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Senegal e Gâmbia (fevereiro/2017): Saint-Louis, Dakar, Mbour, Toubakouta, Delta du Saloun, Kotu, Tanji & Abuko


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Parte 1

 

Olá pessoas, estou fazendo um intercâmbio acadêmico no Marrocos e, aproveitando que estava bem pertinho, resolvi viajar pro Senegal e Gâmbia nas minhas férias em fevereiro. Você também pode acompanhar os meus relatos no meu blog:

 

https://danirodando.wordpress.com/

 

O Senegal é um país do oeste africano, entre a Guiné-Bissau, Mali, Mauritânia. Quando eu contava pros meus amigos e conhecidos que ia pra lá as reações foram variadas. Muitos diziam "nossa, que máximo", outros me perguntavam "mas por que o Senegal?". Bom, primeiro de tudo acho que qualquer lugar (ou quase, né?) é digno de ser visitado, você sempre vai ter alguma coisa pra aprender, alguma experiência legal pra vivenciar, não é mesmo? E tem mais, não queria ir pra Europa e também sentia que deveria explorar mais o continente africano. O Senegal me pareceu uma boa opção pelos fato de que é perto do Marrocos e a passagem não era o olho da cara, não exige visto para brasileiros e o custo de vida também não é muito elevado (é similar ao do Marrocos). Eu só fiquei arrasado de não poder visitar o Mali e a Mauritânia, tanto por não ter tempo quanto por motivos de: conflitos armados. Enfim, vamos ao que interessa, não é mesmo?

 

Meu dia começa super cedo numa sexta-feira, eu teria que me mudar do apartamento onde morava em Rabat (capital do Marrocos) e tinha que ir pra Casablanca pegar meu voo. Deixei minhas coisas arrumadas pra minha colega italiana levar pro apartamento pra onde ela se mudaria e às 6:30 saio de casa rumo à estação de trem. De Rabat pro aeroporto de Casablanca é super fácil, basta pegar um trem por 80 DH (mais ou menos R$ 25) e fazer uma rápida conexão em Casa Port, que você chega literalmente dentro do aeroporto, é só subir a escada rolante e você já pode fazer o seu check-in. Era pra ser algo simples, não é mesmo? Só que não! Gente, fui dormir super tarde na noite anterior, foi a despedida de uns amigos que iam embora do Marrocos, tive que madrugar, então meu cérebro não tava funcionando direito. Certo é que quando cheguei em Casa Port (estação de trem no centro de Casablanca) perguntei pro guardinha "qual é o trem pro aeroporto?", e ele me disse o 7. Ai eu retardadamente entrei no 5! E fiquei lá de boas esperando até que ele partiu e passou o fiscal pra conferir as passagens, quando fiquei sabendo que o trem em que estava na verdade ia pra Rabat! Sorte a minha que ele me deixou descer na primeira estação e não me cobrou multa nenhuma, rs. Sendo assim, peguei o próximo na direção contrária e consegui chegar no aeroporto à tempo.

 

Cheguei em torno das 10h e meu voo saía às 12h. Em Casablanca eles tão mais acostumados com o passaporte brasileiro, então não me perguntaram se eu precisava de visto pra Espanha (já que meu voo fazia uma conexão em Madrid) - o que acontece direto quando viajo de Rabat -, mas o carinha sim me perguntou se eu precisava de visto pro Senegal. Eu disse que não, mas no fundo não tinha certeza, já que não entrei em contato com nenhuma representação diplomática senegalesa e tampouco achei informação consistente na internet sobre, então me deu um pouco de cagaço na hora e durante toda a viagem até carimbarem meu passaporte em Dakar ::mmm: . Eu só pensava: na pior das hipóteses vou ser inadmitido, preso, sei lá... a outra opção seria não viajar e perder o dinheiro da passagem (ta looouco!). Por um momento me deu conta de como eu sou privilegiado de escolher a primeira opção de forma relativamente tranquila, me lembrei das histórias dos solicitantes de refugio que atendi quando trabalhei no CONARE, de pessoas cruzando fronteiras, passando por verdadeiros horrores. Que bom que eu consigo fazer isso sem problema nenhum. Inclusive muitos deles são senegaleses... enfim já que me foi dado esse privilégio vamos aproveitar, não é mesmo?

 

Chegando no aeroporto de Dakar já dá pra sentir uma atmosfera completamente diferente do Marrocos, a fila da imigração não existia (eram um amontoado de pessoas - c'est à dire: des français - se empurrando) e as esteiras eram bem confusas. Alguns (pessoas brancas que encontrei pelo Senegal, por exemplo) podem dizer: "assim é a África!". Sei lá, não conheço a África pra saber... fato é que ninguém vai pra Paris e diz "assim é a Europa" ou se faz também não lembra que a Europa é muito mais diversa do que isso. Enfim, passada essa etapa, passaporte carimbado e oficialmente admitido no país chega a aventura mais difícil do dia: chegar em Saint-Louis, que é a antiga capital das colônias francesas da África Ocidental. A viagem dura umas 4h de carro e eu não me informei direito sobre como me deslocar pelo país (se eu soubesse minimamente como era o Senegal teria passado a noite em Dakar). Troquei algum dinheiro e, ao sair do aeroporto, um cara me abordou oferecendo taxi privado. Disse que ia pra Saint-Louis e ele queria me cobrar 40.000 CFA (mais ou menos R$ 200) e claro que eu não ia pagar o primeiro preço que me pedem. Negociei e consegui por 25.000 CFA (ai que facada, gente!).

 

Fomos eu e mais 3 senegaleses, o carro fez várias paradas e cada um ficou em uma cidade diferente, eu fui o último a descer. Me surpreendi com a quantidade de blitz e barreiras policiais nas estradas de lá. Tinha lido vários relatos de policiais que pediam dinheiro, mas felizmente nada aconteceu. Uma coisa que eu já estranhava no Senegal era o fato de que eu imediatamente era identificado como um turista estrangeiro. Não to acostumado com isso, os últimos 700mil países que eu visitei (pra não falar todos os que eu já visitei), em algum(ns) momento(s) fui confundido com um local. Cheguei no meu hostel às 4 da manhã! E quando cheguei o motorista queria me cobrar 40.000 CFA alegando que era longe... meu amigo, eu sou generoso mas não sou idiota! Claro que eu neguei a pagar algo extra, né? Foi um dia muito cansativo, mas cá estava eu no Senegal. Apaguei e só acordei no dia seguinte depois das 11h, pra de fato ter o meu primeiro dia no país.

