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Chile, Rapa Nui e acessibilidade


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Anna Nui e Luci Rapa em... 18 dias no Chile (Santiago, Ilha de Páscoa, Cajón de Maipo, Viñas Del Mar e Valparaíso). Vou focar no relato da viagem à Rapa Nui. Embora a viagem tenha acontecido há quase um ano, sinto-me muito agradecida pelos relatos e aos viajantes que contatei aqui e penso que em qualquer tempo, nossa experiência pode ajudar futuramente, novos viajantes. Minha amiga e companheira desta aventura a Anna Paula, sofreu um acidente há 7 anos atrás, é paraplégica, faz uso de cadeira de rodas, ortese e andador. Lamento apenas não lembrar muito sobre preços, mas uma conta que nos ajudava, era entender que, mil pesos chilenos equivaliam a R$ 4,00 e, que significa dizer que isso dá um nó legal na cabeça... Começamos a planejar a viagem em fins de agosto de 2010. Pesquisamos preços de passagens aéreas, primeiro, para o Chile e os preços e datas já estavam “apertados”. Enquanto a Anna se encarregava com as reservas, passagens e parcelamentos, eu fiquei com a pesquisa sobre a hospedagem. Do Brasil ao Chile pagamos R$ 1200,00 pela Gol, partindo de Florianópolis. Somente a Lan Chile faz Rapa Nui, por Santiago (e agora, por Lima – Peru). Conseguimos parcelar em 5 vezes, sem pestanejar, antes mesmo de conseguir hospedagem. Pagamos U$ 550,00 por pessoa e este valor implicava em permanecer na Ilha por 7 dias (29-12-2010 a 03-01-2011). Assim, lamentamos muito (risos) o fato de “ter” que passar o réveillon em Rapa Nui (mais risos). Aqui no Brasil na nossa pesquisa, foram dezenas de e-mails não respondidos e muitas negativas recebidas, por conta da questão da acessibilidade. Entrei em contato com a Secretarias de Turismo no Chile - Senatur- e nos enviaram um roteiro com os passeios e locais adaptados, além de sugestões de hospedagem. Hospedagem em hotéis com preços proibitivos para nosso orçamento. O que valeu mesmo, foi contato com cada local de visitação ou hotel, explicando nossas necessidades e solicitando informações. Foram muitos contatos. Muita leitura e pesquisa, tanto da parte de transporte e hospedagem, como, antes, muito antes, leitura sobre a história e cultura do Chile e a Ilha de Páscoa. Antes de embarcar para Rapa Nui, em Santiago, fizemos umas compras de mantimentos, pois todos nos avisaram que lá é tudo muito caro. Basta pensar que tudo o que se consome lá, viaja horas, desde o continente. Pouco se produz na própria Ilha. Também trocamos dólares por pesos chilenos, pois lá, trocar dólares é perder dinheiro. Se você pensa em usar cartão de crédito, leve um plano B, pois é comum as máquinas estarem “fora do ar”.

