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  1. Expedição Amazônia A Amazônia é uma região do país que sempre me despertou muita curiosidade. Sempre tive muita vontade de conhecer esta região de floresta. Depois que comecei a realizar viagens de moto comecei a pensar em uma pela região. Depois de ler vários relatos de viagens pela Amazônia, comecei a planejar uma pelas estradas de terra das rodovias Transamazônica e BR 319, que liga Porto velho a Manaus. Lancei esta ideia em um grupo de WhatsApp e de imediato 5 amigos confirmaram a participação. Como nós não tínhamos experiência de pilotagem em estradas de terra e areia, resolvemos marcar uma viagem de treino pela região do Jalapão, no estado do Tocantins (Pode conferir esta viagem aqui). Depois desta viagem 4 dos integrantes iniciais aventura desistiram devido as dificuldades enfrentadas nas areias do Jalapão. No fim restaram apenas meu amigo Adriano Tamietti e eu para encarar este desafio. Comecei os preparativos escolhendo uma moto para encarar o terreno off road. Todas as viagens que tinha feito até o momento (Patagônia 2015 e Atacama 2016) foram feitas em uma Honda Shadow 750. E estava claro que não dava para ser na Morena (nome da moto). A princípio comprei uma XRE 300, uma moto de baixa cilindrada mas leve e ágil. Estava satisfeito com ela até o momento que ela trincou o cabeçote (problema crônico das XRE 300). Retifiquei o cabeçote, fiz uma manutenção geral, mas minha confiança na máquina acabou. Comprei então uma Teneré 250 2017 muito nova. A mesma moto usada pelo Adriano. Esta moto já veio com protetor de motor. Instalei um baú traseiro e um suporte de baús laterais. Neste suporte instalei uma grade para transportar um galão de combustível de 5 litros e do outro lado adaptei um alforje de couro que eu usava em minha Shadow. Instalei um par de faróis de milha em led e uma tomada 12 volts. Fabriquei e instalei também um porta ferramentas usando um tubo de PVC de 100 milímetros. A máquina estava pronta para o desafio. Quanto a itens de segurança pessoais, iria usar uma armadura para motocross, joelheiras articuladas, luvas de couro cano longo, calça e jaqueta de cordura. Um capacete tipo motocross e óculos de proteção, apesar do capacete ter viseira. A poucos dias do início da aventura meu cunhado Amerizon disse que queria ir. Mas não tinha moto, nenhum equipamento de proteção e nenhuma experiência em viagens de moto. Eu disse que a moto não era problema pois eu tinha a XRE 300, aquela que havia trincado o cabeçote, e que venderia para ele. Só não podia garantir que ela iria aguentar o desafio. Equipamento de proteção era barato e que se podia comprar em qualquer loja. E a experiência ele iria adquirir durante a viagem. O maluco topou. Depois de oito meses de muita ansiedade preparação finalmente o dia de partir havia chegado. Eu e o Amerizon moramos em Goiânia, o Adriano em Brasília. Combinamos de nos encontrar em Uruaçu, Goiás a 300 km de Goiânia, na quinta feira 7 de setembro de 2017. Combinei com o Amerizon de me encontrar com ele na casa dele na quarta feira as cinco e meia da tarde para sairmos as seis. Saí do trabalho as cinco e já fui para lá. Chegando lá o cara não estava. Tinha saído para comprar os equipamentos de proteção e só chegou as seis e meia. Até que ele se aprontou, arrumou a moto, se despediu da família e finalmente conseguimos sair, já eram nove horas da noite. Tínhamos combinado com o Adriano que iríamos sair de Uruaçu quinta as seis da manhã. Ou seja, nós tínhamos que viajar 300 km para encontrar com ele. A viagem apesar de ser a noite foi muito tranquila. O tempo estava fresco, a rodovia estava vazia e conseguimos manter uma velocidade média de 100 km/h. Meia noite e meia estávamos tomando uma Heineken gelada em um posto na cidade de Uruaçu. Fomos para casa de minha irmã, onde passamos o resto da noite. Levantamos as cinco e às seis horas já estávamos no local combinado, onde encontramos o Adriano. Calibramos os pneus das motos e pegamos a BR 153 com destino a Colinas do Tocantins, onde iríamos pernoitar. A rodovia, famosa por seu intenso tráfego de caminhões estava relativamente vazia, o que fez a viagem render bastante. O calor neste dia estava muito intenso. A impressão era que um secador de cabelo gigante estava soprando na gente o tempo inteiro. Com todo aquele equipamento de proteção a coisa ficava pior ainda. Depois de rodar 600 km chegamos a Miranorte, no estado do Tocantins, onde paramos para descansar em uma tenda de frutas. Que vendia sucos, abacaxi e melão gelados. Realmente estávamos precisando. Logo chegamos a Colinas e como estava muito cedo ainda resolvemos tocar até Araguaína, onde nos hospedamos no Mais Hotel. Estava acontecendo um encontro de motociclistas na cidade, mas como estávamos muito cansados decidimos dormir para sair bem cedo no outro dia. Combinamos de tomar o café da manhã que era servido a partir das seis e voltar a estrada. Só que eu perdi a hora. Coisa rara de acontecer. Isso atrasou um pouco nossa saída, mas como frisou o Amerizon, estamos em férias. Tomamos um café reforçado e voltamos a 153 com destino a... onde mesmo? Era para ser Marabá, já no estado do Pará. Estávamos 100 km adiantados em nosso roteiro, então deixamos de lado a programação original e resolvemos que iríamos tocar até onde desse. Um pouco antes de Xambioá, parei para tirar umas fotos e os caras sumiram na minha frente. Por mais que eu acelerasse não conseguia alcança-los. Chegando a Xambioá fui até a Balsa para atravessar o rio Araguaia. Nada de encontrar os dois. Perguntei na balsa se tinham passado por lá e me informaram que não. Esperei um pouco ali e nada deles chegarem. Resolvi dar uma volta pela