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Quando eu viajei com a minha mãe: uma notinha de viagem


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Aos meus 31 anos consegui dar de presente para minha mãe uma viagem. Iriamos realizar um sonho dela, conhecer a Itália e a Terra Santa. Para mim foi uma ótima oportunidade já que viajar nunca é demais. Conhecer um pedaço do Oriente Médio, rever Roma e outras cidades europeias, além de passar 12 dias com ela depois de quase 10 anos afastados do convívio diário ao qual força maior nos impôs.

Começamos os preparativos da viagem em julho de 2016. Juntar dinheiro aqui, cortar gastos acolá... parcelamentos, pesquisa de passagens e hospedagens, roteiro, melhor caminho, etc. tudo o que fosse necessário para dar conta da grande aventura.

Era a primeira vez que viajaríamos. A primeira vez que ela sairia do país, a primeira vez que voaria de avião, o primeiro passaporte. Era tudo novidade para ela e, mesmo sendo viajante experiente, a primeira para mim.

Quando me vi, estava na onda da "modinha" de fazer mochilão com a mãe. Uma amiga até me marcou num post sobre o assunto. Nossa viagem seria uma grande experiência e um momento de aproximação entre a gente. E foi!

Confesso que de início fiquei bastante apreensivo. E se ela passasse mal? E se não aguentasse as longas horas de voo? E se tivesse uma crise de dor no meio do percursos? Aguentaria os quilômetros de caminhada? E a alimentação? Será que conseguiríamos manter a dieta longe de condimentos e gordura? E se caso ela fosse convidada para entrevista privada em um dos aeroportos? Ela não fala outra língua, como resolver? E se ela se perdesse? O que fazer?

Muitas questões que não havia respostas para nenhuma delas. Somente o momento revelaria o que fazer, o que aconteceria e, aos poucos, apresentar as respostas necessárias para os possíveis perrengues.

Para compor a viagem convidei minha amiga, uma das mais próximas. Viajamos sempre juntos. Com ela nunca houve problema. Ela se animou com a proposta e seguimos nós três para o mundo.

Tudo pronto!

Como sabem, viajamos em 16 de janeiro de 2017 e o nosso roteiro foi o seguinte: do Rio para Madrid, passamos um dia na cidade; de Madrid para Roma onde ficamos por três dias, nesse período fomos a Assis; de Roma para Israel com direito a uma parada em Atenas. Em Israel montamos acampamento em Jerusalém, Cidade ápice da viagem, onde ficamos quatro dias percorrendo o complexo, confuso e estranho território disputado pelos homens desde que o mundo é mundo. De Israel para Budapeste (um sonho meu), onde ficamos 2 dias e por fim voltamos para Roma, depois seguimos para Londres e de lá para casa, Rio de Janeiro. Foram 12 dias "batendo perna" pelo mundo afora.

A viagem foi linda! Pudemos experimentar a Europa no inverno. Frio, a expectativa de neve, e mais frio com direito a roupa sobre roupa. Batemos nosso recorde, pegamos - 8 graus em Budapeste (!!!)

Comprar roupas quentes. Tomamos muitos capuccinos. O maravilhoso spaguetti romano e sem falar nos doces!

Só para deixar claro a saudade do amor que ficou no Rio, de casa, da rotina, do cenário e do calor carioca também se fez presente na jornada.

Aos poucos fui reconhecendo minha mãe. Me deparei com uma mulher frágil, um pouco debilitada por uma vida de muito sofrimento. Mas, ao mesmo tempo, muito solicita, disponível e generosa. Tímida durante grande parte da viagem pois para uma pessoa que sempre foi dona de casa sem grandes expectativas da vida estar em uma viagem dessas nunca passou pela sua cabeça (segundo suas palavras).

Em alguns momentos ela comentava (e eu percebia) que era difícil (para ela) entender onde estávamos, de onde vínhamos é para onde estávamos indo ou o que era aquilo que via. Era muita novidade para tão pouco tempo.

Por conta da sua trajetória de vida e dos remédios que ela é obrigada a tomar, por motivo de uma doença sem nome e ainda não classificada, sua memória está muito debilitada. Lembrar das coisas é um exercício constante. Em nosso último dia em Roma saímos para comprar os presentes para minhas irmãs e para uma amiga que emprestou a mala para que ela pudesse viajar. Ela escolheu, feliz, "as coisinhas para as meninas". Fomos para o B&B, dormimos e no dia seguinte acordamos cedo. Nos arrumamos, tomamos o café e saímos para o aeroporto, cada qual com sua bagagem. Ao chegarmos na porta do aeroporto (já foi em cima do laço para embarcar) ela percebeu que havia esquecido a mochila com todos os presentes no B&B. O chão se abriu, as pernas tremeram. Não havia tempo para retornar a hospedagem sem falar que não havia ninguém para que pudéssemos pedir para abrir de novo a casa e assim pegar a mochila. (Por conta da baixa temporada só havíamos nós três e o proprietário só voltaria por volta das 7 da manhã e saímos às 6).

Desolação total!

Graças aos céus, muito felizmente os passaportes e o dinheiro estavam comigo. Caso contrário teríamos um super problema pois perderíamos o voo e teremos problemas para comprar duas passagens em cima da hora para voltar pra casa.