Na pesquisa pela internet, sobre hospedagem em Rapa Nui, não tivemos muita opção. Apesar das inúmeras leituras de relatos de viajantes, havia poucos contatos e imagens de locais para hospedagem. Eu fazia questão de ver os acessos, perguntar sobre a dimensão dos quartos, corredores, portas e banheiros. Os locais mais acessíveis são também os mais caros e as vezes, um simples degrau ou corredor estreito pode colocar o cadeirante numa situação complicada. Optamos pelo Hostel Kona Tau e diante de tantas negativas, anteriores, resolvemos fazer a reserva e apenas comunicar, somente quando já estávamos no Chile, que a Anna precisaria de ajuda quanto ao acesso. Foi o melhor que fizemos, pois certamente receberíamos outra negativa e não dava pra correr o risco. Chegamos em Rapa Nui e demoramos muito pra conseguirmos sair do aeroporto. Como os primeiros vôos do Peru, estavam chegando ali, alguma confusão aconteceu, até que pudéssemos sair, passando pela emigração novamente. Esperava-nos a querida Maria, recepcionista do Hostel, com um maravilhoso colar de flores. Se foi demorado sair do aeroporto, então, para arrumar as bagagens e a cadeira da Ana, na Van, foi ainda mais demorado. O motorista irritou-se com a cadeira de rodas e literalmente jogou-a no porta- malas. A Anna não conseguia subir no Carro, por causa da altura do mesmo. Conclusão, depois de muitas tentativas, um nativo ofereceu carona à ela, no seu carro quase lotado e a cadeira( junto com as demais bagagens) foi comigo na Van. Detalhe, este serviço fazia parte do “pacote” da reserva no Hostel e graças à Orongo, só precisamos deste gentil motorista novamente, no último dia na Ilha... Ao chegarmos no Hostel, fiquei um pouco apavorada com o acesso que era uma estrada de chão, íngreme e uma ladeirinha entre árvores. A recepcionista solicitou alguns reparos para os donos do Hostel, que curiosamente estavam em férias nesta época. Os reparos ocorriam, ainda, quando chegamos e também tivemos que trocar de quarto pois o acesso ao chuveiro era problemático. Curiosamente o pneu da cadeira furou e lá foi a Maria, atrás de uma oficina de bicicletas pra resolver isto para nós. Ufa! Ainda bem que resolveram no mesmo dia. Confesso que fiquei bastante nervosa. Então, minha sábia amiga me lembrou as inúmeras adversidades que poderíamos encontrar dali pra frente, e que ainda tava muito cedo pra gente se stressar. Por fim, resolvi relaxar e nos adaptamos às instalações, vencendo pequenos o obstáculos diários, que compensavam nosso sonho de estar naquele lugar. Lá em Rapa Nui encontramos várias pousadinhas e residências que são alugadas para turistas e, que não encontramos na rede. Quem vai sem a pressão de ter que ficar num determinado lugar e pode alugar um carro, sugiro que vá sem reserva (menos em fevereiro que é altíssima temporada) e procure durante o dia – que só acaba as 21:00- um lugar pra ficar. A cidade de Hanga Noa é pequena e há opções no entorno, fora do centro, nada nervoso, da Ilha. Procure o escritório da Senatur, na Av. Apina e receberá material informativo, mapas e bom atendimento. Foram 7 dias super aproveitados. Como em quase todas as Ilhas deste planeta, tudo é mais caro, mas com um pouco de planejamento e pesquisa é possível curtir a Ilha e viver uns dias sem horário, sem correria, na beleza do lugar. A alimentação nos restaurantes é cara, mas é de ótima qualidade. Nossas refeições foram saborosas e prazerosas, e quanto ao custo...bom, faz parte do sonho de visitar a Ilha. Já de cara descartamos o passeio guiado, oferecido pelo Hostel. Ah sim, lamentamos muito, porque de fato, faz toda a diferença conhecer a Ilha com guia, mas... Nos pediram U$ 800,00, com passeio por três dias , algumas horas de passeio em cada dia! Acabamos fechando um roteiro com um taxista local, o Sr Juan Molina, atencioso, educado e que prontamente nos auxiliou com o entra e sai, desmonta e monta da cadeira de rodas. Outro taxista que nos conquistou, com sua disposição, foi o Sr Nilson Bustamante. Este Sr. nos levou a lugares que a gente nunca imaginava conseguir chegar com a cadeiras de rodas! Me emociono quando lembro que um dia ele levou sua esposa conosco para que ela também pudesse nos ajudar, na visita à praia de Anakena. Há coisas que dinheiro nenhum, paga, e isto, em qualquer parte do mundo. E que em qualquer parte do mundo há pessoas que vão querer tirar proveito de você, mas há muito mais pessoas dispostas a te ajudar. Muito obrigada Sr Nilson Bustamante e Sr. Patricia!