 

continua...

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Parte 2: Saint-Louis e Dakar

 

Depois de um dia inteiro entre a minha casa em Rabat, estações de trem, aeroportos, estrada, eu acordo ao redor de 12h em Saint-Louis. À essa hora o café da manhã já tinha acabado, então vou até a recepção pra ver se conseguia um mapa da cidade. Eis que me deparo com Saide, uma aventureira de 72 anos venezuelana e canadense (que mora em Ottawa faz muitos anos) reclamando de alguma coisa do quarto dela. Espero ela terminar para então pedir o meu mapa e, o moço da recepção me aponta pra parede. Era uma ampliação emoldurada de um mapa da cidade, mas assim… não resolvia o meu problema, né! Quando eu pergunto sobre um mapa pequeno pra levar na rua ele me diz pra tentar o office de tourisme da cidade. Eu realmente não tinha a menor noção do que é o Senegal, o garotinho inocente achando que ia conseguir mapa em algum lugar.

 

Saio em direção ao office de tourisme, que é do lado do meu hotel. Claro que eles também não tinham um mapa, mas blz. Eles tinham um livro/guia que na verdade era um mapa enorme mesmo e custava 2.500 CFA (ao redor de R$ 12,50), mas era caro e super inconveniente pra usar na rua. Tudo bem, isso não vai me impedir de conhecer a cidade. Saint-Louis é uma ilha bem pequenininha, com 90% de suas casas em estilo colonial. Saí caminhando aleatoriamente admirando a arquitetura, as galerias de arte (muitos artistas senegaleses expõe suas obras em lojas instaladas nesses casarões), a vista pro continente, etc. A cidade é realmente uma gracinha, só é um pouco suja e cheio de pó, já que poucas são as ruas asfaltadas e com calçadas, no geral a gente anda na terra batida mesmo. Durante essa minha caminhada algumas pessoas me ofereceram passeios para visitar o parque nacional de Djoudj, o parque nacional Langue de Barbarie, noite beduína no deserto, entre outros passeios. Várias opções, mas o que me interessava de verdade era o Djoudj, que é um parque famoso pela observação de pássaros, com colônias de pelicanos e flamingos.

 

Não fechei nada com ninguém, já que os preços são por carro e pensei em chamar a venezuelana/canadense pra ir comigo, já que cada um ia economizar 50%. Peguei vários telefones e, ao voltar pro hotel, já dei de cara com ela na recepção. Ai fui propor de irmos juntos e tal, foi quando ela me disse: “ah, eu já ia te propor o mesmo!”. hahahahaha, telepatia já ta funcionando ai. Discutimos sobre os passeios e as possibilidades e saímos para o 0ffice de turismo só pra conferir com eles também sobre os mesmos passeios. Nos disseram que eles tinham já duas pessoas para o dia seguinte para o parque nacional dos pássaros (Djoudj). Maravilha, seriamos 4 e o preço sairia pelo mesmo q com guias independentes. Como esse era o escritório oficial achamos que seria mais seguro e mais confortável, não é mesmo? Você está errado! Gente, era um carro muito, muito, muito velho, desconfortável e sujo. Já fica a dica pra quem for: façam com qualquer guia que encontrarem pela cidade, mas não com o office de tourisme. No dia seguinte saímos às 8:30 para o parque, que fica ao redor de 1h30min de Saint-Louis. Na entrada tem uns lagos e as instalações de um centro de pesquisa, e já começamos a admirar muitos pássaros que voavam e pousavam nas águas e margens dos lagos.

 

Seguimos mais um pouco de carro e chegamos onde se pega um barco para fazer uma volta pela lagoa e pelos canais do parque, onde visitaríamos colônias de pássaros. O barco saiu com nós dois, uns poucos franceses e 780mil chineses. Gente, eram MUITOS, achei até que o barco não ia dar conta. Sorte a nossa que não virou, já que no Senegal parece não haver nenhum tipo de controle ou fiscalização/direitos do consumidor. Alguns dos turistas eram muito sem noção! Em determinado momento avistamos um crocodilo, então os guias começaram a manobrar o barco pra conseguirmos vê-los de perto. Foi quando um turista chinês começou a jogar objetos, tentado acertar o animal. Sério, fiquei muito irritado, sujando a lagoa e espantando o animal que tava ali parado!!! O parque é muito bonito e realmente tem muitos pássaros, o problema foi que não vimos nenhuma colônia de flamingos. A Saide logo se manifestou e começou a reclamar com os guias, que alegavam que os flamingos ficavam na Mauritânia e de vez em quando vinham pro lado senegalês. Enfim, vai saber quem estava certo… Voltamos para Saint-Louis e descansamos já que estava bem quente e muito sol, isso que fevereiro é inverno por lá.

 

No dia seguinte já poderíamos ter ido embora de Saint-Louis, mas acabamos ficando, então resolvemos visitar a reserva da Langue de Barbarie, que é onde o rio encontra o mar. Não queríamos ir com nenhum desses tours, já que sairia bem caro, ainda mais pra arriscar a vida num desses carros super antigos. Descobrimos que dava pra chegar lá por conta própria, pegando um colectif (que nada mais é do que um taxi coletivo) no continente e em direção à um vilarejo que fica na entrada do parque. Fizemos isso e, por 500 CFA (ao redor de R$ 2,50), chegamos na entrada do parque. No vilarejo não se via turistas, e conforme entrávamos no parque víamos muitas pessoas cozinhando e trabalhando ostras pescadas ali mesmo, que é área de manguezal. Andamos um pouco no parque, até o ponto em que precisaríamos pagar 5.000 CFA (± R$ 25) num barco para atravessar para o outro lado. Como o atrativo eram pássaros, que já tínhamos visto no dia anterior, decidimos economizar esse dinheiro e aproveitar essa parte do parque mesmo. Depois de algum tempo voltamos para o vilarejo e esperamos na beira da estrada que algum colectif passasse e nos levasse para Saint-Louis, o que não demorou muito. Chegando por lá aproveitamos pra dar uma olhada no mercado do lado de cá da ponte, depois voltamos pro hotel. Mais tarde saímos para dar caminhar um pouco pela ilha e acabamos encontrando um mini porto cheio de barcos de pescadores e passageiros. Adoramos, tava realmente muito bonito no entardecer e sem nenhum turista.