cidade. Parei em um hotel onde me deram a senha do wifi e tentei me comunicar com eles pelo WhatsApp. Não responderam. Liguei várias vezes e nada. Sentei em uma cadeira e esperei um bom tempo até que enfim apareceram. Nessa brincadeira perdemos umas duas horas. Mas tudo bem. Estamos em férias. Entramos na Balsa, que cobrava uns 25 reais pela travessia de motos. Lá conhecemos um senhor que já tinha morado em Goiânia. Ele nos indicou almoçar em uma barraca na beira do rio Tocantins, depois de Marabá. Chegamos em Marabá perto de meio dia e entramos na cidade pra eu sacar dinheiro para a viagem. Me surpreendeu o tamanho da cidade. Em minha ignorância, o estado do Pará só tinha uma grande cidade, que era Belém. Saindo da cidade fomos para Itupiranga, que foi o local que nos foi indicado pra almoçar. Uma cidadezinha as margens do Rio Tocantins. Uma orla bacana, cheia de barracas onde se vendia almoço, cerveja e peixe frito. Ficamos com o peixe frito inteiro, acompanhado de arroz e salada. Bom demais. Depois de um breve descanso retornamos a Transamazônica. É isso mesmo. Já estávamos em nosso primeiro objetivo da viagem. A famosa Rodovia Transamazônica. Ela era asfaltada no trecho até Itupiranga. Depois de Itupiranga começou um trecho de 100 km de terra. Esse trecho estava em obras. E como não estava chovendo só tinha poeira. Muita poeira. Neste momento começamos a usar os óculos de proteção junto com uma bandana para tentar filtrar um pouco do ar que respirávamos. Estes dois equipamentos iriam nos acompanhar por muito tempo ainda. Logo que entramos na estrada sem asfalto o primeiro susto. Entramos tracionando muito e a terra tinha sido molhada por um caminhão pipa, o que fez um pouco de barro sobre o chão recentemente compactado. Estava um quiabo. A moto saiu de traseira e quando tentei consertar e derrapou com a roda da frente. Quase comprei terreno pela primeira vez na Transamazônica. Quando eu comentei com o Adriano ele disse que tinha acontecido o mesmo com ele. Bom para ficar esperto com o barro. Mesmo na estrada de chão, que estava em boas condições estávamos andando forte. Em um trecho com muita poeira passei raspando em uma mula que estava no meio da estrada. Como estava na frente dei meia volta para alertar os colegas. Perigoso demais a situação. Passamos então a andar um pouco mais devagar. Logo chegamos a cidade de Novo Repartimento onde nos hospedamos no hotel Monte das Oliveiras. Que realmente ficava em cima de um morro na beira da rodovia. Aconteceu uma coisa engraçada ali. Quando parei a moto e coloquei os pés no chão, a moto começou a andar de ré devido a inclinação. Apertei o freio da roda da frente que travou, mas mesmo assim ela não parou. E a descida era bem grande. O Amerizon teve que vir correndo para segurar a moto. Que depois de muito esforço ela resolveu parar. Quaaaase... Depois de nos instalar cada um em um quarto, tomar um merecido banho e tirar na medida do possível a poeira, descemos para o saguão onde encontramos um outro moto aventureiro que estava no sentido contrário. Estava viajando só. Infelizmente não me lembro o nome dele. Ele nos alertou sobre as poacas que iríamos encontrar pela frente. Poaca é uma aglomeração de uma poeira bem fina, que assenta em um trecho da estrada. Pode ser rasa ou funda, as vezes com até meio metro de profundidade. Quando a moto entra na poaca perde-se o controle quase que totalmente, exigindo do piloto uma técnica apurada para não cair. E o pior é que ela esconde buracos, pedras, pau e qualquer outra coisa. Não dá para saber o que tem embaixo. É quase uma pilotagem às cegas. Saímos para comer e nos intrigou o motivo da cidade se chamar Novo Repartimento. Levantamos várias teorias. Mas nenhuma parecia muito aceitável. O Adriano resolveu voltar para o hotel e eu e o Amerizon ficamos tomando umas. Nisso conhecemos um simpático morador da cidade que se sentou conosco e foi nos contar a respeito da região e dos costumes do povo paraense. E aproveitou para nos informar a respeito do nome da cidade. Existia ali uma cidade com o nome de Repartimento. Quando se formou o lago da hidrelétrica de Tucuruí, a cidade foi inundada. Todos os cidadãos foram deslocados para uma nova cidade, que foi chamada de Novo Repartimento. Infelizmente não fomos conhecer a Hidrelétrica de Tucuruí. Para mim que sou engenheiro eletricista foi lastimável, porque provavelmente não passarei mais por ali. Levantamos bem cedo e voltamos à Transamazônica. Alternando longos trechos de asfalto com pequenos trechos de terra. Paramos para o café da manhã em uma simples lanchonete na beira da estrada, onde comi dois pasteis fritos e tomamos um açaí a moda paraense. Totalmente diferente do que temos em Goiás. O Adriano gostou demais, eu nem tanto. Não é ruim, apenas diferente do que estamos acostumados. Passamos por Pacajá e em seguida chegamos a Usina de Belo Monte, no rio Xingu, que foi tema de muitas controvérsias a um certo tempo, devido ao grande impacto ambiental. Alí paramos para umas fotos e para apreciar a grande obra de engenharia. Ela ainda está em construção, visto que apenas parte das turbinas estavam instaladas. Depois de Belo Monte o asfalto se foi completamente. Aí seria terra pelos próximos 15 dias. Logo chegamos a um trecho molhado, por uma chuva recente. Pouca lama, mas um piso escorregadio. Ainda bem que foi curto. Eu estava andando muito rápido, e logo deixeis os colegas bem para traz. Sempre parava para espera-los em alguma sombra, já que o calor úmido era infernal. Tinha a impressão de estar derretendo. Em uma dessas paradas eles demoraram demais a chegar. Fiquei preocupado e resolvi voltar. Depois de voltar uns 30 km encontro o Adriano no meio da estrada com a moto sem a roda