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Deu kiwi no cerrado


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http://gooutside.terra.com.br/Edicoes/51/artigo145971-1.asp

 

TRÊS GRANDES ATLETAS NEOZELANDESES SE JUNTARAM A OUTROS TRÊS GRANDES ATLETAS BRASILEIROS PARA UMA TROCA DE EXPERIÊNCIAS NA CHAPADA DOS VEADEIROS ( TEXTO E FOTOS JOÃO PAULO BARBOSA)

 

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PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO, a capital do Brasil recebeu o Brasília Multisports, uma competição que une corrida (no asfalto e no mato), canoagem (no lago e no rio) e ciclismo (só no asfalto).

O organizador da prova, Alexandre Carrijo, não ficou só na disputa e inovou. Apoiado pelo Ministério do Turismo, ele trouxe da ilha Norte da Nova Zelândia três superatletas (Jim Robinson, Samuel Clark e Rachel Cashin) e os embarcou num micro-ônibus com outros três grandes atletas do Brasil (os corredores de aventura Camila Nicolau e Guilherme Pahl, e o canoísta extremo Pedro Oliva) rumo a uma expedição de aventuras na região da Chapada dos Veadeiros, no norte do estado de Goiás. Os objetivos eram fortalecer a imagem da Nova Zelândia no Brasil como o símbolo maior de referência multiesporte, mostrar mais uma vez a vontade brasileira de adaptar esse conceito dentro de sua realidade e, mais que tudo, continuar inspirando atletas a buscarem novos horizontes no esporte e na aventura.

 

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Durante os cinco dias que antecederam a prova, disputada em 18 de julho, os seis atletas aproveitaram uma das paisagens mais belas do país para reciclarem suas energias e intercambiarem suas experiências multiesportivas. O espírito da equipe "Newsília", como Carrijo nomeou o recém-formado grupo de neozelandeses e brasileiros, fortificou-se entre sessões de ciclismo, canionismo, canoagem, arvorismo, tirolesa, caminhada e momentos de contemplação da natureza no auge do inverno no cerrado.

Alexandre e Guilherme Pahl estiveram na Nova Zelândia em fevereiro. Foi nessa ocasião que o organizador do Brasília Multisports conheceu o atleta-jornalista Jim Robinson e Robin Judkins, criador do Alpine Ironman e do Speight's Coast to Coast, duas das provas consideradas como parte fundamental da origem das corridas de aventura. Essa viagem fermentou o sonho de fazer de Brasília - capital natural e declarada do bioma cerrado - a porta de entrada para o desenvolvimento e a prática de esportes de aventura no centro do Brasil.

 

Para os atletas kiwis, o convite para participar do Brasília Multisports e de uma visita-aventura à Chapada dos Veadeiros não poderia ter vindo em melhor hora. A multiesportista especializada em canoagem Rachel Cashin contou-me, com um enorme sorriso, o alívio que era para ela, Jim e Sam fugir do auge do inverno neozelandês, uma época em que o sol aparece pouco e os treinos diminuem. Rachel só não era toda alegria porque não pôde trazer ao Brasil o seu pequeno Josh, de 5 meses.

Jim Robinson e Samuel Clark, por outro lado, adaptaram-se melhor e curtiram a expedição intensamente. Jim é uma referência do universo multiesportivo na Nova Zelândia. Além de ser um dos melhores atletas veteranos - tem 42 anos -, ele também divulga e escreve sobre corridas de aventuras, e foi o elo para que os três neozelandeses viessem ao Brasil. Sam, que estuda engenharia mecânica, é um jovem atleta de 19 anos com um futuro muito promissor. Ele foi o campeão geral, entre 240 atletas, do Coast to Coast 2009. No Brasília Multisports, Sam acabaria ficando com a 13ª colocação entre os homens, bem atrás de Jim (6º lugar) e pouco à frente de Rachel (2ª colocada entre as mulheres e 17ª no ranking geral da categoria solo). Os representantes brasileiros da expedição Veadeiros, mais acostumados com o clima e o percurso, se deram melhor: Camila foi a campeã feminina, com um honroso 4º lugar na classificação geral, e Guilherme foi o vice, atrás do também brasiliense Kenny Souza.

 

COM ATLETAS ENTROSADOS, céu azul todos os dias, e perfeita logística de operação e organização, a programação multiesportiva da expedição Veadeiros foi um sucesso. O primeiro dia teve uma tirolesa de 850 metros de comprimento e 90 metros de altura, chamada de Voo do Gavião, na fazenda São Bento (a 9 quilômetros de Alto Paraíso, a "capital" da Chapada dos Veadeiros).