 

No dia seguinte saímos cedo para pegar um 7place (uma espécie de taxi/carro coletivo que leva 7 pessoas, usado no transporte entre as cidades do Senegal). Ficamos horas lá, porque eles queriam nos cobrar um preço indevido, então ficamos discutindo com o senegalês. Ele chegou ao cúmulo de apelar pedindo pra um francês branco – que também ia pra Dakar – dizer que 5.500 CFA era o preço com as malas mesmo. Tipo, amigo nós pagamos 4.000 CFA na ida, não é com esse cara branco me dizendo que tenho que pagar 5.000 CFA que você vai me convencer. Enfim, tivemos que aceitar… mas nessa brincadeira perdemos 2 carros (eles só saem quando enchem todos os acentos) e acabamos saindo meio tarde. A viagem, em condições normais dura entre 4h30 e 5h, só que… no meio do caminho o 7place quebrou! Sim, ele simplesmente quebrou e não podia mais prosseguir. O motorista até tentou concertar, mas não teve jeito. Os carros são muito, muito, muito velhos mesmo! Tipo, nem em Cuba eu vi coisa do tipo. Diz a Saide que os carros franceses são uma porcaria, por isso os carros em Cuba (que são americanos) estão em um estado muito melhor. O pior é que o motorista sequer tinha um celular pra pedir socorro. Estávamos literalmente no meio do nada, não tinha nem uma aldeia nas redondezas… um dos passageiros emprestou o próprio celular e, depois de não muito tempo chegou um outro carro que nos levaria até Dakar.

 

Chegando em Dakar foi outro perrengue pra negociar o valor do taxi até o nosso hostel, no bairro de Ngor. A rodoviária (na verdade é um estacionamento de 7places) fica meio longe da cidade. Queriam no cobrar um absurdo (se não me engano 3.500 CFA pra ir num colectif!) e, depois de discutir, discutir e discutir, conseguimos um taxista que nos levaria por um preço justo (3.000 CFA num taxi mesmo). Tudo graças à intervenção de uma senegalesa que veio de Saint-Louis com a gente. Depois de muito tempo, chegamos em Ngor já quase no final da tarde. Fizemos o check-in no hostel e fomos procurar um lugar pra comer.

 

Já dava pra perceber a diferença entre Saint-Louis e Dakar, que é uma cidade bem grande. Tivemos um pouco de dificuldade de encontrar um lugar pra comer, pq não é do hábito do senegalês frequentar restaurantes, sai muito caro pra eles. Saint-Louis é pequena, mas muito turística, então em momento nenhum tivemos problema pra encontrar restaurantes. As pessoas comem mais em casa – mesmo num bairro de classe média alta, onde estávamos. Fomos em direção à praia, mas tudo o que achávamos era muito, muito caro, então desistimos e resolvemos comer na padaria do outro lado da rua do hostel mesmo. A comida era ótima e tinha um preço ok (não, não é assim tão barato, principalmente comparando a relação qualidade/preço que to acostumado no Marrocos – acho que a salada + shawarma custavam 3.000 CFA, o equivalente a R$ 15). Depois voltamos pro hotel e descansamos o resto do dia.

 

No dia seguinte queríamos visitar a ilha de Goré, que fica próxima à costa de Dakar. Os primeiros europeus a chegarem por lá foram os portugueses, mas foram de fato os franceses a construir um posto avançado de comercio de escravos. Para chegar lá, tem que pegar um barco que sai do porto de Dakar. Esperando o próximo, acabamos fazendo amizade com uma senegalesa que disse ter uma loja e um restaurante na ilha. Chegando lá dá pra visitar um museu que explica a historia do trafico negreiro e do papel que o Senegal teve nesse período nefasto da humanidade. Inclusive é possível visitar a maison des esclaves (casa dos escravos), que era onde eles ficavam à espera dos navios que os levariam pra outras terras. A ilha é muito, muito bonita, tipo tudo por lá mesmo!

 

É arborizada, limpa, a geografia também ajuda e ainda tem uma vista incrível de Dakar. É cheia de artistas que expõe e até produzem seu artesanato nas ruas. Só que o clima é realmente muito pesado… não tive nem coragem de entrar na maison des esclaves (casa dos escravos), hoje me arrependo, mas na hora sei lá, não consegui. No final da tarde voltamos para Dakar e fomos direto pro hostel, já que a Saide já tinha reserva em outro hotel onde passaria a noite.

 

Estávamos combinando de ir para a Gâmbia, só que no caso eu precisaria tirar o visto. Cidadãos canadenses, britânicos, australianos e neozelandeses não precisam, mas quase todo o resto sim. O negoço é que eu não tinha a menor ideia do que precisava pra tirar o visto e ao mesmo tempo tava impossível achar o telefone e o endereço da embaixada na internet. Perguntei no hostel, mas ninguém sabia dizer ao certo. Me falaram que era bem próximo, numa avenida que concentrava muitas embaixadas. Sendo assim, fui até lá e andei tudo, tudo e não encontrei. Foi quando resolvi perguntar pro guarda de uma das embaixadas se ele sabia onde ficava a da Gâmbia, ai ele me disse que era perto do aeroporto. Realmente não era muito distante do hostel, mas era pro lado oposto! Cheguei na embaixada da Gâmbia e a primeira coisa que eu perguntei foi se brasileiros precisam de visto. A secretária me disse que sim, então peguei um papel dizendo tudo o que eu precisava, voltei pro hostel correndo pra arrumar toda a papelada, que incluía um documento escrito de próprio punho dizendo explicando o motivo de não saber a placa do carro que ia me levar pra lá, além de uma reserva de hotel e foto 3×4 (que eu tinha no Marrocos, mas não levei). Consegui tudo e voltei correndo pra embaixada antes que ela fechasse (sabe como é esse povo, o expediente sempre termina super cedo!). Ufa, consegui chegar à tempo, entreguei todos os documentos, meu passaporte e paguei a taxa de 35.000 CFA (gente, uma facada de R$ 175!). Por um momento me deu um medinho de deixar meu passaporte lá, mas que opção eu tinha?

