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Ponta da Juatinga (Travessia Paraty-Trindade)


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  • Membros de Honra

Vou colocar esse relato na tentativa de dar algumas informações para quem vai fazer a travessia ou parte dela. Tenho recebido muito e-mail e contatos no orkut de pessoas ávidas por informações sobre a Juatinga, então vai lá..um ano depois da travessia é o que ficou na memória:

 

 

Ponta da Juatinga - 28 a 30 de dezembro de 2008

 

No apagar das luzes de 2008, saímos de Botucatu pela Vale do Tietê em 27/12/2008 rumo a S. Paulo, Já com passagem comprada pela internet para Paraty pelas Reunidas Paulista.

A compra dessas foi um parto. Tive que ficar umas duas horas e meia on line esperando a possibilidade de um ônibus extra pois devido ao final de ano, não havia mais passagens..nem mesmo nos diversos carros extras já disponibilizados pela Reunidas.

 

Chegamos em Paraty umas 4 da manhã, fomos ao centro da cidade e ficamos num barzinho, tomamos lanche e refrigerantes...em meio a um pessoal que já estava curtindo a noite regada a muito álcool.

 

Logo que o dia clareou fomos ao Píer no intuito de procurar uma embarcação que nos levasse ao Pouso da Cajaíba.

Andamos um pouco e passou por nós um Gol, e a acompanhante nos perguntou se íamos para a Cajaíba. Confirmamos e ela nos apontou onde estaria o barco deles.

 

Fomos até lá. Trinta Reais por pessoa, descemos as mochilas e ficamos esperando o barco encher. Por ora era eu, minha companheira de viagem e mais três moças. Demorou...mas a embarcação encheu e partimos.

 

Duas horas de barco. Um visual maravilhoso. Hotéis em ilhas. Praias desertas. Paraíso. Adormeci e só acordei já chegando no Pouso da Cajaíba. A chegada é linda. Uma pequenina praia. Com casebres coloridos “enfiados” no pé da montanha.

 

Descemos, almoçamos e fomos procurar a trilha. Ela inicia-se na ponta esquerda da praia (de quem olha do mar para o continente). Não tem como errar. Sai por trás de um barzinho.

 

Uma subidinha nada radical (leve) e depois fica mais suave ainda. Nessa parte suave da subida havia uma bifurcação que por incrível que pareça, mas o caminho errado estava mais “batido” que o correto, e por ele seguimos cerca de uma hora. E a trilha ficou mais radical do que prevíamos pelos relatos já lidos. Encontramos mais pessoas “perdidas” por ali e tomamos a decisão de voltar.

 

Ao tomar o caminho certo, logo estávamos em Martins de Sá. Montamos acampamento e conhecemos um grupo que pretendia seguir na manhã seguinte até a Ponta Negra. Eram umas 8 pessoas. Metade queria seguir a trilha e metade ir de barco. Foram de barco.

 

Fomos conhecer a praia, tomamos um banho gelado, conhecemos o seu Maneco e ainda ganhamos um café, passado no coador por sua mãe de mais de 100 anos. Uma senhorinha bem magrinha, quietinha, tímida, mas muito simpática.

 

O Maneco também é uma simpatia de pessoa.Deu-nos orientações sobre o caminho até a Ponta Negra, contou histórias sobre seu camping, sobre seu filho que é barqueiro em Paraty.

Ele comentou que tem pessoas querendo “levar o asfalto” e energia até lá. Ele é radicalmente contra. Pudera. Tinha mais de 200 barracas em seu camping. Como a praia tem pequena extensão, ele é o “dono da praia”. Daí que as pessoas dizem “o único morador”.

Na verdade ele tem uma grande estrutura ali. Trabalha ele, o filho, o genro, enfim a família toda e ainda tem gente contratada.

 

Fizemos uma janta no fogareiro e nos recolhemos cedo para continuar a caminhada logo pela manhã seguinte.

Antes de dormirmos, chegou um grupo do Rio de Janeiro de umas 6 pessoas, entre elas uma grávida de uns 6 meses que também tomaram o caminho errado na bifurcação.

 

Essa criança deve ter nascido já com mochila nas costas. Aventureira nata.

 

Na manhã seguinte tomamos um café, desmontamos acampamento e pouco antes de sair, um caiçara, que trabalha pro Maneco me aconselhou a tomar muito cuidado com cobras. Contou que uma vez uma Jararaca grudou na sola da bota dele ao passar uma das cachoeiras do caminho.