da frente. Havia furado o pneu. O Amerizon tinha ido levar em um povoado próximo para consertar. Ficamos esperando. A sede estava demais. Nossa água tinha acabado. Ia passando um morador da região em uma moto. Parei e perguntei se havia ali algum local que pudesse pegar uma água. Imediatamente ele se ofereceu para buscar na casa da irmã dele que era ali perto. Trouxe uma garrafa pet de 2 litros cheia de água geladinha. A água mais gostosa que já tinha tomado (acho que foi a sede). Depois de uma hora o Amerizon voltou com o pneu remendado. Quando estávamos terminando de montar na moto começa a chover novamente. E propus acampar ali mesmo. Já que tinha uma varanda de um bar que parecia estar abandonado. O Amerizon queria prosseguir de noite no barro. Depois de um certo diálogo concordamos em passar a noite ali mesmo. Fiz um arroz com carne, o Amerizon forneceu uma farofa de carne seca. Estava tudo muito bom (ou era a fome?). Lá pelas nove horas comentei que para ficar melhor só se tivesse uma cerveja. O maluco do Amerizon pegou a moto e pilotou naquele barro escorregadio até o povoado mais próximo e comprou seis latinhas. Aí o acampamento ficou em alto nível. Preparei minha cama em cima de uma mesa de bilhar que estava na varanda do bar. O Adriano armou sua barraca na varanda. O Amerizon improvisou uma rede com seu cobertor. Funcionou bem, mas ele passou um certo frio, já que seu cobertor tinha virado rede. Para completar tinha umas galinhas que dormiam empoleiradas na varanda, nos fazendo companhia a noite toda. O galo começou a cantar as 5 da manhã. Nesse dia rodamos 480 km. Quase todo em estradas de terra. As poacas estavam começando a dar o ar da graça. Logo na primeira grande poaca, subiu uma grande poeira que tirou a visibilidade quase que totalmente. O Adriano estava na frente, o Amerizon no meio e eu atrás. Estávamos bem próximos um do outro. Quando eu consegui enxergar vi a moto do Amerizon dançando de um lado para o outro, cai não cai. Esperei ele decidir para que lado ia e quando ele foi para a esquerda eu joguei para a direita com muito esforço, visto que estava quase sem controle da moto. Quando consigo tirar da moto do Amerizon e a poeira diminui um pouco vejo logo a minha frente a moto do Adriano deitada no meio da poaca. Mais uma vez foi um esforço tremendo para desviar. Passei tão perto que minha bota tocou o pneu dianteiro da moto dele. Agora era a minha vez de lutar para não cair. A moto saiu de frente, quando consertava a frente ela saia com a traseira e de repente parecia que saia com traseira e dianteira simultaneamente. Com esse esforço todo ela foi naturalmente diminuindo a velocidade e consegui sair ileso. Parei a moto e voltei para ver como estava o Adriano e o Amerizon. O Amerizon não caiu e o Adriano estava bem. Foi só o susto. Mas foi uma situação perigosa pois corremos o risco de atropelar ele. Tenso de mais. Depois de um tombo o cara começa a andar mais devagar. Pelo menos no começo. Seguimos viagem. Depois de inúmeras poacas e muitos quase tombos chegamos em Rurópolis. Acho que era domingo. Não conseguimos comer nada na cidade, todo o comercio estava fechado. Conseguimos comer uns salgados na lanchonete do posto. Após 150 km de muita poeira. Muita mesmo chegamos a balsa do rio Tapajós. Um rio imenso de águas cristalinas. Aproveitamos para tomar um banho para tirar a poeira, ali no porto mesmo. Uns 40 minutos e a balsa chegou. Uma balsa gigantesca. Pagamos algo em torno de 10 reais cada, para fazer a travessia das motos. Chegamos a Itaituba. Um importante porto, por onde é embarcada a produção de soja do estado de Mato Grosso . Já eram quase 3 horas da tarde e só encontramos um restaurante bem simples para almoçar. A comida era simples e estava boa. Nossas mesas estavam na calçada e o esgoto corria em uma vala entre o meio fio e o asfalto da rua. Aliás isso é bem comum ali. Peguei o mapa de papel do Adriano para ver o roteiro. Depois de conferir, dobrei e coloquei em cima do banco da moto. Veio um vento e derrubou o mapa. Onde ele caiu? No esgoto. Só contei isso para ele muitos dias depois. Abastecemos em um posto na saída da cidade e seguimos viagem. Na saída da cidade encontramos uma turma de motociclistas religiosos. Conversamos com eles, tiramos fotos e na hora da despedida eles pediram para que fizéssemos uma oração com eles para que nossa viagem fosse abençoada. Bacana demais essa turma. Dali pegamos um transito intenso de caminhonetes e carros pequenos vindos de uma vila de pescadores, chamada Vila Nova. Depois de 50 km entramos no Parque Nacional da Amazônia. Pela primeira vez estávamos vendo mata fechada na beira da estrada. Até então toda a floresta nas margens da rodovia havia sido destruída. Logo passamos por uma ponte sobre o igarapé Tracoá, onde tinha uma bonita cachoeira. Seguimos viagem por mais 10 km a procura de um local para acampar e como estava escurecendo resolvemos voltar, pois ali na entrada do parque, as margens do Tracoá tinha uma base da guarda do parque. Entramos lá e fomos recebidos pelo Xavier que era o guarda que estava a serviço naquele dia. Logo chegou o Celmir, que era guarda florestal também, mas só ia entrar em serviço no dia seguinte. Eles gentilmente permitiram que passássemos a noite ali. Armamos nossas barracas e fomos tomar banho na cacheira do Tracoá. Banho merecido. Não tínhamos tomado banho na noite anterior e estávamos imundos. Ficamos um bom tempo alí. Depois do merecido banho resolvemos ir na vila dos pescadores para ver se ainda achávamos uma galinha caipira. O Celmir que estava de folga se ofereceu para nos levar lá. Chegamos já no final da festa. Só tinha uma barraca onde ainda tinha comida. A cerveja já tinha acabado. Jantamos