 

Depois de deixar meus documentos lá a secretária pediu que eu esperasse um pouco na recepção. Eu não entendi nada, já que os documentos já tinham sido entregues e aparentemente estava tudo ok. Depois ela volta e me diz pra ir no segundo andar e entrar na sala do 2º secretário. Eu, retardado, continuei sem entender nada, mas subi. Entrei na sala e sentei na cadeira, quando o cara começou a me fazer umas perguntas com um tom de desconfiança. Ele me perguntou aquele básico: o que eu faço, se sou mesmo brasileiro, o que vou fazer na Gâmbia e bla bla bla. Teve uma hora que ele apontou um erro no preenchimento dos formulários (um deles eu coloquei que o motivo da viagem era turismo e o outro não coloquei nada – tinha que preencher dois formulários idênticos). Tipo, eu tava com pressa, tinha pouco tempo até a embaixada fechar e não tinha como esperar até o dia seguinte, já que ia ser sexta e meu passaporte só estaria livre na segunda ou terça (segundo a própria secretária). Enfim, eu disse que se não tinha problema eu podia corrigir o erro, já que o formulário era um papel bem ali na mesa. Ai ele disse: “claro que você não pode, onde já se viu aplicar pra um visto e mudar as informações no meio do processo?!”. Dai eu disse, desculpa, nunca apliquei pra um visto antes, não sabia. Mentira, mas como não tinha nenhum visto no meu passaporte que tava com ele aproveitei pra mandar essa, né. Dai ele começou a dizer q eu ja viajei bastante e que ele tinha visto o meu passaporte, só que eram apenas carimbos de entrada e saída, realmente não tinha nenhum visto. Ele acabou me pedindo pra esperar lá embaixo com um tom meio agressivo.

 

Depois de uns 20min esperando, a secretária ficou surpresa ao perceber que eu ainda tava ali. Então ela subiu pra ver se tava tudo certo e se eu podia ir, então me dispensou e me disse pra voltar no dia seguinte ao redor de 12h, mais especificamente antes das 13h. Eu de teimoso cheguei 10:30, não queria perder mais um dia da minha viagem com essa bosta de visto, então achei que chegando cedo. Na verdade eu não tinha nem certeza se eles iam me dar o visto, já que nesse momento conturbado da política na Gâmbia tudo é de se esperar. Só pra situar quem não sabe, uma semanas antes da minha viagem o presidente em exercício perdeu as eleições e disse que não ia deixar o poder, dai deu mó confusão, com direito à intervenção estrangeira, as tropas senegalesas chegaram a invadir o país e tal. Depois de uns 15min esperando me devolveram o passaporte com meu visto, que basicamente é um carimbo que eles fizeram na hora mesmo. Pra não perder o dia, fui caminhar na praia de Yoff, que é um bairro próximo. É um bairro bem senegalês, não tem muitos turistas nem gente branca por lá, então achei bem interessante. A praia fica bem bonita no entardecer, com pessoas jogando futebol, correndo, pescando, etc.

 

Era sexta-feira e, ao sair da embaixada peguei um taxi pro centro de Dakar. Chegando lá fiquei caminhando pelas ruas, admirando os edifícios e observando o movimento da cidade. Um vendedor me ofereceu óculos, o que não me interessava, então ele se ofereceu pra me mostrar algumas coisas pelas redondezas. Eu achei ok, então acabei indo um pouco com ele, já que não tava muito pedante. Claro que terminou numa loja da família, onde eles queriam me empurrar todo tipo de coisa, mas também não insistiram e logo eu saí. O vendedor disse que tinha que ir porque era a hora da reza. 95% da população do Senegal é muçulmana e a sexta-feira é o dia que tradicionalmente as pessoas vão para as mesquitas rezar.

 

Eu só não sabia que as pessoas rezavam na rua mesmo, digo: nas calçadas, no próprio asfalto, por onde os carros passam. O que acontece é que a grand mosquée de Dakar não é tão grande assim, então a policia fecha as ruas do centro pra circulação de automóveis, ai as pessoas sentam na rua, em qualquer canto pra rezar. Quando eu percebi não tinha mais como andar, porque estava rodeado de pessoas rezando no chão e não tinha como passar. Foi quando eu vi uma menina cristã sentar em baixo de uma marquise e começar a comer uma tangerina, como quem diz: “não vai dar pra passar por aqui por algum tempo, então vou sentar aqui mesmo”. Em terra de sapo, de cócoras com eles, não é mesmo? Me sentei de baixo da marquise e fiquei esperando. Foi um momento realmente interessante.

 

Almocei no restaurante do Instituto Francês, que foi recomendado pelo moço do hostel, a comida era boa e um preço ok. Na verdade era meio caro, mas no centro de Dakar tudo é o olho da cara, acho que paguei 4.500 CFA (uns R$ 22,50) numa salada bem servida. Depois fui conhecer o mercado. Se arrependimento matasse… por lá não tinha nada de muito diferente, era apenas mais do mesmo. Além disso, o assédio é tão grande que não dá pra andar tranquilo, sabe? Depois de um tempo desisti do mercado e peguei um taxi até a mosquée de la dignité (mesquita da dignidade), que fica numa em baixo de uma encosta. De lá se tem uma vista muito bonita do atlântico, com a praia e os paredões de pedra. Depois fui andando até o hostel, que não ficava tão longe dali. Chegando lá, mandei um e-mail pra Saide e ela me disse que tinha ido pra Mbour porque não gostou do hotel que tava e resolveu ir embora de Dakar. Ficou meio confuso, já que conversar por e-mail é meio confuso, mas aparentemente ela ia dormir mais uma noite em Mbour, onde eu poderia encontrar-la no dia seguinte para então irmos pra Gâmbia.