No segundo dia, os seis atletas pedalaram. Entre as subidas e descidas do asfalto, os neozelandeses sentiram a altitude e a seca do cerrado. Já terminando o pedal, Rachel, que é asmática, ficou com a respiração debilitada e foi levada para o hospital de Alto Paraíso, onde recebeu uma nebulização. Depois do ciclismo, teve arvorismo, com dez desafios em 180 metros de percurso sobre as árvores - uma novidade para quase todos. Camila Nicolau, por exemplo, que nunca tinha dado muita bola para essa prática, adorou e disse ter se surpreendido com a dificuldade de algumas passagens, onde o equilíbrio escondia o segredo da diversão. À tarde, os atletas foram recebidos pelo diretor do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o biólogo Daniel Reis, que explicou que uma de suas ideias para o futuro próximo é que o espaço do parque seja aberto para a prática de esportes de aventura.

 

No terceiro dia, rolou o canionismo no rio Macaquinho. Acompanhando a expedição estavam Ion David e Marcelo Nissen, dois experts no assunto e certeza de mais segurança neste trecho. A baixa temperatura da água e o grande volume das quedas exigiram o dobro de atenção por parte dos canionistas.

 

Conheci o Guilherme Pahl em maio de 2000, quando a equipe Oskalunga estreava sua primeira prova de corrida de aventuras, a extinta Ecocerrado. Na ocasião estava cobrindo a prova e fiz uma parte da corrida com a formação original a equipe. Me inspirava observá-lo correndo e navegando. Foi a mesma sensação que tive quando vi o Sam entrando no primeiro rapel do cânion do rio Macaquinho. Mesmo sendo a primeira expedição de canionismo de que participava, ele exalava a mesma disposição e energia vital que o Gui - que está se preparando para uma expedição de escalada na Patagônia, no final deste ano - em sua primeira prova. Ao final do último rapel do dia, na cachoeira da Caverna, de 25 metros de altura, enquanto todos se desequipavam ou começavam a lanchar, Gui mergulhou no poço da cachoeira e encontrou no lado direito da queda uma linha de escalada em rocha, onde subiu uns dez metros, antes de se atirar na água. Sam virou-se para mim e disse: "Esse cara me inspira, também quero escalar".

 

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A experiência dos neozelandeses e o carisma dos brasileiros deixava no ar um astral contagiante. Não que a vontade fosse de sair correndo e inscrever-se numa competição. Mas o recado direto e sem palavras era de que a amizade, o esporte e o bem-viver extrapolam fronteiras físicas e temporais. Ver o veterano Jim fazendo o seu primeiro rapel, um pouco desengonçado no início, e quase perfeito a partir do segundo, é um exemplo. "Esse cânion, essa luz, essa gente, que privilégio!", resumiu ele ao final do dia.

 

No quarto dia, o último de atividades, viajamos uma hora até um lugar conhecido como a praia de Pedras. Fica a meia hora de São Jorge, vila próxima à entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A proposta era brindar os atletas com um dos trechos mais bonitos de canoagem classe II da região: 14 quilômetros de descidas no rio Tocantinzinho. Pedro Oliva era pura festa, plantando bananeiras no teto da Land Rover, saltando em cambalhotas em quedas pequenas, descendo e subindo o rio, manobrando radicalmente ou simplesmente ajudando quem precisasse. Rachel e Camila, canoístas de nascença, aproximaram-se mais ainda neste trecho da expedição. Saíram do rio, depois de milhares de remadas, carregando o caiaque vermelho juntas, como se estivessem numa prova de multiesportes em que o tempo não corresse. Essa união ainda promete muitas expedições mundo afora.

 

VAI NESSA

 

Tirolesa, arvorismo e hospedagem: portaldachapada.com.br

 

Cânion do rio Macaquinho

macaquinhos.com

 

Travessia Ecoturismo

(Ion David)

travessia.tur.br

 

Marcello Nissen

Ecoturismo & aventura

(62) 84522402;

mclacino@gmail.com

 

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros icmbio.gov.br/parna_ veadeiros/

 

Rafting e canoagem no rio Tocantinzinho Itakamã Ecoturismo & Aventura: itakama.com.br

(61) 3202-1027

 

 

PELOTÃO: Samuel Clark, Guilherme Pahl, Camila Nicolau, Jim Robinson e Rachel Cashin pedalam nas estradas da Veadeiros

 

 

 

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