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Fala galera, Quando se comenta em dia dos mortos, pensamos direto no México né? Mas a Bolívia também tem uma tradição muito especial que pude vivenciar no tempo que morei em Cochabamba. Estive por lá no ano passado, do meio até o fim do ano, fazendo intercâmbio de graduação. Minhas colegas, assim como todos os bolivianos que conheci, são muito empolgadas com a cultura local e folclore, e com isso queriam me mostrar tudo. Assim passei uma tarde toda entrando na casa de desconhecidos, comendo, bebendo e rezando em espanhol. Lá o dia 1 de novembro que é o Día de Todos Santos, e o dia 2 de novembro, é o Dia de los Difuntos. Para o dia primeiro, as famílias que tem parentes mortos preparam uma grande mesa que é um super altar, pra que ao meio dia desse dia o familiar venha do céu pra compartilhar 24h com seus queridos. No dia 2 esse defunto vai embora ao meio dia, quando a família faz um altar agora no cemitério, no túmulo do falecido. Essas mesas são uma grande oferenda, tem pratos típicos como os tantawawas, que são pães representando o morto e outros símbolos como animais e escadas, e também os alimentos que eram os favoritos da pessoa em questão. Além dos salgados, vários doces coloridos são bem típicos, além de bebidas como a chicha, que é um alcoólico feito de milho, e refrigerantes. Tem ramos de palma, flores e as cores utilizadas com frequência são o preto, roxo e laranja, já uma mistura com o halloween. Essa foi uma das maiores mesas que encontrei nessa caminhada Quando chega o meio dia, os familiares fazem uma celebração cantando e rezando pra que seu parente desça à Terra. Nesse momento eu estava na universidade, onde fizeram um altar aos professores falecidos durante a pandemia, e tocaram músicas e orações com violão que todos os presentes participaram cantando num momento bem lindo. Essa a mesa que fizeram na universidade pros professores, minhas amigas colocaram cigarros como oferenda porque a prof delas que faleceu tava sempre fumando Durante a tarde, ocorre a parte mais coletiva do rolê. Todas as famílias que tiveram mortos durante o período do último ano colocam laços pretos nas portas como um convite pra que quem esteja passando entre na casa. É como uma troca: tu entra lá pra rezar pelo morto, pra ajudar a que a alma dele não fique presa junto dos vivos e vá pra onde tem que ir, e a família te oferece salgados, doces e bebida. Daí é assim: tu entra na casa de absolutamente qualquer pessoa, completos desconhecidos, e reza alguma coisa, canta uma musiquinha, faz ali o momento oração. Algumas casas têm filas de gente esperando pra rezar, é muito incrível que todo mundo participa mesmo disso. Quando tu termina ali, que pode ser sozinho mas geralmente amigos se juntam em grupinhos pra percorrer os bairros juntos, os anfitriões te dão um copinho com chicha ou refri e uma sacolinha com os pães e doces típicos. E assim a galera vai de casa em casa rezando e rezando o dia todo. Aqui a galera que tava rezando antes de mim, e antes deles ainda tive que esperar numa fila de um par de gente antes da minha vez É muito doido ver na rua um monte de gente cheia de sacolas e copos, andando de lá pra cá procurando casas pra ir rezar. Muitas crianças e senhoras mais velhas especialmente, indo atrás de comidinhas nessa troca de casa em casa. Eu também né, passei a tarde inteira percorrendo casas e voltei pra minha com três sacolas cheias que mal venci comer kkk As crianças com suas massinhas e as adultas também Foi uma experiência muito massa, aprendi muito sobre a cultura boliviana e também senti a força do rolê, foi muito intenso, todo mundo leva muito a sério a visita dos seus falecidos. Ficam ao redor da mesa conversando sobre o morto, revivendo memórias, rezando, pensando, sentindo, e é como se a pessoa realmente estivesse ali. Por fim eu e minhas amiwitas bolivianas que me ensinaram a rezar ave maria, pai nosso, cantar aleluia e fazer tudo isso na casa de desconhecidos (As fotos que tirei foram permitidas pelos familiares)