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São Petersburgo


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Uma chegada conturbada a São Petersburgo

 

Ainda falta muito para que a Russia tenha boa estrutura para o turismo. Logo você vai entender do que estamos falando. Chegamos a São Petersburgo após sete horas de viagem de ônibus de Helsinki. Foi um trecho longo, porém tranquilo. O mais legal de viajar de ônibus entre dois países é observar a mudança de paisagem e relevo. Entre a Finlândia e a Rússia existem dezenas de lagos e cenários bucólicos muito bonitos e essa época do ano, a entrada do verão, é perfeita para isso.

 

Chegamos na cidade no final da tarde e logo nos deparamos com o complicado alfabeto cirílico. Para nós brasileiros, o primeiro contato com as letras russas (as mesmas usadas na Grécia e na Bulgária) é bem confuso. Logo de cara, no metrô, indo da estação de trem para o centro da cidade, tivemos que enfrentar o desafio. Aos poucos fomos nos adaptando aos símbolos e começamos a criar uma lógica para nossa compreensão. A solução foi encontrar palavras em português que nos lembravam os símbolos ou criar nomes para eles. Por exemplo, a letra D parece uma cadeirinha o S parece o C, o W é o B , o L parece o N ao cotrário e por aí vai...Foi a primeira vez que nós consguimos compreender como um analfabeto se sente.

 

Ao chegarmos, após várias análises dos mapas (em cirílico claro), encontramos a região onde ficava o nosso hostel. Percebemos rapidamente que quase todos os russos não falam uma só palavra em inglês. Com mímicas e boa interpretação, nos aproximamos da nossa rua como numa brincadeira de caça ao tesouro, tudo isso arrastando nossas malas no meio da multidão que saia do trabalho.

 

A BÊBADA

Um pouco antes de chegarmos ao hostel que fica numa região central e movimentada da cidade, uma bêbada de uns 50 anos se aproximou com certa agressividade e tentou puxar uma de nossas mochilas. Nós nos afastamos, mas com o início de confusão um clima tenso foi criado. Ela estava totalmente alterada e nos xingou em russo, foi um papelão! E como a primeira impressão é a que fica, nós ficamos bem mal impressionados da cidade.

Apesar de ser um caso pontual, achamos as pessoas pouco amigáveis. Alguns tentaram ajudar mas nos deram informações erradas. Foi necessário fazer um "double check" ou até "triple check" de tudo que perguntávamos. Enfim encontramos nossa nova casa e rapidamente nos instalamos. O Bed & Bike Hostel fica no sexto andar de um prédio antigo sem elevador. Apesar da dificuldade para subir com as malas, é um lugar que vale a pena por ser um hostel clássico, de atmosfera amigável e muitos viajantes jovens e simpáticos. Nós até fizemos uma amiga russa de Moscou. Ela é de lá e nos recebeu quando visitamos a cidade ( isso a gente conta depois).

 

PÉSSIMO ATENDIMENTO

Na primeira noite saímos em busca de um lugar para jantar. A fome era grande, a viagem tinha sido longa e nossa alimentação bem ruim até então. Pela primeira vez decidimos, após quase três meses de Europa, comer num restaurante japonês. Há muitos em São Petersburgo e isso nos chamou atenção.

 

Para nossa infelicidade, o restaurante que escolhemos, próximo a pontos turisticos super famosos, era péssimo. Os garçons eram muito lentos e desinteressados em atender bem. A comunicação foi complicadíssima porque eles não falam palavras básicas em inglês. Além disso em São Petersburgo não há lei anti-fumo em lugares fechados e o cheiro de cigarro do restaurante era insuportável. Quase desistimos com o pedido já feito, mas acabamos vencidos pela fome e ficamos lá mesmo. Saímos com péssima impressão do atendimento, da pouca quantidade e da má qualidade da comida japonesa.

 

No segundo dia, conseguimos um bom mapa da cidade e estudamos melhor os lugares que desejávamos conhecer. As coisas melhoraram bastante e logo começamos a nos localizar bem na cidade. Primeiro conhecemos a Catedral de St. Isaac que é lindissima. Suntuosa e com capacidade para 14 mil pessoas, ela foi erguida no século XIX. A cúpula de ouro é apenas uma amostra do que existe lá dentro.

 

A catedral ortodoxa é revestida de mármores coloridos e mosaicos maravilhosos. O mais bizarro dessa igreja é que foi usada como depósito durante a era socialista... Vale a pena a visita.

Era sábado e as ruas estavam inacreditavelmente lotadas. Nós descobrimos que naquele fim de semana era o aniversário da fundação da cidade. São Petersburgo foi fundada em 27 de maio de 1703, pelo Czar Pedro o Grande. Foi a capital da Rússia por mais de 200 anos, mas deixou de ser depois da Revolução Russa. Várias atividades e comemorações foram montadas pela prefeitura no centro da cidade.

 

Desde shows até apresentações teatrais, grupos de dança, palhaços e etc. Foi interessante ver os russos curtindo uma festa local. As familias reunidas, as pessoas se divertindo, as crianças correndo por todo o lado... Teve até queima de fogos no Rio Neva. Parecia ano-novo. Nós adoramos!

 

Descobrimos que no domingo as comemorações seriam ainda maiores ...

