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Oi, já tinha frequentado o fórum em tempos anteriores mas nunca me registrei. Eis que decido fazer parte dessa comunidade e vou me apresentar com uma experiência de 2016! Não sei exatamente a data e pra dizer a verdade nem o mês do ocorrido (eu estava viajando de carona trocando trabalho por hospedagem e alimentação e datas na época não tinham menor importância). Achei esse lugar conhecendo o pai de uma mulher que tinha uma terra lá. Monte Café era o nome do distrito de Trajano de Morais. 400 à 500 habitantes aproximadamente, uma pena eu não ter tirado foto da vila pra mostrar pra vocês.

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(algum lugar por aí ela estava, não tenho tempo de localizá-la certinho... lembro da altitude: 1600 metros e uns quebrados)

No dia que cheguei, com instruções de seguir a estrada de terra depois do ponto de ônibus, lá pelas 23:00, lembro muito bem de ter percorrido os cinco ou seis quilômetros com os pelos eriçados pela quantidade de estrelas e a luminosidade da lua. Havia uma grande silhueta de uma montanha no fundo e de alguma forma eu encarei aquele desenho como um desafio. Depois de duas semanas ambientado no lugar, decidi que era a hora. Tinha 19 anos na época e meu único contato com altitudes elevadas ou mata foi na pedra do camelo, na entrada do parque nacional do Itatiaia. Meu anfitrião já tinha tentado subir mas sem sucesso. Prometeu que iria comigo mas nunca chegava esse dia então fui sozinho, oito da manhã, depois de ter ido um dia antes fazer o reconhecimento da rota (onde tirei a foto abaixo), peguei um litro e meio de água e dois punhados de comida, um de amendoim e outro de sementes de abóbora. Nesse dia não estava destinado a chegar ao cume mas apenas testar se era possível andar pelo o lugar que tinha proposto (linha vermelha).

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Exalei o cúmulo da idiotice. Fui sem facão, com manga curta explorar aquela mata fechada, na companhia de dois cachorros e uma bússola de chaveiro. Não tirei fotos durante a subida (estranhamente a sensação de estar sob aquele silêncio absoluto/sob a indiferença mortal da natureza com os humanos me fez querer guardar apenas na memória a experiência.. pelo menos visualmente ::dãã2::). Subi por um escoamento de água e quando senti que estava perto do lugar que eu iria tentar subir mudei de direção (e deu certo!). Chegando no final dessa "rampa" lembro de ter ficado meio que paralisado pela altura (visual muito legal) além de um medo irracional de brotar aranhas do chão (havia umas sete árvores COBERTAS de teia de aranha). Vi meus recursos e mesmo chegando à conclusão que eram poucos, decidi continuar. Felizmente foi só caminhar um pouco e a quantidade brutal de formigas caminhando ao lado da pedra (parte laranja depois da vermelha) me fez repensar o perigo em que estava me metendo. Eu estava cansado de dar peixinhos no mato pra abrir espaço e repetir diversas vezes pra caminhar dez metros... sem falar nas vezes que eu empurrava a mata de costas quando a primeira técnica não funcionava. Quando comecei a descer perdi a trilha, na minha cabeça o espaço aberto no capim gordura (que soltava um "pó" tão grande que até os cachorros estavam tossindo e que me obrigou colocar a camiseta tampando o nariz) ficaria visivelmente marcado. Não foi o que aconteceu. Fui andando no mato e acabei caindo um metro e meio pra baixo num instante. Caí do lado de uma árvore onde tinha uma colmeia e o zumbido era tão alto que achei que iria morrer ali mesmo. Deu tempo de olhar pra direita (e concluir que eu iria cair mais seguindo por lá) e pra esquerda (onde tinha minha salvação). Corri muito rápido, achei que as abelhas iam me picar por ter chego de maneira tão brusca perto da sua base. Quando percebi que elas não foram atrás, sentei pra tomar água e vi que tinha caído na minha trilha de subida. Fiquei feliz pra burro. Não foram nem dez minutos andando nela e senti que estava perdido quando entrei na mata. Tive longas conversas com os cachorros explicando que eles teriam que me mostrar o caminho de volta (sem sucesso). O ponto de referência dentro da mata era uma grande pedra onde tive que passar me arrastando por um de seus buracos (foi o máximo na ida). Depois de um tempo procurando, vi que eu nem sabia onde eu estava e decidi seguir descendo afinal de contas hora ou outra eu ia cair no pasto onde comecei. Depois de um tempo andando e me machucando nos espinhos caí num bananal que no mínimo estava uns 500 metros pra esquerda do ponto onde tinha começado. Detalhe que pra chegar lá a mata tava tão fechada que estava me jogando e as plantas freavam a minha descida. Então depois de um pouco de sufoco no bananal (eu não achava a saída pro pasto) finalmente encontrei a cerca que separava a plantação do pasto. Comi o Psilocybe cubensis que tinha achado no caminho e tive o enorme prazer de ver os cachorros capturando um coelho e disputando a caça, cada um puxando para seu respectivo lado. Andei mais alguns quilômetros pra voltar à escola abandonada que eu estava hospedado. Tudo isso foi uma grande lição. É só.

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(foto da montanha que não tem nome)

 

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(os cachorros momentos antes de acharem o coelho)

 

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(expressão artística da tentativa falha de subi-la)

 

Dois dias depois eu fui embora do lugar... mas com certeza eu vou voltar!

 

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