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Testemunho Martim de Sá - Paraty


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Sexta-feira e estou no trabalho vendo as fotos da última vez que fui à Martim de Sá e relembrando um monte de sensações dessa viagem. Feliz, porque logo estarei de volta.

Lembro chegando em Pouso da Cajaíba, no barquinho do Velho, em um dia lindo de sol em outubro de 2009.

 

O barco tinha uma extensão pra fora, na poupa, rente ao mar, que dava pra deitar e as ondas iam te banhando, lavando o espírito… e tudo isso abraçado por um solzão espetacular!!!

 

Chegando, o mar transparente, mistura de azul com verde, dava pra ver o fundo.

A traineira aportando naquele paraíso de areias brancas e pequenas casas e bares de pescadores. Criançada brincando na areia, jogando bola. As senhoras sentadas em frente ao mar com seus afazeres ou apenas vendo o tempo passar. E ele quase que não passa, de tão bom!!!

 

Pra chegar na areia… mergulho no mar!!! Depois um banho gostoso no chuveirão do barzinho caiçara e um pedido, quase um decreto: “uma cerveja bem gelada, por favor!!!”

 

Depois da comida, aquela moleza e um cochilo na frente do mar, sentindo a brisa, a areia morna no corpo e a fome saciada.

Mais um mergulho, outro banho no chuveirão e pé na trilha.

 

Subindo descalço, sentindo a energia do chão. Lembrando a música de um amigo “A trilha é dura, mas tenho que chegar!!! Martim de Sá me espera!!!”

 

Sol na telha, sobe, sobe, para, bebe água, respira, zoa o que está pra atrás, olha a vista… ah, a vista!!! O pouso da Cajaíba lá embaixo, cada vez menor. Com aquele marzão todo, azul como o céu. Olhando até o horizonte até os dois se tornarem um só e não saber mais distinguir um do outro.

 

A pequena baía da Cajaíba abraçando o mar, que tenta avançar sobre a montanha cheia de Mata Atlântica.

 

Chega no alto da trilha, parada pra descanso e se maravilhar mais uma vez com a vista.

 

Canto uma canção, não falta inspiração, vento bate no rosto, gosto de liberdade. Não tenho hora, não tenho obrigação, não tenho pressa, não tenho…

 

Agora, descendo na sombra. O sol se esconde no meio da mata. Só alguns raios conseguem escapar e bater suave na minha vista. Ar puro enche os pulmões, floresta conservada, cheia de verde, cheia de seus sons dos seus seres e entes.

 

Descendo e uma visão, uma pérola aparece no meio das folhagens das plantas. Paramos pra olhar, se certificar de visão ou realidade. Mais uma vez: areia branca, mar azul, montanha verde e uma vontade louca de chegar logo – Martim de Sá!!!

 

O barulho das ondas cada vez mais alto, faz aumentar as batidas do coração, revigoram as pernas cansadas, te fazem apertar o passo: quero logo chegar!!!

Chegou!!! Peço licença… entro no terreno do seu Maneco.

 

Procuro uma sombra, sento, largo tudo no chão: a mochila pesada, as incertezas do amanhã, os problemas que as vezes tentar me abater e corro pra praia.

 

Passo me equilibrando pela madeira que serve de ponte em cima do riozinho. Quantas vezes não iria passar ali, perto do banbuzal, dia claro ou noite escura, pra chegar na praia!!! Saudades!!! De no meio do breu, sozinho, jogar a lanterna pra tudo que é lado procurando bicho e depois encontrar a galera.

Correndo e de repente… Martimmmmmmmmmmm!!!!!!!

 

Mergulho e depois horas calado, sentado na areia, apreciando a beleza da criação!!!

 

Aquele solzinho de fim de tarde batendo na pele e apenas contemplar. Todos juntos, mas sozinhos nos seus pensamentos. Só o barulho do mar entrando pelos ouvidos e enchendo a alma de satisfação!!! Mágico demais!!!

 

Voltamos para montar as barracas e aparece do lado um humilde senhorzinho de cabelo branco, sem pressa, voz mansa, cheio de paz e equilíbrio.

E finalmente conheço: o famoso Seu Maneco!!!

 

Caiçara, simplicidade cheia de sabedoria. A alma de Martim de Sá.