e conversamos ali por um bom tempo. Na hora de ir embora o Celmir nos levou a um local onde pudemos comprar umas cervejas, item essencial para fechar bem a noite. Voltamos para o acampamento e ficamos tomando uma cerva conversando até tarde. As quatro da manhã acordamos com uma movimentação de pessoas no acampamento e na rodovia que passava ao lado. Ficamos um bom tempo na barraca e escutando as conversas e tentando adivinhar o que estava acontecendo. As cinco levantamos para preparar as bagagens e ficamos sabendo que se tratava de uma blitz da polícia florestal, que pretendia pegar caçadores que estavam atuando no parque. Infelizmente não prenderam nenhum. Terminamos de ajeitar as bagagens e o Xavier nos ofereceu um café com pão. Gente boa aqueles dois. Nos despedimos da turma, tiramos umas fotos com os caras da polícia e fomos para a estrada. Uns 130 km depois que saímos do acampamento passei por três ciclistas. Achei interessante encontrar 3 ciclistas em um lugar ermo como aquele e como sou ciclista também, parei para conversar. Eram dois brasileiros e um americano. Pretendiam percorrer a rodovia Transamazônica de Itaituba até Humaitá, totalizando mais de 1000 km de estrada de chão. Os caras estavam só a poeira, assim como a gente. Depois de conversar um pouco com eles pediram para tirar uma foto e segui viagem. Um dia antes de escrever este relato lendo notícias na internet me deparo com uma reportagem em um jornal falando sobre eles. Eram dois cientistas brasileiros e um astronauta da Nasa. Pelos nomes deles achei a página deles no Facebook e localizei a foto que tiramos naquele lugar. Animados aqueles caras. Depois de alguns quilômetros paramos para lanchar em um pequeno povoado, já fora do parque, que servia de base para garimpos da região. Abastecemos nosso camelback com água gelada, aproveitei para ir ao banheiro, pois comecei a ter um desarranjo intestinal que me acompanhou por vários dias. Resolvemos aumentar o ritmo da viagem, mas a estrada estava ficando cada vez mais cheia de buracos e as poacas tinham voltado. Mas mesmo assim o ritmo estava forte. O Amerizon estava na frente, o Adriano em segundo e eu atrás. Mas devido ao aprendizado no incidente anterior mantínhamos distância segura de um para o outro. Depois de um certo tempo vi subir uma poeira e a moto do Adriano começou com aquele sintoma conhecido de quem entra rápido demais em uma poaca. Não teve jeito. Ele lutou com ela como se fosse um touro bravo, mas ela venceu e jogou ele para cima, capotou e caiu em cima dele. Um tombo sinistro. Diminuí a velocidade, parei a moto e corri para ver se ele estava bem. Graças a Deus não machucou nada. Só tomou uma pancada na coxa que chegou a rasgar sua calça de cordura. Ajudei ele a levantar a moto e seguimos. Essa poaca terminava em uma curva e quando terminamos a curva a moto do Amerizon estava deitada no meio da estrada. Ele perdeu o controle na mesma poaca, caiu já fora dela e estava esperando a gente chegar para ajudá-lo a levantar a moto. Mas também não machucou nada. Bom demais. Depois de rir bastante da situação seguimos viagem até Jacareacanga, onde paramos para consertar a moto do Adriano que estava com problema de contato no interruptor de partida. Ali o Amerizon, depois de muita insistência nossa comprou uns elásticos para amarrar a bagagem dele, que até o momento estava amarrada com corda. Tinha que parar a todo momento para apertar a carga. Segundo ele se amarrar carga com elástico funcionasse, caminhoneiro usava elástico em vez de corda. Figura esse sujeito. Mas curioso é que depois que começou a usar os elásticos as paradas para reaperto diminuíram. Já havíamos andado bastante nesse dia, mas como ainda estava cedo resolvemos chegar até o Rio Sucunduri onde tinha uma balsa e pretendíamos acampar. Mas chegando lá encontramos uma pensão com quartos com ar condicionado, mas banheiro compartilhado. Melhor que dormir em barraca. Tomamos um banho e fomos comer uma caldeirada amazonense. Uma delícia de peixe. Lá conhecemos um morador da região que convidamos para jantar conosco. Um cara que conhecia muito bem a região e muito bom de papo. Comemos bastante, tomamos muita cerveja barata e conversamos bastante. A dona da barraca, a dona Flor uma pessoa muito simpática começou a conversar com o Amerizon e logo eles descobriram muitos amigos em comum na região de Confresa, no Mato Grosso. Esse foi um dia de pilotagem pesada. Foram 550 km somente em estradas de chão. Voltamos para o hotel e fomos dormir. Levantamos bem cedo, tomamos um café da manhã muito simples e seguimos para Apuí onde paramos para abastecer. De lá seguimos viagem até o Rio Aripuanã para pegar a balsa. A balsa principal ia demorar muito a nos buscar, mas veio um sujeito numa balsa minúscula. O Adriano ficou meio receoso de pôr a moto dele em cima daquela balsinha, mas no depois resolveu ir também e foi o primeiro a embarcar (com a balsa vazia era mais fácil). Embarcamos as 3 motos e o cara nos atravessou. O trabalho foi para desembarcar as 3 motos de ré. Mas deu certo. Seguimos em uma estrada, onde de vez em quando apareciam uns buracos grandes. O Amerizon entrou em um deles e não conseguiu sair. Como ele estava no fim da fila não conseguiu levantar a moto. Ficou lá até passar um carro e o motorista o ajudar a pôr a moto de pé. Cada um deles já tinham caído duas vezes cada. Eu ainda era o único que não tinha experimentado o chão da Amazônia. Eles estavam bem cabreiros e pilotavam devagar. Eu estava pilotando agressivamente no meio daqueles buracos. Estava andando a entre oitenta e noventa quilômetros por hora. Minha confiança estava em 120 por cento. Mas nesse ritmo você deve ter atenção total o tempo todo. Mas em momento