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Entrando numa gelada na Groenlândia (30/4 a 7/5/2013)


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Fiquei bastante na dúvida entre postar ou não este relato. Primeiramente, não foi uma viagem mochileira: fui mesmo por meio de pacote de viagem comprado online (no site: http://www.visitgreenland.com). E, como não tem a opção "América do Norte" nos destinos de relatos de viagens, optei por escrever neste tópico, uma vez que a Groenlândia pertence à Dinamarca, país escandinavo. Porém, como existe pouquíssima informação sobre a Groenlândia aqui no Mochileiros, achei de bom tom compartilhar a experiência adquirida nesta viagem (ainda que, repito, não tenha sido uma viagem típica mochileira). Posto isto, inicialmente descreverei alguns fatos rápidos sobre esta ilha, que é considerada por alguns como a maior do mundo (caso não se considere a Austrália como uma ilha propriamente dita, mas como um continente).

 

Apesar de nos mapas a Groenlândia (em inglês: Greenland; em dinamarquês: Gronland; na língua nativa: Kalaallit Nunaat) frequentemente aparecer com quase o mesmo tamanho do continente africano (devido a distorções na hora de se converter algo tridimensional em duas dimensões), obviamente ela é bem menor (cerca de 2,5 milhões de km quadrados, um pouco menor que a Argentina); mas é o lugar menos densamente povoado do mundo: apenas 56 mil pessoas moram lá, sendo 15 mil na capital, Nuuk. A ilha é coberta por uma espessa camada de gelo (ice cap, sendo que o ponto com maior espessura ultrapassa os 3 mil metros) em 84% do seu território; apenas 16% do território groenlandês não está coberto por gelo o ano todo. Com condições climáticas tão adversas, não é de se espantar que tão pouca gente more ali. Praticamente não existem estradas; a maior delas, que liga o povoado de Kangerlussuaq à geleira, tem apenas 40km de extensão. Como as povoações são extremamente dispersas, todo o transporte é feito mesmo por avião; a companhia aérea local, a Air Greenland (http://www.airgreenland.com), liga os povoados por meio de pequenos aviões e/ou helicópteros; existem três ou quatro voos semanais de e para Copenhagen; nesse caso, sempre se chega ou se sai de Kangerlussuaq, uma vez que este povoado possui o único aeroporto com pista capaz de comportar grandes aviões. Eu estive em dois lugares na Groenlândia, Kangerlussuaq e depois Ilulissat, que é mais "turística" e bem mais procurada por ter mais belezas naturais e atrações de interesse turístico. Para se ter uma ideia sobre a geografia da ilha, segue um mapa com as principais localidades:

 

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Agora, ao relato propriamente dito:

 

30 de Abril: saída de Copenhagen e chegada em Kangerlussuaq

O voo de Copenhagen para Kangerlussuaq estava marcado para as 9:00h. Para quem não conhece, o aeroporto de Kastrupp tem acesso bastante facilitado, podendo-se chegar até lá de ônibus, trem ou metrô (este último funciona durante a noite toda, apesar de ter frequência reduzida de trens). O voo atrasou um pouco, saindo por volta das 9:30h. A duração do voo foi de 4 horas e 40 minutos, e a Groenlândia está 4 horas atrasada em relação à Dinamarca, portanto, o avião pousou no aeroporto de Kangerlussuaq às 10:10h. Além de mim, um casal dinamarquês na faixa dos sessenta anos também comprou o mesmo pacote; assim que chegamos no saguão do aeroporto, fomos recepcionados pelo guia Adam, um figura simpático, mestiço de dinamarquês com inuit (eles consideram o termo esquimó ofensivo; nunca o use caso viaje para a Groenlândia; ao invés dele, utilize o termo Inuit). O lugar em que ficaríamos hospedados ficava a 100 metros do aeroporto, então nem foi preciso transporte, fomos a pé até o Polar Lodge, um hotel muito simples, mas bem confortável. A temperatura estava acima do que eu estava esperando, por volta de 7 graus, e havia apenas alguns poucos lugares com neve remanescente, apesar dos lagos ao redor ainda estarem congelados; o guia me explicou depois que Kangerlussuaq, juntamente com a capital Nuuk, são os lugares com as condições climáticas mais amenas de toda a ilha. Kangerlussuaq nasceu como uma base militar americana durante a Segunda Guerra Mundial; em 1992, os americanos entregaram a base para a Dinamarca, e o povoado, de cerca de 800 habitantes, foi estabelecido. Após deixarmos nossas coisas no hotel, e de um breve descanso, fizemos o passeio programado para aquele dia: o "safári" na tundra; a intenção era de ver animais típicos da ilha em seu habitat natural, mas vimos apenas um boi almiscarado bem ao longe (foi preciso usar um binóculo para poder ver o bicho). Apesar de existirem muitos ursos polares na Groenlândia, eles não são comuns próximos às povoações (ficam mais restritos à camada de gelo), e caso apareça algum, deve ser abatido, pois é extremamente perigoso (isso ocorreu em 2007 em Ilulissat, meu próximo destino). Após um passeio pelos arredores de Kangerlussuaq, voltamos ao hotel e, à "noite" (nessa época, primavera, escurece lá pelas 23:00h e amanhece às 03:30h), Adam nos levou para jantar num ótimo restaurante à beira do congelado Lago Ferguson, o Rokluben, onde comi um filé de boi almiscarado; achei que a carne seria muito dura, mas muito pelo contrário, é bastante macia, e saborosa. Abaixo, fotos do Polar Lodge, do boi almiscarado visto pelo binóculo, uma panorâmica de Kangerlussuaq e do Lago Ferguson (tirada na entrada do Rokluben).