 

Não precisa falar duas vezes...olho vivo na mata é tudo.

 

Nesse segundo dia de travessia a trilha é dentro da Mata Atlântica - bem mais fechada.

Passamos pelas duas cachoeiras, ao passar a segunda, uma família de moradores que passava por ali nos orientou a pegar a direita logo adiante. Errado. Percorremos uns 40 minutos e voltamos. Seguimos em frente.

 

Essa caminhada, como já relatei, é basicamente dentro da mata atlântica. Quase não se vê o mar. Somente a Praia do Cairuçu é que está mais próxima da trilha, e mesmo assim não precisa descer nela. A não ser que queira brincar na água.

 

Alí tem alguns moradores próximo ao mar. Mas mais acima, à direita da trilha tem um morador que nos orientou como seguir em frente. A trilha termina numa mata. À direita é a casa desse morador (no relato do Jorge Soto ele comenta o nome desse caiçara que vive ali sozinho e faz trabalhos artesanais que os pescadores levam até as vilas para vender). À esquerda desce para a praia. Mas logo no início da descida tem uma bifurcação à direita é por ali que segue para a Ponta Negra.

 

De novo, enfia-se na Mata Atlântica e dessa vez tem que vencer os 560m do morro do Cairuçu. É subida pra ninguém botar defeito, perfeita para testar seus joelhos.

 

No meio da subida tirei com o bastão de caminhada uma Jararaca que veio afoita em direção ao pé da minha companheira. E tome subida. Quase no topo encontramos um rapaz que vinha sentido contrario. Ia para Martins brincar de Surf. A prancha ele tinha deixado lá. Sem mochila e sem peso, estava quase que correndo na trilha.

 

Finalmente chegamos ao topo. Não dá pra avistar a praia, só o mar- que imensidão. Tomamos um fôlego e continuamos. Agora só descida. Aos poucos a trilha vai se abrindo, ficando menos estreita e vamos percebendo a presença humana.

Chegamos em uma pequena vila. A Ponta Negra.

 

Pedimos orientação de como chegar ao mar e seguimos. Quase chegando, avistamos um casebre com roupas no varal, uma enorme pedra no quintal com duas gigantecas cobras tomando sol. Avisamos um adolecente que passava por ali e fomos até o mar.

 

Pela altimetria do GPS dá para ver que seja no sentido Cajaíba- Laranjeiras ou contrario o morro do Cairuçú é um sino. O grau de dificuldade é o mesmo.

 

Ficamos no acampamento de uma tiazinha.( Esqueci o nome dela. Relatar um ano depois dá nisso). Montamos acampamento tomamos um banho e fomos comer algo nos pequenos bares que tem na praia, à luz de velas.

 

Comi uma porção de calabresa e minha companheira uma porção de lula. Isso tirou um pouco o sossego. Ela não conseguiu terminar a porção. A boca começou a ficar “estranha” e a garganta fechar. Por sorte ela teve os sintomas rapidamente e parou de comer. Alergia a frutos do mar não escolhe restaurante ao lado de hospital para se manifestar. Poderíamos ter tido problema sério ali. De Barco até Paraty creio que levaríamos umas 4 horas. Isso depois de achar alguém disposto a socorrer à noite, numa situação de emergência. Fica a lição.

 

 

Na manhã seguinte seguimos sentido Laranjeiras. As praias são lindas.

Em várias delas, em pleno 30 de dezembro somente estávamos nós dois. Nesse percurso tivemos contato com uma Surucucu. Essa cobra é extremamente perigosa. Detecta um décimo de grau célsius – ou seja - um piscar de olhos. Estava atravessada no meio da trilha tomando sol. Eram umas 9:00 da manhã. Horário propício para encontrá-las em áreas mais abertas.

Há uma distância de pouco menos de 20 metros ela “antenou” na gente e armou o “bote”. Voltamos, saímos da visão dela e demos um tempo para ela tomar seu sol matinal e sair da trilha. Passados uns 15 minutos grupo veio sentido contrário fazendo muito barulho e ela saiu do caminho. Seguimos viagem alertando algumas pessoas que cruzaram por nós.

Chegando ao Sono, a visão é fantástica. Um morro de uns 80m de altitude com decida bem íngreme permite uma visão paradisíaca daquele lugar – lotado. Muita gente. A trilha de laranjeiras ao sono é curta e simples. Essa praia virou point.

 

Tomamos um guaraná em uma barraquinha e seguimos. Cruzamos com muita gente que seguia para o Sono para passar o Reveillon. Sinceramente, parecia não caber tantas pessoas naquele pedaço de terra.