de desatenção resolvi mudar de faixa na estrada e não vi que entre os dois lados havia uma grande vala. Entrei nela rápido, quando tentei sair a roda da frente derrapou e a moto me jogou no chão. Bati forte. Bati a cabeça, o ombro o cotovelo e a mão. Graças a Deus e a meus equipamentos de proteção apenas arranhei um pouco a mão e cotovelos, devido ao contado da pele com os equipamentos de proteção. Meu ombro ficou dolorido por uns dias, mas logo não senti mais nada. A moto, essa sim, machucou bastante. Arranhou a carenagem, arrancou o suporte do galão reserva, quebrou o suporte do manete de embreagem, entortou o protetor de motor. Mas antes ela do que eu. Tentei levantar ela rápido para os manés não vissem que eu tinha caído, mas não consegui. A moto estava muito pesada. O jeito foi esperar e aguentar a curtição. Depois da sessão curtição, amarrei o que deu com as braçadeiras plásticas (aqui chamamos de enforca gato). Segundo meu amigo Adriano, enquanto tivermos fitas enforca gato a moto continua andando. Seguimos viagem. Agora eu comecei a andar no ritmo deles. Minha confiança estava lá em baixo. Estava andando mais lento que o Rubinho (o Barrichelo). Mas no final do dia chegamos a Humaitá, onde tivemos que novamente atravessar um rio em uma balsa. Nesse caso foi o Rio Madeira. Nos hospedamos no hotel Macedônia onde aproveitei para lavar todas as minhas roupas. Todas mesmo. Até a jaqueta de cordura. Estiquei um elástico no quarto, pendurei tudo, liguei o ar condicionado para secar e saímos para jantar. Finalmente encontrei uma Heineken para beber. Até o momento só vinha bebendo a porcaria da Skin, a cerveja predileta do Amerizon e a única que encontramos no interior do Pará e Amazonas (em pequenos vilarejos). Jantamos, tomei umas 3 e voltamos ao hotel. Decidimos levantar as cinco para sair o mais cedo possível. Hoje foram 508 km de estradas de chão com direito a uma compra de terreno. Programei errado meu despertador e ele despertou as quatro da manhã. Levantei e fui arrumar a bagagem na moto. Saímos cedo e fomos abastecer, onde batemos um papo com uns integrantes da PM amazonense (nosso amigo Divino Jr. que ia gostar, ele é vidrado em militares). Para completar o Adriano foi fazer uma graça na hora de sair do posto e foi para o chão lá mesmo. Os policiais tiveram que ajudar ele a levantar a moto. Hoje iríamos começar o segundo objetivo da viagem. A rodovia BR 319, também conhecida como rodovia fantasma. Essa rodovia é uma incógnita, me parece que teve alguns trechos asfaltados. Só que o asfalto nos lugares onde ainda existia estava em péssimas condições, com crateras que cabiam a moto dentro. Que o diga o Amerizon, que caiu dentro de um desses. Um cara em um carro parou para ajudar ele a levantar a moto. Em outros trechos via-se pedaços do que um dia foi asfalto. Mas a grande parte estava na terra bruta mesmo. Em péssimo estado de conservação. Mas minha confiança já estava restabelecida eu já pilotava forte novamente. Pelo menos as poacas eram raras ali. Em alguns trechos haviam máquinas trabalhando na reconstrução da via. Em outros a pista já estava pronta. Apesar de ser em terra, mas estava tão bom que conseguíamos andar bem rápido. Após uns 50 quilômetros chegamos a um pequeno vilarejo chamado Realidade, onde tinha o último posto de gasolina. Ali abastecemos o galão reserva, tomamos um café da manhã e adentramos a mata. Entre estrada ruim, estrada boa e estrada péssima, chegamos a balsa do rio Iguapó-Açu por volta de três e meia da tarde. Inicialmente nosso objetivo do dia. Mas como ainda era muito cedo resolvemos prosseguir. Esperamos a balsa por uns 20 minutos, atravessamos e rio e seguimos rumo a Manaus. Usamos a gasolina reserva e íamos monitorando o consumo. Minha preocupação maior era a XRE, que apesar de mais econômica que a Teneré, tinha um tanque 4 litros menor. Pouco antes de chegar a Manaus, e já no limite da XRE chegamos a cidade de Careiro, onde encontramos um posto de gasolina. Tinham sido 500 km sem um posto de combustível. Foi mesmo no limite. A noite chegou e nos pegou na estrada. A medida que escurecia, diminuíamos a velocidade. Com isso parecia que não íamos chegar nunca. Some-se a isso o cansaço extremo. Fizemos um trecho absurdo em um dia. Normalmente este trecho é feito em dois dias. O cansaço era tanto que eu fiquei com medo de cochilar enquanto pilotava. Meu farol estava desregulado devido ao peso da bagagem. Eu não conseguia enxergar direito e os motoristas que vinham em sentido contrário reclamavam do farol e com isso não abaixavam o deles. Foi duro chegar até a balsa. Mas graças a Deus chegamos em tempo de pegar a última balsa. Essa sim uma balsa gigantesca. Mas os caminhões e carros tinham que entrar de marcha ré para poderem sair de frente. Teve um caminhão que estava com a ré estragada e teve que entrar no embalo de ré. O sujeito dirigia muito. Mas foi um momento tenso. Nisso nos distraímos e minha moto tombou, derrubou a moto do Amerizon que caiu sobre o capô de um carro. Por sorte não estragou. Acho que não. Estava muito escuro para ver. O proprietário do carro não ficou nem um pouco feliz, mas não reclamou muito. Mas reclamar com três motoqueiros sujos e mal-encarados como nós, acho que teria que ter muita coragem. Finalmente chegamos a nosso destino, Manaus. Cidade grande, nas margens do Rio Negro. Depois de andar muito a moda antiga (informações boca a boca) chegamos a um hotelzinho próximo ao porto. Nos hospedamos e fomos dormir. Não quis saber de sair este dia. Estava exausto. Realmente no limite. Neste dia rodamos quase 700 km, sendo a maior parte em estradas de terra. Limite extremo, pelo menos para mim. Acordamos cedo e fomos procurar uma concessionária