 

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1° de Maio: Dia reservado ao passeio até a cobertura de gelo (ice cap). Apesar de estar a apenas 40km do aeroporto de Kangerlussuaq, leva-se cerca de duas horas e meia para chegar até lá, através da mais extensa rodovia da Groenlândia; porém, chamar aquele caminho de rodovia é ser muito generoso; tem lugares em que não dá para acreditar que se consegue passar; mas, estávamos num veículo 4x4, semelhante a caminhões do exército. Saímos por volta do meio-dia, desta vez com mais um integrante, um rapaz também dinamarquês (assim como o casal já mencionado) chamado Carsten, que estava planejando ficar um mês na Groenlândia, e cujos planos de viagem incluíam uma ida até Qaanaaq, no extremo norte (76° de latitude). No caminho, vimos muito mais animais do que no dia anterior: além dos onipresentes bois almiscarados (vimos uns três durante o trajeto), pudemos ver também um alce caribu, duas lebres do ártico e uma raposa do ártico (pena que não deu para tirar fotos, eles eram muito rápidos). A paisagem era deslumbrante, ainda que desoladora: montanhas, neve nas partes mais altas, lagos congelados e um vale bem arenoso, com dunas (quem pensa que não há dunas na Groenlândia, deveria visitar esta região). Nesse vale arenoso também pode se ver destroços de um avião que caiu ali na década de 70 (felizmente, ninguém morreu; todos os tripulantes foram resgatados vivos). Depois de duas horas e meia, chegamos enfim na borda da geleira: realmente, como já tinham me dito antes, o gelo ali tem cor azul claro, muito interessante. De onde o caminhão parou, andamos mais ou menos 500 metros até pisar enfim no gelo. Fiquei preocupado porque minha bota não estava bem amarrada e entrou bastante neve dentro dela, mas o guia me disse que ela não estava fria o bastante e por isso não teria problema. Ficamos ali por cerca de meia hora, num frio bem mais intenso do que em Kangerlussuaq (o guia falou em -5°C, mas com uma sensação térmica menor), e depois encaramos o caminho de volta (mais duas horas e meia até chegarmos ao hotel). Abaixo, fotos do caminhão utilizado durante o passeio, do boi almiscarado (à direita), da visão geral do campo arenoso, dos destroços do avião, da geleira ao longe, do início da caminhada até o gelo e finalmente em cima da cobertura de gelo.

 

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2 de Maio: voo marcado de Kangerlussuaq para Ilulissat às 13:30h, com chegada prevista às 14:10h. Estava marcado nesse dia a caminhada pela povoação de Ilulissat, visitando os pontos mais interessantes. No entanto, não tivemos sorte: o dia amanheceu com chuva e vento forte, e todos os voos atrasaram. No fim, acabamos saindo de Kangerlussuaq apenas às 20:10h, para chegarmos enfim ao destino final às 20:50h. Na chegada em Ilulissat, o clima continuava ruim, nevando forte, e com temperatura na faixa dos -5°C. Resumindo, esse foi um dia perdido, passado quase que totalmente dentro do aeroporto de Kangerlussuaq e tomando um chá de cadeira daqueles. Em Ilulissat, ficamos no Arctic Hotel, que se autointitula o hotel de luxo mais ao norte do mundo; porém, não achei tão luxuoso assim, é bem confortável, isso sim. E a tal caminhada teria que ficar para o dia seguinte. Abaixo, foto do avião que nos levou de Kangerlussuaq para Ilulissat, na chegada ao destino final.