Os preços dos artesanatos são proibitivos. Grande parte da população sobrevive com a venda de artesanatos, é verdade, mas quem pode optar, compra em Santiago. A menos que você se apaixone pelos ovos de madeira singelamente talhados. Estes sim, recomendo comprar em Rapa Nui, pois não encontrará noutro lugar. Há DVDs de shows e música Rapa Nui que também, não se encontra no Continente. As outras coisas, você acha nas feiras de Santiago (Feria Sta Luzia, por exemplo) ou lojas de artesanato, por um bom preço. Fizemos o passeio mais emocionante na Ilha, a visita ao Rano Karaku, Orongo e Rano Kau, no dia do réveillon. Estes lugares fazem parte do Parque Nacional Rapa Nui. A entrada ao parque custa U$ 60,00 e tem validade para uma semana. Como os vários sítios arqueológicos e pontos de visitação estão espalhados pela Ilha, a gente recebe um ingresso e ele vale para todas as entradas e você pode visitá-lo mais de uma vez. Recebemos também um mapa e instruções sobre como se comportar no local e os serviços oferecidos. Os lugares são belíssimos, de tirar o fôlego e chorar de emoção. A pergunta sobre a obsessão de um povo sobre estas incríveis esculturas, os Moai, permeia cada visita. Os nativos são grandes e fortes e creio que serviram de inspiração para cada uma destas estátuas gigantes, que a princípio são iguais, mas com um olhar mais atento, percebemos em cada Moai, sutilezas distintas. A visita é inenarrável e vale cada centavo, mas, confesso que me entristeceu perceber uma certa aridez nas instalações e precária estrutura para os visitantes. As placas limitam-se à entrada do Parque. Não há água potável e os banheiros são terríveis. Isto contrasta violentamente com a beleza de Orongo e o lugar onde ocorriam os rituais para a escolha do Homem-Pássaro. Senti falta de um guia local e mais informações sobre a história do lugar. A Anna não pagou entrada e sua visitação foi muito limitada. Os trajetos são em estrada de chão, há muitas pedras ou grama aonde a cadeira de rodas não chega. Fomos também ao Rano Karaku , Vulcão que fornecia a matéria prima para as esculturas. Há mais de 300 Moai neste lugar. Passeio imperdível. Caminhei muito. A Anna foi somente até a entrada e ficou descansando no carro. Eu queria percorrer todo o entorno do vulcão, mas não foi possível porque estava acontecendo um incêndio espontâneo, o que dava a irônica impressão de que o vulcão estava funcionando. Ali próximo estão os 15 Moai. Na volta passeamos de carro por toda a costa e vimos os Moai deitados. Eu avistei-os de longe do carro e pedi ao taxista que parasse. Atravessei a estrada correndo e não me dei conta que estava sobre um sítio arqueológico, tamanha emoção me tomou. Corri feito criança, pulei, chorei de alegria e depois de passado 30 segundos de euforia, olhei a minha direita...vária pessoas, distantes uns 200 metros, observavam minha invasão ...ai que vergonha! Por um momento esqueci completamente toda a educação de preservação ao patrimônio histórico e ai, ai, ai...pensei que surgiria um “guardaparque”, apitando, atrás de mim. Fugi tão rápido quanto cheguei. Voltamos ao Hostel, estávamos exaustas. Tomamos banho e nos preparamos pra fazer a ceia de réveillon: arroz mexicano e omelete. ( lembrando que todos os mercadinhos fecharam mais cedo, neste dia). Eis que, no meio da ceia, o gás acaba. Há! Rolou um stress movido à fome. Mais ou menos 1h depois o problema do gás no Hostel foi resolvido e nossa ceia foi ingerida meio crua. Depois da ceia, que saiu mais tarde do que o esperado, fomos procurar de um taxi, por telefone. Não havia. Ninguém nos atendeu. Fomos então, a pé: eu a Anna a cadeira, a ortese e o andador. O percurso era curto, uns 500m, mas demorou pra chegar. Por sorte ninguém trafega a mais de 30 km por hora, na cidade e ir pela estrada, com a cadeira, é melhor do que a calçada. A festa foi próxima ao Tahai, num parque com uma réplica de Moai e uma piscina natural. Havia um palco com shows musicais e fogos. Rimos muito pois quando estávamos chegando ao local, ouvimos a música “morango do nordeste”. Aguardamos ansiosamente os fogos e a imensa alegria de saber que aquele lugar do mundo era o último lugar a receber o ano novo. U huuuuuuuuu. Incomensurável alegria e emoção. As pessoas cumprimentavam-se amistosamente. Conversamos com turistas de várias partes do mundo. Na volta, estávamos a ponto de pedir uma carona para uma viatura policial, mas nos socorreu o nosso super, maxi, querido taxista, o Sr. Nilson, que não estava à trabalho mas nos levou de volta ao Hostel. No dia seguinte tudo fechado na Ilha... Sai por volta das 10:00 para achar nosso almoço, que foi sanduíche de atum e refrigerante. Eu apreciava um delicioso vinho branco, enquanto observava o mar no bar azul, em frente ao campo de futebol e que dizem ter o melhor sanduíche de atum, do mundo. Não tinha sanduíche de atum aquele dia! (risos). No dia seguinte fomos visitar o “Te Pito o Te Henua” ou, o “umbigo do mundo”. Uma intrigante rocha que não se encontra em nenhum outro lugar da Ilha. Conhecemos também os Moai virados ao mar, aliás, os únicos de Rapa Nui. Todos, absolutamente todos os outros Moai estão de costas para o mar...