Yamaha para fazer a revisão nas motos. Elas estavam precisando muito. Com muita dificuldade encontramos com a ajuda de um moto taxi que contratamos para nos levar lá. Trocamos óleo, filtros, e arrumamos as peças quebradas. Depois disso almoçamos por ali mesmo em um lava-jato. Onde o Adriano mais uma vez deixou a moto cair. Eu não vi essa, mas ele me contou e para mim conta como queda. O Amerizon foi procurar manutenção para a Honda dele em outro local. Depois retornamos ao hotel, deixamos as motos e fomos ao porto ver os trâmites de embarque nosso e das motos. A coisa é meio bagunçada, ficamos suspeitando de tudo, mas no final deu tudo certo. Embarcamos as motos nesse dia mesmo no navio Golfinho do Mar. Um navio bem grande. Além das nossas motos foram embarcados 3 carros e uma caminhonete, além de toda uma carga de tubos de PVC, comida, leite e uma canoa a motor. Pagamos 120 reais por pessoa, mais 120 reais por moto mais 45 reais de taxa de embarque no porto. Passamos em uma vendedora ambulante compramos umas sacolas para acomodar as roupas e equipamentos de proteção. Compramos também as redes e cordas. Demos umas voltas pelo mercado no porto, compramos umas lembrancinhas, tomamos um açaí amazonense e voltamos ao hotel. Depois de um bom banho fomos jantar um Pirarucu na praça do Teatro Amazonas. No outro dia levantamos cedo, tomamos um café da manhã reforçado e fomos ao porto par embarcar mais cedo e garantir um bom local para armar nossas redes. É isso mesmo, no navio as pessoas dormem e passam o dia deitados em redes. Existem algumas suítes no navio. É um pouco mais caro, mas queríamos mesmo é viajar nas redes. Centenas armadas uma ao lado da outra. Logo apareceram umas mocinhas vendendo o marmitex para o almoço. Encomendamos e as onze horas elas trouxeram. Eu pedi o convencional. Frango. O Amerizon pediu Pirarucu desfiado. Acho que a chance de aquilo ser Pirarucu é de menos de um por cento. Mas comeu e disse que estava bom. Fui dar uma volta no navio e conhecer as instalações. O navio tinha 4 pavimentos. O primeiro, era destinado a carga. O segundo pavimento, assim como o terceiro era destinado as redes. O segundo bem mais lotado que o terceiro. O quarto piso era o bar. Onde os pés de cana passavam o dia bebendo e escutando música. Era o local predileto do Amerizon que passava o dia todo lá. Logo na saída de Manaus passamos pelo encontro das águas escuras do Rio Negro com as águas barrentas do Rio Solimôes. Fenômeno impressionante da natureza, pois durante alguns quilômetros elas não se misturam, ficando muito nítido de onde vem cada uma. O dia foi todo de descanso. Estávamos precisando. Não fazíamos nada a não ser deitar na rede e de vez em quando subir até o bar para tomar alguma coisa ou comer um misto quente. Numa das paradas no porto de uma cidade a beira do rio, se não me engano Óbidos, tivemos que abrir as bagagens para uma revista da Polícia Federal. A noite chegou lentamente, mas foi precedida polo pôr do sol mais bonito que já havia visto. Rendeu fotos fantásticas. A noite foi bem tranquila, só mesmo o barulho do motor do navio. Dormi muito bem, considerando que não tenho costume de dormir em redes. Levantei tarde no dia 16. Perdi o nascer do sol. O dia foi exatamente como o outro, só deitado na rede. O incrível é que na maior parte do percurso tínhamos sinal de internet no celular vindo das cidades próximas, o que ajudava a passar o tempo. Chegamos a Santarém as 17 horas. As pessoas começaram a desembarcar e quando chegou a nossa vez descobrimos que não havia como desembarcar as motos ali. Tivemos que esperar até o navio esvaziar e sair para outro porto, mais na periferia da cidade. Foi bem tranquilo o desembarque. Quando terminamos de ajeitar as bagagens da moto já era quase 7 horas da noite e resolvemos ir dormir em Alter do Chão. Como Santarém é uma cidade bem grande resolvemos usar o GPS, que nos levou até nosso destino. A cidade estava em festa, as pousadas estavam bem cheias, mas encontramos uma que tinha um quarto com três camas bem próximo a praia, se chamava Pousada Vila da Praia. Nos ajeitamos ali mesmo. Saímos para jantar um pirarucu grelhado, mas foi uma decepção, aliás estava difícil encontrar um bom prato a base pirarucu. Tomamos umas cervejas fomos assistir uma apresentação de Carimbó e fomos dormir. Levantamos cedo, tomamos um café da manhã muito bom na pousada e fomos a praia da ilha do amor. Um lugar fantástico. Muito bonito mesmo. A ilha é separada por um pequeno trecho do rio tapajós. Eu e o Adriano atravessamos nadando mesmo, o Amerizon amarelou e foi de canoa com um baita colete salva vidas (nutelinha). Nós queríamos tirar uma foto dele parecendo uma princesa naquele barquinho, mas infelizmente ele estava levando nossos celulares. Passamos a manhã toda ali tomando cerveja e tomando banho naquela água cristalina do rio Tapajós. Almoçamos um pirarucu por ali mesmo em uma barraca na praia. Depois do almoço fomos conhecer a praia de Pindobal, também no rio Tapajós. Ali ficamos muito impressionados com a largura do rio, mais de 20 km. Não dava para ver a margem do outro lado. Segundo a dona de um restaurante no local, um morador dali naufragou no meio do rio e demorou dois dias para conseguir chegar a margem, se segurando em uma garrafa pet. Voltamos a Alter do Chão para terminar o dia na praia da cidade, tomando umas cervejas. A noite o Adriano e o Amerizon encomendaram o jantar na pousada mesmo. Eu não quis jantar, preferi ficar no quarto e dormir mais cedo. Levantamos bem cedo tomamos nosso café da manhã e voltamos a estrada de Pindobal para chegar a BR 163 com destino a Rurópolis, onde já havíamos passado uns dias antes. Pegamos uns 60 km de terra, mas depois foi asfalto