 

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3 de Maio: neste dia estavam programados a caminhada até a beira do icefjord e, à "noite", o passeio de barco em meio aos icebergs. No entanto, como chegamos no final do dia anterior, estes dois passeios foram transferidos para o dia seguinte, e neste dia fizemos a caminhada por Ilulissat. Com cerca de 3 mil habitantes, Ilulissat (palavra nativa que quer dizer iceberg) se autointitula a "capital mundial dos icebergs", e deve ser mesmo: é o que não falta por lá. O clima é bem mais severo do que o de Kangerlussuaq, no auge do inverno a temperatura em Ilulissat pode descer para impressionantes -60°C. No momento da caminhada, a temperatura estava na faixa dos -7°C, mas com uma sensação térmica de -16°C, isso em plena primavera. Como a cidade é muito pequena, em pouco mais de uma hora dá para ver tudo. Chamou a minha atenção o porto (com lanchas encalhadas em meio ao gelo, além de navios quebra-gelo), a singela porém bonita igreja e a quantidade de icebergs que dá para ser vista no centro da cidade. Abaixo, fotos de tudo isso:

 

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4 de maio: Dia com duas atividades programadas; à tarde, a caminhada até a beira do fiorde de gelo (icefjord) e, à "noite", passeio de barco em meio aos icebergs. Normalmente, a agência de viagens não programa passeios aos sábados, mas como tivemos problemas de atraso na chegada, não teve outro jeito. A caminhada foi bem puxada, por causa da neve que tinha caído nos dias anteriores. A duração é de mais ou menos duas horas (ida e volta) e o objetivo é chegar no chamado "berçário" dos icebergs, o icefjord. Descobri que caminhar num terreno mais ou menos acidentado, com a neve por vezes chegando à canela, não é a tarefa mais fácil que existe; a guia (uma nativa de origem dinamarquesa, que morou um ano no Brasil fazendo intercâmbio) caminhava com facilidade, mas eu e o casal de dinamarqueses estávamos já com a língua de fora; mas o final compensou, a paisagem do icefjord é única, algo que se vê poucas vezes na vida. A temperatura estava na faixa dos -10 graus, mas com o esforço da caminhada, ninguém sentiu frio (muito pelo contrário, suamos até). Agora, o passeio de barco é outra história: duas horas e meia parado dentro de um navio, num frio de -15 graus, é literalmente de congelar. Na primeira hora todos estavam animados, tirando fotos dos icebergs, mas depois disso todo mundo só queria ficar dentro da cabine do barco (que é minúsculo, cabem poucas pessoas; estávamos em 12 pessoas e nem todos cabiam ao mesmo tempo na cabine). É muito bonito de se ver, chegar perto dos icebergs, e tocá-los, é fantástico; mas poderia ser um pouco menos longo. Abaixo, fotos, respectivamente, da caminhada ao icefjord, a beira do mesmo, a cabine do barco que nos levou e algumas fotos de icebergs.

 

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6 de Maio: Dia reservado para a atividade que eu achei mais interessante, o passeio de trenó puxado por cães. Cada trenó é puxado por nove cães, e posso adiantar que em nenhum momento eles foram maltratados, todos eles são muito apegados ao dono (que também é o condutor do trenó). No entanto, eles não são mansos, e não é boa ideia tentar acariciar um deles. O passeio em si dura cerca de duas horas, e posso garantir que quem andou num trenó desses, está habilitado para participar da Festa do Peão de Barretos: como aquilo chacoalha! Nas regiões de declive, então, é uma verdadeira montanha russa, se não se segurar bem, cai fora do trenó mesmo. Como já era primavera, a camada de neve em alguns locais era mais fina, deixando pedras à mostra; quando se passa por cima das delas, é um deus nos acuda. Sem contar que as curvas são muito fechadas, por duas vezes estive muito perto de ser jogado para fora do trenó, e em pelo menos uma vez eu vi aquilo virando e capotando (por sorte, só na minha imaginação). Posso dizer que é uma experiência única! De tarde, um passeio rápido pelo vilarejo (já que o tempo tinha melhorado um pouco) e de volta ao hotel para arrumar as coisas para a volta no dia seguinte. Abaixo, fotos do passeio de trenó:

 

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7 de Maio: Dia de voltar para Copenhagen, em dois voos: o primeiro, de Ilulissat para Kangerlussuaq, onde correu tudo certo, saiu no horário previsto e tudo mais. O segundo, de Kangerlussuaq para Copenhagen, estava previsto para decolar às 13:10h, mas, como ele precisa esperar outros voos (todos voltam no mesmo voo para a Dinamarca), ele atrasou demais (por conta de atrasos nos outros voos). Por fim, decolamos às 22:25h, mais de 9 horas de atraso. Por muito pouco não perdi o meu voo de Copenhagen para Berlim (caso o voo tivesse saído no horário previsto, eu chegaria em Copenhagen às 21:30h, dormiria lá e iria para Berlim no dia seguinte, no voo das 8:25h da Easyjet; mas, com o atraso, chegamos pouco antes das 7 da manhã em Copenhagen, e só consegui pegar minha mala despachada às 7:55h; por sorte, o avião da Easyjet atrasou 20 minutos, decolando às 8:45h, e com isso deu tempo de pegá-lo). Apesar de todo esse perrengue com aviões em Kangerlussuaq, realizei um antigo sonho: conhecer um dos lugares menos habitados, mais gelados e mais isolados do planeta.

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  • 7 meses depois...

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