 

Histórias de onça, de assombração, curupira e outras lendas. Quando dou conta, já anoiteceu!!! Durantes dias foram horas de conversas e apredizado com o Seu Maneco. Do nada aparecia, sempre com muita amizade e respeito. Disposto a compartilhar um pouco de sua experiência e vivência. Uma verdadeira aula de humildade e amor a natureza. As horas passam e você não se dá conta. Foi um presente poder conviver alguns dias com uma pessoa assim.

 

Os dias se seguiram com inúmeros mergulhos, banhos de rio, trilhas, cachoeiras e no fim de tarde aquela sagrada cochilada na rede a beira mar ouvindo o som das ondas.

 

A noite, o breu!!! Não tem luz!!! Só do gerador até determinada hora.

 

Tomar banho de água fria, revigorante, e depois encontrar a todos na cozinha pra fazer o banquete comunitário a luz de velas e lampião. Essa é uma das palavras de Martim: comunhão!!! Com a natureza, os amigos, as pessoas.

 

Acende o fogo, toca a viola, canta uma música, faz comida, bebe, ri, gargalha, escuta outra história, vive, curte a vida!!! Que saudades dessa vida!!!

Depois do jantar um pulinho na praia. Lembrando da história do seu Maneco da onça que ele viu em outra noite as pegadas ali, com um tamanho de pata que dava dois punhos fechados dele.

 

Ou a da galinha que sumiu na noite anterior do lado do banheiro. E pra ir no banheiro no meio do breu da noite?!? Suspense gostoso!!! Tudo isso faz parte!!!

Deita na areia, olha pro céu carregado de estrelas, a lua tão cheia que parecia dia!!! A praia só nossa!!!

 

Valendo uma escapada a noite, sozinho, mergulho noturno sem roupa, só com a luz da lua iluminando!!! Liberdade!!!

 

Não tem hora pra acordar, não tem hora pra comer: perdeu o sono acorda e enrola na barraca, ta com fome vai comer!!!

 

Martim de Sá, Sumaca, sustos no meio do mato, um bicho grande passa correndo assustado do lado, uma paca, uma anta? Sei lá… adrenalina a mil na hora.

Tão perto, tão distante!!! Mais rápido chegar em Recife de avião.

 

Tão bela, tão especial, que é só fechar os olhos que mesmo anos depois ainda lembro do cheiro, do toque da brisa na pele, de todas as sensações.

 

Dizem: você é maluco!!! Duas horas em um barco (isso se conseguir um), mais duas horas de trilha, subida sem fim, peso nas costas, mosquitada, água fria, dormir em barraca, passar perrengue, não sabe se chega, não sabe quando volta!!! Louco!!!

 

Realmente é para quem gosta!!!

 

Mas nada paga a sensação de liberdade, simplicidade, de comunhão com a natureza e o próximo, do fugir da rotina, de coquista, de chegar em um lugar que não basta ter apenas dinheiro pra ir, tem que ter disposição e muita vontade e principalmente amor, saber que se outro alguém está alí esse alguém compartilha do mesmo amor que o seu, da mesma filosofia.

 

Saber que alguém mora ali a gerações, sendo constantemente assediado para vender as suas terras por uma fortuna e não o faz por amor…

 

São sentimentos nobres e certezas como estas que te fazem querer voltar e muita das vezes não querer partir!!!

 

E no retorno uma reflexão: Um local tão simples é capaz de trazer tanta felicidade, tanta paz e satisfação será que é preciso tudo isso que as pessoas se matam para ter na vida? Carros, apartamento, status, aparência, fortuna financeira? Será que é isso que importa? Me pergunto isso todos os dias depois que deixei Martim de Sá. O que importa afinal? O que importa de verdade pra você?

 

Eu já descobri a minha verdade.

 

Você já descobriu a sua???

 

Martim de Sá!!! Preserve!!!

 

Termino fazendo um apelo:

 

O povo caiçara em todo o Brasil está sofrendo, como todas as "minorias", com a expansão e a especulação imobiliária, além da degradação de seus costumes e tradições.

 

A própria família Remédios, que é a do Seu maneco sofre com seguidas pressões de grandes empresários e outros que tentam lhe tirar de suas terras. Por sua consciência e o amor por seu lar ele não vende por nada aquele pedaço de chão, mas infelizmente essa não é a regra. O caiçara vende suas terras por preços surreais e acabam tendo que viver na cidade e sofrendo o processo de marginalização.

 

A cultura caiçara está ameaçada também pelo próprio turismo predatório.

 

Então ajude como puder divulgando as suas causas ou procurando visitar suas praias e lugares com o máximo de respeito a esses povos.

 

Grande abraço!!!

 

Paz e bem!!!

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