até Rurópolis, margeando o parque do Tapajós. Depois de Rurópolis voltamos a estrada de terra para um trecho de 110 km até a vila de Campo Verde, conhecida na região como km 30. No meio do caminho paramos para tomar um banho em um rio para tirar a poeira e descansar um pouco. Em Campo verde, em vez de prosseguir até Itaituba como fizemos alguns dias atrás, seguimos pela 163 rumo ao Mato Grosso. A partir daí a brincadeira ficou séria. O trânsito de carretas ficou muito intenso. As poacas eram enormes e quando uma carreta passava não levantava poeira, fazia um spray de terra que era jogado em nós nos dois sentidos. A visibilidade era mínima e as vezes chegava a zero. Neste momento tínhamos que parar a moto, mas sempre atentos se não vinha uma carreta atrás. As ultrapassagens eram momentos de perigo real de morte, pois para aproximar e tentar a ultrapassagem tínhamos que entrar no spray para esperar que surgisse uma brecha no sentido contrário, e sempre aparecia uma poaca na frente. Foi o dia todo assim. Passando uma a uma. Devemos ter ultrapassado umas cem carretas nesse dia. Em certo momento comecei a pensar que aquilo ali estava muito difícil, quase impossível para motos. O risco de cair e ser atropelado era real. Também era grande o risco de bater de frente com uma carreta em sentido contrário. E até mesmo de bater atrás de uma carreta. Mas isso eu evitava parando a moto quando a visibilidade chegava a zero, já que neste caso era quase certo que a carreta estava muito próxima. Neste ritmo chegamos perto de 6 da tarde ao povoado de Moraes Almeida, contabilizando 555 km rodados neste dia. Nos hospedamos em um hotelzinho na beira da rodovia e saímos apenas para comer um espetinho e uma barraquinha na beira da estrada, com direito a muita poeira, já que o transito de carretas foi intenso até tarde da noite. Combinamos de levantar as cinco da manhã e sair o mais cedo possível para tentar pegar o menor transito possível. Em vão. A hora que saímos as carretas já estavam na estrada. Os caminhoneiros tiveram a mesma ideia. Eu saí na frente deixei os colegas para trás. Não havia como parar para esperar. Tinha que avançar sempre. Num determinado momento me vi na situação de ter que ultrapassar 5 carretas em fila. Estava fácil, pois não vinha nenhuma em sentido contrário. Quando comecei a ultrapassagem da última entrei em uma poaca gigante. Estava levando bem, já tinha terminado de passar pela carreta, quando apareceu embaixo da poaca uma vala, um trilho feito pelos pneus das carretas, a moto dançou de um lado para o outro e não teve jeito, comprei terreno novamente. Mais um tombo feio. Mas graças a Deus e aos equipamentos de proteção, novamente a moto levou a pior. Mas dessa vez eu caí e a moto prendeu minha perna. Não conseguia sair de baixo. O motorista da carreta teve que parar bruscamente para não passar em cima de mim. Ligou a pisca alerta, desceu e me ajudou a levantar a moto. Agradeci, montei e segui viagem. Uma hora mais tarde cheguei a um trecho asfaltado da BR 163 e parei para esperar a turma. Não demorou muito e eles chegaram. Não sei quem estava mais impressionado com aquilo. Dificuldade extrema. Mas foi para isso que viemos até aqui, não é verdade? Seguimos em estrada asfaltada até Novo Progresso, onde paramos para tomar um café da manhã. Lá fomos muito bem recepcionados pelo Antony, um sujeito muito bacana, motociclista também. Seguimos num ritmo muito bom, já que a estrada era asfaltada. Quando chegamos a Serra do Cachimbo paramos para tomar um banho na cachoeira do rio Curuá. Um espetáculo a região. Ficamos pelo menos uma hora ali. Tiramos muitas fotos e descansamos bem. Quando acabou a poeira, apareceu a fumaça das queimadas. Essa iria nos acompanhar o dia todo, por uns 500 quilômetros. A região estava toda queimando. Chegamos ao estado do Mato Grosso e na cidade de Matupá, saímos da BR 163 e seguimos pela MT 322 rumo a reserva indígena do Xingu. A fumaça das queimadas ainda nos acompanhava. Planejamos acampar no final do dia nas margens do Rio Xingu. Tocamos em um ritmo bom, em asfalto por uns 60 km quando começou novamente a estrada de chão, até um povoado, onde abastecemos as motos e lá fomos informados que não seria possível acampar na margem do rio, pois era reserva indígena e os índios eram meio arredios com estranhos. Que teríamos que acampar 40 km antes, que era o início da reserva, onde tinha um pequeno comércio. Logo apareceram as poacas, grandes e profundas, cheia de valas. Não demorou o Amerizon foi para o chão. E vi pelo retrovisor da minha moto. Isso me tirou a atenção e como estava meio rápido entrei numa poaca e caí também. Mais um tombo feio. Dessa vez quebrei o manete da embreagem. Por sorte o Adriano tinha um reserva. Troquei e prosseguimos a viagem, dessa vez com mais cuidado. Logo anoiteceu e tivemos que prosseguir no escuro naquela estrada irregular e cheia de poacas. Mais um terreno adquirido pelo Amerizon. Parei a moto e corri para ver se ele estava bem, pois não tinha se levantado. A moto tinha caído sobre sua perna e ele ficou preso. Depois desse segundo tombo ele foi andando arrastando os dois pés no chão por uns 30 km até quando chegamos ao bar. Quando paramos as motos de frente a varanda e os faróis clarearam o chão no interior do bar vimos uma cobra lá dentro. Foi aquela correria, a filha do proprietário pulou em cima do balcão, tinha um cliente que subiu numa cadeira. Quando constatamos que a cobra não era venenosa, o Adriano com um cabo de vassoura levou ela até o mato do outro lado da rodovia. Aí foi só abrir uma skol e relaxar, depois do dia mais difícil e perigoso, em minha opinião. Tomamos um merecido banho, nos serviram uma refeição muito boa, jogamos umas partidas