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Parte 3: Mbour, Kaolak e Toubakouta

 

Na noite anterior mandei um e-mail pra Saide dizendo que ia sair de Dakar de manhã cedo em direção à Mbour. Ela já tinha me dito o nome do hotel em que ela estava, então o que eu pensei foi: “vou pro hotel dela e no dia seguinte vamos juntos pra Toubakouta”. De manhã mandei outro e-mail pra ela avisando que ia sair e tal, então acabei saindo antes que pudesse receber qualquer resposta. Antes de sair do hostel procurei saber quanto custava o 7place (porque, como diz a Saide: “no voy a dejar que me jodan!”) e pronto. Chegando na garagem (que em Dakar é bem grande) perguntei prum moço onde eu encontrava o 7place pra Mbour. Ele me indicou um outro senhor que ia me levar até lá, então enquanto andávamos conversamos um pouco. Ele me perguntou como poderia ir pro Brasil, se era fácil conseguir um emprego de motorista e tal (imigrar pro Brasil parece ser a nova tendência no Senegal). Dai eu me peguei dando uma mini consultoria sobre lei migratória brasileira, expliquei que era difícil, que as únicas maneiras que ele tinha eram de ter uma prole brasileira ou casar com um/a cidadão brasileiro. Foi quando ele começou a me perguntar se era fácil conseguir uma esposa brasileira… ai o cara o 7place começou a chamar pra sair antes que eu tivesse tempo de dizer que pedir refúgio também era uma possibilidade de se manter documentado, pelo menos por algum tempo. Enfim, hasta amigo.

 

Como de hábito, já tinha aberto o google maps no hostel e colocado o trajeto até o hotel em Mbour, pra saber se valia a pena pedir pra descer do 7place antes de chegar na próxima garagem. Sim, valia. A viagem é bem curtinha e dessa vez não teve nenhum contratempo, nenhum carro quebrado ou qualquer outro tipo de problema. Em 1h30 estava no ponto que deveria descer, na beira da estrada e esquina com uma outra avenida que termina em Saly (povoado de praia super turístico, vizinho à Mbour). O google me dizia que do ponto que eu desci até o meu hotel dava uns 25min andando (o que na minha velocidade dá 10-15min). Beleza, então tá tranquilo, tá favorável… só que – mais uma vez – não! Gente, o google não é tão preciso assim, então a localização no mapa estava um pouco errada, mas pelo endereço sabia que era ali pela região. Fato é que eu fiquei rodando e rodando e rodando, perguntando pra pessoas na rua e perguntando de novo. Rodava, rodava, rodava, liguei pro hotel zilhões de vezes e ninguém atendia! Gente, eu tava dando voltas no mesmo lugar por umas 3h (SIM: TRÊS HORAS!!!!) e não encontrava a porcaria do hotel. Até que… CONSEGUI!!!! Cheguei lá como, né, queria esganar a menina da recepção que não atendia o telefone.

 

Quando entrei no meu e-mail tinha uma mensagem da Saide dizendo que tinha ido pra Toubakouta porque teve problemas com o hotel dela em Mbour. O que acontece é que na noite anterior ela mudou pra um hotel mais perto da praia e resolveu ir antecipadamente pra Kaolak, depois de ter tido alguns problemas nesse outro hotel. Eu que já estava cansado das horas que fiquei vagando no sol com mochilão nas costas preferi ficar em Mbour mesmo e viajar só no dia seguinte.

 

O hotel era quase na entrada de Saly, então depois de deixar minhas coisas no hotel eu resolvi andar na beira da praia, ver o mar. Hahahaha, mais uma vez eu não tinha a menor noção de onde estava! Antes eu só tive que passar no super mercado pra comprar repelente e protetor solar (crianças, se vocês forem ao Senegal não sejam como eu e tomem as pílulas pra evitar a malária, tá!). Já que meu protetor tinha acabado e eu tava indo pro sul, que é bem mais infestado de mosquitos, por ser área de mangue. Dito e feito fui pra Saly.

 

Chegando na orla… cade a orla??? Não tem! O que existe são resorts que cobram pra vc ter acesso à praia. Fiquei puto, então resolvi andar pelo vilarejo, que era o que me restava, já que no dia seguinte ia pra Toubakouta. O vilarejo é simpático e você vê alguns turistas, que se atrevem a sair dos resorts, andando por lá. Tem umas pessoas muito pedantes insistindo pra você comprar, mas nada pior do que em outros lugares. Um carinha começou a me seguir na rua e a insistir pra que eu fosse ver a loja dele. Ele foi tão tão insistente que eu terminei cedendo, mas não sem antes deixar bem evidente que não ia comprar nada, que não tinha dinheiro sobrando.

 

Chegando na loja tinham mais uns 5 ou 6 homens por lá, uns dois fazendo artesanato e os outros ali parados. Então eles perguntam meu nome e eu super desconfiado queria saber o motivo. Não me disseram, mas eu pensei “ah, já to aqui, saberem o meu nome é o de menos”. Antes de tudo, eu falei pra eles que não tinha dinheiro e que não ia gastar nem um centavo ali. Daí um deles ficou super puto e se colocou meio agressivo comigo. Quando eu vi tava eu rodeado por 6 homens e gritando comigo, então eu respondi: “não te conheço, nunca te vi antes e não to colocando todos os senegaleses no mesmo saco! Só to avisando que não vou gastar nenhum centavo, pra que depois isso não seja uma surpresa, ok?! Se você quiser me contar histórias vai ser porque de coração você quer fazer isso e não porque quer o meu dinheiro, ok?!”. Dai ele começou a me contar umas histórias sobre o artesanato e tal. Assim, até era interessante, mas nada que eu já não tivesse visto e ouvido em Saint-Louis e Dakar.

 

Perdi a paciência, agradeci à eles e disse que ia embora, foi quando ele quis me dar um pingente de madeira (num cordão) com o meu nome escrito. Claro que eu recusei, mas eles começaram a insistir dizendo que eu tinha que pagar. Foi quando eu disse que não ia pagar nada e nem levar o pingente, porque eles escreveram meu nome lá sem me avisar. E que se tivessem avisado ia falar para não fazerem! E sai andando sem olhar pra traz. Um deles ficou me seguindo e insistindo preu pagar pelo “tour”. Ah, muita cara de pau, gente! Ele continuou me seguindo querendo me mostrar o caminho de volta (como se eu já não soubesse, né) e até apelou me oferecendo prostitutas. Gente, é triste a situação… é um vilarejo que vive do turismo baseado em resorts onde os branco estão isolados e em 90% das vezes que saem é pra procurar prostituição. Me parece que é um turismo que pouco deixa pra cidade e pra população, além de você ver muitos desses tiozões (ou tias) brancos(as) nojentos com umas adolecentes senegalesas.