"As coisinhas das meninas" ficaram pra trás. Minha mãe chorou, frustrada, e eu em silêncio pelo fato da memória e não pelas coisas. Foi nesse momento que percebi que minha mãe está envelhecendo.

A jovialidade que eu guardava dela na memória já não a acompanha. Fiquei triste pois o tempo passou. E ela triste por ter perdido mais uma coisa no caminho. Por ter me dado prejuízo. Por estar com a "memória fraca".

O tempo é cruel. Me vi do outro lado. Antes ela cuidava de mim e agora eu tive que cuidar dela. Me lembro da infância, dela me pegando pela mão. Me dando bronca por ficar pra trás ou me desligar. A posição mudou: "vem, mãe!", "sai da rua, anda pela calçada", "cuidado para não se perder", "vou ao banheiro e quando sair me espera aqui, ok?", "não fale com ninguém, pode ser golpe", aqui estão os papéis, caso aconteça alguma coisa aqui tem o endereço do hotel", "tá passando bem?", "tomou seu remédio?", "mãe, duas da manhã, tá na hora do remédio", "cobre a cabeça para não ficar resfriada", "bebe água para não desidratar"

Após alguns minutos e a volta da racionalidade agradeci a Deus por não termos perdido nada de mais importante, como o voo ou dinheiro ou o passaporte. Perder objetos é coisa da vida e serve para nos lembrar que não levaremos nada nessa vida e que esse fato, minúsculo não pode ofuscar nossa linda (sim, foi linda) viagem.

A viagem não foi para entrar na "modinha". Viajamos com um objetivo. Nos colocamos em peregrinação em busca do divino que cada qual acredita e procura. Encontrei algumas respostas, muitas perguntas e nenhuma solução.

No entanto continuo na certeza que te amo mãe, "minha velha". A estrada é dura mas o importante é seguir caminhando.

 

Nossa caminhada apenas começou. Até quando for possível viajaremos mais e mais, nos descobrindo e descobrindo o mundo. Agradeço aos céus pela oportunidade de ter passado esses dias com minha mamita!

 

O dono do B&B foi muito gentil e imediatamente que teve acesso ao quarto e viu a mochila me escreveu alertando. Felizmente ele conseguiu postar por correio e, no início do mês a mochila chega aqui em casa.

 

Em algum ponto do oceano Atlântico, 28 de janeiro de 2017. (O último trecho da viagem indo de volta pra casa).

 

P.S: Se quiserem ver algumas imagens, clique no link a seguir para ir ao post na minha página do Facebook:

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Vinícius,

 

Sou das que não acreditam em coincidências.

Viajo em menos de um mês para uma Eurotrip de mochilão com minha mãe e me deparei com esse seu relato de extrema sensibilidade.

Me identifiquei bastante, especialmente com as suas preocupações pré-viagem .. até chamei minha mãe pra ler esse post comigo! Não é nossa primeira viagem internacional juntas, mas é a primeira com estas características e dimensões...

 

Roma será meu último destino: estarei por lá no fim de março.

Caso não encontre alguém que possa resgatar a mochila, podemos combinar para que eu pegue e te envie quando retornar ao Brasil, via correios ou de outro modo.

 

Qualquer coisa, pode sinalizar aqui! Ficaremos muito felizes em ajudar!

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Oi, Monique!

Agradeço sua mensagem.

 

Muitíssimo obrigado por sua disponibilidade mas não será necessário. O dono do B&B postou por correio e no início do mês chegará (Vou atualizar essa info no post).

Aproveite ao máximo a viagem e nem adianta falar que será ótima. Sempre que me lembro dos dias que passei com minha mãe toda retorna toda a emoção. Um momento lindo que ficou guardado na memória.

 

Felicidades!

abraço :)

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Oi, Monique!

Agradeço sua mensagem. Também não acredito em coincidências. Tudo acontece por motivos específicos e se encaixam na nossa vibração.

 

Muitíssimo obrigado por sua disponibilidade mas não será necessário. O dono do B&B postou por correio e no início do mês chegará (Vou atualizar essa info no post).

Aproveite ao máximo a viagem e nem adianta falar que será ótima. Sempre que me lembro dos dias que passei com minha mãe toda retorna toda a emoção. Um momento lindo que ficou guardado na memória.

 

Felicidades!

abraço :)

 

Vinícius,

 

Sou das que não acreditam em coincidências.

Viajo em menos de um mês para uma Eurotrip de mochilão com minha mãe e me deparei com esse seu relato de extrema sensibilidade.

Me identifiquei bastante, especialmente com as suas preocupações pré-viagem .. até chamei minha mãe pra ler esse post comigo! Não é nossa primeira viagem internacional juntas, mas é a primeira com estas características e dimensões...

 

Roma será meu último destino: estarei por lá no fim de março.

Caso não encontre alguém que possa resgatar a mochila, podemos combinar para que eu pegue e te envie quando retornar ao Brasil, via correios ou de outro modo.

 

Qualquer coisa, pode sinalizar aqui! Ficaremos muito felizes em ajudar!

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