de bilhar e ficamos conversando com os caminhoneiros que iam parando para passar a noite ali. Durante uma conversa com um caminhoneiro ele falou assim: Rapaz mas vocês andam muito mesmo em? E perguntei por que e ele me falou que tinha me visto a uns 500 quilômetros para traz de manhã deitado no meio da estrada. A sua carreta era a segunda daquela fila que eu estava tentando ultrapassar quando caí. Muita coincidência. Na hora de dormir eu armei minha rede em uma arvore, o Adriano armou a dele na varanda do bar. O Amerizon dormiu na barraca com medo de aparecer outra cobra. Levantamos muito cedo, preparamos a bagagem na moto nos despedimos do Goiano (o dono do bar) e de sua família, tiramos umas fotos e voltamos às poacas. Mais 50 km chegamos as margens do Xingu. Um baita rio. Muito bonito. Não demorou muito a balsa chegou, pilotada por índios. A balsa é deles e eles cobram a tarifa de 30 reais por moto. A mais cara até agora. Mas eu pagaria até 200 para não ter que voltar e pegar aquela estrada de novo. A estrada adiante estava um pouco melhor e na hora do almoço chegamos a São José do Xingu, onde almoçamos e nos despedimos do Amerizon, que resolveu trilhar uma parte do caminho sozinho. Ele decidiu passar por Confresa no Mato Grosso e em Miranorte no Tocantins para rever amigos e parentes. Eu e o Adriano seguimos viagem rumo a Alô Brasil nosso destino no dia, quase 200 km de estradas de terra. Péssimas estradas. Em alguns trechos mais pareciam trilhas no meio do pasto. Em outros se tornava uma estrada cheia de costelas e buracos. O sol estava de matar, um calor absurdo. Parecia que não ia chegar mais. Estávamos andando a 50 no máximo 60 km/h, estava muito lento. Em um determinado trecho a uns 40 km de Alô Brasil o Adriano entrou numa vala e quase caiu, eu ia atrás e me distraí e entrei nela também. Só que eu não consegui controlar a moto e fui para o chão mais uma vez. Outra queda feia. A moto desta vez não estragou, mas eu torci o dedo mindinho que ficou muito inchado e doendo demais, mas coloquei a luva e segui assim mesmo. Estava muito difícil usar a embreagem nas mudanças de marcha. Me lembrei de um colega que caiu e quebrou o pé e o ombro e teve que pilotar vários quilômetros até chegar no hospital, aí parei de reclamar do meu dedo mindinho. Como íamos chegar muito cedo a Alô Brasil resolvemos prosseguir até Bom Jesus do Araguaia, onde nos hospedamos em um hotel novo na entrada da cidade. Hotel bom e barato. Saímos para jantar uma pizza, abastecer as motos e retornamos ao hotel. Dormi bem cedo. Combinamos de sair as 6 da manhã no dia seguinte pois segundo relatos que havia lido, seriam muitos quilômetros de areia fofa. Hoje pilotamos apenas 310 quilômetros, mas foram bem cansativos. Levantamos na hora combinada, tomamos um café bem rápido e seguimos para Novo Santo Antônio, onde faríamos a travessia de balsa do Rio das Mortes. A partir dali entraríamos no Parque Estadual do Araguaia. Que beleza de lugar. Sem trânsito algum, estradas simples, e com muitos animais selvagens. Vimos raposas, veadinhos bambi e veados galheiros. Ótimo local para um passeio com a família. Paramos para fotografar um galheiro e ele chegou muito perto de nós. Mas depois da sessão contemplação finalmente chegamos na areia. Muita areia fofa. Pilotar na areia fofa é bem parecido com a pilotagem em poaca. Tem que tracionar na medida certa. Se tracionar pouco a moto sai de frente, se tracionar muito ela sai de traseira. Mas tem uma vantagem em minha opinião: a areia é bem mais previsível. Raramente encontramos pedras ou buracos em baixo. E a moto anda meio que sobre a areia e não afundados nela como na poaca. Não demorou vieram os primeiros tombos. Primeiro o Adriano, depois eu. Quedas bobas, sem maiores consequências. Tem essa vantagem também. A areia é macia pra cair. Prosseguimos no areal por um bom tempo apenas com alguns sustos. Em um determinado trecho com pouquíssima areia eu estava a uns 50 por hora e fui mudar de faixa. A moto derrapou e eu comprei meu segundo terreno no dia. E esse foi feio, porque o chão era duro e caí fora da estrada, mas não machuquei nada. Por volta de quatro da tarde terminamos o trecho e areia e começou um trecho de 12 quilometro de poaca ininterrupta. Foi um trecho sinistro, mas teve uma situação engraçada. Eu tinha acabado de comprar um terreninho, coisa boba mesmo, o Adriano ficou me zoando, falando que eu ficava mais em baixo da moto que pilotando, etc. Fiquei só escutando e seguimos naquela poaca infernal. Chegou em um trecho, onde eu percebi que ela estava pior ainda. Parei a moto, tirei o capacete e liguei a câmera, ele passou por mim e quando viu que eu estava filmando quis mostrar como se pilota em uma poaca. Não deu outra, foi para o chão mesmo. Ri demais dele deitado na poeira. As cinco terminamos mais esse trecho da viagem. Praticamente estávamos em Goiás. Acampamos na margem do rio. Meu dedo tinha piorado muito e já não estava conseguindo mais usar a embreagem da moto. Estava muito inchado. Como o Adriano é médico, me aplicou uma dose de anti-inflamatório. Mas no dia seguinte quando tentamos continuar não foi possível, retornamos e ficamos o dia todo por ali mesmo. No dia seguinte chegamos a Luiz Alves, onde passamos a noite em um hotel na orla da cidade. Levantamos bem cedo e saímos ainda de madrugada. Logo chegamos a Uruaçu, onde me despedi do Adriano. Ainda prossegui mais 300 quilômetros até Goiânia, onde cheguei por volta de uma da tarde. Nesse último dia rodei 578 quilômetros quase que totalmente em estradas asfaltadas. Quero ficar um bom tempo sem andar em estradas de terra. No total foram mais de 5000 quilômetros off road.
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