 

Voltei a andar e resolvi parar num lugar pra trocar dinheiro. Depois de negociar a taxa de câmbio (sim, no Senegal tudo é negociável) dois carinhas que estavam ali começaram a puxar papo. Eles perguntaram de onde eu era, então eu sugeri que eles adivinhassem (hehe). Como eu falo francês, eles tentaram todos os países francófonos europeus (França, Suíça, Bélgica), ai disse que eu era brasileiro. Pronto, depois de falarem o nome de 700 jogadores de futebol que eu não conhecia (porque sim, sou brasileiro e não, não ligo pra futebol) eles se propuseram a me mostrar uns lugares legais, segundo eles pra que depois eu voltasse pro Brasil e recomendasse que o Senegal pras pessoas. Rodamos um pouco e paramos num baobab (eu já falei que essa árvore é maravilhosa?), que eles me disseram pra colocar a mão e fazer um desejo. Eu já tava achando eles meio estranhos, quando chegou uma mulher e começou a discutir com eles. Dai eles disseram que tavam só mostrando o vilarejo prum turista do Brasil. Foi quando a mulher, que eles disseram ser nigeriana, perguntou: “hablas español?”. Eu disse que sim e percebi que ela queria me dizer alguma coisa, só que ela não falava nada de espanhol, rs. Ai perguntei em inglês e ela me disse em espanhol: “vayas antes que te roben”. E eu bati uma reta e fui embora. Dai eles me seguiram e começaram a dizer que eu tinha que pagar pelo tour. Gente, de novo essa história… se você não sabe dizer “não” vai aprender rapidinho no Senegal, rs.

 

À essa altura eu já tava puto que não conseguia andar em paz no vilarejo. Nunca me senti tanto como um dólar ambulante! Resolvi voltar pro hotel, já que no dia seguinte iria pra Toubakouta, via Kaolak e com troca de 7place. Mais uma vez, no caminho pro hotel, me ofereceram prostitutas… gente que lugar horrivel é Saly!!! Não percam o seu tempo com essa cidade. Fiquem em Mbour ou até passem batido pra outro lugar.

 

No dia seguinte acordo cedo, tomo café e vou pra beira da estrada pegar um coletivo (nada mais é do que um taxi compartilhado) até a garagem de Mbour. Claro que eu já sabia o preço que deveria pagar pra chegar em Kaolak e claro também que tentaram me cobrar bem acima. Pero no voy a dejar que me jodan! Na garagem de Mbour tinha uma fumaça negra nos arredores. Eu entrei no carro e tava esperando lotar pra então sairmos. Foi quando a fumaça aumentou muito (muito mesmo!) e as pessoas dentro do carro e ao redor se desesperaram e começaram a correr, como se o fogo tivesse chegando perto. Gente, que desespero que me deu, minha mochila tava em cima do carro e eu subi no teto pra tentar tirar, quando o motorista arrancou. O problema é que todos os outros carros na garagem também arrancaram, então na real ninguém conseguia sair do lugar. Foi uma correria, pânico, gritaria, mas conseguimos sair com vida.

 

O carro ia pra fronteira com a Gâmbia, mas eu ia ficar em Toubakouta, que é um vilarejo muito pequenininho que fica no caminho. Lá ia encontrar com a Saide, onde íamos explorar o parque do Delta du Saloum. Desci em Toubakouta e mais uma vez o google não é muito preciso pra indicar onde fica o hotel… acabei pegando um mototaxi que me cobrou 300 CFA (± R$ 1,50) pra me levar até o hotel que a Saide tinha reservado, o que é até bem caro considerando a distância percorrida. Cheguei no hotel e lá estava Saide reclamando de alguma coisa no quarto kkkkk (“no voy a dejar que me jodan!”). Gente, como eu ri nessa viagem! Comemos no hotel (grande erro, os preços eram abusivos!) e saimos um pouco pra explorar a cidade enquanto a moça do hotel ligava pro pessoal encarregado dos passeios pelo delta.

 

O vilarejo é muito pequeninho, então andamos em direção ao rio, onde tinham uns resorts com pier. Entramos em um, demos “bonjour!” pros seguranças na porta e fomos direto pro pier. Deitamos nas cadeiras, tiramos foto, foi ótimo, é muito bonito. Tinham muitos macacos por lá. Depois saimos e continuamos caminhando na beira do rio do lado de fora, quando chegamos em um outro pier de um resort que tinha quartos de casa na árvore. Fomos andando em direção à esse outro pier, quando veio um segurança nos dizendo – em francês – “isso é uma propriedade privada, vocês não podem entrar”. A Saide não fala nada de francês e eu fingi que não tava entendendo nada. O segurança não falava inglês, mas a Saide começou a dizer que o rio era do Senegal e não era propriedade privada coisa nenhuma, que iriamos andar no pier, tirar foto e ninguém podia nos tirar dali. “This is private – e ela apontava pras casas na árvore -, this is Senegal – apontando pro rio!”. Ta certíssima! Já estava entardecendo, então voltamos pro hotel, onde o cara que ia nos explicar sobre os passeios nos esperava.

 

Eu sei é que não fomos com a cara dele… então resolvemos não fazer passeio nenhum, tava tudo muito confuso porque os passeios não pareciam nos mostrar exatamente o que queríamos ver. Então decidimos ir para a Gâmbia, estudar tudo direitinho e na volta visitar o delta. Sairíamos no dia seguinte cedo.

 

Próximo post: Gâmbia e Delta du Saloum.

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Parte 4: Gâmbia (Kotu, Tanji, Banjul e Abuko)

 

Acordamos cedo decididos a ir pra Gâmbia, estudar melhor o que queríamos ver no delta e fazer os passeios na volta. A Saide já tinha um hotel reservado na cidade de Kotu, mas nós estávamos antecipando a chegada em duas noites. Toubakouta fica bem próximo da fronteira, mas não tem uma garagem (onde se pode pegar um 7place), então fomos pra beira da estrada esperar algum carro com dois acentos vagos passar (seja pra uma carona ou pago mesmo). Não demorou muito e conseguimos, demos sorte porque era um carro super novo e confortável, apesar de que 50m adiante 4 mulheres entraram (sim, no Senegal carro é que nem coração de mãe, sempre cabe mais um, rs).