 

LOFT PROJECT

No dia seguinte, mesmo com a cidade fervendo, alugamos duas bikes no proprio hostel e seguimos para uma feira de roupas, acessórios e objetos de arte que nos indicaram. Como nós adoramos feiras de comidas tipicas, antiguidades, roupas e bugigangas, pegamos nossas magrelas e seguimos pelas apertadas ruas da cidade até o Loft Project. A estrutura para bicicleta em Saint Pete ( como os descoladinhos chamam a cidade) é ruim, mesmo aos domingos. As ruas não têm muito espaço e há muitos carros. Tivemos que dividir espaço perigosamente entre os motoristas que não respeitam muito os ciclistas, porém seguimos com atenção e relativa tranquilidade para nosso destino.

O Loft Project Parecia um grande brechó dentro de um prédio onde paga-se um pequeno valor para entrar. As pessoas vendiam todo tipo de roupa, sapatos e acessórios. Os preços eram baixos e havia tantos vendedores que muitos instalam seus produtos nas escadarias que ligam um andar ao outro da feira. Muitas vezes era dificil andar. Não era muito organizado e os caminhos eram interrompidos por araras de roupas. Foi ótima experiência porque pudemos observar o comportamento e um pouco do estilo de vida dos russos pós-comunismo.

 

Seguimos de bike para o centro da cidade, vimos algumas matrioskas ( as bonequinhas russas) e paramos na Igreja do Sangue Derramado. Muito tradicional e talvez o ponto turistico mais emblemático da cidade. A igreja ortodoxa russa foi construída exatamente no local onde O Czar Alexandre II foi assassinado por revolucionários no século XIX. A igreja mantém o chão original da área onde ele foi atacado. Por dentro, as paredes são completamente preenchidas por mosaicos coloridos, são cerca de 300 trabalhos, verdadeiros quebra-cabeças lindíssimos. É extraordinária por dentro e por fora. Vale muito a visita. Para nós foi o principal e melhor ponto turístico da cidade.

Nessa tarde continuamos nossa pedalada pela cidade que ainda estava em festa. Passar de bike pela Avenida Nevsky, a principal da cidade, foi complicado.

 

Forte Pedro e Paulo

Na segunda-feira conhecemos o Forte de Pedro e Paulo, uma ilha onde a cidade surgiu. A fortaleza contém edifícios emblemáticos para a história russa, como a cadeia onde foram presos centenas de revolucionários bolcheviques e depois com a Revolução Russa figuras da monarquia. Com a virada do cenário político, a cadeia passou a abrigar os que apoiavam os Czares.

 

A catedral ortodoxa de Pedro e Paulo que também fica no forte, abriga o túmulo de vários Czares como Pedro o Grande e Nicolau II e toda a sua família (Romanov). Os Romanov foram a última família real russa. Nicolau II, sua mulher e filhos foram assassinados à queima-roupa no porão de um castelo em Ecatimburgo em 1917, pelos bolcheviques. A história é triste e intrigante, já que até hoje existe a lenda de que a filha mais nova, Anastasia, conseguiu fugir dos revolucionários. Nós achamos impossível, já que os corpos dos Romanov foram levados à Catedral do forte no fim da década de 90.

 

PÉSSIMO ATENDIMENTO PARTE II

Depois do passeio paramos num bar bem legal, com varanda agradável e vista para o rio. Pedimos algo para beber e comer, porém nosso pedido chegou cerca de 1h30 depois. Sem contar o péssimo atendimento da equipe do restaurante. Eles pareciam ter medo de iniciar qualquer tipo de diálogo. A conta demorou uns 20 minutos para chegar. Resolvemos pagar direto no balcão, já que a garçonete não entendeu a nossa reclamação.

 

HERMITAGE

No dia seguinte, fomos ao Museu Hermitage, uma espécie de Louvre russo. É um dos maiores museus de arte do mundo, são dez prédios às margens do Rio Neva. Nós visitamos o museu de fachada verde, que foi o Palácio de Inverno, casa oficial dos Czares. São milhares de aposentos hoje usados para a exposição de quadros, esculturas e objetos do próprio castelo. Há uma ala onde eles remontam alguns aposentos do castelo real. Foi uma das que mais gostamos. A vastíssima coleção reúne três milhões de peças de todas as épocas da história russa e europeia, sem falar nas peças da Ásia, África e Oriente Médio. Impossível ver tudo num dia só. O museu é um pouco desorganizado e confuso. Estava lotadíssimo e algumas salas eram super quentes, mesmo assim foi uma experiência bem interessante. O Hermitage é ponto obrigatório para quem gosta de arte. Custa 400 rublos para entrar, o equivalente a R$28,00.



A Rússia é um país tão caro quanto o Brasil, também considerado em desenvolvimento. Um jantar para duas pessoas, num restaurante médio, sai cerca de R$ 80,00. Percebemos que o consumo é crescente e acelerado. Há vários carros velhos, mas também vimos carrões importados. O aumento da desigualdade social é algo novo para eles, mas é um fato real. Nós gostamos muito dos pontos turisticos de São Petersburgo, foi uma experiência única vivenciar o dia-a-dia de um país tão distante do nosso, mesmo com a deficiência que eles ainda têm para receber os turistas, provavelmente uma grande cicatriz do regime comunista.

 

SÃO PETERSBURGO - RÚSSIA

Hospedagem: (2 mil rublos/dia => R$ 125,00/dia - quarto duplo ) - Hostel Bed & Bike - BOM

Transporte: a pé, metrô e bike - bom

Culinária : (400 rublos => R$ 26,00 por por prato em média): bom

Hospitalidade do povo local: ruim

Pontos Turísticos: muito bom

Preços: regular

Clima Local (média 25 graus): junho/12 - muito bom

Fuso Horário: 07 horas a mais em relação ao Brasil

Distância Percorrida desde o último destino: 369 km

Distância Percorrida desde o ponto de Partida (Lisboa): 7.261 km

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