No Sono tem diversos Campings e casas para alugar – que deve ser reservada com boa antecedência.

 

Em Laranjeiras pegamos um ônibus até Paraty. Descer em Paraty e ver aquela multidão foi até estranho, para quem tinha passado por praias desertas horas antes.

 

Às 16:40, pegamos o ônibus sentido São Paulo. Que novela. O motorista estilo Militar se indispôs com diversos passageiros, até com uma velhinha que não tinha colocado o Estado de origem de seu RG no verso da passagem. Mas o Leão chegou um gatinho assustado no Terminal do Tietê. Na subida da Tamoios perdeu o controle do carro e caiu na canaleta de escoamento de água pluvial. Perdemos horas até tirar a viatura daí e depois consertar pra poder seguir viagem.

 

Algumas considerações sobre a travessia:

 

• Poucas pessoas fazem a travessia completa. Muita gente faz Cajaíba – Martins ou Laranjeiras – Sono.

 

• Dá pra fazer em dois dias. Mas pra curtir sã necessários 3 dias (ou mais).

 

• O Morro do Cairuçú tem o mesmo grau de dificuldade em qualquer sentido (vide altimetria do GPS)

 

• Não é necessário levar comida/fogareiro.

 

• Água abundante durante toda a travessia.

 

• Pegar o ônibus para Paraty é simples. A trilha termina em uma mini-praça. É de lá que sai o ônibus.

 

• Para quem pretende fazer em dois dias, dependendo da logística na região da Praia do Cairuçú é possível montar acampamento.

 

• Na Ponta Negra, e no Sono tem acomodações (quartos e casas) para alugar, mas precisa reservar com bastante antecedência.

 

• Lembre-se que tudo chega até as vilas de barco. Portanto o preço de uma latinha de refrigerante por exemplo tem embutido a viagem dela e a viagem do gelo que navegou algumas horas para chegar até ali.

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  • Membros de Honra

Ponta da Joatinga é uma travessia maravilhosa. Pretendo voltar lá pra fazer ela completa ainda,. mas só o percurso Laranjeiras-Sono-Ponta Negra-Martins de Sá - Pouso de Cajaiba já é fantastico. Alias, só vi vantagem de fazer o percurso nesse sentido.. terminar a pernada esfomeado e poder degustar uma deliciosa porçao de peixe beeem maior do que a minha fome na Praia do Pouso não tem preço hehehe

 

E aquela subida do morro do Caiaçuru é pra expurgar pecado. Se alguem resolver encarar essa travessia sem qualquer preparo físico, para programar o tempo bem, o conselho é saia cedo, seja de Martins de Sá ou de Ponta Negra. Com um bom preparo, dá pra fazer essa travessia em 4~5h. Como tínhamos uma "tartaruga" em nosso grupo, levamos 4h só pra transpor o morro...

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  • Membros de Honra

Encontrar cobras é o preço de se fazer trilha na mata atlântica no verão. Mas.. numa ilha, ir no inverno não é convidativo, né? Então é manter o olho vivo, porque topar com os bihinhos nem sempre é agradável, como mostrou a Surucucu (abraço, sogra!). E esta Jararaca? Veio em direção à tua companheira, é? Atitude estranha...

E o susto na viagem, sem maiores complicações? ::toma::

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  • Membros de Honra

Grande Cacius....

 

É..a questão da cobra é inevitável. Eu sempre vejo...olho de mateiro...rs.

 

Foi estranhissimo o comportamento da Jararaca...era um filhote..medio. estavamos subindo o morro do Cairuçu e ela descendo...e veio direto...com a ponta do bastão tirei ela da trilha....o mais engraçado..rs a menina nem percebeu..nem viu eu tirando...rs

Ah. acabei comprando o "Serpentes da Mata Atlântica". Ajuda muito a entender esses animais.....Mas vc vê. O comportamento dessa jararaca destoa. rs

 

O susto do Busão foi só susto mesmo.Graças a Deus. Susto e horas paradas ..rs

 

Abração

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  • 6 anos depois...
  • Membros

Muito bom o relato, ja usei um terço desta rota, indo para cachueira saco bravo... e também avistei cobras..

 

Detalhe, fiz a trilha de chinelo, com uma garrafinha de agua e 7 reais no bolso.. estava acampado na praia do sono, fui até praia dos antiguinhos e de lá encontrei uma galera indo para cachu

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