Nosso maior desconforto foi justamente no último dia. Queríamos mergulhar no mar do pacífico. Marcamos para a manhã do penúltimo dia na Ilha às 9:00 da manhã. Passamos por uma entrevista com os mergulhadores, e ficamos bastante satisfeitas com o profissionalismo que demonstraram. A Operadora Atariki Rapa Nui Diving Center. Pedimos ao Sr. Nilson que nos pegasse no Hostel, umas 8:30 e eis que um imprevisto impossibilitou que fizéssemos o mergulho, pela manhã. Bom, tentamos na OUTRA operadora de mergulho, que fica na bahia onde se pode abservar e até mergulhar ao lado das tartarugas marinhas. Conseguimos uma “vaga” no passeio das 14 horas, AINDA MAIS CARO DO QUE a Diving Center, mas... Ai...que roubada! Nunca mergulhem à tarde, em nenhum lugar do mundo! ( A gente já sabia disso...nascemos numa Ilha e ambas já haviam mergulhado...) A água estava remexida, muita marola e um vento chatinho. Só nos perguntaram se já havíamos mergulhado e não tivemos nenhum treinamento para usar o snorkel (eu, por exemplo, já havia esquecido). Foram vários mergulhadores no nosso barco, mas a passeio, ninguém... Um instrutor acompanhou a Anna, exclusivamente, mas eu achei que eu é que iria precisar de ajuda. Me bateu um pânico que eu não conseguia descer do barco! Desci, meio que empurrada e engoli muita água até acertar a máscara. Fiquei agarrada à bóia do barco e quando eu estava menos assustada, a bóia começou a se mover. O barco nos deixou ali, em pleno pacífico e foi buscar outros mergulhadores. Meus sais!!! Sabe o que é sentir medo??? Fiquei uns 150 metros longe da Anna e do aspirante a instrutor e não tive outra escolha: respirei e mergulhei. A água fria e a magnífica paisagem aquática, com a respiração pausada do mergulho, me tranqüilizaram. Depois de alguns minutos consegui desfrutar da aventura e me aproximar deles. A esta altura, minha amiga estava dando piruetas na água e ria gostosamente, e comentava o que via, completamente alheia - ainda bem- ao meu pânico. Quando o barco chegou nadei até ele e entrei. Estava com um enjôo fenomenal e tremia absurdamente! Minha amiga ficou um pouco mais na água e eu só pensava em por meus pés na terra firme, outra vez. O retorno não demorou 30 minutos, o que me pareceu uma eternidade. Naquele dia, ainda, fomos ver, novamente o entardecer, no Tahai e foi, como sempre: de tirar o fôlego. Não falamos nada, estávamos tão plenas e satisfeitas, que não precisávamos de palavras. A noite recebemos a visita do Sr Nilson e da Patricia, brindamos com um delicioso vinho chileno e como se não bastasse toda a dificuldade em se despedir da Ilha, e das pessoas queridas que conhecemos...ganhamos um Moai esculpido pela Patricia. Uh...difícil conter as lágrimas. Fomos dormir, pra deixar a Ilha, pela manhã. Se é lindo chegar em Rapa Nui, tanto mais é deixá-la. Ver cada magnífico lugar distanciar-se, cheio de significados e recordações. Eu só conseguia dizer uma coisa: obrigada, obrigada, obrigada! Estávamos tão radiantes com o passeio à Ilha de Páscoa que qualquer outra atração nos pareceu muito pouco, quando retornamos à Santiago. O que dizer do Chile? Nossa primeira viagem ao país superou nossas expectativas de acolhimento e receptividade. Posso dizer que ficamos com vontade de voltar e ainda há mais coisas para visitar. Anna Nui e Luci Rapa, é uma brincadeira, uma forma como nos auto-intitulamos, após esta aventura.

Eu sou Looze, Luci Rapa .

20111214234107.JPG

[picturethis=http://www.mochileiros.com/upload/galeria/fotos/20111214234107.JPG 500 375 Legenda da Foto][Moai mirando al mar]

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