desmaiamos em nossos respectivos e acolhedores casulos de poleiéster, q nunca foram tão aconchegantes como naquela ocasião. Como era de se supor, chovera a noite toda e a trambolho q chamo de barraca permitiu algumas infiltrações q umedeceram meu saco de dormir. Dane-se, vedei os pés com sacolas de supermercado, me cobri com um plástico e continuei dormindo numa boa, ilhado dentro da minha própria tenda. Afinal era apenas uma noite de perrengue totalmente suportável.

 

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A manhã sgte levantamos em meio a brumas incertas por volta das 7hrs. A temperatura beirava os 4 graus envolta numa umidade relativa de 96%. E nada melhor q um capuccino comunitário pra esquentar os ânimos e regar nosso desjejum naquele inicio de dia. Estavamos tds ok, á exceção do Paulo e do Zig, q sentiam o corpo td moído, principalmente o joelho. Na sequencia fomos pra pedra do cume esperar a generosidade de São Pedro, q por um breve e efêmero momento nos deu um quinhão de sua bondade. Uma paisagem deslumbrante composta por ilhas, baias e o oceano, onde verdejantes e abruptos contrafortes serranos contrastam com a horizontalidade do azul do mar. Praia do Leste, Matinhos, Paranaguá e tantas outras localidades são apreciadas ate onde a vista alcança, assim como a proximidade da Serra da Igreja e a Pedra do Urubu rompem a plano emergindo da cordilheira, quase ao lado.

Após assinar o livro de cume arrumamos nossas tralhas úmidas e pusemo-nos a andar, as 8:20. Voltamos satisfeitos através do mesmo caminho q como não devia deixar de ser nos tomou menos tempo q a subida, ainda envoltos por denso, úmido e espesso nevoeiro. Mesmo prestando atenção redobrada por conta da umidade q deixou os trechos pedregosos, o emaranhado de raizes e de terra lisos feito sabão, atingimos o primeiro riachinho as 11:45, agora com o Astro-Rei ameaçando dar as caras. Acompanhando a ultima sinalização de fitas, finalmente chegamos aos veículos as 13hrs, pra deleite dos mosquitos-pólvora q parecem farejar de longe sangue novo e fresco. E pra encerrar a bem-sucedida empreitada, não podíamos deixar de passar em Morretes, apinhada de gente devido ao feriado, as 15hrs, e mandar ver deliciosos sucos e cervejas pra acompanhar o prato típico da região, o suculento “barreado” q nunca desceu tão gostoso goela abaixo.

 

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Dessa forma espetacular foi concluída a ascenção à selvagem e pouco conhecida Torre da Prata. Desnecessário mencionar q refazer uma das ultimas conquistas de montanha do estado na cia de um dos descendentes da mesma realmente é algo singular, q confere a este simplória empreitada um charme mais q especial, sem duvida. E se antes era a prata q atraia oportunistas aos contrafortes deste gigante q vigia a costa Atlântica e a planície de Paranaguá, agora ele atrai caçadores e palmiteiros, como tb audaciosos montanhistas q visam somente alcançar seu tão almejado topo. Aos primeiros vale lembrar q agora a região tem a proteção de um parque nacional q a acolhe. Aos segundos fica a dica deste fantástico maciço q não deve em nada aos mais conhecidos do estado, e q agora reluz como novo destino a olhos montanheiros. Tal qual a suposta prata q brilhava por suas escarpadas encostas.

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  • Membros de Honra

Salve Jorge!!!!

 

"...Uma paisagem deslumbrante composta por ilhas, baias e o oceano, onde verdejantes e abruptos contrafortes serranos contrastam com a horizontalidade do azul do mar..."

 

Esta é a grande recompensa dos montanhistas! Fantástica empreitada!!!!

Parabéns !!! ::otemo::

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  • 5 semanas depois...
  • Membros de Honra

Grande Jorge!

 

Que final poético para o relato de uma trip show de bola hein!? E a companhia então!? Só gente de alto quilate, incluindo você...

E como é de praxe, não pode faltar um perrenguezinho para dar uma temperada (infiltração na barraca :mrgreen: ).

Abraço e boas trilhas!

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