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01 de janeiro de 2011

 

Quando decidimos viajar ao Egito não imaginamos que a estabilidade política do país viria a ser um problema à nossa estadia. Infelizmente, isso ocorreu, e foi fator determinante na impressão que obtivemos do país e do seu povo.

Atualmente (19:30, 1 de fevereiro), talvez por somente mais algumas horas, o Egito é governado pelo ditador Mubarak, que está no poder há quase 30 anos. É na vigência de seu governo que se estabelece uma forte política de colaboração e cooperação com os EUA, tornando o Egito um dos poucos países árabes que atualmente mantêm relações diplomáticas com os americanos.

Dessa maneira, acreditamos, erroneamente, que não encontraríamos problemas políticos no Egito, já que o país mantém firmes relações políticas e comerciais com a comunidade internacional ocidental. Porém, sem aviso, nos vimos em um país colapsado, revoltoso e sedento por mudanças.

Estar no Egito durante as manifestações que demandam por um governo democrático não é de todo negativo. Claro que nossa rota turística no Nilo que deveria sair de Luxor foi totalmente arruinada, já que o navio não pode deixar o porto. Porém, pudemos ver de perto a coragem do povo egípcio, que enfrentou a polícia com vigor, sem pensar em suas próprias vidas. Vimos de perto a precária situação política deste país, que se diz democrático, mas que somente tem como elegível um mesmo candidato a décadas, o ditador Mubarak. Respira-se indignação e revolta.

Acompanhamos o desenrolar do conflito através das informações noticiadas pela CNN, único canal que transmite em inglês a situação no Egito, e pelos tendenciosos comentários dos guias turísticos que nos acompanhavam pelas ruas de Cairo e Luxor. Não podemos obter informações via internet já que o governo egípcio bloqueou o acesso à internet em todo o país. Durantes alguns dias não houve nem mesmo comunicação pela telefonia fixa ou móvel. Ficamos hospedados em um hotel localizado no centro da cidade do Cairo, capital egípcia. Assim, podemos ver de perto os protestos. Sentimos-nos na pele dos próprios manifestantes, já que nem mesmo os hospedes do hotel ficaram imunes aos efeitos do gás lacrimogêneo lançado pela polícia. A cena de turistas cobrindo o rosto para diminuir os efeitos do gás nocivo foi recorrente nos dias de protesto. As instruções da nossa agência de turismo foram de não deixarmos o hotel em hipótese alguma, já que os protestos se tornavam cada vez mais violentos e freqüentes. Limitamos-nos assim à observar a situação pela sacada do quarto, que nos propiciava visão geral das ruas. Vimos carros da polícia sendo depredados e queimados, policiais lançando gás lacrimogêneo nas multidões e disparando balas de borracha contra os manifestantes. A destruição foi imensa. Somente tomamos conhecimento da amplitude do confronto quando de carro, no dia seguinte, nos dirigimos até o aeroporto do Cairo. No caminho cruzamos com dezenas de carros e prédios queimados, ruas vazias e pouquíssimas pessoas caminhando nas ruas. O caminho ao aeroporto não foi fácil. Além de passarmos por várias barreiras do exército, formadas por tanques de guerra e dezenas de soldados armados com fuzis, tivemos de enfrentar o caótico trânsito da capital egípcia rumo ao aeroporto. Graças ao conhecimento do nosso taxista tomamos um caminho alternativo e conseguimos desviar boa parte do trânsito mais intenso.

Felizmente, quando o protesto se tornou ainda mais violento deixamos a capital rumo à cidade de Luxor, que possuía um movimento revolucionário muito mais contido. Os dados atuais do conflito são assustadores. Há registros de mais de 100 mortos envolvidos no conflito. Segundo os manifestantes, existem franco-atiradores da polícia em prédios do centro da cidade disparando contra as multidões. Atualmente o patrulhamento das ruas é feito pelo exército, e não mais pela polícia, fato que não ocorria há 25 anos no Egito.

Outro fato alarmante é que o próprio governo egípcio está deixando de controlar as ruas para que o caos se instaure. Assim, pretende que a própria população se una contra o movimento revolucionário para que Mubarak se mantenha no poder e restaure a ordem no Cairo. Há relatos inclusive de que o próprio governo abriu as portas do maior presídio do Egito, o que ocasionou a fuga de centenas de detentos, que agora se encontram soltos pelas ruas do Cairo.

O policiamento das ruas é agora função do próprio cidadão egípcio, que protege sua casa tomando turnos nas ruas. Os roubos, que antes eram praticamente inexistentes na grande capital egípcia, agora são fatos constantes.

Enfrentamos agora o impasse de como sair do país. Quase a totalidade dos vôos internacionais deixou de vir ao Cairo pelo risco que isto representa. Ao mesmo tempo, milhares de turistas de todo o mundo tentam deixar o país em crise. Assim, existe muito mais demanda por vôos internacionais do que normalmente, porém não há disponibilidade.

Nossa agência de viagens tem se empenhado nos últimos dias para conseguir um vôo de Luxor ao Cairo, e hoje obteve sucesso. Por isso, estamos nesse momento aguardando em um restaurante próximo ao aeroporto do Cairo. Não podemos deixar a região do aeroporto, pois todos os hotéis próximos estão lotados e os do centro da cidade estão inacessíveis devido às manifestações. Podemos ter de esperar até 48 horas aqui…e não temos certeza se nosso vôo partirá, pois grande parte dos vôos são atrasados por dias ou até mesmo cancelados.

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