 

O motorista estava ciente de que queríamos ir pra fronteira, mas quando estávamos quase chegando ele desviou da estrada e entrou num vilarejo, o que é bem comum por lá, seja pra fugir de pedágio ou de alguma fiscalização. No próprio vilarejo ele parou e disse pra mudarmos de carro, que o outro ia pra Banjul (capital da Gâmbia). Claro que ele quis nos cobrar um absurdo, então recusamos e pedimos pro motorista original nos deixar no controle de passaporte. No total demoramos uns 25 pra chegar na fronteira e, quando saímos do carro, vieram umas 3, 4, 5 pessoas na nossa direção oferecendo trocar dinheiro, já que a moeda da Gâmbia não é o Franco CFA. A fronteira é um pouco confusa, porque o controle de passaporte não é um lugar claramente definido e também não tem nenhum tipo de controle, se você quiser andar direto pra Gâmbia vc consegue sem ngm te parar em momento algum.

 

Fizemos a saída do Senegal e fomos direto pra fazer os procedimentos de entrada na Gâmbia. Chegando na outra casinha, eles te mandavam pruma salinha onde verificavam a vacina contra febre amarela (pediram até pra Saide, que é canadense), depois você tem que ir pra uma outra carimbar a sua entrada no país. Quando fomos carimbar nossos passaportes, havia 3 policiais na salinha. Nos sentamos e eles começaram a perguntar pra onde íamos, dai um deles recomendou motorista pra fazer passeios com a gente e tal. Um outro começou a mandar um papinho “ah, é muito dificil conseguir um visto canadense, você bem que podia mandar uma carta pra gente conseguir ir pra lá” e pediu um contato da Saide. Ela deu, lógico, mas você acredita que os caras procuraram e adicionaram ela no facebook?

 

Pra quem não sabe, a Gâmbia foi colônia britânica, então atravessando a fronteira as pessoas não falam francês, mas sim inglês. O país é um enclave dentro do território senegalês, ele é bem curtinho mesmo, é basicamente alguns poucos km ao redor do rio, as pessoas são etnica e linguisticamente como no Senegal, a maioria da população também fala wolof como primeira língua.

 

Da fronteira pegamos um taxi coletivo até a cidade onde se pega a balsa para atravessar o rio em direção à Banjul (se não me engano pagamos 50 dinheiros) e de lá teriamos que pegar um outro taxi pra Kotu que é bem pertinho da capital. Chegando lá, era um monte de gente amontoada, com toneladas e toneladas de bagagens e mercadorias (muita gente ganha a vida indo ao Senegal pra comprar de tudo e depois revender na Gâmbia), foi quando um menininho veio nos oferecendo ajuda, pedindo o dinheiro pra comprar as nossas passagens. De início eu desconfiei, mas como aparentemente não tínhamos outra opção acabei dando pra ele, já que o valor não também era muito alto. Eis que o menino desaparece e minutos depois volta com as passagens \o/. Estávamos junto como o povo, atrás de uma barreira, quando o menino disse que poderíamos passar. Fato é que eles não deixam ninguém passar, só idodos, pessoas com crianças pequenas ou turistas (o que não faz o menor sentido, né). Insistirmos pra passarmos e ficamos do outro lado esperando com um pouco mais de conforto.

 

Quando eles abrem as catracas é um salve-se quem puder, é carro, caminhão, pessoas, todos correndo e entrando no barco que é enorme. Depois do corre-corre não conseguimos lugar pra sentar, mas o barco não balança e se você tiver distraído nem percebe que está em movimento, então é de boas. Chegamos, pegamos um taxi e fomos pra Kotu. O motorista disse que conhecia o hotel, mas na verdade não conhecia, então ficamos horas dando voltas, ele colocou crédito, ligou 700 vezes e não encontrava o bendito do lugar. Eis que conseguimos e o cara queria cobrar 100 extras por não ter encontrado o hotel de cara. Ah, eu devo ter cara de idiota, só pode… entrei no hotel e nem dei confiança, mas ele não queria ir embora e ficava discutindo com o funcionário. Eu acabei dando algum dinheiro só pra me livrar da situação e também não queria que sobrasse pro coitado que não tinha nada com isso, né. No hotel o cara queria cobrar um extra porque a Saide fez reserva pra uma pessoa e chegou com mais uma (no caso eu, rs). Só que o quarto era duplo, então tipo não faz o menor sentido, além de ser a suíte “luxo” (aham, senta lá Claudia). Depois de algum tempo negociando conseguimos não ter que pagar nada. Saímos pra dar uma volta nas redondezas, mas a verdade é que a viagem durou tanto tempo que já estava pra escurecer, então nem rolava fazer muita coisa nesse dia.

 

O que mais nos interessava na Gâmbia eram os parques onde se pode ver uma série de aves. No dia seguinte queríamos visitar um parque que fica bem próximo de Kotu, então pegamos um taxi que nos deixou no caminho, onde havia um grande mercado e um porto de pesca, numa cidade chamada Tanji. Gente, foi maravilhoso, andávamos pelo mercado e parecia que éramos invisíveis, as pessoas estavam ocupadas com seus afazeres e nem nos davam bola, não tinha assedio, sabe? Tudo muito bonito e cheio de cores, vimos muitas frutas e legumes. A praia era maravilhosa, cheia daqueles barcos coloridos, e no momento em que chegamos muitos pescadores voltavam do mar e começavam a vender os peixes ali na praia mesmo. É tipo um leilão, então quem dá mais leva! Foi bem agradável, então depois resolvemos ir no museu da região. Chegando lá, o museu era pago (e caro!) e não era nada de mais, achamos um absurdo e decidimos ir para o parque propriamente dito pra ver as aves.

 

Conseguimos uma carona que nos deixou na entrada do parque. Lá tinham uns funcionários que assavam um peixe, então nos ofereceram e claro que aceitamos. Alguns deles eram guias no parque, então começamos a conversar sobre os animais e visitação, a grande questão é que era em torno de 13/14h, o que é um horário péssimo pra ver animais. Assim como nós, humanos, eles também não querem ficar expostos ao sol quente, então se recolhem e só lá pro final da tarde que começam a sair. Decidimos voltar pra Kotu já que não íamos ver nada mesmo. Chegando no hotel, resolvemos comprar alguma coisa no supermercado e – no momento de pagar – acabou a energia! A falta de energia está muito frequente na Gâmbia, especialmente com a crise que eles tão vivendo. Com a instabilidade política no país o turismo caiu muito nesse início de ano, então as quedas de eletricidade se tornaram mais frequentes. Nosso hotel tinha gerados, mas ainda assim era difícil… se no Senegal a internet era devagar quase parando, na Gâmbia estávamos praticamente isolados.

 

No dia seguinte fomos visitar o Abuko National Park, que era um pouco mais distante de Kotu, mas nem tanto. Tentamos ver se no hotel conseguiamos, mas eles queriam nos cobrar muito caro e sair tarde, ai fomos pra rua tentar encontrar alguém. Não entendi isso, eles sempre querem sair num horário péssimo pra ver os animais. Pra eles pode até ser conveniente, mas pra nós definitivamente não era. Depois de muito negociar conseguimos um taxi que nos deixaria na entrada por um preço aceitável. Chegando na entrada do parque, pagamos a entrada e acabamos também pagando por um guia, já que nos disseram que o parque era muito grande e poderíamos nos perder. Essa era a maior mentira… primeiro que o parque é minúsculo, deve ser menor do que o Jardim Botânico do Rio, além de ser muito bem sinalizado. Tem que ser realmente um nível surreal de demência pra se perder por lá (digo, se perder e não conseguir se encontrar). Seguindo que o guia não era guia coisa nenhuma, ele não nos ajudava a encontrar aves, não explicava nada sobre a vegetação, ele basicamente tava ali mostrando qual era o caminho, que tava todo trilhado, então só sendo cego pra não ver.

 

Claro que nós parávamos o tempo todo, queríamos ver aves e animais, observar a vegetação, o lugar era bem bonito. Foi quando o ~guia~ falou: “vamos mais rápido, porque vocês só tem duas horas comigo”. Quase que eu disse, então vai, pode ir… eu hein, nunca vi disso, como se ele fosse indispensável, né! No final das contas ele tava com pressa pra chegar em um ponto do parque que tinham umas pessoas vendendo uma coisas (iguais das que vemos por todos os lados no Senegal, só que o dobro do preço) e umas hienas enjauladas. Gente, primeiro que hiena não é uma espécie típica da região e segundo que eu não fui ali pra visitar um zoologico, me desculpa mas realmente não me interessa! Saímos ainda mais irritados com o guia e voltamos pra entrada (também parando pra observar), mas já quase não víamos animais porque era em torno de 13h. Nesse momento que outros turistas começaram a chegar com grupos de hoteis e tal.

 

 

Fomos pra beira da estrada (em frente ao parque) tentar encontrar algum transporte pra Serekunda. O primeiro que passou ia pra Banjul, então resolvemos mudar os planos já que estava bem quente e não tinhamos disposição pra ficar ali esperando sei lá quanto tempo de baixo do sol. Descemos em Banjul e fomos procurar um restaurante para comer. Estávamos FAMINTOS! Saímos super cedo do hotel e sem café da manhã, porque o cara não acordou pra preparar o nosso café da manhã mesmo. Vimos uma casa escrito “suprema corte da Gâmbia”, então a Saide disse “ah, aquele cara de terno saindo de lá vai saber nos recomendar um lugar pra comer. Doce ilusão, claro que ele não sabia… ele apontou prum lugar que ficava ao lado, mas o cardápio não nos despertou muito interesse, fora que eles não tinham 80% do que perguntávamos. Andamos, andamos, perguntamos pra milhões de pessoas e não encontrávamos um lugar onde comer. Gente, não tinha mesmo!!! Isso que é a capital do país.

 

O que acontece é que o povo de lá não tem muito o hábito de comer fora de casa, então se você sair das zonas turísticas realmente vai ter dificuldades de encontrar restaurantes ou lanchonetes. Bajul não é muito turística, as pessoas vão pra Gâmbia e ficam na costa atlântica ou nos parques, quase ninguém visita a capital. Enfim, conseguimos achar um restaurante! Dizia que tinha wi-fi e tudo, olha que luxo! Entramos e pedimos um prato do dia, quando nos informaram que hoje não tem o prato de hoje (que foi escrito no mesmo dia no quadro de giz que divulgava o cardápio na calçada). Também não tinha wi-fi, que na real era do hospital que ficava do outro lado da rua… e as meninas do restaurante não tinham a senha. Melhor não tentar entender, nem discutir, aceita que dói menos!

 

De barriga cheia, fomos andar pelo mercado que ficava ali do lado. O assédio tava tão insuportável e o mercado tão desinteressante (os do Senegal tem uma oferta muito maior de produtos, cores e sabores) que resolvemos ir embora, pois estávamos muito cansados. Voltamos pro hotel e descansamos um pouco e planejamos o resto da nossa viagem. Terminamos decidindo voltar pro Senegal no dia seguinte cedo, a Gâmbia já tinha dado o que tinha que dar.

 

No dia seguinte pela manhã fomos fazer tooodo aquele caminho de volta: taxi pro porto + balsa (só a travessia leva 1h, sem contar o tempo de espera em terra) + taxi pra fronteira + taxi pra Toubakouta. Chegando no controle de passaporte da Gâmbia já deu um medinho, porque a Saide não aceitou os policiais no facebook e já tava com uma desculpa na ponta da língua caso encontrássemos com eles. Entramos na salinha onde eles registram a nossa saída num livro, quando um policial se ofereceu pra levar nossos passaportes para serem carimbados. Enquanto esperávamos, um dos agentes sugeriu que eu eviasse uma carta convite pra ele ir trabalhar no Brasil: “como eu posso ir pro Brasil???”. Gente, só rindo… mas considero a nossa experiência muito boa, porque tinha lido vários relatos na internet de casos de policiais pedindo propina pra carimbar passaporte entre otras cositas más. Enfim, estávamos de volta no Senegal.

 

No próximo post vou relatar meus últimos dias antes de voltar pro Marrocos

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